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Universidade Federal de Juiz de Fora

Faculdade de Engenharia
Departamento de Transportes e Geotecnia

MECÂNICA DOS SOLOS II – PRÁTICA

PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA
(Métodos diretos mecânicos)

- Sondagem de simples reconhecimento com SPT


- Sondagem rotativa
- Sondagem mista

Prof. Roberto Lopes Ferraz


2016
Sumário

1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Objetivos de um programa de investigação do subsolo 2
2 ETAPAS DE UM PROGRAMA DE INVESTIGAÇÂO DO SUBSOLO 3
3 CUSTOS DAS INVESTIGAÇÕES 4
3.1 Riscos nas investigações geotécnicas 4
4 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA 5
5 SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT 9
5.1 Objetivos da sondagem para aplicações em Engenharia Civil 10
5.2 Principais componentes do equipamento de sondagem 10
5.3 Princípio do ensaio (NBR 6484/2001) 12
5.4 Execução da Sondagem de simples de reconhecimento com SPT 12
5.4.1 Operações básicas até o primeiro metro de profundidade 13
5.4.2 Operações a partir do segundo metro de profundidade 19
5.4.3 Critério de paralização da cravação do amostrador-padrão 22
5.4.4 Critérios de paralisação da sondagem de simples reconhecimento com SPT 24
5.4.5 Observação do nível do lençol freático 24
5.5 Cálculo do índice de resistência à penetração (N) a cada metro de ensaio 25
5.6 Exemplos de perfis individuais de sondagens 26
5.9 Ensaio SPT com medida de torque (Ensaio SPT-T) 32
5.10 Estimativa de parâmetros geotécnicos com base no número N do SPT 35
6 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM ROTATIVA 39
6.1 Tipos de barrilete para sondagem rotativa 40
6.2 Tipos de equipamentos de sondagem rotativa 42
6.3 Coroas 43
6.4 Etapas de execução de uma sondagem rotativa 44
6.5 Resultados de uma sondagem rotativa 46
6.6 Execução de sondagem rotativa em locais de difícil acesso 48
7 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM MISTA 50
8 PROGRAMAÇÃO DE SONDAGENS PARA FUNDAÇÕES 53
REFERÊNCIAS 57
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Prospecção Geotécnica

1 INTRODUÇÃO

É de consenso geral que toda obra de engenharia, por mais simples que seja, requer um
conhecimento adequado das condições do subsolo no local onde será executada a obra,
principalmente por que este será responsável por receber todo o carregamento da estrutura. Isso se
aplica mesmo em situações onde se acredita conhecer muito bem o local da obra, pois, face à grande
heterogeneidade dos materiais presentes no subsolo, nada garante que as condições onde será
executada uma nova obra, sejam exatamente as mesmas encontradas nas obras vizinhas.

A heterogeneidade do subsolo é ilustrada na Figura 1.1, onde pode ser observado que em
uma área relativamente pequena ocorrem diversos tipos de solos com características diferenciadas
para fins de aplicação em Engenharia Civil.

Figura 1.1 – Heterogeneidade de solos (Aeroporto da Serrinha - JF)

Além do papel do subsolo local como fundação para as estruturas, muitas destas por sua vez
são executadas utilizando solos e/ou rochas como material de construção (estradas, barragens,
aterros diversos, etc.). Nestes casos, o conhecimento do subsolo dos locais que servirão de jazidas
para estes materiais será de extrema importância, principalmente para a correta avaliação dos
volumes disponíveis e se estes serão suficientes para a execução das obras.

Em função do exposto, conclui-se que uma investigação adequada do terreno é uma atividade
preliminar essencial à execução de um projeto de engenharia, na qual devem ser obtidas
informações suficientes para permitir a elaboração de um projeto seguro, econômico e com o mínimo
de dificuldades (imprevistos) durante a execução.
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Tendo como principais finalidades as aplicações descritas nos parágrafos anteriores, a


obtenção de parâmetros geotécnicos para os projetos de engenharia geralmente é conduzida
utilizando um ou mais métodos, denominados de métodos de prospecção geotécnica.

Sob um ponto de vista mais geral, a prospecção, ou investigação geotécnica pode ser definida
como um conjunto de atividades de campo e laboratório com os objetivos de reconhecimento do
subsolo, classificação e determinação dos parâmetros geomecânicos dos materiais e das camadas
constituintes do solo.

A profundidade e a extensão a serem investigados dependerão do tipo de obra a ser


implantada, citando-se como exemplos as seguintes:
 Rodovias: em geral 1,5 metros de profundidade e quilômetros de extensão,
 Edifícios: 2 a 30 metros de profundidade e poucas centenas de m²,
 Exploração de petróleo: frequentemente mais de 1000 metros de profundidade.

1.1 Objetivos de um programa de investigação do subsolo

Uma investigação do subsolo é realizada com a intenção de alcançar uma série de objetivos,
individualmente ou em conjunto, dentre os quais citam-se:

 Determinação da extensão, profundidade e espessura de cada horizonte de solo, além de


uma descrição sobre suas principais características;
 Determinação da profundidade do topo rochoso e da classificação da rocha, incluindo:
extensão, profundidade e espessura de cada extrato rochoso; atitude das juntas, falhas,
planos de acamamento e foliação; presença de zona de falhas; estado de alteração; etc.;
 Informações sobre a presença de água no subsolo: profundidade do lençol freático e suas
variações sazonais, presença de lençóis artesianos, etc.;
 Informações sobre as propriedades de engenharia dos solos e das rochas “in situ”, através
da realização de ensaios específicos e de coleta de amostras para ensaios em laboratório.

Também devem ser consideradas as propriedades químicas do solo e da água do terreno


que devem ser determinadas para avaliar principalmente o risco de corrosão de obras de concreto
(fundações profundas) e de peças metálicas tais como as tubulações de ferro.

É sabido que alguns sais solúveis (usualmente os sulfatos, principalmente os de sódio,


magnésio e cálcio) atacam de várias maneiras as estruturas de engenharia com as quais entram em
contato. Os sulfatos de sódio e magnésio são mais solúveis que os sais de cálcio sendo, portanto
potencialmente mais perigosos. Dessa forma, determina-se através de ensaio quantitativo a
proporção de sulfatos no solo e também a acidez ou alcalinidade da água do solo ou simplesmente
o pH do solo.
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2 ETAPAS DE UM PROGRAMA DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO

Um programa de investigação do subsolo é realizado em diversas etapas, sendo que cada


etapa destaca os problemas que requerem investigação na etapa seguinte. Assim, as etapas de
investigação consistem de:

 Investigações de reconhecimento → nas quais se determina a natureza das formações


locais (geológicas e pedológicas), as principais características do subsolo e definem-se as
áreas mais adequadas para as obras;

 Explorações para o anteprojeto → são realizadas nos locais indicados na etapa anterior,
permitindo a escolha de soluções e o dimensionamento das fundações;
 Explorações para o projeto executivo → destinadas a complementar as informações
geotécnicas disponíveis, visando a resolução de problemas específicos do projeto de
execução;
 Explorações durante a construção → necessárias no caso de surgirem problemas não
previstos nas etapas anteriores.

Dependendo do vulto da obra e de suas condições peculiares (dimensões, cargas, finalidades


da obra, etc.) algumas das etapas acima podem ser dispensadas.
Sem dúvida, para um estudo prévio, os mapas geológicos fornecem muitas vezes indicações
úteis sobre a natureza dos terrenos. Da mesma forma, o conhecimento do comportamento de
estruturas próximas existentes, em condições semelhantes à que se pretende projetar, no que diz
respeito à pressão admissível do terreno, tipo de fundação e características da estrutura propicia
valiosos subsídios.

Segundo a norma NBR 8044/83, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
trata das condições exigíveis e que devem ser observadas nos estudos e serviços necessários ao
desenvolvimento de projetos geotécnicos, as investigações geotécnicas, segundo a etapa do projeto
e características da obra, compreendem um ou mais dos seguintes serviços:

a) levantamento de dados gerais existentes sobre:


- cartografia; - geologia, pedologia e geomorfologia;
- hidrologia e hidrografia; - geotecnia;

b) reconhecimento topográfico;
c) reconhecimento geotécnico de campo;
d) prospecção geofísica;
e) sondagens mecânicas e amostragem;
f) ensaios “in situ”;
g) ensaios de laboratório.
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3 CUSTOS DAS INVESTIGAÇÕES

A investigação desejável é aquela que fornece os elementos necessários no prazo previsto e


com custo compatível com o valor da informação. Pode-se estimar, empiricamente, o custo das
investigações do subsolo entre 0,5% e 1,0% do custo da construção da estrutura. A porcentagem
mais baixa refere-se aos grandes projetos sem “condições críticas de execução”. A porcentagem
mais alta diz respeito aos projetos menores ou com “condições críticas de execução”.

