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UFRJ – FACULDADE NACIONAL DE DIREITO

Notas de Direito Comercial I


Perfil Subjetivo e Objetivo da Empresa – Direito Societário

Angelo Marsili de Menezes


2019. 1
Prof. Alexandre Assumpção
Sumário

PRIMEIRA PROVA: PERFIL OBJETIVO E SUBJETIVO DA EMPRESA .......................................................... 3


AULA 1 ....................................................................................................................................... 4
Introdução ao Estudo do Direito Comercial............................................................ 4
AULA 2 ..................................................................................................................................... 12
Empresário ................................................................................................................. 13
AULA 3 ..................................................................................................................................... 19
Categorias Especiais de Empresa ............................................................................ 19
Colaboradores do Empresário ................................................................................. 29
AULA 4 ..................................................................................................................................... 32
Obrigações do Empresário ....................................................................................... 42
AULA 5 ..................................................................................................................................... 44
Registro Empresarial e as Juntas Comerciais ........................................................ 44
AULA 6 ..................................................................................................................................... 54
Perfil Objetivo da Empresa ...................................................................................... 57
AULA 7 ..................................................................................................................................... 62
Nome Empresarial..................................................................................................... 62
Propriedade Industrial ............................................................................................. 65
AULA 8 ..................................................................................................................................... 70
Atributos da Empresa ............................................................................................... 77
SEGUNDA PROVA: DIREITO SOCIETÁRIO ............................................................................................ 81
AULA 9 ..................................................................................................................................... 82
Sociedades Empresárias ........................................................................................... 82
Classificação das Sociedades ................................................................................... 87
AULA 10 ................................................................................................................................... 88
Sociedades em Espécies ............................................................................................ 89
Sociedade em Comum .............................................................................................. 90
Sociedade em Conta de Participação ...................................................................... 92
AULA 11 ................................................................................................................................... 96
Sociedades Personificadas ........................................................................................ 96
Sociedade Simples ..................................................................................................... 96
AULA 12 ................................................................................................................................. 103
AULA 13 ................................................................................................................................. 109
Sociedade em Nome Coletivo................................................................................ 114
AULA 14 ................................................................................................................................. 115
Sociedade em Comandita Simples ........................................................................ 116
Sociedade em Comandita por Ações .................................................................... 119
Sociedade Limitada ................................................................................................. 121
AULA 15 ................................................................................................................................. 124
AULA 16 ................................................................................................................................. 133
AULA 17 ................................................................................................................................. 144
EIRELI ....................................................................................................................... 145
Sociedade Cooperativa ........................................................................................... 149
AULA 18 ................................................................................................................................. 158
Dissolução das Sociedades ..................................................................................... 158
SISTEMATIZAÇÕES ............................................................................................................................. 168
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PRIMEIRA PROVA

PERFIL SUBJETIVO E OBJETIVO DA EMPRESA


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AULA 1

Introdução ao Estudo do Direito Comercial

1. Discussão sobre a distinção “Direito Comercial” e “Direito Empresarial”. Existe


grande discussão a respeito da denominação da disciplina, se deveria ser chamada
Direito Empresarial ou Comercial. Esse embate surge, primariamente, em razão da
denominação histórica da área como Direito Comercial e, em sentido contrário, a atual
regulação da disciplina, no Código Civil de 2002, pela Teoria da Empresa.
a. Empresa. A partir da adoção da Teoria da Empresa no Código Civil de 2002, a
disciplina tem em seu âmago a figura da empresa, isto é, atividade econômica
organizada. O Direito Comercial regula, então, as relações negociais, bem
como todas as suas manifestações e também a figura que exerce a atividade
empresarial, isto é, o empresário. A Empresa é, portanto, atualmente, o
fundamento axiológico do Direito Comercial atualmente.
i. Modelo capitalista. Naturalmente, a disciplina possui, então, grande
influência do modelo capitalista, embora com responsabilidade social.
Nesse sentido, a livre-iniciativa não defende apenas um valor
individual, pois aquele que a exerce tem de respeitar os princípios da ordem
econômica.
b. Divisão do Direito Comercial. A disciplina pode ser abordada, primariamente,
por três âmbitos (Marlon Tomazette):
i. Teoria Geral e Direito Societário;
ii. Falência e Recuperação de Empresa;
iii. Títulos de Crédito.
c. Denominação de Direito Comercial. Apesar de a empresa ser o instituto mais
importante do Direito Comercial e, ainda, o Código Civil chamar o seu Livro II
de Direito de Empresa, ainda se utiliza a expressão Direito Comercial por força
de consagração feita na Constituição de 1988, atentando a momento anterior ao
Código Civil de 2002.
i. Código Próprio. Antes do Código Civil de 2002, o Direito Comercial
possuía um código próprio, que foi quase completamente revogado pelo
sucessor do Código Civil de 1916.
d. Objeto do Direito Comercial. Independentemente da nomenclatura utilizada,
essa disciplina trata da Empresa e suas manifestações, seus institutos
primordiais. Hoje, pode-se definir que é o complexo que relações jurídicas com a
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Empresa em seu centro. No Direito Comercial, o estudo é feito, sobretudo, a partir


do prisma infraconstitucional.
2. Evolução da disciplina do Direito Comercial. A sucessão do Direito Comercial
ocorre, essencialmente, em três momentos históricos principais, sendo a fase subjetiva,
fase objetiva e a Teoria da Empresa.
a. Antiguidade e a relação entre Direito Comercial e comércio. Apesar de
repetido pelo senso comum, o Direito Comercial não é contemporâneo ao comércio.
Sabidamente, na Antiguidade, já existia um grande número de relações
comerciais. No entanto, o comércio da Antiguidade não foi capaz de criar um direito
próprio, um conjunto de normas jurídicas articuladas. Tinha-se, na Antiguidade,
normas jurídicas específicas para determinadas atividades e determinados atos.
Eram regidas, então, matérias específicas, como, por exemplo, o direito das
navegações. Essas normas não foram suficientes para criar um Direito
Comercial propriamente dito. Portanto, a Antiguidade não entra no ciclo histórico
de desenvolvimento do direito comercial.
b. Surgimento do Direito Comercial. A primeira etapa do Direito Comercial como
direito próprio surge, na realidade, na Idade Média, no momento de “paz da
Idade Média”, próximo ao seu final. A Alta Idade Média, portanto, não é
computada para fins de desenvolvimento histórico da disciplina, apenas a
Baixa Idade Média.
i. Renascimento urbano e ocupação do Direito Canônico. O Direito
Comercial surge especificamente no momento renascimento urbano,
quando, na Europa, as pessoas começaram a se sentir seguras em vilas,
burgos e cidades. No momento do florescimento das cidades e do
comércio, começa a surgir o problema do desaparecimento do Direito
Romano e suas fontes. Diante disso, o Direito Canônico ocupa a lacuna
deixada ao mesmo tempo em que os povos bárbaros passam a invadir a
Europa. Os reis passam, então, a se submeter às leis do papa.
Consequentemente, na ausência de um Direito nacional, os Códigos
canônicos começam a se disseminar. O Direito que se tinha naquela
época não era, portanto, o direito consuetudinário.
1. Rejeição do Direito Canônico ao comércio. O Direito Canônico,
com a ideia de que jamais se pode enriquecer, de rejeição ao
“entesouramento”, faz com que não se tivesse um direito
adaptado, próprio para os comerciantes. Quando esses
comerciantes se sentem estimulados a ir às cidades com o fim das
invasões bárbaras, começa a florescer o comércio e as cidades passam a
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ser centro de trocas. Então, esses comerciantes verificam que


precisam se reunir para manter suas atividades, posto que:
a. O Direito Romano não tinha uma legislação comercial;
b. O Direito Canônico, bem como o Direito da Terra – o mais
próximo que se chegava a um Direito Comercial –, não os
satisfazia.:
ii. Necessidade de um Direito Comercial. Surge, então a necessidade de se
ter, principalmente para as relações entre os comerciantes, normas que
regulassem as trocas e fossem aptos a estimular o desenvolvimento da
atividade comercial.
3. Fases de desenvolvimento histórico do Direito Comercial. São elas a fase subjetiva,
objetiva e a Teoria da Empresa.
a. Fase subjetiva. Define o surgimento do Direito Comercial como o direito do
comerciante. Nesse momento, as normas surgem pelo costume, com foco na
pessoa do comerciante, como ocorria, a título de comparação, com o direito
militar. A disciplina surge, portanto, como um direito corporativo.
i. Caráter protetivo. Essas normas precisavam, sobretudo, proteger o
comerciante, favorecê-lo.
1. Especialização. A especialização era tamanha, para efeitos de
proteção, que foram criados tribunais de comércio, juízes comerciais,
registros comerciais, etc. Nesse sentido, o comerciante tinha uma
regulação paralela.
ii. Importância da matrícula. Não era qualquer pessoa que era
comerciante, mas aquele que era matriculado. Só se submetia ao Direito
Comercial quem estava matriculado em uma corporação. A matrícula é,
portanto, requisito fundamental para a denominação de “comerciante”.
iii. Crise da fase subjetiva. Esse sistema protetivo, ligado à adesão à
corporação, entra em crise com a Revolução Francesa, pois ela propõe o
fim dos privilégios, fim dos estamentos. Certamente, um tribunal próprio
e uma legislação paralela não se coadunaria com esses objetivos. A Lei
Le Chapelier de 1971, assim, procurou abolir os privilégios das
corporações, que tinham vantagens em termos de jurisdição.
1. Napoleão e a Era das Codificações. Ao final do século XIX, com
a entrada de Napoleão, há a formação dos Códigos, na Era das
Codificações. O Código Comercial Francês, na linha da
eliminação dos privilégios, promove uma quebra do sistema
subjetivo. Ele passa a caracterizar, de forma diametralmente
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oposta, o direito comercial como o direito dos atos de comércio,


não mais do comerciante. Portanto, passa a ter seu âmbito
delimitado pela atividade comercial. A definição do que é
matéria comercial – atos de comércio –, é determinada pelo
Estado por meio de leis, desmantelando qualquer possibilidade
de as corporações definirem a enumeração do que seja ou não ato
de comércio. Nessa linha, invertendo completamente a lógica
anterior, aquele que pratica um ato de comercial passa a estar sujeito às
leis do comércio. O Código Francês inaugura, assim, o sistema
objetivo, que tem como fundamento os atos de comércio, não mais
os comerciantes.
b. Fase objetiva. Marcada pelo deslocamento centro do Direito Comercial do
comerciante para os atos de comércio.
i. Definição de comerciante do Código Comercial Francês de 1807.
Conforme o art. 1º, Código Comercial Francês de 1807, “[S]ÃO
NEGOCIANTES TODOS AQUELES QUE FAZEM NEGÓCIO, E DISSO SUA
PROFISSÃO”. O Código Comercial Francês de 1807, nessa linha, passa a
definir como comerciantes também aqueles não-comerciantes –
certamente, no prisma da fase subjetiva – quando praticarem atos de
comércio. NÃO HÁ, PORTANTO, MAIS REGISTRO PARA COMERCIANTES. Se for
praticado, profissionalmente, atos de comércio, o sujeito passa a ser
comerciante, independentemente de registro em qualquer corporação. O
conceito de comerciante gira, portanto, em torno do ato comercial, não
da pessoa, bastando que ele o pratique de maneira habitual. Essa definição
passa a ser o expoente na nova fase que se inaugura.
4. Promulgação do Código Comercial Brasileiro de 1850. O Código Comercial Brasileiro
é promulgado durante a fase objetiva do Direito Comercial, por meio da Lei 556/1850.
NO ENTANTO, ELE ADOTA A ORIENTAÇÃO DO SISTEMA SUBJETIVO, POR MAIS ATRASADO E
CRITICADO QUE FOSSE.
a. Influências. O Código Comercial Brasileiro teve influência de três Códigos:
i. Código Comercial Francês de 1807. Existe quase reprodução do Código
Francês no que se refere ao Direito Marítimo, chegando a se mencionar
o termo “piratas”;
ii. Código Comercial Espanhol de 1829. Adotava a definição de
comerciante da fase subjetiva do Direito Comercial;
iii. Código Comercial Português de 1833. Denominado Código Ferreira
Borges, promulgado por Dom Pedro I.
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b. Vinculação sistemática. No tocante à vinculação ao sistema, o nosso Código


não segue o modelo francês, mas o modelo espanhol. Conforme o revogado
art. 4º, do Código Comercial de 1850, que traz o conceito de comerciante,
“[N]INGUÉM É REPUTADO COMERCIANTE PARA EFEITO DE GOZAR DA PROTEÇÃO QUE
ESTE CÓDIGO LIBERALIZA EM FAVOR DO COMÉRCIO, SEM QUE SE TENHA
MATRICULADO EM ALGUM DOS TRIBUNAIS DO COMÉRCIO DO IMPÉRIO, E FAÇA DA
MERCANCIA PROFISSÃO HABITUAL (ARTIGO Nº 9)”. Esse conceito vigorou até 2003,
do momento quando foi substituído pelo conceito de empresário no Código
Civil de 2002. Ele durou, então, mais de 150 anos.
i. Mistura dos sistemas objetivo e subjetivo. Nota-se, portanto, que o
conceito é uma mistura entre as fases. Apesar disso, sua origem está, de
forma mais marcante, no Código Espanhol de 1829, que não seguiu o
modelo francês. Quando se verifica que o conceito do comerciante goza
de proteção e decorre da matrícula, ele é associado à fase subjetiva. No
entanto, quando põe como requisito “FAZER DA MERCANCIA PROFISSÃO
HABITUAL”, remete-se, naturalmente, ao sistema objetivo. Apesar disso,
o Código não adota o modelo francês de todo, pois fala-se de proteção e
matrícula.
ii. Outros institutos. Outros institutos de suma importância no Direito
Comercial também acabaram por incorporar o aspecto subjetivo.
Quanto à sociedade comercial, conforme o revogado art. 315, do Código
Comercial de 1850, “[E]XISTE SOCIEDADE EM NOME COLETIVO OU COM
FIRMA, QUANDO DUAS OU MAIS PESSOAS, AINDA QUE ALGUMAS NÃO SEJAM
COMERCIANTES, SE UNEM PARA COMERCIAR EM COMUM, DEBAIXO DE UMA
FIRMA SOCIAL”. Naturalmente, exige-se, então, pelo menos um
comerciante pela análise do texto grifado. Ainda, quanto aos contratos
comerciais, segue-se a mesma linha de necessidade de presença de pelo
menos um comerciante matriculado.
c. Críticas. Houve um movimento muito grande de clamor por não promoção do
Código por ser retrógado em sua vinculação ao modelo espanhol. Por conta
disso, uma vez que o Código já havia sido promulgado, tentou-se uma
inclinação ao sistema objetivo por meio da regulamentação do Código. O
conflito foi decidido, assim, por meio da regulamentação presente nos Decretos
737 de 1850 (Tribunais de Comércio) e 738 de 1850 (Processo de Falência).
d. Enumeração de atos de comércio nos Decretos 737. Nessa linha, a pretexto de
se regular o que é mercancia, o Decreto 737, em seus arts. 19 e 20, diante disso,
enumeraram atos de comércio, baseando-se no Código Francês. Passou-se a
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adotar, então, o sistema francês com o Decreto 737. Existia, então, um código
subjetivista com orientação objetivista.
Art. 19. Considera-se mercancia:

§ 1º A compra e venda ou troca de effeitos moveis, ou semoventes para os vender por grosso ou a retalho, na
mesma especie ou manufacturados, ou para alugar o seu uso;

§ 2º As operações de cambio, banco, e corretagem;

§ 3º As emprezas de fabricas; de commissões; de depositos; de expedição, consignação, e transporte de


mercadorias; de espectaculos publicos;

§ 4º Os seguros, fretamentos, risco, e quaesquer contractos relativos ao commercio maritimo;

§ 5º A armação e expedição de navios.

e. Pontos positivos e negativos e surgimento da Teoria da Empresa. Surge um


problema nessa mistura. O sistema dos atos de comércio tem um ponto positivo
em razão da segurança jurídica que proporciona. No entanto, tem um aspecto
negativo, pois a atividade comercial é dinâmica, tendo de haver atualização da
lista dos atos a todo momento. A crítica é de que o sistema objetivo não
acompanharia a atividade comercial, trazendo problemas de interpretação e
lacuna. Era, assim, necessário recorrer a analogias todo tempo. Não foi, então,
um sistema vitorioso, pois, apesar da segurança, sempre surgiam os atos
mistos, em que havia dúvida.
5. Código Civil de 2002 e a Teoria da Empresa. O Código Civil de 2002 marca a terceira
etapa do desenvolvimento histórico do Direito Comercial, definindo o início da
adoção da Teoria da Empresa. Procurou-se, conforme as críticas feitas, procurar um
conceito geral de mercancia e comerciante que acompanhasse a dinamicidade da
atividade comercial, utilizando, como exemplo do Código Civil Italiano de 1942. O
Código Civil de 2002, com efeito, abole a enumeração dos atos de comércio, pois era
impossível ao legislador estar em dia com a evolução da mercancia. A ideia, portanto,
era estabelecer um conceito geral que permitisse a absorção das novas atividades
econômicas. Há muita vantagem nessa linha pois some a necessidade de ficar
alterando legislação. Porém, sem a lista, é possível, ainda, que surjam diversas
dúvidas. A Teoria da Empresa é, portanto, um sistema genérico, não dando indicação
exata do que seja empresa, discussão que é levada à jurisprudência e à doutrina.
a. Empresa. Agora, o Direito Comercial não é mais o direito do comerciante, nem
o direito dos atos comerciais, mas o direito da empresa, isto é, da atividade
econômica organizada. O elemento de atividade econômica, naturalmente, põe
como requisito à empresa a lucratividade, apesar de poder existir prejuízos
eventuais. Como tem de ser organizada, estão excluídas também as atividades
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de subsistência. Empresa, então é atividade econômica e organizada para a


produção de bens ou circulação de bens ou de serviços. Incutindo a produção
no conceito de empresa, abrange-se a agricultura, bem como a presença de
“circulação” de bens abrange os serviços de transporte.
b. Teoria da Empresa. Vem articulada no art. 966. Código Civil de 2002, não por
meio da conceituação de “Empresa”, mas preferindo conceituar a pessoa do
empresário. Em suas linhas, “[C]ONSIDERA-SE EMPRESÁRIO QUEM EXERCE
PROFISSIONALMENTE ATIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA PARA A PRODUÇÃO OU
A CIRCULAÇÃO DE BENS OU DE SERVIÇOS”. Assim, da mesma forma que o Código
de 1850, a legislação opta por definir o comerciante, não a mercancia. A noção
de empresa, nas diretrizes do conceito, está fundada em um critério econômico
e organizacional, não em determinados atos enumerados.
i. Ausência de menção ao registro. O Código Civil de 2002 não
caracterizou empresário a partir de seu registro. Apesar disso, é mantida
a exigência de um registro, mas isso não é elemento de caracterização
substancial de um empresário. O registro é, portanto, elemento
declaratório, nos termos da Lei 8.934/94. O Empresário, aqui, é pessoa
física. Pessoa jurídica, por outro lado é a sociedade.
6. Fontes do Direito Comercial. As fontes do direito comercial não estão positivadas
atualmente. Porém, anteriormente, o Código Comercial de 1850, na parte final, se
referia à legislação e ao usus como fontes do Direito Comercial. Essas duas fontes são,
portanto, históricas. Em momento anterior do Direito Comercial, nesse sentido, extraía-
se, do Código, as principais fontes do direito comercial. No entanto, isso mudou,
propondo a doutrina uma sistematização das fontes, principalmente depois do
Código de 2002. São elas:
a. Fontes imediatas ou principais. Composta por:
i. Legislação comercial. O conceito de legislação comercial abrange o
Livro do Direito de Empresa do Código Civil de 2002 e. ainda, as leis
comerciais extravagantes.
1. Não é porque uma lei está no Código Civil que a matéria é civil.
Se o Direito Empresarial tem como fonte a empresa, conclui-se
que toda norma direcionada a esse instituto integra o escopo do
direito comercial. O fato de haver um livro Direito de Empresa,
mesmo não inserido no Código Comercial, significa que é matéria
de direito comercial, não civil.
2. Divisão do Código Comercial e vigência. O Código Comercial
de 1850 foi concebido em três partes. A Parte Terceira, "Quebras”,
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foi revogada em 1890. Desde 1890, assim, é matéria de lei especial,


da Lei de Falências mais especificamente, que é fonte principal de
direito comercial. A Parte Primeira, "Do Comércio em Geral”
revogada expressamente pelo art. 2.045, CC/02, sendo substituído
pelo Direito de Empresa. A Parte Segunda, “Do Comércio
Marítimo”, por fim ainda está em vigor. Está muito desatualizada,
mas seus institutos ainda estão vigorando. Portanto, o Código
Comercial não desapareceu completamente.
ii. Fontes secundárias ou mediatas. Essas fontes subsidiárias contêm uma
hierarquia entre elas, disposta, agora de forma decrescente. São fontes
mediatas:
1. Lei Civil, notadamente fora do Direito de Empresa.
2. Uso e práticas comerciais. Eles não têm força de lei, portanto, não
podem estar acima da lei civil. Não existe mais, como no Código
Comercial de 1850, dispositivo que afirma que o uso deve se
sobrepor à lei civil. Portanto, o uso e as práticas comerciais podem ser
aplicados na ausência de lei civil para regular a matéria, e
evidentemente, na ausência de lei comercial.
a. Exceções. Em algumas matérias muito específicas,
excepcionalmente, o Código Civil de 2002 manda aplicar o
usus não recorrendo à Lei Civil, como, por exemplo:
i. Remuneração do corretor, nos termos do art. 724,
CC;
ii. Contrato de comissão, nos termos do art. 701, CC.
3. Jurisprudência. Aqui, começam as ditas fontes residuais. A
jurisprudência é interessante quando da interpretação da lei ou
legitimação do usus, averiguando se é contra legem;
4. Analogia;
5. Princípios gerais do Direito.
a. Analogia e princípios gerais entram como fontes do
Direito Comercial com base na LINDB. Mas, não se pode
esquecer que o uso tem importância no Direito Comercial,
não ficando atrás da analogia e dos Princípios Gerais,
posto que é um direito eminentemente prático, da
atividade comercial. Tem de se recorrer, inclusive, antes à
jurisprudência que a essas duas últimas fontes.
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7. Autonomia do Direito Comercial. Quanto à autonomia do Direito Comercial, é


importante frisar que ela não desapareceu com o Código Civil de 2002. Apesar dos
principais institutos estarem no Código Civil, isso não significa que é matéria
exclusiva do Direito Civil. Essa é, naturalmente, uma premissa que enfraquece o
Direito Comercial. São aspectos da autonomia do Direito Comercial:
a. Autonomia legislativa. Decorre do art. 22, CF. Tratando da competência
legislativa da União, é estabelecido que é competência legislativa da União
legislar sobre Direito Civil e Direito Comercial. A matéria de Direito Comercial
está ao lado de Direito Civil, separadamente. Ainda hoje, existem leis
comerciais e leis civis.
b. Formal. O Código Comercial, até 2003, tratava dos principais institutos. Nesse
sentido, os principais institutos do Direito Comercial foram transplantados
para o Código Civil. Apesar disso, não houve unificação de todos os institutos,
à exceção do Direito das Obrigações. Ainda, o Código Civil não incorporou
todos os institutos do Direito Comercial, como, por exemplo, a Lei de Falência.
i. O Código Comercial ainda vive na parte do comércio marítimo.
ii. O escopo da legislação é definido pela matéria, não em razão de sua
localização em um código ou outro.
c. Didática. O ensino da disciplina é lecionado de forma separada ao Direito Civil
obrigatoriamente. Nenhuma faculdade pode lecionar essas duas matérias
conjuntamente
d. Substancial. Diz respeito aos princípios definidores do direito comercial, que
perfazem os traços substanciais dessa disciplina, como, por exemplo:
i. Solidariedade. Tem muito mais importância que no Direito Civil, como
em matéria de título de créditos;
ii. Força do fato econômico. Expresso pelo fato de que uma série de normas
jurídicas de Direito Comercial têm de ser interpretadas à luz do fato
econômico. Há, portanto, uma articulação entre os fatos sociais e os fatos
econômicos. Precisa-se de uma ponderação na interpretação.
iii. Especulatividade dos atos;
iv. Caráter internacional. O Direito Civil é apenas territorial, enquanto o
Direito Comercial possui a característica de procurar unificar as práticas
internacionais, sendo mais propenso à unificação.

AULA 2
13

Empresário

1. Conceito. É a figura que, no Código Civil 2002, substituiu o comerciante. O Livro II da


Parte Especial do Código Civil começa caracterizando essa figura. Quanto ao conceito
de empresa, não há definição explícita, mas ela é depreendida do conceito de empresário
estruturado. O Código adota, portanto, o conceito subjetivo da empresa, de forma que
o conceito de empresa é derivado do conceito em empresário. O conceito objetivo de
empresa, não presente no Código Civil de 2002, por outro lado, refere-se ao próprio
estabelecimento.
a. Definição legal. Conforme o art. 966, CC, “[C]ONSIDERA-SE EMPRESÁRIO QUEM
EXERCE PROFISSIONALMENTE ATIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA PARA A
PRODUÇÃO OU A CIRCULAÇÃO DE BENS OU DE SERVIÇOS”. Essa é a noção de empresa
que o Código Civil traz a partir do conceito de empresário, à semelhança do
Código Civil Italiano de 1942.
b. Requisitos para o conceito de empresário. Conforme o dispositivo, estes três
elementos, a serem enumerados a seguir, têm de estar presentes para a
caracterização do empresário. Caso qualquer um deles esteja ausente, não se
concretiza o conceito de empresário. São eles:
i. Pessoa física ou natural. O empresário é pessoa física. No entanto, existe
também o empresário pessoa jurídica, denominada sociedade
empresária.
ii. Que exerce empresa. Isto é, “[A]TIVIDADE ECONÔMICA ORGANIZADA PARA
A PRODUÇÃO OU A CIRCULAÇÃO DE BENS OU DE SERVIÇOS”. Atividades não
econômicas – simples, que não visam ao lucro – e de subsistência não
estão, portanto, abrangidas no conceito, ou seja, aquelas atividades que
não têm organização dos fatores de produção;
iii. De modo habitual. O empresário não exercer atividade comercial de
modo esporádico.
2. Capacidade. A capacidade é um requisito ao empresário entendido no âmbito da
pessoa física. Nessa linha, existem duas exigências, no art. 972, CC, quanto à
capacidade:
a. Pleno gozo da capacidade civil. O pleno gozo da capacidade civil é adquirido
aos 18 anos de idade ou por emancipação. Não existe, nesse sentido, uma
capacidade empresarial própria do Direito Comercial, mas derivada do Direito
Civil.
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b. Ausência de impedimentos legais. Ainda, o empresário não pode ter


impedimentos legais. Com efeito, a lei proíbe certas pessoas de exercerem a
atividade de empresário, estando sistematizadas na legislação. Não havendo
restrição expressa, é livre o exercício da atividade empresário, nos termos dos arts. 5º,
II, CF, e 170, parágrafo único, CF. As pessoas físicas, de forma alguma, são incapazes,
apenas não podem exercer a atividade empresária em virtude de proibição em lei. São
alguns exemplos de impedimento legal:
i. Empresário falido. Qualquer empresário de falência decretada paralisa
sua atividade, ficando impedindo de prosseguir. É o exemplo mais
importantes de impedimento legal;
ii. Servidores públicos, civis e militares, salvo se estiverem reformados –
no caso dos militares – ou aposentados – no caso dos civis –;
iii. Membros de carreiras jurídicas;
iv. Servidores da segurança pública;
v. Membros da magistratura, do Ministério Público, da Defensoria
Pública, da Advocacia Geral da União. Todas essas proibições estão
dispostas em seus respectivos estatutos, como, por exemplo, a LOMAN.
3. Atividades intelectual, artística, literária e científica. Nos termos do art. 966,
parágrafo único, CC, “[N]ÃO SE CONSIDERA EMPRESÁRIO QUEM EXERCE PROFISSÃO
INTELECTUAL, DE NATUREZA CIENTÍFICA, LITERÁRIA OU ARTÍSTICA, AINDA COM O CONCURSO
DE AUXILIARES OU COLABORADORES, SALVO SE O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO CONSTITUIR
ELEMENTO DE EMPRESA”. Importante destacar o final do artigo, que informa que, ainda
que haja colaboradores no exercício do ofício, os seus profissionais não são
caracterizados como empresários.
i. Exceção. No entanto, pode ser que o exercício da profissão congregue
certos elementos de empresa. Nesse caso, eles podem ser considerados
empresários. Porém apenas quando verdadeiramente montam uma
estrutura empresarial. Exemplo seria um médico que monta uma
empresa de raio-x.
1. Sociedade de advogados. A sociedade de advogados, mesmo
constituindo a estrutura empresarial, é de natureza simples, não
podendo seus sócios serem denominados empresários, por
decorrência de lei, conforme o Estatuto da OAB.
4. Registro. Sabidamente, a matrícula é elemento acidental na caracterização do
empresário, não seguindo a orientação do Código Comercial de 1850. Diante disso,
por definição, a inscrição tem natureza declaratória, não constitutiva. Na natureza
constitutiva, diferentemente do que ocorre no Código Civil de 2002, o registro integra
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o próprio conceito de empresário. Nos termos do Código Civil de 2002, o empresário


não inscrito na junta comercial é dito irregular, sendo denominado empresário de fato.
O empresário inscrito, por outro lado, é regular.
a. Registro Empresarial. Conforme o art. 967, CC, “[É] OBRIGATÓRIA A INSCRIÇÃO
DO EMPRESÁRIO NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS DA RESPECTIVA
SEDE, ANTES DO INÍCIO DE SUA ATIVIDADE”. Desde 2013, o termo Registro Público
de Empresas Mercantis - utilizado a partir de 1994 – foi simplificado, passando
a ser denominado Registro Empresarial. Mais antigamente ainda, antes de
1994, a expressão era Registro do Comércio.
i. Junta comercial. Cada Estado tem uma junta comercial responsável pelo
Registro Empresarial.
1. Sede e filiais. O empresário é obrigado a fornecer, à junta
comercial, o município onde terá sede a sua empresa, podendo ter
ainda, outras filiais, conforme o art. 969, CC.
a. Regularização de filial em outro Estado. Caso aberta a
filial em outro Estado, ele tem de regularizar a filial,
processo que pode ser feito apenas pelo empresário
regular, por meio da averbação da certidão.
i. Averbação da certidão. Primeiramente, há de ser
levada uma certidão da junta comercial da sede à
junta comercial do Estado onde será aberta a filial,
pedindo que a certidão seja averbada, que seja
aberta uma filial nesse outro Estado.
Posteriormente, deferido o pedido de registro da
filial nesse outro Estado, traz-se a inscrição para a
junta comercial do Estado da sede, centralizando
todo o processo. Os lugares onde há filial, portanto
ficam registrados na junta comercial da sede da
empresa.
b. Restrições ao empresário de fato. Com base nos arts. 967 e 968, CC, faz-se a
distinção entres empresário regular e irregular. O empresário de fato possui
diversas restrições, sendo algumas delas:
i. Impossibilidade de instituição de filial;
ii. Impossibilidade de evitar falência se utilizando do instituto da
recuperação de empresa.
1. Esses benefícios são, naturalmente, um estímulo à regularização
do empresário.
16

c. Conteúdo do Registro Empresarial. Os requisitos do Registro Empresarial são


dispostos no art. 968, CC. Além dos requisitos do Código Civil, que são
requisitos gerais, há também os requisitos complementares de normatização
do DREI.
i. Departamento de Registro Empresarial e Integração. Por ser
Departamento, é órgão da Administração Pública da União. As juntas
comerciais se subordinam ao DREI. Nessa linha, esse órgão normatiza,
através de um ato administrativo, o registro de empresário. Porém, todo
ato administrativo precisa de competência para ser exercido. Essa
competência do DREI decorre do art. 4º, Lei 8.934/94.
ii. Requisitos da Lei Civil no art. 968, CC. Primeiramente é importante
destacar que o requerimento destinado à junta comercial será dirigido
ao seu Presidente. Deferido o requerimento, o empresário terá um
número, que não é o CPF, sendo a comprovação de sua natureza de
empresário, denominado NIRE, nos termos do art. 968, § 1º, CC. Os
requisitos são:
1. “NOME, NACIONALIDADE, DOMICÍLIO, ESTADO CIVIL E, SE CASADO,
O REGIME DE BENS”.
a. Nome. É requisitado o nome civil, nos termos do art. 1.156,
CC. Pode ser, ainda, abreviado, mas o último nome não pode
ser abreviado. Não pode, de forma alguma, haver nome de
fantasia. Porém, pode acrescentar, ao seu nome, o apelido
que lhe seja conhecido, mas nunca substituir o seu nome. É a
chamada designação mais precisa de sua pessoa. Pode,
ainda, por fim, acrescentar a sua atividade empresarial.
b. Nacionalidade. O estrangeiro pode ser empresário, mas
apenas com visto de permanência no Brasil. Não pode ter
apenas, então, visto de estudo, nem diplomático, nem
provisório, mas de trabalho.
c. Domicílio. Domicílio no exterior não é impedimento.
2. Firma. É, precisamente, o nome escolhido, satisfeitos os critérios
citados acima. Ela será utilizada na atividade empresarial. Não
se utiliza o nome civil na atividade empresária. Essa firma tem
de ser registrada com a respectiva assinatura autógrafa - isto é,
assinatura de próprio punho. Pode-se utilizar, ainda, a certificação
digital. Atente-se ao fato de que a possibilidade de assinatura
digital foi introduzida em 2014.
17

3. Capital. Não há capital mínimo para exercer empresa, porém, ele tem
de ser informado. Não há conferência do capital mínimo pela
junta comercial, no entanto, caso a informação seja falsa, o
empresário pode ser responsabilizado por falsidade ideológica. O
capital pode ser estrangeiro, mas tem de ser informado em moeda
nacional, sendo necessária a conversão.
4. Objeto e sede da empresa. O objeto é atividade econômica que
ele pretende explorar. Pode ser exercida mais de uma atividade,
conforme a Tabela CNAI, lista com todas atividades passíveis de
serem exercidas. Quanto à sede da empresa, a sede da empresa tem
de ser no âmbito da junta, isto é, em um dos municípios do Estado
pelo qual a junta comercial é responsável.
a. Alterações quanto à pessoa. Quaisquer alterações
referentes à pessoa são averbadas na junta comercial.
Exemplos estão nos art. 979 e 980, CC.
5. Impedimentos legais à atividade empresária. Sabidamente, o impedido não pode ser
empresário, pois há uma norma decorrente de lei que o impede, apesar da sua
capacidade plena.
a. Efeito do exercício empresarial por impedido. Conforme o art. 973, CC, “[A]
PESSOA LEGALMENTE IMPEDIDA DE EXERCER ATIVIDADE PRÓPRIA DE EMPRESÁRIO, SE
A EXERCER, RESPONDERÁ PELAS OBRIGAÇÕES CONTRAÍDAS”. O empresário
impedido não tem nenhum benefício pelo seu impedimento, não havendo
invalidade da obrigação. Isso dá, portanto, segurança a quem contrata com o
empresário impedido.
6. Bens e obrigações. Qualquer empresário, regular ou irregular, responde com todos os
seus bens – ilimitadamente – pelas obrigações contraídas. Responde, portanto, com os
bens destinados a empresa e os não destinados a empresa, salvo os bens
absolutamente impenhoráveis.
7. Empresário incapaz. Conforme o art. 974, CC, “[P]ODERÁ O INCAPAZ, POR MEIO DE
REPRESENTANTE OU DEVIDAMENTE ASSISTIDO, CONTINUAR A EMPRESA ANTES EXERCIDA POR
ELE ENQUANTO CAPAZ, POR SEUS PAIS OU PELO AUTOR DE HERANÇA”. Até o advento do
Código Civil de 2002, todo empresário só poderia ser capaz., havendo fim da empresa
com, por exemplo, a interdição. Não poderia, da mesma forma, haver sócios
incapazes. No entanto, essa vedação foi abolida com o Código Civil de 2002,
admitindo-se, agora, tanto o sócio incapaz, conforme o art. 974, § 3º, CC, quanto o
empresário incapaz. No entanto, o incapaz não pode iniciar empresa, apenas prossegui-
la. Ele pode prosseguir essa atividade em três situações:
18

a. Interdição;
b. Falecimento do pai ou mãe;
c. Autor de herança. É sinônimo de falecido. Ocorre quando o autor de herança
deixa uma empresa ao incapaz;
i. Autorização judicial. A autorização para o incapaz é necessariamente
judicial. Ainda, como se trata de incapaz, a oitiva do Ministério Público
é obrigatória, mesmo que de jurisdição voluntária. Nos termos do art.
974, § 1º, CC, “[N]OS CASOS DESTE ARTIGO, PRECEDERÁ AUTORIZAÇÃO
JUDICIAL, APÓS EXAME DAS CIRCUNSTÂNCIAS E DOS RISCOS DA EMPRESA, BEM
COMO DA CONVENIÊNCIA EM CONTINUÁ-LA, PODENDO A AUTORIZAÇÃO SER
REVOGADA PELO JUIZ, OUVIDOS OS PAIS, TUTORES OU REPRESENTANTES
LEGAIS DO MENOR OU DO INTERDITO, SEM PREJUÍZO DOS DIREITOS
ADQUIRIDOS POR TERCEIROS”. Portanto, nota-se, pelo trecho grifado, que
essa autorização não é um direito potestativo do incapaz. A autorização
pode ser, ainda, revogada.
1. Bens ao tempo da interdição. Conforme o art. 974, § 2º, CC,
“[N]ÃO FICAM SUJEITOS AO RESULTADO DA EMPRESA OS BENS QUE O
INCAPAZ JÁ POSSUÍA, AO TEMPO DA SUCESSÃO OU DA INTERDIÇÃO,
DESDE QUE ESTRANHOS AO ACERVO DAQUELA, DEVENDO TAIS FATOS
CONSTAR DO ALVARÁ QUE CONCEDER A AUTORIZAÇÃO”.
2. Diferenciação da emancipação. A autorização para o empresário
incapaz é precária, podendo ser revogada, diferentemente da
emancipação, que é definitiva e irrevogável. Tem-se a condição,
então de empresário autorizado. A autorização não se confunde,
portanto, com emancipação, principalmente em seus efeitos.
3. Firma do incapaz e os gerentes. Não sabendo ler e escrever, a
firma do empresário incapaz é utilizada pelo representante ou
assistente. No entanto, se o representante ou assistente não puder ser
empresário, o juiz tem de nomear um terceiro para utilizá-la,
denominado gerente, nos termos do art. 975, CC e art. 976,
parágrafo único, CC. Caso o empresário incapaz saiba ler e
escrever, ele mesmo utiliza a firma.
4. Averbação de emancipação na junta comercial. Conforme o art.
976, CC, "[A] PROVA DA EMANCIPAÇÃO E DA AUTORIZAÇÃO DO
INCAPAZ, NOS CASOS DO ART. 974, E A DE EVENTUAL REVOGAÇÃO
DESTA, SERÃO INSCRITAS OU AVERBADAS NO REGISTRO PÚBLICO DE
EMPRESAS MERCANTIS".
19

8. Empresário rural. Conforme o art. 971, CC, "[O] EMPRESÁRIO, CUJA ATIVIDADE RURAL
CONSTITUA SUA PRINCIPAL PROFISSÃO, PODE, OBSERVADAS AS FORMALIDADES DE QUE
TRATAM O ART. 968 E SEUS PARÁGRAFOS, REQUERER INSCRIÇÃO NO REGISTRO PÚBLICO DE
EMPRESAS MERCANTIS DA RESPECTIVA SEDE, CASO EM QUE, DEPOIS DE INSCRITO, FICARÁ
EQUIPARADO, PARA TODOS OS EFEITOS, AO EMPRESÁRIO SUJEITO A REGISTRO”.
Notavelmente, o Código Civil não exige inscrição para o empresário a fins de que seja
considerado como tal. Todavia, para o empresário rural, ele somente é considerado
empresário uma vez feita a inscrição. A matrícula entra, então, como um quarto elemento.
Para que seja definido como empresário rural, o empresário deve exercer uma
atividade rural ou uma atividade rural e mais outras. Portanto, no caso em questão, o
registro passa a ser de natureza constitutiva. Se ele não fizer a inscrição, ele não é
empresário.
9. Conceito econômico e jurídico. Nos empresários comuns, os conceitos jurídico e
econômico de empresário se confundem. Porém, quanto ao empresário rural, o
conceito econômico de empresário é distinto do conceito jurídico.

AULA 3

1. Tratamento diferenciado do empresário rural. No Código Civil, em seu art. 970,


existe uma menção genérica a uma lei especial que deveria dar tratamento
diferenciado ao empresário rural. No entanto, não existe lei superveniente ao Código
Civil que tenha cumprido essa exigência. Nessa linha, entende-se que o tratamento
diferenciado dado ao empresário rural é a natureza constitutiva da matrícula na junta
comercial. Esse dispositivo assegura tratamento diferenciado, ainda, ao pequeno
empresário.
a. Facultatividade do registro do empresário rural. “EM RELAÇÃO ÀS ATIVIDADES
EMPRESARIAIS RURAIS, NÃO HÁ OBRIGAÇÃO DO REGISTRO (ART. 971 DO CÓDIGO CIVIL
DE 2002), MAS UMA FACULDADE, EM VIRTUDE DO VERBO PODER, QUE CONSTA DO
CITADO DISPOSITIVO. EM FUNÇÃO DISSO, O EMPRESÁRIO RURAL QUE SE REGISTRAR,
NO REGISTRO DE EMPRESAS, ESTARÁ SUJEITO AO REGIME EMPRESARIAL E O QUE NÃO
SE REGISTRAR FICARÁ SUJEITO AO REGIME CIVIL”. (Marlon Tomazzete)

Categorias Especiais de Empresa

2. Categorias especiais. Existe um total de quatro tipos de categorias especiais:


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a. Microempresa;
b. Empresas ou empresário de pequeno porte;
c. Pequeno empresário, que agrega os requisitos da microempresa;
d. Microempreendedor individual (MEI).
3. Pequeno empresário. O pequeno empresário, por outro lado, teve lei que assegurava
o seu tratamento diferenciado. Nos termos do art. 68, Lei Complementar 123/06,
“[C]ONSIDERA-SE PEQUENO EMPRESÁRIO, PARA EFEITO DE APLICAÇÃO DO DISPOSTO
NOS ARTS. 970 E 1.179 DA LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 (CÓDIGO CIVIL), O
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL CARACTERIZADO COMO MICROEMPRESA NA FORMA DESTA LEI
COMPLEMENTAR QUE AUFIRA RECEITA BRUTA ANUAL ATÉ O LIMITE PREVISTO NO § 1O DO
ART. 18-A [RENDA BRUTA DE ATÉ R$ 81.000,00]”.
a. Requisitos. São três, então, conforme a Lei, os requisitos para a caracterização
como pequeno empresário, além de todos aqueles comuns à caracterização de
qualquer empresário:
i. Há de se tratar de empresário individual. Trata-se, naturalmente, de
pessoa física;
ii. Caracterização como microempresa;
iii. Renda bruta de até R$ 81.000,00, nos termos do art. 18-A, § 1º, Lei
Complementar 123/2006.
4. Microempresa. Diante do requisito do enquadramento como microempresa, convém
analisar esse instituto para melhor entender a caracterização do pequeno empresário.
a. Divisão da Lei Complementar 123/2006 e fundamentação. Essa Lei possui
duas partes, sendo uma tributária – denominada Lei do Simples – e outra
empresarial. O Simples é nada mais que um sistema simplificado de
recolhimento de tributos e contribuições previdenciárias, com uma carga
tributária menor e um processo desburocratizado de recolhimento desses
valores. Essa simplificação está prevista constitucionalmente no art. 146, CF.
No dispositivo, existe uma previsão de Lei Complementar que regesse um
sistema simplificado para a microempresa e empresas de pequeno porte. No
entanto, o legislado acabou por, além de tratar apenas do sistema simplificado,
abordar também na lei o próprio instituto da microempresa e das empresas de
pequeno porte.
i. Fundamentação. Além do art. 146, essa Lei também está escorada no art.
170, IX, CF. definidor de que haverá “[T]RATAMENTO FAVORECIDO PARA
AS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE CONSTITUÍDAS SOB AS LEIS BRASILEIRAS E
QUE TENHAM SUA SEDE E ADMINISTRAÇÃO NO PAÍS”. Essa Lei é, portanto,
uma concretização do princípio de favorecimento do empresário de
21

pequeno porte, entrando como fundamento genérico. Existem, então,


dois tipos de fundamento para essa Lei Complementar:
1. Fundamento específico. O art. 146, CF, fundamenta a criação do
Simples;
2. Fundamento genérico. Os arts. 170, IX, e 179, CF, fundamentam
o resto do conteúdo da Lei, que aborda o próprio cerne dos
institutos da microempresa e empresário de pequeno porte.
ii. Dever constitucional de tratamento diferenciado de todos os entes
federados. Além do tratamento diferenciado ser um princípio do Direito
Comercial, há, também, no art. 179, CF, alinhamento a essa diretriz. Nos
termos do artigo, “[A] UNIÃO, OS ESTADOS, O DISTRITO FEDERAL E OS
MUNICÍPIOS DISPENSARÃO ÀS MICROEMPRESAS E ÀS EMPRESAS DE PEQUENO
PORTE, ASSIM DEFINIDAS EM LEI, TRATAMENTO JURÍDICO DIFERENCIADO,
VISANDO A INCENTIVÁ-LAS PELA SIMPLIFICAÇÃO DE SUAS OBRIGAÇÕES
ADMINISTRATIVAS, TRIBUTÁRIAS, PREVIDENCIÁRIAS E CREDITÍCIAS, OU PELA
ELIMINAÇÃO OU REDUÇÃO DESTAS POR MEIO DE LEI”. A tônica desse
dispositivo está no dever de todos os entes federativos. Não há, então,
apenas uma lei federal que aborde um tratamento diferenciado a essas
categorias especiais, mas um dever de todos entes da federação.
5. Vantagens conferidas pelas Lei 123/2006. Conforme o art. 1º, Lei 123/2006, “[ESSA] LEI
COMPLEMENTAR ESTABELECE NORMAS GERAIS RELATIVAS AO TRATAMENTO
DIFERENCIADO E FAVORECIDO A SER DISPENSADO ÀS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE
PEQUENO PORTE NO ÂMBITO DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL
E DOS MUNICÍPIOS [...]”. Esse artigo tem forte base no art. 179, CF. As microempresas e
empresários de pequeno porte, nos termos dos incisos dos dispositivos, têm
tratamento diferenciado e vantajoso no que se refere:
a. “[À] APURAÇÃO E RECOLHIMENTO DOS IMPOSTOS E CONTRIBUIÇÕES DA UNIÃO, DOS
ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, MEDIANTE REGIME ÚNICO DE
ARRECADAÇÃO, INCLUSIVE OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS”. Institui-se, assim, um
regime único de arrecadação diferenciado, é o próprio Simples. Esse regime é
disposto na própria Lei.
b. “[A]O CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS E PREVIDENCIÁRIAS,
INCLUSIVE OBRIGAÇÕES ACESSÓRIAS”. Essa Lei dispensa as microempresas e os
empresários de pequeno porte de obrigações que seriam cobradas de um
empresário normal, com fundamento no art. 179, CF.
c. “[A]O ACESSO A CRÉDITO E AO MERCADO, INCLUSIVE QUANTO À PREFERÊNCIA NAS
AQUISIÇÕES DE BENS E SERVIÇOS PELOS PODERES PÚBLICOS, À TECNOLOGIA, AO
22

ASSOCIATIVISMO E ÀS REGRAS DE INCLUSÃO”. Possui fundamento, também, no art.


179, CF.
d. “[A]O CADASTRO NACIONAL ÚNICO DE CONTRIBUINTES A QUE SE REFERE O INCISO IV
DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 146, IN FINE, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL”.
6. Conceito de microempresa. Nos termos do art. 3º, Lei Complementar 123/2006,
“[P]ARA OS EFEITOS DESTA LEI COMPLEMENTAR, CONSIDERAM-SE MICROEMPRESAS OU
EMPRESAS DE PEQUENO PORTE, A SOCIEDADE EMPRESÁRIA, A SOCIEDADE SIMPLES, A
EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA E O EMPRESÁRIO A QUE SE REFERE
O ART. 966 DA LEI NO 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 (CÓDIGO CIVIL), DEVIDAMENTE
REGISTRADOS NO REGISTRO DE EMPRESAS MERCANTIS OU NO REGISTRO CIVIL DE PESSOAS
JURÍDICAS, CONFORME O CASO [...]”.
a. Subespécies de microempresa. De acordo com o dispositivo, percebe-se que o
conceito de microempresa abrange diversos tipos de pessoas, sendo três delas
pessoas jurídicas e uma pessoa física:
i. Pessoas jurídicas. São elas:
1. Sociedade empresária;
2. Sociedade simples.
3. Empresa individual de responsabilidade limitada.
ii. Pessoas naturais.
1. Pequeno empresário. Trata-se do empresário disposto no art.
966, CC, objeto de estudo principal. Enquanto o conceito de
microempresa abrange pessoas jurídicas e naturais com renda
bruta até R$ 360.000,00, o pequeno empresário é uma categoria
especial dentro de microempresa, composta de uma pessoa física
com renda bruta anual de até R$ 81.000,00.
b. Empresa de pequeno porte. Há as mesmas pessoas jurídicas presentes na categoria
de microempresa, mas a receita bruta pode ser bem maior. Incide na receita bruta
de 360 mil até 4 milhões e 800 mil reais1. Acima disso, não há mais tratamento
favorecido, seria uma média ou grande empresa.

1 Valor do esquema errado.


23
24

c. Órgão competente. Cabe ao Registro Empresarial fornecer o enquadramento


do empresário individual como microempresa ou pequeno empresário.
i. Requisição de matrícula. É um instituto que permite ao empresário
ingressar no Simples, logo, não é possível gozar dos benefícios da
microempresa e empresa de pequeno porte se não houver inscrição. Para efeito
de enquadramento como microempresa, o registro tem natureza
constitutiva. O empresário irregular não pode ter, portanto, o
tratamento favorecido de microempresa.
7. Vedações. Existem determinadas situações em que o empresário não pode se
enquadrar como microempresa, dispostas no art. 3º, § 4º, Lei Complementar 123/2006:
I - de cujo capital participe outra pessoa jurídica;

II - que seja filial, sucursal, agência ou representação, no País, de pessoa jurídica com sede no exterior;

III - de cujo capital participe pessoa física que seja inscrita como empresário ou seja sócia de outra empresa que
receba tratamento jurídico diferenciado nos termos desta Lei Complementar, desde que a receita bruta global
ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;

IV - cujo titular ou sócio participe com mais de 10% (dez por cento) do capital de outra empresa não beneficiada
por esta Lei Complementar, desde que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput
deste artigo;

V - cujo sócio ou titular seja administrador ou equiparado de outra pessoa jurídica com fins lucrativos, desde
que a receita bruta global ultrapasse o limite de que trata o inciso II do caput deste artigo;

VI - constituída sob a forma de cooperativas, salvo as de consumo;

VII - que participe do capital de outra pessoa jurídica;

VIII - que exerça atividade de banco comercial, de investimentos e de desenvolvimento, de caixa econômica, de
sociedade de crédito, financiamento e investimento ou de crédito imobiliário, de corretora ou de distribuidora
de títulos, valores mobiliários e câmbio, de empresa de arrendamento mercantil, de seguros privados e de
capitalização ou de previdência complementar;

IX - resultante ou remanescente de cisão ou qualquer outra forma de desmembramento de pessoa jurídica que
tenha ocorrido em um dos 5 (cinco) anos-calendário anteriores;

X - constituída sob a forma de sociedade por ações.

XI - cujos titulares ou sócios guardem, cumulativamente, com o contratante do serviço, relação de pessoalidade,
subordinação e habitualidade.

