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2 Prospecao Geotecnica 2016
2 Prospecao Geotecnica 2016
Faculdade de Engenharia
Departamento de Transportes e Geotecnia
PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA
(Métodos diretos mecânicos)
1 INTRODUÇÃO 1
1.1 Objetivos de um programa de investigação do subsolo 2
2 ETAPAS DE UM PROGRAMA DE INVESTIGAÇÂO DO SUBSOLO 3
3 CUSTOS DAS INVESTIGAÇÕES 4
3.1 Riscos nas investigações geotécnicas 4
4 CLASSIFICAÇÃO DOS MÉTODOS DE PROSPECÇÃO GEOTÉCNICA 5
5 SONDAGEM DE SIMPLES RECONHECIMENTO COM SPT 9
5.1 Objetivos da sondagem para aplicações em Engenharia Civil 10
5.2 Principais componentes do equipamento de sondagem 10
5.3 Princípio do ensaio (NBR 6484/2001) 12
5.4 Execução da Sondagem de simples de reconhecimento com SPT 12
5.4.1 Operações básicas até o primeiro metro de profundidade 13
5.4.2 Operações a partir do segundo metro de profundidade 19
5.4.3 Critério de paralização da cravação do amostrador-padrão 22
5.4.4 Critérios de paralisação da sondagem de simples reconhecimento com SPT 24
5.4.5 Observação do nível do lençol freático 24
5.5 Cálculo do índice de resistência à penetração (N) a cada metro de ensaio 25
5.6 Exemplos de perfis individuais de sondagens 26
5.9 Ensaio SPT com medida de torque (Ensaio SPT-T) 32
5.10 Estimativa de parâmetros geotécnicos com base no número N do SPT 35
6 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM ROTATIVA 39
6.1 Tipos de barrilete para sondagem rotativa 40
6.2 Tipos de equipamentos de sondagem rotativa 42
6.3 Coroas 43
6.4 Etapas de execução de uma sondagem rotativa 44
6.5 Resultados de uma sondagem rotativa 46
6.6 Execução de sondagem rotativa em locais de difícil acesso 48
7 MÉTODOS DIRETOS MECÂNICOS – SONDAGEM MISTA 50
8 PROGRAMAÇÃO DE SONDAGENS PARA FUNDAÇÕES 53
REFERÊNCIAS 57
1
Prospecção Geotécnica
1 INTRODUÇÃO
É de consenso geral que toda obra de engenharia, por mais simples que seja, requer um
conhecimento adequado das condições do subsolo no local onde será executada a obra,
principalmente por que este será responsável por receber todo o carregamento da estrutura. Isso se
aplica mesmo em situações onde se acredita conhecer muito bem o local da obra, pois, face à grande
heterogeneidade dos materiais presentes no subsolo, nada garante que as condições onde será
executada uma nova obra, sejam exatamente as mesmas encontradas nas obras vizinhas.
A heterogeneidade do subsolo é ilustrada na Figura 1.1, onde pode ser observado que em
uma área relativamente pequena ocorrem diversos tipos de solos com características diferenciadas
para fins de aplicação em Engenharia Civil.
Além do papel do subsolo local como fundação para as estruturas, muitas destas por sua vez
são executadas utilizando solos e/ou rochas como material de construção (estradas, barragens,
aterros diversos, etc.). Nestes casos, o conhecimento do subsolo dos locais que servirão de jazidas
para estes materiais será de extrema importância, principalmente para a correta avaliação dos
volumes disponíveis e se estes serão suficientes para a execução das obras.
Em função do exposto, conclui-se que uma investigação adequada do terreno é uma atividade
preliminar essencial à execução de um projeto de engenharia, na qual devem ser obtidas
informações suficientes para permitir a elaboração de um projeto seguro, econômico e com o mínimo
de dificuldades (imprevistos) durante a execução.
2
Sob um ponto de vista mais geral, a prospecção, ou investigação geotécnica pode ser definida
como um conjunto de atividades de campo e laboratório com os objetivos de reconhecimento do
subsolo, classificação e determinação dos parâmetros geomecânicos dos materiais e das camadas
constituintes do solo.