Cabe lembrar que, sem um conhecimento prévio do subsolo não é possível nem ao menos
escolher o tipo de fundação para uma obra, sendo que, em alguns casos, nem mesmo é conveniente
comprar um terreno sem que se tenha ideia da natureza do subsolo e se o mesmo conduz a uma
solução econômica para o que se pretende construir.

Portanto, o valor de uma investigação pode ser medido pela quantia que seria gasta na
construção se a investigação não tivesse sido feita. Em função disso, são apresentadas na literatura
algumas frases que procuram justificar os custos das investigações geotécnicas em função dos
benefícios que proporcionam em termos técnicos e econômicos. Dentre estas cita-se:

“Todas as sondagens são caras, mas as mais caras são aquelas que não foram feitas”.

Esta frase se justifica porque quando um projetista trabalha com informações insuficientes ou
inadequadas ele forçosamente compensa essa falha com um superdimensionamento; quando um
empreiteiro recebe informações incompletas, certamente ele aumenta seu orçamento visando
"cobrir" possíveis imprevistos, tais como alteração de projeto ou do método construtivo. Assim,
conclui-se que o custo de informações incompletas é maior que o custo da correta investigação.

3.1 Riscos nas investigações geotécnicas

Da geologia sabe-se que os solos são o resultado da atuação dos agentes de intemperismo
e de transporte sobre uma determinada rocha, cujas combinações podem dar origem aos mais
variados tipos de solos. Assim, dependendo do tipo de intemperismo atuante (físico ou químico) uma
mesma rocha pode dar origem a solos diferentes. Por outro lado, dependendo dos fatores atuantes,
rochas diferentes podem dar origem a solos com propriedades similares.

Além disso, em função de diversos fatores, geralmente o subsolo de uma determinada região
não se apresenta homogêneo, possuindo algumas vezes variações bruscas de suas propriedades
tanto em extensão, quanto em profundidade. Por isso, quando se trabalha com os solos normalmente
lidamos com a heterogeneidade, sendo a homogeneidade uma exceção.

Logo, em função dessa heterogeneidade natural dos subsolos, é muito difícil avaliar com
precisão a qualidade das condições do subsolo de um determinado local, havendo, portanto, uma
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margem de insegurança quando precisamos estabelecer as propriedades dos materiais presentes


no subsolo local para efeito de projeto. Disso resulta também o fato dos fatores de segurança
adotados em obras de terra e em projetos de fundações serem muito superiores àqueles das obras
de aço ou concreto, que são constituídas por materiais de fabricação controlada.

Outra consequência da heterogeneidade dos subsolos é a possibilidade de encontro de


condições desconhecidas durante a execução da obra, o que pode ser minimizado, mas nunca
eliminado, por um programa de investigações bem planejado, especificado e executado
cuidadosamente.

4 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA

Geralmente os métodos de prospecção do subsolo para fins geotécnicos são classificados


em:
- Métodos indiretos - Métodos semi-diretos - Métodos diretos

a) Métodos indiretos

São aqueles em que a determinação das características das camadas do subsolo é feita
indiretamente pela medida de certas propriedades, as quais mantêm correlações com a natureza
geológica dos diversos horizontes, permitindo determinar suas respectivas profundidades,
espessuras e o nível d’água. Incluem-se nessa categoria os métodos geofísicos de investigação que
se constituem em um conjunto de procedimentos, baseados em propriedades físicas e ferramentas
matemáticas, aplicados para a exploração do subsolo.

Dentre os vários métodos geofísicos de prospecção, citam-se aqueles baseados em


propriedades tais como resistividade elétrica ou velocidade de propagação de ondas elásticas
(sonoras), muito utilizados em estudos geotécnicos.

b) Métodos semi-diretos

São os processos que fornecem informações sobre as características do terreno, sem,


contudo possibilitarem a coleta de amostras. Nestes métodos as informações sobre a natureza dos
solos são obtidas por meio de correlações indiretas, tomando como base medições realizadas com
um equipamento específico, posicionado em diversas profundidades do subsolo.

Os métodos semi-diretos foram desenvolvidos por causa de dificuldade de se amostrar alguns


solos tais como areias puras ou submersas e argilas sensíveis de consistência muito mole.
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Os processos semi-diretos, que em resumo são ensaios “in situ", tem a vantagem teórica de
minimizarem as perturbações causadas pela variação do estado de tensões e distorções devidas ao
processo de amostragem e também evitar os choques e vibrações decorrentes do transporte e
subsequente manuseio das amostras. Além disso, o efeito da configuração geológica do terreno está
presente nos ensaios “in situ" de modo que eles permitem uma medida mais fiel das propriedades
físicas de uma formação. Dentre os métodos semi-diretos mais usados no Brasil citam-se:

- Ensaio de palheta ou “Vane Test”.


- Ensaios de cone (CPT, CPTU, etc).
- Ensaio pressiométrico.
- Ensaio dilatométrico.

c) Métodos diretos

Consistem em qualquer conjunto de operações destinadas a observar diretamente o solo ou


obter amostras ao longo de uma perfuração, sendo classificados em:

- Métodos diretos manuais - Métodos diretos mecânicos

Os métodos diretos permitem o reconhecimento do solo prospectado através de amostras


obtidas de "furos" executados no terreno. As amostras deformadas fornecem subsídios para um
exame visual táctil das camadas, além de permitirem a execução de ensaios de caracterização (teor
de umidade, limites de consistência, massa especifica dos grãos e granulometria).
Os métodos diretos permitem também a coleta de amostras indeformadas para a obtenção
de informações mais confiáveis sobre, por exemplo, o teor de umidade, a resistência ao cisalhamento
e a compressibilidade dos solos.

c.1) Métodos diretos manuais

a) Trados manuais → A profundidade está limitada à capacidade de furação do operador e


nível d’água para solos arenosos.
b) Poços → escavação vertical de seção circular ou quadrada, com dimensões mínimas para
permitir acesso de observador, para descrição das camadas de solos e rochas e coleta de
amostras. A abertura em rochas é feita com furos de martelete ou explosivos;
c) Trincheiras → com menor profundidade em relação aos poços, permitem uma seção
contínua horizontal;
d) Galerias → seções horizontais em subsuperfície. São limitadas a rochas ou solos muito
consistentes.
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Trado cavadeira Trado torcido Trados helicoidais


Figura 4.1 – Exemplos de trados manuais

Figura 4.2 – Análise do solo em um poço de seção quadrada

Figura 4.3 – Exemplo de trincheira aberta no terreno


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No Brasil a prospecção do subsolo através de trados, poços ou trincheiras é regulamentada


pelas seguintes normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT):

- NBR 9603 - Sondagem a trado


- NBR 9604 - Abertura de poço e trincheira de inspeção em solo com retirada de amostras
deformadas e indeformadas.

c.2) Métodos diretos mecânicos

Os métodos diretos mecânicos compreendem:


- Sondagens de simples reconhecimento com SPT (Standard Penetration Test)
- Sondagens rotativas
- Sondagens mistas

Nas próximas seções aborda-se com maiores detalhes os três métodos diretos mecânicos de
prospecção geotécnica citados.
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5 SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT

A Sondagem de simples reconhecimento com SPT é de longe o ensaio mais realizado para
projetos de fundações e de reconhecimento do subsolo em todo o mundo, principalmente por sua
simplicidade e custo relativamente baixo. Somados a estes aspectos, tem-se ainda a grande
facilidade de deslocamento e adaptação do equipamento a qualquer tipo de terreno a ser investigado.

No Brasil, atualmente os procedimentos para a execução deste tipo de sondagem são


padronizados pela ABNT através da norma NBR 6484 (2001) - Sondagens de simples
reconhecimento com SPT - Método de ensaio.

A denominação deste tipo de sondagem baseia no fato de que, durante a execução da


sondagem de simples reconhecimento, para a identificação das camadas e materiais presentes do
subsolo, realiza-se também o ensaio “SPT”. A sigla “SPT” vem do inglês, “Standard Penetration
Test”, que pode ser traduzido como “Ensaio de Penetração Padrão” a partir do qual é determinado o
índice de resistência à penetração do solo (Número N).