8. Regras do Simples e vantagens. As categorias especiais, dispostas na Lei 123/2006,


possuem diversas vantagens. São as principais, dispostas nos artigos:
25

a. Unicidade do processo de registro e de legalização de empresários e de


pessoas jurídicas. Conforme o art. 4º, “ [N]A ELABORAÇÃO DE NORMAS DE SUA
COMPETÊNCIA, OS ÓRGÃOS E ENTIDADES ENVOLVIDOS NA ABERTURA E FECHAMENTO
DE EMPRESAS, DOS 3 (TRÊS) ÂMBITOS DE GOVERNO, DEVERÃO CONSIDERAR A
UNICIDADE DO PROCESSO DE REGISTRO E DE LEGALIZAÇÃO DE EMPRESÁRIOS E DE
PESSOAS JURÍDICAS, PARA TANTO DEVENDO ARTICULAR AS COMPETÊNCIAS
PRÓPRIAS COM AQUELAS DOS DEMAIS MEMBROS, E BUSCAR, EM CONJUNTO,
COMPATIBILIZAR E INTEGRAR PROCEDIMENTOS, DE MODO A EVITAR A DUPLICIDADE
DE EXIGÊNCIAS E GARANTIR A LINEARIDADE DO PROCESSO, DA PERSPECTIVA DO
USUÁRIO”.
i. Essa vantagem evita que o mesmo documento seja requisitado diversas
vezes para ser apresentado a entes distintos. Ocorre uma integração,
diminuindo o tempo de espera para que a atividade pode começar ou
encerrar.
b. Acesso à informação. Conforme o art. 5º, “[O]S ÓRGÃOS E ENTIDADES ENVOLVIDOS
NA ABERTURA E FECHAMENTO DE EMPRESAS, DOS 3 (TRÊS) ÂMBITOS DE GOVERNO, NO
ÂMBITO DE SUAS ATRIBUIÇÕES, DEVERÃO MANTER À DISPOSIÇÃO DOS USUÁRIOS, DE
FORMA PRESENCIAL E PELA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES, INFORMAÇÕES,
ORIENTAÇÕES E INSTRUMENTOS, DE FORMA INTEGRADA E CONSOLIDADA, QUE
PERMITAM PESQUISAS PRÉVIAS ÀS ETAPAS DE REGISTRO OU INSCRIÇÃO, ALTERAÇÃO
E BAIXA DE EMPRESÁRIOS E PESSOAS JURÍDICAS, DE MODO A PROVER AO USUÁRIO
CERTEZA QUANTO À DOCUMENTAÇÃO EXIGÍVEL E QUANTO À VIABILIDADE DO
REGISTRO OU INSCRIÇÃO”.
i. Prescreve, então, a criação de um glossário, manual, para a criação,
modificação ou encerramentos de categorias especiais de pessoas
jurídicas e físicas. Isso deve ocorrer mesmo que haja o manual do Sebrae.
c. Simplificação dos requisitos de segurança sanitária, metrologia, controle
ambiental e prevenção contra incêndios. Conforme o art. 6º, “[O]S REQUISITOS
DE SEGURANÇA SANITÁRIA, METROLOGIA, CONTROLE AMBIENTAL E PREVENÇÃO
CONTRA INCÊNDIOS, PARA OS FINS DE REGISTRO E LEGALIZAÇÃO DE EMPRESÁRIOS E
PESSOAS JURÍDICAS, DEVERÃO SER SIMPLIFICADOS, RACIONALIZADOS E
UNIFORMIZADOS PELOS ÓRGÃOS ENVOLVIDOS NA ABERTURA E FECHAMENTO DE
EMPRESAS, NO ÂMBITO DE SUAS COMPETÊNCIAS”
d. Regularidade de obrigações tributárias, previdenciárias ou trabalhistas.
Conforme o art. 9º, “[O] REGISTRO DOS ATOS CONSTITUTIVOS, DE SUAS ALTERAÇÕES
E EXTINÇÕES (BAIXAS), REFERENTES A EMPRESÁRIOS E PESSOAS JURÍDICAS EM
QUALQUER ÓRGÃO DOS 3 (TRÊS) ÂMBITOS DE GOVERNO OCORRERÁ
26

INDEPENDENTEMENTE DA REGULARIDADE DE OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS,


PREVIDENCIÁRIAS OU TRABALHISTAS, PRINCIPAIS OU ACESSÓRIAS, DO
EMPRESÁRIO, DA SOCIEDADE, DOS SÓCIOS, DOS ADMINISTRADORES OU DE EMPRESAS
DE QUE PARTICIPEM, SEM PREJUÍZO DAS RESPONSABILIDADES DO EMPRESÁRIO, DOS
TITULARES, DOS SÓCIOS OU DOS ADMINISTRADORES POR TAIS OBRIGAÇÕES,
APURADAS ANTES OU APÓS O ATO DE EXTINÇÃO”
i. É, certamente, uma das vantagens mais importantes. Conforme o
dispositivo, o empresário dessas categorias especiais pode estar em
desacordo com as obrigações citadas, no entanto, isso não impede que abra
ou dê baixa nessa empresa, ocorrendo independentemente.
ii. Continuidade das dívidas. A vantagem conferida por esse dispositivo
é, naturalmente, da vida empresarial poder continuar transcorrendo. No
entanto, evidentemente, as obrigações referidas permanecem existindo e
exigíveis.
e. Exigência de visto de advogados. Nas microempresas e empresas de pequeno
porte, não é exigido visto de advogado atestando a regularidade de um
contrato. Nas categorias comuns, existe essa exigência.
f. Exigência documental. Nos arts. 10 e 11, existe uma simplificação quanto à
exigência de documentos:
Art. 10. Não poderão ser exigidos pelos órgãos e entidades envolvidos na abertura e fechamento de empresas,
dos 3 (três) âmbitos de governo:

I - excetuados os casos de autorização prévia, quaisquer documentos adicionais aos requeridos pelos órgãos
executores do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins e do Registro Civil de Pessoas
Jurídicas;

II - documento de propriedade ou contrato de locação do imóvel onde será instalada a sede, filial ou outro
estabelecimento, salvo para comprovação do endereço indicado;

III - comprovação de regularidade de prepostos dos empresários ou pessoas jurídicas com seus órgãos de classe,
sob qualquer forma, como requisito para deferimento de ato de inscrição, alteração ou baixa de empresa, bem
como para autenticação de instrumento de escrituração.

Art. 11. Fica vedada a instituição de qualquer tipo de exigência de natureza documental ou formal, restritiva
ou condicionante, pelos órgãos envolvidos na abertura e fechamento de empresas, dos 3 (três) âmbitos de
governo, que exceda o estrito limite dos requisitos pertinentes à essência do ato de registro, alteração ou baixa da empresa.

i. Objetivos. Naturalmente, o objetivo desses dispositivos é,


fundamentalmente, agilizar os processos de abertura e encerramento de
categorias especiais de empresa.
g. Vantagens relativas ao Direito Administrativo. São elas:
27

i. Participação em licitações. Conforme o art. 42, “[N]AS LICITAÇÕES


PÚBLICAS, A COMPROVAÇÃO DE REGULARIDADE FISCAL E TRABALHISTA DAS
MICROEMPRESAS E DAS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE SOMENTE SERÁ EXIGIDA
PARA EFEITO DE ASSINATURA DO CONTRATO”
1. Na Licitação, só se pode participar quando comprovada a
regularidade. Ainda, essa regularidade tem de ficar sendo
comprovada a cada etapa do processo. No entanto, para as
categorias especiais, só é necessário apresentar a regularidade fiscal e
trabalhista quando da assinatura do contrato. Naturalmente, há a
vantagem de propor mais tempo às categorias especiais para que
regularizem suas obrigações fiscais e trabalhistas. No entanto, há
desvantagem para a Administração Pública, uma vez que, caso a
pessoa jurídica ou física não regularize essas obrigações até a
assinatura, a licitação terá de voltar à “estaca zero”.
ii. Desempate em licitações. Conforme o art. 44, “[N]AS LICITAÇÕES SERÁ
ASSEGURADA, COMO CRITÉRIO DE DESEMPATE, PREFERÊNCIA DE
CONTRATAÇÃO PARA AS MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO
PORTE”.
iii. Desenvolvimento econômico e social. Conforme o art. 47, “[N]AS
CONTRATAÇÕES PÚBLICAS DA ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA,
AUTÁRQUICA E FUNDACIONAL, FEDERAL, ESTADUAL E MUNICIPAL, DEVERÁ
SER CONCEDIDO TRATAMENTO DIFERENCIADO E SIMPLIFICADO PARA AS
MICROEMPRESAS E EMPRESAS DE PEQUENO PORTE OBJETIVANDO A
PROMOÇÃO DO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL NO ÂMBITO
MUNICIPAL E REGIONAL, A AMPLIAÇÃO DA EFICIÊNCIA DAS POLÍTICAS
PÚBLICAS E O INCENTIVO À INOVAÇÃO TECNOLÓGICA”.
1. Empresas públicas e sociedades de economia mista. Importante
perceber que não entram nesse artigo a empresa pública e
sociedade de economia mista, que integram a administração
pública indireta. Aqui se refere apenas às autarquias e fundações
públicas.
2. Priorização. Existirá, então, uma priorização do fornecimento de
produtos por microempresas, salvo os casos em que há requerimento
de alto grau técnico, “na medida do possível”. Há necessidade de
razoabilidade na ponderação dessa norma.
9. MEI (Microempreendedor individual). É quarta categoria especial de empresário.
Definido pelo art. 18-A, § 1º, Lei Complementar 123/2006. “PARA OS EFEITOS DESTA LEI
28

COMPLEMENTAR, CONSIDERA-SE MEI O EMPRESÁRIO INDIVIDUAL QUE SE ENQUADRE NA


DEFINIÇÃO DO ART. 966 DA LEI Nº 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 - CÓDIGO CIVIL, OU O
EMPREENDEDOR QUE EXERÇA AS ATIVIDADES DE INDUSTRIALIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS NO ÂMBITO RURAL, QUE TENHA AUFERIDO RECEITA BRUTA, NO
ANO-CALENDÁRIO ANTERIOR, DE ATÉ R$ 81.000,00 (OITENTA E UM MIL REAIS), QUE SEJA
OPTANTE PELO SIMPLES NACIONAL E QUE NÃO ESTEJA IMPEDIDO DE OPTAR PELA
SISTEMÁTICA PREVISTA NESTE ARTIGO”. É sempre uma pessoa física, como o pequeno
empresário, tendo receita bruta de até R$ 81.000,000.
a. Semelhanças e diferenças com o pequeno empresário. Notavelmente, o MEI
possui algumas semelhanças com o MEI pela redação do dispositivo. No
entanto, eles não são de todo igual . São semelhanças com pequeno empresário
o limite da receita bruta e requisito de pessoa natural. São diferenças:
i. Alternatividade. O pequeno empresário se enquadra apenas no art. 966,
CC, enquanto o MEI pode ser constituído tanto pelo pequeno
empresário do art. 966, CC, como pelo empreendedor com as
especificidades descritas no dispositivo. Conceito de MEI é mais amplo,
portanto, que o conceito de pequeno empresário.
ii. Exigências distintas e restrições. Conforme o art. 18-A, § 4º, Lei
Complementar 123/2006, o MEI tem mais exigências para o seu
enquadramento nessa categoria que o pequeno empresário. São elas:
§ 4o Não poderá optar pela sistemática de recolhimento prevista no caput deste artigo o MEI:

I - cuja atividade seja tributada na forma dos Anexos V ou VI desta Lei Complementar, salvo autorização
relativa a exercício de atividade isolada na forma regulamentada pelo CGSN;

II - que possua mais de um estabelecimento;

III - que participe de outra empresa como titular, sócio ou administrador;

iii. Prerrogativas. O MEI possui uma prerrogativa que um pequeno


empresário não possui, disposta no art. 18-A, § 25, Lei Complementar
123/2006, sendo “[O] MEI PODERÁ UTILIZAR SUA RESIDÊNCIA COMO SEDE
DO ESTABELECIMENTO, QUANDO NÃO FOR INDISPENSÁVEL A EXISTÊNCIA DE
LOCAL PRÓPRIO PARA O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE”.
10. Enquadramento de pessoa jurídica. A pessoa jurídica só pode ser enquadrada,
portanto, como microempresa ou empresa de pequeno porte. Por outro lado, a pessoa
natural pode ser enquadrar em todas as categorias: microempresa – na modalidade de
pequeno empresário –, empresário de pequeno porte e MEI.
11. Notas:
29

a. Expressão terminológica de empresa. A expressão “empresa” não pode ser


usada como uma das partes contratantes. Na realidade, “empresa” é uma
atividade, não ente com personalidade jurídica.
b. Possibilidade de fraude à CLT. A presunção das categorias especiais é de
validade, de que não existe verdadeira relação de trabalho. O empresário
enquadrado em categoria especial pode possuir contrato de exclusividade, mas
isso não é, por si próprio, definidor de abuso. O esquema de funcionamento da
empresa tem de ser verificado no caso concreto. A Justiça do Trabalho entende
que pode haver fraude, analisado o caso concreto, se há elementos de:
i. Pessoalidade;
ii. Subordinação;
iii. Exclusividade.
c. Empresário não é profissional liberal. Não é um empregado.

Colaboradores do Empresário

1. Definição. Os colaboradores do empresário são aqueles que o auxiliam no


desenvolvimento da empresa. Importante destacar que eles não são considerados
empresários. “APESAR DE ATUAREM EM PROL DA EMPRESA, ESSES COLABORADORES NÃO
ASSUMEM O RISCO DA ATIVIDADE E POR ISSO NÃO PODEM SER CONSIDERADOS EMPRESÁRIOS,
MAS APENAS AUXILIARES DO EMPRESÁRIO” (Marlon Tomazzete). Existem, a rigor, dois tipos
de colaboradores do empresário:
a. Tipos de colaboradores do empresário. “FRANCESCO FERRARA JUNIOR
CLASSIFICA OS AUXILIARES EM SUBORDINADOS E AUTÔNOMOS. ESTES SERIAM OS
AUXILIARES EXTERNOS À EMPRESA, SEM UMA RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA IMEDIATA.
JÁ OS SUBORDINADOS SERIAM AQUELES LIGADOS DIRETAMENTE AO EMPRESÁRIO,
NORMALMENTE VINCULADOS POR UM CONTRATO DE TRABALHO. DENTRO DESSA
CONCEPÇÃO, SERIAM AUXILIARES SUBORDINADOS OS EMPREGADOS EM GERAL E
COMO AUXILIARES AUTÔNOMOS TERÍAMOS AS PESSOAS LIGADAS POR CONTRATOS DE
AGÊNCIA, DE COMISSÃO E DE REPRESENTAÇÃO” (Marlon Tomazzete). Na Doutrina
atual, são denominados colaboradores dependentes ou independentes.
2. Preposto. Enquadra-se na categoria de colaboradores dependentes. Não é empresário,
considerado pela doutrina como mandatário do empresário. Ele pratica atos em nome
e no interesse do empresário.
30

a. Normas de proteção à concorrência desleal. Diante da relação de proximidade e


confiança que existe entre o preposto e o empresário, existem normas de
proteção à concorrência desleal.
i. Substituição da preposição. Nos termos do art. 1.169, CC, “O PREPOSTO
NÃO PODE, SEM AUTORIZAÇÃO ESCRITA, FAZER-SE SUBSTITUIR NO
DESEMPENHO DA PREPOSIÇÃO, SOB PENA DE RESPONDER PESSOALMENTE
PELOS ATOS DO SUBSTITUTO E PELAS OBRIGAÇÕES POR ELE CONTRAÍDAS”. O
preposto não pode, portanto, colocar outra pessoa em seu lugar para
exercer sua função sem autorização escrita, sem que haja autorização
expressa. Caso desrespeite essa norma, responde civilmente;
ii. Vedação da negociação por conta própria. Nos termos do art. 1.170, CC,
“[O] PREPOSTO, SALVO AUTORIZAÇÃO EXPRESSA, NÃO PODE NEGOCIAR POR
CONTA PRÓPRIA OU DE TERCEIRO, NEM PARTICIPAR, EMBORA
INDIRETAMENTE, DE OPERAÇÃO DO MESMO GÊNERO DA QUE LHE FOI
COMETIDA, SOB PENA DE RESPONDER POR PERDAS E DANOS E DE SEREM
RETIDOS PELO PREPONENTE OS LUCROS DA OPERAÇÃO”.
iii. Aplicação da teoria da Teoria da Aparência. Conforme o art. 1.171, CC,
“[C]ONSIDERA-SE PERFEITA A ENTREGA DE PAPÉIS, BENS OU VALORES AO
PREPOSTO, ENCARREGADO PELO PREPONENTE, SE OS RECEBEU SEM PROTESTO,
SALVO NOS CASOS EM QUE HAJA PRAZO PARA RECLAMAÇÃO”.
3. Espécies de prepostos. São eles:
a. Gerentes. Espécie regida dos arts. 1.072 ao 1.076, CC.
b. Contabilista.
c. Vendedores ou prepostos em geral.
4. Gerentes. Conforme art. 1.172, CC, “[C]ONSIDERA-SE GERENTE O PREPOSTO PERMANENTE
NO EXERCÍCIO DA EMPRESA, NA SEDE DESTA, OU EM SUCURSAL, FILIAL OU AGÊNCIA”. É
muito importante pela razão de ser um substituto do empresário.
a. Administrador. No entanto, o gerente, não é o administrador. O Código Civil
utiliza essa nomenclatura de administrador exclusivamente para lidar com
pessoa jurídica, isto é, administração de sociedades, nos termos do art. 1.022,
CC.
b. Poderes outorgados pelos preponentes. Conforme o art. 1.173, CC, “[Q]UANDO
A LEI NÃO EXIGIR PODERES ESPECIAIS, CONSIDERA-SE O GERENTE AUTORIZADO A
PRATICAR TODOS OS ATOS NECESSÁRIOS AO EXERCÍCIO DOS PODERES QUE LHE
FORAM OUTORGADOS”.
31

i. Solidariedade. Conforme o art. 1.173, parágrafo único, CC, “[N]A FALTA


DE ESTIPULAÇÃO DIVERSA, CONSIDERAM-SE SOLIDÁRIOS OS PODERES
CONFERIDOS A DOIS OU MAIS GERENTES”.
c. Limitações na outorga de poderes e oposição a terceiros. Conforme o art.
1.074, CC “[A]S LIMITAÇÕES CONTIDAS NA OUTORGA DE PODERES, PARA SEREM
OPOSTAS A TERCEIROS, DEPENDEM DO ARQUIVAMENTO E AVERBAÇÃO DO
INSTRUMENTO NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS, SALVO SE
PROVADO SEREM CONHECIDAS DA PESSOA QUE TRATOU COM O GERENTE”. Esse
dispositivo trata, claramente, de uma vedação à má-fé por parte daquele que
negocia com o gerente.
i. Eficácia do negócio jurídico. Nesse sentido, o negócio jurídico não é
nulo, nem anulável, apenas não tem eficácia contra terceiros. Há possível
oposição apenas entre o preposto e o preponente. Só há eficácia erga
omnes se forem satisfeitos os requisitos, se for feito o arquivamento e
averbação. A regra é, portanto, que haja plenos poderes.
d. Atos praticados em nome do preposto mas à conta do preponente. Conforme
o art. 1.175, CC, “[O] PREPONENTE RESPONDE COM O GERENTE PELOS ATOS QUE ESTE
PRATIQUE EM SEU PRÓPRIO NOME, MAS À CONTA DAQUELE”. Nesse caso, não há
uma relação de mandato verdadeiramente, pois o ato foi praticado em nome
próprio. Nesse caso, o preponente responde. Caso seja provada essa hipótese, é
estabelecida a solidariedade.
e. Representação em juízo. Conforme o art. 1.176, CC, “[O] GERENTE PODE ESTAR
EM JUÍZO EM NOME DO PREPONENTE, PELAS OBRIGAÇÕES RESULTANTES DO EXERCÍCIO
DA SUA FUNÇÃO”. Naturalmente, o “estar em juízo” deve acompanhar um
advogado. O comparecimento do preposto, portanto, evita a revelia.
5. Nomenclaturas. Diante do mencionado, não existem, naturalmente, as expressões
sócio-gerente, gerente-administrador. Existe, apenas, um possível sócio-
administrador, única categoria aceitável.
6. Contabilista. O contador é responsável pela escrituração dos livros, de acordo com o
art. 1.179, CC, que dispõe a obrigação de ter livros. Nos termos do art. 1.182, CC, “[S]EM
PREJUÍZO DO DISPOSTO NO ART. 1.174, A ESCRITURAÇÃO FICARÁ SOB A RESPONSABILIDADE
DE CONTABILISTA LEGALMENTE HABILITADO, SALVO SE NENHUM HOUVER NA
LOCALIDADE”.
a. Dispensa ao pequeno empresário. Conforme o art. 1.179, § 2º, CC, “[É]
DISPENSADO DAS EXIGÊNCIAS DESTE ARTIGO O PEQUENO EMPRESÁRIO A QUE SE
REFERE O ART. 970” . No entanto, lembre-se que pequeno empresário é diferente de
microempresa.
32

b. Responsabilidade objetiva do empresário pelos atos do contador. Conforme


o art. 1.177, CC, “[O]S ASSENTOS LANÇADOS NOS LIVROS OU FICHAS DO
PREPONENTE, POR QUALQUER DOS PREPOSTOS ENCARREGADOS DE SUA
ESCRITURAÇÃO, PRODUZEM, SALVO SE HOUVER PROCEDIDO DE MÁ-FÉ, OS MESMOS
EFEITOS COMO SE O FOSSEM POR AQUELE”.
i. Pequeno empresário. Não se aplica ao pequeno empresário
naturalmente, uma vez que não precisam de contador.
ii. Dificuldade de responsabilidade do contador e não do dono do livro,
o empresário. A função do contador é meramente fazer o lançamento de
determinadas informações providas pelo empresário. Além disso, os
balanços são todos assinados pelo contador e pelo empresário. Quando existem
irregularidades, portanto, é muito difícil que a culpa do empresário seja
elidida, porém, pode ocorrer pela prova culpa do contador ou terceiro, nos
termos do dispositivo.
iii. Resposta do contabilista. Conforme o art. 1.177, parágrafo único, CC,
“[N]O EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, OS PREPOSTOS SÃO PESSOALMENTE
RESPONSÁVEIS, PERANTE OS PREPONENTES, PELOS ATOS CULPOSOS; E,
PERANTE TERCEIROS, SOLIDARIAMENTE COM O PREPONENTE, PELOS ATOS
DOLOSOS”. Existem, então, duas hipóteses:
1. Atos culposos. Responde perante o preponente;
2. Atos dolosos. Responde perante terceiro, de forma solidária com o
preponente.
iv. Resposta do preponente e o local de prática do ato. O art. 1.1178, CC,
é uma típica aplicação da Teoria da Aparência. O dispositivo versa que
“[O]S PREPONENTES SÃO RESPONSÁVEIS PELOS ATOS DE QUAISQUER
PREPOSTOS, PRATICADOS NOS SEUS ESTABELECIMENTOS E RELATIVOS À
ATIVIDADE DA EMPRESA, AINDA QUE NÃO AUTORIZADOS POR ESCRITO”. No
entanto, conforme o art. 1.178, parágrafo único, CC, “[Q]UANDO TAIS ATOS
FOREM PRATICADOS FORA DO ESTABELECIMENTO, SOMENTE OBRIGARÃO O
PREPONENTE NOS LIMITES DOS PODERES CONFERIDOS POR ESCRITO, CUJO
INSTRUMENTO PODE SER SUPRIDO PELA CERTIDÃO OU CÓPIA AUTÊNTICA DO
SEU TEOR”.

AULA 4
33

Colaboradores do Empresário Independentes

1. Colaboradores independentes. Diferentemente dos colaboradores dependentes, não


existe relação de emprego ou preposição nos colaboradores independentes.
2. Corretor. Atualmente, o Código Civil trata o contrato de corretagem como principal,
ficando o corretor em segundo plano. Anteriormente, a estrutura era invertida,
ficando o corretor em primeiro plano e o corretor em segundo. Essa profissão está
regida nos arts. 722 a 729, CC.
a. Conceito de corretor. Conforme o art. 722, CC, “[P]ELO CONTRATO DE
CORRETAGEM, UMA PESSOA, NÃO LIGADA A OUTRA EM VIRTUDE DE MANDATO, DE
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS OU POR QUALQUER RELAÇÃO DE DEPENDÊNCIA, OBRIGA-SE
A OBTER PARA A SEGUNDA UM OU MAIS NEGÓCIOS, CONFORME AS INSTRUÇÕES
RECEBIDAS”.
i. Espécie de pessoa. O corretor pode ser tanto uma pessoa física quanto
jurídica, precisando para ser caracterizada como tal que celebre um
contrato de corretagem. Ressalta-se, como dito, que se identifica o papel
do corretor de acordo com o contrato de corretagem.
ii. Função do corretor. Nos termos do dispositivo, o corretor obriga-se a
obter, para um terceiro, determinados contratos. Ele é, nesse sentido,
uma espécie de mediador para o empresário, procurando um ou mais
negócios de gênero e finalidades diversas, como, por exemplo, bens,
ações, serviços, entre outros.
1. Mediação em sentido estrito. No entanto, o corretor não
representa, de forma alguma, o cliente ou empresário na
conclusão dos negócios. Por conta disso, a corretagem pode ser
chamada, também, mediação em sentido estrito. Ele não
participa dos negócios, não é mandatário dos clientes que angaria.
b. Instruções ao exercício da corretagem. Conforme o art. 723, CC, “[O] CORRETOR
É OBRIGADO A EXECUTAR A MEDIAÇÃO COM DILIGÊNCIA E PRUDÊNCIA, E A PRESTAR
AO CLIENTE, ESPONTANEAMENTE, TODAS AS INFORMAÇÕES SOBRE O ANDAMENTO
DO NEGÓCIO”. Esse dispositivo, naturalmente, desenvolve a questão das
instruções ao exercício da boa-fé, como os deveres de diligência, prudência e
boa-fé.
i. Boa-fé. Conforme o art. 723, parágrafo único, CC, “[S]OB PENA DE
RESPONDER POR PERDAS E DANOS, O CORRETOR PRESTARÁ AO CLIENTE TODOS
OS ESCLARECIMENTOS ACERCA DA SEGURANÇA OU DO RISCO DO NEGÓCIO,
34

DAS ALTERAÇÕES DE VALORES E DE OUTROS FATORES QUE POSSAM INFLUIR


NOS RESULTADOS DA INCUMBÊNCIA”. O dispositivo especifica alguns
deveres da boa-fé, sempre focando na linha do corretor como mediador,
não do praticante do negócio.
ii. Remuneração do corretor. A remuneração do corretor é ajustada entre as
partes, salvo quando existe uma imposição legal.
1. Uso como fonte do Direito. Em algumas matérias muito
específicas, excepcionalmente, o Código Civil de 2022 manda
aplicar expressamente o uso. Uma dessas exceções se dá quanto à
remuneração do corretor, nos termos do art. 724, CC, afirmando-
se que “[A] REMUNERAÇÃO DO CORRETOR, SE NÃO ESTIVER FIXADA EM
LEI, NEM AJUSTADA ENTRE AS PARTES, SERÁ ARBITRADA SEGUNDO A
NATUREZA DO NEGÓCIO E OS USOS LOCAIS”. Raramente existe
menção expressa ao usus como fonte do Direito Comercial.
c. Corretagem como obrigação de meio ou de resultado. Conforme o art. 725,
CC, “[A] REMUNERAÇÃO É DEVIDA AO CORRETOR UMA VEZ QUE TENHA CONSEGUIDO
O RESULTADO PREVISTO NO CONTRATO DE MEDIAÇÃO, OU AINDA QUE ESTE NÃO SE
EFETIVE EM VIRTUDE DE ARREPENDIMENTO DAS PARTES”. Por conta de seu papel
como mediador, houve grande controvérsia sobre o fato de a corretagem ser
obrigação de meio ou de resultado. No entanto, no REsp 1.428.324/SP, STJ, foi
estabelecida uma definição. Segundo o Tribunal, a corretagem é obrigação de
resultado, não de meio. Portanto, para que seja devida a sua remuneração, é
preciso que haja efetivação do negócio.
i. Arrependimento das partes. A primeira parte do dispositivo não gerou
controvérsias. No entanto, a segunda parte foi objeto de
questionamento. O STJ entendeu, nesse sentido, que para que haja
remuneração mesmo com o arrependimento das partes, o negócio precisa
ter sido efetivado da mesma maneira. Se o negócio não se efetiva, o corretor
não faz jus à comissão. É preciso que haja, portanto, desfazimento do
negócio.
ii. Trechos do REsp. “1. O CONTRATO DE CORRETAGEM NÃO IMPÕE SIMPLES
OBRIGAÇÃO DE MEIO, MAS DE RESULTADO, DE MANEIRA QUE SOMENTE É
CABÍVEL A COMISSÃO DE CORRETAGEM QUANDO O CORRETOR EFETUA A
APROXIMAÇÃO ENTRE COMPRADOR E VENDEDOR, RESULTANDO NA EFETIVA
VENDA DO IMÓVEL.” [...] 5. EM SE TRATANDO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS
VINCULADAS À COMPRA E VENDA DE IMÓVEL, EM LINHA DE PRINCÍPIO, A
COMPLETA FORMAÇÃO DO CONTRATO DE CORRETAGEM DEPENDE DE TRÊS
35

ETAPAS: A) A APROXIMAÇÃO DAS PARTES; B) O FECHAMENTO DO NEGÓCIO


(ASSINATURA DA PROPOSTA DE COMPRA E VENDA); E C) A EXECUÇÃO DO
CONTRATO (COMPRA E VENDA), POR MEIO DA ASSINATURA DA ESCRITURA
PARA TRANSCRIÇÃO NO REGISTRO DE IMÓVEIS”
3. Agente. O agente é outro colaborador independente do empresário, previsto no art.
710, CC. Conforme a Lei Comercial, “[P]ELO CONTRATO DE AGÊNCIA, UMA PESSOA
ASSUME, EM CARÁTER NÃO EVENTUAL E SEM VÍNCULOS DE DEPENDÊNCIA, A OBRIGAÇÃO DE
PROMOVER, À CONTA DE OUTRA, MEDIANTE RETRIBUIÇÃO, A REALIZAÇÃO DE CERTOS
NEGÓCIOS, EM ZONA DETERMINADA, CARACTERIZANDO-SE A DISTRIBUIÇÃO QUANDO O
AGENTE TIVER À SUA DISPOSIÇÃO A COISA A SER NEGOCIADA”.
a. Retrospectiva histórica. O agente e o contrato de agência eram figuras que já
existiam no Direito Brasileiro antes do Código Civil entrar em vigor. No
entanto, esse colaborador era regulado em Lei Especial, a saber a Lei 4.886/65.
Nessa Lei, o agente não era assim denominado, mas representante comercial,
e o contrato, contrato de representação comercial.
i. Definição do agente e do representante comercial. O Código Civil, em
seu art. 710, conceituou o agente da mesma forma que era conceituado
o representante comercial em sua Lei Especial. As atividades são
absolutamente as mesmas. Porém, existe diferença nos elementos que
formam a atividade de agência e de representação comercial,
notadamente no registro.
1. Registro do representante comercial. Conforme o art. 2º, Lei
4.886/65, “É OBRIGATÓRIO O REGISTRO DOS QUE EXERÇAM A
REPRESENTAÇÃO COMERCIAL AUTÔNOMA NOS CONSELHOS
REGIONAIS CRIADOS PELO ART. 6º DESTA LEI”. A Lei exige, portanto,
que o representante comercial esteja registrado no órgão de classe
em nível estadual – Conselhos Regionais –. O agente, portanto, seria
uma espécie de representante comercial sem registro.
2. Objetivo da regulamentação da agência no Código Civil. A
abordagem da agência no Código Civil, mesmo havendo uma
atividade idêntica já abordada em Lei Especial – apenas em nome
diferente, tinha o objetivo de que a atividade do agente pudesse ser
realizada sem o registro profissional. Apesar disso, existem diversas
vantagens que podem ser obtidas por meio do registro, de forma
que o agente se torna representante comercial.
b. Vantagens do representante comercial. São algumas delas:
36

i. Equiparação à crédito trabalhista. Conforme o art. 44, Lei 4.886/65,


“[N]O CASO DE FALÊNCIA DO REPRESENTADO AS IMPORTÂNCIAS POR ELE
DEVIDAS AO REPRESENTANTE COMERCIAL, RELACIONADAS COM A
REPRESENTAÇÃO, INCLUSIVE COMISSÕES VENCIDAS E VINCENDAS,
INDENIZAÇÃO E AVISO PRÉVIO, SERÃO CONSIDERADOS CRÉDITOS DA MESMA
NATUREZA DOS CRÉDITOS TRABALHISTAS”. O representante comercial
tem, portanto, crédito equiparado à trabalhista em caso de falência do
representado. Isso é muito importante, na medida em que os créditos
trabalhistas têm preferência no caso de falência, enquanto os créditos do
agente são de privilégio geral, quase quirografário, nos termos do art.
707, CC.
1. Equiparação de regras. Conforme o art. 721, CC, “[A]PLICAM-SE
AO CONTRATO DE AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO, NO QUE COUBER, AS
REGRAS CONCERNENTES AO MANDATO E À COMISSÃO E AS
CONSTANTES DE LEI ESPECIAL”.
ii. Ação de Cobrança de Comissão. O agente, na Ação de Cobrança de
Comissão, tem seu Processo regido pelo Código de Processo Civil, de
forma que têm de ser propostas no domicílio do réu, devedor. O
representante comercial, por outro lado, conforme o art. 39, Lei 4.886/65,
tem a prerrogativa de propor a Ação de Cobrança em seu domicílio.
iii. Cláusula de indenização devida ao representante comercial. No
contrato de representação comercial, existe uma cláusula obrigatória que
não existe no contrato de agência, denominada cláusula de indenização
devida ao representante comercial. Ela incide em caso de rescisão do
contrato de representação sem justa causa. Conforme o art. 27, alínea
“j”, Lei 4.886/65, “[D]O CONTRATO DE REPRESENTAÇÃO COMERCIAL, ALÉM
DOS ELEMENTOS COMUNS E OUTROS A JUÍZO DOS INTERESSADOS, CONSTARÃO
OBRIGATORIAMENTE: INDENIZAÇÃO DEVIDA AO REPRESENTANTE PELA
RESCISÃO DO CONTRATO FORA DOS CASOS PREVISTOS NO ART. 35, CUJO
MONTANTE NÃO PODERÁ SER INFERIOR A 1/12 (UM DOZE AVOS) DO TOTAL DA
RETRIBUIÇÃO AUFERIDA DURANTE O TEMPO EM QUE EXERCEU A
REPRESENTAÇÃO”.
c. Diferença entre agência e corretagem. São duas as diferenças entre a agência e
a corretagem:
i. “Zona determinada”. O agente atua em “zona determinada”, enquanto
o corretor não.
37

ii. Mandato. O agente pode representar o seu cliente na celebração dos


negócios, na conclusão dos contratos. Ele pode ser, portanto,
mandatório dos clientes. O corretor, por outro lado, não tem essa
prerrogativa. Quando o agente tem à sua disposição a coisa a ser
negociada, diz-se contrato de distribuição.
4. Leiloeiros. A profissão do leiloeiro era originariamente regulada no Código
Comercial, da mesma forma que os corretores. No entanto, desde 1932, o leiloeiro
ganhou um estatuto próprio em Lei Especial, a saber o Decreto 21.981/1932.
a. Retrospectiva história. Apesar de ser classificado como Decreto, essa
regulamentação goza de força de lei ordinária, pois foi baixado no governo
provisório de Vargas, período em que era chefe de governo. Nesse período de
exceção, o chefe de governo legislava, pois a Assembleia tinha sido dissolvida.
Nesse sentido, toda a atividade legislativa de 1930 pós-deposição de
Washington Luís até o advento da Constituição de 1934 – período do governo
provisório de Vargas – decorre de Decreto. Só houve Lei, propriamente, de 1935
até 1937. Entre 1937 até 1946, voltam os Decretos-Lei. Após 1946, há Leis. Por
fim, após 1969, no governo militar, há Leis e Decretos-Lei.
b. Função do leiloeiro. Conforme o art. 19, Decreto 21.981/1932, “[C]OMPETE AOS
LEILOEIROS, PESSOAL E PRIVATIVAMENTE, A VENDA EM HASTA PÚBLICA [LEILÃO
JUDICIAL] OU PÚBLICO PREGÃO, DENTRO DE SUAS PRÓPRIAS CASAS OU FORA DELAS,
INCLUSIVE POR MEIO DA REDE MUNDIAL DE COMPUTADORES, DE TUDO QUE, POR
AUTORIZAÇÃO DE SEUS DONOS POR ALVARÁ JUDICIAL, FOREM ENCARREGADOS,
TAIS COMO IMÓVEIS, MÓVEIS, MERCADORIAS, UTENSÍLIOS, SEMOVENTES E MAIS
EFEITOS, E A DE BENS MÓVEIS E IMÓVEIS PERTENCENTES ÀS MASSAS FALIDAS,
LIQUIDAÇÕES JUDICIAIS, PENHORES DE QUALQUER NATUREZA, INCLUSIVE DE JOIAS
E WARRANTS DE ARMAZÉNS GERAIS, E O MAIS QUE A LEI MANDE, COM FÉ DE OFICIAIS
PÚBLICOS”. Sua função é então, realizar venda em leilão, seja privado, seja público.
i. Observação. A venda em hasta pública é o leilão judicial, público,
enquanto a venda em público pregão é leilão de caráter privado.
ii. Leiloeiro público. Esse leiloeiro, regulado por esse Decreto, é
denominado leiloeiro público, sendo o único que pode realizar hasta
pública e realizar efetivamente leilões.
c. Matrícula. A profissão de leiloeiro requer matrícula nas Juntas Comerciais,
motivo pelo qual apenas os leiloeiros públicos são os únicos que podem realizar
hastas públicas. Conforme o art. 1º, Decreto 21.981/1932, “[A] PROFISSÃO DE
LEILOEIRO SERÁ EXERCIDA MEDIANTE MATRÍCULA CONCEDIDA PELAS JUNTAS
COMERCIAIS, DO DISTRITO FEDERAL, DOS ESTADOS E TERRITÓRIO DO ACRE, DE
38

ACORDO COM AS DISPOSIÇÕES DESTE REGULAMENTO”. Ele é, portanto, um


profissional liberal, um colaborador do empresário, mas tem regulação própria.
i. Atribuição própria e competência privativa. O leiloeiro pode ser
considerado um empresário, pode ter sua atividade considerada como
empresa, mas não pode exercer qualquer atividade que não seja atividade de
leilão, sob pena de destituição. Em contrapartida, o leiloeiro tem garantia
de que somente ele – leiloeiro público – irá ser nomeado para realizar
leilão judicial ou fazer leilões na forma do art. 19, Decreto 21.981/1932.
O juiz só irá designar para leilão judicial, portanto, o leiloeiro público. Da
mesma forma, pessoas, quando contratam leiloeiros, só poderão
contratar leiloeiro público. O mesmo ocorre com o tradutor público ou o
tradutor juramentado.
d. Prerrogativas do leiloeiro público. São elas:
i. Privatividade da realização de hastas públicas.
ii. Detenção de fé-pública, nos termos do art. 35, Decreto 21.981/1932,
assentando-se que “[A]S CERTIDÕES OU CONTAS QUE OS LEILOEIROS
EXTRAÍREM DE SEUS LIVROS, QUANDO ESTES SE REVESTIREM DAS
FORMALIDADES LEGAIS, RELATIVAMENTE À VENDA DE MERCADORIAS OU DE
OUTROS QUAISQUER AFEITOS QUE PELA LEI SÃO LEVADOS A LEILÃO, TÊM FÉ
PÚBLICA”
e. Requisitos para profissão de leiloeiro. Nos termos do art. 2º, Decreto
21.981/1932, são elas:
Art. 2º Para ser leiloeiro, é necessário provar:

a) ser cidadão brasileiro e estar no gozo dos direitos civis e políticos;

b) ser maior de vinte e cinco anos;

c) ser domiciliado no lugar em que pretenda exercer a profissão, há mais de cinco anos;

d) ter idoneidade, comprovada com apresentação de caderneta de identidade e de certidões negativas dos
distribuidores, no Distrito Federal, da Justiça Federal e das Varas Criminais da Justiça local, ou de folhas
corridas, passadas pelos cartórios dessas mesmas Justiças, e, nos Estados e no Território do Acre, pelos Cartórios
da Justiça Federal e Local do distrito em que o candidato tiver o seu domicílio.

Apresentará, também, o candidato, certidão negativa de ações ou execuções movidas contra ele no foro civil
federal e local, correspondente ao seu domicílio e relativo ao último quinquênio.

i. Observação. O leiloeiro pode ser tanto o brasileiro nato quanto


naturalizado.
f. Vedações ao exercício da profissão de leiloeiro. São elas, nos termos do art. 3º,
Decreto 21.981/1932:
39

Art. 3º Não podem ser leiloeiros:

a) os que não podem ser comerciantes;

b) os que tiverem sido destituídos anteriormente dessa profissão, salvo se o houverem sido a pedido;

c) os falidos não reabilitados e os reabilitados, quando a falência tiver sido qualificada como culposa ou fraudulenta.

i. Observações. Portanto, aqueles que incidem nas causas impedimento


para ser empresários não podem ser leiloeiros.
g. Nomeação. Os leiloeiros são nomeados pelo Presidente da Junta comercial do
Estado em que vai atuar, deferindo ou não o pedido de matrícula.
i. Fiança. O leiloeiro, para ser matriculado na Junta Comercial, tem de
prestar fiança, mediante depósito bancário. O Decreto 21.981/1932
arbitrava essa quantia em 40 contos de rés. Atualmente, o valor é de R$
40.000,00. Eventualmente, são suscitadas questões quanto á
constitucionalidade de fiança. No entanto, diversas outras atividades
também podem exigir um capital mínimo. Uma resposta de
inconstitucionalidade da fiança por parte do Supremo geraria, portanto,
um questionamento sistêmico.
h. Caracterização. O leiloeiro é um empresário de direito. No entanto, é dito
empresário de categoria especial, por três motivos principais:
i. Exigência da matrícula;
ii. Prestação de fiança;
1. Finalidade. Nos termos do art. 7º, Decreto 21.981/1932, “[A]
FIANÇA RESPONDE PELAS DÍVIDAS OU RESPONSABILIDADES DO
LEILOEIRO, ORIGINADAS POR MULTAS, INFRAÇÕES DE DISPOSIÇÕES
FISCAIS, IMPOSTOS FEDERAIS E ESTADUAIS RELATIVOS À PROFISSÃO,
SALDOS E PRODUTOS DE LEILÕES OU SINAIS QUE ELE TENHA RECEBIDO
E PELAS VENDAS EFETUADAS DE BENS DE QUALQUER NATUREZA, E
SUBSISTIRÁ ATÉ 120 DIAS, APÓS HAVER DEIXADO O EXERCÍCIO DA
PROFISSÃO, POR EXONERAÇÃO VOLUNTÁRIA, DESTITUIÇÃO OU
FALECIMENTO”.
i. Vedações ao leiloeiro. Nos termos do art. 36, Decreto 21.981/1932, são elas:
Art. 36. É proibido ao leiloeiro:

a) sob pena de destituição:

1º, exercer o comércio direta ou indiretamente no seu ou alheio nome;

2º, constituir sociedade de qualquer espécie ou denominação;

3º, encarregar-se de cobranças ou pagamentos comerciais;


40

b) sob pena de multa de 2:000$000:

Adquirir para si, ou para pessoas de sua família, coisa de cuja venda tenha sido incumbido, ainda que a pretexto
de destinar-se a seu consumo particular.

Parágrafo único. Não poderão igualmente os leiloeiros, sob pena de nulidade de todos os seus atos, exercer a
profissão nos domingos e dias feriados nacionais, estaduais ou municipais, delegar a terceiros os pregões,
nem realizar mais de dois leilões no mesmo dia em locais muito distantes entre si, a não ser que se trate de
imóveis próximos ou de prédios e móveis existentes no mesmo prédio, considerando-se, nestes casos, como de
um só leilão os respectivos pregões.

j. Livros do leiloeiro. Os livros do leiloeiro, sabidamente, gozam de fé pública,


nos termos do art. 36, Decreto 21.981/1932. A normas que regulam os livros do
leiloeiro estão nos arts. 31 e 32, Decreto 21.981/1932.
i. Tipos de livro. O leiloeiro tem de possuir seis livros, sendo de:
1. Escrituração. Três dos seis são livros de escrituração,
apresentados a um contador – de onde se depreende que o
leiloeiro tem de possuir um contador que manuseie seus livros.
São eles:
Art. 31. São livros obrigatórios do leiloeiro:

I. Diário de entrada, destinado à escrituração diária de todas as mercadorias, móveis, objetos e mais efeitos
remetidos para venda em leilão no armazém, escriturado em ordem cronológica, sem entrelinhas, emendas ou
rasuras, de acordo com a relação a que se refere o art. 20,

II. Diário de saída, destinado à escrituração das mercadorias efetivamente vendidas ou saídas do armazém com
a menção da data do leilão, nomes dos vendedores e compradores, preços obtidos por lotes e o total das vendas
de cada leilão, extraído do Diário de leilões.

III, Contas correntes, destinado aos lançamentos de todos os produtos líquidos apurados para cada comitente,
de acordo com as contas de que trata o § 1º do art. 27, e dos sinais recebidos pelas vendas de Imóveis.

Parágrafo único. O balanço entre os livros – Diário de entrada a Diário de saída – determinará a existência dos
efeitos conservados no armazém do leiloeiro.

2. Fiscalização. Os outros três livros são de fiscalização. São eles:


Art. 32. Além dos livros exigidos no artigo precedente, os leiloeiros terão mais os seguintes, legalizados nas
juntas Comerciais, mas isentos de selo, por serem de mera fiscalização.

I. Protocolo, para registar as entregas das contas de venda e das cartas a que se referem, respectivamente, os
artigos 20 e 21.

II. “Diário de leilões”, que poderá desdobrar-se em mais de um livro, para atender ás necessidades do
movimento da respectiva agencia, e em que serão escriturados a tinta, no ato do leilão, sem emendas ou rasuras
que possam levantar dívida, todos os leilões que o leiloeiro realizar, com catalogo ou sem ele, inclusive os do
respectivo armazém, observadas na sua escrituração as mesmas normas que se observam na do "Diário de
saída”, com a indicação da data do leilão, nome de quem o autorizou, número dos lotes, nomes dos
compradores, preço de venda de cada lote, e soma total do produto bruto do leilão, devendo a escrituração
41

desse livro conferir exatamente com a descrição dos lotes o os preços declarados na conta de venda fornecida
ao comitente.

III. Livro talão, de cópia carbônica, para extração das faturas destinadas aos arrematantes de lotes, com
indicação do nome por inteiro de cada um e seu endereço.

k. Contratos estabelecidos pelo leiloeiro. O leiloeiro pode estabelecer contratos


de mandato ou de comissão, nos termos do art. 40, Decreto 21.981/1932. Será de
mandato o contrato em que o leiloeiro realiza a venda em nome do cliente, como
mandatário do cliente. Será de comissão quando a venda é realizada em nome do
próprio leiloeiro ao interesse do cliente.
i. Contrato de mandato. No contrato de mandato, o mandante é parte do
contrato, enquanto o mandatário atua em nome do mandante.
ii. Contrato de comissão. No contrato de comissão, por outro lado, o
comitente tem a venda feita à sua conta, mas é parte no contrato – venda
em seu nome – o comissário. Nos termos do art. 693, CC “[O] CONTRATO
DE COMISSÃO TEM POR OBJETO A AQUISIÇÃO OU A VENDA DE BENS PELO
COMISSÁRIO, EM SEU PRÓPRIO NOME, À CONTA DO COMITENTE”.
l. Comissão do leiloeiro. A comissão do leiloeiro é regida pelo art. 24, Decreto
21.981/1932. Importante destacar que o leiloeiro recebe comissão tanto da
pessoa que contrata os seus serviços como também dos arrematantes:
Art. 24. A taxa da comissão dos leiloeiros será regulada por convenção escrita que, sobre todos ou alguns dos
efeitos a vender, eles estabelecerem com os comitentes. Em falta de estipulação prévia, regulará a taxa de 5% (cinco
por cento), sobre moveis, mercadorias, joias e outros efeitos e a de 3 % (três por cento), sobre bens imóveis de
qualquer natureza.

i. Diferença do corretor. O corretor, por outro lado, só recebe comissão de quem


contrata o seu serviço. A taxa é regulada por convenção – contratual –
estipulada pelos comitentes. Não havendo estipulação, a comissão é de
5%.
m. Comentário ao art. 29, Decreto 21.981/1932. O art. 29, Decreto 21.981/1932
aborda a falência fraudulenta. Nos seus termos, o leiloeiro é considerado como
fiel depositário dos bens, de forma que sua falência é fraudulenta e, segundo
o artigo, criminosa. No entanto, o artigo não comina uma pena para a conduta
reputada criminosa em seu caput. Até 2005, a Lei de Falência cominava penas
de reclusão para o leiloeiro falido. No entanto, a atual Lei de Falências foi
omissa, não cominando pena alguma.
i. Ilícito civil. Apesar da impossibilidade de condenação penal pela
ausência de pena cominada, há possibilidade de indenização civil. A
fraude passou, então, a ser civil, não penal.
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Obrigações do Empresário

5. Obrigações de empresário. Estão dispostas no art. 967, CC. São elas:


a. Obrigação de registro;
b. Obrigação de ter livros;
c. Obrigação de ter balanços;
d. Obrigação de guardar de documentos.
6. Obrigação de registro. Sabidamente, o registro é obrigatório. Porém, é apenas um
elemento complementar para sua caracterização substancial do empresário comum.
Quanto ao empresário rural, por outro lado, o registro não tem natureza meramente
declaratória, mas constitutiva. O Registro Empresarial é regulado pela Lei 8.934/94, Lei
do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins.
a. Terminologia. Desde 2013, o termo Registro Público de Empresas Mercantis -
utilizado a partir de 1994 – foi simplificado, passando a ser denominado
Registro Empresarial. Mais antigamente ainda, antes de 1994, a expressão era
Registro do Comércio.
b. Finalidades do registro. Nos termos do art. 1º, Lei 8.934/94:
Art. 1º O Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins, observado o disposto nesta Lei, será
exercido em todo o território nacional, de forma sistêmica, por órgãos federais, estaduais e distrital, com as seguintes
finalidades:

I - dar garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos das empresas mercantis,
submetidos a registro na forma desta lei;

II - cadastrar as empresas nacionais e estrangeiras em funcionamento no País e manter atualizadas as


informações pertinentes;

III - proceder à matrícula dos agentes auxiliares do comércio, bem como ao seu cancelamento.

c. Órgãos do Registro Empresarial. São eles:


i. Nível estadual e Distrito Federal. Em nível estadual e no Distrito
Federal, existem as Juntas Comerciais, responsáveis pela execução do
Registro Empresarial e emissão do NIRE. Algumas das Juntas
Comerciais estão dentro da Administração Pública Direta, enquanto
outras são constituídas na Administração Pública Indireta, na forma de
autarquias. Independentemente do tipo, todas as Juntas Comerciais estão
subordinadas ao DREI.
ii. Nível federal. Em nível federal, tem-se o Departamento Nacional de
Registro Empresarial e Integração (DREI), antigo Departamento
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Nacional de Registro do Comércio (DNRC), cuja função é de


normatização quanto ao Registro Empresarial.
1. Nível municipal. Não existe nenhuma estrutura em nível
municipal. No entanto, há previsão de possibilidade de
celebração de convênios com os municípios para prestação de
serviços em âmbito local. De qualquer forma, não há órgão.
d. Informações englobadas pelo registro: Conforme o art. 32, II, Lei 8.934/94, o
Registro engloba:
II - O arquivamento:

a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais,
sociedades mercantis e cooperativas;

b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;

c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil;

d) das declarações de microempresa;

e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis;

e. Pessoas sujeitas à matrícula. Conforme o art. 32, II, alínea “a”, Lei 8.934/94,
estão sujeitas à matrícula:
i. Leiloeiros.
ii. Tradutores públicos e intérpretes comerciais, que tem fé-pública;
iii. Trapicheiro. Trabalha com depósito de mercadorias no litoral.
iv. Administradores de armazém-gerais. Trabalha com depósito de
mercadorias fora do litoral.
f. Função normativa do DREI. Nos termos dos arts. 3º e 4º, Lei 8.934/94, o DREI
tem função normativa. Em contrapartida, quem realmente faz as tarefas de
registro são as juntas comerciais. O DREI, portanto, não se relaciona diretamente
com o empresário.
g. Divisão e jurisdição das juntas comerciais. Nos termos do art. 5º, Lei 8.934/94,
“[H]AVERÁ UMA JUNTA COMERCIAL EM CADA UNIDADE FEDERATIVA, COM SEDE NA
CAPITAL E JURISDIÇÃO NA ÁREA DA CIRCUNSCRIÇÃO TERRITORIAL RESPECTIVA”.
i. Subordinação das Juntas Comerciais. Conforme o art. 6º, Lei 8.934/94,
as Juntas Comerciais se subordinam administrativamente ao governo de
cada Estado. Porém, de ponto de vista técnico, se submetem ao DREI.
ii. Finalidade das Juntas Comerciais. Nos termos do art. 8º, Lei 8.934/94:
Art. 8º Às Juntas Comerciais incumbe:

I - executar os serviços previstos no art. 32 desta lei;


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II - elaborar a tabela de preços de seus serviços, observadas as normas legais pertinentes;

III - processar a habilitação e a nomeação dos tradutores públicos e intérpretes comerciais;

IV - elaborar os respectivos Regimentos Internos e suas alterações, bem como as resoluções de caráter
administrativo necessárias ao fiel cumprimento das normas legais, regulamentares e regimentais;

V - expedir carteiras de exercício profissional de pessoas legalmente inscritas no Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins;

VI - o assentamento dos usos e práticas mercantis.