Uma investigação do subsolo é realizada com a intenção de alcançar uma série de objetivos,
individualmente ou em conjunto, dentre os quais citam-se:
Explorações para o anteprojeto → são realizadas nos locais indicados na etapa anterior,
permitindo a escolha de soluções e o dimensionamento das fundações;
Explorações para o projeto executivo → destinadas a complementar as informações
geotécnicas disponíveis, visando a resolução de problemas específicos do projeto de
execução;
Explorações durante a construção → necessárias no caso de surgirem problemas não
previstos nas etapas anteriores.
Segundo a norma NBR 8044/83, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
trata das condições exigíveis e que devem ser observadas nos estudos e serviços necessários ao
desenvolvimento de projetos geotécnicos, as investigações geotécnicas, segundo a etapa do projeto
e características da obra, compreendem um ou mais dos seguintes serviços:
b) reconhecimento topográfico;
c) reconhecimento geotécnico de campo;
d) prospecção geofísica;
e) sondagens mecânicas e amostragem;
f) ensaios “in situ”;
g) ensaios de laboratório.
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Cabe lembrar que, sem um conhecimento prévio do subsolo não é possível nem ao menos
escolher o tipo de fundação para uma obra, sendo que, em alguns casos, nem mesmo é conveniente
comprar um terreno sem que se tenha ideia da natureza do subsolo e se o mesmo conduz a uma
solução econômica para o que se pretende construir.
Portanto, o valor de uma investigação pode ser medido pela quantia que seria gasta na
construção se a investigação não tivesse sido feita. Em função disso, são apresentadas na literatura
algumas frases que procuram justificar os custos das investigações geotécnicas em função dos
benefícios que proporcionam em termos técnicos e econômicos. Dentre estas cita-se:
“Todas as sondagens são caras, mas as mais caras são aquelas que não foram feitas”.
Esta frase se justifica porque quando um projetista trabalha com informações insuficientes ou
inadequadas ele forçosamente compensa essa falha com um superdimensionamento; quando um
empreiteiro recebe informações incompletas, certamente ele aumenta seu orçamento visando
"cobrir" possíveis imprevistos, tais como alteração de projeto ou do método construtivo. Assim,
conclui-se que o custo de informações incompletas é maior que o custo da correta investigação.
Da geologia sabe-se que os solos são o resultado da atuação dos agentes de intemperismo
e de transporte sobre uma determinada rocha, cujas combinações podem dar origem aos mais
variados tipos de solos. Assim, dependendo do tipo de intemperismo atuante (físico ou químico) uma
mesma rocha pode dar origem a solos diferentes. Por outro lado, dependendo dos fatores atuantes,
rochas diferentes podem dar origem a solos com propriedades similares.
Além disso, em função de diversos fatores, geralmente o subsolo de uma determinada região
não se apresenta homogêneo, possuindo algumas vezes variações bruscas de suas propriedades
tanto em extensão, quanto em profundidade. Por isso, quando se trabalha com os solos normalmente
lidamos com a heterogeneidade, sendo a homogeneidade uma exceção.
Logo, em função dessa heterogeneidade natural dos subsolos, é muito difícil avaliar com
precisão a qualidade das condições do subsolo de um determinado local, havendo, portanto, uma
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a) Métodos indiretos
São aqueles em que a determinação das características das camadas do subsolo é feita
indiretamente pela medida de certas propriedades, as quais mantêm correlações com a natureza
geológica dos diversos horizontes, permitindo determinar suas respectivas profundidades,
espessuras e o nível d’água. Incluem-se nessa categoria os métodos geofísicos de investigação que
se constituem em um conjunto de procedimentos, baseados em propriedades físicas e ferramentas
matemáticas, aplicados para a exploração do subsolo.
b) Métodos semi-diretos
Os processos semi-diretos, que em resumo são ensaios “in situ", tem a vantagem teórica de
minimizarem as perturbações causadas pela variação do estado de tensões e distorções devidas ao
processo de amostragem e também evitar os choques e vibrações decorrentes do transporte e
subsequente manuseio das amostras. Além disso, o efeito da configuração geológica do terreno está
presente nos ensaios “in situ" de modo que eles permitem uma medida mais fiel das propriedades
físicas de uma formação. Dentre os métodos semi-diretos mais usados no Brasil citam-se:
c) Métodos diretos
Nas próximas seções aborda-se com maiores detalhes os três métodos diretos mecânicos de
prospecção geotécnica citados.
