Resenha Crítica: A prisão em flagrante e o estado de flagrância em tempos de
cólera.
No texto, o autor Cezar Roberto Bitencourt, chama atenção para a
questão da prisão em flagrante e o estado de flagrância em tempos de cólera, classificando e definindo os crimes que possuem maior relevância que implicam o estado de flagrância. A composição textual é analítica e descritiva, e utiliza-se de artigos do Código de Processo Penal e citações doutrinárias, bem como entendimentos do Supremo Tribunal Federal para basear as reflexões da temática, que demonstram quais crimes são admissíveis à prisão em flagrante e até onde, quando e como há a possibilidade de dar-se a prisão em flagrante.
De regra, a detenção física do indivíduo pressupõe a existência de
sentença penal condenatória com trânsito em julgado. Isso significa que, somente depois de esgotados todos os meios de defesa constitucionalmente garantidos, o Estado tem o direito de obrigar o condenado a cumprir a sanção penal imposta pela prestação jurisdicional.
Atuando como mais um mecanismo de autodefesa da própria sociedade,
materializada na privação de liberdade de locomoção, a prisão em flagrante tem natureza processual de medida cautelar. A palavra flagrante, na linguagem jurídica, é um atributo dado ao delito, é a infração sendo cometida, ou que acabou de se cometer, consagrando-se a prisão do agente mesmo sem autorização judicial em face da certeza visual do crime, em consonância com o artigo 301 do CPP, que determina que "qualquer do povo poderá e as autoridades policiais e seus agentes deverão prender quem que seja encontrado em flagrante delito". Como implicação, de outro lado, tem-se que, caso não manifestada a situação de flagrância, configura-se ilegal a prisão decretada sob tal fundamento. Dado o exposto, são consideramos especialmente relevantes para a prisão em flagrante, aqueles definidos como crimes: instantâneo, permanente e com efeitos permanentes. Ressalte-se que em caso de delito permanente, o estado de flagrância ocorre enquanto não cessar a permanência do ato delituoso. Como podemos exemplificar no caso do crime de sequestro (art. 148 do Código Penal), enquanto o sequestrado estiver em poder do sequestrador poderá ocorrer à prisão em flagrante. A princípio, o flagrante pode ser próprio, impróprio ou presumido. Sendo próprio quando o agente está em pleno desenvolvimento dos atos executórios da infração penal ou quando ele acabou de concluir a prática delitiva (incisos I e II do art. 302 CPP). Já o impróprio, ocorre quando o agente consegue fugir e, portanto, não é preso no local do delito, mas há elementos que em faça presumir ser o autor da infração (inciso III do art. 302 CPP). Enfim, o flagrante presumido, nessa hipótese o agente é encontrado logo após o crime, portando instrumentos, armas, etc, que demonstrem que ele seja o possível autor da infração penal (inciso IV do art. 302 do CPP). Em tese, a prisão em flagrante, tem as seguintes funções: evitar a fuga do infrator; auxiliar na colheita de elementos informativos; impedir a consumação do delito, no caso em que a infração está sendo praticada, ou de seu exaurimento, e preservar a integridade física do preso, diante da comoção que alguns crimes provocam na população, evitando-se, assim possível linchamento. Em suma, no Estado Democrático de Direito que é exaltado na Constituição de 1988, a liberdade é a regra, ao passo que a prisão é exceção. Por esta razão, a flagrância, em qualquer de suas formas, apoia-se na imediata sucessão dos fatos, não comportando, dentro da relatividade dos juízos humanos, dúvidas sérias quanto à autoria dos fatos, realizando-se dentro dos limites impostos pelos princípios da ampla defesa e da legalidade. Por fim, faz-se oportuna a crítica de David Alves Moreira ao trazer a seguinte reflexão sobre o tema: “quando a mesma servir ao sistema, indiscriminadamente, como justificativa às cobranças de um povo que se vê sempre ameaçado e sem segurança, deixará de atender sua finalidade e, por consequência, perderá sua utilidade.”