1. Assentamento dos usos e práticas comerciais. Dentre as funções


das Juntas Comerciais, a que chama mais atenção é aquela
disposta no inciso VI. Sabidamente, os usos são fontes mediatas do
Direito Comercial. Como os usos comerciais em geral são verbais,
as Juntas Comerciais têm a competência de assentar – tornar
escrito – esses usos. A Lei 8.934/94 apenas atribui a competência
de assentamento, sendo a regulamentação da atividade presente
no art. 87, Decreto 1.800/96. Nesse sentido, a Junta terá um livro
próprio para descrever as atividades mercantis, sendo o ato feito
de ofício ou por provocação da procuradoria da junta. Caso
verificado que o uso não é contra legem, ele é assentado. Por fim,
importante destacar que os usos são sempre locais e estaduais.
h. NIRE. O NIRE é o número de cadastramento do empresário. Nos termos do
art. 2º, parágrafo único, Lei 8.934/94, “[F]ICA INSTITUÍDO O NÚMERO DE
IDENTIFICAÇÃO DO REGISTRO DE EMPRESAS (NIRE), O QUAL SERÁ ATRIBUÍDO A
TODO ATO CONSTITUTIVO DE EMPRESA, DEVENDO SER COMPATIBILIZADO COM OS
NÚMEROS ADOTADOS PELOS DEMAIS CADASTROS FEDERAIS, NA FORMA DE
REGULAMENTAÇÃO DO PODER EXECUTIVO”.

AULA 5

Registro Empresarial e as Juntas Comerciais

1. Recorribilidade na Junta Comercial. Caso uma pessoa se sinta prejudicada por uma
decisão técnica da Junta Comercial, oriunda de normativa do DREI, é imposto mandado
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de segurança na Justiça Federal. Por outro lado, uma decisão administrativa da Junta
Comercial tem de ser questionada na Justiça Estadual.
2. Retrospectiva histórica e surgimento das Juntas Comerciais. A Junta Comercial é
composta por um colegiado, e sua origem está nos Tribunais de Comércio, órgão no qual
eram feitas as matrículas e tinham funções jurisdicionais. Esse Tribunais foram
extintos há tempos. Depois de sua extinção, os órgãos passaram a ter funções apenas
administrativas, sem função jurisdicional, tornando-se Juntas Comerciais.
3. Composição da Junta Comercial e os vogais. A composição da Junta Comercial está
prevista no art. 12, Lei 8.934/94. O colegiado das Juntas Comerciais é composto por
julgadores no plano administrativo denominados vogais. Quem fixa os vogais é a Lei
Estadual, bem como o seu número, podendo variar de 11 a 23, de acordo com o art.
10, Lei 8.934/94. No Rio de Janeiro, há 20 vogais na Junta Comercial.
a. Classificação dos vogais. Os vogais não são servidores públicos de forma
propriamente dita. Na verdade, cumprem um mandato de 4 anos, nos termos do
art. 16, Lei 8.934/94, sendo permitida apenas uma recondução. Os vogais não são,
portanto, concursados e estáveis. No entanto, enquanto vogais, eles entram na
folha de pagamento do estado, mas em estado precário, temporário. Seria como
a situação de um professor substituto.
b. Critérios de composição da Junta Comercial. Esses critérios estão presentes no
art. 11, Lei 8.934/94. São eles:
Art. 11. Os vogais e respectivos suplentes serão nomeados, salvo disposição em contrário, pelos governos dos
Estados e do Distrito Federal, dentre brasileiros que atendam às seguintes condições:

I - estejam em pleno gozo dos direitos civis e políticos;

II - não estejam condenados por crime cuja pena vede o acesso a cargo, emprego e funções públicas, ou por
crime de prevaricação, falência fraudulenta, peita ou suborno, concussão, peculato, contra a propriedade, a fé
pública e a economia popular;

III - sejam, ou tenham sido, por mais de cinco anos, titulares de firma mercantil individual, sócios ou
administradores de sociedade mercantil, valendo como prova, para esse fim, certidão expedida pela junta
comercial;

IV - estejam quites com o serviço militar e o serviço eleitoral.

Parágrafo único. Qualquer pessoa poderá representar fundadamente à autoridade competente contra a
nomeação de vogal ou suplente, contrária aos preceitos desta lei, no prazo de quinze dias, contados da data da
posse.

1. Falência fraudulenta. Falência fraudulenta é aquela punida com


reclusão.
2. Terceiro requisito. Quanto ao terceiro requisito, não precisa se
tratar necessariamente de atividade no âmbito da Junta Comercial.
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Ainda, o acionista também figura como sócio, de forma que, se


foi acionista por cinco anos, satisfez esse requisito.
c. Composição numérica. Cada vogal possui um suplente. A composição é feita
da seguinte forma:
Art. 12. Os vogais e respectivos suplentes serão escolhidos da seguinte forma:

I - a metade do número de vogais e suplentes será designada mediante indicação de nomes, em listas tríplices,
pelas entidades patronais de grau superior e pelas Associações Comerciais, com sede na jurisdição da junta;

i. Desprezo da fração. Se a metade do número não resultar em número


exato, despreza-se a fração.
ii. Órgão classista. A ideia, aqui, é que as associações tenham força na Junta
Comercial. Em verdade, a Junta é um órgão classista, justificando essa
concessão.
Vagas Remanescentes:

II - um vogal e respectivo suplente, representando a União Federal, por nomeação do Ministro de Estado da
Justiça;

III – quatro vogais e respectivos suplentes representando a classe dos advogados, a dos economistas, a dos
contadores e a dos administradores, todos mediante indicação, em lista tríplice, do Conselho Seccional ou
Regional do Órgão Corporativo dessas categorias profissionais.

iii. Entidades de classe. Cada conselho indica para o governador uma lista
tríplice, com os indicados por aquela entidade
IV - os demais vogais e suplentes serão designados, nos Estados e no Distrito Federal, por livre escolha dos
respectivos governadores.

iv. Base classista e caráter político. Percebe-se, então, que a base da Junta
Comercial é classista, mas com forte conotação política. O governador não
tem nenhuma obrigação de realizar uma indicação técnica, apenas de
indicar nomes que satisfaçam os requisitos comuns a todos os vogais.
d. Presidente da Junta Comercial. O Presidente da Junta Comercial é nomeado
pelo governador do Estado, escolhido dentre os vogais. Ele é, também, um
vogal, assim como o vice-presidente da Junta Comercial. Conforme o art. 23,
Lei 8.934/94:
Art. 23. Compete ao presidente:

I - a direção e representação geral da junta;

II - dar posse aos vogais, convocar e dirigir as sessões do Plenário, superintender todos os serviços e velar pelo
fiel cumprimento das normas legais e regulamentares.

e. Secretário-geral. O secretário-geral da junta não é um vogal, sendo um cargo


primordialmente técnico. Ele é nomeado pelo governador do Estado, sendo um
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cargo em comissão. Esse cargo exige conhecimentos em Direito Empresarial.,


nos termos do art. 25, Lei 8.934/94, a “ESCOLHA RECAIRÁ SOBRE BRASILEIROS DE
NOTÓRIA IDONEIDADE MORAL E CONHECIMENTOS EM DIREITO EMPRESARIAL.
Apesar disso, não há prova técnica, mas o mínimo que se espera é que ele seja
formado em Direito e tenha atuação na área. O secretário-geral, diferentemente
dos vogais, não tem poder decisório.
i. Função. Conforme o art. 26, Lei 8.934/94, “[À] SECRETARIA-GERAL
COMPETE A EXECUÇÃO DOS SERVIÇOS DE REGISTRO E DE ADMINISTRAÇÃO DA
JUNTA”. Perceptível, portanto, que ele precisa conhecer a Lei e os atos
normativos do DREI.
f. Órgão público. Qualquer pessoa pode ter acesso aos assentamentos das Juntas
Comerciais, obtendo certidões, mediante emolumentos, conforme os arts. 29 e
30, Lei 8.934/94. As consultas são feitas mediante requerimento, não havendo,
obviamente, acesso direito aos arquivos da Junta Comercial.
4. Funções do Registro e abrangência. Nos termos do art. 32, Lei 8.934/94. o Registro
Empresarial tem uma concepção bastante ampla, não sendo apenas o registro do
empresário ou da sociedade empresária. São funções da Junta Comercial, nos termos do
dispositivo:
a. “[A] MATRÍCULA E SEU CANCELAMENTO: DOS LEILOEIROS, TRADUTORES PÚBLICOS E
INTÉRPRETES COMERCIAIS, TRAPICHEIROS E ADMINISTRADORES DE ARMAZÉNS-
GERAIS”.
i. Certas pessoas dependem de matrícula para exercer as suas funções.
Algumas são empresários outras não. Leiloeiro é empresário, sim, mas
apenas da atividade de leilão. Tradutor público e intérprete comercial,
em regra, não são empresários, pois atuam em atividade intelectual de
natureza científica. E atividade intelectual de natureza científica, em
regra, não é atividade própria de empresário. Porém, está sujeita à
matrícula. É uma exigência da lei que o tradutor público precisa estar
matriculado na Junta Comercial. Portanto, nem toda pessoa sujeita à
matrícula é empresário.
ii. “ARQUIVAMENTO”. A Junta é responsável pelo arquivamento dos
seguintes documentos:
a) dos documentos relativos à constituição, alteração, dissolução e extinção de firmas mercantis individuais,
sociedades mercantis e cooperativas;

1. Distinção entre firma e pessoa. Lembre-se que a firma não é a


pessoa. A pessoa é o empresário individual, enquanto a firma é o
nome adotado pelo empresário no exercício da empresa.
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2. Anacronismo. A Lei de Registro Empresarial é de 1994, momento


anterior à adoção da Teoria da Empresa no Código Civil de 2002.
As sociedades mercantis são as ditas, atualmente, sociedades
empresárias.
b) dos atos relativos a consórcio e grupo de sociedade de que trata a Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1976;

1. Natureza. Consórcio e grupos de sociedade não são pessoas


jurídicas, sendo suas denominações feitas apenas para efeitos de
publicidade. Não se cria um novo sujeito de direito por nenhum desses
dois institutos. Cada consorciado é uma pessoa distinta.
c) dos atos concernentes a empresas mercantis estrangeiras autorizadas a funcionar no Brasil;

1. Sociedade estrangeira. O conceito de sociedade estrangeira é


aferido por antítese, a partir do art. 1.126, CC. Sendo assim,
sociedade estrangeira é aquela que não se enquadra no conceito
de sociedade nacional. É, portanto, constituída por Lei
estrangeira com sede em País estrangeiro. Conforme o art. 1.134,
CC, a sociedade estrangeira só pode funcionar no Brasil mediante
autorização. Essa autorização é arquivada na Junta Comercial.
d) das declarações de microempresa;

1. Categorias especiais. A microempresa pressupõe a regularidade


do empresário. Nesse sentido, a declaração de microempresa é
sempre suplementar à inscrição da Junta Comercial.
e) de atos ou documentos que, por determinação legal, sejam atribuídos ao Registro Público de Empresas
Mercantis e Atividades Afins ou daqueles que possam interessar ao empresário e às empresas mercantis;

1. Exemplos. Exemplo são as atas de assembleia de sociedades


anônimas e limitadas, que têm de ser apresentadas à Junta
Comercial, nos termos do art. 1.075, § 2º, CC.
iii. Assentamento de usos e práticas mercantis.
iv. “[A] AUTENTICAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE ESCRITURAÇÃO DAS
EMPRESAS MERCANTIS REGISTRADAS E DOS AGENTES AUXILIARES DO
COMÉRCIO, NA FORMA DE LEI PRÓPRIA”.
1. Documentos de extinção das sociedades empresariais.
Conforme o art. 60, Lei 8.934/94, “[A] FIRMA INDIVIDUAL OU A
SOCIEDADE QUE NÃO PROCEDER A QUALQUER ARQUIVAMENTO NO
PERÍODO DE DEZ ANOS CONSECUTIVOS DEVERÁ COMUNICAR À JUNTA
COMERCIAL QUE DESEJA MANTER-SE EM FUNCIONAMENTO”. Essa
disposição, naturalmente, é uma expressão do atributo de
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habitualidade e efetividade para caracterização da atividade de


empresa. Existe, portanto, uma presunção nesse dispositivo
5. Instrução do pedido de arquivamento na Junta Comercial. O processo de
arquivamento de documentação na Junta Comercial é regido pelo art. 37, Lei 8.934/94:
Art. 37. Instruirão obrigatoriamente os pedidos de arquivamento:

I - o instrumento original de constituição, modificação ou extinção de empresas mercantis, assinado pelo titular,
pelos administradores, sócios ou seus procuradores;

II - declaração do titular ou administrador, firmada sob as penas da lei, de não estar impedido de exercer o
comércio ou a administração de sociedade mercantil, em virtude de condenação criminal.

a. Os empresários devem apresentar apenas uma declaração de próprio punho – não


há necessidade de documentação de órgão público – de que não têm causas de
impedimento. Se a declaração for falsa, poderá haver indiciamento pelo crime
de falsidade ideológica. Sabidamente, a Junta não tem poder de cassar o
registro empresarial. A única possibilidade é o sofrimento de sanção pela
pessoa do órgão que ela está descumprindo.
III - a ficha cadastral de acordo com o modelo aprovado pelo Departamento Nacional de Registro Empresarial
e Integração;

IV - os comprovantes de pagamento dos preços dos serviços correspondentes;

V - a prova de identidade dos titulares e dos administradores da empresa mercantil.

Parágrafo único. Além dos referidos neste artigo, nenhum outro documento será exigido das firmas individuais
e sociedades referidas nas alíneas a, b e d do inciso II do art. 32.

6. Documentos que não podem ser arquivados pela Junta Comercial. O art. 35, Lei
8.934/94, estabelece os documentos que não podem ser arquivados pela Junta
Comercial, devendo a Junta baixar uma exigência ou requerimento, e se a exigência
não for cumprida, há o indeferimento. Sabidamente, a análise da Junta Comercial é
apenas objetiva, nunca subjetiva. Com efeito, os impedimentos legais são causas
objetivas. A Junta apenas pode, então, devolver, indeferir ou baixar em exigência:
Art. 35. Não podem ser arquivados:

I - os documentos que não obedecerem às prescrições legais ou regulamentares ou que contiverem matéria
contrária aos bons costumes ou à ordem pública, bem como os que colidirem com o respectivo estatuto ou
contrato não modificado anteriormente;

a. Bons costumes. Essa cláusula é extremamente subjetiva, de forma que a Junta


se utiliza dessa prerrogativa apenas em casos teratológicos. É preciso que haja
vedação expressa.
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II - os documentos de constituição ou alteração de empresas mercantis de qualquer espécie ou modalidade em


que figure como titular ou administrador pessoa que esteja condenada pela prática de crime cuja pena vede o
acesso à atividade mercantil;

a. Crimes. Esses crimes estão tipificados no do art. 1.011, § 1º, CC.


III - os atos constitutivos de empresas mercantis que, além das cláusulas exigidas em lei, não designarem o
respectivo capital, bem como a declaração precisa de seu objeto, cuja indicação no nome empresarial é
facultativa;

a. Cláusulas. Essas cláusulas estão no art. 997, CC.


b. Obrigatoriedade do nome empresarial. A facultatividade caiu para a sociedade
limitada e sociedade anônima, sendo, na realidade, obrigatório.
IV - a prorrogação do contrato social, depois de findo o prazo nele fixado;

a. Prorrogação. Essa prorrogação deve acontecer enquanto o contrato estiver


vigorando, nunca quando expirar. Caso expire, é preciso de instituição de novo
contrato.
V - os atos de empresas mercantis com nome idêntico ou semelhante a outro já existente;

a. Critério da anterioridade. Aqui se tem, claramente, a aplicação do critério é da


anterioridade, prevalecendo o nome instituído pioneiramente.
VI - a alteração contratual, por deliberação majoritária do capital social, quando houver cláusula restritiva;

VII - os contratos sociais ou suas alterações em que haja incorporação de imóveis à sociedade, por instrumento
particular, quando do instrumento não constar:

a) a descrição e identificação do imóvel, sua área, dados relativos à sua titulação, bem como o número da
matrícula no registro imobiliário;

b) a outorga uxória ou marital, quando necessária;

VIII - os contratos ou estatutos de sociedades mercantis, ainda não aprovados pelo Governo, nos casos em que
for necessária essa aprovação, bem como as posteriores alterações, antes de igualmente aprovadas.

Parágrafo único. A junta não dará andamento a qualquer documento de alteração de firmas individuais ou
sociedades, sem que dos respectivos requerimentos e instrumentos conste o Número de Identificação de
Registro de Empresas (Nire).

b. CNPJ. O NIRE nada tem a ver com o CNPJ, que é, na realidade, ligado a fins
tributários.
7. Decisões na Junta Comercial. Os Processo na Junta Comercial são processos
administrativos, estando sujeitos à controle de legalidade e suscetíveis de apreciação
pelo Judiciário. Apesar de ser um processo administrativo, a parte prejudicada pode
ter acesso à Justiça, não havendo impedimento nesse sentido.
a. Regimes de decisão. As decisões da Junta Comercial estão sujeitas a dois
regimes:
51

i. Regime de decisão singular por distribuição. É a regra geral. O


Presidente, um vogal, ou um servidor indicado por um vogal que possua
comprovados conhecimentos de Direito Comercial e de Registro
Empresarial realiza uma decisão monocrática sobre o pedido. Esse
servidor tem de ser de carreira. Os casos de decisão pela regra geral estão
dispostos no art. 42, Lei 8.934/94. O prazo da decisão é de dois dias úteis.
ii. Regime de decisão colegiada. É o regime de decisão excepcional. As
matérias de decisão colegiada estão previstas no art. 41, Lei 8.934/94.
Sabidamente, as Juntas Comerciais são divididas em turmas,
responsáveis por julgar os pedidos. O prazo, aqui, é maior, de cinco dias
úteis. As matérias que vão para turma são:
I - o arquivamento:

a) dos atos de constituição de sociedades anônimas, bem como das atas de assembleias gerais e demais atos,
relativos a essas sociedades, sujeitos ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins;

b) dos atos referentes à transformação, incorporação, fusão e cisão de empresas mercantis;

c) dos atos de constituição e alterações de consórcio e de grupo de sociedades, conforme previsto na Lei nº 6.404,
de 15 de dezembro de 1976;

II - o julgamento do recurso previsto nesta lei.

1. Presunção de arquivamento. Se não houver decisão no prazo,


pode-se requerer que seja deferida certidão de arquivamento.
Existe, nesse sentido, presunção de que ele foi arquivado.
b. Pedido de reconsideração e recurso. No pedido de arquivamento, podem ser
feitas, pela Junta, exigências para o deferimento. Se não se concorda com
exigências, promove-se o denominado pedido de reconsideração, enviado para a
autoridade competente que julgou o caso. No indeferimento direito não é
possível pedido de reconsideração. Os prazos desse pedido de consideração
são distintos, nos termos do art. 45, Lei 8.934/94.
1. Via recursal. Em geral, não se entra com mandado ou medida
judicial antes da reconsideração por motivos evidentes. No
entanto, mantida a decisão de exigência ou indeferida diretamente a
pretensão, pode-se entrar com recurso. O prazo para interposição
do recurso é de dez dias úteis, nos termos do art. 50, Lei 8.934/94,
a contar da publicação da decisão no Diário Oficial do Estado ou da
intimação da parte. O art. 44, Lei 8.934/94, expõe os tipos de recurso:
Art. 44. O processo revisional pertinente ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins dar-se-
á mediante:
52

I - Pedido de Reconsideração;

II - Recurso ao Plenário;

III - Recurso ao Ministro de Estado da Indústria, do Comércio e do Turismo.

a. Última instância. A última instância é prevista no art. 47,


Lei 8.934/94, cabendo recurso ao Ministro de Estado. O
recurso é enviado para o DREI e depois a Brasília.
i. Prazos. O Ministro de Estado não tem prazo para
julgamento, apenas o Plenário, de trinta dias, nos
termos do art. 46, Lei 8.934/94. O Plenário é uma
reunião das turmas da Junta Comercial.
c. Possibilidade de acionar a Justiça. Lembre-se que, em paralelo, existe sempre
o Judiciário.

Dever de Escrituração [Obrigações do Empresário]

8. Composição do dever de escrituração. O dever de escrituração do empresário está


detalhado no art. 1.179, CC. Além da obrigação de Registro estudada anteriormente,
prevista em outro artigo do Código Civil, esse dispositivo traz duas obrigações ao
empresário:
a. Escrituração dos livros;
b. Levantamento dos balanços, composto por dois documentos contábeis, quais
sejam o balanço patrimonial e o resultado econômico. O balanço de resultado
econômico está focado no montante das receitas e despesas, enquanto o
balanço patrimonial trata dos ativos e passivos.
9. Dever de conservação dos documentos. Está previsto no art. 1.194, CC. Antes, esse
dever era documental. Hoje, a conservação pode ser feita em meio digital, enquanto
não ocorrer a prescrição ou decadência. Em geral, após 5 anos, muitas obrigações de
conservação de documentos estão prescritas. Mas, por cautela, deve-se guardar 10
anos, prazo máximo do art. 205, CC. Não há um prazo único, devendo se atentar a
cada documento.
10. Livros de manutenção obrigatório e facultativa. Conforme o art. 1.179, § 1º, CC, são
eles:
a. Livro diário. É assim denominado pois há lançamento por dia. Ele é um livro
obrigatório, enquanto os demais livros são facultativos. Os livros facultativos
decorrem de usos comerciais, pois não há rol exato em lei:
53

i. Livro caixa. Existe, por exemplo, o livro caixa, que indica as entradas e
saídas das receitas e despesas da empresa ou da sociedade.
ii. Livro razão. Além desse, há o livro razão, no qual a escrituração é feita
por assunto ou operações, qualquer que seja a data.
iii. Livro conta-corrente. Por fim, há também os livros conta-corrente, no
qual o lançamento é por cliente ou fornecedor.
b. Meio de manutenção. O Código Civil não prevê que a escrituração possa ser
feita em meios digitais. No entanto, as Juntas Comerciais possibilitam isso
expressamente. Não havendo vedação legal, a conservação em meios digitais é
lícita.
c. Categorias especiais de empresário. Conforme o art. 1.179, § 2º, CC, o pequeno
empresário não tem deveres de escrituração, seja de livros, seja de balanços. O
mesmo tratamento é dado ao MEI.
i. ME e EPP. ME que não é MEI tem de ter:
1. Livro caixa;
2. Livro de registro de inventário.
11. Autenticação na Junta Comercial. Conforme o art. 1.181, CC, todo livro obrigatório
tem de ser autenticado na Junta Comercial, enquanto os facultativos também têm essa
possibilidade, mas não obrigação. Daí depreende-se, portanto, que o empresário irregular
não pode autenticar os seus livros.
12. Obrigações especiais de outros livros. Existem determinados empresários que, por
Lei, são obrigados a possuir outros livros além do livro diário. Exemplo são os
leiloeiros. Outro exemplo são as sociedades anônimas, que precisam ter livros para
registrar as ações e suas transferências e as atas de assembleia, nos termos do art. 100,
Lei 6.404/76 [Lei das Sociedades Anônimas]. Por fim, existe obrigações de outros livros
para aquele que se utiliza de duplicata. Não sendo nenhum desses casos, precisa-se
apenas do livro diário.
13. Contabilista. Conforme o art. 1.182, CC, a escrituração é da responsabilidade do
contabilista. A escrituração tem de ser feita em forma contábil. Além disso, tem de ser
observado os idioma e moeda correntes nacionais, não interessando se se trata de
empresa estrangeira, nos termos do art. 1.183, CC. Quanto à ordem cronológica,
apenas o livro diário tem a obrigação de manutenção nessa modalidade, nos termos
do art. 1.184, CC. Nada impede que os livros facultativos estejam fora da ordem
cronológica.
a. Tipos de vício. São eles:
i. Vício intrínseco. Diz respeito à escrituração em si. Geralmente, são de
responsabilidade do contador.
54

ii. Vício extrínseco. Diz respeito ao próprio livro, como, por exemplo,
páginas rasgadas, folhas rasgadas, ausência de autenticação, entre
outros.
b. Origem. É preciso indicar a origem do lançamento. Todo lançamento contábil
tem uma causa.
14. Balanço patrimonial. Conforme o art. 1.188, CC, “[O] BALANÇO PATRIMONIAL DEVERÁ
EXPRIMIR, COM FIDELIDADE E CLAREZA, A SITUAÇÃO REAL DA EMPRESA E, ATENDIDAS AS
PECULIARIDADES DESTA, BEM COMO AS DISPOSIÇÕES DAS LEIS ESPECIAIS, INDICARÁ,
DISTINTAMENTE, O ATIVO E O PASSIVO.”
a. Ativos e passivos. Os ativos são os bens e direitos do empresário, inclusive
intangíveis. Os passivos, por outro lado, são as obrigações e responsabilidades
patrimoniais a que o empresário está sujeito.
15. Balanço de resultado econômico. É o desempenho da empresa. Conforme o art. 1.189,
CC, “[O] BALANÇO DE RESULTADO ECONÔMICO, OU DEMONSTRAÇÃO DA CONTA DE LUCROS
E PERDAS, ACOMPANHARÁ O BALANÇO PATRIMONIAL E DELE CONSTARÃO CRÉDITO E DÉBITO,
NA FORMA DA LEI ESPECIAL”.
i. Assinatura do empresário. Esses balanços são assinados pelo
empresário e seu contador, nos termos do art. 1.184, § 2º, CC.
Dificilmente, portanto, somente o contador responde por irregularidades.
ii. Nível técnico. A técnica do contador requerida pode ser satisfeita de
duas formas. Por nível técnico propriamente, com inscrição no CRC, ou por
nível superior. Esse artigo permite compreender o art. 1.187, CC.

AULA 6

Dever de Escrituração

1. Sigilos dos livros do empresário. Conforme o art. 1.190, CC, “[R]ESSALVADOS OS CASOS
PREVISTOS EM LEI, NENHUMA AUTORIDADE, JUIZ OU TRIBUNAL, SOB QUALQUER PRETEXTO,
PODERÁ FAZER OU ORDENAR DILIGÊNCIA PARA VERIFICAR SE O EMPRESÁRIO OU A SOCIEDADE
EMPRESÁRIA OBSERVAM, OU NÃO, EM SEUS LIVROS E FICHAS, AS FORMALIDADES PRESCRITAS
EM LEI”. É notável a imperatividade do dispositivo. Portanto, as formalidades que a
legislação prevê quanto aos livros devem ser cumpridas, mas não pode haver, em
regra, diligência para sua verificação. São exceções ao sigilo dos livros do empresário:
55

a. Autoridades fazendárias. A primeira exceção é quanto às autoridades


fazendárias, de todos os níveis federativos. Conforme o art. 1.193, CC, “[A]S
RESTRIÇÕES ESTABELECIDAS NESTE CAPÍTULO AO EXAME DA ESCRITURAÇÃO, EM
PARTE OU POR INTEIRO, NÃO SE APLICAM ÀS AUTORIDADES FAZENDÁRIAS, NO
EXERCÍCIO DA FISCALIZAÇÃO DO PAGAMENTO DE IMPOSTOS, NOS TERMOS ESTRITOS
DAS RESPECTIVAS LEIS ESPECIAIS”. Ainda, reforça a Súmula 439, STF, “[E]STÃO
SUJEITOS À FISCALIZAÇÃO TRIBUTÁRIA OU PREVIDENCIÁRIA QUAISQUER LIVROS
COMERCIAIS, LIMITADO O EXAME AOS PONTOS OBJETO DA INVESTIGAÇÃO”.
i. Limitação. Deve ser ressaltado o final do dispositivo, no sentido de que
a quebra do sigilo tem de ser limitada aos fins da investigação.
b. Falência. O art. 104, Lei de Falências, obriga a entrega dos livros ao Juízo em
caso de falência.
c. Processo de recuperação judicial. O devedor deve consentir que os credores
tenham acesso aos livros para que comprovem a causa do pedido de
recuperação judicial.
2. Exibição judicial dos livros. A exibição judicial dos livros é tratada tanto no Código
Civil como no Código de Processo Civil, nesse último quando se trata da prova
documental no procedimento comum. A exibição judicial pode ser feita de forma
integral ou parcial. A exibição integral só pode ser feita nos casos previstos em lei. Nas
exibições parciais, por outro lado, ela é aberta quando há motivo justo e relevante.
a. Causas de exibição integral dos livros. Nos termos do art. 1.191, CC, são elas:
i. Sucessão;
ii. Comunhão ou sociedade;
iii. Administração ou gestão à conta de outrem;
iv. Falência.
1. Impossibilidade de exibição por requisição de ofício. A exibição
integral não pode ser feita de ofício, apenas a requerimento das
partes nos termos do art. 420, CPC.
2. Caráter antecedente. A exibição integral dos livros pode ser
requerida com caráter antecedente, como medida cautelar, nos
termos do art. 420, CPC e Súmula 390, STF, em tutela de urgência
de caráter antecedente. A medida pode ser requerida, então, antes
mesmo da propositura da ação e, ainda, durante seu curso.
b. Causas de exibição parcial. Conforme o art. 1.190, § 1º, CC, “[O] JUIZ OU
TRIBUNAL QUE CONHECER DE MEDIDA CAUTELAR OU DE AÇÃO PODE, A
REQUERIMENTO OU DE OFÍCIO, ORDENAR QUE OS LIVROS DE QUALQUER DAS PARTES,
OU DE AMBAS, SEJAM EXAMINADOS NA PRESENÇA DO EMPRESÁRIO OU DA
56

SOCIEDADE EMPRESÁRIA A QUE PERTENCEREM, OU DE PESSOAS POR ESTES NOMEADAS,


PARA DELES SE EXTRAIR O QUE INTERESSAR À QUESTÃO”.
i. Possibilidade de requisição de ofício. Diferentemente da exibição
integral, a exibição parcial pode ser requerida de ofício ou a
requerimento das partes, à presença do empresário.
ii. Limitação. Esse dispositivo deve ser analisado em conjunto com o art.
421, CPC, que institui que deve ser analisado apenas o que interessar à
questão. A Súmula 260, STF, reforça, ainda, que “[O] EXAME DE LIVROS
COMERCIAIS, EM AÇÃO JUDICIAL, FICA LIMITADO ÀS TRANSAÇÕES ENTRE OS
LITIGANTES”.

Exibição Parcial Exibição Integral


Ex Officio e Requerimento das Partes Requerimento das Partes
Motivo Justo e Relevante Rol Taxativo
Adstrição à Questão Análise Integral

c. Apreensão judicial. Conforme o art. 1.192, CC, se o empresário não apresentar


os livros no caso de exibição integral, eles serão apreendidos judicialmente. Se
for o caso de recusa de exibição parcial, há presunção de veracidade do que é
alegado pela parte contrária.
i. Elisão. Conforme o art. 1.192, parágrafo único, CC, a presunção de
veracidade pode ser afastada se demonstrada prova, que não o livro, que
contradiga a alegação da parte contrária.
d. Elisão de prova. Os arts. 416, 417 e 418, CPC, apresentam os meios de elidir
provas apresentadas em desfavor. São duas regras em essência:
i. Prova contra o autor. Trata-se da regra geral. Conforme o art. 417, CPC,
“[O]S LIVROS EMPRESARIAIS PROVAM CONTRA SEU AUTOR, SENDO LÍCITO AO
EMPRESÁRIO, TODAVIA, DEMONSTRAR, POR TODOS OS MEIOS PERMITIDOS EM
DIREITO, QUE OS LANÇAMENTOS NÃO CORRESPONDEM À VERDADE DOS
FATOS”.
ii. Prova a favor. É situação excepcional. Conforme o art. 418, CPC, “[O]S
LIVROS EMPRESARIAIS QUE PREENCHAM OS REQUISITOS EXIGIDOS POR LEI
PROVAM A FAVOR DE SEU AUTOR NO LITÍGIO ENTRE EMPRESÁRIOS”. Há,
portanto, dois requisitos para que os livros sejam usados como meio
favorável de prova:
1. Atendimento dos requisitos em Lei;
2. Ambas as partes serem empresárias;
57

a. Omissão da Lei Civil. O art. 226, CC, também trata dos


livros como meio de prova. No entanto, a Lei Civil é omissa
quanto ao segundo requisito exposto no art. 418, CPC.
b. Requisitos especiais. Conforme o art. 226, parágrafo único,
CC, “[A] PROVA RESULTANTE DOS LIVROS E FICHAS NÃO É
BASTANTE NOS CASOS EM QUE A LEI EXIGE ESCRITURA
PÚBLICA, OU ESCRITO PARTICULAR REVESTIDO DE
REQUISITOS ESPECIAIS, E PODE SER ILIDIDA PELA
COMPROVAÇÃO DA FALSIDADE OU INEXATIDÃO DOS
LANÇAMENTOS”. Exemplo é o caso de fiança. Percebe-se,
então, que o livro não é o bastante em alguns casos
especiais.

Perfil Objetivo da Empresa

3. Perfil objetivo. Anteriormente, foram vistos a atividade e a figura do empresário. No


entanto, para exercer empresa, o empresário precisa, ainda, organizar um conjunto de
bens, denominado estabelecimento. Anteriormente ao Código Civil, esse complexo
de bens era denominado fundo de comércio ou de empresa, expressão agora é atécnica.
Evidentemente, estabelecimento em Direito Empresarial tem um sentido mais
expressivo, não sendo apenas “uma loja”, mas todo o complexo de bens dotado de
valor patrimonial.
4. Tríade do Direito Empresarial. O Direito Empresarial, portanto, perpassa a análise de
três elementos. Os dois primeiros compõem o perfil subjetivo da empresa, enquanto
o último, o perfil objetivo da empresa:
a. Atividade;
b. Titular da atividade;
c. Estabelecimento. É o conjunto de bens para exercer a empresa, inclusive direitos
de natureza imaterial voltados para o exercício da empresa.
5. Conceito de estabelecimento. O conceito de estabelecimento está inserido no art.
1.142, CC, estabelecendo que “[C]ONSIDERA-SE ESTABELECIMENTO TODO COMPLEXO DE
BENS ORGANIZADO, PARA EXERCÍCIO DA EMPRESA, POR EMPRESÁRIO, OU POR SOCIEDADE
EMPRESÁRIA”. Esse conceito, nesse sentido, é aplicado tanto à pessoa física quanto à
pessoa jurídica. Sabidamente, o estabelecimento não é apenas o imóvel.
a. Elemento de exercício da empresa. O estabelecimento é elemento de exercício
da empresa, diferentemente dos elementos de identificação da empresa.
58

6. Natureza do estabelecimento. O Código Civil de 2002 pacificou discussão que existia


quanto á natureza do estabelecimento. Sabidamente, esse diploma legal conceituou as
universalidades de fato e de direito, diferentemente do Código passado. O Código
Civil conceitua, no art. 90, CC, a universalidade de fato como “A PLURALIDADE DE BENS
SINGULARES QUE, PERTINENTES À MESMA PESSOA, TENHAM DESTINAÇÃO UNITÁRIA”. A
universalidade de direito, por outro lado, conforme o art. 91, CC, é “O COMPLEXO DE
RELAÇÕES JURÍDICAS, DE UMA PESSOA, DOTADAS DE VALOR ECONÔMICO”.
a. Definição como universalidade de fato. Em atenção ao conceito exposto no
art. 90, CC, o estabelecimento constitui uma pluralidade de bens, corpóreos e
incorpóreos, como, por exemplo, os direitos autorais, créditos, dívidas e
contratos. Ainda, são bens singulares, pois, embora reunidos, se consideram
independentemente dos demais. Por fim, esses bens também têm destinação
unitária, qual seja as atividades pertinentes ao empresário. Portanto, existe uma
adequação perfeita do conceito de estabelecimento, estabelecido nos arts. 1.142 e 1.143,
CC, com o conceito de universalidade de fato exposto no Código Civil.
7. Negócios jurídicos translativos ou constitutivos. Conforme o art. 1.1.43, CC, “[P]ODE
O ESTABELECIMENTO SER OBJETO UNITÁRIO DE DIREITOS E DE NEGÓCIOS JURÍDICOS,
TRANSLATIVOS OU CONSTITUTIVOS, QUE SEJAM COMPATÍVEIS COM A SUA NATUREZA”. O
estabelecimento, portanto, pode ser objeto de vendas fracionadas, isto é, apenas de
partes de sua composição. Por isso mesmo, é considerado universalidade de fato. Nas
universalidades de direito, por outro lado, isso não é possível.
a. Tipologia dos negócios jurídicos. Os negócios de jurídicos podem ser, como
exposto, translativos ou constitutivos. Os negócios jurídicos translativos são
aqueles que envolvem a alienação de todos os bens de do estabelecimento. São
chamados pelo nome de trespasse ou transferência. Os negócios jurídicos
constitutivos, por outro lado, dizem respeito a direito pessoal ou real. Direito
pessoal, quando se trata de arrendamento e usufruto quando se trata de direito
real.
i. Necessidade de atividade. A mera recepção do estabelecimento não torna o
adquirente um empresário. É o requisito profissionalístico, de efetividade
da empresa.
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Alienação,
Translativo Trespasse ou Débitos
Transferência

Negócio Jurídico
Direito Pessoal Elementos
[Arrendamento] Créditos
Incorpóreos
Constitutivo
Direito Real
[Usufruto] Contratos

Aplicação dos Dispositivos:

Negócios Jurídicos
Negócios Jurídicos
Translativos e
Translativos
Constitutivos
Art. 1.145, CC Art. 1.144, CC
Art. 1.146, CC Art. 1.147, CC
Art. 1.148, CC -
Art. 1.149, CC -

ii. Efeito contra terceiros. Conforme o art. 1.144, CC, “[O] CONTRATO QUE
TENHA POR OBJETO A ALIENAÇÃO, O USUFRUTO OU ARRENDAMENTO DO
ESTABELECIMENTO, SÓ PRODUZIRÁ EFEITOS QUANTO A TERCEIROS DEPOIS DE
AVERBADO À MARGEM DA INSCRIÇÃO DO EMPRESÁRIO, OU DA SOCIEDADE
EMPRESÁRIA, NO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS, E DE
PUBLICADO NA IMPRENSA OFICIAL”. Esse dispositivo trata de ambos os
tipos de negócios jurídicos.
1. Dupla publicidade. Não basta apenas a averbação na Junta
Comercial, havendo necessidade, também, de publicação na
imprensa oficial do Estado. O legislador não se contentou com a
publicidade do contrato na Junta, mas exigiu também a publicação.
a. ME e EPP. Conforme o art. 71, LC 123/06, está dispensado
de publicação o ME e EPP, bastando a publicidade.
Portanto, a Lei não dispensa o arquivamento, apenas a
publicação. Portanto, a primeira providência, publicidade, é
compulsória, enquanto a segunda é facultativa.
b. Efeito contra terceiros em negócio jurídico translativo. Conforme o art. 1.145,
CC, “[S]E AO ALIENANTE NÃO RESTAREM BENS SUFICIENTES PARA SOLVER O SEU
PASSIVO, A EFICÁCIA DA ALIENAÇÃO DO ESTABELECIMENTO DEPENDE DO
PAGAMENTO DE TODOS OS CREDORES, OU DO CONSENTIMENTO DESTES, DE MODO
EXPRESSO OU TÁCITO, EM TRINTA DIAS A PARTIR DE SUA NOTIFICAÇÃO”. Esse
60

dispositivo trata apenas do caso de alienação, não de negócio jurídico constitutivo.


Nesse sentido, o estabelecimento é de livre disposição do empresário SE ELE
NÃO TEM DÍVIDAS. Caso tenha, é preciso verificar se as suas dívidas com os
credores excedem o valor do estabelecimento alienado.
i. Ausência de eficácia. A transferência não é nula, apenas ineficaz. É
válida, mas não oponível aos credores.
1. Possibilidade de eficácia. Portanto, existem duas possibilidades
de a alienação ser eficaz. A primeira delas é se o montante
alienado gera valor suficiente para liquidar os passivos. Por outro
lado, se isso não ocorre, pode o alienante receber consentimento
dos credores, expresso ou tácito, no prazo de trinta dias. Caso os
credores não se manifestem no prazo, considera-se dado o
consentimento.
ii. Sanção. O Código Civil não prevê sanção para aquele que descumpre
essas disposições, isto é, não notifica o credor ou age em detrimento de
sua declaração. Apesar disso, há disposição dessa sanção no art. 94, III,
alínea “c”, Lei 11.101/05 [Lei de Falências]. A sanção é, precisamente, a
possibilidade do pedido e decretação da falência por parte dos credores.
c. Débitos anteriores no negócio jurídico translativo. Aplicável somente à
alienação. Conforme o art. 1.146, CC, “[O] ADQUIRENTE DO ESTABELECIMENTO
RESPONDE PELO PAGAMENTO DOS DÉBITOS ANTERIORES À TRANSFERÊNCIA, DESDE
QUE REGULARMENTE CONTABILIZADOS, CONTINUANDO O DEVEDOR PRIMITIVO
SOLIDARIAMENTE OBRIGADO PELO PRAZO DE UM ANO, A PARTIR, QUANTO AOS
CRÉDITOS VENCIDOS, DA PUBLICAÇÃO, E, QUANTO AOS OUTROS, DA DATA DO
VENCIMENTO”. Esse dispositivo retirou uma dúvida, definindo que tanto os
créditos quanto as dívidas integram o estabelecimento.
i. Solidariedade. Essa solidariedade é legal, não podendo ser afastada do
contrato entre as partes. Caso contrário, não teria eficácia contra
terceiros.
ii. Regularização dos débitos. É preciso ter atenção à escrituração, pois não
se responde por débito fora dos livros, como, por exemplo, “Caixa 2”.
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Termo Inicial:
Publicação da
Débitos Vencidos Alienação [ou
Responde Publicidade em
Solidariamente ME e EPP]
Devedor Primitivo pelos Débitos
Anteriores pelo
Prazo de 1 Ano Débitos Não Termo Inicial:
Negócio Jurídico
Translativo Vencido Vencimaneto
Respodde pelos
Débitos Anteriores
Adquirente
até a Prescrição
desses Débitos

d. Cessão dos créditos. Tantos as dívidas, conforme exposto anteriormente,


quanto os créditos fazem parte do estabelecimento, são bens incorpóreos.
Conforme o art. 1.149, CC, “[A] CESSÃO DOS CRÉDITOS REFERENTES AO
ESTABELECIMENTO TRANSFERIDO PRODUZIRÁ EFEITO EM RELAÇÃO AOS RESPECTIVOS
DEVEDORES, DESDE O MOMENTO DA PUBLICAÇÃO DA TRANSFERÊNCIA, MAS O
DEVEDOR FICARÁ EXONERADO SE DE BOA-FÉ PAGAR AO CEDENTE”.
i. Regra especial. A cessão de crédito tem uma regra no art. 290, CC,
afirmando que o devedor deve ser notificado pessoalmente quanto à
cessão. No entanto, aqui, não se tem uma notificação pessoal, mas a notificação
será feita pela publicação oficial ou da publicidade na Junta, quando se tratar de
ME e EPP. Não se aplica, portanto, a regra do art. 290,CC, usando-se a
regra especial.
ii. Pagamento putativo. O dispositivo, claramente, protege o pagamento
feito de boa-fé ao credor putativo. Se o devedor pagar ao cedente, isto é,
o empresário primitivo, ele ficará desonerado. O cessionário, portanto,
não vai poder cobrar a dívida do devedor.
8. Contratos. Conforme o art. 1.148, CC, “[S]ALVO DISPOSIÇÃO EM CONTRÁRIO, A
TRANSFERÊNCIA IMPORTA A SUB-ROGAÇÃO DO ADQUIRENTE NOS CONTRATOS ESTIPULADOS
PARA EXPLORAÇÃO DO ESTABELECIMENTO, SE NÃO TIVEREM CARÁTER PESSOAL, PODENDO
OS TERCEIROS RESCINDIR O CONTRATO EM NOVENTA DIAS A CONTAR DA PUBLICAÇÃO DA
TRANSFERÊNCIA, SE OCORRER JUSTA CAUSA, RESSALVADA, NESTE CASO, A
RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE”. Portanto, há, sim, sub-rogação subjetiva com a
transferência do estabelecimento. No entanto, isso não é uma norma cogente, é dispositiva.
Ainda, evidentemente, há sub-rogação se a obrigação não for personalíssima.
a. Prazo. Existe um prazo de 180 dias para manifestação, e esse prazo é de
natureza decadencial.
62

9. Restabelecimento. O restabelecimento ocorre quando o empresário que fez qualquer


um dos negócios jurídicos mencionados, translativos ou constitutivos, se restabelece
no ramo comercial, podendo gerar concorrência desleal.
a. Concorrência desleal. Conforme o art. 1.147, CC, “[N]ÃO HAVENDO
AUTORIZAÇÃO EXPRESSA, O ALIENANTE DO ESTABELECIMENTO NÃO PODE FAZER
CONCORRÊNCIA AO ADQUIRENTE, NOS CINCO ANOS SUBSEQÜENTES À
TRANSFERÊNCIA”. Essa vedação ocorre, naturalmente, por uma presunção
relativa de que haverá migração da clientela para o empresário primitivo. Para
evitar essa presunção de concorrência desleal, a lei estabelece um prazo de
cinco anos para restabelecimento no ramo. No entanto, trata-se de norma
dispositiva.
i. Necessidade real de possibilidade de concorrência desleal. A
Jurisprudência, apesar da disposição legal tem entendido que, mesmo
que não haja cláusula de permissão de restabelecimento, se não houver
condições efetivas de concorrência por questões de distância, nicho de
mercado, entre outras, pode-se restabelecer por impossibilidade de
concorrência desleal.
ii. Prazo no arrendamento ou usufruto. O prazo do arrendamento e do
usufruto não é de cinco anos, mas pelo tempo que durar o contrato
constitutivo, nos termos do art. 1.148, parágrafo único, CC.

AULA 7

Nome Empresarial

1. Tipologia de nome empresarial. Conforme o art. 1.115, CC, “CONSIDERA-SE NOME


EMPRESARIAL A FIRMA OU A DENOMINAÇÃO ADOTADA, DE CONFORMIDADE COM ESTE
CAPÍTULO, PARA O EXERCÍCIO DE EMPRESA”. Existem, portanto, dois tipos de nome
empresarial:
a. Firma. A firma pode é utilizada tanto pelo empresário – firma empresarial –
quanto pela sociedade empresária – firma social. “A FIRMA EMPRESARIAL E A DO
EMPRESÁRIO QUE COMERCIA ISOLADO, OU, COMO DIZ GARRIGUES, ‘O SIGNO
DIFERENCIADO DO ELEMENTO PESSOAL DA EMPRESA (DOCUMENTO); FIRMA SOCIAL
OU RAZÃO SOCIAL É O DA PESSOA JURÍDICA ASSIM CONSIDERADA A SOCIEDADE
COMERCIAL REGULAR” (Rubens Requião).
63

b. Denominação. “[...] OUTRAS, TODAVIA, COMO AS SOCIEDADES ANÔNIMAS, NÃO


PODEM COMPOR FIRMA OU RAZÃO SOCIAL, PELO SIMPLES E CURIAL MOTIVO DE QUE
SÃO ANÔNIMAS; NÃO TÊM FIRMA, PORTANTO. ADOTAM, ENTÃO, UMA
DENOMINAÇÃO, NO MAIS DAS VEZES CONSTITUÍDA POR NOME DE FANTASIA. A
SOCIEDADE LIMITADA PODE ADOTAR TANTO RAZÃO SOCIAL COMO DENOMINAÇÃO”.
(Rubens Requião).
i. Objeto de estudo. No momento, irá ser estudada apenas a firma,
precisamente a firma empresarial individual, vez que a matéria abordada
trata da pessoa do empresário, não, ainda, das sociedades.
2. Título do estabelecimento. O nome empresarial não se confunde com o título do
estabelecimento. O título do estabelecimento está ligado ao perfil objeto da empresa,
enquanto o nome empresarial identifica o empresário em seu perfil subjetivo.
a. Regras de formação. O título empresarial não tem regras, podendo ser um nome
fantasia. O nome empresarial, por outro lado, tem regras, conforme o art. 1.156,
CC, segundo o qual “O EMPRESÁRIO OPERA SOB FIRMA CONSTITUÍDA POR SEU
NOME, COMPLETO OU ABREVIADO, ADITANDO-LHE, SE QUISER, DESIGNAÇÃO MAIS
PRECISA DA SUA PESSOA OU DO GÊNERO DE ATIVIDADE”.
3. Princípios do nome empresarial. O nome empresarial é regido por dois princípios
fundamentais, insculpidos, conjuntamente, no art. 43, Lei 8.934/94:
a. Novidade. Conforme o art. 1.163, CC, “O NOME DE EMPRESÁRIO DEVE DISTINGUIR-
SE DE QUALQUER OUTRO JÁ INSCRITO NO MESMO REGISTRO”.
i. Delimitação. No entanto, isso não significa que a novidade tem de
ocorrem em relação a todo território nacional. Na realidade, o registro
do nome empresarial se circunscreve ao território abrangido pela Junta
Comercial.
b. Veracidade. Conforme o art. 1.165, CC, “O NOME DE SÓCIO QUE VIER A FALECER,
FOR EXCLUÍDO OU SE RETIRAR, NÃO PODE SER CONSERVADO NA FIRMA SOCIAL”.
1. Definição. Portanto, o nome empresarial não tem de ser o nome
verdadeiro e exato dos sócios, mas corresponder às pessoas que
integram aquela sociedade empresária. Não pode haver, então,
nome fictício no nome empresarial.
4. Nome empresarial e os direitos da personalidade. Conforme o art. 1.164, CC, “O
NOME EMPRESARIAL NÃO PODE SER OBJETO DE ALIENAÇÃO”. Esse artigo decorre da
natureza de direito personalidade do nome, nos termos do art. 11, CC. O nome
empresarial, portanto, tem a proteção da mesma forma que o nome de pessoa natural
e de pessoa jurídica.
64

i. Nome empresarial no trespasse. Conforme o art. 1.164, parágrafo único,


CC, “O ADQUIRENTE DE ESTABELECIMENTO, POR ATO ENTRE VIVOS, PODE, SE
O CONTRATO O PERMITIR, USAR O NOME DO ALIENANTE, PRECEDIDO DO SEU
PRÓPRIO, COM A QUALIFICAÇÃO DE SUCESSOR”. Essa norma não é uma
exceção, mas uma possibilidade que as partes podem convencionar no trespasse
do estabelecimento.
5. Âmbito de proteção do nome empresarial. Conforme o art. 1.166, CC, “A INSCRIÇÃO
DO EMPRESÁRIO, OU DOS ATOS CONSTITUTIVOS DAS PESSOAS JURÍDICAS, OU AS RESPECTIVAS
AVERBAÇÕES, NO REGISTRO PRÓPRIO, ASSEGURAM O USO EXCLUSIVO DO NOME NOS LIMITES
DO RESPECTIVO ESTADO”.
i. Extensão da proteção. Conforme o art. 1.155, parágrafo único, CC,
“EQUIPARA-SE AO NOME EMPRESARIAL, PARA OS EFEITOS DA PROTEÇÃO DA
LEI, A DENOMINAÇÃO DAS SOCIEDADES SIMPLES, ASSOCIAÇÕES E
FUNDAÇÕES”. Sabidamente, os nomes de sociedades simples, associações
e fundações não são nomes empresariais. Na realidade, são registrados
no Registro Civil das Pessoas Jurídicas (RCPJ), não na Junta Comercial.
1. Distinção. O nome empresarial é constituído de regras para sua
formação e proteção. Essas entidades de direito privado não têm
as mesmas regras de formação, apenas havendo equiparação no
que tange à proteção.
ii. Proteção em âmbito nacional. A proteção do nome empresarial pode ser
feita a nível nacional, seguindo, porém, os trâmites do Decreto 1.800/96.
Apesar de o art. 1.166, parágrafo único, CC, determinar que “O USO
PREVISTO NESTE ARTIGO ESTENDER-SE-Á A TODO O TERRITÓRIO NACIONAL,
SE REGISTRADO NA FORMA DA LEI ESPECIAL”, não houve Lei Especial
alguma, ficando esse Decreto citado com o encargo de dispor sobre a
matéria. Esse Decreto, em seu corpo, remete à regulamentação do DREI,
qual seja a Instrução Normativa no. 15 de 2013, DREI. Em seu art. 10, é
abordada precisamente a proteção do nome empresarial em mais de
uma Junta Comercial. São duas as hipóteses que permitem a proteção
nacional:
a. Abertura de filial em todos os Estados. Toda vez que o
empresário instituir uma filial em todos os Estados, ele
goza dessa proteção do nome empresarial em âmbito
nacional.
b. Pedido de proteção específica. Ocorre sem a necessidade
de abrir filial. O empresário faz um requerimento ao
65

Presidente de uma Junta Comercial, pedindo proteção,


provando que é um empresário regular e que aquele nome
empresarial respeita o princípio da novidade.
6. Extinção da firma. As hipóteses de extinção da firma estão dispostas no art. 1.168, CC,
segundo o qual “A INSCRIÇÃO DO NOME EMPRESARIAL SERÁ CANCELADA, A
REQUERIMENTO DE QUALQUER INTERESSADO, QUANDO CESSAR O EXERCÍCIO DA ATIVIDADE
PARA QUE FOI ADOTADO, OU QUANDO ULTIMAR-SE A LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE QUE O
INSCREVEU”. A perda da firma ocorre, portanto, apenas nos casos de morte ou de baixa
a Junta Comercial.
a. Interdição. A extinção da firma não ocorre nem mesmo com a interdição do empresário,
uma vez que o Magistrado pode permitir a continuidade do exercício da empresa ainda
nessas condições.