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A Sondagem de simples reconhecimento com SPT é de longe o ensaio mais realizado para
projetos de fundações e de reconhecimento do subsolo em todo o mundo, principalmente por sua
simplicidade e custo relativamente baixo. Somados a estes aspectos, tem-se ainda a grande
facilidade de deslocamento e adaptação do equipamento a qualquer tipo de terreno a ser investigado.
Martelo
com
haste
guia de Martelo
1,20m vazado
com furo
central
Amostrador padrão bipartido, dotado de dois orifícios laterais para saída de água e ar,
com diâmetro interno de 34,9 mm e diâmetro externo de 50,8mm (Figura 5.2);
Sapata
ou bico
Corpo
Cabeça
Figura 5.2 – Partes componentes do amostrador-padrão tipo Raymond (Diâm. externo = 50,8 mm)
11
Torre com roldana (pode ter, opcionalmente guincho motorizado ou sarilho para auxílio
nas manobras com hastes ou tubos de revestimento) (Figuras 5.3 e 5.4);
Tubos de revestimento de aço com diâmetro nominal interno de 63,5 mm (externo = 76,1
± 5 mm e interno = 68,8 ± 5 mm);
Hastes de aço roscável com diâmetro nominal interno de 25 mm (externo = 33,4 ± 2,5
mm e interno = 24,3 ± 5 mm) e peso de 32N/m (3,23 kgf/m);
Martelo cilíndrico ou prismático com coxim de madeira para cravação das hastes e tubos
de revestimento (massa = 65 kg) (Figura 5.1);
Conjunto motor-bomba para circulação de água na perfuração;
Trépano (peça de aço biselada para o avanço por lavagem)
Trados (para perfuração inicial)
Roldana
Cabo de aço
Alavanca do
engate de
redução
Engate de redução
Mancal
Manivela
Segundo a norma ABNT NBR 6484 (2001), o princípio do ensaio consiste na perfuração e
cravação dinâmica do amostrador-padrão, a cada metro, resultando em:
A Figura 5.5(a) ilustra a locação em planta dos furos de sondagem no terreno e a Figura 5.5(b)
ilustra a execução de uma sondagem de simples reconhecimento com SPT.
13
Bica de descarga
Tubo de
revestimento
Figura 5.6 – Primeiro metro: (a) Uso do trado concha; (b) Instalação do tubo de revestimento
14
Caso haja discrepância entre as duas medidas citadas (ficando o amostrador mais de 2cm
acima da cota de fundo, atingida no estágio de perfuração) a composição deve ser retirada,
repetindo-se a operação de limpeza do furo.
Não tendo ocorrido penetração igual ou maior do que 45 cm, após o procedimento anterior,
prossegue-se com a cravação do amostrador-padrão até completar os 45 cm de penetração por meio
de impactos sucessivos do martelo padronizado, caindo livremente de uma altura de 75 cm (Figuras
5.7(c) e 5.8). Deve ser anotado, separadamente, o número de golpes necessários à cravação de
cada segmento de 15 cm do amostrador-padrão.
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Precauções especiais devem ser tomadas para que, durante a queda livre do martelo, não
haja perda de energia de cravação por atrito.
(b)
(a) (b) (c)
Cabeça de bater
Ou restante
dos 45 cm
Figura 5.7 – (a) Marcação dos trechos de 15 cm, (b) obtenção da penetração inicial do amostrador,
(c) Cravação do amostrador-padrão com o martelo de 65 kg
O número de golpes para cravar cada trecho de 15 cm pode ser registrado no boletim de
campo conforme exemplificado a seguir:
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Ex.: 5/15 - 8/15 - 12/15 Interpretação: foram necessários 15 golpes para cravar a primeira
parcela de 15 cm, 8 golpes para a segunda e 12 golpes para a terceira.