Definição do Índice de resistência à penetração (Número N): É o número de golpes


correspondente à cravação de 30 cm do amostrador-padrão, após a cravação inicial de 15
cm, utilizando-se corda de sisal para levantamento do martelo padronizado.
O número N é determinado a cada metro inteiro de perfuração usando um martelo
de 65 kg, com altura de queda de 75 cm.

Martelo
com
haste
guia de Martelo
1,20m vazado
com furo
central

Figura 5.1 – Tipos de martelos de 65 kg utilizados no ensaio SPT

O número N é um dado de grande utilidade em projetos geotécnicos, a partir do qual são


estimados diversos parâmetros de projeto, dentre os quais citam-se aqueles relacionados à
resistência ao cisalhamento e à deformabilidade dos solos.
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5.1 - Objetivos da sondagem para aplicações em Engenharia Civil

Segundo a norma ABNT NBR 6484 (2001), os objetivos da sondagem de simples


reconhecimento com SPT para aplicações em Engenharia Civil são:

a) determinação dos tipos de solo em suas respectivas profundidades de ocorrência;


b) determinar a posição do nível d'água;
c) determinar os índices de resistência à penetração (N) a cada metro.

5.2 - Principais componentes do equipamento de sondagem

Os principais componentes do equipamento de sondagem consistem de:

 Amostrador padrão bipartido, dotado de dois orifícios laterais para saída de água e ar,
com diâmetro interno de 34,9 mm e diâmetro externo de 50,8mm (Figura 5.2);

Sapata
ou bico

Corpo

Cabeça

Figura 5.2 – Partes componentes do amostrador-padrão tipo Raymond (Diâm. externo = 50,8 mm)
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 Torre com roldana (pode ter, opcionalmente guincho motorizado ou sarilho para auxílio
nas manobras com hastes ou tubos de revestimento) (Figuras 5.3 e 5.4);
 Tubos de revestimento de aço com diâmetro nominal interno de 63,5 mm (externo = 76,1
± 5 mm e interno = 68,8 ± 5 mm);
 Hastes de aço roscável com diâmetro nominal interno de 25 mm (externo = 33,4 ± 2,5
mm e interno = 24,3 ± 5 mm) e peso de 32N/m (3,23 kgf/m);
 Martelo cilíndrico ou prismático com coxim de madeira para cravação das hastes e tubos
de revestimento (massa = 65 kg) (Figura 5.1);
 Conjunto motor-bomba para circulação de água na perfuração;
 Trépano (peça de aço biselada para o avanço por lavagem)
 Trados (para perfuração inicial)

Roldana

Cabo de aço

Alavanca do
engate de
redução

Engate de redução

Pernas simples Eixo de transmissão

Mancal

Manivela

Mangueira de Pernas com


recalque escadas

Cone para apoio das pernas


Mangote de sucção

Figura 5.3 – Equipamento de sondagem de simples reconhecimento com SPT


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Figura 5.4 – Esquema de sondagem de simples reconhecimento com SPT

5.3 - Princípio do ensaio (NBR 6484/2001)

Segundo a norma ABNT NBR 6484 (2001), o princípio do ensaio consiste na perfuração e
cravação dinâmica do amostrador-padrão, a cada metro, resultando em:

- determinação do tipo de solo e da respectiva profundidade;


- determinação do índice de resistência à penetração (número N);
- observação do nível do lençol freático.

5.4 - Execução da Sondagem de simples de reconhecimento com SPT

As operações básicas na execução de uma sondagem de simples reconhecimento com SPT


compreendem:
a) locação de cada furo no local onde será realizada a sondagem (Topografia: definição da
posição em planta e determinação da cota da boca do furo);
b) processo de perfuração (avanço do furo);
c) processo de amostragem e realização do SPT;
d) repetição dos passos (b) e (c) até a conclusão da sondagem.

A Figura 5.5(a) ilustra a locação em planta dos furos de sondagem no terreno e a Figura 5.5(b)
ilustra a execução de uma sondagem de simples reconhecimento com SPT.
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(a) Exemplo de locação dos furos


de sondagem em planta.
(Símbolo SP = Sondagem à Percussão)

(b) Execução da Sondagem

Figura 5.5 – Sondagem de simples reconhecimento com SPT

5.4.1 - Operações básicas até o primeiro metro de profundidade

Processo de perfuração: A sondagem deve ser iniciada com o emprego do trado-concha ou


cavadeira manual até a profundidade de 1 metro, seguindo-se a instalação até essa
profundidade, do primeiro segmento do tubo de revestimento dotado de sapata cortante.
Deve ser coletada, para exame posterior, uma parte representativa do solo colhido
pelo trado-concha durante a perfuração até um metro de profundidade.

Bica de descarga

Tubo de
revestimento

Figura 5.6 – Primeiro metro: (a) Uso do trado concha; (b) Instalação do tubo de revestimento
14

Amostragem e execução do ensaio SPT: A cada metro de perfuração, a partir de 1 m de


profundidade, devem ser colhidas amostras dos solos por meio do amostrador-padrão,
durante a execução do ensaio SPT. Esta etapa consiste em cravar um comprimento de 45
cm do amostrador-padrão no solo, registrando o número de golpes necessários para cravar
cada trecho de 15 cm. Durante a cravação do amostrador, além da amostragem, estará
sendo realizado também o “Ensaio de Penetração Padrão”, ou seja, o SPT.

As operações relativas à amostragem e realização do ensaio SPT são descritas a seguir e se


aplicam a todas as profundidades a partir de 1 m, inclusive no primeiro metro.

a) Verificação da profundidade do furo

O amostrador-padrão, conectado à composição de cravação, deve descer livremente no furo


de sondagem até ser apoiado suavemente no fundo, devendo-se comparar a profundidade
correspondente com a que foi medida na operação de perfuração.

Caso haja discrepância entre as duas medidas citadas (ficando o amostrador mais de 2cm
acima da cota de fundo, atingida no estágio de perfuração) a composição deve ser retirada,
repetindo-se a operação de limpeza do furo.

b) Marcação dos trechos de 15 cm e obtenção da penetração inicial do amostrador

Após o posicionamento do amostrador padrão conectado à composição de cravação, coloca-


se a cabeça de bater e, utilizando-se o tubo de revestimento como referência, marca-se na haste,
com giz, um segmento de 45 cm divididos em três trechos iguais de 15 cm (Figura 5.7(a)). Em
seguida, o martelo deve ser apoiado suavemente sobre a cabeça de bater (Figura 5.7(b))), anotando-
se eventual penetração inicial do amostrador no solo, que pode ser registrada no boletim de campo
conforme exemplificado abaixo:

Ex.: 0/16  Interpretação: somente com o peso do martelo o amostrador-padrão penetrou no


solo um comprimento de 16 cm.
Algumas empresas para esse caso usam a notação: P/16

c) Cravação do restante do amostrador para atingir 45 cm

Não tendo ocorrido penetração igual ou maior do que 45 cm, após o procedimento anterior,
prossegue-se com a cravação do amostrador-padrão até completar os 45 cm de penetração por meio
de impactos sucessivos do martelo padronizado, caindo livremente de uma altura de 75 cm (Figuras
5.7(c) e 5.8). Deve ser anotado, separadamente, o número de golpes necessários à cravação de
cada segmento de 15 cm do amostrador-padrão.
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Precauções especiais devem ser tomadas para que, durante a queda livre do martelo, não
haja perda de energia de cravação por atrito.

(b)
(a) (b) (c)
Cabeça de bater

Ou restante
dos 45 cm

Figura 5.7 – (a) Marcação dos trechos de 15 cm, (b) obtenção da penetração inicial do amostrador,
(c) Cravação do amostrador-padrão com o martelo de 65 kg

Figura 5.8 – Operação de cravação do amostrador-padrão

O número de golpes para cravar cada trecho de 15 cm pode ser registrado no boletim de
campo conforme exemplificado a seguir:
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Ex.: 5/15 - 8/15 - 12/15  Interpretação: foram necessários 15 golpes para cravar a primeira
parcela de 15 cm, 8 golpes para a segunda e 12 golpes para a terceira.

