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AO JUIZO DE DIREITO DA 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE

ANÁPOLIS-GO

Processo nº XXXXX

JOÃO PINHO, espanhol, viúvo, contador, portador da carteira de identidade nº xxx,


inscrito no CPF/MF sob o nº xxx, endereço eletrônico xxx, residente e domiciliado na Rua
Uruguai, 180, CEP xxx, Goiânia/GO, vem ao Juízo, por sua advogada cujo endereço consta
na procuração inclusa, com fundamento nos artigos 335 a 342 do Código de Processo Civil,
oferecer a presente.

CONTESTAÇÃO
Em face do BANCO XYZ, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o
nº xxx, representada por XXX, endereço eletrônico xxx, com sede na Rua XXX, CEP xxx,
Cidade/UF, pelos motivos de fato e de direito que a passa a expor.

1 - INICIALMENTE

I - SÍNTESE DA DEMANDA – DOS FATOS


Consta na petição inicial que a parte Ré é fiadora em contrato de locação
firmado entre parte Autora, na qualidade de locadora, e tendo como locatário o Sr.
MARIO VARGAS, brasileiro, divorciado, contador, residente na Rua Barão da Pena,
340, Anápolis/GO, desde 05 de março de 2008, que hoje vigora por prazo
indeterminado.

Alega a parte Autora que a parte Ré possui três imóveis, tendo realizado a
doação de dois apartamentos para as suas filhas, Sra. MARA PINHO e Sra. MARTA
PINHO, situados na Rua Arvoredo 324, apts. 307 e 505, Goiânia/GO.

Sustenta que o valor de cada apartamento soma a quantia de R$ 200.000,00


(duzentos mil reais), bem como que houve a concordância de ambas as filhas da parte
ré no dia 06 de janeiro de 2012, data em que as doações foram levadas a registro.

Sustenta que restou à parte Ré somente um imóvel, no valor de R$ 120.000,00


(cento e vinte mil reais), valor insuficiente para cobrir os débitos locatícios cobrados
judicialmente. Segue a narrativa constante na petição inicial afirmando que o locatário
se encontra inadimplente desde 06 de abril de 2014, o que acarretou ação de despejo
proposta em 09 de julho de 2015 e julgada procedente em 25 de novembro de 2016 já
em fase de execução para cobrança dos aluguéis, perante a 2ª Vara Cível de
Anápolis/GO.

Objetiva a parte autora a procedência do pedido para anular as doações


realizadas pela parte Ré, ao argumento de ocorrência de fraude contra credores.

II - AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO

A PARTE RÉ não manifesta interesse pela realização de audiência de


conciliação ou mediação conforme artigo 319, inciso VII, e no artigo 334 do Código
Civil de 2002.
2 – DAS PRELIMINARES

I – DA INCOMPETÊNCIA RELATIVA

Exponho a este Juízo, da incompetência relativa deste Tribunal para julgar esta ação.
Conforme se pode observar nos registros documentais, exponho a esse Juízo, a incompetência
relativa deste Tribunal para julgar esta ação.

Portanto, valendo-se do artigo 337, inciso II do Código de Processo Civil, requer a A


PARTE RÈ, a remessa dos autos do processo para a 1ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE
GOIÂNIA - GO, cujo foro é competente para a apreciação desta lide processual.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


(...)
II - incompetência absoluta e relativa;

Ainda quanto à legitimidade passiva nesta ação há um defeito, pois a para justa
composição da lide, neste caso, preservando também o direito do contraditório, é
indispensável o litisconsórcio passivo necessário, assim, requer a parte Ré, o chamamento ao
processo com a citação das litisconsortes Sra. MARTA PINHO e a Sra. MARA PINHO,
beneficiárias do NEGÓCIO JURÍDICO EM QUESTÃO, conforme determina o artigo 114 do
CPC.

Art. 114. O litisconsórcio será necessário por disposição de lei ou quando,


pela natureza da relação jurídica controvertida, a eficácia da sentença depender da
citação de todos que devam ser litisconsortes.
Ademais, verifica-se a ausência de procuração subscrita por advogado apto a
representar a parte autora em Juízo. Dessa feita, com fundamento no artigo 337, IX CPC,
deve a parte autora regularizar a representação processual no prazo designado pelo juízo, sob
pena extinção do processo sem resolução do mérito.

Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar:


(...)
IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de
autorização;

Dessa forma, requer a PARTE RÉ, que a PARTE AUTORA emende a Inicial, de
acordo com os pressupostos do artigo 485, inciso IV do CPC, a saber:

Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:


(...)
IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo;

II - PREJUDICIAL DE MÉRITO

Ainda sobre os FATOS, a parte Ré afirma que já percorreu em decadência o


direito da parte Autora, requerer judicialmente a ANULAÇÃO DE NEGÓCIO
JURÍDICO, conforme determina o artigo 178, inciso II do Código Civil, a saber:

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação


do negócio jurídico, contado:
(...)
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia
em que se realizou o negócio jurídico;

Dessa forma, requer a parte Ré à VOSSA EXCELÊNCIA, a extinção do


processo, pois conforme narrativa da petição inicial, a doação impugnada ocorreu em
06 de janeiro de 2001, ocasião em que se deu publicidade do ato.
A parte autora ajuizou a presente demanda em 05 de janeiro de 2005,
conforme consta na certidão de distribuição anexa (Doc. XX), tendo, portanto,
decaído de seu direito de ação.