No entanto, frequentemente não ocorre a penetração exata dos 45 cm, bem como de cada
um dos segmentos de 15 cm do amostrador-padrão, com certo número de golpes. Por isso, na
prática, recomenda-se registrar o número de golpes empregados para uma penetração igual ou
imediatamente superior a 15 cm, registrando-se o comprimento penetrado:
Portanto, não havendo penetrações exatas de cada segmento de 15 cm, de forma geral o
registro do ensaio penetrométrico pode ser feito como segue:
Nos casos em que haja mudança de camada de solo junto à cota de execução do SPT ou
quando a quantidade de solo proveniente do bico do amostrador-padrão for insuficiente para sua
classificação, recomenda-se também o armazenamento de amostras colhidas do corpo do
amostrador-padrão.
Nos casos em que não haja recuperação de amostras pelo amostrador-padrão, deve-se
anotar claramente no relatório.
As amostras devem ser conservadas pela empresa executora da sondagem, à disposição
dos interessados por um período mínimo de 60 dias, a contar da data da apresentação do relatório.
Figura 5.9 – Exemplos de acondicionamento e análise das amostras de uma sondagem SPT
Ressalta-se que as amostras coletadas com o amostrador padrão do SPT não podem ser
consideradas indeformadas, uma vez que, apesar de em alguns casos preservarem o teor de
umidade, no entanto, a estrutura do solo é perturbada devido a fatores tais como:
Para que um amostrador seja considerado de parede fina é necessário que o mesmo
satisfaça alguns critérios quanto à espessura de sua parede e quanto às relações definidas a seguir,
conforme a norma NBR 9820 (1997), da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
D 22 D12
a) Índice de área (Ca): Ca
D12
onde: D1 = diâmetro interno do bisel de corte (Figura 5.10)
D2 = diâmetro máximo externo do tubo amostrador (Figura 5.10)
D 3 D1
b) Relação de folga interna (C i): Ci
D1
onde: D3 = diâmetro interno do tubo amostrador (Figura 5.10)
O índice de área (Ca) não deve exceder 10% e a relação de folga interna (Ci) deve estar
compreendida entre 0,5% e 1%.
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O comprimento do tubo deve estar compreendido entre seis vezes e dez vezes o diâmetro do
amostrador (6.D2 l 10.D2).
D1 D3 D2
Quanto à extremidade inferior do tubo amostrador, esta deve ser torneada em bisel com
ângulo α entre 5° e 10°, conforme indicado na Figura 5.10. Além disso, é recomendável, para maior
proteção desta extremidade, que exista um chanfro adicional β entre 20° e 30°, conforme ilustrado
na mesma figura.
A cabeça do amostrador deve ter dois orifícios para saída d’água e do ar e deve conter,
interiormente, uma válvula constituída por esfera de aço recoberta de material inoxidável, conforme
mostrado na figura a seguir.
Esfera de aço
Segundo NBR 9820 (1997), as dimensões do amostrador de parede fina devem seguir os
limites estabelecidos na Tabela 5.1. O diâmetro mínimo, para condições normais de amostragem‚ é
de 100 mm, sendo que, em situações excepcionais, admite-se o uso de amostrador de diâmetro
externo de 75 mm.
Tabela 5.1 - Valores máximos (em mm) da espessura de parede “e” (Fonte: NBR 9820, 1997)
Ci
0,5% 0,6% 0,7% 0,8% 0,9% 1,0%
D2
75 1,57 1,53 1,49 1,46 1,42 1,39
76,2 (3”) 1,59 1,56 1,52 1,48 1,45 1,41
88,9
1,86 1,81 1,77 1,73 1,69 1,64
(3 1/2”)
100 2,09 2,04 1,99 1,95 1,90 1,85
101,6 (4”) 2,12 2,07 2,03 1,98 1,93 1,88
120 2,51 2,45 2,39 2,33 2,28 2,22
127 (5”) 2,65 2,59 2,53 2,47 2,41 2,35
152,4 (6”) 3,18 3,11 3,04 2,96 2,89 2,82
A) Processos de perfuração
Havendo a ocorrência de NA, ou caso o avanço do furo com o trado helicoidal seja inferior a
50 mm após 10 min de operação, ou no caso de solo não aderente ao trado, passa-se então ao
método de perfuração por circulação de água.