No entanto, frequentemente não ocorre a penetração exata dos 45 cm, bem como de cada
um dos segmentos de 15 cm do amostrador-padrão, com certo número de golpes. Por isso, na
prática, recomenda-se registrar o número de golpes empregados para uma penetração igual ou
imediatamente superior a 15 cm, registrando-se o comprimento penetrado:

Ex.: 3/17  Interpretação: três golpes para a penetração de 17 cm.

A seguir, conta-se o número adicional de golpes até a penetração total se igualar ou


ultrapassar 30cm e em seguida o número de golpes adicionais para a cravação atingir 45 cm ou,
com o último golpe, ultrapassar este valor. Com isso, o registro é expresso pelas frações obtidas nas
três etapas, conforme exemplo a seguir:

3/17 – 4/14 – 5/15, cuja interpretação é a seguinte:

- com os três golpes iniciais houve uma penetração de 17 cm;


- com mais 4 golpes foi atingida uma penetração de 31 cm (penetrou mais 14 cm);
- com mais 5 golpes foi atingida uma penetração de 46 cm (penetrou mais 15 cm).

Portanto, não havendo penetrações exatas de cada segmento de 15 cm, de forma geral o
registro do ensaio penetrométrico pode ser feito como segue:

n1/L1 n2 /L2 n3/L3 (ni = número de golpes e Li = penetração em cm)

Penetrações do amostrador-padrão com poucos golpes

Quando a penetração do amostrador-padrão com poucos golpes exceder significativamente


os 45 cm, ou quando não puder haver distinção clara nas três penetrações parciais de 15 cm, o
resultado da cravação do amostrador-padrão deve ser expresso pelas relações entre o número de
golpes e a penetração correspondente.

a) 1/33 – 1/20 (no primeiro golpe penetrou 33 cm e no segundo mais 20 cm).


b) 1/48 (com um único golpe houve penetração de 48 cm).

Acondicionamento das amostras da sondagem

As amostras de solo colhidas devem ser imediatamente acondicionadas em recipientes


herméticos e de dimensões tais que permitam receber pelo menos um cilindro de solo colhido do
bico do amostrador-padrão.
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Nos casos em que haja mudança de camada de solo junto à cota de execução do SPT ou
quando a quantidade de solo proveniente do bico do amostrador-padrão for insuficiente para sua
classificação, recomenda-se também o armazenamento de amostras colhidas do corpo do
amostrador-padrão.
Nos casos em que não haja recuperação de amostras pelo amostrador-padrão, deve-se
anotar claramente no relatório.
As amostras devem ser conservadas pela empresa executora da sondagem, à disposição
dos interessados por um período mínimo de 60 dias, a contar da data da apresentação do relatório.

Figura 5.9 – Exemplos de acondicionamento e análise das amostras de uma sondagem SPT

Ressalta-se que as amostras coletadas com o amostrador padrão do SPT não podem ser
consideradas indeformadas, uma vez que, apesar de em alguns casos preservarem o teor de
umidade, no entanto, a estrutura do solo é perturbada devido a fatores tais como:

- processo de cravação dinâmica do amostrador (por impactos do martelo de 65 kg);


- o amostrador padrão do SPT não é de parede fina.

Para que um amostrador seja considerado de parede fina é necessário que o mesmo
satisfaça alguns critérios quanto à espessura de sua parede e quanto às relações definidas a seguir,
conforme a norma NBR 9820 (1997), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

D 22  D12
a) Índice de área (Ca): Ca 
D12
onde: D1 = diâmetro interno do bisel de corte (Figura 5.10)
D2 = diâmetro máximo externo do tubo amostrador (Figura 5.10)

D 3  D1
b) Relação de folga interna (C i): Ci 
D1
onde: D3 = diâmetro interno do tubo amostrador (Figura 5.10)

O índice de área (Ca) não deve exceder 10% e a relação de folga interna (Ci) deve estar
compreendida entre 0,5% e 1%.
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O comprimento do tubo deve estar compreendido entre seis vezes e dez vezes o diâmetro do
amostrador (6.D2  l  10.D2).

l = comprimento do amostrador e = espessura da parede


 = ângulo do bisel  = ângulo do chanfro do bisel

D1 D3 D2

Figura 5.10 – Detalhe das especificações de um amostrador de parede fina

Quanto à extremidade inferior do tubo amostrador, esta deve ser torneada em bisel com
ângulo α entre 5° e 10°, conforme indicado na Figura 5.10. Além disso, é recomendável, para maior
proteção desta extremidade, que exista um chanfro adicional β entre 20° e 30°, conforme ilustrado
na mesma figura.

A cabeça do amostrador deve ter dois orifícios para saída d’água e do ar e deve conter,
interiormente, uma válvula constituída por esfera de aço recoberta de material inoxidável, conforme
mostrado na figura a seguir.
Esfera de aço

Figura 5.11 – Amostrador de parede fina tipo Shelby


19

Segundo NBR 9820 (1997), as dimensões do amostrador de parede fina devem seguir os
limites estabelecidos na Tabela 5.1. O diâmetro mínimo, para condições normais de amostragem‚ é
de 100 mm, sendo que, em situações excepcionais, admite-se o uso de amostrador de diâmetro
externo de 75 mm.

Tabela 5.1 - Valores máximos (em mm) da espessura de parede “e” (Fonte: NBR 9820, 1997)
Ci
0,5% 0,6% 0,7% 0,8% 0,9% 1,0%
D2
75 1,57 1,53 1,49 1,46 1,42 1,39
76,2 (3”) 1,59 1,56 1,52 1,48 1,45 1,41
88,9
1,86 1,81 1,77 1,73 1,69 1,64
(3 1/2”)
100 2,09 2,04 1,99 1,95 1,90 1,85
101,6 (4”) 2,12 2,07 2,03 1,98 1,93 1,88
120 2,51 2,45 2,39 2,33 2,28 2,22
127 (5”) 2,65 2,59 2,53 2,47 2,41 2,35
152,4 (6”) 3,18 3,11 3,04 2,96 2,89 2,82

A análise das partes componentes do amostrador-padrão tipo Raymond (usado para


amostragem e ensaio SPT) na Figura 5.2 permite concluir que realmente este não atende aos
requisitos de um amostrador de parede fina e, portanto, as amostras coletadas com o mesmo não
podem ser consideradas indeformadas.

5.4.2 - Operações a partir do segundo metro de profundidade

Como descrito anteriormente, durante a execução do primeiro metro da perfuração (trado


concha) deve ser colhida uma amostra representativa de solo para exames posteriores. A partir daí,
a amostragem é feita com a cravação do amostrador-padrão a cada metro de profundidade.

A) Processos de perfuração

A partir do 2º metro, e nas operações subsequentes de perfuração, intercaladas às do ensaio


SPT e amostragem, deve ser utilizado o trado helicoidal para avanço do furo até a ocorrência de
lençol freático (NA). Não é permitido que o trado seja cravado de modo dinâmico com golpes do
martelo ou por impulsão da composição de perfuração.
20

Havendo a ocorrência de NA, ou caso o avanço do furo com o trado helicoidal seja inferior a
50 mm após 10 min de operação, ou no caso de solo não aderente ao trado, passa-se então ao
método de perfuração por circulação de água.

A perfuração por circulação de água utiliza como ferramenta de escavação o trépano de


lavagem (Figura 5.12(a)). A circulação de água é realizada pela bomba d’água e possui a função de
realizar a remoção do material escavado pelo trépano.

(a) Perfuração com (b) Amostragem


circulação de água e ensaio SPT

Trépano

Amostrador padrão

Vista Vista Vista em


frontal lateral corte (AA)

Figura 5.12 – Detalhe do trépano de lavagem e etapas de uma sondagem com SPT
21

A operação de perfuração em si, consiste na elevação da composição de hastes (com o


trépano na ponta) em cerca de 30 cm do fundo do furo e na sua queda, que deve ser acompanhada
de movimentos de rotação alternados (vai-e-vem), aplicados manualmente pelo operador, conforme
ilustrado na Figura 5.13(a). À medida que se aproxima da cota de ensaio e amostragem, recomenda-
se que essa altura a seja progressivamente diminuída.

Quando atingida a cota de ensaio e amostragem, a composição de perfuração deve ser


suspensa a uma altura de 0,20 m do fundo do furo, mantendo-se a circulação de água por tempo
suficiente, até que todos os detritos da perfuração tenham sido removidos do interior do furo.

Durante as operações de perfuração, caso a parede do furo se mostre instável, é obrigatória,


para ensaios e amostragens subsequentes, a descida de tubo de revestimento até onde se fizer
necessário, alternadamente com a operação de perfuração.