Propriedade Industrial

7. Tipologia dos elementos imateriais do estabelecimento. O estudo do


estabelecimento agrega tanto os elementos materiais do estabelecimento quanto os
elementos imateriais. A propriedade imaterial no Direito comercial é regida em três
leis distintas:
a. Propriedade industrial. Regida pela Lei 9.279/96;
b. Propriedade intelectual. Regida na Lei 9.610/98 [Lei de Direitos Autorais];
i. Programas de computador. Dentro, ainda, do âmbito dos direitos
autorais, são protegidos os programas de computador, na Lei 9.609/98.
1. Tratamento particular. Os programas de computador têm
tratamento muito peculiar na legislação, sendo protegidos pelo
uso. Dessa forma, não se precisa registrar o programa de
computador para ter sua propriedade. No entanto, o
desenvolvedor do programa de computador pode registrar a sua
autoria e propriedade. O registro é, portanto, meramente
declaratório.
2. Hibridismo. O órgão competente para o registro de programas
de computador é o Instituto de Direitos de Propriedade
Industrial [INPI], embora sua regência seja feita pelas disposições de
propriedade intelectual. Nota-se, portanto, o hibridismo no
tratamento dos programas de computador, de forma que eles
66

gozam de proteção do direito autoral, mas seu registro é feito no


escopo de órgão de propriedade industrial.
3. Vedação ao patenteamento. Os programas de computador não
podem ser patenteados, apenas registrados.
8. Tipologia da propriedade industrial. O estudo da propriedade industrial
compreende três escopos distintos:
a. Patentes. Pode ser de dois tipos:
i. Invenção. É o desenvolvimento de um novo produto;
ii. Modelo de utilidade. Não se desenvolve um novo produto, mas se
aperfeiçoa o uso ou a fabricação
b. Desenho industrial. Os desenhos industriais gozam de proteção mediante
registro.
c. Marcas. Da mesma forma que os desenhos industriais, as marcas gozam de
proteção mediante registro.
9. Distinção terminológica. Quanto às patentes, o verbo utilizado é “patentear”. Quanto
aos desenhos industriais e as marcas, o verbo utilizado é “registrar”. Nunca pode
haver, portanto, uma “patente de desenho industrial”.
10. Fundamento legal de proteção. O fundamento legal da proteção de bens industriais
está no art. 5º, XXIX, CF, segundo o qual “A LEI ASSEGURARÁ AOS AUTORES DE INVENTOS
INDUSTRIAIS PRIVILÉGIO TEMPORÁRIO PARA SUA UTILIZAÇÃO, BEM COMO PROTEÇÃO ÀS
CRIAÇÕES INDUSTRIAIS, À PROPRIEDADE DAS MARCAS, AOS NOMES DE EMPRESAS E A
OUTROS SIGNOS DISTINTIVOS, TENDO EM VISTA O INTERESSE SOCIAL E O
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO E ECONÔMICO DO PAÍS”.
a. Privilégio temporário das patentes.
11. Classificação dos efeitos legais. Para efeitos legais, os direitos da propriedade
industrial são considerados, na classificação de bens, bens móveis para efeitos legais,
conforme o art. 5º, LPI.
12. Privilégio temporário. Os prazos do privilégio temporário de proteção variam
conforme a propriedade industrial em questão:
a. Patentes. Conforme o art. 40, LPI, “A PATENTE DE INVENÇÃO VIGORARÁ PELO
PRAZO DE 20 (VINTE) ANOS E A DE MODELO DE UTILIDADE PELO PRAZO 15 (QUINZE)
ANOS CONTADOS DA DATA DE DEPÓSITO”.
b. Desenho industrial. Conforme o art. 108, LPI, “O REGISTRO VIGORARÁ PELO
PRAZO DE 10 (DEZ) ANOS CONTADOS DA DATA DO DEPÓSITO, PRORROGÁVEL POR 3
(TRÊS) PERÍODOS SUCESSIVOS DE 5 (CINCO) ANOS CADA”.
i. Vulgarização. Decorrido o prazo da patente, ocorre a vulgarização,
podendo o conhecimento ser usufruído sem o pagamento de royalties.
67

Importante perceber que os desenhos industriais tem prazos


prorrogáveis, diferentemente das patentes.
13. Marcas. A marca é nada mais que um sinal distintivo. Elas guardam duas
características essenciais e peculiares:
a. Prescindibilidade da aplicação industrial. As marcas, naturalmente, integram
a propriedade industrial; porém, não é de sua essência que seja utilizada pela
indústria. Portanto, a marca tem como característica a aplicação industrial,
sendo traço meramente acidental. Não existe, portanto, inerente da
industriabilidade, diferentemente das patentes e dos desenhos industriais, nos
termos dos arts. 8º e 9º, LPI.
b. Prazos do privilégio temporário das marcas. Os bens da propriedade
industrial devem garantir privilégios temporários, fadado a serem
vulgarizados. As marcas têm prazo de 10 anos, podendo, no entanto, ser renovada
indefinidamente por iguais períodos, conforme o art. 133, LPI.
i. Perda da marca. Como a marca não é perdida pelo decurso de prazo,
pode haver perda pelos seguintes fatores:
1. Renúncia;
2. Caducidade;
3. Nulidade do registro;
14. Requisitos de patenteamento de invenções e modelos de utilidade. Conforme o arts.
8º e 9º, LPI, são patenteáveis as invenções que atendam aos requisitos:
a. Ausência de proibições leais, dispostas no art. 10º, LPI:
Art. 10. Não se considera invenção nem modelo de utilidade:

I - descobertas, teorias científicas e métodos matemáticos;

II - concepções puramente abstratas;

III - esquemas, planos, princípios ou métodos comerciais, contábeis, financeiros, educativos, publicitários, de
sorteio e de fiscalização;

IV - as obras literárias, arquitetônicas, artísticas e científicas ou qualquer criação estética;

i. Propriedade intelectual. Com efeito, esses incisos são todos


propriedades intelectuais, não industriais.
V - programas de computador em si;

ii. Peculiaridade. Mesmo que os programas de computador saiam


precisamente de uma fábrica, eles não são considerados propriedades
intelectuais.
VI - apresentação de informações;

VII - regras de jogo;


68

VIII - técnicas e métodos operatórios ou cirúrgicos, bem como métodos terapêuticos ou de diagnóstico, para
aplicação no corpo humano ou animal; e

IX - o todo ou parte de seres vivos naturais e materiais biológicos encontrados na natureza, ou ainda que dela
isolados, inclusive o genoma ou germoplasma de qualquer ser vivo natural e os processos biológicos naturais.

iii. Próteses, genoplasma, derivados e transgênicos. Próteses podem ser


patenteadas, mas não o todo ou partes de seres vivos ou materiais
biológicos encontrados na natureza. É patenteável, também, o
genoplasma. Derivados também podem ser patenteáveis, bem como
transgênicos que não decorram da natureza, mas da atuação humana.
b. Novidade, conforme o art. 11º, LPI, segundo o qual “A INVENÇÃO E O MODELO
DE UTILIDADE SÃO CONSIDERADOS NOVOS QUANDO NÃO COMPREENDIDOS NO
ESTADO DA TÉCNICA”.
c. Atividade inventiva, conforme o art. 13º, LPI, segundo o qual “A INVENÇÃO É
DOTADA DE ATIVIDADE INVENTIVA SEMPRE QUE, PARA UM TÉCNICO NO ASSUNTO,
NÃO DECORRA DE MANEIRA EVIDENTE OU ÓBVIA DO ESTADO DA TÉCNICA”;
i. Estado da técnica. Não cabe ao advogado a análise do estado da técnica
– se produto novo ou aperfeiçoamento –, mas ao perito, nos termos do
art. 14, LPI.
d. Aplicação industrial, conforme o art. 14º, LPI, “A INVENÇÃO E O MODELO DE
UTILIDADE SÃO CONSIDERADOS SUSCETÍVEIS DE APLICAÇÃO INDUSTRIAL QUANDO
POSSAM SER UTILIZADOS OU PRODUZIDOS EM QUALQUER TIPO DE INDÚSTRIA”
e. Licitude. Conforme o art. 18º, I, LPI, “NÃO SÃO PATENTEÁVEIS: I- O QUE FOR
CONTRÁRIO À MORAL, AOS BONS COSTUMES E À SEGURANÇA, À ORDEM E À SAÚDE
PÚBLICAS”.
15. Requerimento de patentes. A patente é concedida pelo Estado mediante
requerimento, conforme o art. 6º, LPI, nunca sendo esse processo feito ex officio.
a. Distinção de natureza do direito industrial e autoral. O direito industrial é
constitutivo, de forma que enquanto não há registro ou patente, não há propriedade
do direito industrial. O direito autoral, em contrapartida, é declaratório, da mesma
forma que os programas de computador, adquiridos pelo uso.
b. Pedido de patentes. O pedido da patente é feito ao INPI, com apresentação dos
documentos dispostos no art. 19, LPI.
i. Exame formal preliminar. Posteriormente, conforme o art. 20, LPI,
“APRESENTADO O PEDIDO, SERÁ ELE SUBMETIDO A EXAME FORMAL
PRELIMINAR E, SE DEVIDAMENTE INSTRUÍDO, SERÁ PROTOCOLIZADO,
CONSIDERADA A DATA DE DEPÓSITO A DA SUA APRESENTAÇÃO”. Passando
nesse pedido, a patente é considerada depositada. Há, portanto, retroação
69

para definição da data de depósito. Isso, é muito importante, na medida


em que, conforme o art. 40, LPI, “A PATENTE DE INVENÇÃO VIGORARÁ PELO
PRAZO DE 20 (VINTE) ANOS E A DE MODELO DE UTILIDADE PELO PRAZO 15
(QUINZE) ANOS CONTADOS DA DATA DE DEPÓSITO”.
ii. Patente concedida e patente depositada. Na prática, a patente pode ser
depositada ou concedida. Depositada é aquele que passou no exame
formal preliminar, enquanto patente concedida é aquele que passou por
todo o processo e foi expedida carta patente. Apesar do procedimento
complemento se dar apenas com a patente concedida, já existem direitos
com a patente depositada.
16. Extinção da patente. O prazo da patente, normalmente, é de 15 ou 20 anos, no entanto,
pode ser menor, nos termos do art. 78, LPI:
Art. 78. A patente extingue-se:

I - pela expiração do prazo de vigência;

II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;

III - pela caducidade;

a. Definição. Nos termos do art. 80, LPI, é o não uso da patente.


IV - pela falta de pagamento da retribuição anual, nos prazos previstos no § 2º do art. 84 e no art. 87

b. Custos. O Estado não concede a patente gratuitamente, havendo custas na sua


proteção.
V - pela inobservância do disposto no art. 217.

c. Patentes para empresas ou empresário domiciliado fora do Brasil. Conforme


o art. 217, LPI, “A PESSOA DOMICILIADA NO EXTERIOR DEVERÁ CONSTITUIR E
MANTER PROCURADOR DEVIDAMENTE QUALIFICADO E DOMICILIADO NO PAÍS, COM
PODERES PARA REPRESENTÁ-LA ADMINISTRATIVA E JUDICIALMENTE, INCLUSIVE PARA
RECEBER CITAÇÕES”. Dessa forma, se não houver o procurador, o INPI pode
extinguir a patente.
17. Desenho industrial. O desenho industrial são os aspectos formais de um bem. Seria,
de certa forma, a forma plástica externa. As invenções e modelos de utilidade, por
outro lado, tratam da forma interna. Conforme o art. 95, LPI, “CONSIDERA-SE DESENHO
INDUSTRIAL A FORMA PLÁSTICA ORNAMENTAL DE UM OBJETO OU O CONJUNTO
ORNAMENTAL DE LINHAS E CORES QUE POSSA SER APLICADO A UM PRODUTO,
PROPORCIONANDO RESULTADO VISUAL NOVO E ORIGINAL NA SUA CONFIGURAÇÃO EXTERNA
E QUE POSSA SERVIR DE TIPO DE FABRICAÇÃO INDUSTRIAL”. Esse desenho precisar ser
dotado, portanto, de novidade, originalidade e industriabilidade.
70

a. Registro do desenho industrial. Conforme o art. 94, LPI, “AO AUTOR SERÁ
ASSEGURADO O DIREITO DE OBTER REGISTRO DE DESENHO INDUSTRIAL QUE LHE
CONFIRA A PROPRIEDADE, NAS CONDIÇÕES ESTABELECIDAS NESTA LEI.”. O registro,
portanto, concede a propriedade, sendo constitutivo, conforme o art. 109, LPI
b. Requisitos. São quatro os requisitos do desenho industrial, os mesmos da
patente, nos termos do art. 95, LPI:
i. Novidade;
ii. Originalidade;
iii. Aplicação industrial;
iv. Ilicitude.
c. Prazo da proteção. Conforme o art. 108, LPI, “O REGISTRO VIGORARÁ PELO PRAZO
DE 10 (DEZ) ANOS CONTADOS DA DATA DO DEPÓSITO, PRORROGÁVEL POR 3 (TRÊS)
PERÍODOS SUCESSIVOS DE 5 (CINCO) ANOS CADA”.
d. Extinção. As causas de extinção do registro estão dispostas no art. 119, LPI,
sendo quase as mesmas causas de extinção das patentes:
Art. 119. O registro extingue-se:

I - pela expiração do prazo de vigência;

II - pela renúncia de seu titular, ressalvado o direito de terceiros;

III - pela falta de pagamento da retribuição prevista nos arts. 108 e 120; ou

IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

AULA 8

1. Propriedades das patentes. As patentes, embora desenvolvidas por pessoas naturais,


podem ser titularizadas por pessoas jurídicas. A patente pode ser propriedade de três
maneiras:
a. Pessoa jurídica ou empregador. Conforme o art. 88, LPI, “A INVENÇÃO E O
MODELO DE UTILIDADE PERTENCEM EXCLUSIVAMENTE AO EMPREGADOR QUANDO
DECORREREM DE CONTRATO DE TRABALHO CUJA EXECUÇÃO OCORRA NO BRASIL E
QUE TENHA POR OBJETO A PESQUISA OU A ATIVIDADE INVENTIVA, OU RESULTE ESTA
DA NATUREZA DOS SERVIÇOS PARA OS QUAIS FOI O EMPREGADO CONTRATADO”.
b. Pessoas naturais ou empregado. As possibilidades de detenção pela pessoa
naturais são muito remotas. Conforme o art. 90, LPI, “PERTENCERÁ
EXCLUSIVAMENTE AO EMPREGADO A INVENÇÃO OU O MODELO DE UTILIDADE POR ELE
DESENVOLVIDO, DESDE QUE DESVINCULADO DO CONTRATO DE TRABALHO E NÃO
71

DECORRENTE DA UTILIZAÇÃO DE RECURSOS, MEIOS, DADOS, MATERIAIS,


INSTALAÇÕES OU EQUIPAMENTOS DO EMPREGADOR”. Por fim, o art. 91, LPI, dispõe
a possibilidade de divisão da propriedade pelo empregador e pelo empregado.
Portanto, pela análise do dispositivo, nota-se que a Lei é completamente
favorável ao empregador.
c. Copropriedade. Conforme o art. 91, LPI, “A PROPRIEDADE DE INVENÇÃO OU DE
MODELO DE UTILIDADE SERÁ COMUM, EM PARTES IGUAIS, QUANDO RESULTAR DA
CONTRIBUIÇÃO PESSOAL DO EMPREGADO E DE RECURSOS, DADOS, MEIOS, MATERIAIS,
INSTALAÇÕES OU EQUIPAMENTOS DO EMPREGADOR, RESSALVADA EXPRESSA
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL EM CONTRÁRIO”.
i. Inventor. Conforme o art. 93, parágrafo único, LPI, “NA HIPÓTESE DO ART.
88, SERÁ ASSEGURADA AO INVENTOR, NA FORMA E CONDIÇÕES PREVISTAS NO
ESTATUTO OU REGIMENTO INTERNO DA ENTIDADE A QUE SE REFERE ESTE
ARTIGO, PREMIAÇÃO DE PARCELA NO VALOR DAS VANTAGENS AUFERIDAS
COM O PEDIDO OU COM A PATENTE, A TÍTULO DE INCENTIVO”. No máximo,
portanto, o inventor recebe um prêmio.
ii. Propriedade pela Administração Pública. Conforme o art. 93, LPI,
“APLICA-SE O DISPOSTO NESTE CAPÍTULO, NO QUE COUBER, ÀS ENTIDADES DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, DIRETA, INDIRETA E FUNDACIONAL, FEDERAL,
ESTADUAL OU MUNICIPAL”.
iii. Propriedade de desenhos industriais. Aos desenhos industriais são
aplicadas as mesmas regras dos art. 88, a 93, LPI, conforme o art. 121,
LPI.

Marcas

1. Traços distintivos das marcas. As marcas estão regidas a partir do art. 122, LPI,
segundo o qual “SÃO SUSCETÍVEIS DE REGISTRO COMO MARCA OS SINAIS DISTINTIVOS
VISUALMENTE PERCEPTÍVEIS, NÃO COMPREENDIDOS NAS PROIBIÇÕES LEGAIS”. As marcas
têm dois pontos essenciais:
a. Prescindibilidade de aplicação industrial. Com efeito, a aplicação industrial é
apenas traço acidental nas marcas, diferentemente das patentes e dos desenhos
industriais.
b. Direito à marca perpétua. Diferentemente das patentes e dos desenhos
industriais, ditos direitos de propriedade industrial autênticos, os direitos
sobre marcas não estão fadados a se vulgarizar.
72

2. Conceitos e diferenciação dos sinais distintivos da empresa. São eles:


a. Marca. A marca é um sinal distintivo de produto ou serviço, como o nome
empresarial e o título estabelecimento, sendo esse o ponto comum entre os três
institutos.
i. Escopo. O escopo da marca é o produto ou serviço da empresa.
ii. Proteção. Seu registro é feito no INPI.
iii. Facultatividade. A marca não é elemento obrigatório para o exercício da
empresa.
b. Título do estabelecimento. A marca não se confunde com o título do
estabelecimento.
i. Escopo. Seu escopo é o perfil objetivo da empresa.
ii. Proteção. Importante destacar que o título do estabelecimento não é
registrável, sendo protegido pelo uso.
iii. Facultatividade. O título do estabelecimento é elemento facultativo da
empresa e sem regras para sua formação.
c. Nome empresarial. O nome empresarial é nomeação oficial e obrigatória do
empresário ou sociedade empresário para o exercício da empresa, sendo
regulado especificamente pelo Código Civil e NÃO INTEGRANDO A PROPRIEDADE
INDUSTRIAL.
i. Escopo. Seu escopo é o perfil subjetivo da empresa.
ii. Proteção. Sua proteção se dá pelo registro na Junta Comercial, com
inscrição regular do empresário.
3. Propriedade da marca. Conforme o art. 129, LPI, “A PROPRIEDADE DA MARCA ADQUIRE-
SE PELO REGISTRO VALIDAMENTE EXPEDIDO, CONFORME AS DISPOSIÇÕES DESTA LEI, SENDO
ASSEGURADO AO TITULAR SEU USO EXCLUSIVO EM TODO O TERRITÓRIO NACIONAL,
OBSERVADO QUANTO ÀS MARCAS COLETIVAS E DE CERTIFICAÇÃO O DISPOSTO NOS ARTS. 147
E 148”.
a. Proteção nacional e erga omnes. A marca é protegida, diferentemente dos
outros três sinais distintivos, em nível nacional. Além disso, a proteção da
marca é erga omnes.
4. Espécies de marcas. Conforme o art. 123, LPI, existem três tipos de marcas:
a. Marcas de produto ou serviço. É “AQUELA USADA PARA DISTINGUIR PRODUTO OU
SERVIÇO DE OUTRO IDÊNTICO, SEMELHANTE OU AFIM, DE ORIGEM DIVERSA”.
i. Marcas de comércio e indústria. Essa era a expressão antiga para a
denominação das marcas de produto ou serviço; porém, não mais
existem na legislação atual.
73

b. Marca de certificação. É “AQUELA USADA PARA ATESTAR A CONFORMIDADE DE UM


PRODUTO OU SERVIÇO COM DETERMINADAS NORMAS OU ESPECIFICAÇÕES
TÉCNICAS, NOTADAMENTE QUANTO À QUALIDADE, NATUREZA, MATERIAL
UTILIZADO E METODOLOGIA EMPREGADA”.
c. Marca coletiva. É “AQUELA USADA PARA IDENTIFICAR PRODUTOS OU SERVIÇOS
PROVINDOS DE MEMBROS DE UMA DETERMINADA ENTIDADE”.
5. Proibições legais. Existem, no art. 124, LPI, vedações a certas marcas, cabendo
processo de nulidade de marcas:
Art. 124. Não são registráveis como marca:

I - brasão, armas, medalha, bandeira, emblema, distintivo e monumento oficiais, públicos, nacionais,
estrangeiros ou internacionais, bem como a respectiva designação, figura ou imitação;

a. Distinção. Com efeito, podem haver registros desses elementos se forem


privados.
II - letra, algarismo e data, isoladamente, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

b. Exemplo. Exemplo notório é a marca “Cachaça 21”.


III - expressão, figura, desenho ou qualquer outro sinal contrário à moral e aos bons costumes ou que ofenda a
honra ou imagem de pessoas ou atente contra liberdade de consciência, crença, culto religioso ou ideia e
sentimento dignos de respeito e veneração;

c. Requisito da licitude. Esse requisito se repete nos três sinais distintivos da


empresa Trata-se do requisito da licitude.
IV - designação ou sigla de entidade ou órgão público, quando não requerido o registro pela própria entidade ou órgão
público;

d. Distinção. A vedação é de designação ou sigla de entidade de órgão público,


não privado.
V - reprodução ou imitação de elemento característico ou diferenciador de título de estabelecimento ou nome
de empresa de terceiros, suscetível de causar confusão ou associação com estes sinais distintivos;

e. Ausência de confusão. Portanto, se não há possibilidade de confusão, pelos


produtos serem de âmbitos notavelmente distintos, não há vedação.
VI - sinal de caráter genérico, necessário, comum, vulgar ou simplesmente descritivo, quando tiver relação com
o produto ou serviço a distinguir, ou aquele empregado comumente para designar uma característica do
produto ou serviço, quanto à natureza, nacionalidade, peso, valor, qualidade e época de produção ou de
prestação do serviço, salvo quando revestidos de suficiente forma distintiva;

VII - sinal ou expressão empregada apenas como meio de propaganda;


74

f. Mudança na legislação. A antiga lei da propriedade industrial entedia que


sinal e expressão de propaganda seriam registráveis pelo prazo de dez anos.
No entanto, isso caiu. O sinal ou expressão de propaganda não são registráveis,
mas são atualmente protegidas pelo uso.

VIII - cores e suas denominações, salvo se dispostas ou combinadas de modo peculiar e distintivo;

IX - indicação geográfica, sua imitação suscetível de causar confusão ou sinal que possa falsamente induzir
indicação geográfica;

g. Indicação geográfica. São reguladas a partir do art. 176, LPI, segundo o qual
“CONSTITUI INDICAÇÃO GEOGRÁFICA A INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA OU A
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM”. As indicações geográficas não entram no âmbito
da propriedade industrial como registro, mas para efeitos de proteção contra
utilização indevida por membros que não sejam de uma região específica ou que não
deem certo tratamento a um produto.
i. Indicação de procedência. Conforme o art. 177, LPI, “CONSIDERA-SE
INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA O NOME GEOGRÁFICO DE PAÍS, CIDADE, REGIÃO
OU LOCALIDADE DE SEU TERRITÓRIO, QUE SE TENHA TORNADO CONHECIDO
COMO CENTRO DE EXTRAÇÃO, PRODUÇÃO OU FABRICAÇÃO DE DETERMINADO
PRODUTO OU DE PRESTAÇÃO DE DETERMINADO SERVIÇO”. As indicações
geográficas só podem ser usadas por empresas que tem produtos
procedentes da área indicada, conforme o art. 182, LPI.
ii. Denominação de origem. Conforme o art. 178, LPI, “CONSIDERA-SE
DENOMINAÇÃO DE ORIGEM O NOME GEOGRÁFICO DE PAÍS, CIDADE, REGIÃO
OU LOCALIDADE DE SEU TERRITÓRIO, QUE DESIGNE PRODUTO OU SERVIÇO
CUJAS QUALIDADES OU CARACTERÍSTICAS SE DEVAM EXCLUSIVA OU
ESSENCIALMENTE AO MEIO GEOGRÁFICO, INCLUÍDOS FATORES NATURAIS E
HUMANOS”. A denominação de origem está ligada ao tratamento de um
determinado produto, não apenas a o local em que foi produzido. Esse
tratamento é determinado e averiguado por uma entidade
representativa dos produtores que são daquela denominação de origem.
Ainda, conforme o art. 182, LPI, só poderão usar a denominação de
origem aqueles produtores que, além da localização geográfica, atendem
requisitos de qualidade.
h. Indicação figurativa. Conforme os art. 179, LPI, “A PROTEÇÃO ESTENDER-SE-Á À
REPRESENTAÇÃO GRÁFICA OU FIGURATIVA DA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA, BEM COMO
75

À REPRESENTAÇÃO GEOGRÁFICA DE PAÍS, CIDADE, REGIÃO OU LOCALIDADE DE SEU


TERRITÓRIO CUJO NOME SEJA INDICAÇÃO GEOGRÁFICA”.

X - sinal que induza a falsa indicação quanto à origem, procedência, natureza, qualidade ou utilidade do
produto ou serviço a que a marca se destina;

XI - reprodução ou imitação de cunho oficial, regularmente adotada para garantia de padrão de qualquer gênero
ou natureza;

XII - reprodução ou imitação de sinal que tenha sido registrado como marca coletiva ou de certificação por
terceiro, observado o disposto no art. 154;

XIII - nome, prêmio ou símbolo de evento esportivo, artístico, cultural, social, político, econômico ou técnico,
oficial ou oficialmente reconhecido, bem como a imitação suscetível de criar confusão, salvo quando autorizados
pela autoridade competente ou entidade promotora do evento;

i. Distinção. O registro tem de ser oficial ou oficialmente reconhecido, não


havendo vedação no sentido de entidades privadas.
XIV - reprodução ou imitação de título, apólice, moeda e cédula da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos
Territórios, dos Municípios, ou de país;

j. Crime. Além disso, esse inciso é crime de moeda falsa.


XV - nome civil ou sua assinatura, nome de família ou patronímico e imagem de terceiros, salvo com
consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

XVI - pseudônimo ou apelido notoriamente conhecidos, nome artístico singular ou coletivo, salvo com
consentimento do titular, herdeiros ou sucessores;

k. Direitos da personalidade. Com efeito, nos dois últimos incisos, há relação


evidente com a proteção dos direitos da personalidade.
XVII - obra literária, artística ou científica, assim como os títulos que estejam protegidos pelo direito autoral e
sejam suscetíveis de causar confusão ou associação, salvo com consentimento do autor ou titular;

XVIII - termo técnico usado na indústria, na ciência e na arte, que tenha relação com o produto ou serviço a
distinguir;

XIX - reprodução ou imitação, no todo ou em parte, ainda que com acréscimo, de marca alheia registrada, para
distinguir ou certificar produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou
associação com marca alheia;

XX - dualidade de marcas de um só titular para o mesmo produto ou serviço, salvo quando, no caso de marcas
de mesma natureza, se revestirem de suficiente forma distintiva;
76

XXI - a forma necessária, comum ou vulgar do produto ou de acondicionamento, ou, ainda, aquela que não
possa ser dissociada de efeito técnico;

XXII - objeto que estiver protegido por registro de desenho industrial de terceiro; e

XXIII - sinal que imite ou reproduza, no todo ou em parte, marca que o requerente evidentemente não poderia
desconhecer em razão de sua atividade, cujo titular seja sediado ou domiciliado em território nacional ou em
país com o qual o Brasil mantenha acordo ou que assegure reciprocidade de tratamento, se a marca se destinar
a distinguir produto ou serviço idêntico, semelhante ou afim, suscetível de causar confusão ou associação com
aquela marca alheia.

l. Classificação internacional de marcas ou de Nice. Os três tipos de marcas do


art. 123, LPI, têm proteção nacional sabidamente. Além disso, elas só têm proteção
na classe em que estiver registrada. Antes de deferir o registro, de fato, o INPI
insere a marca em uma classificação internacional de produtos ou serviços,
denominada classificação internacional de marcas ou de Nice. A classe da
marca é indicada pelo próprio titular da marca, podendo ser inserida em uma
ou mais espécies.
i. Princípio da especialidade. Preceitua que a marca registrada só tem o
direito de exclusividade nas classes ou na classe em que está indicada.
1. Exceção quanto às marcas de alto renome. A exceção do
princípio da especialidade está no art. 125, LPI, segundo o qual
“À MARCA REGISTRADA NO BRASIL CONSIDERADA DE ALTO RENOME
SERÁ ASSEGURADA PROTEÇÃO ESPECIAL, EM TODOS OS RAMOS DE
ATIVIDADE”. Essas marcas de alto renome têm proteção em todas
as classes. Esse título é concedido sob requerimento, não ex officio.
São critérios da definição do alto renome:
a. Utilização;
b. Popularização;
c. Reconhecimento.
ii. Princípio da territorialidade. Defende que a marca registrada só é
protegida no Estado nacional que expede o registro.
1. Exceção quanto às marcas notoriamente conhecidas. Essas
marcas também precisam de um status, como as marcas de alto
renome. No entanto, elas são notoriamente reconhecidas nas classes em
que são registradas. Sendo assim, essas marcas possuem proteção
no âmbito nacional e nos países signatários da Convenção da
União de Paris, conforme o art. 126, LPI. Dessa forma, quando a
marca ganha conhecimento notório, ela tem proteção
77

transnacional nesses Estados signatários, mas, sabidamente,


naquela classe, mantendo-se o princípio da especialidade.
6. Proteção conferida pelo registro. Conforme o art. 130, LPI:

Art. 130. Ao titular da marca ou ao depositante é ainda assegurado o direito de:

I - ceder seu registro ou pedido de registro;

II - licenciar seu uso;

III - zelar pela sua integridade material ou reputação.

a. Efeitos contra terceiros. Todos os contratos de cessão de registros de marcas devem


ser averbados no INPI para que tenha efeitos contra terceiros.
i. Distinção entre cessão e licenciamento. A cessão é um ato definitivo,
enquanto o licenciamento seria uma espécie de “aluguel”. A franquia,
por exemplo, é uma espécie de licenciamento.
7. Perda do direito de marca. Conforme o art. 142, LPI:

Art. 142. O registro da marca extingue-se:

I - pela expiração do prazo de vigência;

II - pela renúncia, que poderá ser total ou parcial em relação aos produtos ou serviços assinalados pela marca;

III - pela caducidade; ou

IV - pela inobservância do disposto no art. 217.

Atributos da Empresa

8. Tipologia dos atributos da empresa. Os atributos da empresa são constituídos pela


clientela e o aviamento. Ambos são bens imateriais, mas não são considerados elementos
incorpóreos do estabelecimento, de forma que não podem ser dispostos pelo empresário.
a. Clientela. A clientela são todas as pessoas que mantém relações com o
empresário de forma contínua, seja por questões de qualidade – clientela
propriamente dita –, seja por, segundo alguns autores, conveniência – freguesia.
i. Regência legal. A clientela não é regulada no Código Civil, mas há uma
proteção – referência indireta – no art. 1.147, CC, segundo o qual “NÃO
HAVENDO AUTORIZAÇÃO EXPRESSA, O ALIENANTE DO ESTABELECIMENTO
NÃO PODE FAZER CONCORRÊNCIA AO ADQUIRENTE, NOS CINCO ANOS
SUBSEQÜENTES À TRANSFERÊNCIA”. As principais normas sobre a clientela
78

estão na Lei de Propriedade Industrial, no art. 195. Essa proteção é feita


tanto pela criminalização de certas condutas como por meio da
classificação dessas condutas como ilícitos civis, nos termos dos arts. 207
e 209, LPI.
1. Crimes de proteção à clientela. Os crimes do art. 195, LPI, são,
em sua maioria, crimes de desvio de clientela. Esses crimes são
punidos apenas na modalidade dolosa e por meio de ação penal
privada. No entanto, para efeitos de responsabilização civil, pode
haver indenização em razão de culpa. Além disso, no âmbito civil,
a enumeração das condutas dos arts. 207 e 209, LPI, é
exemplificativa, diferentemente do âmbito penal, no qual a
enumeração das condutas é exaustiva.
a. Distinção entre os crimes contra e Ordem Econômica e de
concorrência desleal. Aqui, não se está falando em crimes
contra a Ordem Econômica, tipificados na Lei 12.559/11 [Lei do
CAD], como a vedação ao truste, por exemplo, mas em crimes
de abrangência menor, entre alguns poucos concorrentes.
Art. 195. Comete crime de concorrência desleal quem:

I - publica, por qualquer meio, falsa afirmação, em detrimento de concorrente, com o fim de obter vantagem;

II - presta ou divulga, acerca de concorrente, falsa informação, com o fim de obter vantagem;

III - emprega meio fraudulento, para desviar, em proveito próprio ou alheio, clientela de outrem;

IV - usa expressão ou sinal de propaganda alheios, ou os imita, de modo a criar confusão entre os produtos ou
estabelecimentos;

b. Proteção pelo uso. Não se pode usar expressão ou sinal de


propagando como marca. No entanto, há sua proteção
pelo uso.

V - usa, indevidamente, nome comercial, título de estabelecimento ou insígnia alheios ou vende, expõe ou
oferece à venda ou tem em estoque produto com essas referências;

VI - substitui, pelo seu próprio nome ou razão social, em produto de outrem, o nome ou razão social deste, sem
o seu consentimento;

VII - atribui-se, como meio de propaganda, recompensa ou distinção que não obteve;
79

VIII - vende ou expõe ou oferece à venda, em recipiente ou invólucro de outrem, produto adulterado ou
falsificado, ou dele se utiliza para negociar com produto da mesma espécie, embora não adulterado ou
falsificado, se o fato não constitui crime mais grave;

c. Crime. Pode se tornar crime contra a saúde pública.

IX - dá ou promete dinheiro ou outra utilidade a empregado de concorrente, para que o empregado, faltando
ao dever do emprego, lhe proporcione vantagem;

X - recebe dinheiro ou outra utilidade, ou aceita promessa de paga ou recompensa, para, faltando ao dever de
empregado, proporcionar vantagem a concorrente do empregador;

XI - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos, informações ou dados confidenciais,


utilizáveis na indústria, comércio ou prestação de serviços, excluídos aqueles que sejam de conhecimento
público ou que sejam evidentes para um técnico no assunto, a que teve acesso mediante relação contratual ou
empregatícia, mesmo após o término do contrato;

XII - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de conhecimentos ou informações a que se refere o inciso
anterior, obtidos por meios ilícitos ou a que teve acesso mediante fraude; ou

XIII - vende, expõe ou oferece à venda produto, declarando ser objeto de patente depositada, ou concedida, ou
de desenho industrial registrado, que não o seja, ou menciona-o, em anúncio ou papel comercial, como
depositado ou patenteado, ou registrado, sem o ser;

XIV - divulga, explora ou utiliza-se, sem autorização, de resultados de testes ou outros dados não divulgados,
cuja elaboração envolva esforço considerável e que tenham sido apresentados a entidades governamentais
como condição para aprovar a comercialização de produtos.

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, ou multa.

2. Ilícitos civis. Estão dispostos nos arts. 207 e 209. O art. 209, LPI,
seria a cláusula de proteção geral à clientela.
Art. 207. Independentemente da ação criminal, o prejudicado poderá intentar as ações cíveis que considerar cabíveis
na forma do Código de Processo Civil.

Art. 209. Fica ressalvado ao prejudicado o direito de haver perdas e danos em ressarcimento de prejuízos
causados por atos de violação de direitos de propriedade industrial e atos de concorrência desleal não previstos
nesta Lei, tendentes a prejudicar a reputação ou os negócios alheios, a criar confusão entre estabelecimentos
comerciais, industriais ou prestadores de serviço, ou entre os produtos e serviços postos no comércio.

9. Aviamento. O aviamento não possui regulamentação legal, decorrendo do uso. Além


disso, o código não o conceitua. Ele é exposto no art. 1.187, parágrafo único, III, CC, no
qual se trata do balanço patrimonial:
Parágrafo único. Entre os valores do ativo podem figurar, desde que se preceda, anualmente, à sua
amortização:
80

III - a quantia efetivamente paga a título de aviamento de estabelecimento adquirido pelo empresário
ou sociedade.

a. Conceito. “SENDO FATO EVIDENTE QUE A EMPRESA CONSTITUI UMA ATIVIDADE


ORGANIZADA CONTENDO VÁRIOS ELEMENTOS, OU O ESTABELECIMENTO COMERCIAL
VÁRIOS BENS, O VALOR DECORRENTE DESSE COMPLEXO É MAIOR DO QUE A SOMA DOS
ELEMENTOS ISOLADOS. ESSA MAIS VALIA CONSTITUI, PRECISAMENTE, O QUE O DIREITO
DENOMINA AVIAMENTO. [...]. O AVIAMENTO RESULTA, PORTANTO, DA
ORGANIZAÇÃO DOS ELEMENTOS E FATORES DA EMPRESA OU FUNDO DE COMÉRCIO.
“(Rubens Requião).
b. Tipologia. A distinção entre as espécies de aviamento não é feita pela
legislação, mas pela Doutrina. São tipos de aviamento:
i. Subjetivo. É aquele que decorre da organização da empresa, notavelmente
pelas qualidades pessoais do empresário.
ii. Objetivo. É aquele que decorre da localização do estabelecimento. Em
estabelecimento virtuais, naturalmente, a discussão sobre o aviamento
subjetivo deixa de ter relevância.
c. Presença incidental no estabelecimento. Embora o aviamento apareça como
item do ativo de um estabelecimento, esse instituto é mais relacionado ao
trespasse. Ele não entra no estabelecimento de forma propriamente dita, mas
incidentalmente.
81

SEGUNDA PROVA

DIREITO SOCIETÁRIO
82

AULA 9

Sociedades Empresárias

1. Tipologia do exercício da empresa. A empresa pode ser exercida tanto por pessoas
físicas quanto por pessoas jurídicas. No estudo das sociedades, o foco se dá na pessoa
jurídica. Quando a empresa é exercida por pessoas jurídicas, ela não pode se dar sob
a forma de associações nem fundações, vez que elas não têm finalidade lucrativa.
2. Peculiaridade da localização das normas sobre sociedades no Código Civil. No art.
981, CC, a sociedade é definida como contrato. No entanto, elas não são reguladas no
Direito das Obrigações, no Livro I do Código Civil. ISSO OCORRE POIS, APESAR DE
CONTRATO, ELE É ELABORADO PARA O EXERCÍCIO DE UMA ATIVIDADE ECONÔMICA. Dessa
forma, o legislador preferiu que a sociedade fosse tratada no Direito de Empresa.
a. Natureza jurídica, requisitos de personalização e tipos de sociedade.
Enquanto a sociedade é definida pela natureza jurídica de contrato, nem toda
sociedade é pessoa jurídica. Conforme o art. 981, CC, “CELEBRAM CONTRATO DE
SOCIEDADE AS PESSOAS QUE RECIPROCAMENTE SE OBRIGAM A CONTRIBUIR, COM
BENS OU SERVIÇOS, PARA O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE ECONÔMICA E A PARTILHA,
ENTRE SI, DOS RESULTADOS”. Ainda, como pessoa jurídica de direito privado,
está a sociedade enumerada no art. 44, II, CC. No entanto, a existência da
sociedade como pessoa jurídica não decorre de ajuste verbal ou por contrato
escrito. Na realidade, o contrato só se transmuta em pessoa jurídica mediante a
satisfação de certos requisitos. Diante da possibilidade de transmutação ou não do
contrato em pessoa jurídica, surgem dois tipos de sociedade:
i. Sociedade personificada. A sociedade personificada é, além de
contrato, pessoa jurídica. O art. 985, CC, é fundamental no que tange a
essa sociedade, uma vez que expõe os requisitos necessários. Faltando
qualquer um dos requisitos, não é possível se falar em personificação da
sociedade. São eles:
1. Documento escrito. O contrato de sociedade é um contrato não
solene. No entanto, a sociedade personificada só tem existência a
partir de um documento escrito;
2. Arquivamento no registro;
3. Registro próprio. Além do arquivamento no registro, é preciso
que esse registro seja próprio.
83

a. Sistema dual. A legislação brasileira adota o sistema dual,


conforme a natureza da sociedade. Se a sociedade é
empresarial, sujeita-se ao registro empresarial na Junta
Comercial, conforme o art. 1.150, CC. Porém, as
sociedades não empresárias estão sujeitas ao Registro
Civil de Pessoas Jurídicas [RCPJ]. Não se aceita, nesse
sentido, fungibilidade.
4. Forma de Lei especial. Trata-se da Lei 9.834/99 e Lei 6.015/73.
ii. Sociedade não personificada. Trata-se de um contrato, mas não se
transmuta em pessoa jurídica.

Sociedades Personificadas

3. Tipos de sociedades personificadas. As sociedades personificadas têm de indicar um


tipo de sociedade, conforme o art. 983, CC. Segundo a norma “A SOCIEDADE
EMPRESÁRIA DEVE CONSTITUIR-SE SEGUNDO UM DOS TIPOS REGULADOS NOS ARTS. 1.039 A
1.092; A SOCIEDADE SIMPLES PODE CONSTITUIR-SE DE CONFORMIDADE COM UM DESSES TIPOS,
E, NÃO O FAZENDO, SUBORDINA-SE ÀS NORMAS QUE LHE SÃO PRÓPRIAS”. Primeiramente,
as sociedades podem se dividir em dois tipos:
a. Simples. É aquela sociedade que não é empresária. Ela pode adotar qualquer
um dos cinco tipos da sociedade empresarial, ainda, mais dois tipos. São eles:
i. Cooperativa. Reguladas em Lei Especial.
ii. Simples. Regulada pelo Código Civil.
b. Empresárias. Conforme o art. 982, CC, “SALVO AS EXCEÇÕES EXPRESSAS,
CONSIDERA-SE EMPRESÁRIA A SOCIEDADE QUE TEM POR OBJETO O EXERCÍCIO DE
ATIVIDADE PRÓPRIA DE EMPRESÁRIO SUJEITO A REGISTRO (ART. 967); E, SIMPLES, AS
DEMAIS”. São sociedades que exercem empresa. Elas podem se constituir em um
dentre cinco tipos:
i. Sociedade em nome coletivo. Regulada pelo Código Civil;
ii. Sociedade em comandita simples. Regulada no Código Civil;
iii. Sociedade limitada. Regulada no Código Civil.
iv. Sociedade anônima ou companhia. Regulada em Lei Especial.
v. Sociedade em comandita por ações. É a sociedade dividida em ações,
não em cotas.
4. Indicação dos tipos. Os sócios podem escolher o tipo que querem adotar para a
sociedade. No entanto, pode ser que Lei Especial determine certo tipo, como, por
84

exemplo, instituições financeiras – só podem ser constituídas como sociedade


anônima ou cooperativa de crédito – e sociedades que atuam com seguro – têm de
necessariamente constituídas sob a forma de sociedade anônima.
5. Conceito de sociedade. Conforme o art. 981, CC, “CELEBRAM CONTRATO DE SOCIEDADE
AS PESSOAS QUE RECIPROCAMENTE SE OBRIGAM A CONTRIBUIR, COM BENS OU SERVIÇOS,
PARA O EXERCÍCIO DE ATIVIDADE ECONÔMICA E A PARTILHA, ENTRE SI, DOS RESULTADOS”.
São elementos do conceito de sociedade:
a. Contrato de sociedade plurilateral. A Doutrina identifica, atualmente, o
contrato de sociedade como plurilateral, não bilateral. Anteriormente, tinha-se
que o contrato poderia ser apenas unilateral ou bilateral quanto aos seus efeitos.
No entanto, depois, depois de 1940, a Doutrina passou a definir que o contrato
de sociedade poderia ser plurilateral, em conformidade com os estudos de
Tullio Ascarelli. Portanto, o Código repele qualquer outra natureza que não
seja contrato multilateral – isto é, repele o ato unilateral de vontade.
i. Aplicação das normas do negócio jurídico e contrato. Lembre-se que a
sociedade, antes de ser sociedade, é um contrato. E, antes de ser contrato,
é negócio jurídico, de forma que a disposição desses dois institutos são
todas válidas.
ii. Sociedades unipessoais. Diante da teoria, não se admite, a efeito
permanente, sociedades unipessoais. Conforme o art. 1.033, IV, CC, só se
admite sociedades unipessoais por até 180 dias, até que seja
reconstituída a pluralidade de sócios. Vencido o prazo, reputa-se a
sociedade dissolvida.
iii. Pessoas físicas e jurídicas. Se não houver restrição, pessoas físicas e
jurídicas podem compor a sociedade. Há, porém, restrição no art. 1.039,
CC, definidor de que apenas pessoas físicas podem integrar sociedade em
nome coletivo.
iv. Novas adesões e adesões de incapazes. O contrato de sociedade é aberto
a novas adesões, sendo constituído, pelo menos, de dois sócios. Se os
sócios não fizerem qualquer tipo de limitação no contrato, qualquer pessoa pode
participar do contrato de sociedade, inclusive os incapazes. Conforme o art.
974, § 3º, CC, podem os incapazes participar na origem ou no curso da
existência das sociedades, a despeito do regime geral de capacidades
que é disposto no art. 104, CC, expoente dos requisitos de validade do
negócio jurídico.
1. Incapacidade de administração e necessidade de representação
ou assistência. No entanto, o incapaz não pode ser
85

administrador, pois ela traz responsabilidades, além de sempre ter


de estar representado ou assistido.
2. Requisito complementar para integração por incapazes. Além
disso, o capital da empresa tem de estar integralizado para que o
incapaz possa ser sócio.
v. Reciprocidade de interesses. Nos contratos bilaterais, os contratos
visam a satisfazer interesses recíprocos. Nos contratos multilaterais, por
outro lado, há uma convergência para o interesse comum. As
manifestações de vontade, portanto, não visam aos interesses
particulares, mas de um conjunto de pessoas.
1. Causas de extinção. Os contratos bilaterais se extinguem com a
morte e interdição dos contratantes. No entanto, os contratos
multilaterais – a não ser que tenham dois sócios apenas – continuam
mesmo com a perda de um dos sócios de seu quadro. Portanto,
os contratos multilaterais não possuem as mesmas causas de
extinção dos bilaterais. Dessa forma, com a perda de um sócio,
não ocorre a extinção do contrato, mas resolução da sociedade
em relação a um sócio, expressão adotada no art. 1.031, CC.
2. Pessoas casadas. O contrato de sociedade também é aberto a
pessoas casadas. Conforme o art. 977, CC, “FACULTA-SE AOS
CÔNJUGES CONTRATAR SOCIEDADE, ENTRE SI OU COM TERCEIROS,
DESDE QUE NÃO TENHAM CASADO NO REGIME DA COMUNHÃO
UNIVERSAL DE BENS, OU NO DA SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA”.
Naturalmente, aqui se discute a hipótese de ambos os cônjuges
estarem na mesma sociedade. Em se tratando de sociedade
distintas, não há nenhuma vedação.
a. Pacto antenupcial. Se o pacto antenupcial entre os
cônjuges for da comunhão universal de bens, há vedação
da permanência ou constituição da sociedade.
i. Ato jurídico perfeito. Se os cônjuges se casaram em
regime universal de bens e formaram sociedade
antes do Código Civil de 2002, não incide essa
vedação, podendo eles continuar o exercício da
empresa mesmo nesse regime. De fato, trata-se de
hipótese de ato jurídico perfeito.
b. Separação obrigatória de bens. Em se tratando de
separação obrigatória de bens, prevista em alguns artigos
86

do Código Civil, como por exemplo, nubentes com mais


de 70 anos, conforme o art. 1.641, CC, não se pode
constituir sociedade.
b. Contribuição com bens ou serviços. A contribuição dos sócios pode ser tanto
em bens quanto serviços:
i. Contribuição em bens. Os bens oferecidos pelos sócios podem ser tanto
bens em espécie – in natura – quanto bens em numerário, isto é, créditos
e dinheiro. Esses bens podem ser, ainda, direitos intangíveis, como os
direitos de propriedade industrial.
ii. Contribuição em serviços. A contribuição dos sócios pode ser também
em serviços, isto é, trabalho braçal, de natureza física, ou trabalho
intelectual.
1. Sociedades empresárias. Nas sociedades empresárias, é vedada
a contribuição exclusivamente em serviços, tendo os sócios de
contribuir em bens. Eles podem, porém, adicionalmente, contribuir
em serviços.
2. Sociedades cooperativas. Nas sociedades cooperativas – que são
de natureza simples – pode haver contribuição apenas de serviços,
conforme art. 1.094, I, CC.
c. Finalidade. A finalidade da sociedade empresária tem de ser o exercício de
atividade econômica, da mesma forma ao que ocorre com o empresário. Essa
atividade econômica deve ser descrita no contrato. Além disso, a sociedade
empresária pode desempenhar mais de uma atividade e econômica. O objeto
social, portanto, pode ser plural, conforme o art. 981, parágrafo único, CC.
Diversamente, a sociedade pode ser, também, uma sociedade de propósito
específico.
d. Partilha dos resultados. Na sociedade, partilha-se tanto os lucros como perdas.
Essa circunstância é elementar da composição da sociedade, ao ponto que,
conforme o art. 1.008, CC, “É NULA A ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL QUE EXCLUA
QUALQUER SÓCIO DE PARTICIPAR DOS LUCROS E DAS PERDAS”. Trata-se de elemento
social do contrato.
e. Affectio societatis. Além desses quatro elementos, há um quinto elemento da
configuração do conceito de sociedade apontado pela Doutrina. Sabidamente,
nos contratos bilaterais, existe um antagonismo entre as partes, os seus
interesses são antagônicos. Existe, verdadeiramente, correspectividade entre
as prestações. No contrato de sociedade, em contrapartida, existe um elemento
de união entre os sócios, qual seja o affectio societatis. Ele é, portanto, um
87

elemento anímico interno que está por trás da manifestação da vontade de se


agregar.
i. Conceito. “TODO CONTRATO DE SOCIEDADE PRESSUPÕE NÃO SOMENTE A
INTENÇÃO DE REALIZAR BENEFÍCIOS POR UMA REUNIÃO DE CAPITAIS,
INTENÇÃO QUE SE PODE DESCOBRIR NUM SIMPLES EMPRÉSTIMO,
ACOMPANHADO DE UMA CLÁUSULA DE PARTICIPAÇÃO, MAS A VONTADE BEM
DETERMINADA, DA PARTE DE TODOS OS SÓCIOS, DE COOPERAR ATIVAMENTE
NA OBRA COMUM” (Rubens Requião).
6. Empresa Pública. A Empresa Pública, sabidamente, integra a Administração Pública
Indireta. Ela foi conceituada em 1967 como uma entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado em que a totalidade de seu capital pertence a uma única
pessoa jurídica de direito público. Evidentemente, essa empresa não surge de um
contrato, mas de Lei.
7. Sociedade subsidiária integral. Em 1976, a Lei 6.404/66 [Lei das Sociedades
Anônimas] admitiu a possibilidade de uma sociedade brasileira se constituir sob o tipo
de sociedade anônima, por meio de escritura pública, no qual todo seu capital é
detido por ela mesma, isto é, trata-se de sociedade unipessoal. Esse tipo de sociedade
é denominado sociedade subsidiária integral.
8. Fontes da criação das sociedades. Analisando legislação societária, chega-se à
conclusão que a sociedade pode decorrer de três fontes:
a. Negócio jurídico unilateral. Isto é, escritura pública, ato unilateral de vontade.
b. Contrato plurilateral;
c. Lei.
i. Crítica. Diante disso, existem críticas no sentido da limitação do conceito
de sociedade do Código Civil.