Trépano
Amostrador padrão
Figura 5.12 – Detalhe do trépano de lavagem e etapas de uma sondagem com SPT
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(b) Análise
Bica de tátil-visual
descarga
Tubo de
revestimento
Figura 5.13 – (a) Perfuração com circulação de água; (b) Identificação do material escavado
Atenção especial deve ser dada para descer o tubo de revestimento à uma profundidade além
do comprimento perfurado. O tubo de revestimento deve ficar a uma distância de no mínimo 50 cm
do fundo do furo, quando da operação de ensaio e amostragem. Somente em casos de fluência do
solo para o interior do furo, deve ser admitido deixa-lo à mesma profundidade do fundo do furo.
Durante todas as operações da perfuração, deve-se manter o nível d’água no interior do furo,
em cota igual ou superior ao do nível d’água do lençol freático encontrado.
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Figura 5.14 – Principais operações em uma sondagem de simples reconhecimento com SPT
Existem duas modalidades de critérios de paralização em uma sondagem SPT, que não
devem ser confundidas:
1a) Paralização da cravação do amostrador-padrão: pode ocorrer em qualquer um dos trechos
de 15 cm, sem que isso implique em paralização da sondagem;
2a) Paralização da sondagem: ocorre quando existe dificuldade de escavação do solo com
circulação de água, ou impossibilidade de cravação do amostrador em diversas
profundidades (descrito no item 5.4.4).
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Para estas situações, o resultado da cravação do amostrador é expresso pelas relações entre
o número de golpes e a penetração para cada 15 cm de penetração, conforme exemplos a seguir:
Segundo a NBR 6484 (2001), quando forem atingidas as condições descritas em (c) e após
a retirada da composição com o amostrador, deve-se em seguida executar o ensaio de avanço da
perfuração por circulação de água, já descrito anteriormente e transcrito parcialmente a seguir:
O ensaio deve ter duração de 30 min, devendo-se anotar os avanços do trépano obtidos em
cada período de 10 min.
A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio descrito, forem obtidos avanços
inferiores a 50 mm em cada período de 10 min, ou quando, após a realização de quatros ensaios
consecutivos não for alcançada a profundidade de execução do SPT.
A NBR 6484 (2001) recomenda também que caso ocorra a situação descrita em (c), antes da
profundidade estimada para atendimento do projeto, a sondagem deve ser deslocada, no mínimo
duas vezes para posições diametralmente opostas, a 2 m da sondagem inicial (Figura 5.15), ou
conforme orientação do cliente.
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Segundo a NBR 6484 (2001), o processo de perfuração por circulação de água, associado
aos ensaios penetrométricos, deve ser utilizado até onde se obtiver, nesses ensaios, uma das
seguintes condições:
Quando, em 3 m sucessivos, se obtiver 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais do
amostrador-padrão;
Quando, em 4 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais do
amostrador-padrão;
Quando, em 5 m sucessivos, se obtiver 50 golpes para a penetração dos 45 cm do
amostrador-padrão;
Conforme a NBR 6484 (2001), outra condição de paralisação da sondagem é aquela descrita
no subitem anterior e transcrita a seguir:
“A sondagem deve ser dada por encerrada quando, no ensaio de avanço da
perfuração por circulação de água, forem obtidos avanços inferiores a 50 mm em cada
período de 10 min ou quando, após a realização de quatros ensaios consecutivos não for
alcançada a profundidade de execução do SPT. Quando da ocorrência destes casos, deve
constar no relatório a designação de impenetrabilidade ao trépano de lavagem”.
Durante a perfuração com o auxílio do trado helicoidal, o operador deve estar atento a
qualquer aumento aparente da umidade do solo, indicativo da presença próxima do nível d’água.
Outro indício mais forte ocorre, por exemplo, quando o solo se encontrar molhado em determinado
trecho inferior do trado helicoidal, comprovando ter sido atravessado um nível de água.
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No caso de ocorrer artesianismo ou fuga de água no furo, devem ser anotadas no relatório
final as profundidades dessas ocorrências e do tubo de revestimento.
Após o término da sondagem, deve ser feito o máximo rebaixamento possível da coluna de
água interna do furo e a seguir observar a elevação do nível d’água no furo, efetuando-se leituras a
cada 5 min, durante no mínimo por 15 min.