(a) Perfuração com


Material retirado do
circulação de água
furo por circulação
de água

(b) Análise
Bica de tátil-visual
descarga

Tubo de
revestimento

Figura 5.13 – (a) Perfuração com circulação de água; (b) Identificação do material escavado

Atenção especial deve ser dada para descer o tubo de revestimento à uma profundidade além
do comprimento perfurado. O tubo de revestimento deve ficar a uma distância de no mínimo 50 cm
do fundo do furo, quando da operação de ensaio e amostragem. Somente em casos de fluência do
solo para o interior do furo, deve ser admitido deixa-lo à mesma profundidade do fundo do furo.

Durante a operação de perfuração, devem ser anotadas as profundidades das transições de


camadas detectadas por exame tátil-visual e da mudança de coloração de materiais trazidos à boca
do furo pelo trado helicoidal ou pela água de circulação (Figura 5.13(b).

Durante todas as operações da perfuração, deve-se manter o nível d’água no interior do furo,
em cota igual ou superior ao do nível d’água do lençol freático encontrado.
22

Antes da retirada da composição de perfuração, com o trado helicoidal ou o trépano de


lavagem apoiado no fundo do furo, deve ser feita uma marca na haste à altura da boca de
revestimento, para que seja medida, com erro máximo de 10 mm, a profundidade em que irá ser
apoiado o amostrador-padrão para a operação subsequente de amostragem e ensaio SPT.

B) Amostragem e execução do ensaio SPT

A partir do segundo metro de profundidade, as operações para amostragem e execução do


ensaio SPT são mesmas descritas para o primeiro metro.

A figura a seguir ilustra as principais operações executadas em uma sondagem de simples


de reconhecimento com SPT, tanto acima do nível de água, quanto abaixo deste.

Figura 5.14 – Principais operações em uma sondagem de simples reconhecimento com SPT

5.4.3 Critério de paralização da cravação do amostrador-padrão

Existem duas modalidades de critérios de paralização em uma sondagem SPT, que não
devem ser confundidas:
1a) Paralização da cravação do amostrador-padrão: pode ocorrer em qualquer um dos trechos
de 15 cm, sem que isso implique em paralização da sondagem;

2a) Paralização da sondagem: ocorre quando existe dificuldade de escavação do solo com
circulação de água, ou impossibilidade de cravação do amostrador em diversas
profundidades (descrito no item 5.4.4).
23

Quanto à 1a modalidade, a cravação do amostrador-padrão pode ser interrompida antes dos


45 cm de penetração, sempre que ocorrer uma das seguintes situações:

a) em qualquer dos três segmentos de 15 cm, o número de golpes ultrapassar 30;


b) um total de 50 golpes tiver sido aplicado durante toda a cravação;
c) não se observar avanço do amostrador-padrão durante a aplicação de 5 golpes sucessivos
do martelo.

Para estas situações, o resultado da cravação do amostrador é expresso pelas relações entre
o número de golpes e a penetração para cada 15 cm de penetração, conforme exemplos a seguir:

- Exemplo do critério de parada descrito no item (a): 12/16 – 30/11


- Exemplo do critério de parada descrito no item (b): 14/15 – 21/15 – 15/7
- Exemplo do critério de parada descrito no item (c): 5/0

Segundo a NBR 6484 (2001), quando forem atingidas as condições descritas em (c) e após
a retirada da composição com o amostrador, deve-se em seguida executar o ensaio de avanço da
perfuração por circulação de água, já descrito anteriormente e transcrito parcialmente a seguir:

A circulação de água é realizada pela bomba d’água e possui a função de


realizar a remoção do material escavado pelo trépano. A operação em si, consiste na
elevação da composição de perfuração em cerca de 30 cm do fundo do furo e na sua
queda, que deve ser acompanhada de movimentos de rotação alternados (vai-e-vem),
aplicados manualmente pelo operador.

O ensaio deve ter duração de 30 min, devendo-se anotar os avanços do trépano obtidos em
cada período de 10 min.

A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio descrito, forem obtidos avanços
inferiores a 50 mm em cada período de 10 min, ou quando, após a realização de quatros ensaios
consecutivos não for alcançada a profundidade de execução do SPT.

Quando da ocorrência destes casos, deve constar no relatório a designação de


impenetrabilidade ao trépano de lavagem (Impenetrável ao trépano).

Caso haja necessidade técnica de continuar a investigação do subsolo até profundidades


maiores, deve ser adotado o método de perfuração rotativa.

A NBR 6484 (2001) recomenda também que caso ocorra a situação descrita em (c), antes da
profundidade estimada para atendimento do projeto, a sondagem deve ser deslocada, no mínimo
duas vezes para posições diametralmente opostas, a 2 m da sondagem inicial (Figura 5.15), ou
conforme orientação do cliente.
24

Figura 5.15 – Exemplos de deslocamentos do furo de sondagem

5.4.4 - Critérios de paralisação da sondagem de simples reconhecimento com SPT

Segundo a NBR 6484 (2001), o processo de perfuração por circulação de água, associado
aos ensaios penetrométricos, deve ser utilizado até onde se obtiver, nesses ensaios, uma das
seguintes condições:
 Quando, em 3 m sucessivos, se obtiver 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais do
amostrador-padrão;
 Quando, em 4 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais do
amostrador-padrão;
 Quando, em 5 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para a penetração dos 45 cm do
amostrador-padrão;

Dependendo do tipo de obra, das cargas a serem transmitidas às fundações e da natureza


do subsolo, admite-se a paralisação da sondagem em solos de menor resistência à penetração do
que aquela discriminada acima, desde que haja justificativa geotécnica ou solicitação do cliente.

Conforme a NBR 6484 (2001), outra condição de paralisação da sondagem é aquela descrita
no subitem anterior e transcrita a seguir:
“A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio de avanço da
perfuração por circulação de água, forem obtidos avanços inferiores a 50 mm em cada
período de 10 min ou quando, após a realização de quatros ensaios consecutivos não for
alcançada a profundidade de execução do SPT. Quando da ocorrência destes casos, deve
constar no relatório a designação de impenetrabilidade ao trépano de lavagem”.

5.4.5 - Observação do nível do lençol freático

Durante a perfuração com o auxílio do trado helicoidal, o operador deve estar atento a
qualquer aumento aparente da umidade do solo, indicativo da presença próxima do nível d’água.
Outro indício mais forte ocorre, por exemplo, quando o solo se encontrar molhado em determinado
trecho inferior do trado helicoidal, comprovando ter sido atravessado um nível de água.
25

Atingido o nível d’água (NA), interrompe-se a operação de perfuração e passa-se a observar


a elevação do NA, efetuando-se leituras a cada 5 min, durante no mínimo por 15 min.

Sempre que houver interrupção na execução da sondagem, é obrigatória, tanto no início


quanto no final desta interrupção, a medida da posição do nível d’água, bem como da profundidade
aberta do furo e da posição do tubo de revestimento. Variações do nível d’água durante o dia devem
ser anotadas no relatório final.

No caso de ocorrer artesianismo ou fuga de água no furo, devem ser anotadas no relatório
final as profundidades dessas ocorrências e do tubo de revestimento.

Após o término da sondagem, deve ser feito o máximo rebaixamento possível da coluna de
água interna do furo e a seguir observar a elevação do nível d’água no furo, efetuando-se leituras a
cada 5 min, durante no mínimo por 15 min.

Após o encerramento da sondagem e a retirada do tubo de revestimento, decorridos no


mínimo 12 h, e estando o furo não obstruído, deve ser medida a posição do nível de água, bem como
a profundidade até onde o furo permanece aberto.