Classificação das Sociedades

9. Classificações de sociedades. Já foram abordadas as seguintes classificações:


a. Personificada ou não personificada.
b. Brasileira, ou nacional, ou estrangeira.
i. Sociedade nacional. Conforme o art. 1.126, CC, “É NACIONAL A
SOCIEDADE ORGANIZADA DE CONFORMIDADE COM A LEI BRASILEIRA E QUE
TENHA NO PAÍS A SEDE DE SUA ADMINISTRAÇÃO”. Não se tendo um dos
dois requisitos, trata-se de sociedade estrangeira, precisando de
autorização para funcionar no Brasil.
88

c. Classificação quanto ao objeto. Essa classificação decorre do art. 982, CC,


adotando a Teoria da Empresa como critério de distinção:
i. Simples. Seu objeto é qualquer que não seja o exercício da empresa. É
classificada por exclusão.
ii. Empresária. Seu objeto é o exercício da empresa.
1. Sociedade rural. A sociedade rural tem a opção de se inscrever
na Junta Comercial, da mesma forma que o empresário rural,
conforme o art. 984, CC. Se a sociedade rural não se inscrever, ela
é considerada sociedade simples, da mesma forma que aquelas
sociedades que se registram no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas. Caso se inscreva, é considerada sociedade empresária.
d. Classificação quanto à divisão do capital. As sociedades podem ser divididas
por ações ou por cotas. São os dois tipos:
i. Sociedade dividida em cotas. As sociedades divididas em cotas podem
ser simples ou empresárias conforme o objeto.
1. Exceção quanto às sociedades cooperativas. As sociedades
cooperativas têm o capital dividido em quotas, mas são sempre
simples.
ii. Sociedades divididas em ações. São as sociedades anônimas e
comanditas por ações. Elas são sempre empresárias.
1. Conclusão. Conforme o art. 982, parágrafo único, CC,
“INDEPENDENTEMENTE DE SEU OBJETO, CONSIDERA-SE EMPRESÁRIA A
SOCIEDADE POR AÇÕES; E, SIMPLES, A COOPERATIVA”.

AULA 10

Classificação das Sociedades

1. Quanto à forma do capital. Nos contratos de sociedade, o capital é definido no


contrato, sendo cláusula obrigatória. Podem ser de dois tipos:
a. Capital fixo. Nessa modalidade de sociedade, especificamente, o capital só
pode ser alterado nos casos em que a lei prevê. Só pode existir alteração do capital
– fora dos casos previstos em lei –, portanto, se houver alteração no próprio contrato
social.
89

b. Capital variável. Nessa modalidade, o capital é flexível, podendo ser alterado


sem que isso implique alteração do ato constitutivo, isto é, do contrato social.
i. Sociedade cooperativa. Conforme o art. 1.094, I, CC, uma das
características da sociedade cooperativa é a variabilidade do capital
social, sendo a única inserida nessa modalidade de capital variável.
2. Quanto à responsabilidade dos sócios das obrigações assumidas pela sociedade.
Embora a sociedade tenha autonomia patrimonial, os sócios respondem pelas
obrigações contraídas pela sociedade. As sociedades podem ser dos seguintes tipos:
a. Limitada. Nessa modalidade, o sócio responde pelas obrigações sociais até o
limite de suas quotas e ações. As sociedades são de responsabilidade limitada
“QUANDO O CONTRATO SOCIAL RESTRINGE A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS AO
VALOR DE SUAS CONTRIBUIÇÕES – QUOTAS OU AÇÕES – OU À SOMA DO CAPITAL
SOCIAL – SOCIEDADES POR COTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA E
SOCIEDADES ANÔNIMAS” (Rubens Requião).
b. Ilimitada. Nessa modalidade, os sócios não respondem apenas pela
participação no capital, mas também com seus bens particulares. Exemplos de
sociedades ilimitadas são a sociedade em comum e a sociedade em nome
coletivo.
i. Responsabilidade subsidiária dos sócios. No entanto, com base no art.
1.024, CC, a responsabilidade ilimitada é subsidiária. Segundo a norma,
“OS BENS PARTICULARES DOS SÓCIOS NÃO PODEM SER EXECUTADOS POR
DÍVIDAS DA SOCIEDADE, SENÃO DEPOIS DE EXECUTADOS OS BENS SOCIAIS”.
c. Tipos livres. Em alguns tipos de sociedades, os sócios podem escolher se
querem constituir a sociedade sob forma limitada ou ilimitada. São elas a
sociedade cooperativa, conforme o art. 1.095, CC, e sociedade não empresária
do tipo simples, conforme o art. 997, VIII, CC. Nesse tipo, os sócios devem
indicar se respondem ou não pelas obrigações sociais além do valor de suas
contribuições.
d. Tipos híbridos. Existem sociedades que têm as duas categorias de sócios, cada
qual com sua responsabilidade. Essas sociedades são as sociedades em
comandita, que possui duas subespécies, quais sejam a comandita simples e a
comandita por ações.

Sociedades em Espécies
90

3. Sociedades personificadas e não personificadas. Sabidamente, há sociedades não


personificadas e personificadas. Agora, são estudadas as sociedades não personificadas.

Sociedade em Comum

4. Conceito e possibilidades de sociedade em comum. A sociedade em comum é


sociedade não personificada, sendo denominada, também, sociedade irregular, em
contraposição à sociedade regular. A expressão sociedade em comum já existia no
Código Comercial de 1850. Como, na sociedade em comum, não há personalidade
própria, CADA SÓCIO ATUA EM SEU NOME E NO BENEFÍCIO E INTERESSE COMUM DA
SOCIEDADE. A partir do art. 985, CC, são depreendidas as hipóteses de sociedade em
comum:
a. Contrato verbal;
b. Quando o contrato é escrito, mas não é arquivado;
c. Quando o contrato é escrito, foi arquivado, mas no registro impróprio;
d. Quando o contrato é escrito, foi arquivado, no registro próprio, mas o
arquivamento foi feito de forma irregular, em desacordo com as leis especiais de registro.
5. Inscrição. Conforme o art. 986, CC, “ENQUANTO NÃO INSCRITOS OS ATOS CONSTITUTIVOS,
REGER-SE-Á A SOCIEDADE, EXCETO POR AÇÕES EM ORGANIZAÇÃO, PELO DISPOSTO NESTE
CAPÍTULO, OBSERVADAS, SUBSIDIARIAMENTE E NO QUE COM ELE FOREM COMPATÍVEIS, AS
NORMAS DA SOCIEDADE SIMPLES”. São duas as observações sobre o dispositivo:
a. Interpretação da norma. O art. 986, CC, não pode ser interpretado literalmente.
Sabidamente, é preciso que o ato constitutivo seja inscrito em registro próprio
e na forma da lei, conforme o art. 985, CC. Esse requisito, naturalmente, está
presente de forma implícita.
b. Sociedades por ações em organização. As sociedades por ações em
organização – anônimas e comandita por ações – não observam as normas da
sociedade em comum, conforme os arts. 1.089 e 1.090, CC. Na realidade, essas
sociedades são regidas por Lei Especial.
c. Subsidiariedade das normas de sociedade simples. Subsidiariamente, aplicam-
se às sociedades em comum as disposições das sociedades simples
personificadas. Não são aplicadas, porém, as normas que são, casuisticamente,
incompatíveis com a sociedade em comum, como, por exemplo, o art. 1.022,
CC.
6. Responsabilidade. Na sociedade em comum, todos os sócios têm responsabilidade
ilimitada e, ainda, respondem solidariamente pelas obrigações que contraíram.
91

Conforme o art. 990, CC, “TODOS OS SÓCIOS RESPONDEM SOLIDÁRIA E ILIMITADAMENTE


PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS, EXCLUÍDO DO BENEFÍCIO DE ORDEM, PREVISTO NO ART. 1.024,
AQUELE QUE CONTRATOU PELA SOCIEDADE”.
a. Adequação da noção de obrigação social. Na sociedade em comum, a noção
de obrigação social tem de ser ajustada à ausência de personalidade jurídica
desse tipo societário. Sabidamente, quaisquer dos sócios assumem as
obrigações em seu nome próprio, mas no interesse comum.
b. Benefício de ordem. Na sociedade em comum, não existe benefício de ordem
para aquele que contrata pela sociedade. Esse benefício de ordem é chamado
pela Doutrina de responsabilidade subsidiária.
7. Prova de existência da sociedade em comum. Conforme o art. 987, CC, “OS SÓCIOS,
NAS RELAÇÕES ENTRE SI OU COM TERCEIROS, SOMENTE POR ESCRITO PODEM PROVAR A
EXISTÊNCIA DA SOCIEDADE, MAS OS TERCEIROS PODEM PROVÁ-LA DE QUALQUER MODO”.
a. Prova da existência pelos sócios. Os sócios, portanto, têm uma restrição. O
documento escrito não precisa ser necessariamente um contrato, mas uma
prova escrita.
b. Prova das existências pelos terceiros. No caso da sociedade em comum ré, em
contrapartida, os terceiros podem exercer o comando da norma por qualquer
meio de prova.
8. Bens e dívidas sociais. Conforme o art. 988, CC, “OS BENS E DÍVIDAS SOCIAIS
CONSTITUEM PATRIMÔNIO ESPECIAL, DO QUAL OS SÓCIOS SÃO TITULARES EM COMUM”.
Portanto, as dívidas não são propriamente sociais, mas dos sócios, uma vez que a
sociedade comum não é personificada. A titularidade dos bens é dos sócios, não da
sociedade.
9. Vulnerabilidade dos bens sociais. Conforme o art. 989, CC, “OS BENS SOCIAIS
RESPONDEM PELOS ATOS DE GESTÃO PRATICADOS POR QUALQUER DOS SÓCIOS, SALVO PACTO
EXPRESSO LIMITATIVO DE PODERES, QUE SOMENTE TERÁ EFICÁCIA CONTRA O TERCEIRO QUE
O CONHEÇA OU DEVA CONHECER”.
a. Conceito de bem social. Bem social, na sociedade em comum, não é aquele que
está no nome da sociedade, mas aquele que foi adquirido por um ou mais
sócios, em seu nome, mas no interesse da sociedade em comum ou quando foi
adquirido com recursos dos sócios e está voltando para o exercício da empresa.
b. Pacto de limitação de responsabilidade. Para que os bens não respondam, é
necessário um pacto de limitação de responsabilidade, que não se presume.
92

Sociedade em Conta de Participação

10. Características essenciais. As sociedades em conta de participação têm duas


características essenciais. São elas:
a. Efeitos contra terceiros. O contrato da sociedade em comum produz efeitos
tanto entre os sócios quanto em relação a terceiros, conforme o art. 987, CC. Na
sociedade em conta de participação, por outro lado, conforme o art. 993, CC, o
contrato social produz efeitos apenas entre os sócios. Segundo a norma, “O
CONTRATO SOCIAL PRODUZ EFEITO SOMENTE ENTRE OS SÓCIOS, E A EVENTUAL
INSCRIÇÃO DE SEU INSTRUMENTO EM QUALQUER REGISTRO NÃO CONFERE
PERSONALIDADE JURÍDICA À SOCIEDADE”.
b. Impossibilidade de conversão em sociedade personificada. A sociedade em
comum, cumprindo os requisitos do art. 985, CC, deixa de ser comum e se
personifica. A sociedade em conta de participação, em contrapartida, não se
personifica em hipótese alguma, mesmo com o cumprimento dos requisitos à
personificação. Ela é, portanto, permanentemente não personificada.
11. Polêmica histórica sobre a natureza da sociedade em conta de participação. Na
vigência do Código Comercial, essa sociedade já existia com o mesmo nome. Discutia-
se, porém, se ela seria ou não uma sociedade. Apesar da polêmica, nunca ganhou força
o entendimento de que a sociedade em conta de participação não seria
verdadeiramente uma sociedade. O STJ, alguns anos atrás, desmantelou a tese desses
autores, definindo que, na sociedade em conta de participação, estão presentes todos
os requisitos para configuração do instituto da sociedade.
a. Argumentos. O argumento daqueles que defendem não ser a sociedade em
conta de participação uma verdadeira sociedade estaria no art. 993, CC. Para
esses autores, a configuração substancial de uma sociedade requeria que seu
contrato social pudesse ser conhecido de terceiros, de forma que os sócios
precisariam atuar e os terceiros soubessem. Não havendo essa atuação em
comum, não sabendo terceiros da existência do vínculo, a sociedade seria
apenas um contrato, não uma sociedade propriamente dita. Essa tese, porém,
nunca prevaleceu, pois, no conceito de sociedade não se exige que o contrato tenha
efeitos contra terceiros. De fato, a sociedade em conta de participação é tipificada
no Livro de Empresa, não na parte dos contratos em espécie do Código Civil.
A produção de efeitos apenas entre os sócios é uma particularidade da
sociedade em conta de participação, não uma característica que afasta
substancialmente os traços delimitadores do instituto da sociedade.
93

12. Exercício da atividade constitutiva do objeto social. Conforme o art. 991, CC, “NA
SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO, A ATIVIDADE CONSTITUTIVA DO OBJETO SOCIAL É
EXERCIDA UNICAMENTE PELO SÓCIO OSTENSIVO, EM SEU NOME INDIVIDUAL E SOB SUA
PRÓPRIA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE, PARTICIPANDO OS DEMAIS DOS RESULTADOS
CORRESPONDENTES”.
a. Sócio ostensivo ou participante. Esse artigo, por si só, demonstra que a
sociedade não é personificada. Na sociedade em conta de participação, com
efeito, a atividade só pode ser exercida pelo sócio ostensivo, não por todos os
sócios, como na sociedade em comum. Pode haver mais de um sócio ostensivo,
mas deve haver sempre duas modalidades de sócios – o sócio ostensivo e os
participantes –, conforme o art. 996, parágrafo único, CC. Os sócios participantes
são aqueles que não são ostensivos. Portanto, são dois os tipos de sócios na
sociedade em conta de participação:
i. Sócio ostensivo. É o único sócio da sociedade que exerce a empresa em
caráter privativo, em seu nome e sob sua própria responsabilidade;
1. Administração da sociedade em conta de participação com
pluralidade de sócios ostensivos. Conforme o art. 1.013, CC, “A
ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE, NADA DISPONDO O CONTRATO
SOCIAL, COMPETE SEPARADAMENTE A CADA UM DOS SÓCIOS”. Na
sociedade em conta de participação, em havendo dois ou mais
sócios ostensivos, o contrato social precisa explicitar se cada sócio
irá administrar a sociedade conjuntiva ou disjuntivamente.
Conforme a norma, nada dispondo o contrato social, cada sócio
ostensivo pode praticar qualquer operação. Portanto, a regra do
Código Civil é que cada sócio possa praticar qualquer ato e
disjuntivamente. Porém, o contrato social, expressamente, também
pode especificar qual ato pode praticar cada sócio ostensivo ou
especificar que determinados atos, ou todos, só podem ser
praticados conjuntivamente.
ii. Sócio participante.
b. Responsabilidade dos sócios. Conforme o art. 991, parágrafo único, CC,
“OBRIGA-SE PERANTE TERCEIRO TÃO-SOMENTE O SÓCIO OSTENSIVO; E,
EXCLUSIVAMENTE PERANTE ESTE, O SÓCIO PARTICIPANTE, NOS TERMOS DO
CONTRATO SOCIAL”. Portanto, existem divergências quanto à responsabilidade
atribuída a cada sócio:
i. Sócio ostensivo. Responde ilimitadamente pelas obrigações contraída
perante terceiros;
94

ii. Sócio participante. Respondem limitadamente pelo que foi estipulado no


contrato e apenas perante o sócio ostensivo.
13. Aplicação subsidiária das normas de sociedades simples do tipo simples. O art. 996,
CC, determina que as normas da sociedade personificada de tipo simples sejam
aplicadas subsidiariamente às sociedades em conta de participação.
14. Prova da existência da sociedade em conta de participação. Conforme o art. 992, CC,
“A CONSTITUIÇÃO DA SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO INDEPENDE DE QUALQUER
FORMALIDADE E PODE PROVAR-SE POR TODOS OS MEIOS DE DIREITO”. Nessa perspectiva,
tem-se que a sociedade em comum é, de fato, sociedade irregular. A sociedade em
conta de participação, em contrapartida, está permanentemente dispensada das
exigências formais para constituição de uma sociedade, de forma que nunca pode ser
taxada de irregular.
15. Nome empresarial. Como a sociedade em conta de participação nunca se obriga, mas,
sim, o sócio ostensivo, ela não possui nome empresarial, nos termos do art. 1.162, CC.
a. Sociedade em comum. A sociedade em comum também não possui nome
empresarial, mas por razões distintas. De fato, a sociedade em comum também
não possui nome empresarial, mas pela ausência de personalidade jurídica. Na
sociedade em conta de participação, por outro lado, não há personalidade
jurídica em virtude de o sócio ostensivo se obrigar em próprio nome, apesar de
também não possuir personalidade jurídica.
16. Direitos e deveres do sócio participante. Conforme o art. 993, parágrafo único, CC,
“SEM PREJUÍZO DO DIREITO DE FISCALIZAR A GESTÃO DOS NEGÓCIOS SOCIAIS, O SÓCIO
PARTICIPANTE NÃO PODE TOMAR PARTE NAS RELAÇÕES DO SÓCIO OSTENSIVO COM
TERCEIROS, SOB PENA DE RESPONDER SOLIDARIAMENTE COM ESTE PELAS OBRIGAÇÕES EM
QUE INTERVIER.
a. Relações do sócio ostensivo. Portanto, caso o sócio participante descumpra
essas obrigações de não participar da relações do sócio ostensivo, ele responde
solidariamente pelas obrigações.
b. Direito de veto. Conforme o art. 995, CC, “SALVO ESTIPULAÇÃO EM CONTRÁRIO,
O SÓCIO OSTENSIVO NÃO PODE ADMITIR NOVO SÓCIO SEM O CONSENTIMENTO
EXPRESSO DOS DEMAIS”. Portanto, o sócio participante possui poder de veto
quanto aos novos membros integrantes da sociedade. Porém, essa norma é
dispositiva.
17. Patrimônio especial. Conforme o art. 994, CC, “A CONTRIBUIÇÃO DO SÓCIO
PARTICIPANTE CONSTITUI, COM A DO SÓCIO OSTENSIVO, PATRIMÔNIO ESPECIAL, OBJETO DA
CONTA DE PARTICIPAÇÃO RELATIVA AOS NEGÓCIOS SOCIAIS.”.
95

a. Conceito de patrimônio especial. O patrimônio é dito especial justamente


porque não há personalidade jurídica na sociedade em conta de participação. Há,
portanto, bens e dívidas que estão no patrimônio do sócio ostensivo, mas que
são frutos de partilha, incidindo sob a contribuição dos sócios participantes.
i. Efeitos da especialização patrimonial. Conforme o art. 994, § 1o, CC, “A
ESPECIALIZAÇÃO PATRIMONIAL SOMENTE PRODUZ EFEITOS EM RELAÇÃO AOS
SÓCIOS”. Essa norma, naturalmente, é uma consequência do art. 993,
caput, CC, de forma de o contrato de sociedade em conta de participação
tem apenas efeitos internos.
18. Falência do sócio ostensivo. A falência do sócio ostensivo está presente no art. 994, §§
2o e 3º, CC:
§ 2o A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da respectiva conta, cujo
saldo constituirá crédito quirografário.

§ 3o Falindo o sócio participante, o contrato social fica sujeito às normas que regulam os efeitos da falência nos
contratos bilaterais do falido.

a. Distinção para as sociedades em conta de participação empresárias e não


empresárias. Sabidamente, a sociedade em conta do participação pode ser
empresária ou não empresária. Quando a Lei afirma falência do sócio
ostensivo, a referência é ao sócio ostensivo empresário. Portanto, os que não são
empresários, não vão à falência, não se aplicando essas disposições.
b. Dissolução da sociedade por falência do sócio ostensivo. O falido no Direito
Empresarial, sabidamente, é impedido de exercer qualquer atividade
empresarial. Dessa forma, se há falência do sócio ostensivo, na sociedade em
conta de participação, não há como se continuar a empresa.
c. Falência do sócio participante e administrador judicial. Na falência do sócio
participante, a sociedade em conta de participação não acarreta necessariamente
a extinção da sociedade. O Código Civil dispõe que devem ser aplicadas as
normas que regulam os efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido
nos termos do art. 117, Lei 11.101/2005. Dessa forma, o contrato de sociedade
em conta de participação continua, mas, como existe um falido, o sócio
ostensivo tem de interpelar o administrador judicial para indagá-lo se o
contrato será mantido. O administrador pode responder que sim ou que não,
ocorrendo, respectivamente, resolução da sociedade em relação a um sócio
participante ou extinção da sociedade:
Art. 117. Os contratos bilaterais não se resolvem pela falência e podem ser cumpridos pelo administrador
judicial se o cumprimento reduzir ou evitar o aumento do passivo da massa falida ou for necessário à manutenção e
preservação de seus ativos, mediante autorização do Comitê.
96

§ 1º O contratante pode interpelar o administrador judicial, no prazo de até 90 (noventa) dias, contado da
assinatura do termo de sua nomeação, para que, dentro de 10 (dez) dias, declare se cumpre ou não o contrato.

§ 2º A declaração negativa ou o silêncio do administrador judicial confere ao contraente o direito à indenização,


cujo valor, apurado em processo ordinário, constituirá crédito quirografário.

AULA 11

Sociedades Personificadas

Sociedade Simples

1. Sociedade simples. A expressão “sociedade simples” pode ter até três acepções no
Direito Comercial:
a. Sociedade do tipo simples.
b. Sociedade simples quanto ao objeto. Trata-se de sociedade não empresária.
c. Regime jurídico simples. É o caso, por exemplo, das cooperativas, que são
sempre simples, independentemente do objeto. Trata-se de sociedade que não se
submete ao regime jurídico das sociedades empresárias.
i. Sociedade simples, do tipo simples e de regime jurídico simples. A
sociedade agora estudada aqui é “simples três vezes”, sendo regulada a
partir do art. 997, CC.
ii. Nomenclatura de Código de 1916 e distinção do Código Civil de 2002.
O Código Civil de 1916 nomeava a sociedade simples como sociedade
civil, abrangendo o conceito tanto as sociedades de fins econômicos
quanto aquelas de fins não econômicos. O Código de 2002 quebrou essa
unificação, dividindo a sociedade civil em associações, de fins não
econômicos, e sociedades, de fins econômicos. A sociedade civil de fins
econômicos do Código Civil de 1916, portanto, se tornou a sociedade
simples no Código Civil de 2002. As sociedades comerciais, do Código
Comercial de 1850, receberam o nome de sociedades empresárias.
iii. Regras gerais. A ideia é que o tipo simples e suas regras sirvam como
normas gerais para ela mesma e para outros tipos societários. A sociedade
simples seria, dessa maneira, a base normativa para os demais tipos de
sociedade, além de um tipo societário em si. Com efeito, diversos
97

dispositivos expressam esse uso da sociedade simples como preceito


geral e subsidiário.
2. Constituição da sociedade simples. Conforme o art. 997, CC, “A SOCIEDADE CONSTITUI-
SE MEDIANTE CONTRATO ESCRITO, PARTICULAR OU PÚBLICO, QUE, ALÉM DE CLÁUSULAS
ESTIPULADAS PELAS PARTES, MENCIONARÁ: [...]”. Da redação, depreende-se que o que
não estiver expresso nessa norma será facultativo, e não traço substancial da
configuração da sociedade. No entanto, lembre-se sempre que a sociedade, antes de
ser pessoa jurídica, é um contrato e negócio jurídico, de forma que se aplicam todas
as disposições do art. 104, CC e as disposições gerais do contrato:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - agente capaz;

II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;

III - forma prescrita ou não defesa em lei.

3. Cláusulas obrigatórias do contrato de sociedade simples. Aqui, abordam-se as


disposições necessárias para a constituição de uma sociedade simples, além da
necessidade de contrato escrito, público ou particular. São elas, de menção
imprescindível, conforme os incisos do art. 997, CC:
I - Nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos sócios, se pessoas naturais, e a firma
ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

a. Espécie de pessoas da sociedade simples. A sociedade simples pode ser


composta tanto de pessoas físicas quanto de pessoas jurídicas. Porém, para ser
administrador da sociedade, é preciso que seja pessoa natural, conforme o art.
997, VI, CC. Com efeito, toda sociedade precisa de, ao menos, um
administrador e, consequentemente, uma pessoa natural. Torna-se evidente,
portanto, que a sociedade simples não pode ter sócios apenas na qualidade de pessoas
jurídicas, em razão da exigência de ao menos um administrador.
i. Incapazes. Os incapazes, apesar do requisito da capacidade de direito
para a validade do negócio jurídico, podem ser sócios mediante
representação ou assistência. No entanto, nunca podem estar atribuídos do
cargo de administração da sociedade.
II - Denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

b. Denominação. O termo “denominação”, aqui, não é espécie de nome empresarial, mas


apenas designação da sociedade simples, em sentido vulgar. Com efeito, a sociedade
simples não é nem mesmo empresária, não fazendo sentido a existência de
nome empresarial.
98

c. Objeto. O objeto, naturalmente, é não empresário ou a sociedade rural quando


os sócios não optarem pelo regime empresarial. Ainda, o objeto deve ser lícito,
conforme o art. 104, II, CC;
d. Sede. A sede, a princípio, se refere ao domicílio da pessoa jurídica.
1. Filiais. Conforme o art. 1.000, CC, “A SOCIEDADE SIMPLES QUE
INSTITUIR SUCURSAL, FILIAL OU AGÊNCIA NA CIRCUNSCRIÇÃO DE
OUTRO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS, NESTE DEVERÁ
TAMBÉM INSCREVÊ-LA, COM A PROVA DA INSCRIÇÃO ORIGINÁRIA”.
Cada filial tem um domicílio para o efeito da lei. Se a sociedade,
portanto, tiver mais de uma filial ou sucursal, cada filial tem um
domicílio distinto para efeitos legais. O procedimento, aqui, é o
mesmo da instituição de filial para empresário pessoa física. No
entanto, o órgão responsável por emitir as certidões e centralizar
as filiais é o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, não a Junta
Comercial. Com efeito, conforme o art. 1.000, parágrafo único, CC,
“EM QUALQUER CASO, A CONSTITUIÇÃO DA SUCURSAL, FILIAL OU
AGÊNCIA DEVERÁ SER AVERBADA NO REGISTRO CIVIL DA RESPECTIVA
SEDE”.
a. Competência de ações com pessoas jurídicas. Nas ações
em que for ré a pessoa jurídica, a proposição deve ser feita
na sede da pessoa jurídica.
ii. Prazo de duração. As sociedades simples podem ser de prazo
determinado ou de prazo indeterminado, de forma que alguns efeitos
legais são distintos de acordo com a espécie. Se for de prazo
determinado, é necessário data ou evento certo para a dissolução da
sociedade, conforme o art. 1.033, CC. Se for de prazo indeterminado, só
ocorre dissolução da sociedade pela vontade e deliberação dos sócios.
1. Retirada do sócio. Na retirada do sócio, conforme o art. 1.029, CC,
pode haver diferença se a sociedade for de prazo determinado ou
indeterminado.
III - Capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer espécie de bens,
suscetíveis de avaliação pecuniária;

e. Capital. Salvo as sociedades cooperativas, que podem ter esse requisito


dispensado, todas as sociedades devem ter um capital, isto é, um valor
expresso, em moeda nacional, no contrato social. Ele pode ser formado por
dinheiro, crédito, bens in natura ou bens imateriais. Ele é resultado, nessa
linha, do somatório da contribuição dos sócios, devendo, necessariamente, ser
99

suscetíveis de avaliação pecuniária. Portanto, às contribuições em bens deve


ser atribuído um valor, estimado ou avaliado.
i. Sociedade anônimas. Os sócios não são obrigados a avaliar direitos
incorpóreos ou bens in natura, salvo na sociedade anônima. Nessa
modalidade, é obrigatória a avaliação dos bens que não sejam crédito e
dinheiro, sendo regra própria desse tipo societário.
IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

f. Quotas. O capital da sociedade simples é dividido em quotas, não em ações.


i. Sócio de serviços. Nessa sociedade, é possível a presença de sócios de
serviço, conforme o art. 997, V, e 1.006, CC, a despeito da regra geral. No
entanto, logicamente, o sócio de serviço não tem quotas na sociedade simples. A
participação do sócio de serviço, apesar do Código Civil, é facultativa.
1. Pluralidade de sócios de serviço. Pode haver um ou mais sócios
de serviço, mas nunca possuindo quotas, e nunca apenas sócios
de serviço, pois a sociedade simples exige capital social. Na sociedade
cooperativa, em contrapartida, não há essa exigência.
2. Tipos de sócios. São portanto, duas as espécies de sócios na
sociedade simples:
a. Sócios de serviços. Não possuem quotas;
b. Sócios quotistas ou capitalistas. Possuem cotas
3. Cláusula facultativa de restrição ao sócio de serviço. Conforme
o art. 1.006, CC, “O SÓCIO, CUJA CONTRIBUIÇÃO CONSISTA EM
SERVIÇOS, NÃO PODE, SALVO CONVENÇÃO EM CONTRÁRIO,
EMPREGAR-SE EM ATIVIDADE ESTRANHA À SOCIEDADE, SOB PENA DE
SER PRIVADO DE SEUS LUCROS E DELA EXCLUÍDO”. Trata-se,
naturalmente, de obrigação de não-fazer.
a. Participação das perdas. O sócio de serviços não participa
das perdas da sociedade.
4. Participação do sócio de serviço nos lucros. Conforme o art.
1.007, CC, “SALVO ESTIPULAÇÃO EM CONTRÁRIO, O SÓCIO PARTICIPA
DOS LUCROS E DAS PERDAS, NA PROPORÇÃO DAS RESPECTIVAS
QUOTAS, MAS AQUELE, CUJA CONTRIBUIÇÃO CONSISTE EM
SERVIÇOS, SOMENTE PARTICIPA DOS LUCROS NA PROPORÇÃO DA
MÉDIA DO VALOR DAS QUOTAS”.
100

ii. Quota e votos na sociedade simples. O valor da quota dos sócios é o


que determina sua quantidade de votos, pois os votos, na sociedade
simples, não são computados pela quantidade de cabeças, uma vez que
as quotas têm valor desigual. Conforme o art. 1.010, CC, “QUANDO, POR
LEI OU PELO CONTRATO SOCIAL, COMPETIR AOS SÓCIOS DECIDIR SOBRE OS
NEGÓCIOS DA SOCIEDADE, AS DELIBERAÇÕES SERÃO TOMADAS POR MAIORIA
DE VOTOS, CONTADOS SEGUNDO O VALOR DAS QUOTAS DE CADA UM”.
1. Sócio de serviços. Como não possui quotas, o sócio de serviços não
vota nas deliberações.
2. Regras quanto ao voto. Existem três regras no direito societário
quanto às deliberações. Importante determinar que a forma de
deliberação é norma cogente correlata ao tipo societário, não
podendo ser alterada pelos sócios:
a. Um sócio um voto. Exemplo é a sociedade cooperativa;
b. Valor da cota. São as sociedades de pessoas em geral;
c. Pela quantidade de ações. Exemplo são as sociedades
anônimas.
iii. Modo de realização da quota. O modo de realização da quota significa
a forma de pagamento da cota. Conforme o art. 1.004, CC, que trata da
obrigação de integralizar as quotas, “OS SÓCIOS SÃO OBRIGADOS, NA
FORMA E PRAZO PREVISTOS, ÀS CONTRIBUIÇÕES ESTABELECIDAS NO
CONTRATO SOCIAL, E AQUELE QUE DEIXAR DE FAZÊ-LO, NOS TRINTA DIAS
SEGUINTES AO DA NOTIFICAÇÃO PELA SOCIEDADE, RESPONDERÁ PERANTE
ESTA PELO DANO EMERGENTE DA MORA”.
1. Transmissibilidade. Além de o bem de contribuição ter de ser
suscetível de avaliação pecuniária, ele tem de ser transmissível,
pois o bem é transmitido do nome do sócio para a pessoa jurídica.
A única hipótese de o bem intransmissível poder fazer parte do
capital social é quando puder haver usufruto. Isto é, o sócio
transfere direitos pessoais ou reais, que não a propriedade.
2. Sócio remisso. É aquele sócio que não cumpriu a obrigação de
integralizar as suas quotas.
a. Classificação e efeitos da mora. A mora em questão,
exposta no art. 1.004, in fine, CC, é mora ex persona, pois
dependente de notificação do credor para que seja
constituída. A mora ex re, por outro lado, é constituída pelo
mero atingimento do termo do contrato. Os efeitos da
101

mora, conforme o art. 395, CC, são os “PREJUÍZOS A QUE SUA


MORA DER CAUSA, MAIS JUROS, ATUALIZAÇÃO DOS VALORES
MONETÁRIOS SEGUNDO ÍNDICES OFICIAIS REGULARMENTE
ESTABELECIDOS, E HONORÁRIOS DE ADVOGADO”
3. Medidas possíveis de serem tomadas pela sociedade quanto ao
sócio remisso. Conforme o art. 1.004, parágrafo único, CC,
“VERIFICADA A MORA, PODERÁ A MAIORIA DOS DEMAIS SÓCIOS
PREFERIR, À INDENIZAÇÃO, A EXCLUSÃO DO SÓCIO REMISSO, OU
REDUZIR-LHE A QUOTA AO MONTANTE JÁ REALIZADO, APLICANDO-SE,
EM AMBOS OS CASOS, O DISPOSTO NO § 1O DO ART. 1.031”. São três,
portanto, as possibilidades:
a. Cobrar a dívida e manter do sócio na sociedade;
b. Não cobrar dívida e excluir os sócios da sociedade por
meio extrajudicial. Há de ser feita redução da quota.
c. Dispensar o sócio remissivo do pagamento quota, mas
com redução da quota ao montante já realizado. Essa
redução deve ser feita em atenção ao princípio da
realidade do capital social.
VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;

g. Participação nos lucros e nas perdas. Conforme o art. 1.007, CC, “SALVO
ESTIPULAÇÃO EM CONTRÁRIO, O SÓCIO PARTICIPA DOS LUCROS E DAS PERDAS, NA
PROPORÇÃO DAS RESPECTIVAS QUOTAS, MAS AQUELE, CUJA CONTRIBUIÇÃO
CONSISTE EM SERVIÇOS, SOMENTE PARTICIPA DOS LUCROS NA PROPORÇÃO DA MÉDIA
DO VALOR DAS QUOTAS”. Essa norma é dispositiva, podendo o contrato
estabelecer uma distribuição desproporcional. Quanto maior a participação,
maior o lucro e maior a perda.
i. Vedação de cláusula leonina. Conforme o art. 1.008, CC, “É NULA A
ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL QUE EXCLUA QUALQUER SÓCIO DE PARTICIPAR
DOS LUCROS E DAS PERDAS”. Pode haver distribuição desproporcional,
portanto, mas nunca participação nula nos lucros e nas perdas.
h. Distribuição de lucros ilícios ou fictícios. Conforme o art. 1.009, CC, “A
DISTRIBUIÇÃO DE LUCROS ILÍCITOS OU FICTÍCIOS ACARRETA RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA DOS ADMINISTRADORES QUE A REALIZAREM E DOS SÓCIOS QUE OS
RECEBEREM, CONHECENDO OU DEVENDO CONHECER-LHES A ILEGITIMIDADE”.
VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.
102

i. Registro competente. A sociedade simples, por não ser empresária, tem seu
registro competente no Registro Civil de Pessoas Jurídicas, conforme o art.
1.050, CC.
i. Inscrição no RCPJ. Conforme o art. 998, caput, CC, “NOS TRINTA DIAS
SUBSEQÜENTES À SUA CONSTITUIÇÃO, A SOCIEDADE DEVERÁ REQUERER A
INSCRIÇÃO DO CONTRATO SOCIAL NO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS
JURÍDICAS DO LOCAL DE SUA SEDE”.
j. Cláusula de responsabilidade dos sócios. Na sociedade simples, a
responsabilidade dos sócios é objeto de ajuste, bem como na sociedade
cooperativa. Se os sócios responderem subsidiariamente pelas obrigações sociais,
há aplicação dos arts. 1.023 e 1.024, CC. Notavelmente, não existe, nessa
modalidade, desconsideração da personalidade jurídica, mas mera
responsabilidade ilimitada. Se não houver responsabilidade ilimitada, em
contrapartida, há responsabilidade limitada, não se aplicando as duas
disposições:
Art. 1.023. Se os bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção
em que participem das perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão depois
de executados os bens sociais.

i. Uniformidade obrigatória. Os sócios têm de responder todos pela


mesma modalidade de responsabilidade. Não há possibilidade de um
sócio responder por um tipo de responsabilidade e outro por outro tipo
de responsabilidade.
4. Ineficácia de disposições contrárias ao contrato social. Conforme o art. 997, parágrafo
único, CC, “É INEFICAZ EM RELAÇÃO A TERCEIROS QUALQUER PACTO SEPARADO,
CONTRÁRIO AO DISPOSTO NO INSTRUMENTO DO CONTRATO”.
5. Alteração de cláusulas contrato social. As cláusulas do art. 997, CC, só podem ser
alteradas pela unanimidade dos sócios. Lembrando que os sócios que votam são os
quotistas, não os sócios de serviço. As demais cláusulas, não obrigatórias, podem ser
alteradas por maioria absoluta ou unanimidade. Conforme o art. 999, CC, a maioria
absoluta significa mais da metade do capital social. Segundo a norma, “AS
MODIFICAÇÕES DO CONTRATO SOCIAL, QUE TENHAM POR OBJETO MATÉRIA INDICADA
NO ART. 997, DEPENDEM DO CONSENTIMENTO DE TODOS OS SÓCIOS; AS DEMAIS PODEM SER
DECIDIDAS POR MAIORIA ABSOLUTA DE VOTOS, SE O CONTRATO NÃO DETERMINAR A
NECESSIDADE DE DELIBERAÇÃO UNÂNIME”.
6. Início das obrigações dos sócios. Conforme o art. 1.001, CC, “AS OBRIGAÇÕES DOS
SÓCIOS COMEÇAM IMEDIATAMENTE COM O CONTRATO, SE ESTE NÃO FIXAR OUTRA DATA, E
103

TERMINAM QUANDO, LIQUIDADA A SOCIEDADE, SE EXTINGUIREM AS RESPONSABILIDADES


SOCIAIS”. Portanto, as obrigações começam antes mesmo da constituição da
personalidade jurídica da sociedade. Não se conta, portanto, da data do
arquivamento, mas da data da assinatura do contrato.
7. Indelegabilidade das funções dos sócios. Conforme o art. 1.002, CC, “O SÓCIO NÃO
PODE SER SUBSTITUÍDO NO EXERCÍCIO DAS SUAS FUNÇÕES, SEM O CONSENTIMENTO DOS
DEMAIS SÓCIOS, EXPRESSO EM MODIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL”. O sócio, portanto,
não pode delegar as suas funções sem consentimento dos demais sócios para ser
substituído no exercício de suas funções.
8. Responsabilização por evicção. Conforme o art. 1.005, CC, “O SÓCIO QUE, A TÍTULO DE
QUOTA SOCIAL, TRANSMITIR DOMÍNIO, POSSE OU USO, RESPONDE PELA EVICÇÃO; E PELA
SOLVÊNCIA DO DEVEDOR, AQUELE QUE TRANSFERIR CRÉDITO”.
a. Conceito de evicção. “EM MATÉRIA DE EVICÇÃO, PRONUNCIA-SE O ART. 359 DO
CÓDIGO CIVIL. A EVICÇÃO É A PERDA DE UM DIREITO EM VIRTUDE DE UMA DECISÃO
QUE CONCEDE ESSE DIREITO A UMA TERCEIRA PESSOA, VERDADEIRO TITULAR DO BEM.
SE A COISA DADA EM PAGAMENTO SE PERDER EM VIRTUDE DE SENTENÇA QUE A
GARANTA A ALGUÉM QUE SOBRE ELA TENHA DIRETO ANTERIOR, A OBRIGAÇÃO
ORIGINÁRIA SERÁ RESTABELECIDA CONTRA O DEVEDOR, PERDENDO EFEITO A
QUITAÇÃO DADA ANTERIORMENTE. NINGUÉM PODE EXONERAR-SE AO PRESTAR
AQUILO QUE NÃO LHE PERTENÇA. O ALIENANTE É O GARANTE DO ADQUIRENTE NO
TOCANTE À LEGITIMIDADE DA ORIGEM JURÍDICA DO BEM, POR ISSO RESPONDERÁ PELA
TUTELA À CONFIANÇA DO SEU CREDOR. ENQUANTO A REGRA GERAL DA EVICÇÃO
PROPICIA INDENIZAÇÃO AO ADQUIRENTE (ART. 447 DO CC), NA DAÇÃO EM
PAGAMENTO O SEU EFEITO É O DE RESTABELECER A OBRIGAÇÃO EXTINTA COM TODOS
OS SEUS CONSECTÁRIOS (INCLUSIVE A MORA).” (Nelson Rosenwald)

AULA 12

1. Cessão de quotas. Conforme o art. 1.003, CC, “A CESSÃO TOTAL OU PARCIAL DE QUOTA,
SEM A CORRESPONDENTE MODIFICAÇÃO DO CONTRATO SOCIAL COM O CONSENTIMENTO
DOS DEMAIS SÓCIOS, NÃO TERÁ EFICÁCIA QUANTO A ESTES E À SOCIEDADE”. Sabidamente,
as quotas são bens móveis para efeitos legais, podendo ser objeto de cessão. No
entanto, em regra, a cessão de quotas requer alteração no contrato social e depende
do consentimento dos demais sócios, seja na cessão para um não sócio, seja para um
sócio. Se a cessão for feita sem o consentimento dos sócios, ela é válida apenas entre
as partes, mas ineficaz em relação a outros sócios e a sociedade.
104

a. Cessão parcial. Uma quota pode ser objeto de posse por mais de uma pessoa,
em condomínio. Não existe limite para quantas pessoas se pode transferir uma
quota.
b. Continuidade da responsabilidade do cedente. Conforme o art. 1.003,
parágrafo único, CC, “ATÉ DOIS ANOS DEPOIS DE AVERBADA A MODIFICAÇÃO DO
CONTRATO, RESPONDE O CEDENTE SOLIDARIAMENTE COM O CESSIONÁRIO, PERANTE
A SOCIEDADE E TERCEIROS, PELAS OBRIGAÇÕES QUE TINHA COMO SÓCIO”. O ex-sócio,
portanto, não se libera a partir do momento em que deixa de ser sócio.
2. Empate nos votos na sociedade simples. Conforme o art. 1.010, § 2º, CC, “PREVALECE
A DECISÃO SUFRAGADA POR MAIOR NÚMERO DE SÓCIOS NO CASO DE EMPATE, E, SE ESTE
PERSISTIR, DECIDIRÁ O JUIZ”.

Administração da Sociedade

3. Direitos do sócios. O art. 1.010, CC, trata do direito de voto, mas inserido na seção de
administração da sociedade. Isso é um erro. Na realidade, deveria estar na parte de
direitos e obrigações dos sócios.
4. Conceito de administrador da sociedade. Lembre-se que a sociedade simples é
personificada, de forma que precisa de um administrador que exerça a capacidade da
pessoa jurídica. Ele é aquele, portanto, que conduz a sociedade. Conforme o art. 1.022,
CC, “A SOCIEDADE ADQUIRE DIREITOS, ASSUME OBRIGAÇÕES E PROCEDE JUDICIALMENTE,
POR MEIO DE ADMINISTRADORES COM PODERES ESPECIAIS, OU, NÃO OS HAVENDO, POR
INTERMÉDIO DE QUALQUER ADMINISTRADOR”. O administrador, portanto, é o órgão da
sociedade, sendo o meio pelo qual ela exerce sua personalidade jurídica e capacidade
processual e material.
5. Formas de administração da sociedade. Em regra, a administração da sociedade
incumbe a qualquer dos sócios separadamente. Conforme o art. 1.013, CC, “A
ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE, NADA DISPONDO O CONTRATO SOCIAL, COMPETE
SEPARADAMENTE A CADA UM DOS SÓCIOS”. Essa é a chamada administração disjuntiva.
Além disso, também em regra, o sócio, na condição de administrador, não precisa ter
poderes especiais para prática dos atos envolvidos na condução da sociedade.
Conforme o art. 1.015, caput, CC, “NO SILÊNCIO DO CONTRATO, OS ADMINISTRADORES
PODEM PRATICAR TODOS OS ATOS PERTINENTES À GESTÃO DA SOCIEDADE; NÃO
CONSTITUINDO OBJETO SOCIAL, A ONERAÇÃO OU A VENDA DE BENS IMÓVEIS DEPENDE DO
QUE A MAIORIA DOS SÓCIOS DECIDIR”. Em se tratando de bem imóvel, é preciso de
autorização. A necessidade de poderes especiais, portanto, é uma exceção, bem como
105

a administração conjuntiva. Nessa modalidade, com pluralidade de administrador,


são necessários dois ou mais sócios para prática dos atos concernentes à sociedade.
Ela está disposta no art. 1.014, CC, definidor de que, “NOS ATOS DE COMPETÊNCIA
CONJUNTA DE VÁRIOS ADMINISTRADORES, TORNA-SE NECESSÁRIO O CONCURSO DE TODOS,
SALVO NOS CASOS URGENTES, EM QUE A OMISSÃO OU RETARDO DAS PROVIDÊNCIAS POSSA
OCASIONAR DANO IRREPARÁVEL OU GRAVE”.
6. Delegação da administração e constituição de mandatários da sociedade. Conforme
o art. 1.018, CC, “AO ADMINISTRADOR É VEDADO FAZER-SE SUBSTITUIR NO EXERCÍCIO DE
SUAS FUNÇÕES, SENDO-LHE FACULTADO, NOS LIMITES DE SEUS PODERES, CONSTITUIR
MANDATÁRIOS DA SOCIEDADE, ESPECIFICADOS NO INSTRUMENTO OS ATOS E OPERAÇÕES
QUE PODERÃO PRATICAR”. O administrador, portanto, não pode delegar a sua função a
outrem, mas pode constituir um mandatário. No mandato, uma pessoa se
responsabiliza pelos atos de terceiro por meio de uma procuração. Na sociedade
personificada, alguém precisa outorgar o mandato, sendo o administrador, no plano
dos fatos, essa pessoa. No entanto, o outorgante é a pessoa jurídica, não o próprio
administrador, que é mero representante da sociedade. A pessoa jurídica, então, é quem
responde pelos atos do mandatário. Importante destacar que a representação da
sociedade não se confunde com incapacidade nem com o contrato de mandato.
a. Administração conjuntiva. Se a administração for conjuntiva, o mandato tem
de ser outorgado por dois ou mais administradores.
7. Revogabilidade de poderes investidos. Conforme o art. 1.019, CC, “SÃO
IRREVOGÁVEIS OS PODERES DO SÓCIO INVESTIDO NA ADMINISTRAÇÃO POR CLÁUSULA
EXPRESSA DO CONTRATO SOCIAL, SALVO JUSTA CAUSA, RECONHECIDA JUDICIALMENTE, A
PEDIDO DE QUALQUER DOS SÓCIOS”. Dispõe o art. 1.019, parágrafo único, CC, por outro
lado, que “SÃO REVOGÁVEIS, A QUALQUER TEMPO, OS PODERES CONFERIDOS A SÓCIO POR
ATO SEPARADO, OU A QUEM NÃO SEJA SÓCIO”. O termo “a quem não seja sócio” se refere
a possíveis mandatários.
a. Administrador nomeado por ato separado e administrador nomeado no
contrato social. Existem esses dois tipos de administrador. Diante disso, parece
haver um conflito aparente entre os arts. 1.019 e 1.012, CC, e o art. 997, CC. Os
dois primeiros artigos dispõem sobre a possibilidade de administradores
nomeados por ato separado, enquanto o último artigo sentencia que o
administrador deve ser constituído no contrato social.
i. Interpretação. Tem de ser feita, portanto, interpretação coerente. Nessa
linha, entende-se que o ato separado pode ser de constituição e
substituição de administrador, mas sempre depois de o administrador
106

originário ser constituído no contrato social. Portanto, apenas o


administrador constituído no contrato social tem poderes irrevogáveis.
8. Averbação de nomeação por ato separado. Conforme o art. 1.012, CC, “O
ADMINISTRADOR, NOMEADO POR INSTRUMENTO EM SEPARADO, DEVE AVERBÁ-LO À MARGEM
DA INSCRIÇÃO DA SOCIEDADE, E, PELOS ATOS QUE PRATICAR, ANTES DE REQUERER A
AVERBAÇÃO, RESPONDE PESSOAL E SOLIDARIAMENTE COM A SOCIEDADE”. A nomeação por
ato em separado, portanto, deve ser averbada. Enquanto não requerida averbação, o
administrador nomeado responde pessoal e solidariamente com a sociedade.
9. Deveres do administrador. São eles, com correspondentes direitos dos sócios:
a. Dever de prestar contas. Conforme o art. 1.020, CC, “OS ADMINISTRADORES SÃO
OBRIGADOS A PRESTAR AOS SÓCIOS CONTAS JUSTIFICADAS DE SUA
ADMINISTRAÇÃO, E APRESENTAR-LHES O INVENTÁRIO ANUALMENTE, BEM COMO O
BALANÇO PATRIMONIAL E O DE RESULTADO ECONÔMICO”. Se não forem
cumpridos esses deveres, cabe uma ação de exigir contas. Os sócios têm,
portanto, um direito correlato de exigir contas.
b. Dever de exibir os papéis e documentos da sociedade. Conforme o art. 1.021,
CC, “SALVO ESTIPULAÇÃO QUE DETERMINE ÉPOCA PRÓPRIA, O SÓCIO PODE, A
QUALQUER TEMPO, EXAMINAR OS LIVROS E DOCUMENTOS, E O ESTADO DA CAIXA E
DA CARTEIRA DA SOCIEDADE”.
10. Obrigações dos sócios. Conforme o art. 1.001, CC, as obrigações dos sócios começam
da assinatura do contrato social.
a. Sócio em sociedade já constituída. Conforme o art. 1.025, CC, se o sócio entrar
em uma sociedade já constituída, ele também responde pelas obrigações
anteriores.
b. Ex-sócios. Conforme o art. 1.003, CC, os sócios que saem da sociedade por
cessão total de quotas ainda respondem por até dois anos pelas dívidas sociais
constituídas antes de sua saída.
11. Dever de diligência. Conforme o art. 1.011, CC, “O ADMINISTRADOR DA SOCIEDADE
DEVERÁ TER, NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES, O CUIDADO E A DILIGÊNCIA QUE TODO
HOMEM ATIVO E PROBO COSTUMA EMPREGAR NA ADMINISTRAÇÃO DE SEUS PRÓPRIOS
NEGÓCIOS” O administrador deve ser proativo no interesse da sociedade. São críticas
a essa norma:
a. “Homem”. Esse termo representa pessoa, abrangendo também as mulheres.
b. “Seus próprios negócios”. A administração do negócio de uma sociedade não
é administração de negócio próprio. Portanto, não pode ser esse o paradigma,
mas o paradigma de administração de empresa, de gestão empresarial. De
fato, existem decisões que podem ser tomadas quanto a negócios particulares,
107

mas que não podem ser tomadas quanto a negócios empresariais. A Doutrina
entende, portanto, que a atuação tem de ser diligente e profissional.
12. Qualificações vedadas no cargo de administração da sociedade. Conforme o art.
1.011, § 1º, CC, não podem ser administradores:
a. Pessoas jurídicas;
b. Incapazes;
c. Impedidos por lei especial. São eles:
i. Empresário falido. Qualquer empresário de falência decretada paralisa
sua atividade, ficando impedindo de prosseguir. É o exemplo mais
importante de impedimento legal;
ii. Servidores públicos, civis e militares, salvo se estiverem reformados – no
caso dos militares – ou aposentados – no caso dos civis –;
iii. Membros de carreiras jurídicas;
iv. Servidores da segurança pública;
v. Membros da magistratura, do Ministério Público, da Defensoria
Pública, da Advocacia Geral da União. Todas essas proibições estão
dispostas em seus respectivos estatutos, como, por exemplo, a LOMAN.
d. Condenação criminal. Não se trata de qualquer crime, mas crimes específicos.
Nos termos da norma, “OS CONDENADOS A PENA QUE VEDE, AINDA QUE
TEMPORARIAMENTE, O ACESSO A CARGOS PÚBLICOS; OU POR CRIME FALIMENTAR, DE
PREVARICAÇÃO, PEITA OU SUBORNO, CONCUSSÃO, PECULATO; OU CONTRA A
ECONOMIA POPULAR, CONTRA O SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL, CONTRA AS
NORMAS DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA, CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO, A FÉ
PÚBLICA OU A PROPRIEDADE, ENQUANTO PERDURAREM OS EFEITOS DA
CONDENAÇÃO”.
13. Aplicação das normas do mandato no que couber. Conforme o art. 1.011, § 2º, CC,
“APLICAM-SE À ATIVIDADE DOS ADMINISTRADORES, NO QUE COUBER, AS DISPOSIÇÕES
CONCERNENTES AO MANDATO”.
14. Excesso por parte dos administradores. Esse excesso abrange tanto aqueles atos que
o administrador não pode praticar quanto aqueles que ele podia, mas praticou de
maneira irregular. O administrador, com efeito, pode ter restrições no contrato social.
Conforme o art. 1.015, parágrafo único, CC, a regra geral é de que o excesso do
administrador obriga a sociedade, mas de forma atenuada, pois ela pode, eficazmente,
alegar esse excesso em determinados casos e se eximir de responsabilidade.
a. Responsabilização dos administradores. Conforme o art. 1.016, CC, “OS
ADMINISTRADORES RESPONDEM SOLIDARIAMENTE PERANTE A SOCIEDADE E OS
TERCEIROS PREJUDICADOS, POR CULPA NO DESEMPENHO DE SUAS FUNÇÕES”. Essa
108

norma complementa o dispositivo estudado. Nessa linha, mesmo que a


sociedade responda pelo excesso do administrador, ele responde perante
terceiros prejudicados. O administrador, portanto, sempre responde, desde que
atue com dolo ou culpa. Analisando as duas normas conjuntamente, são
depreendidas três possibilidades:
i. Excesso sem culpa por parte do administrador. O administrador não
responde perante a sociedade nem terceiros. A sociedade responde
perante terceiros;
ii. Excesso com culpa por parte do administrador. Podem ocorrer duas
hipóteses:
1. Ausência de quaisquer das hipóteses previstas no art. 1.015,
parágrafo único, CC. O administrador responde solidariamente
com a sociedade perante terceiros. O administrador responde
perante a sociedade, havendo possibilidade de ação de regresso.
2. Presença de quaisquer das hipóteses previstas no art. 1.015,
parágrafo único, CC. A sociedade não responde pelo excesso. Os
administradores respondem solidariamente perante terceiros.
b. Excludentes de responsabilização da sociedade. São eles, conforme o art.
1.015, parágrafo único, CC:
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;

III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

i. Teoria do ato ultravires. O inciso art. 1.015, III, CC, é considerado uma
aplicação da teoria do ato ultravires. Essa teoria é oriunda do common law
da Inglaterra. Por ela, o contrato social, sob pena de nulidade, tem de
descrever minuciosamente o objeto da sociedade. Qualquer ato praticado
fora desse escopo, nessa linha, não obrigaria a sociedade, uma vez que,
pelo contrato social, seu objeto se tornou público. A capacidade da
sociedade, portanto, está limitada ao seu objeto. A ideia dessa teoria
proporcionar segurança jurídica.
1. Teoria dos poderes implícitos. O direito brasileiro não adotou a
visão pura da teoria do ato ultravires, uma vez que requer
operação “evidentemente estranha”. Portanto, não é qualquer
operação fora do objeto social que exime a sociedade. A aplicação
é da teoria ultravires do direito norte-americano, denominada
teoria dos poderes implícitos. Segundo ela, em que pese a
109

cláusula do objeto social, todas as atividades derivadas de


correntes do objeto social se incluem no seu objeto. No caso
concreto, o juiz delimitaria quais seriam essas atividades
correlatas ao objeto social.