Segundo a NBR 6484 (2001), quando a cravação atingir 45 cm, o índice de resistência à
penetração, N, é expresso como a soma do número de golpes requeridos para a segunda e a terceira
etapas de penetração de 15 cm, adotando-se os números obtidos nestas etapas mesmo quando a
penetração não tiver sido de exatos 15 cm.
Exemplo:
Quando as penetrações não possuem valores exatos de 15 cm, é comum também a adoção
de um método expedito para cálculo de N, que no caso de cravações normais (onde existem as três
parcelas e estas são aproximadamente iguais a 15 cm), pode ser apresentado como segue:
Exemplo:
3/17 – 4/14 – 5/15 ⇒ N = 30.(4 + 5)/(14 + 15) ⇒ N = 9,3
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O número N obtido a partir do ensaio SPT é um parâmetro importante do solo para diversas
aplicações em geotecnia, principalmente na área de fundações, onde o mesmo auxilia na definição
de diversos aspectos, dentre os quais citam-se: escolha do tipo de fundação, definição da
profundidade de apoio e estimativa de diversos parâmetros dos solos, a partir dos quais obtém-se a
capacidade de carga do solo para o tipo de fundação adotada.
Para fins de aplicação em projetos de fundações, a NBR 6484 (2001) apresenta a Tabela 5.2
onde classifica os estados de compacidade de solos arenosos e os estados de consistência de solos
argilosos com base nos valores do número N. obtidos
Tabela 5.2 – Estados de compacidade e de consistência em função do número N (NBR 6484, 2001)
Índice de resistência à
Solo Designação
penetração (N)
4 Fofa (o)
5a8 Pouco compacta (o)
Areias e siltes
arenosos 9 a 18 Medianamente compacta (o)
19 a 40 Compacta (o)
> 40 Muito compacta (o)
2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
argilosos 6 a 10 Média (o)
11 a 19 Rija (o)
> 19 Dura (o)
Quanto à tabela anterior, a NBR 6484 (2001) alerta que as expressões empregadas para a
classificação da compacidade das areias (fofa, compacta, etc.), referem-se à deformabilidade e
resistência destes solos, sob o ponto de vista de fundações, e não devem ser confundidas com as
mesmas denominações empregadas para a designação da compacidade relativa das areias ou para
a situação perante o índice de vazios crítico, definidos na Mecânica dos Solos.
Nas próximas figuras são apresentados alguns perfis individuais de sondagens de simples
reconhecimento com SPT, com o objetivo de ilustrar as diferentes formas adotadas pelas empresas
executoras desse tipo de serviço para a apresentação de seus resultados.
27
Figura 5.20 – Perfil individual de sondagem com apresentação das 3 parcelas do ensaio penetrométrico
Os perfis individuais de furos de sondagem, pertencentes a uma mesma área, podem ser
utilizados para o traçado do perfil longitudinal do subsolo, conforme ilustrado nas figuras a seguir, o
qual auxilia em muito nos projetos de engenharia.
O torque, medido com o auxílio de um torquímetro (Figura 5.23), é aplicado na parte superior
da composição de hastes visando rotacionar o amostrador previamente cravado.
b) Com o torquímetro aferido e de porte compatível com a magnitude do torque a ser medido,
acopla-se o mesmo ao adaptador de torque e procede-se à rotação da composição de
hastes, na extremidade inferior da qual se encontra o amostrador cravado no solo.
d) Após a obtenção de Tmáx, continua-se com a rotação do amostrador por mais duas voltas
completas, quando então obtém-se o torque mínimo (Tmin) ou residual (Tres).
Os resultados das medidas de torque podem ser apresentados diretamente no perfil individual
de sondagem, ou na forma de atrito lateral-adesão (Ft), estimado a partir de uma das equações a
seguir propostas por Ranzine (1994), onde h é o valor da penetração do amostrador no solo.
1000.Tmáx
ft (ft kPa, Tmáx kN.m, h cm)
40,537.h 3,171
Além disso, diversos autores sugerem que os valores de Tmáx, sejam corrigidos para a
penetração de 45 cm, e que sejam apresentados também os valores da relação Tmáx/NSPT, conforme
ilustrado no boletim de sondagem apresentado na Figura 5.26.