5.5 - Cálculo do índice de resistência à penetração (N) a cada metro de ensaio

Segundo a NBR 6484 (2001), quando a cravação atingir 45 cm, o índice de resistência à
penetração, N, é expresso como a soma do número de golpes requeridos para a segunda e a terceira
etapas de penetração de 15 cm, adotando-se os números obtidos nestas etapas mesmo quando a
penetração não tiver sido de exatos 15 cm.
Exemplo:

8/15 – 9/15 – 11/15 ⇒ N = n2 + n3 = 9 + 11 ⇒ N = 20

Quando as penetrações não possuem valores exatos de 15 cm, é comum também a adoção
de um método expedito para cálculo de N, que no caso de cravações normais (onde existem as três
parcelas e estas são aproximadamente iguais a 15 cm), pode ser apresentado como segue:

Ex.: n1/L1 n2 /L2 n3/L3 (ni = número de golpes e Li = penetração em cm)

Exemplo:
3/17 – 4/14 – 5/15 ⇒ N = 30.(4 + 5)/(14 + 15) ⇒ N = 9,3
26

O número N obtido a partir do ensaio SPT é um parâmetro importante do solo para diversas
aplicações em geotecnia, principalmente na área de fundações, onde o mesmo auxilia na definição
de diversos aspectos, dentre os quais citam-se: escolha do tipo de fundação, definição da
profundidade de apoio e estimativa de diversos parâmetros dos solos, a partir dos quais obtém-se a
capacidade de carga do solo para o tipo de fundação adotada.

Para fins de aplicação em projetos de fundações, a NBR 6484 (2001) apresenta a Tabela 5.2
onde classifica os estados de compacidade de solos arenosos e os estados de consistência de solos
argilosos com base nos valores do número N. obtidos

Tabela 5.2 – Estados de compacidade e de consistência em função do número N (NBR 6484, 2001)

Índice de resistência à
Solo Designação
penetração (N)

4 Fofa (o)
5a8 Pouco compacta (o)
Areias e siltes
arenosos 9 a 18 Medianamente compacta (o)
19 a 40 Compacta (o)
> 40 Muito compacta (o)

2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
argilosos 6 a 10 Média (o)
11 a 19 Rija (o)
> 19 Dura (o)

Quanto à tabela anterior, a NBR 6484 (2001) alerta que as expressões empregadas para a
classificação da compacidade das areias (fofa, compacta, etc.), referem-se à deformabilidade e
resistência destes solos, sob o ponto de vista de fundações, e não devem ser confundidas com as
mesmas denominações empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para
a situação perante o índice de vazios crítico, definidos na Mecânica dos Solos.

5.6 – Exemplos de perfis individuais de sondagens

Nas próximas figuras são apresentados alguns perfis individuais de sondagens de simples
reconhecimento com SPT, com o objetivo de ilustrar as diferentes formas adotadas pelas empresas
executoras desse tipo de serviço para a apresentação de seus resultados.
27

Figura 5.16 – Perfil individual de sondagem em um solo residual


28

Figura 5.17 – Perfil individual de sondagem a percussão


29

Figura 5.18 – Perfil individual de sondagem em um solo de baixa resistência

Figura 5.19 – Perfil individual de sondagem em um solo com baixa resistência


30

Legenda: CA – Perfuração por circulação de água


REV – Posição do revestimento NA - nível de água

Figura 5.20 – Perfil individual de sondagem com apresentação das 3 parcelas do ensaio penetrométrico

Os perfis individuais de furos de sondagem, pertencentes a uma mesma área, podem ser
utilizados para o traçado do perfil longitudinal do subsolo, conforme ilustrado nas figuras a seguir, o
qual auxilia em muito nos projetos de engenharia.

Figura 5.21 – Exemplo de perfil longitudinal de subsolo


31

Figura 5.22 – Exemplo de perfil longitudinal de subsolo


32

5.9 Ensaio SPT com medida de torque (Ensaio SPT-T)

Caso solicitado pelo cliente, algumas empresas de sondagem, após a cravação do


amostrador-padrão do SPT (a cada metro de profundidade), procedem à medição do torque
necessário à rotação do amostrador no solo. Por esse motivo esse tipo de ensaio é denominado de
SPT-T ou SPTF (Standard Penetration Test with Friction Measurement), sendo que o valor do torque
medido permite estimar a magnitude do atrito lateral e/ou adesão desenvolvida na interface do
amostrador com o solo.

Esta informação, juntamente com as demais rotineiramente obtidas na sondagem de simples


reconhecimento com SPT, tem sido utilizada na classificação do material sondado, sendo crescente
o número de projetistas de fundações que fazem uso da mesma em seus projetos. No entanto, até
o momento, a medida de torque no ensaio SPT não se encontra normatizada pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).

O torque, medido com o auxílio de um torquímetro (Figura 5.23), é aplicado na parte superior
da composição de hastes visando rotacionar o amostrador previamente cravado.

Figura 5.23 – Exemplos de torquímetros usados nas sondagens SPT-T

A medida do torque, quando solicitada em uma sondagem, é efetuada ao término de cada


ensaio de penetração SPT, sendo geralmente executada na seguinte sequência:

a) Após cravado os 45 cm do amostrador-padrão, conforme a NBR 6484, retira-se a cabeça


de bater e acopla-se o adaptador de torque.

Figura 5.24 – Esquema de montagem do torquímetro


33

b) Com o torquímetro aferido e de porte compatível com a magnitude do torque a ser medido,
acopla-se o mesmo ao adaptador de torque e procede-se à rotação da composição de
hastes, na extremidade inferior da qual se encontra o amostrador cravado no solo.

c) Durante a operação de rotação descrita em (b), procede-se à leitura do torque máximo


(Tmáx).

d) Após a obtenção de Tmáx, continua-se com a rotação do amostrador por mais duas voltas
completas, quando então obtém-se o torque mínimo (Tmin) ou residual (Tres).

As figuras a seguir ilustram a realização da medida do torque em um ensaio SPT-T.

Figura 5.25 – Exemplos de medidas de torque em sondagens SPT-T

Os resultados das medidas de torque podem ser apresentados diretamente no perfil individual
de sondagem, ou na forma de atrito lateral-adesão (Ft), estimado a partir de uma das equações a
seguir propostas por Ranzine (1994), onde h é o valor da penetração do amostrador no solo.

1000.Tmáx
ft  (ft  kPa, Tmáx  kN.m, h  cm)
40,537.h  3,171

Além disso, diversos autores sugerem que os valores de Tmáx, sejam corrigidos para a
penetração de 45 cm, e que sejam apresentados também os valores da relação Tmáx/NSPT, conforme
ilustrado no boletim de sondagem apresentado na Figura 5.26.
34

Figura 5.26 – Perfil individual de uma sondagem SPT-T


35

5.10 – Estimativa de parâmetros geotécnicos com base no número N do SPT

Na área geotécnica o número N do ensaio SPT constitui-se em um dado importante que


auxilia os projetistas em aspectos tais como:

a) definição do tipo de fundação (rasas ou profundas) e de sua profundidade de apoio;

Fundações rasas
ou superficiais
(Tipo sapata)
Fundações profundas (Estacas e Tubulões)
Figura 5.27 – Exemplos típicos de fundações rasas e profundas

b) estimativa de diversos parâmetros dos solos para projetos geotécnicos (capacidade de


carga de fundações, estruturas de contenção (cortinas, muros de arrimo), etc.)

Parâmetros
 = peso específico
c = coesão efetiva
 = ângulo de atrito
interno

Estacas e tubulões Muro de arrimo Cortina de contenção

Figura 5.28 – Tipos de obras onde alguns parâmetros do solo podem ser obtidos a partir do N

Para efeito de projeto de fundações, é comum encontrar na bibliografia tabelas e fórmulas


que correlacionam o número N, obtido nas sondagens de simples reconhecimento com SPT, com
diversos parâmetros dos solos. No entanto, este procedimento deve ser usado com cautela e se
aplica em fases preliminares de projetos, devendo as propriedades de interesse serem confirmadas
por outros ensaios de campo ou laboratório. Isso se justifica por serem estas correlações geralmente
de caráter regional, sendo, portanto estabelecidas para os tipos de solos e condições existentes no
local em que se deu o estudo.