AULA 13

1. Credor particular do sócio. Conforme o art. 1.026, CC, “O CREDOR PARTICULAR DE


SÓCIO PODE, NA INSUFICIÊNCIA DE OUTROS BENS DO DEVEDOR, FAZER RECAIR A EXECUÇÃO
SOBRE O QUE A ESTE COUBER NOS LUCROS DA SOCIEDADE, OU NA PARTE QUE LHE TOCAR EM
LIQUIDAÇÃO”. “Fazer recair a execução” significa penhorar. Essa norma tem,
naturalmente, uma peculiaridade, posto que trata do relacionamento do sócio com seu
credor particular, não credor da sociedade. De fato, o sócio, como pessoa natural, pode
assumir dívida com terceiros e tem a quota social como bem penhorável, conforme o
art. 835, IX, CPC.
a. Alteração legislativa com o Código de Processo. Essa norma sofreu uma
alteração parcial em sua aplicação com o advento do Código de Processo. Ela
precisa ser aplicada, portanto, em conjunto com o art. 861, CPC.
b. Ordem de penhora. Existe uma ordem de penhora exposta no Código Civil:
i. Bens pessoais do devedor;
ii. Lucros decorrentes da quota;
iii. Parte que lhe tocar em liquidação. Essa alternativa ocorre quando a
sociedade não dá lucro ou quando dá lucros, mas de forma insuficiente
ao pagamento do débito. Conforme o art. 1.026, parágrafo único, CC, “SE
A SOCIEDADE NÃO ESTIVER DISSOLVIDA, PODE O CREDOR REQUERER A
LIQUIDAÇÃO DA QUOTA DO DEVEDOR, CUJO VALOR, APURADO NA FORMA
DO ART. 1.031, SERÁ DEPOSITADO EM DINHEIRO, NO JUÍZO DA EXECUÇÃO, ATÉ
NOVENTA DIAS APÓS AQUELA LIQUIDAÇÃO”.
1. Procedimento incompleto do Código Civil. Conforme o art.
1.031, CC, “NOS CASOS EM QUE A SOCIEDADE SE RESOLVER EM
RELAÇÃO A UM SÓCIO, O VALOR DA SUA QUOTA, CONSIDERADA PELO
MONTANTE EFETIVAMENTE REALIZADO, LIQUIDAR-SE-Á, SALVO
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL EM CONTRÁRIO, COM BASE NA SITUAÇÃO
PATRIMONIAL DA SOCIEDADE, À DATA DA RESOLUÇÃO, VERIFICADA
EM BALANÇO ESPECIALMENTE LEVANTADO”. Pelo Código Civil,
portanto, ocorre o levantamento especial de um balanço, a
110

apuração da quota, liquidação da quota e pagamento dos


credores.
2. Procedimento no Código de Processo Civil. O art. 861, CPC, no
entanto, também previu o processo de liquidação da quota. Em
suas disposições, há uma etapa anterior à liquidação que, por sua
vez, não está presente no Código Civil. Essa norma não revogou
o Código Civil, no entanto, apenas alterou o procedimento.
Conforme o art. 861, II, CPC, a sociedade deve, após o
levantamento do balanço especial e antes da liquidação,
“[OFERECER] AS QUOTAS OU AS AÇÕES AOS DEMAIS SÓCIOS,
OBSERVADO O DIREITO DE PREFERÊNCIA LEGAL OU CONTRATUAL”.
Existe, portanto, uma etapa a mais que deve ser cumprida no
procedimento de liquidação.
3. Processo de liquidação da quota conforme os códigos Civil e de
Processo Civil. Resta a seguinte ordem no processo de liquidação
da quota:
a. Levantamento de balanço especial;
b. Apuração da quota;
c. Exercício do direito de preferência;
d. Liquidação da quota;
e. Pagamento do credor particular.
2. Herdeiros de cônjuge de sócio e cônjuge separado judicialmente. Conforme o art.
1.027, CC, “OS HERDEIROS DO CÔNJUGE DE SÓCIO, OU O CÔNJUGE DO QUE SE SEPAROU
JUDICIALMENTE, NÃO PODEM EXIGIR DESDE LOGO A PARTE QUE LHES COUBER NA QUOTA
SOCIAL, MAS CONCORRER À DIVISÃO PERIÓDICA DOS LUCROS, ATÉ QUE SE LIQUIDE A
SOCIEDADE”. Entende-se que o disposto não pode ocorrer em uma sociedade com
prazo indeterminado, pois a espera seria incerta. A interpretação que prevalece é que
essa norma se aplica às sociedades de prazo determinado.

Da Resolução da Sociedade em Relação a um Sócio

3. Conceito de resolução e distinção da dissolução. A resolução da sociedade em


relação a um sócio significa extinção do contrato da sociedade em relação a um
determinado sócio, à exceção do caso de cessão de quotas, ocorrendo mutação do
quadro societário, mas com continuidade da empresa. Na terminologia processual,
não utilizada nesse estudo, dá-se a denominação dissolução parcial como equivalente
111

à resolução. Quando o contrato de sociedade é atingido de forma que entre em


liquidação, diz-se, tecnicamente, dissolução da sociedade, não havendo
prosseguimento da empresa. São três as formas de resolução, quais sejam a morte do
sócio, retirada e exclusão.
a. Ação de dissolução parcial. É a ação própria para, em juízo, se reconhecer a
saída de um sócio da sociedade por resolução.
4. Obrigação de alteração do contrato social. Todos os casos de resolução da sociedade
em relação a um sócio requerem alteração do contrato social, em atenção ao princípio
da realidade do capital social.
5. Morte do sócio. A morte do sócio é o primeiro caso de resolução da sociedade em
relação a um de seus membros. Conforme o art. 1.028, CC:
Art. 1.028. No caso de morte de sócio, liquidar-se-á sua quota, salvo:

I - se o contrato dispuser diferentemente;

II - se os sócios remanescentes optarem pela dissolução da sociedade;

III - se, por acordo com os herdeiros, regular-se a substituição do sócio falecido.

a. Procedimentos. Nota-se, portanto, que a liquidação é a solução presumida


pelo Código, não existindo, nesse caso, sucessão do sócio pelos herdeiros. No
entanto, os incisos permitem soluções distintas da liquidação da quota do sócio
falecido. São elas:
i. Disposição contratual. Nesse caso, pode ser convencionado, no contrato
social, que ocorra a sucessão do sócio falecido pelos seus herdeiros.
ii. Opção pela dissolução da sociedade. Os sócios podem optar,
independentemente do consentimento dos herdeiros, pela dissolução da
sociedade após a morte do sócio. Esse procedimento requer maioria
absoluta, conforme o art. 1.033, III, CC.
iii. Substituição do sócio falecido. Nesse caso, há um acordo entre os sócios
remanescentes e os herdeiros do sócio falecido.
6. Retirada do sócio. O segundo caso de resolução da sociedade em relação a um sócio
é a retirada, isto é, a saída voluntária do sócio. Conforme o art. 1.029, CC, “ALÉM DOS
CASOS PREVISTOS NA LEI OU NO CONTRATO, QUALQUER SÓCIO PODE RETIRAR-SE DA
SOCIEDADE; SE DE PRAZO INDETERMINADO, MEDIANTE NOTIFICAÇÃO AOS DEMAIS SÓCIOS,
COM ANTECEDÊNCIA MÍNIMA DE SESSENTA DIAS; SE DE PRAZO DETERMINADO, PROVANDO
JUDICIALMENTE JUSTA CAUSA”. Essa é a norma na qual mais se sente a presença do
elemento affectio societatis. Sabidamente, esse é um elemento interno da sociedade,
expressivo da intenção de se associar. A retirada do sócio é, portanto, uma quebra da
affectio societatis. Por fim, convém mencionar que o contrato social pode estabelecer
112

hipóteses distintas de retirada do sócio dessas expostas no Código Civil, conforme


redação da norma.
a. Distinção entre direito de retirada e direito de recesso. No recesso, o sócio sai
da sociedade por divergência de uma deliberação feita pela sociedade. Na retirada
da sociedade, existe quebra da affectio societatis. Essa distinção não existe na Lei,
apenas na Doutrina.
b. Solução quanto ao prazo da sociedade. Existem duas soluções possíveis para
a retirada, a depender da espécie de prazo da sociedade disposta no contrato
social, determinado ou indeterminado:
i. Prazo indeterminado. Nas sociedades de prazo indeterminado, não é
necessário motivação para saída do quadro societário, bastando
notificação aos demais sócios com antecedência mínima de sessenta
dias.
1. Dissolução da sociedade. Conforme o art. 1.029, parágrafo único,
CC, “NOS TRINTA DIAS SUBSEQÜENTES À NOTIFICAÇÃO, PODEM OS
DEMAIS SÓCIOS OPTAR PELA DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE”.
ii. Prazo determinado. Nesse caso, é preciso motivação e uma ação de
dissolução parcial. Portanto, o sócio terá de entrar com uma ação
judicial e, ainda, ter uma justa causa que justifique sua saída. Caso o Juízo
não acate sua causa exposta, o sócio fica impedido de sair da sociedade.
7. Exclusão do sócio. A exclusão do sócio é a terceira forma de resolução da sociedade
em relação a um sócio. Conforme o art. 1.030, CC, “RESSALVADO O DISPOSTO NO ART.
1.004 E SEU PARÁGRAFO ÚNICO, PODE O SÓCIO SER EXCLUÍDO JUDICIALMENTE, MEDIANTE
INICIATIVA DA MAIORIA DOS DEMAIS SÓCIOS, POR FALTA GRAVE NO CUMPRIMENTO DE SUAS
OBRIGAÇÕES, OU, AINDA, POR INCAPACIDADE SUPERVENIENTE”. Essa norma se aplica
tanto a sócio minoritário quanto majoritário.
a. Exclusão extrajudicial do sócio remisso. Na sociedade simples, em regra, a
exclusão é feita por via judicial, por uma ação de dissolução parcial. No entanto,
em se tratando de sócio remisso, pode ser feita exclusão extrajudicial. Essa é,
precisamente, a ressalva feita no início da norma.
b. Espécies de exclusão judicial. A exclusão judicial do sócio pode ser feita de
duas maneiras:
i. Motivada. Na exclusão motivada, existe uma causa – falta grave no
cumprimento das obrigações – que motiva a exclusão do sócio por
iniciativa da maioria dos demais sócios.
1. Incapacidade. A mera superveniência de incapacidade não dá
azo à exclusão do sócio, até mesmo pelos fundamentos do
113

Estatuto da Pessoa com Deficiência. Os sócios têm de provar,


motivadamente, que a incapacidade impede a continuidade
regular da sociedade. Sabidamente, a incapacidade apenas
impede diretamente a administração da sociedade, não a
integração do quadro societário.
ii. De pleno direito. Nesse caso, pode-se pedir diretamente a liquidação da
quota por uma ação de dissolução parcial. A mera produção do fato,
portanto, dá direito à apuração de haveres, de forma que a sentença
judicial será apenas declaratória. São dois os casos em que há exclusão
de pleno direito, conforme o art. 1.030, parágrafo único, CC:
1. Sócio declarado falido. Pela terminologia “falido”, entende-se
que essa causa se aplica apenas ao sócio empresário, não nos casos
de insolvência civil. De fato, há duas espécie de insolvência civil:
a. Falência. Ocorre quando há insolvência de um empresário
ou sócio empresário, nos termos do art. 123, Lei de
Falências;
b. Insolvência civil. Ocorre quando há insolvência de uma
pessoa natural não empresária.
2. Sócio cuja quota tenha sido liquidada por execução de credor
particular.
8. Liquidação da quota ou apuração de haveres. A liquidação da quota ocorre após a
resolução da sociedade em relação a um sócio. Conforme o art. 1.031, CC, “NOS CASOS
EM QUE A SOCIEDADE SE RESOLVER EM RELAÇÃO A UM SÓCIO, O VALOR DA SUA QUOTA,
CONSIDERADA PELO MONTANTE EFETIVAMENTE REALIZADO, LIQUIDAR-SE-Á, SALVO
DISPOSIÇÃO CONTRATUAL EM CONTRÁRIO, COM BASE NA SITUAÇÃO PATRIMONIAL DA
SOCIEDADE, À DATA DA RESOLUÇÃO, VERIFICADA EM BALANÇO ESPECIALMENTE
LEVANTADO”.
a. Integralização da quota. Conforme a norma, só é calculado, para fins da
liquidação da quota, o que foi efetivamente integralizado pelo sócio.
b. Data de resolução. A data da resolução disposta na norma tem de ser fixada
pelo Juiz, por meio de parâmetro obtido do Código de Processo Civil.
Conforme o art. 605, CPC:
Art. 605. A data da resolução da sociedade será:

I - no caso de falecimento do sócio, a do óbito;

II - na retirada imotivada, o sexagésimo dia seguinte ao do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio
retirante;
114

III - no recesso, o dia do recebimento, pela sociedade, da notificação do sócio dissidente;

IV - na retirada por justa causa de sociedade por prazo determinado e na exclusão judicial de sócio, a do trânsito
em julgado da decisão que dissolver a sociedade; e

V - na exclusão extrajudicial, a data da assembleia ou da reunião de sócios que a tiver deliberado.

c. Princípio da realidade do capital social. Conforme o art. 1.030, § 1º, CC, “O


CAPITAL SOCIAL SOFRERÁ A CORRESPONDENTE REDUÇÃO, SALVO SE OS DEMAIS
SÓCIOS SUPRIREM O VALOR DA QUOTA”. A quota pode ser suprida por terceiro
com consentimento dos sócios.
d. Pagamento da quota liquidada. Conforme o art. 1.030, § 2º, CC, “A QUOTA
LIQUIDADA SERÁ PAGA EM DINHEIRO, NO PRAZO DE NOVENTA DIAS, A PARTIR DA
LIQUIDAÇÃO, SALVO ACORDO, OU ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL EM CONTRÁRIO”.
Com efeito, a quota não pode ser paga em bens. Porém, nada impede que haja
um acordo no processo.
9. Responsabilidade do ex-sócio. Conforme o art. 1.032, CC, “A RETIRADA, EXCLUSÃO OU
MORTE DO SÓCIO, NÃO O EXIME, OU A SEUS HERDEIROS, DA RESPONSABILIDADE PELAS
OBRIGAÇÕES SOCIAIS ANTERIORES, ATÉ DOIS ANOS APÓS AVERBADA A RESOLUÇÃO DA
SOCIEDADE; NEM NOS DOIS PRIMEIROS CASOS, PELAS POSTERIORES E EM IGUAL PRAZO,
ENQUANTO NÃO SE REQUERER A AVERBAÇÃO”. De fato, o ex-sócio continua responsável
pelas obrigações sociais anteriores tanto no caso de cessão das quotas quanto no caso
de resolução da sociedade em relação a um sócios. Portanto, ele não se desobriga
imediatamente das obrigações sociais. É preciso atentar que o prazo de dois anos
começa a correr apenas da data da averbação da alteração contratual na Junta Comercial,
não da data da resolução.

Sociedade em Nome Coletivo

10. Regência subsidiária pela sociedade simples. Os artigos que regem a sociedade em
nome coletivo são apenas seis. Isso ocorre pelo fato de a sociedade em nome coletivo
se reger por normas da sociedade simples, conforme o art. 1.040, CC.
11. Características da sociedade em nome coletivo. São elas:
a. Responsabilidade ilimitada e solidária. Na sociedade em nome coletivo, os
sócios respondem ilimitada e solidariamente, nos termos do art. 1.024, CC.
Nessa linha, todos os sócios podem usar a firma social, isto é, administrar a
sociedade. Essas disposições não podem ser revogadas por vontade dos sócios.
115

b. Nome empresarial. O nome empresarial da sociedade em nome coletivo é a


firma social, não podendo ser denominação, nos termos do art. 1.041, CC.
c. Sociedade de pessoas. Não podem participar pessoas jurídicas da sociedade
em nome coletivo, conforme o art. 1.039, CC.
d. Sociedade personificada.
e. Objeto simples ou empresarial.
f. Capital fixo.
12. Alteração da responsabilidade entre os sócios. Conforme o art. 1.039, parágrafo único,
CC, “SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE PERANTE TERCEIROS, PODEM OS SÓCIOS, NO ATO
CONSTITUTIVO, OU POR UNÂNIME CONVENÇÃO POSTERIOR, LIMITAR ENTRE SI A
RESPONSABILIDADE DE CADA UM”. Essas disposições têm influências na ação de
regresso. No entanto, deve ser ressaltado que, quanto aos terceiros, a
responsabilização é sempre solidária, característica que não pode ser alterada.
13. Vedação ao sócio de serviço. Essa sociedade não pode ter sócio de serviço, pois a
sociedade é de responsabilidade ilimitada. De fato, os sócios precisam ter quota para
responder ilimitadamente.
14. Administração da sociedade em nome coletivo. Conforme o art. 1.042, CC, “A
ADMINISTRAÇÃO DA SOCIEDADE COMPETE EXCLUSIVAMENTE A SÓCIOS, SENDO O USO DA
FIRMA, NOS LIMITES DO CONTRATO, PRIVATIVO DOS QUE TENHAM OS NECESSÁRIOS
PODERES”. Lembre-se que, em regra, a administração é disjuntiva, mas o contrato social
pode dispor diversamente.
15. Credor particular do sócio. O art. 1.043, CC, trata da relação do sócio com o credor
particular, não com o credor da sociedade. Essa norma é precisamente uma exceção
ao art. 1.026, CC. Conforme o art. 1.043, CC:
Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade, pretender a liquidação da
quota do devedor.

Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:

I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;

II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor, levantada no prazo
de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.

a. Distinção. Nos incisos I e II, a distinção é de que, na prorrogação tácita, não há


alteração subsequente no contrato social.

AULA 14
116

Sociedades em Comandita Simples e por Ações

1. Espécies. Existem dois tipos de sociedades em comandita, quais sejam a comandita


simples e a comandita por ações.

Sociedade em Comandita Simples

1. Origem da sociedade em comandita simples. A sociedade em comandita simples tem


origem no contrato de comenda. Esse contrato, atualmente, não existe mais, tendo
sido incorporado na própria sociedade em comandita. Seu objeto era o Direito
Marítimo. Nesse contrato de comenda, o armador, precisando de recursos, se
associava ao investidor, prestador de capitais. Nessa parceria, o investidor respondia
pessoal e limitadamente até suas contribuições de capital, enquanto o armador
respondia solidária e ilimitadamente.
a. Origem da sociedade em comandita por ações. A sociedade em comandita por
ações surgiu na França em 1807. Esse tipo societário, diferentemente da
sociedade em comandita simples, não tem origem no contrato de comenda, mas
decorre de criação legislativa. Ela surgiu, precisamente, para facilitar a
constituição de sociedades em comandita. Permitiu-se, assim, que a sociedade
em comandita simples dividisse seu capital em ações.
b. Regulamentação legal. Ambas as sociedades em comandita são regidas pelo
Código Civil. No entanto, a sociedade em comandita por ações é regida, ainda,
pela Lei das Sociedades Anônimas.
2. Espécies de sócios na sociedade em comandita simples. Existem, portanto, duas
espécies de sócios na sociedade em comandita simples, equivalentes às figuras do
armador e do investidor, traço fundamental desse tipo societário. Conforme o art.
1.045, CC, “NA SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES TOMAM PARTE SÓCIOS DE DUAS
CATEGORIAS: OS COMANDITADOS, PESSOAS FÍSICAS, RESPONSÁVEIS SOLIDÁRIA E
ILIMITADAMENTE PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS; E OS COMANDITÁRIOS, OBRIGADOS
SOMENTE PELO VALOR DE SUA QUOTA”. São, portanto, dois os tipos de sócios:
a. Comanditados. É a figura equivalente ao armador. Nesse tipo societário, esse
sócio possui responsabilidade solidária, no caso de pluralidade de sócios
comanditados, e ilimitada. Somente pessoas físicas podem ocupar o cargo de
comanditados.
117

b. Comanditários. É a figura equivalente ao investidor, denominado também


sócio pecunia. Esse sócio, diferentemente, somente responde limitadamente,
até as suas contribuições de capital. Sua atuação se limita à aplicação de
recursos, fiscalização e participação nos lucros, nunca atuando da administração
da sociedade. Essa espécie de sócio pode ser constituída por pessoa física ou
jurídicas.
i. Vedação à unipessoalidade. Essa sociedade, em hipótese alguma, pode
ser unipessoal, bem como a sociedade em comandita por ações. De fato, é
traço substancial da sociedade comandita a existência de duas espécies
sócios, de forma que a constituição unipessoal seria uma afronta a esse
pressuposto do tipo societário.
ii. Necessidade de indicação dos sócios comanditados e comanditados no
ato constitutivo. Conforme o art. 1.045, parágrafo único, CC, “O CONTRATO
DEVE DISCRIMINAR OS COMANDITADOS E OS COMANDITÁRIOS”.
Anteriormente, os sócios comanditários não precisavam de indicação no
contrato social. Atualmente, ambos os tipos têm de ser indicados.
3. Regência pelas normas da sociedade em nome coletivo. Conforme o art. 1.046, CC,
“APLICAM-SE À SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES AS NORMAS DA SOCIEDADE EM NOME
COLETIVO, NO QUE FOREM COMPATÍVEIS COM AS DESTE CAPÍTULO”.
a. Equiparação de direitos e obrigações aos comanditados. Ainda, conforme o
art. 1.046, parágrafo único, CC, fica estabelecido que “AOS COMANDITADOS
CABEM OS MESMOS DIREITOS E OBRIGAÇÕES DOS SÓCIOS DA SOCIEDADE EM NOME
COLETIVO”.
4. Direitos e vedações dos sócio comanditários. Conforme o art. 1.047, CC, “SEM
PREJUÍZO DA FACULDADE DE PARTICIPAR DAS DELIBERAÇÕES DA SOCIEDADE E DE LHE
FISCALIZAR AS OPERAÇÕES, NÃO PODE O COMANDITÁRIO PRATICAR QUALQUER ATO DE
GESTÃO, NEM TER O NOME NA FIRMA SOCIAL, SOB PENA DE FICAR SUJEITO ÀS
RESPONSABILIDADES DE SÓCIO COMANDITADO”.
a. Direitos. São direitos do comanditário conforme o dispositivo:
i. Participação das deliberações da sociedade. O comanditário possui
direito de voto.
ii. Fiscalização das operações da sociedade.
iii. Atuação como procurador da sociedade. Conforme o art. 1.047, parágrafo
único, CC, “PODE O COMANDITÁRIO SER CONSTITUÍDO PROCURADOR DA
SOCIEDADE, PARA NEGÓCIO DETERMINADO E COM PODERES ESPECIAIS”.
Esse contrato de mandato, em que há limitações, se chama mandato ad
hoc. Com efeito, não pode o comanditário ser mandatário permanente,
118

pois isso seria um disfarce para sua atuação como sócio comanditado. O
comanditado é quem constitui o procurador comanditário.
b. Vedações. São vedações do comanditário:
i. Prática de atos de gestão. De fato, o comanditário não pode administrar
a sociedade.
ii. Presença do nome na firma social. O comanditário não pode ter o nome
na firma social. Da norma, depreende-se que o nome empresarial da
sociedade em comandita simples é firma social.
1. Nome empresarial na sociedade em comandita simples.
Conforme o art. 1.157, CC, “A SOCIEDADE EM QUE HOUVER SÓCIOS
DE RESPONSABILIDADE ILIMITADA [COMANDITADOS] OPERARÁ SOB
FIRMA, NA QUAL SOMENTE OS NOMES DAQUELES PODERÃO FIGURAR,
BASTANDO PARA FORMÁ-LA ADITAR AO NOME DE UM DELES A
EXPRESSÃO "E COMPANHIA" OU SUA ABREVIATURA”. Portanto, na
sociedade em comandita simples, sempre há o aditivo “e
companhia”, representativo dos sócios comanditários. Na
sociedade em nome coletivo, como é composta somente de sócios
de responsabilidade ilimitada, quaisquer dos sócios poderá
figurar na firma social.
2. Sanção. Conforme a norma, se o comanditário despeitar qualquer
uma das duas vedações, ele passa a responder ilimitadamente
pelas obrigações sociais.
c. Efeito contra terceiros da modificação no contrato social. Conforme o art.
1.048, CC, “SOMENTE APÓS AVERBADA A MODIFICAÇÃO DO CONTRATO, PRODUZ
EFEITO, QUANTO A TERCEIROS, A DIMINUIÇÃO DA QUOTA DO COMANDITÁRIO, EM
CONSEQUÊNCIA DE TER SIDO REDUZIDO O CAPITAL SOCIAL, SEMPRE SEM PREJUÍZO DOS
CREDORES PREEXISTENTES”. Essa norma não é uma exceção, mas repetição da
regra geral de que qualquer modificação do contrato social só produz efeitos
contra terceiros depois de arquivado, conforme o art. 1.054, CC. Lembre-se que
essa sociedade pode ser simples ou empresária, de forma que, se simples, o
registro próprio é o Registro Civil de Pessoas Jurídicas, e, se empresária, Junta
Comercial.
d. Desobrigação da reposição de lucros pelo sócio comanditário. Conforme o art.
1.049, CC, “O SÓCIO COMANDITÁRIO NÃO É OBRIGADO À REPOSIÇÃO DE LUCROS
RECEBIDOS DE BOA-FÉ E DE ACORDO COM O BALANÇO”. Essa norma é apenas a
regra oposta àquela disposta no art. 1.009, CC, que trata da obrigação de
119

reposição dos lucros recebidos de má-fé e em desacordo do balanço. Uma trata


da ilicitude e outra da licitude.
i. Vedação ao recebimento de lucros pelo comanditário. Por fim,
conforme o art. 1.049, parágrafo único, CC, “DIMINUÍDO O CAPITAL SOCIAL
POR PERDAS SUPERVENIENTES, NÃO PODE O COMANDITÁRIO RECEBER
QUAISQUER LUCROS, ANTES DE REINTEGRADO AQUELE”.
e. Morte de sócio comanditário e comanditado. Conforme o art. 1.050, CC, “NO
CASO DE MORTE DE SÓCIO COMANDITÁRIO, A SOCIEDADE, SALVO DISPOSIÇÃO DO
CONTRATO, CONTINUARÁ COM OS SEUS SUCESSORES, QUE DESIGNARÃO QUEM OS
REPRESENTE”. Esse dispositivo é uma norma marcante e peculiar da sociedade
em comandita simples. Nota-se que essa norma prevê, para a sociedade em
comandita simples, solução diversa daquela disposta no art. 1.028, CC, que
preceitua, em regra, a liquidação da quota no caso de morte do sócio. No
entanto, essa solução distinta é aplicável apenas à morte do sócio comanditário,
não do comanditado. Quando ao sócio comanditado, continuam a ser aplicadas
as disposições gerais do art. 1.028, CC.

Sociedade em Comandita por Ações

5. Origem. Essa sociedade, diferentemente da sociedade em comandita simples, não é


originada do contrato de comenda. Na realidade, ela tem influência da legislação
francesa, em que o Código Comercial Francês permitiu a divisão da sociedade em
comandita em ações.
6. Regime jurídico empresarial da sociedade em comandita por ações. Essa sociedade
é sempre uma sociedade empresária, independentemente do seu objeto, posto que é
divida em ações.
7. Características da sociedade em comandita por ações. Conforme o art. 1.090, CC, “A
SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES TEM O CAPITAL DIVIDIDO EM AÇÕES, REGENDO-SE
PELAS NORMAS RELATIVAS À SOCIEDADE ANÔNIMA, SEM PREJUÍZO DAS MODIFICAÇÕES
CONSTANTES DESTE CAPÍTULO, E OPERA SOB FIRMA OU DENOMINAÇÃO”. São três as
características principais desse tipo societário:
a. Divisão do capital em ações;
b. Regência pelas normas de sociedade anônima. Portanto, são aplicados os arts.
1.089 e 1.090, CC, e, consequentemente, a Lei 6.404/76, Lei das Sociedades
Anônimas, sendo justamente a lei especial requerida pelo Código Civil.
120

c. Operação sobre firma ou denominação. A sociedade em comandita simples,


diferentemente, atua apenas sob firma. Ainda, o art. 1.161, CC, estabelece que
“A SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES PODE, EM LUGAR DE FIRMA, ADOTAR
DENOMINAÇÃO DESIGNATIVA DO OBJETO SOCIAL, ADITADA DA EXPRESSÃO
"COMANDITA POR AÇÕES”. Portanto, o nome empresarial da sociedade em
comandita por ações terá o aditivo, seja na firma, seja na denominação,
“comandita por ações”, enquanto a sociedade em comandita simples terá o
aditivo “e companhia” ou “e cia.”.
8. Espécies de sócios. Essa sociedade, como a comandita simples, também possui duas
espécies de sócios. No entanto, não são aplicáveis os termos “comanditário” e
“comanditado”. Conforme o art. 1.091, CC, “SOMENTE O ACIONISTA TEM QUALIDADE
PARA ADMINISTRAR A SOCIEDADE E, COMO DIRETOR, RESPONDE SUBSIDIÁRIA E
ILIMITADAMENTE PELAS OBRIGAÇÕES DA SOCIEDADE”. Acionista é o nome que se dá ao
sócio. Quem não é sócio, portanto, não pode administrar. Esse administrador pode
ser, inclusive, um sócio minoritário. Lembre-se que o administrador, além da
qualidade de acionista, tem de ser pessoa natural, regra geral aplicável a qualquer tipo
societário. Diretor é o nome técnico do administrador, do acionista administrador. São
dois os tipos de sócio na sociedade em comandita por ações, apesar de o Código Civil
não deixar claro:
a. Acionista diretor. Seria o equivalente ao comanditado. É o sócio administrador
da sociedade em comandita por ações. Ele responde subsidiária e
ilimitadamente pelas obrigações sociais, e solidariamente no caso da presença
de mais de um acionista diretor. Conforme o art. 1.091, § 1º, CC, “SE HOUVER
MAIS DE UM DIRETOR, SERÃO SOLIDARIAMENTE RESPONSÁVEIS, DEPOIS DE ESGOTADOS
OS BENS SOCIAIS”.
i. Nomeação do diretor. Conforme o art. 1.091, § 2º, CC, “OS DIRETORES
SERÃO NOMEADOS NO ATO CONSTITUTIVO DA SOCIEDADE, SEM LIMITAÇÃO
DE TEMPO, E SOMENTE PODERÃO SER DESTITUÍDOS POR DELIBERAÇÃO DE
ACIONISTAS QUE REPRESENTEM NO MÍNIMO DOIS TERÇOS DO CAPITAL
SOCIAL”. Nas sociedades anônimas, em contrapartida, os
administradores só podem ocupar o cargo por três anos. Além disso,
nota-se que se requer quórum qualificado para a destituição do
acionista diretor, não apenas maioria simples.
ii. Perpetuação das obrigações do diretor exonerado. Conforme o art.
1.091, § 3º, CC, “O DIRETOR DESTITUÍDO OU EXONERADO CONTINUA,
DURANTE DOIS ANOS, RESPONSÁVEL PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS
CONTRAÍDAS SOB SUA ADMINISTRAÇÃO”.
121

b. Acionista simples ou não diretor. Seria o equivalente ao comanditário. Ele


responde apenas limitadamente ao valor de sua quota pelas obrigações sociais
9. Consentimentos dos diretores na alteração do contrato social. Conforme o art. 1.092,
CC, “A ASSEMBLEIA GERAL NÃO PODE, SEM O CONSENTIMENTO DOS DIRETORES, MUDAR O
OBJETO ESSENCIAL DA SOCIEDADE, PRORROGAR-LHE O PRAZO DE DURAÇÃO, AUMENTAR OU
DIMINUIR O CAPITAL SOCIAL, CRIAR DEBÊNTURES, OU PARTES BENEFICIÁRIAS”.

Sociedade Limitada

10. Origem da sociedade limitada. Esse tipo societário não surgiu do uso e das práticas
comerciais, mas de criação legislativa. Ele surge na Alemanha no ano de 1992, com a
característica fundamental de que todos os sócios têm responsabilidade limitada.
a. Surgimento no Brasil. No Brasil, o primeiro nome que se deu a esse tipo
societário foi influenciado por Portugal, sendo “sociedade por cotas de
responsabilidade limitada”. Esse tipo societário não era presente no Código
Comercial, sendo introduzido com o Decreto 3.708/1919. Esse Decreto vigorou
até o Código de 2002, momento em que perdeu sua validade por incorporação
desse tipo societário ao Código Civil. No Código Civil de 2002, esse tipo
societário teve sua nomenclatura alterada para “sociedade limitada”. Esse nome,
apesar de conciso, é atécnico, posto que limitada não é a sociedade, mas a
responsabilidade dos sócios.
11. Divisão por quotas. Essa sociedade é dividida por quotas, podendo ser, portanto,
simples ou empresária, conforme art. 1.055. Seu registro, então, pode ser feito tanto na
Junta Comercial quanto no Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Na sociedade, todos os
sócios têm a mesma espécie de responsabilidade.
12. Nome empresarial. A sociedade limitada tem, como nome empresarial, firma ou
denominação, conforme o art. 1.158, da mesma forma que a sociedade comandita por
ações. Conforme a norma, “PODE A SOCIEDADE LIMITADA ADOTAR FIRMA OU
DENOMINAÇÃO, INTEGRADAS PELA PALAVRA FINAL "LIMITADA" OU A SUA ABREVIATURA”.
13. Espécies de pessoas participantes. Podem participar da sociedade limitada tanto
pessoas naturais quanto jurídicas, da mesma forma que a sociedade em comandita ou
em nome coletivo.
14. Responsabilidade dos sócios. Conforme o art. 1.052, CC, “NA SOCIEDADE LIMITADA, A
RESPONSABILIDADE DE CADA SÓCIO É RESTRITA AO VALOR DE SUAS QUOTAS, MAS TODOS
RESPONDEM SOLIDARIAMENTE PELA INTEGRALIZAÇÃO DO CAPITAL SOCIAL”. A
responsabilidade dos sócios, na sociedade limitada, é o oposto da responsabilidade na
122

sociedade em nome coletivo. Na sociedade limitada, os sócios não são obrigados a


integralizar as quotas no ato de constituição, podendo optar pela integralização a
prazo.
a. Solidariedade legal. Caso optem pela integralização a prazo, enquanto o capital
não for integralizado, os sócios respondem solidariamente pela dívida não
integralizada. Essa, porém, é uma solidariedade temporária, e que ocorre
apenas no caso de os sócios optarem pela integralização a prazo,
diferentemente da integralização à vista.
b. Sociedade limitada unipessoal. Conforme o art. 1.052, parágrafo único, CC, “a
SOCIEDADE LIMITADA PODE SER CONSTITUÍDA POR UMA OU MAIS PESSOAS, HIPÓTESE
EM QUE SE APLICARÃO AO DOCUMENTO DE CONSTITUIÇÃO DO SÓCIO ÚNICO, NO
QUE COUBER, AS DISPOSIÇÕES SOBRE O CONTRATO SOCIAL”. Essa norma pode
caducar, pois foi promovida por Medida Provisória. Essa norma possibilita,
portanto, a constituição de sociedade limitada por apenas uma pessoa. Caso a
Medida Provisória caia, ela será constituída, novamente, por pluripessoalidade
em sua essência. Atualmente, há, então, essa permissão de constituição da
sociedade limitada por ato unilateral de vontade, além da possibilidade de
constituição por contrato. Caso a Medida Provisória caia, os atos praticados
pela sociedade unipessoal são convalidados; porém, será necessária uma
adequação à necessidade de pluripessoalidade.
15. Cláusulas obrigatórias e facultativa do ato constitutivo de sociedade limitada.
Conforme o art. 1.054, CC, “O CONTRATO MENCIONARÁ, NO QUE COUBER, AS INDICAÇÕES
DO ART. 997, E, SE FOR O CASO, A FIRMA SOCIAL”. O contrato de sociedade limitada,
portanto, segue o contrato de sociedade simples no que couber. Não é tudo, de fato. que
se aplica. Quanto ao art. 997, CC, todos os incisos são obrigatórios à exceção de:
a. Art. 997, VIII, CC. Não é aplicável. Esse artigo indica se os sócios respondem
ou não subsidiariamente. É, portanto, incompatível com a sociedade limitada.
b. Art. 997, V, CC. É facultativo. Ele se aplica apenas se o sócio de serviço tiver
quota. Com efeito, a sociedade limitada não pode ter apenas sócios de serviços,
conforme o art. 1.055, § 2º, CC. Nada impede, porém, que o sócio contribua com
serviços adicionalmente.
c. Art. 997, V, CC. É facultativo. De fato, o administrador da sociedade limitada
pode ser nomeado em ato separado, não necessariamente no ato constitutivo,
conforme o art. 1.060, CC.
i. Nome empresarial. O nome da sociedade limitada pode ser tanto firma
social quanto denominação.
123

16. Regência pelas normas de sociedade simples. Conforme o art. 1.053, CC, “A
SOCIEDADE LIMITADA REGE-SE, NAS OMISSÕES DESTE CAPÍTULO, PELAS NORMAS DA
SOCIEDADE SIMPLES”. Trata-se de regra repetida por todo o Livro de Empresa em suas
disposições sobre direito societário
a. Possibilidade de afastamento da presunção. No entanto, conforme o art. 1.053,
parágrafo único, CC, “O CONTRATO SOCIAL PODERÁ PREVER A REGÊNCIA SUPLETIVA
DA SOCIEDADE LIMITADA PELAS NORMAS DA SOCIEDADE ANÔNIMA”. O contrato
social, portanto, pode afastar a presunção de regência pelas normas da
sociedade simples por cláusula expressa. Assim, será regida pelas normas da
sociedade anônima. Na sociedade em comandita por ações, essa regência
decorre de lei, não de disposição contratual.
i. Supletividade. A aplicação das normas da sociedade anônima, porém,
é supletiva, isto é, apenas naquilo em que há omissões do no capítulo da
sociedade limitada. Essa constatação é aplicada tanto nos casos de
regência subsidiária pelas normas da sociedade simples quanto no caso
de escolha de regência supletiva pelas normas da sociedade anônima.
ii. Remissões na Lei das Sociedade Anônimas. Em alguns artigos da Lei
das Sociedades Anônimas, existe remissão às normas da sociedade
simples. Nesses casos, ainda que haja opção pela aplicação supletiva da
lei especial, há aplicação obrigatória dessas normas das sociedades
simples.
17. Divisão do capital social. Conforme o art. 1.055, CC, “O CAPITAL SOCIAL DIVIDE-SE EM
QUOTAS, IGUAIS OU DESIGUAIS, CABENDO UMA OU DIVERSAS A CADA SÓCIO”. A sociedade
simples pode ser, então, empresária ou simples.
a. Vedação do sócio de serviços. Conforme o art. 1.055, § 2º, CC, “É VEDADA
CONTRIBUIÇÃO QUE CONSISTA EM PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS”. No entanto, o
parágrafo tem de ser interpretado à luz do caput. Não é a sociedade que não
pode conter prestação de serviços, mas apenas o capital social. O sócio, na
sociedade limitada, pode participar adicionalmente com prestação de serviços.
b. Distribuição das quotas. As quotas podem ser iguais ou desiguais. Além disso,
podem caber uma ou diversas a cada sócio. Na sociedade unipessoal,
diferentemente, todas as quotas cabem apenas a um sócio. Essa norma, então,
não tem aplicação na sociedade limitada unipessoal, possibilidade instituída
pela Medida Provisória.
c. Estimação de bens. Conforme o art. 1.055, § 1º, CC, “PELA EXATA ESTIMAÇÃO DE
BENS CONFERIDOS AO CAPITAL SOCIAL RESPONDEM SOLIDARIAMENTE TODOS OS
SÓCIOS, ATÉ O PRAZO DE CINCO ANOS DA DATA DO REGISTRO DA SOCIEDADE”. Os
124

sócios, no tipo de sociedade limitada, não são obrigados a indicar um valor


preciso da contribuição em bens, mas lançar uma estimativa. Sabidamente, nos
outros tipos societários, por aplicação das disposições gerais da sociedade
simples, todas as quotas têm de ser integralizados com bens suscetíveis de
avaliação pecuniária. No entanto, na sociedade limitada, os sócios não
precisam contratar um avaliador, podendo apenas estimar o valor dos bens.
i. Inexatidão da estimativa. No entanto, se essa estimativa for inexata, os
sócios respondem solidariamente e limitadamente pela diferença entre a
estimativa e o valor real. Essa é outra hipótese de solidariedade legal.
Naturalmente, se todos integralizarem a quota em dinheiro, crédito, ou
tiverem o laudo de avaliação, não há possibilidade de qualquer
responsabilização nesse sentido.

AULA 15

Aumento e Redução do Capital Social

1. Aumento do capital social. Conforme o art. 1.081, CC, “RESSALVADO O DISPOSTO EM LEI
ESPECIAL, INTEGRALIZADAS AS QUOTAS, PODE SER O CAPITAL AUMENTADO, COM A
CORRESPONDENTE MODIFICAÇÃO DO CONTRATO”. Sabidamente, uma das cláusulas do
contrato social de sociedade simples cabível no contra social de sociedade limitada é
o art. 997, III, CC, que prescreve a necessidade de indicação do capital social. Nas
sociedades empresárias em geral, o capital é fixo, diferentemente das sociedades
cooperativas, que possuem capital variável. Apesar disso, na sociedade limitada, o
capital pode ser alterado, mas não por vontade dos sócios, mas por disposição legal.
Não se pode esquecer, da mesma forma, que tanto o aumento quanto redução do
capital dependem de alteração do contrato social, em atenção ao princípio da
realidade do capital social. Por fim, conforme disposto pela norma, o capital tem de
estar integralizado para que incidam as causas legais de aumento do capital social.
a. Etapas de aumentos do capital social. O ato de aumento de capital social
depende de várias etapas, sendo elas, em ordem:
i. Assembleia de sócios. A alteração do capital inicia com deliberação em
assembleia de sócios, pois, conforme o art. 1.071, CC, toda matéria de
modificação do contrato social depende de deliberação dos sócios.
125

ii. Direito de preferência. Conforme o art. 1.081, § 1ª, CC, “ATÉ TRINTA DIAS
APÓS A DELIBERAÇÃO, TERÃO OS SÓCIOS PREFERÊNCIA PARA PARTICIPAR DO
AUMENTO, NA PROPORÇÃO DAS QUOTAS DE QUE SEJAM TITULARES”. Após a
deliberação, portanto, devem os sócios, caso optem, exercer seu direito
de preferência para a aquisição as quotas derivadas do aumento. Há,
aqui, duas preferências. A primeira é a preferência do sócio em relação
ao não sócio. A segunda é a preferência do sócio majoritário em relação
ao minoritário.
1. Cessão do direito de preferência. Caso algum sócio não tenha
condição de substituir as quotas, ele pode ceder o seu direito de
preferência, mas é preciso observar as regras de cessão de quotas.
Conforme o art. 1.081, § 2º, CC, “À CESSÃO DO DIREITO DE
PREFERÊNCIA, APLICA-SE O DISPOSTO NO CAPUT DO ART. 1.057”.
iii. Reunião e assembleia dos sócios para aprovação da modificação do
contrato. Conforme o art. 1.081, § 3º, CC, “DECORRIDO O PRAZO DA
PREFERÊNCIA, E ASSUMIDA PELOS SÓCIOS, OU POR TERCEIROS, A TOTALIDADE
DO AUMENTO, HAVERÁ REUNIÃO OU ASSEMBLEIA DOS SÓCIOS, PARA QUE SEJA
APROVADA A MODIFICAÇÃO DO CONTRATO”.
iv. Averbação no registro próprio. Com a aprovação da alteração do
contrato, a ata da assembleia, conforme o art. 1.075, § 1º, CC, e a alteração
devem ser averbadas no registro competente.
2. Redução do capital social. O art. 1.082, CC, preceitua as causas legais de redução do
capital social. Além das duas causas descritas nessa norma, devem ser observadas
também as causas legais de redução do capital social dispersas na legislação, como os
arts. 1.031 e art. 1.004, parágrafo único, CC, hipóteses em que a redução decorre da
resolução da sociedade em relação a um sócio e redução da quota por exclusão do
sócio remisso ou perdão de capital social não integralizado. São hipóteses legais de
redução do capital social dispostas à norma:
a. Perdas irreparáveis. Conforme o art. 1.082, I, CC, haverá redução da quota,
mediante alteração do contrato, “DEPOIS DE INTEGRALIZADO, SE HOUVER PERDAS
IRREPARÁVEIS”. Esse caso ocorre quando a sociedade sofre um prejuízo. No
entanto, a incidência dessa causa exige a integralização da quota. Antes de
redução do capital social, devem os sócios tentar pagar as dívidas por outros
meios, como venda de bens, cessão de créditos ou pagamento em dinheiro.
i. Etapas para redução do capital social. Conforme o art. 1.083, CC, “NO
CASO DO INCISO I DO ARTIGO ANTECEDENTE, A REDUÇÃO DO CAPITAL SERÁ
REALIZADA COM A DIMINUIÇÃO PROPORCIONAL DO VALOR NOMINAL DAS
126

QUOTAS, TORNANDO-SE EFETIVA A PARTIR DA AVERBAÇÃO, NO REGISTRO


PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS, DA ATA DA ASSEMBLEIA QUE A TENHA
APROVADO”. São as etapas, portanto, em ordem:
1. Assembleia de sócios. Da mesma forma que o aumento do
capital social, a redução do capital social exige aprovação em
assembleia dos sócios.
2. Aplicação proporcional de redução sobre as quotas. Com a
redução do capital social, naturalmente, as quotas atuais têm seus
valores reduzidos. Essa redução é proporcional ao valor das
quotas mesmas, de forma que não pode um sócio apenas arcar
com toda a redução.
3. Reunião e assembleia dos sócios para aprovação da modificação
do contrato. Nessa assembleia, os sócios deliberam sobre a
aprovação da aplicação proporcional da redução feita.
4. Averbação no registro próprio. Após a aceitação, deve a ata da
assembleia ser arquivada junto ao registro competente com sua
respectiva alteração do contrato social. Há impropriedade da
norma, pois o Registro não é, necessariamente, no Registro
Empresarial.
b. Capital excessivo em relação à sociedade. Essa causa de redução legal é
decisão discricionária dos sócios, diferentemente do que ocorre no art. 1.082, I,
CC. Conforme o art. 1.082, II, CC, ocorrerá redução do capital social “SE
EXCESSIVO EM RELAÇÃO AO OBJETO DA SOCIEDADE”. A razão dessa redução é a
compreensão por parte dos sócios de que o valor do capital social é
desnecessário, excessivo. Essa redução não requer justificativa, nem mesmo possui
um limite na sua realização. No entanto, pode ser que uma redução drástica
prejudique os credores, de forma que precisar ser notificados da redução do
capital. Conforme o art. 1.084, CC, “NO CASO DO INCISO II DO ART. 1.082, A
REDUÇÃO DO CAPITAL SERÁ FEITA RESTITUINDO-SE PARTE DO VALOR DAS QUOTAS
AOS SÓCIOS, OU DISPENSANDO-SE AS PRESTAÇÕES AINDA DEVIDAS, COM DIMINUIÇÃO
PROPORCIONAL, EM AMBOS OS CASOS, DO VALOR NOMINAL DAS QUOTAS”. São
etapas do procedimento:
i. Assembleia dos sócios. Em todos os casos, é preciso aprovação da
redução do capital social em assembleia;
ii. Aplicação proporcional da redução. Conforme a norma, essa redução
pode ser feita pela restituição dos valores reduzidos aos sócios ou, em
127

havendo sócios remissos, com a dispensa das prestações ainda devidas


para integralização do capital social.
iii. Publicação da ata. Na redução do capital social, a ata que deliberou a
alteração do contrato social deve ser publicada.
iv. Manifestação dos credores. Conforme o art. 1.084, § 1º, CC, “NO PRAZO
DE NOVENTA DIAS, CONTADO DA DATA DA PUBLICAÇÃO DA ATA DA
ASSEMBLEIA QUE APROVAR A REDUÇÃO, O CREDOR QUIROGRAFÁRIO, POR
TÍTULO LÍQUIDO ANTERIOR A ESSA DATA, PODERÁ OPOR-SE AO DELIBERADO”.
Diante dessa manifestação, a redução do capital social pode seguir dois
caminhos:
1. Oposição dos credores. Nesse caso, a redução não se torna eficaz.
Conforme o art. 1.082, § 2º, CC, “A REDUÇÃO SOMENTE SE TORNARÁ
EFICAZ SE, NO PRAZO ESTABELECIDO NO PARÁGRAFO ANTECEDENTE,
NÃO FOR IMPUGNADA, OU SE PROVADO O PAGAMENTO DA DÍVIDA OU
O DEPÓSITO JUDICIAL DO RESPECTIVO VALOR”.
2. Averbação no registro competente. Se não houver oposição dos
credores, há, por fim, a necessidade de averbação da ata e da
alteração do contrato social no registro competente. Conforme o
art. 1.082, § 3º, CC, “SATISFEITAS AS CONDIÇÕES ESTABELECIDAS NO
PARÁGRAFO ANTECEDENTE, PROCEDER-SE-Á À AVERBAÇÃO, NO
REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS, DA ATA QUE TENHA
APROVADO A REDUÇÃO”.