34
Fundações rasas
ou superficiais
(Tipo sapata)
Fundações profundas (Estacas e Tubulões)
Figura 5.27 – Exemplos típicos de fundações rasas e profundas
Parâmetros
= peso específico
c = coesão efetiva
= ângulo de atrito
interno
Figura 5.28 – Tipos de obras onde alguns parâmetros do solo podem ser obtidos a partir do N
Segundo Alonso (1983), quando não se dispõe de dados de ensaios de laboratório referentes
à resistência ao cisalhamento dos solos, os parâmetros coesão (c) e ângulo de atrito interno (),
podem, em primeira aproximação, ser estimados por meio das tabelas a seguir.
36
Tabela 5.3 – Valores de coesão de argilas com base no número N do ensaio SPT (Fonte: Alonso, 1983)
Tabela 5.4 – Ângulo de atrito interno de areias com base nos valores do número N do SPT (Alonso, 1983)
As tabelas e correlações apresentadas a seguir são sugeridas por Cintra e Aoki (2010) para
a estimativa de diversos parâmetros geotécnicos dos solos, a partir do número N do ensaio SPT,
quando não se dispõe de ensaios de laboratório.
a) Peso específico
Joppert Jr. (2007) apresenta as tabelas a seguir, a partir das quais pode-se estimar os valores
médios do coeficiente de Poisson e de pesos específicos de diversos tipos de solos, com base no
número N do ensaio SPT.
Tabela 5.8 – Módulo de elasticidade E (tf/m2) e valores médios de pesos específicos de diversos tipos de
solos com base no número N do SPT, (tf/m3)
(Adaptado de Joppert Jr., 2007)
Quando uma sondagem alcança uma camada de rocha ou quando no curso de uma
perfuração as ferramentas das sondagens à percussão encontram solo de alta resistência, blocos ou
matacões de natureza rochosa é necessário recorrer às sondagens rotativas.
(a) Barrilete simples (b) Barrilete duplo rígido (c) Barrilete duplo giratório
Figura 6.2 – Barriletes usuais em sondagem rotativa
Conforme ilustrado na Figura 6.2 (a), o barrilete simples consiste apenas de um tubo oco
no qual, durante a perfuração, existe circulação de água entre o testemunho e a parede do
barrilete podendo com isso resultar em lavagem e erosão do mesmo. Além disso, o testemunho,
41
por estar em contato com as paredes do barrilete em rotação, estará sujeito a desgaste por atrito,
fato esse que contribui para uma baixa recuperação de amostras em rochas alteradas ou friáveis.
Portanto, este tipo de barrilete só deve ser empregado em rocha sã ou quando não existe
preocupação em alta recuperação de amostras.
Como no barrilete duplo rígido consegue-se melhor recuperação que o barrilete simples,
ele é indicado para formações geológicas médias e duras, desde que pouco fraturadas.
O barrilete duplo giratório diferencia-se do anterior pelo fato do tubo interno não ser
solidário com o tubo externo, sendo o contato entre os dois feito por um sistema de rolamento
de esferas na cabeça do barrilete. Como a água de circulação também passa no espaço anular
entre os dois tubos, e o tubo interno não gira conjuntamente com o tubo externo, este tipo de
barrilete permite a obtenção de alta recuperação de testemunhos e de amostras representativas,
mesmo em rochas bastante alteradas.
6.3 Coroas
promoverão o corte da rocha (Figura 6.7). O tipo de coroa a ser utilizado, bem como sua dureza,
pode variar dependendo da resistência e do grau de faturamento da rocha a ser perfurada.
a) Instalação da sonda: deve ser sobre uma plataforma devidamente ancorada a fim de se
manter constante a pressão sobre a ferramenta de corte.
b) Processo de perfuração: realização de manobras consecutivas, onde a sonda imprime às
hastes movimentos rotativos e de avanço na direção do furo que são transferidos ao
barrilete provido de coroa.
As caixas para a colocação dos testemunhos podem ser de madeira, plástico, ou outro
material qualquer e devem ser construídas com dimensão compatíveis com o diâmetro dos
testemunhos a serem alojados nas mesmas.