Segundo Alonso (1983), quando não se dispõe de dados de ensaios de laboratório referentes
à resistência ao cisalhamento dos solos, os parâmetros coesão (c) e ângulo de atrito interno (),
podem, em primeira aproximação, ser estimados por meio das tabelas a seguir.
36

Tabela 5.3 – Valores de coesão de argilas com base no número N do ensaio SPT (Fonte: Alonso, 1983)

Tabela 5.4 – Ângulo de atrito interno de areias com base nos valores do número N do SPT (Alonso, 1983)

As tabelas e correlações apresentadas a seguir são sugeridas por Cintra e Aoki (2010) para
a estimativa de diversos parâmetros geotécnicos dos solos, a partir do número N do ensaio SPT,
quando não se dispõe de ensaios de laboratório.

a) Peso específico

Tabela 5.5 – Peso específico de solos argilosos (Godoy, 1972)


Número N Consistência  (kN/m3)
2 Muito mole 13
3-5 Mole 15
6 - 10 Média 17
11 - 19 Rija 19
 20 Dura 21
37

Tabela 5.6 – Peso específico de solos arenosos (Godoy, 1972)


 (kN/m3)
Número N Compacidade
Areia seca Areia úmida Areia saturada
<5 Fofa
16 18 19
5-8 Pouco compacta
9 - 18 Medianamente compacta 17 19 20
19 - 40 Compacta
18 20 21
> 40 Muito compacta

b) Coesão não drenada (cu)


cu = 10.N (cu em kPa) (Teixeira e Godoy, 1996)

c) Ângulo de atrito interno de areias ()


 = 28o + 0,4.N ( em graus) (Godoy, 1983)
 = √20. 𝑁 + 15o ( em graus) (Teixeira, 1996)

Joppert Jr. (2007) apresenta as tabelas a seguir, a partir das quais pode-se estimar os valores
médios do coeficiente de Poisson e de pesos específicos de diversos tipos de solos, com base no
número N do ensaio SPT.

Tabela 5.7 – Coeficiente de Poisson  (Joppert Jr., 2007)


38

Tabela 5.8 – Módulo de elasticidade E (tf/m2) e valores médios de pesos específicos de diversos tipos de
solos com base no número N do SPT,  (tf/m3)
(Adaptado de Joppert Jr., 2007)

Faixa Peso específico ()


de NSPT
(tf/m2) (tf/m3) (tf/m3)
39

6 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM ROTATIVA

Quando uma sondagem alcança uma camada de rocha ou quando no curso de uma
perfuração as ferramentas das sondagens à percussão encontram solo de alta resistência, blocos ou
matacões de natureza rochosa é necessário recorrer às sondagens rotativas.

As sondagens rotativas têm como principal objetivo a obtenção de testemunhos (amostras da


rocha), mas também permitem a identificação de descontinuidades do maciço rochoso e a realização
no interior da perfuração de ensaios "in situ", como por exemplo, o ensaio de perda d'água, quando
se deseja conhecer a permeabilidade da rocha ou a localização de fendas e falhas.

A sondagem rotativa trata-se da perfuração do subsolo por meio de equipamento moto-


mecanizado pesado, que consiste na rotação de um dispositivo cortante (coroa) com aplicação
simultânea de pressão para avanço vertical, podendo atingir grandes profundidades. Na Figura 6.1
ilustra-se, de forma esquemática, os componentes de um equipamento de sondagem rotativa.

Figura 6.1 – Esquema de um equipamento de sondagem rotativa


40

6.1 Tipos de barrilete para sondagem rotativa

O barrilete é conectado à extremidade do conjunto de hastes de perfuração (Figura 6.1)


e consiste em um tubo oco de aço para alojamento do testemunho de sondagem (amostra de
rocha de forma cilíndrica) durante as operações de perfuração.

Dependendo da qualidade da rocha e da recuperação de amostras desejada, dispõem-


se dos seguintes tipos de barriletes: barrilete simples, barrilete duplo rígido e barrilete duplo
giratório (Figura 6.2). Geralmente o comprimento do barrilete varia entre 1.5 m a 3,0 m, e todos
eles possuem molas em bisel para prender o testemunho e evitar que este se solte durante a
elevação das hastes.

(a) Barrilete simples (b) Barrilete duplo rígido (c) Barrilete duplo giratório
Figura 6.2 – Barriletes usuais em sondagem rotativa

Conforme ilustrado na Figura 6.2 (a), o barrilete simples consiste apenas de um tubo oco
no qual, durante a perfuração, existe circulação de água entre o testemunho e a parede do
barrilete podendo com isso resultar em lavagem e erosão do mesmo. Além disso, o testemunho,
41

por estar em contato com as paredes do barrilete em rotação, estará sujeito a desgaste por atrito,
fato esse que contribui para uma baixa recuperação de amostras em rochas alteradas ou friáveis.
Portanto, este tipo de barrilete só deve ser empregado em rocha sã ou quando não existe
preocupação em alta recuperação de amostras.

O barrilete duplo rígido compõe-se de um tubo externo e de um tubo interno, fixados


rigidamente por meio de rosca, que giram conjuntamente durante a perfuração. Nesse caso,
como a água circula no espaço anular entre os tubos, sem praticamente atingir o testemunho,
minimiza-se o problema da lavagem e erosão do mesmo. No entanto, como o tubo interno gira
solidário com o tubo externo, tem-se ainda a desvantagem da quebra e desgaste dos
testemunhos.

Como no barrilete duplo rígido consegue-se melhor recuperação que o barrilete simples,
ele é indicado para formações geológicas médias e duras, desde que pouco fraturadas.

O barrilete duplo giratório diferencia-se do anterior pelo fato do tubo interno não ser
solidário com o tubo externo, sendo o contato entre os dois feito por um sistema de rolamento
de esferas na cabeça do barrilete. Como a água de circulação também passa no espaço anular
entre os dois tubos, e o tubo interno não gira conjuntamente com o tubo externo, este tipo de
barrilete permite a obtenção de alta recuperação de testemunhos e de amostras representativas,
mesmo em rochas bastante alteradas.

Figura 6.3 – Exemplo de um barrilete duplo rígido


42

6.2 Tipos de equipamentos de sondagem rotativa

Os tipos básicos de equipamentos de sondagem rotativa consistem naqueles de avanço


manual e nos de avanço hidráulico. No caso das sondas de avanço manual, aplicáveis a rochas
de menor resistência e testemunhos de menor diâmetro, a pressão para o avanço do barrilete é
aplicada pelo próprio operador, conforme ilustrado na Figura 6.4.

Figura 6.4 – Equipamento de sondagem rotativa de avanço manual

Nos equipamentos de avanço hidráulico, aplicáveis a rochas de qualquer resistência e


diâmetro de testemunho, a pressão para o avanço do barrilete é aplicada por dois pistões
hidráulicos, conforme ilustrado nas figuras 6.5 e 6.6.

Figura 6.5 – Exemplos de sonda rotativa hidráulica


43

Figura 6.6 – Corte esquemático de uma sonda rotativa hidráulica

6.3 Coroas

Os diversos padrões de sondagem rotativa diferenciam-se principalmente pelo diâmetro da


coroa de perfuração e do testemunho, conforme a Tabela 6.1.

Tabela 6.1 – Características de alguns padrões de sondagem rotativa

As coroas constituem a ferramenta de corte de uma sondagem rotativa e geralmente são


compostas de uma matriz de aço na qual são os fixados os diamantes, que efetivamente
44

promoverão o corte da rocha (Figura 6.7). O tipo de coroa a ser utilizado, bem como sua dureza,
pode variar dependendo da resistência e do grau de faturamento da rocha a ser perfurada.

Figura 6.7 – Exemplos de coroas de perfuração para sondagem rotativa

6.4 Etapas de execução de uma sondagem rotativa

O procedimento de execução de uma sondagem rotativa compreende as seguintes etapas:

a) Instalação da sonda: deve ser sobre uma plataforma devidamente ancorada a fim de se
manter constante a pressão sobre a ferramenta de corte.
b) Processo de perfuração: realização de manobras consecutivas, onde a sonda imprime às
hastes movimentos rotativos e de avanço na direção do furo que são transferidos ao
barrilete provido de coroa.

O comprimento máximo de cada manobra é determinado pelo comprimento do barrilete (em


geral de 1,5 a 3,0 m).

O Terminada a manobra, o barrilete é alçado do furo e os testemunhos são retirados e


colocados nas caixas (Figura 6.8). Com relação ao armazenamento e identificação dos testemunhos,
estes devem ser cuidadosamente colocados em caixas especiais com separação e obedecendo à
ordem de avanço da perfuração, conforme ilustrado na Figura 6.9.