III - DO MÈRITO

Cumpre informar que a parte ré reconhece a doação dos imóveis às suas filhas,
a tendo feito com a finalidade de antecipar a legítima consoante, permite o artigo 544
do CC, eis que de igual valor os imóveis e por ser a última vontade declarada por sua
esposa em seu leito de morte, para que futuramente as irmãs não viessem a se
desentender por conta de herança.

A parte Autora, equivocadamente, alega que a doação realizada pela parte Ré,
teria ocorrido sob hedge de um negócio jurídico vicioso, dissimulado, visando a
ocultação do patrimônio da parte Ré, para eximir-se de dívida oriunda de um contrato
de locação, no qual a RÉ foi parte fiadora.

Entretanto, alega a PARTE RÉ, que o contrato de locação foi celebrado e


firmado entre as partes com prazo determinado, de 30 (trinta) meses, tendo havido
vigorado entre 05 de março de 2008 e 4 de setembro de 2010. A PARTE RÉ alega
ainda que, 120 (cento e vinte) dias antes do término do contrato, comunicou ao
LOCADOR e ao LOCATÁRIO, que não renovaria a fiança em caso de renovação do
respectivo contrato de locação.

Ademais, conforme consta nos Registros Cartorários, a MATRÍCULA dos


imóveis objetos da doação, ocorreu 16 (dezesseis) meses após cessação do período de
validade do contrato de locação, sendo assim, o negócio sucedeu-se sem impedimento
algum, pois a responsabilidade contratual da RÉ perante os demais contratantes,
cessou em setembro de 2010.

Ocorre também EXCELÊNCIA, que a dívida reivindicada pela parte Autora,


fora contraída pelo LOCADOR, a partir de abril de 2014, ou seja, três anos e sete
meses após o término do contrato.
Para a caracterização da fraude contra credores nos casos de disposição
gratuita de bens ou de remissão de dívidas (perdão de dívidas), o artigo 158, CC
dispensa a presença do elemento subjetivo (consilium fraudis), bastando o evento
danoso ao credor, a saber:

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida,


se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda
quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos
dos seus direitos.
§ 1 o Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2 o Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a
anulação deles.

Conforme narrativa contida na petição inicial, constata-se que a parte autora


não era credora à época da liberalidade da parte ré em favor de suas filhas, uma vez
que seu crédito só surgiu quando da inadimplência do locatário. Descabida a
aplicação do disposto no art. 158 CC.
O enunciado da Súmula 214 do Superior Tribunal de Justiça expressamente
informa que “o fiador na locação não responde por obrigações resultantes de
aditamento ao qual não anuiu”, razão pela qual o pleito autoral deve ser julgado
improcedente. Ao julgar casos semelhantes ao presente, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça tem assim decidido, conforme verificado no acórdão colacionado:

STJ - AgRg no REsp 1115868/MG, Rel. Min. FELIX FISCHER,


QUINTA TURMA, DJe 16/11/2009).AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO
ESPECIAL. LOCAÇÃO. FIANÇA. PRORROGAÇÃO LEGAL POR PRAZO
INDETERMINADO. OBRIGAÇÃO DO FIADOR ATÉ A EFETIVA
ENTREGA DAS CHAVES DO IMÓVEL. Documento: 25048476 - Despacho /
Decisão - Site certificado - DJe: 16/10/2012 Página 2 de 3 Superior Tribunal de
Justiça "Havendo no contrato locatício cláusula expressa de responsabilidade do
garante até a entrega das chaves, o fiador responde pela prorrogação do contrato
até a efetiva entrega das chaves do imóvel, a menos que tenha se exonerado na
forma do art. 1.500 do Código Civil de 1916 ou do art. 835 do Código Civil
vigente, a depender da época da avença" (EREsp 661.344/RS, 3ª Seção, Rel.
Min. Arnaldo Esteves Lima, DJe de 20/05/2009). Agravo regimental desprovido.
Portanto, EXCELÊNCIA, os fatos demonstram claramente não haver motivos
que fundamentem o pedido da AUTORA, sendo incabível o desfazimento de um
NEGÓCIO JURÍDICO, que ocorreu de forma, legal, limpa e honesta.

IV - DAS PROVAS

A parte Ré requer a junção das suas provas, bem como a produção das provas
dos fatos alegados pela parte Autora, documental, depoimento pessoal, testemunhal e
daquelas que se fizerem necessárias no curso da instrução processual.

V - DOS PEDIDOS

Com base nos fatos corretamente narrados, a parte Ré,


respeitosamente, requer ao Juízo que se digne:

A. Acolhimento da liminar de incompetência relativa, com a remessa dos


autos ao Juízo competente, nos termos do artigo 64, § 3§ do CPC;

B. Acolhimento da liminar de ilegitimidade passiva, determinando a intimação


da parte autora para requerer a citação de todos que devam ser litisconsortes, dentro
do prazo a ser designado pelo Juízo, sob pena de ineficácia da sentença de mérito em
relação aos legitimados necessários que não foram citados (artigo 115, II do CPC) e
de extinção do processo sem resolução do mérito, nos termos do artigo 485, IV, CPC;

C. Reconhecimento da prejudicial de mérito, reconhecendo a decadência do


direito de ação da parte autora (artigo 178, II, CC), extinguindo o processo com
resolução do mérito, nos termos do art. 487, II, do CPC;

D. Improcedência do pedido autoral;


E. A condenação da parte autora ao pagamento das custas sucumbênciais
honorárias;

Nesses termos, pede e aguarda deferimento.

Goiânia/GO, 10 de novembro de 2016.

Advogada Alana Duarte Nunes

OAB XXXXX/GO

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