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Stephanie Marie

FMP - 53
MEDICINA LEGAL
responsabilidade médica
RESPONSABILIDADE MÉDICA
tipo de resumo: anotações de aula
A responsabilidade médica é a obrigação a que fica Administrativa
sujeito o médico em razão das ilicitudes que cometer • atrasos e faltas
no exercício da profissão. • abandono de função
Na doutrina tradicional, prevalece o entendimento de • malversação de recursos
que o compromisso da medicina é de meios. • improbidade administrativa
Entretanto, para algumas atividades médicas, vem • corrupção ativa ou passiva
surgindo uma tendência de ser admitido o
compromisso de resultado – como se tem visto em Ética
recentes interpretações relacionadas a procedimentos Na responsabilidade ética entram as infrações aos
de cirurgia estética. dispositivos deontológicos estabelecidos no código de
ética médica e nas resoluções normativas dos
A responsabilidade do profissional da medicina pode conselhos de medicina
ser arguida em diversas áreas e uma mesma conduta • deixar de usar todos os meios disponíveis de
médica pode envolver mais de uma área. Em cada uma diagnóstico e tratamento
dessas áreas, a apuração da responsabilidade dá-se • praticar ou indicar atos médicos
através de um processo específico. desnecessários ou proibidos
• criminal – processo penal • acobertar erro ou conduta antiética de médico
• civil – processo civil • causar dano ao paciente por ação ou omissão
• administrativa – processo administrativo • deixar de obter consentimento do paciente
disciplinar • desrespeitar a autonomia do paciente
• ética – processo ético profissional
Ex: aborto – pode envolver caráter criminal, civil,
administrativo e ético
A iatrogenia é o resultado não desejado de uma
Os processos são independentes, não se comunicam, conduta profissional do médico.
podendo o processado ser julgado condenado ou
absolvido em qualquer uma das instâncias,
independentemente das outras. A condenação resulta formas
em penas específicas, a depender da natureza do 1. previsível – em razão de a prática implicar em
processo. efeito colateral esperado (ex: alopecia
1. penal: privação da liberdade e multa decorrente de quimioterapia)
2. civil: indenização 2. previsível, porém não esperada – devido a
3. administrativo: suspensão, demissão risco inerente a prática necessária (ex: abcesso
4. ético: advertência, censura, suspensão e subcutâneo pós laparotomia)
cassação 3. consequente de falha humana na prática
médica (ex: ligadura inadvertida do ureter
Exemplos de responsabilidade: durante cirurgia pélvica)
Criminal → a essa terceira forma, corresponde o
• eutanásia que se conhece como erro médico
• aborto
• lesão corporal erro médico 6
• omissão de socorro
Doutrinariamente, o erro médico consiste em qualquer
• falsidade de atestado
dano a outrem por um médico, em decorrência de uma
• omissão de notificação
conduta profissional lícita, porém inapropriada,
mediante culpa.
Civil
Na configuração do erro médico são indispensáveis 3
Artigo 927 – Aquele que, por ato ilícito, causar dano a
elementos: dano, conduta profissional lícita e a culpa -
outrem, fica obrigado a repará-lo
caracterizada a imprudência, negligência ou imperícia.

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Dolo x Culpa • indicação incorreta de procedimentos, ficando
• dolo: vontade livre e consciente de gerar o a quem ou paradoxalmente indo além do
resultado criminoso estabelecido em protocolos consagrados – ex:
→ crime doloso – quando o agente quis o mastectomia realizada sem a necessidade
resultado ou assumiu o risco de • procedimento equivocado, não raro de
produzi-lo consequências desastrosas – ex: mulher que
• culpa: conduta voluntária caracterizada por operou o cérebro do lado oposto ao necessário
imprudência, negligência e imperícia, capaz de e acabou morrendo
produzir resultado antijurídico não querido, • troca de paciente, facilmente evitada com a
porém previsível, que, com o devido cuidado, devida conferência dos elementos básicos de
poderia ser evitado identificação
→ crime culposo – quando o agente deu
causa ao resultado por imprudência,
negligência ou imperícia

Imprudência paciente terminal


Ação desnecessariamente arriscada, com É aquele sem condições de ter a vida prolongada,
precipitação, intempestividade, afoiteza – ou seja, apesar das ações médicas possíveis e postas em
fazer o que não deve ser feito prática – ou seja, aquele que está fora de possibilidades
Ex: o médico acelerar um procedimento cirúrgico para terapêuticas.
antecipar seu lazer