As caixas para a colocação dos testemunhos podem ser de madeira, plástico, ou outro
material qualquer e devem ser construídas com dimensão compatíveis com o diâmetro dos
testemunhos a serem alojados nas mesmas.
45

Figura 6.8 – Exemplo de especificação para a caixa de testemunhos

Figura 6.9 – Exemplo de disposição dos testemunhos na caixa


46

6.5 Resultados de uma sondagem rotativa

Os resultados obtidos a partir de uma sondagem rotativa podem ser resumidos nos seguintes:
a) Classificação litológica - tipo de rocha, textura, mineralogia, cor, etc.

b) Estado de alteração - sã, pouco alterada, medianamente alterada, muito alterada e


extremamente alterada, conforme a classificação da ISRM

c) Grau de fraturamento - número de fraturas por metro, também conforme classificação da


lSRM: ocasionalmente fraturada (1), pouco fraturada (2 a 5), medianamente fraturada (6 a
10), muito fraturada (11 a 20) e extremamente fraturada (> 20)

d) Recuperação - é a porcentagem de material recuperado em relação ao tamanho da


manobra

e) RQD (Rock Quality Designation) - é a soma dos fragmentos maiores ou iguais a 10cm,
separados por fraturas naturais, em relação ao comprimento total da manobra, conforme
exemplos a seguir:

Figura 6.10 – Diferença entre recuperação e RQD (Rock Quality Designation)


47

Figura 6.11 – Procedimento para medida e cálculo do RQD

Classificação dos maciços rochosos em relação aos diversos parâmetros citados:


48

6.6 Execução de sondagem rotativa em locais de difícil acesso

Assim como no caso da Sondagem de simples reconhecimento com SPT, o equipamento de


sondagem rotativa permite sua execução em locais de difícil acesso, conforme ilustrado nas figuras
a seguir.

Figura 6.12 – Execução de sondagem rotativa em local com lâmina de água

Figura 6.13 – Execução de sondagem rotativa em local de difícil acesso

Além de sondagens na direção vertical, os equipamentos de sondagem rotativa permitem que


se trabalhe com furos inclinados, conforme ilustrado na figura a seguir.
49

Figura 6.14 – Emprego de sonda rotativa para execução de furos inclinados


50

7 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM MISTA

Entende-se por sondagem mista aquela que é executada à percussão em todos os tipos de
terrenos penetráveis por esse processo, e executada por meio de sonda rotativa nos materiais
impenetráveis à percussão.

Os dois métodos são alternados, de acordo com a natureza das camadas, até ser atingido o
limite da sondagem necessário ao estudo em questão.

Recomenda-se sua execução em terrenos com a presença de blocos de rocha, matacões,


lascas, etc., sobrejacentes a camadas de solo.

O conhecimento prévio das condições geológicas do local poderá recomendar desde o início
a previsão de um equipamento de sondagem mista.

A Figura 7.1 ilustra uma coluna de perfuração de sondagem mista em um local com diversos
obstáculos.

Figura 7.1 - Coluna de perfuração de sondagem mista em um local com diversos obstáculos

A Figura 7.2 mostra um exemplo de um boletim de sondagem mista, onde podem ser vistos
claramente o trecho no qual foi executada a sondagem de simples reconhecimento como SPT e o
trecho onde foi executada a sondagem rotativa.
51

Figura 7.2 – Exemplo de perfil de sondagem mista (SPT + Rotativa)


52

Figura 7.3 – Perfil individual de sondagem mista (SPT + Rotativa)


53

8 - PROGRAMAÇÃO DE SONDAGENS PARA FUNDAÇÕES

Segundo a NBR 8036/1983 (Programação de sondagens de simples reconhecimento dos


solos para fundações de edifícios) o número de sondagens e a sua localização em planta dependem
do tipo da estrutura, de suas características especiais e das condições geotécnicas do subsolo. O
número de sondagens deve ser suficiente para fornecer um quadro, o melhor possível, da possível
variação das camadas de subsolo do local em estudo. Na figura a seguir é ilustrada uma situação
onde a interpretação errônea do subsolo resultou em problemas na estrutura após sua construção.

Figura 8.1 – Exemplo de problema ocasionado por intepretação errônea do subsolo

Como recomendação, a NBR 8036/1983 especifica o número mínimo de furos de acordo com
a projeção da edificação, conforme mostrado na Tabela 8.1.

Tabela 8.1 – Número mínimo de sondagens para projeções edificadas


54

Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, como nos estudos
de viabilidade ou de escolha de local, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a
distância máxima entre elas seja de 100m, com um mínimo de três sondagens.

As sondagens devem ser localizadas em planta e obedecer às seguintes regras gerais:

a) na fase de estudos preliminares ou de planejamento do empreendimento, as sondagens


devem ser igualmente distribuídas em toda a área. Na fase de projeto pode-se localizar as
sondagens de acordo com critério específico que leve em conta pormenores estruturais;

b) quando o número de sondagens for superior a três, elas não devem ser distribuídas ao longo
de um mesmo alinhamento.

O principal motivo para não distribuir sondagens ao longo de um mesmo alinhamento,


justifica-se pela possibilidade de interpretação errônea quanto à inclinação das camadas em um perfil
de subsolo, conforme ilustrado nas figuras a seguir.

Figura 8.2 – Exemplo de situação onde pode ocorrer erro de avaliação da inclinação das camadas
no caso dos furos de sondagem terem sido alinhados

Figura 8.3 – Interpretação das sondagens no mesmo local, porém com os furos não alinhados
55

A Figura 8.4 apresenta uma disposição recomendada para os furos de sondagem com base
nas recomendações da NBR 8036/83.

Figura 8.4 – Disposição recomendada dos furos

A profundidade a ser explorada nas sondagens de simples reconhecimento, para efeito do


projeto geotécnico, é função do tipo de edifício, das características particulares de sua estrutura, de
suas dimensões em planta, da forma da área carregada e das condições geotécnicas e topográficas
locais.

A exploração deve ser levada a profundidades tais que incluam todas as camadas impróprias
ou que sejam questionáveis como apoio de fundações, de tal forma que não venham a prejudicar a
estabilidade e o comportamento estrutural ou funcional do edifício. Para isso adota-se como critério
aquela profundidade onde o acréscimo de pressão no solo, devido às cargas estruturais aplicadas,
for menor do que 10% da pressão geostática efetiva.

Figura 8.5 – Exemplos de bulbos de tensões de alguns tipos de fundações


56

Portanto, após a definição das dimensões geométricas dos elementos de fundações, deve-
se fazer uma avaliação das camadas de solos que servirão de apoio para os mesmos, procurando
averiguar se não serão solicitadas camadas de baixa resistência.

Conforme ilustrado na Figura 8.6, observa-se que na situação da Figura 8.6(a), apesar de
existir uma camada de baixa resistência abaixo da cota de apoio da sapata, a mesma não é solicitada
pela fundação. Diferente do que se verifica na Figura 8.6(b), onde o bulbo de tensões da fundação
atinge a camada de solo mole. Nesse caso, pode haver ruptura da camada de apoio, além dos
recalques por adensamento da argila mole serem consideráveis, inviabilizando a adoção de
fundações superficiais

(a) Camada de baixa (b) Camada de baixa


resistência não solicitada resistência solicitada
pela fundação superficial pela fundação superficial

Bulbo de
tensões Camada
Bulbo de
Camada tensões resistente
resistente

Argila mole
Argila mole

Figura 8.6 – Solicitação das camadas do subsolo por uma fundação superficial
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REFERÊNCIAS

ALONSO, U. R. Exercício de fundações. São Paulo: Edgard Blucher, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6484: Solo - Sondagens de


simples reconhecimento com SPT - Método de ensaio. Rio de Janeiro, 2001.

______. NBR 9820: Coleta de amostras indeformadas de solo de baixa consistência em furos de
sondagem. Rio de Janeiro, 1997.

______. NBR 6122: Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro, 2010.

BELINCANTA, A.; PEIXOTO, A. S. P.; MIGUEL, M. G. Sondagem de simples reconhecimento


com SPT e Torque. Maringá: Editora da Universidade Estadual de Maringá, 2010.

CINTRA, J. C.; AOKI, N. Fundações por estacas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
Textos, 2010.

CINTRA, J. C.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2011.

DAS, B. M. Fundamentos de engenharia geotécnica. Tradução da 7 ed. americana. São Paulo:


Thomson, 2010.

JOPPERT, Jr. I. Fundações e contenções de edifícios: qualidade total na gestão do projeto e


execução. São Paulo: PINI, 2007.

LIMA, M. J. C. P. A. Prospecção geotécnica do subsolo. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e


Científicos, 1979.

RANZINE, S. M. T. SPTF: Parte II. Solos e Rochas. São Paulo: ABMS, 1994.

SCHNAID, F.; ODEBRECHT, E. Ensaios de campo e suas aplicações à Engenharia de


Fundações. 2 ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2012.

SOUZA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos. 3a edição. São Paulo: Oficina de Textos,
2006.

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