Quotas

3. Princípio da indivisibilidade da quota em relação à sociedade. Conforme o art. 1.056,


CC, “A QUOTA É INDIVISÍVEL EM RELAÇÃO À SOCIEDADE, SALVO PARA EFEITO DE
TRANSFERÊNCIA, CASO EM QUE SE OBSERVARÁ O DISPOSTO NO ARTIGO SEGUINTE”. Esse
princípio se aplica tanto às sociedades limitadas quanto às anônimas. Sabidamente, a
quota é um bem móvel, incorpóreo, e que pode, portanto, ser transmitido. Além disso,
as quotas trazem certos direitos aos seus proprietários, ligados à condição do sócio na
sociedade. Esses direitos são variados, podendo ser patrimoniais, como o direito à
cessão das quotas, ou extrapatrimoniais, como o direito a voto. Esse princípio
estabelece, nessa linha, que, se a quota for objeto de copropriedade, os direitos de
sócio não podem ser exercidos por cada condômino separadamente. Um exemplo seria
a atuação necessariamente conjunta no exercício direito de voto. Não pode haver,
128

então, divisão dos votos proporcionados pela quota. Os direitos patrimoniais e


políticos, portanto, não podem ser exercidos de maneira não unitária. Seu
fracionamento não permite que se atue separadamente.
a. Condômino representante e inventariante do espólio. Conforme o art. 1.056,
§ 1º, CC, “NO CASO DE CONDOMÍNIO DE QUOTA, OS DIREITOS A ELA INERENTES
SOMENTE PODEM SER EXERCIDOS PELO CONDÔMINO REPRESENTANTE, OU PELO
INVENTARIANTE DO ESPÓLIO DE SÓCIO FALECIDO”. No caso de condomínio de
quota, há, então, um representante responsável pelo exercício dos direitos a ela
associados. No caso do falecimento, o inventariante será o responsável pelo
exercício dos direitos.
b. Integralização de quota em condomínio. Conforme o art. 1.056, § 2º, CC, “SEM
PREJUÍZO DO DISPOSTO NO ART. 1.052, OS CONDÔMINOS DE QUOTA INDIVISA
RESPONDEM SOLIDARIAMENTE PELAS PRESTAÇÕES NECESSÁRIAS À SUA
INTEGRALIZAÇÃO”.
c. Exceção quanto à indivisibilidade. No caso de transferência das quotas, a
fração da quota pode ser cedida sem a necessidade de consentimento do
coproprietário, inclusive na sociedade simples, conforme o art. 1.056.
4. Cessão de quotas. Conforme o art. 1.057, CC, “NA OMISSÃO DO CONTRATO, O SÓCIO PODE
CEDER SUA QUOTA, TOTAL OU PARCIALMENTE, A QUEM SEJA SÓCIO, INDEPENDENTEMENTE DE
AUDIÊNCIA DOS OUTROS, OU A ESTRANHO, SE NÃO HOUVER OPOSIÇÃO DE TITULARES DE MAIS
DE UM QUARTO DO CAPITAL SOCIAL”. Necessário pontuar, em primeiro lugar, que se
trata de norma dispositiva, de forma que só será aplicada na omissão do contrato
social, que pode dispor diversamente sobre os procedimentos de cessão de quota. Essa
norma só será aplicada na omissão do contrato. O Código traz duas regras para a
cessão de quotas:
a. Cessão interna. É a cessão de quotas para quem é sócio. Nessa modalidade, não
se requer audiência, isto é, consentimento dos sócios em favor da cessão.
b. Cessão a estranho. Na cessão a não sócio, requer-se consentimento de ¾ do
capital social, incluindo as quotas do cedente. Esse quórum é estabelecido de
forma a possibilitar uma futura transmissão de quotas por parte do adquirente.
i. Eficácia da transferência. Conforme o art. 1.057, parágrafo único, CC, “A
CESSÃO TERÁ EFICÁCIA QUANTO À SOCIEDADE E TERCEIROS, INCLUSIVE PARA
OS FINS DO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.003, A PARTIR DA AVERBAÇÃO DO
RESPECTIVO INSTRUMENTO, SUBSCRITO PELOS SÓCIOS ANUENTES”.
Primeiramente, deve-se pontuar que o cedente continua obrigado no
prazo de dois anos, a contar da averbação da transferência das quotas,
não da cessão, nos termos do art. 1.003, parágrafo único, CC. Se a cessão,
129

requer publicação para que seja eficaz contra a sociedade e contra


terceiros, depreende-se que deve ser feito por escrito, nunca
verbalmente.
5. Quota de sócio remisso. Conforme o art. 1.058, CC, “NÃO INTEGRALIZADA A QUOTA DE
SÓCIO REMISSO, OS OUTROS SÓCIOS PODEM, SEM PREJUÍZO DO DISPOSTO NO ART. 1.004 E SEU
PARÁGRAFO ÚNICO, TOMÁ-LA PARA SI OU TRANSFERI-LA A TERCEIROS, EXCLUINDO O
PRIMITIVO TITULAR E DEVOLVENDO-LHE O QUE HOUVER PAGO, DEDUZIDOS OS JUROS DA
MORA, AS PRESTAÇÕES ESTABELECIDAS NO CONTRATO MAIS AS DESPESAS”. Essa é uma das
normas em que há remissão a artigos de sociedade simples. Portanto, mesmo que a
sociedade limitada seja de regência supletiva pela Lei das Sociedades Anônimas, sua aplicação
é obrigatória. No caso de sócio remisso, caso a integralização da quota seja a prazo,
aplica-se o art. 1.004, CC. Por outro lado, se a integralização for à vista, aplica-se o art.
1.058, CC.
a. Possibilidades de ação dos sócios quanto ao sócio remisso. Quando o sócio
não integraliza a sua quota, há três possibilidades. Primeiramente, pode o sócio
remisso ser acionado judicialmente e responder pelo dano da mora. Ademais,
pode o sócio remisso ser perdoado, reduzindo-se a sua quota ao montante
perdoado. Por fim, podem os demais sócios excluir o sócio remisso. O art. 1.058,
CC, trata, precisamente, da hipótese de exclusão do sócio remisso, uma vez
que é necessário fazer algo quanto às quotas não integralizadas.
b. Cotas em tesouraria. O art. 8º, Decreto 3.708/19, previa que uma das soluções
da exclusão de sócio remisso poderia ser a aquisição de suas quotas pela
própria sociedade, desde que não fossem integralizadas com valores do
próprio capital social. No entanto, a partir da revogação do Decreto, em razão
do advento do Código Civil de 2002, houve omissão do legislador, de forma
que se formaram duas correntes:
i. Corrente minoritária. Essa parcela da doutrina entende que o silêncio é
uma proibição implícita, de forma que a sociedade só pode oferecer as
quotas do sócio remisso a terceiros ou a outro sócio.
ii. Corrente majoritária. Essa parcela da doutrina entende que o contrato
social, apesar da omissão do Código Civil, poderia autorizar a sociedade
a adquirir suas próprias quotas. É o posicionamento adotado pelo DREI.
No entanto, existiriam duas hipóteses mais controversas derivadas dos
casos em que o contrato é omisso, reguladas da seguinte maneira:
1. Regência supletiva pela Lei das Sociedades Anônimas. Se a
sociedade limitada dispôs em seu corpo que deve haver regência
supletiva pelas normas da Sociedade Anônima, não da sociedade
130

simples, apesar da omissão quanto à aquisição de quotas pela


própria sociedade, entende-se que é possível a detenção de
quotas em tesouraria. Com efeito, entende a Lei das Sociedades
Anônimas, em seu art. 30, § 1º, que a sociedade pode comprar
suas próprias ações.
2. Regência supletiva pelas normas da sociedade simples. Se o
contrato for omisso tanto quanto à aquisição de quotas pela
própria sociedade quanto á regência supletiva pelas normas da
Sociedade Anônima, a orientação majoritária é de que não é
possível a sociedade adquirir cotas em tesouraria.
c. Direitos de quotas em tesouraria. As quotas em tesouraria não são
acompanhadas de qualquer direito.
6. Princípio da intangibilidade do capital social. Conforme o art. 1059, CC, “OS SÓCIOS
SERÃO OBRIGADOS À REPOSIÇÃO DOS LUCROS E DAS QUANTIAS RETIRADAS, A QUALQUER
TÍTULO, AINDA QUE AUTORIZADOS PELO CONTRATO, QUANDO TAIS LUCROS OU QUANTIA SE
DISTRIBUÍREM COM PREJUÍZO DO CAPITAL”. Portanto, não pode a quantia do capital
social ser usada para quaisquer pagamentos. Se essa vedação for desrespeitada, os
sócios têm de devolver a quantia à sociedade, mesmo que tenham agido de boa-fé.

Administração da Sociedade Limitada

7. Regência supletiva pela sociedade simples. Essa seção contém apenas seis artigos,
pois o tema se rege, presumidamente, pelas disposições da sociedade simples.
8. Designação de administradores na sociedade limitada. Conforme o art. 1.060, CC, “A
SOCIEDADE LIMITADA É ADMINISTRADA POR UMA OU MAIS PESSOAS DESIGNADAS NO
CONTRATO SOCIAL OU EM ATO SEPARADO”. Nota-se, portanto que a sociedade limitada
admite a designação de administrador não só no contrato social, mas em ato separado.
a. Administração e sócios constituídos em ato separado. Conforme o art. 1.060,
parágrafo único, CC, “A ADMINISTRAÇÃO ATRIBUÍDA NO CONTRATO A TODOS OS
SÓCIOS NÃO SE ESTENDE DE PLENO DIREITO AOS QUE POSTERIORMENTE ADQUIRAM
ESSA QUALIDADE”. Essa é uma regra especial da sociedade limitada,
constituindo relativização do art. 1.013, CC. Em regra, se nada é disposto no
contrato social, todo os sócios atuam de forma disjuntiva e com poderes gerais,
conforme as normas de sociedade simples, inclusive aqueles que ingressarem
posteriormente na sociedade. No entanto, na sociedade limitada, aqueles sócios
que ingressam posteriormente não se constituem administradores.
131

9. Designação de administradores não sócios. Conforme o art. 1.061, CC, “A


DESIGNAÇÃO DE ADMINISTRADORES NÃO SÓCIOS DEPENDERÁ DE APROVAÇÃO DA
UNANIMIDADE DOS SÓCIOS, ENQUANTO O CAPITAL NÃO ESTIVER INTEGRALIZADO, E DE 2/3
(DOIS TERÇOS), NO MÍNIMO, APÓS A INTEGRALIZAÇÃO”. Essa norma, novamente, é uma
peculiaridade da sociedade limitada, uma vez que as outras sociedades não admitem
administradores não sócios. São duas as regras usadas:
a. Capital não integralizado. Nesse caso, a admissão de administrador não sócio
depende da aprovação unânime dos sócios.
b. Capital integralizado. No entanto, se o capital estiver integralizado, requer-se
maioria qualificada de 2/3 dos sócios.
i. Alteração do tema em contrato social. O contrato pode aumentar o
quórum para admissão de administrador não sócio, mas nunca diminuir.
ii. Restrições à sociedade de capital não integralizado. Nota-se então que
a não integralização do capital social promove uma série de restrições.
São elas:
1. Vedação de aumento do capital;
2. Vedação de redução do capital social em virtude de perdas
irreparáveis;
3. Necessidade de unanimidade para constituição de
administrador não sócio;
4. Vedação de ingresso de sócio incapaz na sociedade.
10. Procedimento de investidura e publicidade do administrador designado em ato
separado. Conforme o art. 1.062, CC, “O ADMINISTRADOR DESIGNADO EM ATO SEPARADO
INVESTIR-SE-Á NO CARGO MEDIANTE TERMO DE POSSE NO LIVRO DE ATAS DA
ADMINISTRAÇÃO”. O administrador designado no contrato social, em contrapartida,
não precisa tomar posse, apenas se os sócios assim optarem.
a. Prazo da assinatura do termo de posse. Conforme o art. 1.062, § 1º, CC, “SE O
TERMO NÃO FOR ASSINADO NOS TRINTA DIAS SEGUINTES À DESIGNAÇÃO, ESTA SE
TORNARÁ SEM EFEITO”.
b. Exigências. Conforme o art. 1.062, § 2º, CC, “NOS DEZ DIAS SEGUINTES AO DA
INVESTIDURA, DEVE O ADMINISTRADOR REQUERER SEJA AVERBADA SUA NOMEAÇÃO
NO REGISTRO COMPETENTE, MENCIONANDO O SEU NOME, NACIONALIDADE, ESTADO
CIVIL, RESIDÊNCIA, COM EXIBIÇÃO DE DOCUMENTO DE IDENTIDADE, O ATO E A DATA
DA NOMEAÇÃO E O PRAZO DE GESTÃO”. O estado civil é requerido em razão da
vedação de o administrador ser pessoa jurídica. Quanto ao prazo de gestão, a
Lei não se manifesta sobre a necessidade de determinação ou não. Portanto,
admite-se gestão de prazo indeterminado. Além dessa hipótese, a gestão pode
132

ser de prazo determinado. No caso de o contrato ser regido supletivamente


pela Lei das Sociedades Anônimas, o prazo da gestão do administrador é de
três anos.
i. Prazo. Nota-se que, nessa norma, há indicação do prazo de 10 dias.
Lembre-se que o prazo padrão para o arquivamento de documentação é
de 30 dias na Junta Comercial, conforme o art. 30, Lei 8.934/94.
11. Uso da firma na sociedade limitada. Conforme o art. 1.064, CC, “USO DA FIRMA OU
DENOMINAÇÃO SOCIAL É PRIVATIVO DOS ADMINISTRADORES QUE TENHAM OS NECESSÁRIOS
PODERES”.
a. Número mínimo de administradores. Como há omissão da legislação,
entende-se que só pode haver um administrador na sociedade limitada. Porém,
se há regência supletiva pela Lei das Sociedades Anônimas, há de existir dois
administradores no mínimo.
12. Término do exercício social. Conforme o art. 1.065, CC, “AO TÉRMINO DE CADA
EXERCÍCIO SOCIAL, PROCEDER-SE-Á À ELABORAÇÃO DO INVENTÁRIO, DO BALANÇO
PATRIMONIAL E DO BALANÇO DE RESULTADO ECONÔMICO”. Esse artigo possui uma
imprecisão, posto que quem elabora a escrituração dos livros e dos balanços é o
contador, não o administrador.
13. Cessação da administração. Conforme o art. 1.063, CC, “O EXERCÍCIO DO CARGO DE
ADMINISTRADOR CESSA PELA DESTITUIÇÃO, EM QUALQUER TEMPO, DO TITULAR, OU PELO
TÉRMINO DO PRAZO SE, FIXADO NO CONTRATO OU EM ATO SEPARADO, NÃO HOUVER
RECONDUÇÃO”. Essa norma se aplica tanto no caso de o administrador que é nomeado
em contrato ou ato separado. Existem, portanto, três maneiras de cessar a
administração:
a. Destituição. Conforme o art. 1.063, § 1º, CC, “TRATANDO-SE DE SÓCIO NOMEADO
ADMINISTRADOR NO CONTRATO, SUA DESTITUIÇÃO SOMENTE SE OPERA PELA
APROVAÇÃO DE TITULARES DE QUOTAS CORRESPONDENTES A MAIS DA METADE DO
CAPITAL SOCIAL, SALVO DISPOSIÇÃO CONTRATUAL DIVERSA”. Anteriormente, esse
quórum era de 2/3.
b. Término do prazo.
i. Averbação no registro competente. Nos dois casos, conforme o art.
1.063, § 2º, CC, “A CESSAÇÃO DO EXERCÍCIO DO CARGO DE ADMINISTRADOR
DEVE SER AVERBADA NO REGISTRO COMPETENTE, MEDIANTE REQUERIMENTO
APRESENTADO NOS DEZ DIAS SEGUINTES AO DA OCORRÊNCIA”
c. Renúncia. É a declaração não receptícia de vontade. Conforme o art. 1.063, § 3º,
CC, “A RENÚNCIA DE ADMINISTRADOR TORNA-SE EFICAZ, EM RELAÇÃO À
SOCIEDADE, DESDE O MOMENTO EM QUE ESTA TOMA CONHECIMENTO DA
133

COMUNICAÇÃO ESCRITA DO RENUNCIANTE; E, EM RELAÇÃO A TERCEIROS, APÓS A


AVERBAÇÃO E PUBLICAÇÃO”. Portanto, a renúncia produz seus efeitos em
momentos distintos de acordo com o referencial. Quanto à sociedade, logo após
a comunicação escrita. Quanto a terceiros, após averbação e publicação.
i. Prazo. Como não se fixou específico, o prazo de averbação na Junta
Comercial é de 30 dias, conforme o art. 30, Lei 8.934/94.

AULA 16

Conselho Fiscal

1. Facultatividade. O Conselho Fiscal não existia antes da tipificação no Código Civil da


sociedade limitada. No primeiro diploma que instituiu as sociedades limitadas, havia
omissão. Nessa linha, aquelas sociedades limitadas que se utilizavam desse órgão se
amparavam na Lei das Sociedades Anônimas e assim procediam por meio de
disposição no contrato social. O Código Civil, posteriormente, regulou o Conselho
Fiscal da sociedade limitada, podendo ser instituído, facultativamente, no contrato
social.
2. Composição do Conselho Fiscal. Conforme o art. 1.066, CC, “SEM PREJUÍZO DOS
PODERES DA ASSEMBLEIA DOS SÓCIOS, PODE O CONTRATO INSTITUIR CONSELHO FISCAL
COMPOSTO DE TRÊS OU MAIS MEMBROS E RESPECTIVOS SUPLENTES, SÓCIOS OU NÃO,
RESIDENTES NO PAÍS, ELEITOS NA ASSEMBLEIA ANUAL PREVISTA NO ART. 1.078”. Há de se
destacar, nessa linha, que o Conselho Fiscal pode ser composto por sócios ou não
sócios. Independentemente da qualificação daquele que pretende ingressar no Conselho
Fiscal, o quórum de eleição é de maioria simples. Em contrapartida, quanto à eleição
de administrador, existe quórum mais elevado para o não sócio.
a. Assembleia de sócios. Esse órgão da sociedade limitada tem competência
privativa para tratar as matérias elencadas no art. 1071, CC. Instituído o Conselho
Fiscal, ele não pode absorver ou interferir as atribuições da assembleia de sócios.
b. Influência da Lei das Sociedades Anônimas. As disposições do Conselho
Fiscal, no Código Civil, têm forte influência na Lei das Sociedades Anônimas.
i. Distinção. Nas sociedades anônimas, há presença obrigatória da cláusula
de conselho fiscal, podendo-se indicar que funciona permanentemente
ou não. Há, portanto, obrigatoriedade de previsão e facultatividade do
134

funcionamento. Na sociedade limitada, diferentemente, não é preciso


nem previsão do conselho fiscal.
c. Impedidos de figurar no Conselho Fiscal. São eles, conforme o art. 1.066, § 1º,
CC:
i. Vedação à administração. Aqueles que não podem ser administradores,
também não podem ser conselheiros. Naturalmente, não podem pessoas
que não naturais assumir cargo no Conselho Fiscal. São cabíveis,
portanto, todas as vedações do art. 1.011, § 1º, CC.
ii. Crimes. Os crimes que impedem a assunção da administração também
impedem a assunção de cargo no Conselho Fiscal. Conforme o art. 1.011,
§ 1º, CC, “NÃO PODEM SER ADMINISTRADORES, ALÉM DAS PESSOAS
IMPEDIDAS POR LEI ESPECIAL, OS CONDENADOS À PENA QUE VEDE, AINDA QUE
TEMPORARIAMENTE, O ACESSO A CARGOS PÚBLICOS; OU POR CRIME
FALIMENTAR, DE PREVARICAÇÃO, PEITA OU SUBORNO, CONCUSSÃO,
PECULATO; OU CONTRA A ECONOMIA POPULAR, CONTRA O SISTEMA
FINANCEIRO NACIONAL, CONTRA AS NORMAS DE DEFESA DA CONCORRÊNCIA,
CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO, A FÉ PÚBLICA OU A PROPRIEDADE,
ENQUANTO PERDURAREM OS EFEITOS DA CONDENAÇÃO”.
iii. Membros dos demais órgãos da sociedade ou de outra por ela
controlada. Naturalmente, há imprecisão na norma, pois todos os sócios
fazem parte da assembleia dos sócios. Portanto, não pode ser feita
interpretação literal do dispositivo, de forma que deveria haver uma
adição, na redação, de “salvo assembleia”.
iv. Empregados da sociedade ou de outra por ela controlada.
v. Empregados dos administradores da sociedade ou de outra por ela
controlada.
vi. Cônjuges ou parentes de administradores até o terceiro grau. Os
parentes e cônjuges não podem assumir esse cargo pela relação de
proximidade que mantêm com o administrador, além da possível
problemática surgida com a subordinação.
d. Direito dos sócios minoritários. Conforme o art. 1.066, § 2º, CC, “É ASSEGURADO
AOS SÓCIOS MINORITÁRIOS, QUE REPRESENTAREM PELO MENOS UM QUINTO DO
CAPITAL SOCIAL, O DIREITO DE ELEGER, SEPARADAMENTE, UM DOS MEMBROS DO
CONSELHO FISCAL E O RESPECTIVO SUPLENTE”. Há, portanto, participação garantida
de representantes dos sócios minoritários a partir de vinte por cento. O contrato
social pode baixar esse percentual, bem como elevar o número de conselheiros
a serem escolhidos pelos sócios minoritário.
135

e. Contabilidade. A Lei não exige graduação em contabilidade para o cargo de


conselheiro fiscal, mas o contrato social pode exigir. Nas sociedades anônimas,
diferentemente, há exigência de grau universitário. Conforme o art. 1.070,
parágrafo único, CC, "O CONSELHO FISCAL PODERÁ ESCOLHER PARA ASSISTI-LO NO
EXAME DOS LIVROS, DOS BALANÇOS E DAS CONTAS, CONTABILISTA LEGALMENTE
HABILITADO, MEDIANTE REMUNERAÇÃO APROVADA PELA ASSEMBLEIA DOS SÓCIOS”.
3. Procedimento de posse. Conforme o art. 1.067, CC, “O MEMBRO OU SUPLENTE ELEITO,
ASSINANDO TERMO DE POSSE LAVRADO NO LIVRO DE ATAS E PARECERES DO CONSELHO
FISCAL, EM QUE SE MENCIONE O SEU NOME, NACIONALIDADE, ESTADO CIVIL, RESIDÊNCIA E A
DATA DA ESCOLHA, FICARÁ INVESTIDO NAS SUAS FUNÇÕES, QUE EXERCERÁ, SALVO
CESSAÇÃO ANTERIOR, ATÉ A SUBSEQUENTE ASSEMBLEIA ANUAL”. Trata-se do mesmo
procedimento disposto ao art. 1.062, CC. No entanto, há uma peculiaridade. Para a
assunção de cargo na administração, é facultativa a fixação de prazo de gestão. Em
contrapartida, no conselho fiscal, o mandato tem duração anual, até a assembleia do
ano seguinte.
4. Remuneração. Conforme o art. 1.068, CC, “A REMUNERAÇÃO DOS MEMBROS DO
CONSELHO FISCAL SERÁ FIXADA, ANUALMENTE, PELA ASSEMBLEIA DOS SÓCIOS QUE OS
ELEGER”. No art. 1.071, CC, há previsão da fixação da remuneração da administração.
Além disso, na Lei das Sociedades Anônimas, existem parâmetros e critérios para a
fixação da remuneração. No Código Civil, diferentemente, não existem esses
parâmetros, de modo que o contrato social pode escolher a remuneração ou critérios
para sua fixação.
5. Competência do Conselho Fiscal. O art. 1.069, CC, dispõe as competências do
Conselho Fiscal. Ele atua, basicamente, em duas frentes:
a. Controle contábil. Estão no art. 1.070, parágrafo único, CC, os documentos de
contabilidade que serão analisados, possibilitando, ainda, o auxílio de
contabilista. São elaborados pareceres sobre esses documentos. Nessa frente, há
uma análise técnica da contabilidade. São analisados os documentos do art.
1.065, CC. “AO TÉRMINO DE CADA EXERCÍCIO SOCIAL, PROCEDER-SE-Á À
ELABORAÇÃO DO INVENTÁRIO, DO BALANÇO PATRIMONIAL E DO BALANÇO DE
RESULTADO ECONÔMICO”.
b. Controle de gestão. Nessa frente, há análise das contas e documentos da
administração. É uma fiscalização dos atos de gestão.
i. Poder de decisão. A despeito de sua competência para esse controle
contábil e de gestão, quem decide pela aprovação dos seus trabalhos é a
assembleia dos sócios, que pode aprovar, reprovar, ou aprovar com
ressalvas. O Conselho Fiscal, portanto, apenas opina, é um órgão técnico.
136

ii. Ampliação das competências do Conselho Fiscal. O contrato pode


ampliar as frentes de atuação do Conselho Fiscal.
c. Incumbências do Conselho Fiscal. São elas:
Art. 1.069. Além de outras atribuições determinadas na lei ou no contrato social, aos membros do conselho
fiscal incumbem, individual ou conjuntamente, os deveres seguintes:

i. Individual ou coletivamente. A atuação individual permite que os


conselheiros eleitos tenham atuação independente. Se a atuação fosse
sempre coletiva, poderia acontecer de algum conselheiro ser apenas “de
fachada”. Os conselheiros eleitos pelos minoritários passam a ter uma
atuação independente com essa norma.
I - examinar, pelo menos trimestralmente, os livros e papéis da sociedade e o estado da caixa e da carteira,
devendo os administradores ou liquidantes prestar-lhes as informações solicitadas;

II - lavrar no livro de atas e pareceres do conselho fiscal o resultado dos exames referidos no inciso I deste artigo;

ii. Aprovação. Os resultados, porém, serão lidos e votados na assembleia


anual.
III - exarar no mesmo livro e apresentar à assembleia anual dos sócios parecer sobre os negócios e as operações
sociais do exercício em que servirem, tomando por base o balanço patrimonial e o de resultado econômico;

IV - denunciar os erros, fraudes ou crimes que descobrirem, sugerindo providências úteis à sociedade;

iii. Atribuição. No entanto, a competência da destituição de sócio por


prática de crime é da assembleia geral dos sócios.
V - convocar a assembleia dos sócios se a diretoria retardar por mais de trinta dias a sua convocação anual, ou
sempre que ocorram motivos graves e urgentes;

iv. Impropriedade na redação. O termo, na realidade, não é “diretoria”,


mas administração. O termo diretoria é próprias das sociedades em
comandita por ações e das sociedades anônimas.
VI - praticar, durante o período da liquidação da sociedade, os atos a que se refere este artigo, tendo em vista
as disposições especiais reguladoras da liquidação.

6. Natureza das atribuições do Conselho Fiscal. Conforme o art. 1.070, CC, “AS
ATRIBUIÇÕES E PODERES CONFERIDOS PELA LEI AO CONSELHO FISCAL NÃO PODEM SER
OUTORGADOS A OUTRO ÓRGÃO DA SOCIEDADE, E A RESPONSABILIDADE DE SEUS MEMBROS
OBEDECE À REGRA QUE DEFINE A DOS ADMINISTRADORES (ART. 1.016)”. Suas atribuições
são, portanto, privativas. Não podem ser delegadas a outro órgão. As mesmas
disposições são aplicáveis às assembleias.
7. Ausência de Conselho Fiscal. Se a sociedade limitada não tiver conselho fiscal, não
significa que seus controles e atribuições não serão exercidos. Contrata-se, nessa linha,
terceiros que prestam serviços de auditoria independentes.
137

Deliberações na Sociedade Limitada

8. Microempresas e empresas de pequeno porte. Conforme o art. 70, LC 123/06, “AS


MICROEMPRESAS E AS EMPRESAS DE PEQUENO PORTE SÃO DESOBRIGADAS DA REALIZAÇÃO DE
REUNIÕES E ASSEMBLEIAS EM QUALQUER DAS SITUAÇÕES PREVISTAS NA LEGISLAÇÃO CIVIL,
AS QUAIS SERÃO SUBSTITUÍDAS POR DELIBERAÇÃO REPRESENTATIVA DO PRIMEIRO NÚMERO
INTEIRO SUPERIOR À METADE DO CAPITAL SOCIAL”. Há, portanto, regra especial aplicável
a essas categorias especiais de empresa, independentemente de a sociedade limitada
ser do tipo simples ou do tipo limitada. Nessas categorias, há dispensa de se decidir
as matérias de competência privativa da assembleia em, de fato, reunião ou
assembleia. Essas matérias, na verdade, podem ser decidas pelo sócio majoritário,
sem convocação de assembleia. Importante destacar que não há dispensa da ata, mas
apenas da convocação. Seu aspecto negativo é que o sócio minoritário tem seu direito
ao voto desconstituído.
a. Norma dispositiva. Apesar disso, o contrato social pode dispor em contrário,
que, na realidade, se faça reunião ou assembleia. A presunção, nessa linha, é de
que não necessidade. Conforme o art. 70, § 1o, LC 123/06, “O DISPOSTO
NO CAPUT DESTE ARTIGO NÃO SE APLICA CASO HAJA DISPOSIÇÃO CONTRATUAL EM
CONTRÁRIO, CASO OCORRA HIPÓTESE DE JUSTA CAUSA QUE ENSEJE A EXCLUSÃO DE
SÓCIO OU CASO UM OU MAIS SÓCIOS PONHAM EM RISCO A CONTINUIDADE DA
EMPRESA EM VIRTUDE DE ATOS DE INEGÁVEL GRAVIDADE”.
b. Capital social mínimo. Conforme o final do caput, a requisição para essa
dispensa da convocação é a deliberação representativa do primeiro número
inteiro superior à metade do capital social. Portanto, não se trata de “mais da
metade do capital social”, mas exatos cinquenta e um por cento, detidos por pessoa ou
grupo de pessoas. Caso ninguém detenha cinquenta e um por cento do capital
social, existem duas hipóteses:
i. Acordo entre os sócios. Se não há cinquenta e um por cento das quotas
atribuídas a um sócio, pode persistir a aplicação da regra por meio de
acordo entre os sócios até a formação da porcentagem necessária.
ii. Impossibilidade de aplicação da regra. Se nenhum dos sócios detém
cinquenta e um por cento e não há acordo, resta impossibilitada a
aplicação da regra, tendo de ocorrer a deliberação dos sócios.
c. Exceções à presunção. São elas, portanto:
i. Disposição contrária em contrato social.
138

ii. Exclusão extrajudicial por justa causa de sócio minoritário. Nessa


hipótese, a lei admite que seja obrigatória a realização de assembleia.
iii. Ato de inegável gravidade, cometido por um ou mais sócios, que ponha
em risco a continuidade da empresa.
9. Matérias decididas em deliberação dos sócios. O art. 1.071, CC, trata das matérias
que têm de ser deliberadas em assembleia pelos sócios. O art. 1.076, CC, por sua vez,
dispõe sobre os respectivos quóruns de deliberação da matérias elencadas.
Art. 1.071. Dependem da deliberação dos sócios, além de outras matérias indicadas na lei ou no contrato:

I - a aprovação das contas da administração;

a. Quórum. Maioria simples. Importante destacar que, nesse caso, a maioria


simples é de votos, não importando o capital social. Esse procedimento não
ocorre nos demais casos.
II - a designação dos administradores, quando feita em ato separado;

b. Quórum. Votos correspondentes à maioria absoluta do capital social. Essa


hipótese se dá para os casos de administradores denominados em ato separado.
Na hipótese de administrador denominado no contrato social, o quórum é de
maioria qualificada, com votos correspondentes, no mínimo, a 3/4 do capital
social.
III - a destituição dos administradores;

c. Quórum. Votos correspondentes à maioria absoluta do capital social,


independentemente de se tratar de administrador denominado em ato
separado ou no contrato social.
IV - o modo de sua remuneração, quando não estabelecido no contrato;

d. Quórum. Votos correspondentes à maioria absoluta do capital social, em se


tratando de administrador denominado em ato separado. Caso tenha sido
constituído no contrato social, são necessários votos de maioria qualificada,
corresponde à 3/4 do capital social.
V - a modificação do contrato social;

e. Quórum. Votos correspondentes à maioria qualificada do capital social,


correspondente a 3/4 do capital social.
VI - a incorporação, a fusão e a dissolução da sociedade, ou a cessação do estado de liquidação;

f. Quórum. Votos correspondentes à maioria qualificada do capital social,


correspondente a 3/4 do capital social.
VII - a nomeação e destituição dos liquidantes e o julgamento das suas contas;
139

g. Quórum. Maioria simples. Importante destacar que a maioria simples é de


votos, não importando, nesse caso, o capital social. Esse procedimento não
ocorre nos demais casos.
VIII - o pedido de concordata.

h. Pedido de concordata. O instituto da concordata não mais existe, tendo sido


substituído pela recuperação judicial, utilizado para evitar a falência. O pedido
de concordata é feito em juízo, mas deliberado em assembleia.
i. Quórum. Votos correspondentes à maioria absoluta do capital social.
10. Regime de deliberação. Conforme o art. 1.072, CC, “AS DELIBERAÇÕES DOS SÓCIOS,
OBEDECIDO O DISPOSTO NO ART. 1.010, SERÃO TOMADAS EM REUNIÃO OU EM ASSEMBLEIA,
CONFORME PREVISTO NO CONTRATO SOCIAL, DEVENDO SER CONVOCADAS PELOS
ADMINISTRADORES NOS CASOS PREVISTOS EM LEI OU NO CONTRATO”. Conforme o art.
1.010, CC, “QUANDO, POR LEI OU PELO CONTRATO SOCIAL, COMPETIR AOS SÓCIOS DECIDIR
SOBRE OS NEGÓCIOS DA SOCIEDADE, AS DELIBERAÇÕES SERÃO TOMADAS POR MAIORIA DE
VOTOS, CONTADOS SEGUNDO O VALOR DAS QUOTAS DE CADA UM”. Portanto, a regra é de
que todos os sócios votam com pelo menos um voto.
a. Quotas preferenciais. “AS QUOTAS PREFERENCIAIS SÃO AQUELAS QUE CONFEREM
AOS SEUS TITULARES VANTAGENS PATRIMONIAIS OU BENEFÍCIOS ESPECIAIS NÃO
ATRIBUÍDOS ÀS DEMAIS QUOTAS, ACOMPANHADAS, NA MAIORIA DAS VEZES, COM A
CONTRAPARTIDA DE NÃO CONCEDER DIREITO DE VOTO OU RESTRINGIR O SEU
EXERCÍCIO EM DETERMINADOS CASOS”. As quotas preferenciais, na sociedade
limitada, não podem eliminar o voto, a não ser que o sócio assim queira. O sócio
pode renunciar expressamente. Portanto, a quota preferencial, por si só, não
elimina o direito ao voto, apenas se o sócio assim dispor.
b. Competência de convocação e competência subsidiária de convocação. A
competência originária de convocação de assembleia é dos administradores,
mas há previsão subsidiária de que podem convocar a assembleia outras
pessoas. Não é uma alternativa, mas possibilidade subsidiária:
Art. 1.073. A reunião ou a assembleia podem também ser convocadas:

I - por sócio, quando os administradores retardarem a convocação, por mais de sessenta dias, nos casos previstos
em lei ou no contrato, ou por titulares de mais de um quinto do capital, quando não atendido, no prazo de
oito dias, pedido de convocação fundamentado, com indicação das matérias a serem tratadas;

II - pelo conselho fiscal, se houver, nos casos a que se refere o inciso V do art. 1.069.

c. Reunião. A reunião é modalidade mais prática de convocação. Elas só podem


ocorrer se a sociedade limitada tiver de dois a dez sócios. Evidentemente, não
140

há reunião na sociedade limitada unipessoal. A partir de onze sócios, a


deliberação é feita, obrigatoriamente, em assembleia.
i. Disposição no contrato social. Conforme o art. 1.072, § 6o, CC, “APLICA-
SE ÀS REUNIÕES DOS SÓCIOS, NOS CASOS OMISSOS NO CONTRATO, O DISPOSTO
NA PRESENTE SEÇÃO SOBRE A ASSEMBLEIA”. Nessa linha, o contrato social
precisa prever que serão feitas em reunião a deliberação em sociedades
limitadas de dois a dez sócios. A presunção, portanto, é de que haverá
assembleia.
d. Formalidades da convocação e casos de dispensa. Conforme o art. 1.072, § 2o,
CC, “DISPENSAM-SE AS FORMALIDADES DE CONVOCAÇÃO PREVISTAS NO § 3O DO ART.
1.152, QUANDO TODOS OS SÓCIOS COMPARECEREM OU SE DECLARAREM, POR ESCRITO,
CIENTES DO LOCAL, DATA, HORA E ORDEM DO DIA.
i. Requisitos e formalidades de convocação de assembleia. Conforme o
art. 1.152, § 3º, CC, “ANÚNCIO DE CONVOCAÇÃO DA ASSEMBLEIA DE SÓCIOS
SERÁ PUBLICADO POR TRÊS VEZES, AO MENOS, DEVENDO MEDIAR, ENTRE A
DATA DA PRIMEIRA INSERÇÃO E A DA REALIZAÇÃO DA ASSEMBLEIA, O PRAZO
MÍNIMO DE OITO DIAS, PARA A PRIMEIRA CONVOCAÇÃO, E DE CINCO DIAS,
PARA AS POSTERIORES”. Em reunião, essa formalidades podem ser
afastadas. Essas publicações indicadas na norma são quanto ao Diário
Oficial. No entanto, há, também, mais três publicações devidas em
jornais de grande circulação. A sociedade pode ter de acabar de fazer, ao
fim, doze publicações. Para evitar essa burocracia, o art. 1.072, § 2º, CC,
permite exceção a essas exigências. No entanto, todos os sócios têm de
tomar ciência ou comparecerem à deliberação. Caso alguém não
compareça e não tenha declarado por escrito saber da assembleia, não
há possibilidade de aproveitamento da exceção prevista.
e. Assembleia por convocação espontânea. Conforme o art. 1.072, § 3o, CC, “A
REUNIÃO OU A ASSEMBLEIA TORNAM-SE DISPENSÁVEIS QUANDO TODOS OS SÓCIOS
DECIDIREM, POR ESCRITO, SOBRE A MATÉRIA QUE SERIA OBJETO DELAS”. Nessa
modalidade, os sócios todos estão reunidos em um determinado local e
determinam convocar uma assembleia espontaneamente. No entanto, a decisão
tem de ser feita por escrito.
i. Quórum de convocação. Conforme o art. 1.074, CC, “A ASSEMBLEIA DOS
SÓCIOS INSTALA-SE COM A PRESENÇA, EM PRIMEIRA CONVOCAÇÃO, DE
TITULARES DE NO MÍNIMO TRÊS QUARTOS DO CAPITAL SOCIAL, E, EM
SEGUNDA, COM QUALQUER NÚMERO”.
141

f. Recuperação judicial. Conforme o art. 1.072, § 4o, CC, “NO CASO DO INCISO VIII
DO ARTIGO ANTECEDENTE, OS ADMINISTRADORES, SE HOUVER URGÊNCIA E COM
AUTORIZAÇÃO DE TITULARES DE MAIS DA METADE DO CAPITAL SOCIAL, PODEM
REQUERER CONCORDATA PREVENTIVA”. Esse instituo se aplica apenas para
sociedades empresárias, não às sociedades limitadas simples. Ainda, é possível
notar impropriedade na redação. Sabidamente, em regra, a administração das
sociedades é disjuntiva e com poderes genéricos. Portanto, quando a norma
afirma que os administradores requisitarão a concordata preventiva, pode ser
na realidade, o administrador.
g. Princípio majoritário das deliberações. Conforme o art. 1.072, § 5o, CC, “AS
DELIBERAÇÕES TOMADAS DE CONFORMIDADE COM A LEI E O CONTRATO VINCULAM
TODOS OS SÓCIOS, AINDA QUE AUSENTES OU DISSIDENTES”.
i. Morte, retirada e exclusão de sócio na sociedade limitada. Na
sociedade limitada, para cada uma dessas hipóteses, há uma disposição
peculiar, que divergem da disposições gerais da sociedade simples do
tipo simples.
1. Morte. Não existe previsão do resultado da morte na sociedade
limitada. Portanto, o contrato social tem de regular seus efeitos.
Se o ato constitutivo é omisso, há duas consequências:
a. Regência pela sociedade simples. Na hipótese de regência
supletiva pelas normas da sociedade simples, há aplicação
do art. 1.028, CC;
b. Regência pela Lei das Sociedades Anônimas. Nessa
hipótese, o herdeiro ingressa na sociedade como sócio, nos
termos da Lei de Sociedades Anônimas.
2. Retirada. Na sociedade limitada, não se aplica o art. 1.029, CC. O
contrato pode regular a retirada; porém, se for omisso, há
aplicação do art. 1.077, com aplicação supletiva do contrato.
Conforme a norma, “QUANDO HOUVER MODIFICAÇÃO DO
CONTRATO, FUSÃO DA SOCIEDADE, INCORPORAÇÃO DE OUTRA, OU
DELA POR OUTRA, TERÁ O SÓCIO QUE DISSENTIU O DIREITO DE
RETIRAR-SE DA SOCIEDADE, NOS TRINTA DIAS SUBSEQÜENTES À
REUNIÃO, APLICANDO-SE, NO SILÊNCIO DO CONTRATO SOCIAL ANTES
VIGENTE, O DISPOSTO NO ART. 1.031”.
a. Restrição. Não é qualquer deliberação indesejada, portanto, que
permite a retirada. Apenas em três situações daquelas
142

arroladas no art. 1.071, CC, há possibilidade de retirada. O


contrato social, todavia, pode ampliar essas matérias.
b. Efeitos da retirada. Nesse procedimento, o efeito é a
liquidação das quotas do sócio, nos termos do art. 1.031,
CC.
3. Exclusão. Na sociedade limitada, há dois tipos de exclusão:
a. Judicial. É regulada pelo art. 1.030, CC, sendo a mesma
regra das sociedades simples, feita por meio da ação de
dissolução parcial.
b. Extrajudicial. Na sociedade limitada, há também previsão
de exclusão extrajudicial, mas apenas do sócio
minoritário. O art. 1.085, CC, expõe os requisitos da
exclusão:
i. Previsão da exclusão extrajudicial no contrato. O
contrato tem de prever essa possibilidade de
exclusão por justa causa.
ii. Qualidade de sócio minoritário. A exclusão, na
sociedade limitada, só pode ocorrer em relação a
sócio minoritário;
iii. Cometimento de ato de inegável gravidade, pondo
em risco a continuidade da empresa;
iv. Convocação de assembleia e direito de defesa.
Conforme o art. 1.085, parágrafo único, CC,
“RESSALVADO O CASO EM QUE HAJA APENAS DOIS
SÓCIOS NA SOCIEDADE, A EXCLUSÃO DE UM SÓCIO
SOMENTE PODERÁ SER DETERMINADA EM REUNIÃO OU
ASSEMBLEIA ESPECIALMENTE CONVOCADA PARA ESSE
FIM, CIENTE O ACUSADO EM TEMPO HÁBIL PARA
PERMITIR SEU COMPARECIMENTO E O EXERCÍCIO DO
DIREITO DE DEFESA”. Em sociedades de apenas dois
sócios, não é necessária a deliberação. Em
sociedades de mais de dois sócios, há necessidade
de convocação de assembleia.
1. Erro na redação. Na realidade, não se dá
“continuidade da empresa”, uma vez que há
sociedade limitada simples quanto ao objeto.
143

v. Quórum necessário. Votos correspondentes à mais


da metade do capital social. Maioria simples;
c. Efeitos da exclusão de sócio minoritário. Conforme o art.
1.086, CC, “EFETUADO O REGISTRO DA ALTERAÇÃO
CONTRATUAL, APLICAR-SE-Á O DISPOSTO NOS ARTS. 1.031 E
1.032”. Isto é, na exclusão há apuração de haveres,
liquidação da quota.
11. Representação em assembleia por contrato de mandato. Conforme o art. 1.074, CC, §
1º, CC, “O SÓCIO PODE SER REPRESENTADO NA ASSEMBLEIA POR OUTRO SÓCIO, OU POR
ADVOGADO, MEDIANTE OUTORGA DE MANDATO COM ESPECIFICAÇÃO DOS ATOS
AUTORIZADOS, DEVENDO O INSTRUMENTO SER LEVADO A REGISTRO, JUNTAMENTE COM A
ATA”. A única peculiaridade dessa norma é de que o mandante não pode escolher
livremente o mandatário. O mandatário tem de ser outro sócio ou advogado.
a. Impedimento de voto. Conforme o art. 1.074, § 2º, CC, “NENHUM SÓCIO, POR SI
OU NA CONDIÇÃO DE MANDATÁRIO, PODE VOTAR MATÉRIA QUE LHE DIGA RESPEITO
DIRETAMENTE”.
12. Produção de ata. Conforme o art. 1.075, CC, “A ASSEMBLEIA SERÁ PRESIDIDA E
SECRETARIADA POR SÓCIOS ESCOLHIDOS ENTRE OS PRESENTES”. Ainda, o art. 1.075, § 1º,
CC, dispõe que “DOS TRABALHOS E DELIBERAÇÕES SERÁ LAVRADA, NO LIVRO DE ATAS DA
ASSEMBLEIA, ATA ASSINADA PELOS MEMBROS DA MESA E POR SÓCIOS PARTICIPANTES DA
REUNIÃO, QUANTOS BASTEM À VALIDADE DAS DELIBERAÇÕES, MAS SEM PREJUÍZO DOS QUE
QUEIRAM ASSINÁ-LA”. Lembre-se que, mesmo no caso das microempresas e empresas
de pequeno portes em que há dispensa da deliberação, ainda persiste a
obrigatoriedade da produção de ata.
a. Averbação. Conforme o art. 1.075, § 2º, CC, “CÓPIA DA ATA AUTENTICADA PELOS
ADMINISTRADORES, OU PELA MESA, SERÁ, NOS VINTE DIAS SUBSEQÜENTES À REUNIÃO,
APRESENTADA AO REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS PARA
ARQUIVAMENTO E AVERBAÇÃO”. Há impropriedade, uma vez que não se dá
averbação apenas na Junta Comercial, mas também no Registro Civil de
Pessoas Jurídicas.
b. Solicitação de cópia autenticada da ata. Conforme o art. 1.075, § 3º, CC, “AO
SÓCIO, QUE A SOLICITAR, SERÁ ENTREGUE CÓPIA AUTENTICADA DA ATA”.
i. Sociedade simples do tipo simples. Na sociedade simples, não existem
essas regras, podendo o contrato as dispor. Na sociedade limitada, há
maior engessamento.
13. Assembleia dos sócios anual. Conforme o art. 1.078, CC:
144

Art. 1.078. A assembleia dos sócios deve realizar-se ao menos uma vez por ano, nos quatro meses seguintes à ao
término do exercício social, com o objetivo de:

I - tomar as contas dos administradores e deliberar sobre o balanço patrimonial e o de resultado econômico;

II - designar administradores, quando for o caso;

III - tratar de qualquer outro assunto constante da ordem do dia.

a. Disposição dos documentos. Conforme o art. 1.078, § 1º, CC, “ATÉ TRINTA DIAS
ANTES DA DATA MARCADA PARA A ASSEMBLEIA, OS DOCUMENTOS REFERIDOS NO
INCISO I DESTE ARTIGO DEVEM SER POSTOS, POR ESCRITO, E COM A PROVA DO
RESPECTIVO RECEBIMENTO, À DISPOSIÇÃO DOS SÓCIOS QUE NÃO EXERÇAM A
ADMINISTRAÇÃO”.
b. Vedação da votação dos administradores e membros do Conselho Fiscal.
Conforme o art. 1.078, § 2º, CC, “INSTALADA A ASSEMBLEIA, PROCEDER-SE-Á À
LEITURA DOS DOCUMENTOS REFERIDOS NO PARÁGRAFO ANTECEDENTE, OS QUAIS
SERÃO SUBMETIDOS, PELO PRESIDENTE, A DISCUSSÃO E VOTAÇÃO, NESTA NÃO
PODENDO TOMAR PARTE OS MEMBROS DA ADMINISTRAÇÃO E, SE HOUVER, OS DO
CONSELHO FISCAL”. Aplica-se essa disposição mesmo que o membro do conselho fiscal
seja sócio.
c. Exoneração da responsabilidade dos administradores e membros do
Conselho Fiscal. Conforme o art. 1.078, § 3º, CC, “A APROVAÇÃO, SEM RESERVA,
DO BALANÇO PATRIMONIAL E DO DE RESULTADO ECONÔMICO, SALVO ERRO, DOLO OU
SIMULAÇÃO, EXONERA DE RESPONSABILIDADE OS MEMBROS DA ADMINISTRAÇÃO E, SE
HOUVER, OS DO CONSELHO FISCAL”. Se, posteriormente, for descoberta alguma
irregularidade, pode ser anulada a aprovação, conforme o art. 1.078, § 4º, CC.
d. Prazo de anulação. Conforme o art. 1.078, § 4º, CC, “EXTINGUE-SE EM DOIS ANOS
O DIREITO DE ANULAR A APROVAÇÃO A QUE SE REFERE O PARÁGRAFO
ANTECEDENTE”. Trata-se de prazo decadencial.
14. Responsabilidade ilimitada de sócio. Conforme o art. 1.080, CC, “AS DELIBERAÇÕES
INFRINGENTES DO CONTRATO OU DA LEI TORNAM ILIMITADA A RESPONSABILIDADE DOS QUE
EXPRESSAMENTE AS APROVARAM”. Essa norma, naturalmente, desloca a
responsabilidade do sócio para a modalidade ilimitada como sanção por deliberação
contra lei ou contrato.