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Os resultados obtidos a partir de uma sondagem rotativa podem ser resumidos nos seguintes:
a) Classificação litológica - tipo de rocha, textura, mineralogia, cor, etc.
e) RQD (Rock Quality Designation) - é a soma dos fragmentos maiores ou iguais a 10cm,
separados por fraturas naturais, em relação ao comprimento total da manobra, conforme
exemplos a seguir:
Entende-se por sondagem mista aquela que é executada à percussão em todos os tipos de
terrenos penetráveis por esse processo, e executada por meio de sonda rotativa nos materiais
impenetráveis à percussão.
Os dois métodos são alternados, de acordo com a natureza das camadas, até ser atingido o
limite da sondagem necessário ao estudo em questão.
O conhecimento prévio das condições geológicas do local poderá recomendar desde o início
a previsão de um equipamento de sondagem mista.
A Figura 7.1 ilustra uma coluna de perfuração de sondagem mista em um local com diversos
obstáculos.
Figura 7.1 - Coluna de perfuração de sondagem mista em um local com diversos obstáculos
A Figura 7.2 mostra um exemplo de um boletim de sondagem mista, onde podem ser vistos
claramente o trecho no qual foi executada a sondagem de simples reconhecimento como SPT e o
trecho onde foi executada a sondagem rotativa.
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Como recomendação, a NBR 8036/1983 especifica o número mínimo de furos de acordo com
a projeção da edificação, conforme mostrado na Tabela 8.1.
Nos casos em que não houver ainda disposição em planta dos edifícios, como nos estudos
de viabilidade ou de escolha de local, o número de sondagens deve ser fixado de forma que a
distância máxima entre elas seja de 100m, com um mínimo de três sondagens.
b) quando o número de sondagens for superior a três, elas não devem ser distribuídas ao longo
de um mesmo alinhamento.
Figura 8.2 – Exemplo de situação onde pode ocorrer erro de avaliação da inclinação das camadas
no caso dos furos de sondagem terem sido alinhados
Figura 8.3 – Interpretação das sondagens no mesmo local, porém com os furos não alinhados
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A Figura 8.4 apresenta uma disposição recomendada para os furos de sondagem com base
nas recomendações da NBR 8036/83.
A exploração deve ser levada a profundidades tais que incluam todas as camadas impróprias
ou que sejam questionáveis como apoio de fundações, de tal forma que não venham a prejudicar a
estabilidade e o comportamento estrutural ou funcional do edifício. Para isso adota-se como critério
aquela profundidade onde o acréscimo de pressão no solo, devido às cargas estruturais aplicadas,
for menor do que 10% da pressão geostática efetiva.
Portanto, após a definição das dimensões geométricas dos elementos de fundações, deve-
se fazer uma avaliação das camadas de solos que servirão de apoio para os mesmos, procurando
averiguar se não serão solicitadas camadas de baixa resistência.
Conforme ilustrado na Figura 8.6, observa-se que na situação da Figura 8.6(a), apesar de
existir uma camada de baixa resistência abaixo da cota de apoio da sapata, a mesma não é solicitada
pela fundação. Diferente do que se verifica na Figura 8.6(b), onde o bulbo de tensões da fundação
atinge a camada de solo mole. Nesse caso, pode haver ruptura da camada de apoio, além dos
recalques por adensamento da argila mole serem consideráveis, inviabilizando a adoção de
fundações superficiais
Bulbo de
tensões Camada
Bulbo de
Camada tensões resistente
resistente
Argila mole
Argila mole
Figura 8.6 – Solicitação das camadas do subsolo por uma fundação superficial
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REFERÊNCIAS
______. NBR 9820: Coleta de amostras indeformadas de solo de baixa consistência em furos de
sondagem. Rio de Janeiro, 1997.
CINTRA, J. C.; AOKI, N. Fundações por estacas: projeto geotécnico. São Paulo: Oficina de
Textos, 2010.
CINTRA, J. C.; AOKI, N.; ALBIERO, J. H. Fundações diretas: projeto geotécnico. São Paulo:
Oficina de Textos, 2011.
RANZINE, S. M. T. SPTF: Parte II. Solos e Rochas. São Paulo: ABMS, 1994.
SOUZA PINTO, C. Curso básico de mecânica dos solos. 3a edição. São Paulo: Oficina de Textos,
2006.