Negligência eutanásia
Inação, rêmora, desleixo, desídia, displicência – ou Abreviação da vida de um doente incurável e terminal,
seja, é não fazer o que deve ser feito sem sofrimento para ele. Funciona como uma “boa
Ex: o médico deixar de fazer antissepsia pré-operatória morte”, mais serena, suave, piedosa e compassiva.
O vocábulo eutanásia não aparece no Código Penal.
Imperícia Para esse código, matar alguém é crime de homicídio,
Carência de aptidão, insuficiência de conhecimento determinado no Artigo 121.
para realização de um ato – ou seja, fazer mal o que • parágrafo 1º: admite redução da pena se o
deve ser feito agente comete o crime impelido por motivo de
Ex: um cirurgião empregar uma técnica que não relevante valor social ou moral
domina
Artigo 41 – Código de Ética Médica
Exemplos de erro médico É vedado ao médico abreviar a vida do paciente, ainda
• prescrição incauta: aborto devido a que a pedido deste ou de seu representante legal
tratamento de lesão ulcerativa gástrica ou
duodenal ativa com misoprostol, sem a
necessária certificação de ausência de suicídio assistido
gravidez No Código Penal não há a expressão suicídio assistido,
• troca de medicamento, especialmente por porém, em seu artigo Artigo 122 determina como crime
outro de nome semelhante e favorecida pela induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar
prescrição sem o emprego de escrita auxílio para que o faça.
facilmente legível
• esquecimento de utensílio cirúrgico em distanásia / cacotanásia
paciente operado, facilmente prevenido com a
Prolongamento artificial e inútil da vida, com o
devida varredura da cavidade operada e com
sofrimento muitas vezes atroz para o moribundo,
o inventário do material utilizado
resultante de tratamento fútil, de obstinação
• procedimento mal conduzido: as vezes, por
terapêutica.
pouca habilidade ou inépcia profissional – ex:
Pode ser entendida também como a “morte
recém-nascido sofre lesão ocular por fórceps
dificultada”, procrastinada.
aplicado durante parto instrumentado
• falta de diagnóstico – ex: homem hospitalizado
Código de Ética Médica – Princípios Fundamentais
cinco dias sem diagnóstico morre de peritonite
XXII – nas situações clínicas irreversíveis e terminais, o
devido à úlcera gástrica perfurada
médico evitará a realização de procedimentos

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diagnósticos e terapêuticos desnecessários e • em legítima defesa – quem, usando
propiciará aos pacientes sob sua atenção todos os moderadamente dos meios necessários,
cuidados paliativos apropriados. repele injusta agressão, atual ou iminente, a
direito seu ou de outrem (ex: defesa judicial do
Contrariamente a essa disposição, a procrastinação da médico contra acusação injusta que sofre)
morte encontra amparo para viabilização do feto em • em estrito cumprimento de dever legal – ex: ao
gestantes que se encontram em estado terminal consignar a verdadeira causa da morte na
Declaração de Óbito
• em exercício regular de direito – ex:
ortotanásia mencionar, com o consenso do paciente,
É a morte com dignidade, mediante os cuidados diagnóstico em atestado
necessários – ou seja, em tempo correto e em
momento natural.
situações especiais
Artigo 41 - Código de Ética Médica
Parágrafo único: nos casos de doença incurável e sigilo e fatos públicos 6
terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados
Artigo 73 – Código de Ética Médica
paliativos disponíveis sem empreender ações
Parágrafo único: permanece a proibição de revelar
diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas,
sigilo mesmo que o fato seja de conhecimento público
levando sempre em consideração a vontade expressa
do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu
representante legal.
sigilo post mortem 6
Artigo 73 – Código de Ética Médica
Parágrafo único: permanece a proibição de revelar
sigilo mesmo que o paciente tenha falecido
É o silêncio que o profissional de medicina está
obrigado a manter sobre fatos de que tem ciência em
sigilo e depoimento 6
razão da profissão e que não seja imperativo revelar. Artigo 73 – Código de Ética Médica
A violação do segredo profissional constitui crime, Parágrafo único: permanece a proibição de revelar
previsto no Artigo 154 do Código Penal sigilo quando de seu depoimento como testemunha.
• Artigo 154: revelar alguém, sem justa causa, Nessa hipótese, o médico comparecerá perante a
segredo de que tem ciência em razão de autoridade e declarará seu impedimento.
função, ministério, ofício ou profissão, e cuja
revelação possa produzir dano a outrem Na investigação de suspeita de crime, o médico estará
É um crime de perigo, ou seja, não requer a produção impedido de revelar segredo que possa expor o
de dano para sua tipificação. A existência de justa paciente a processo penal
causa para revelação tira da ação o caráter criminoso
por exclusão de ilicitude. Artigo 207 – Código de Processo Penal
São proibidas de depor as pessoas que, em razão de
Artigo 73 – Código de Ética Médica função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar
É vedado ao médico revelar fato de que tenha segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
conhecimento em virtude do exercício de sua quiserem dar o seu testemunho.
profissão, salvo por motivo justo, dever legal ou
consentimento, por escrito, do paciente. sigilo e menor de idade 6
Artigo 74 – Código de Ética Médica
exclusão de ilicitude É vedado ao médico revelar sigilo profissional
relacionado a paciente menor de idade, inclusive a
Artigo 23 do Código Penal
seus pais ou representantes legais, desde que o menor
Não há crime quando o agente pratica o fato:
tenha capacidade de discernimento, salvo quando a
• em estado de necessidade – quem pratica o não revelação possa acarretar dano ao paciente.
fato para salvar de perigo atual que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro
modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável
exigir-se (ex: evitar que contactante contraia
do paciente doença que ele oculta)

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sigilo ante auxiliares e alunos 6


Artigo 78 – Código de Ética Médica
É vedado ao médico deixar de orientar seus auxiliares
e alunos a respeitar o sigilo profissional e zelar para
que seja por eles mantido.

casos clínicos identificáveis 6


Artigo 75 – Código de Ética Médica
É vedado ao médico fazer referência a casos clínicos
identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em
anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos
médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo
com autorização do paciente.

Nem sempre a simples substituição do nome do


paciente por suas iniciais é bastante para garantir a
sua não identificação e preservar o seu segredo de
direito.

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