AULA 17
145

EIRELI

1. Origem da EIRELI no Direito brasileiro. A Empresa Individual de Responsabilidade


Limitada (EIRELI) foi introduzida no Direito brasileiro em 2011, por meio da Lei
12.441/11. Ela acrescentou ao Livro de Empresa do Código Civil o Título I-A,
denominado Da Empresa Individual de Responsabilidade Limitada, constituído
apenas pelo art. 980-A, CC. Sua origem está em um Projeto de Lei muito influenciado
pelo Direito chileno.
a. Finalidade e natureza. A principal finalidade, originalmente, da criação da
EIRELI foi permitir que uma pessoa natural constituísse uma sociedade de
responsabilidade limitada tendo ela mesma como único sócio. Sua natureza,
portanto, a despeito da unipessoalidade, é de sociedade. Até então, as únicas
entidades societárias unipessoais eram a empresa pública, que tinham o Poder
Público como único sócio, e a sociedade subsidiária integral, modalidade de
sociedade anônima em que há controle integral por outra sociedade brasileira.
b. Efeitos. Dessa maneira, em vez de a pessoa natural ou jurídica exercer empresa
com responsabilidade ilimitada, como um empresário, ela exerce empresa
como sociedade e com responsabilidade limitada. Cria-se, portanto, uma nova
pessoa jurídica, diferentemente do que ocorre com o exercício da empresa
como empresário.
c. Nome empresarial. Como há nova pessoa jurídica, a EIRELI operaria sob firma
ou denominação, com o aditivo obrigatório de ERELI, para distingui-la da firma
do empresário.
d. Regência. Além do Título I-A, a EIRELI se rege, subsidiariamente pelas normas
da sociedade limitada.
e. Distinção do projeto original e estruturação atual da EIRELI. A proposta
original de instituição da EIRELI foi profundamente alterada na Comissão de
Constituição e Justiça, de forma que esse tipo societário que se tem hoje não é
aquele da proposta original. São disposições alteradas:
i. Capital social mínimo. Inicialmente, a EIRELI não requeria capital
mínimo e, além disso, ele poderia ser integralizado a prazo. Atualmente,
há exigência de capital mínimo e a integralização deve ser feita à vista
necessariamente.
ii. Natureza jurídica. Inicialmente, a EIRELI tinha natureza de sociedade
unipessoal, isto é, seria um novo tipo societário. No entanto,
posteriormente, ela se transformou em nova espécie de pessoa jurídica.
146

Esse ponto é polêmico, posto que alguns doutrinadores entendem que


se trata de tipo societário.
iii. Espécies de pessoas permitidas. Inicialmente, a EIRELI foi designado
apenas para pessoas naturais. Atualmente, a EIRELI pode ser
constituída por pessoa natural ou jurídica.
iv. Nome empresarial. No projeto, a EIREILI operaria somente sob firma.
Atualmente, atua sob firma ou denominação.
2. Características da EIRELI. Conforme o art. 980-A, CC, “A EMPRESA INDIVIDUAL DE
RESPONSABILIDADE LIMITADA SERÁ CONSTITUÍDA POR UMA ÚNICA PESSOA TITULAR DA
TOTALIDADE DO CAPITAL SOCIAL, DEVIDAMENTE INTEGRALIZADO, QUE NÃO SERÁ INFERIOR
A 100 (CEM) VEZES O MAIOR SALÁRIO-MÍNIMO VIGENTE NO PAÍS”
a. Capital social. Na EIRELI, o capital social pode ou não ter suas quotas dividias,
mas sempre pertencentes – ou pertencente – a uma única pessoa. Além disso,
há a obrigatoriedade do capital social ser de, pelo menos, 100 (cem) vezes o
maior salário-mínimo vigente no País e devidamente integralizado, sem a
possibilidade de integralização a prazo.
b. Nome empresarial. O nome empresarial da EIRELI é pode ser do tipo firma ou
denominação. Conforme o art. 980-A, § 1º, CC, “O NOME EMPRESARIAL DEVERÁ
SER FORMADO PELA INCLUSÃO DA EXPRESSÃO "EIRELI" APÓS A FIRMA OU A
DENOMINAÇÃO SOCIAL DA EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA”.
Se a EIRELI for instituída por pessoa natural, há uso de firma. Se o instituidor
for pessoa jurídica, há denominação, mas ambos sempre seguidos do aditivo
“EIRELI”.
i. Restrição à pessoa natural. Conforme o art. 980-A, § 2º, CC, “A PESSOA
NATURAL QUE CONSTITUIR EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA SOMENTE PODERÁ FIGURAR EM UMA ÚNICA EMPRESA DESSA
MODALIDADE”.
c. Formas de instituição. A instituição da EIRELI pode ser feita por forma direta
ou derivada. Na instituição derivada, ocorre o fenômeno denominado
concentração de quotas. Nessa linha, quando uma sociedade se torna, por
qualquer motivo, unipessoal – seja por morte, exclusão, retirada –, o sócio pode
mudar a natureza da sociedade para EIRELI, outra espécie de pessoa jurídica.
Na instituição direta, a pessoa jurídica ou natural já nasce como uma EIRELI.
i. Concentração de quotas. Conforme o art. 980-A, § 3º, CC, “A EMPRESA
INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA TAMBÉM PODERÁ RESULTAR DA
CONCENTRAÇÃO DAS QUOTAS DE OUTRA MODALIDADE SOCIETÁRIA NUM
ÚNICO SÓCIO, INDEPENDENTEMENTE DAS RAZÕES QUE MOTIVARAM TAL
147

CONCENTRAÇÃO”. Esse parágrafo não foi alterado na Comissão de


Constituição e Justiça, de forma que resguarda e explicita a pretensão
original, mas não bem-sucedida, do Projeto de Lei instituidor de criar,
com a EIRELI, novo tipo societário. Após diversas alterações, como
citado, a EIRELI se tornou nova espécie de pessoa jurídica, não
sociedade.
1. Distinção entre a EIRELI e a sociedade limitada unipessoal
admitida por Medida Provisória. São diferenças entre essas duas
entidades jurídicas:
a. Natureza jurídica. A natureza da sociedade do tipo
limitada permanentemente unipessoal é, naturalmente,
societária, isto é, trata-se de um tipo societário. A EIREILI,
por outro lado, não se confunde em sua natureza com esse
tipo societário, uma vez que sua natureza não é societária,
mas espécie de pessoa jurídica. No entanto, há autores
que defendem a EIRELI ser novo tipo societário. De
qualquer maneira, há diferença, seja pela distinção de
natureza tipo societário-espécie de pessoa jurídica ou pela
distinção de natureza tipo societário-tipo societário.
b. Exigência de capital mínimo e integralização. Na EIRELI,
há capital mínimo e obrigatoriedade de integralização à
vista. Na sociedade limitada unipessoal, por outro lado,
não há capital mínimo e sua integralização pode ser feita a
prazo.
c. Nome empresarial. Na sociedade limitada unipessoal, há
o aditivo “limitada”, enquanto, na EIRELI, há o aditivo
“EIRELI” no nome empresarial.
d. Regência. A sociedade limitada unipessoal se rege pelas
normas da sociedade limitada e, supletivamente, pelas
normas da sociedade simples ou das sociedades anônimas.
A EIRELI, por sua vez, se rege pelas suas próprias normas,
isto é, o art. 980-A, CC, e apenas subsidiariamente pelas
normas da sociedade limitada.
d. Autonomia patrimonial da EIRELI. Conforme o art. 980-A, § 7º, CC, “SOMENTE
O PATRIMÔNIO SOCIAL DA EMPRESA RESPONDERÁ PELAS DÍVIDAS DA EMPRESA
INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, HIPÓTESE EM QUE NÃO SE
CONFUNDIRÁ, EM QUALQUER SITUAÇÃO, COM O PATRIMÔNIO DO TITULAR QUE A
148

CONSTITUI, RESSALVADOS OS CASOS DE FRAUDE”. Essa norma é oriunda do § 4º,


anteriormente vetado, mas, de forma vulgar, “repristinado” pelo atual governo
por meio de Medida Provisória. Ele apenas dispõe sobre o reconhecimento da
autonomia patrimonial e existencial da EIRELI, de forma independente de seu
membro. A única exceção se dá nos casos de fraude. No entanto, mesmo essa
exceção já era prevista por instituto como fraude contra credores e ação
pauliana.
e. Admissão de EIRELI simples. Conforme o art. 980-A, § 5º, “PODERÁ SER
ATRIBUÍDA À EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA CONSTITUÍDA
PARA A PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA A REMUNERAÇÃO
DECORRENTE DA CESSÃO DE DIREITOS PATRIMONIAIS DE AUTOR OU DE IMAGEM,
NOME, MARCA OU VOZ DE QUE SEJA DETENTOR O TITULAR DA PESSOA JURÍDICA,
VINCULADOS À ATIVIDADE PROFISSIONAL”. Essas atividades mencionadas ao fim
do dispositivo são, notavelmente, atividades de natureza artística. Elas,
naturalmente, não são elementos de empresa, conforme as disposições da Parte
Geral do Direito Comercial. Portanto, como não há, ao final da norma,
indicação da ressalva “desde que congreguem elementos de empresa”, depreende-
se que a EIRELI pode ser simples quanto ao seu objeto, com arquivamento no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Seu regime, portanto, pode ser simples ou
empresarial.
f. Regência subsidiária pelas normas da sociedade limitada. Conforme o art.
980-A, § 6º, CC, “APLICAM-SE À EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE
LIMITADA, NO QUE COUBER, AS REGRAS PREVISTAS PARA AS SOCIEDADES
LIMITADAS”. Porém, diversos institutos da sociedade limitada passam a não ter
sentido na EIRELI, uma vez que detém o atributo da unipessoalidade. Como
aproveitável das disposições de sociedade limitada, restam apenas as partes
referentes ao capital social e à administração da sociedade.
3. Classificação da EIRELI. São atributos da EIRELI:
a. Capital fixo;
b. Divisão do capital social em quotas, ou com apenas uma quota;
c. Sociedade de pessoas;
d. Responsabilidade limitada;
e. Objeto simples ou empresarial;
f. Sociedade personificada.
4. Enquadramento nas categorias especiais. Tanto a EIRELI quanto à sociedade limitada
podem se enquadrar nas categorias especiais de microempresa e empresa de pequeno
porte.
149

Sociedade Cooperativa

1. Regência da sociedade cooperativa. A sociedade cooperativa tem sua


regulamentação em Lei Especial, qual seja a Lei 5.764 de 1971. No entanto, o Código
Civil não se eximiu de dispor sobre as características da sociedade cooperativa. No
caso de conflito entre essas duas leis, prevalece o Código Civil, conforme o art. 1.093,
CC, mas apenas no Capítulo que diz respeito à sociedade cooperativa, não em todo Código. Por
fim, na omissão da legislação especial, há aplicação das normas da sociedade simples,
conforme o art. 1.096, CC. Há, então, uma hierarquia de aplicação e integração das
normas da sociedade cooperativa:
a. Código Civil. Mas apenas no Capítulo “Da Sociedade Cooperativa”, não em
todo o Código;
b. Lei Especial 5.764/71;
c. Normas da sociedade simples.
2. Características da sociedade cooperativa segundo o Código Civil. O art. 1.094, CC,
dispõe as características da sociedade cooperativa. Lembrando que, se houver conflito
entre essas características e as características dispostas na Lei Especial, prevalece o art.
1.094, CC. São elas:
Art. 1.094. São características da sociedade cooperativa:

I - variabilidade, ou dispensa do capital social;

a. Conflito. Na Lei Especial, no em seu art. 4º, II, não há abordagem da


possibilidade de dispensa do capital social. No entanto, como há prevalência do
Código Civil, essa possibilidade persiste. A variabilidade ou dispensa do
capital social tem grande influência no art. 21, Lei 5.764/71, que dispõe sobre o
Estatuto da Cooperativa.
i. Capital mínimo. Nas sociedades de capital variável, não se diz capital
fixo, como nas sociedades empresárias, mas capital mínimo.
ii. Contribuições de serviços. Na sociedade cooperativas, todos os sócios
podem contribuir apenas com trabalho, prescindindo de contribuição em
capital.
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da sociedade, sem limitação de
número máximo;
150

b. Número mínimo de sócios. O Código Civil não tem um dispõe sobre o número
mínimo de sócios; como há lacuna, aplica-se o art. 6º, Lei 5.764/71, que delimita
um patamar de, ao menos, vinte sócios.
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;

c. Estatuto da cooperativa. Essa limitação é disposta no Estatuto da Cooperativa.


IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda que por herança;

d. Intransferibilidade das quotas do capital. Na sociedade cooperativa, não pode


haver cessão de quotas a terceiros, ainda que por herança, somente para aqueles
que são sócios. Esse atributo expõe o caráter personalista da sociedade
cooperativa. Todavia, há a possibilidade de novas quotas.
V - quórum, para a assembleia geral funcionar e deliberar, fundado no número de sócios presentes à reunião,
e não no capital social representado;

e. Quórum. Na sociedade cooperativa, o quórum é contabilizado por maioria


presente, no modelo “one man, one vote”, não pela porcentagem da quota detida
pelo sócio.
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade, e qualquer que seja o
valor de sua participação;

f. Inexistência de sócios majoritários ou minoritários. Não há, portanto, sócio


majoritário e minoritário na sociedade cooperativa.
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas pelo sócio com a
sociedade, podendo ser atribuído juro fixo ao capital realizado;

g. Proporcionalidade com operações sociais. Na sociedade cooperativa, os


resultados não são distribuídos em proporcionalidade ao valor das quotas
somadas detidas pelo sócio, mas pelo número de operações efetuadas pelo
sócio com a sociedade. A ideia é o estímulo do trabalho, de forma que mais
recebe aquele que mais faz operações. Não há distribuição dos resultados, portanto,
em razão do capital.
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de dissolução da sociedade.

h. Fundo de Reserva. Nas sociedades cooperativas, o Fundo de Reserva é


obrigatório. Nas sociedades empresárias, o Fundo de Reserva é facultativo.
3. Responsabilidade dos sócios. Conforme o art. 1.095, CC, “NA SOCIEDADE
COOPERATIVA, A RESPONSABILIDADE DOS SÓCIOS PODE SER LIMITADA OU ILIMITADA”. Na
sociedade cooperativa, há a peculiaridade da possibilidade de escolha da
responsabilidade dos sócios. Somente têm essa característica a sociedade simples do
tipo simples e a sociedade cooperativa. No entanto, nunca podem existir dois tipos
151

diferentes de sócios, diferentemente do que ocorre na sociedade em comandita. Todos os sócios


são de responsabilidade limitada ou todos os sócios são de responsabilidade ilimitada.
a. Responsabilidade limitada. Conforme o art. 1.905, § 1º, CC, “É LIMITADA A
RESPONSABILIDADE NA COOPERATIVA EM QUE O SÓCIO RESPONDE SOMENTE PELO
VALOR DE SUAS QUOTAS E PELO PREJUÍZO VERIFICADO NAS OPERAÇÕES SOCIAIS,
GUARDADA A PROPORÇÃO DE SUA PARTICIPAÇÃO NAS MESMAS OPERAÇÕES”. Na
sociedade cooperativa, portanto, a fins de definir o limite de responsabilidade
dos sócios, não há contabilização apenas do valor das quotas, mas também das
suas operações sociais.
b. Responsabilidade ilimitada. Conforme o art. 1.095, § 2º, CC, “É ILIMITADA A
RESPONSABILIDADE NA COOPERATIVA EM QUE O SÓCIO RESPONDE SOLIDÁRIA E
ILIMITADAMENTE PELAS OBRIGAÇÕES SOCIAIS”.
4. Fundamentação filosófica da sociedade cooperativa. A sociedade cooperativa é uma
forma jurídica de aplicação da política de cooperativismo. No cooperativismo, a ideia
mais presente é a de cooperação mútua. Essa filosofia nasceu em 1844, na Inglaterra,
com operários que queriam uma alternativa ao modelo capitalista clássico. Com isso,
criaram uma estrutura em que não há patrão nem empregado e, consequentemente,
não há subordinação. No cooperativismo, não há vinculação a movimento partidário,
filosófico, político, ideológico, ou qualquer outro, prevalecendo a ideia de igualdade.
Ele é, portanto, modelo paralelo ao capitalismo clássico.
a. Surgimento do cooperativismo no Brasil. No Brasil, o cooperativismo surge
no final do século XIX e início do século XX, com ações isoladas de imigrantes,
formando, principalmente, as cooperativas de crédito rural. Em território
nacional, não havia, ainda, instituições de concessão de crédito. O berço do
cooperativismo se deu em Nova Petrópolis. No que se refere ao
desenvolvimento jurídico do cooperativismo, houve um desenvolvimento
gradual de sua estrutura. Foram etapas do desenvolvimento:
i. Decreto de 979 de 1903. Nesse decreto, houve a previsão da cooperativa
associada aos sindicatos, motivo pelo qual o modelo fracassou, posto
que a cooperativa, originalmente, não tem ligações com quaisquer
movimentos.
ii. Decreto 1.637 de 1907. Nesse decreto, a cooperativa surgiu separada do
sindicato, sendo o primeiro a regular a cooperativa com a visão mais
associativista, própria desse modelo filosófico. Esse decreto vigorou até
o ano de 1932.
iii. Decreto 22.239 de 1932. Esse decreto foi o responsável por regular as
cooperativas com natureza societária.
152

iv. Lei 5.764 de 1971. É a Lei em vigor sobre as sociedades cooperativas.


5. Conceito da sociedade cooperativa. Conforme o art. 3º, Lei 5.674/91, “CELEBRAM
CONTRATO DE SOCIEDADE COOPERATIVA AS PESSOAS QUE RECIPROCAMENTE SE OBRIGAM
A CONTRIBUIR COM BENS OU SERVIÇOS PARA O EXERCÍCIO DE UMA ATIVIDADE
ECONÔMICA, DE PROVEITO COMUM, SEM OBJETIVO DE LUCRO”. Nota-se que o conceito da
sociedade cooperativa é igual ao conceito de sociedade, à exceção do objetivo de lucro.
Há, portanto, todos os elementos próprios de qualquer sociedade, mas sem o objetivo
de lucro.
a. Lucros. Isso não significa que a sociedade cooperativa não pode ter lucro. Com efeito,
se ela tiver lucros, tem-se a possibilidade de partilha dos resultados. No
entanto, o objetivo central da sociedade cooperativa não é o lucro, mas a
sobrevivência.
6. Características da sociedade cooperativa segundo a Lei Especial. O art. 4º, Lei
5.674/91, complementa as características da sociedade cooperativa do Código Civil.
Conforme a norma, “AS COOPERATIVAS SÃO SOCIEDADES DE PESSOAS, COM FORMA E
NATUREZA JURÍDICA PRÓPRIAS, DE NATUREZA CIVIL, NÃO SUJEITAS A FALÊNCIA,
CONSTITUÍDAS PARA PRESTAR SERVIÇOS AOS ASSOCIADOS, DISTINGUINDO-SE DAS DEMAIS
SOCIEDADES PELAS SEGUINTES CARACTERÍSTICAS [...]”. A natureza jurídica da sociedade
cooperativa é, portanto, de regime jurídico simples por força de lei, ainda que tenha
atividade empresarial. Além disso, é tipo societário sui generis.
a. Prestação de serviços aos associados e o ato cooperativo. Na prestação de
serviços aos associados, a sociedade pratica uma conduta jurídica típica,
denominada ato cooperativo. Conforme o art. 79, Lei 5.674/91, “DENOMINAM-SE
ATOS COOPERATIVOS OS PRATICADOS ENTRE AS COOPERATIVAS E SEUS ASSOCIADOS,
ENTRE ESTES E AQUELAS E PELAS COOPERATIVAS ENTRE SI QUANDO ASSOCIADOS,
PARA A CONSECUÇÃO DOS OBJETIVOS SOCIAIS”. O ato cooperativo, portanto, é
aquele praticado entre os entes descritos na norma e, além disso, para a
consecução dos objetivos sociais.
i. Não incidência de tributos. No ato cooperativo, não há incidência de
tributos, pois, conforme o art. 79, parágrafo único, Lei 5.674/91, “O ATO
COOPERATIVO NÃO IMPLICA OPERAÇÃO DE MERCADO, NEM CONTRATO DE
COMPRA E VENDA DE PRODUTO OU MERCADORIA”. Lembre-se, porém, que
o ato necessariamente deve ocorrer entre as pessoas de direito descritas
no caput. Se a sociedade vender um produto a terceiros, por exemplo, há
incidência tributária. Da mesma forma, em se tratando de ato ultra
vires, isto é, fora do objeto social, há tributação.
153

b. Atributos da sociedade cooperativa. São eles, sendo que muitos já estão


dispostos no Código Civil:
I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica de prestação de serviços;

II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;

III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado, porém, o estabelecimento
de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado para o cumprimento dos objetivos sociais;

IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;

V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações de cooperativas, com


exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério da proporcionalidade;

VI - quórum para o funcionamento e deliberação da Assembleia Geral baseado no número de associados e não
no capital;

i. Quórum de instalação. Conforme o art. 40, Lei 5.674/91, o quórum de


convocação é:
Art. 40. Nas Assembleias Gerais o quórum de instalação será o seguinte:

I - 2/3 (dois terços) do número de associados, em primeira convocação;

II - metade mais 1 (um) dos associados em segunda convocação;

III - mínimo de 10 (dez) associados na terceira convocação ressalvado o caso de cooperativas centrais e
federações e confederações de cooperativas, que se instalarão com qualquer número.

VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado, salvo
deliberação em contrário da Assembleia Geral;

VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;

ii. Fundos das sociedades cooperativas. O art. 28, Lei 5.674/91 dispõe sobre
os fundos da sociedade cooperativa, de presença obrigatória. Uma das
propostas desses fundos é de que sejam um promotor do
desenvolvimento da família dos cooperados, em áreas saúde, educação
e prestação de auxílios. São eles:
1. Fundo de Reserva. Conforme o art. 28, I, Lei 5.674/91, o Fundo de
Reserva é “DESTINADO A REPARAR PERDAS E ATENDER AO
DESENVOLVIMENTO DE SUAS ATIVIDADES, CONSTITUÍDO COM 10%
(DEZ POR CENTO), PELO MENOS, DAS SOBRAS LÍQUIDAS DO
EXERCÍCIO”.
154

2. Fundo de Assistência Técnica, Educacional e Social. Conforme


o art. 28, II, Lei 5.674/91, ele é destinado à “PRESTAÇÃO DE
ASSISTÊNCIA AOS ASSOCIADOS, SEUS FAMILIARES E, QUANDO
PREVISTO NOS ESTATUTOS, AOS EMPREGADOS DA COOPERATIVA,
CONSTITUÍDO DE 5% (CINCO POR CENTO), PELO MENOS, DAS SOBRAS
LÍQUIDAS APURADAS NO EXERCÍCIO”.
a. Cooperativas de créditos. No caso de cooperativas de
crédito, se esses fundos forem utilizados, há
obrigatoriedade de ressarcimento do valor utilizado.
IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;

X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos empregados da cooperativa;

XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle, operações e prestação de


serviços.

7. Objeto social da sociedade cooperativa. Conforme o art. 5º, Lei 5.674/91, “AS
SOCIEDADES COOPERATIVAS PODERÃO ADOTAR POR OBJETO QUALQUER GÊNERO DE
SERVIÇO, OPERAÇÃO OU ATIVIDADE, ASSEGURANDO-SE-LHES O DIREITO EXCLUSIVO E
EXIGINDO-SE-LHES A OBRIGAÇÃO DO USO DA EXPRESSÃO "COOPERATIVA" EM SUA
DENOMINAÇÃO”.
a. Nome empresarial. Conforme o art. 1.159, CC, “A SOCIEDADE COOPERATIVA
FUNCIONA SOB DENOMINAÇÃO INTEGRADA PELO VOCÁBULO ‘COOPERATIVA’”. Há,
portanto, uso de denominação obrigatoriamente, bem como o uso do aditivo
“cooperativa”.
i. Limitação ao nome empresarial das cooperativas. Conforme o art. 5º,
parágrafo único, Lei 5.674/91, as cooperativas não podem usar a expressão
banco, que é privativa de sociedades anônimas.
9. Classificação das cooperativas. Há três tipos de cooperativas, conforme o art. 6º, Lei
5.674/91:
a. Singulares. É o tipo de cooperativa mais comum. São singulares aquelas
cooperativas que prestam serviços diretamente aos seus associados, conforme
o art. 7º, Lei 5.674/91, como, por exemplo, em uma cooperativa de táxis.
Conforme o art. 6º, I, Lei 5.674/91, são consideradas “SINGULARES, AS
CONSTITUÍDAS PELO NÚMERO MÍNIMO DE 20 (VINTE) PESSOAS FÍSICAS, SENDO
EXCEPCIONALMENTE PERMITIDA A ADMISSÃO DE PESSOAS JURÍDICAS QUE TENHAM
POR OBJETO AS MESMAS OU CORRELATAS ATIVIDADES ECONÔMICAS DAS PESSOAS
FÍSICAS OU, AINDA, AQUELAS SEM FINS LUCRATIVOS”.
155

b. Cooperativas centrais ou federações de cooperativas. Há, aqui, uma estrutura


de aglutinação. Conforme o art. 6º, II, Lei 5.674/91, são consideradas
”COOPERATIVAS CENTRAIS OU FEDERAÇÕES DE COOPERATIVAS, AS CONSTITUÍDAS DE,
NO MÍNIMO, 3 (TRÊS) SINGULARES, PODENDO, EXCEPCIONALMENTE, ADMITIR
ASSOCIADOS INDIVIDUAIS”.
c. Confederações de cooperativas. Conforme o art. 6º, III, Lei 5.674/91, são
consideradas “CONFEDERAÇÕES DE COOPERATIVAS, AS CONSTITUÍDAS, PELO
MENOS, DE 3 (TRÊS) FEDERAÇÕES DE COOPERATIVAS OU COOPERATIVAS CENTRAIS,
DA MESMA OU DE DIFERENTES MODALIDADES”.
10. Constituição das sociedades cooperativas. Conforme o art. 14, Lei 5.674/91, “A
SOCIEDADE COOPERATIVA CONSTITUI-SE POR DELIBERAÇÃO DA ASSEMBLEIA GERAL DOS
FUNDADORES, CONSTANTES DA RESPECTIVA ATA OU POR INSTRUMENTO PÚBLICO”.
a. Ato constitutivo. Conforme o art. 15, Lei 5.674/91:
Art. 15. O ato constitutivo, sob pena de nulidade, deverá declarar:

I - a denominação da entidade, sede e objeto de funcionamento;

II - o nome, nacionalidade, idade, estado civil, profissão e residência dos associados, fundadores que o
assinaram, bem como o valor e número da quota-parte de cada um;

ii. Dispensa do Código Civil. Naturalmente, o capital social e a quota-


parte são dispensáveis nas cooperativas em que há dispensa do capital
social, conforme as disposições do Código Civil.
III - aprovação do estatuto da sociedade;

i. Estatuto da cooperativa. O ato constitutivo da sociedade cooperativa é


dito estatuto
IV - o nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos associados eleitos para os órgãos de
administração, fiscalização e outros.

11. Não recepção das normas sobre autorização de funcionamento. A Seção I do


Capítulo “Da Constituição das Sociedades Cooperativas”, dispõe sobre a autorização
do funcionamento das sociedades cooperativas. Essas disposições foram instituídas
em razão de sua promulgação em meio ao regime militar. Na ditadura, assentados na
ideia de neutralidade política, as sociedades cooperativas foram submetidas ao
Estado. No entanto, com a Constituição Federal de 1988, houve transformação na
mentalidade de funcionamento das associações. Conforme o art. 5º, XVIII, CF, “A
CRIAÇÃO DE ASSOCIAÇÕES E, NA FORMA DA LEI, A DE COOPERATIVAS INDEPENDEM DE
AUTORIZAÇÃO, SENDO VEDADA A INTERFERÊNCIA ESTATAL EM SEU FUNCIONAMENTO”.
Diante dessas disposições, a Seção referente à autorização de funcionamento das cooperativas
156

não foi recepcionada pela nova ordem constitucional, bem como todos os outros dispositivos da
Lei Especial que mencionem qualquer controle do Estado na estrutura desse tipo societário.
a. Arquivamento e registro. As disposições sobre necessidade de arquivamento
e registro, por sua vez, foram recepcionadas, posto que não geram interferência
direta do Estado na ingerência da sociedade cooperativa.
12. Cláusulas do estatuto da sociedade cooperativa. Conforme o art. 21, Lei 5.674/91:
Art. 21. O estatuto da cooperativa, além de atender ao disposto no artigo 4º, deverá indicar:

I - a denominação, sede, prazo de duração, área de ação, objeto da sociedade, fixação do exercício social e da
data do levantamento do balanço geral;

a. Prazo de duração e balanços. A sociedade cooperativa pode ser de prazo


determinado ou indeterminado. Além disso, ela também tem a exigência de
levantamento de balanços;
II - os direitos e deveres dos associados, natureza de suas responsabilidades e as condições de admissão,
demissão, eliminação e exclusão e as normas para sua representação nas assembleias gerais;

III - o capital mínimo, o valor da quota-parte, o mínimo de quotas-partes a ser subscrito pelo associado, o modo
de integralização das quotas-partes, bem como as condições de sua retirada nos casos de demissão, eliminação
ou de exclusão do associado;

a. Dispensa do capital social. Lembre-se que a instituição de capital mínimo é


facultativa, tendo essa cláusula, consequentemente, também se tornado
facultativa;
IV - a forma de devolução das sobras registradas aos associados, ou do rateio das perdas apuradas por
insuficiência de contribuição para cobertura das despesas da sociedade;

b. Insuficiência do Fundo de Reserva. Se o Fundo de Reserva não sanar as


perdas da sociedade, há rateio entre os cooperados.
V - o modo de administração e fiscalização, estabelecendo os respectivos órgãos, com definição de suas
atribuições, poderes e funcionamento, a representação ativa e passiva da sociedade em juízo ou fora dele, o
prazo do mandato, bem como o processo de substituição dos administradores e conselheiros fiscais;

c. Administração. A sociedade cooperativa é representada pela diretoria ou


conselho de administração.
VI - as formalidades de convocação das assembleias gerais e a maioria requerida para a sua instalação e validade
de suas deliberações, vedado o direito de voto aos que nelas tiverem interesse particular sem privá-los da participação
nos debates;

d. Voto conflitante. O final do dispositivo é conhecido como vedação ao voto


conflitante.
VII - os casos de dissolução voluntária da sociedade;

13. Assembleia Geral dos Associados. Conforme o art. 38, Lei 5.674/91, “A ASSEMBLEIA
GERAL DOS ASSOCIADOS É O ÓRGÃO SUPREMO DA SOCIEDADE, DENTRO DOS LIMITES LEGAIS
157

E ESTATUTÁRIOS, TENDO PODERES PARA DECIDIR OS NEGÓCIOS RELATIVOS AO OBJETO DA


SOCIEDADE E TOMAR AS RESOLUÇÕES CONVENIENTES AO DESENVOLVIMENTO E DEFESA
DESTA, E SUAS DELIBERAÇÕES VINCULAM A TODOS, AINDA QUE AUSENTES OU
DISCORDANTES”.
a. Anulação das decisões da Assemblei Geral. O art. 38, Lei 5.674/91, dispõe as
hipóteses de anulação das decisões da Assembleia Geral. Conforme a norma
“PRESCREVE EM 4 (QUATRO) ANOS, A AÇÃO PARA ANULAR AS DELIBERAÇÕES DA
ASSEMBLEIA GERAL VICIADAS DE ERRO, DOLO, FRAUDE OU SIMULAÇÃO, OU
TOMADAS COM VIOLAÇÃO DA LEI OU DO ESTATUTO, CONTADO O PRAZO DA DATA
EM QUE A ASSEMBLEIA FOI REALIZADA”.
i. Prazo. Nota-se que as decisões que vinculam a todas podem ser
anuladas. Além disso, o prazo de anulação é 4 anos nas sociedades
cooperativas, diferentemente do prazo para anulação de decisões de
assembleias das sociedades em geral, que é de 3 anos, disposto no
Código Civil.
b. Espécies de assembleia. As cooperativas possuem dois tipos de assembleia:
i. Assembleia ordinária. Conforme o art. 44, Lei 5.674/91, “A ASSEMBLEIA
GERAL ORDINÁRIA, QUE SE REALIZARÁ ANUALMENTE NOS 3 (TRÊS)
PRIMEIROS MESES APÓS O TÉRMINO DO EXERCÍCIO SOCIAL, DELIBERARÁ
SOBRE OS SEGUINTES ASSUNTOS QUE DEVERÃO CONSTAR DA ORDEM DO DIA:
[...].”
ii. Assembleia extraordinária. A assembleia extraordinária trata de toda
matéria que não de competência da assembleia ordinária, conforme o rol
disposto no art. 46, Lei 5.674/91. Conforme o art. 45, Lei 5.674/91, “A
ASSEMBLEIA GERAL EXTRAORDINÁRIA REALIZAR-SE-Á SEMPRE QUE
NECESSÁRIO E PODERÁ DELIBERAR SOBRE QUALQUER ASSUNTO DE INTERESSE
DA SOCIEDADE, DESDE QUE MENCIONADO NO EDITAL DE CONVOCAÇÃO”.
14. Inexistência de vínculo empregatício. Na cooperativa, não existe subordinação.
Consequentemente, conforme o art. 45, Lei 5.674/91, “QUALQUER QUE SEJA O TIPO DE
COOPERATIVA, NÃO EXISTE VÍNCULO EMPREGATÍCIO ENTRE ELA E SEUS ASSOCIADOS”. Não
há vínculo empregatício, portanto, independentemente do tipo de cooperativa em
questão. No entanto, nada impede que a cooperativa empregue pessoas. A norma diz respeito
apenas ao vínculo estabelecido entre a cooperativa e seus associados.
15. Dissolução da sociedade cooperativa. São observações importantes sobre a
dissolução da sociedade cooperativa:
a. Alteração da forma jurídica. Conforme o art. 63, IV, Lei 5.674/91 as
cooperativas se dissolvem de pleno direito “DEVIDO À ALTERAÇÃO DE SUA
158

FORMA JURÍDICA”. Cooperativa não pode alterar a forma jurídica, o tipo, sob
pena de dissolução.
b. Redução do número mínimo de associados ou do capital social mínimo.
Conforme o art. 63, IV, Lei 5.674/91 as cooperativas se dissolvem de pleno
direito “PELA REDUÇÃO DO NÚMERO MÍNIMO DE ASSOCIADOS OU DO CAPITAL
SOCIAL MÍNIMO SE, ATÉ A ASSEMBLEIA GERAL SUBSEQUENTE, REALIZADA EM PRAZO
NÃO INFERIOR A 6 (SEIS) MESES, ELES NÃO FOREM RESTABELECIDOS”.
c. Cancelamento da autorização de funcionamento. O art. 63, VI, Lei 5.674/91 não
foi recepcionado pela Constituição de 1988, uma vez que leva à dissolução da
cooperativa se houver cancelamento da autorização de funcionamento.

AULA 18

Dissolução das Sociedades

1. Regência legal. Há três diplomas que regem a dissolução das sociedades:


a. Cooperativas. Quanto às sociedades cooperativas, sua dissolução está disposta
ao art. 63, Lei 5.674/91;
b. Sociedades por ações. Nas sociedade por ações, isto é, anônimas e comandita
por ações, a dissolução está disposta ao art. 206, Lei 6.404/76;
c. Sociedades em geral. As demais sociedade são regidas pelo procedimento
padrão de dissolução, disposto nos arts. 1.033, 1.044, 1.087 e 1.102 a 1.112, todos
do Código Civil.
2. Conceito de dissolução. A dissolução da sociedade é um procedimento, em etapas, que
leva à extinção da sociedade, com cancelamento de seu registro e baixa da personalidade
jurídica. Esse procedimento dissolutório é imprescindível para que a extinção seja feita
de forma lícita. O formalismo legal é indispensável, portanto, seja para a aquisição da
personalidade, seja para a dissolução.
a. Dissolução irregular. Caso a dissolução seja feita de forma irregular, podem
incidir sanções, como, por exemplo, tornar a responsabilidade dos sócios
ilimitada. Nesses casos, a maior preocupação são os credores, que podem ver
seus direitos prejudicados. No caso de sociedades sem débitos ou inativas, por
sua vez, a extinção irregular não gera prejuízos tão grandes, apesar de
permanecer ilícita.
b. Sentidos do termo “dissolução”. O termo “dissolução pode ter dois sentidos:
159

i. Procedimento dissolutório. Em lato sensu, o termo “dissolução”


representa o procedimento dissolutório como um todo;
ii. Dissolução propriamente dita. Em stricto sensu, o termo “dissolução”
denomina a primeira etapa do procedimento dissolutório.
3. Fases da dissolução. O procedimento dissolutório tem três fases:
a. Dissolução propriamente dita;
b. Liquidação do patrimônio. Essa é a fase mais importante;
c. Extinção. Nessa etapa final, ocorre a formalização do encerramento da
sociedade, pondo-se fim à sua personalidade jurídica.
4. Causas do procedimento de dissolução. Conforme os arts. 1.033 a 1.035, todos do
Código Civil, o procedimento dissolutório pode iniciar por três espécies de causas.
São elas:
a. Dissolução legal ou de pleno direito. Nessa hipótese, a lei prevê uma situação
que determine a dissolução da sociedade.
b. Dissolução judicial. Nessa modalidade, a dissolução decorre de sentença por
decisão do Poder Judiciário;
c. Dissolução contratual ou convencional. Essa dissolução decorre de causas de
previstas no contrato social da sociedade.
5. Dissolução legal ou de pleno direito. Essa dissolução está regida no art. 1.033, CC, se
aplicando a outros tipos societários, não só à sociedade simples, como dispõem, por
exemplo, expressamente os arts. 1.044 e 1.087, CC. Essas causas, no entanto, não se
aplicam às cooperativas nem às sociedades por ações. Importante distinguir, também,
a dissolução da resolução da sociedade em relação a um sócio. Nessa última, a
sociedade não se dissolve, havendo liquidação da quota do sócio, não do patrimônio,
como ocorre na dissolução. São causas de dissolução legais:
a. Vencimento do prazo de duração. Nas sociedades de prazo determinado,
vencido o prazo de duração, ocorre dissolução da sociedade.
i. Prorrogação tácita. Essa causa não se aplica, no entanto, “SE, VENCIDO
ESTE E SEM OPOSIÇÃO DE SÓCIO, NÃO ENTRAR A SOCIEDADE EM LIQUIDAÇÃO,
CASO EM QUE SE PRORROGARÁ POR TEMPO INDETERMINADO”, conforme o
art. 1.033, I, CC.
1. Oposição de sócio. Se houver oposição de sócio quando a
sociedade atingir seu vencimento e os sócios não iniciarem o
procedimento de liquidação, o sócio pode requerer, em juízo, a
resolução da sociedade em relação a um sócio, cabendo,
portanto, ação de dissolução parcial.
160

b. Distrato. Dá-se o nome distrato ao procedimento dissolutório que inicia por


consenso unânime dos sócios. Ele pode ser feito a qualquer tempo, em sociedades
de prazo determinado ou indeterminado e extrajudicialmente.
c. Deliberação dos sócios. Nas sociedades de prazo indeterminado, pode ocorrer
dissolução também por deliberação de maioria absoluta dos sócios.
d. Falta de pluralidade dos sócios. Essa causa ainda tem importância no Direito
Empresarial, posto que a autorização da sociedade unipessoal se deu apenas
quanto à sociedade do tipo limitada. Conforme o art. 1.033, IV, há, extinção da
sociedade quando ocorrer “A FALTA DE PLURALIDADE DE SÓCIOS, NÃO
RECONSTITUÍDA NO PRAZO DE CENTO E OITENTA DIAS”.
i. Tipos societários vedados. Em sociedades que exigem duas categorias
de sócios, como, por exemplo, as sociedades em comandita e sociedades
em conta de participação, não há possibilidade permanência temporária
na modalidade de sociedade unipessoal.
ii. Conversão em EIRELI ou empresário individual. Conforme o art. 1.033,
parágrafo único, CC, no entanto, “NÃO SE APLICA O DISPOSTO NO INCISO IV
CASO O SÓCIO REMANESCENTE, INCLUSIVE NA HIPÓTESE DE CONCENTRAÇÃO
DE TODAS AS COTAS DA SOCIEDADE SOB SUA TITULARIDADE, REQUEIRA, NO
REGISTRO PÚBLICO DE EMPRESAS MERCANTIS, A TRANSFORMAÇÃO DO
REGISTRO DA SOCIEDADE PARA EMPRESÁRIO INDIVIDUAL OU PARA EMPRESA
INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA, OBSERVADO, NO QUE
COUBER, O DISPOSTO NOS ARTS. 1.113 A 1.115 DESTE CÓDIGO”. Não
necessariamente, portanto, vai ocorrer a extinção da sociedade se não for
reconstituída a pluralidade de sócios. Com efeito, a sociedade em que
ocorreu a concentração de quotas pode requerer sua transformação em
EIRELI ou empresário, individual, desde que satisfeitos os requisitos
dessas formas de exercício da empresa.
1. Transferência do passivo. Nessa conversão do tipo societário,
não ocorre prejuízo dos credores, uma vez que o passivo do tipo
societário original é incorporado à EIRELI ou ao empresário
individual.
2. Interpretação extensiva. Essa norma precisa ser interpretada
extensivamente, uma vez que é admitida, em Direito, a EIRELI
simples. Pode ocorrer também, portanto, arquivamento no
Registro Civil de Pessoas Jurídicas. Importante destacar, por
fim, que, para a conversão em empresário individual, a sociedade
anterior precisa ser, naturalmente, empresária.
161

e. Extinção da autorização de funcionamento. Algumas sociedades, no Direito


Comercial, precisam de autorização para funcionar. É o caso, por exemplo, das
sociedades estrangeiras, conforme o art. 1.134, CC. Aplica-se essa necessidade
também às operadoras de planos de saúde, seguradoras e instituições
financeiras. Se ocorre, nesse contexto, a extinção da autorização de
funcionamento, a sociedade é extinta. Essa extinção pode ser por tanto por
cassação da autorização quanto por decurso do prazo da autorização.
i. Procedimento de extinção da sociedade por extinção da autorização de
funcionamento. Conforme o art. 1.037, CC, “OCORRENDO A HIPÓTESE
PREVISTA NO INCISO V DO ART. 1.033, O MINISTÉRIO PÚBLICO, TÃO LOGO LHE
COMUNIQUE A AUTORIDADE COMPETENTE, PROMOVERÁ A LIQUIDAÇÃO
JUDICIAL DA SOCIEDADE, SE OS ADMINISTRADORES NÃO O TIVEREM FEITO NOS
TRINTA DIAS SEGUINTES À PERDA DA AUTORIZAÇÃO, OU SE O SÓCIO NÃO
HOUVER EXERCIDO A FACULDADE ASSEGURADA NO PARÁGRAFO ÚNICO DO
ARTIGO ANTECEDENTE”. Há três formas de se proceder a extinção da
sociedade por perda da autorização:
1. Administradores. Em regra, conforme a norma, os
administradores devem dar prosseguimento à liquidação da
sociedade após a extinção da autorização de funcionamento, nos
tinta dias seguintes à perda. Nesse hipótese, trata-se de
liquidação extrajudicial.
2. Ministério Público. Diante da inércia dos administradores, deve
o Ministério Público, decorrido o prazo indicado, dar início à
liquidação judicial da sociedade.
3. Interventor. Conforme o art. 1.037, parágrafo único, CC, “CASO O
MINISTÉRIO PÚBLICO NÃO PROMOVA A LIQUIDAÇÃO JUDICIAL DA
SOCIEDADE NOS QUINZE DIAS SUBSEQÜENTES AO RECEBIMENTO DA
COMUNICAÇÃO, A AUTORIDADE COMPETENTE PARA CONCEDER A
AUTORIZAÇÃO NOMEARÁ INTERVENTOR COM PODERES PARA
REQUERER A MEDIDA [AO JUDICIÁRIO] E ADMINISTRAR A SOCIEDADE
ATÉ QUE SEJA NOMEADO O LIQUIDANTE”.
6. Dissolução judicial. Essa segunda modalidade de dissolução está disposta no art.
1.034, CC. Nessa hipótese, a sociedade dissolve-se por sentença. São causas de
dissolução judicial:
a. Anulação da constituição. Se a constituição da sociedade apresentar alguma
irregularidade, o Poder Judiciário pode anulá-la. Quanto ao prazo, conforme o
art. 45, parágrafo único, CC, “DECAI EM TRÊS ANOS O DIREITO DE ANULAR A
162

CONSTITUIÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO, POR DEFEITO DO ATO


RESPECTIVO, CONTADO O PRAZO DA PUBLICAÇÃO DE SUA INSCRIÇÃO NO REGISTRO”.
No Direito de Empresa, não há prazo específico para anulação de constituição
de sociedade, tendo de ser utilizado o prazo da Parte Geral.
i. Sociedade por ações. No caso das sociedades por ações, por
dissolverem-se por lei especial, o prazo é de 1 ano.
b. Exaurimento ou verificação da inexequibilidade do fim social. Qualquer
sócio pode requerer a liquidação da sociedade por incidência dessa causa de
dissolução judicial.
c. Decretação de insolvência ou falência. Essa causas não está prevista no rol do
art. 1.034, CC. No entanto, se a sociedade simples tiver sua insolvência
decretada, ou se a sociedade empresária tiver sua falência decretada, ela é
extinta, conforme o art. 1.044, CC.
7. Dissolução convencional ou contratual. Conforme o art. 1.035, CC, “O CONTRATO
PODE PREVER OUTRAS CAUSAS DE DISSOLUÇÃO, A SEREM VERIFICADAS JUDICIALMENTE
QUANDO CONTESTADAS”. A princípio essa liquidação é extrajudicial.
a. Contestação. No entanto, se algum sócio contestar a incidência da causa, sua
liquidação será judicial.
8. Liquidação do patrimônio da sociedade. Essa é a segunda e mais importante etapa
do procedimento dissolutório, ocorrendo após incidência de uma das três espécies de
causas dissolutórias. Aqui, não se liquida quota, mas o patrimônio da sociedade,
inclusive imaterial.
a. Procedimentos da liquidação. Nessa fase de liquidação, ocorrem, em suma,
quatro medidas, dispostas detalhadamente no art. 1.103, CC:
i. Apuração do ativo. Essa apuração é feita através de levantamento de
balanço especial,
ii. Pagamento do passivo. Os credores são pagos à medida em que os bens
da sociedade são liquidados;
iii. Partilha dos remanescentes.
iv. Prestação de contas.
b. Persistência da personalidade jurídica na liquidação. Conforme o art. 51, CC,
“NOS CASOS DE DISSOLUÇÃO DA PESSOA JURÍDICA OU CASSADA A AUTORIZAÇÃO
PARA SEU FUNCIONAMENTO, ELA SUBSISTIRÁ PARA OS FINS DE LIQUIDAÇÃO, ATÉ QUE
ESTA SE CONCLUA”. A sociedade em liquidação, portanto, permanece tendo sua
personalidade jurídica e capacidade processual, mas representada pelo
liquidante, não mais pelo administrador. Ele se torna o órgão da sociedade. A
SOCIEDADE EM LIQUIDAÇÃO, PORTANTO, NÃO SE TRANSFORMA EM SOCIEDADE EM
163

COMUM. Uma sociedade falida ou insolvente, da mesma maneira, ainda tem


personalidade jurídica.
c. Liquidante. O liquidante é aquele responsável por conduzir o procedimento
de liquidação e de representar judicialmente a sociedade em liquidação.
i. Investidura do liquidante. Conforme o art. 1.036, CC, “OCORRIDA A
DISSOLUÇÃO, CUMPRE AOS ADMINISTRADORES PROVIDENCIAR
IMEDIATAMENTE A INVESTIDURA DO LIQUIDANTE, E RESTRINGIR A GESTÃO
PRÓPRIA AOS NEGÓCIOS INADIÁVEIS, VEDADAS NOVAS OPERAÇÕES, PELAS
QUAIS RESPONDERÃO SOLIDÁRIA E ILIMITADAMENTE”.
ii. Encerramento das atividades. Conforme a norma, portanto, é defeso
que a sociedade em liquidação persiste em suas atividades. Caso ocorra,
a responsabilidade do administrador se torna ilimitada.
1. Intepretação teleológica. No entanto, é preciso ser feita
interpretação teleológica da norma, vez que não deve a sociedade
proceder nas suas operações, desde que não sirvam à facilitação do
procedimento de liquidação.
iii. Espécie de liquidação. Conforme o art. 1.036, parágrafo único, CC,
“DISSOLVIDA DE PLENO DIREITO A SOCIEDADE, PODE O SÓCIO REQUERER,
DESDE LOGO, A LIQUIDAÇÃO JUDICIAL”. Essa norma incide, naturalmente,
nos casos em que há divergência entre os sócios. No consenso entre os
sócios, a liquidação é extrajudicial, mormente quando incidente causa
dissolutória de pleno direito.
iv. Critérios de constituição do liquidante. Conforme o art. 1.038, CC, “SE
NÃO ESTIVER DESIGNADO NO CONTRATO SOCIAL, O LIQUIDANTE SERÁ ELEITO
POR DELIBERAÇÃO DOS SÓCIOS, PODENDO A ESCOLHA RECAIR EM PESSOA
ESTRANHA À SOCIEDADE”. Existem, portanto, três meios de constituição
de constituição do liquidante:
1. Contrato social. Ele pode estar previsto no contrato social.
2. Deliberação dos sócios. Não estando previsto no contrato social,
o liquidante é eleito por deliberação dos sócios, por quórum de
maioria absoluta.
a. Sócio ou não. Importante notar que o liquidante, nas
regras de dissolução da sociedade simples, não precisa
compor o quadro societário.
v. Destituição do liquidante. Conforme o art. 1.038, § 1º, CC:
§ 1 O liquidante pode ser destituído, a todo tempo:
o

I - se eleito pela forma prevista neste artigo, mediante deliberação dos sócios;
164

II - em qualquer caso, por via judicial, a requerimento de um ou mais sócios, ocorrendo justa causa.

d. Etapas do procedimento de liquidação. Conforme o art. 1.038, § 2º, CC, “A


LIQUIDAÇÃO DA SOCIEDADE SE PROCESSA DE CONFORMIDADE COM O DISPOSTO NO
CAPÍTULO IX, DESTE SUBTÍTULO”. As disposições materiais, portanto, estando
dispostas em capítulo distinto. Processo de liquidação. Direcionamento ao
Capítulo IX. Ainda, conforme o art. 1.102, CC, “DISSOLVIDA A SOCIEDADE E
NOMEADO O LIQUIDANTE NA FORMA DO DISPOSTO NESTE LIVRO, PROCEDE-SE À SUA
LIQUIDAÇÃO, DE CONFORMIDADE COM OS PRECEITOS DESTE CAPÍTULO, RESSALVADO
O DISPOSTO NO ATO CONSTITUTIVO OU NO INSTRUMENTO DA DISSOLUÇÃO”.
i. Averbação do liquidante. Conforme o art. 1.102, parágrafo único, CC, “O
LIQUIDANTE, QUE NÃO SEJA ADMINISTRADOR DA SOCIEDADE, INVESTIR-SE-Á
NAS FUNÇÕES, AVERBADA A SUA NOMEAÇÃO NO REGISTRO PRÓPRIO”. No
caso do liquidante administrador, ele está automaticamente investido
pelo contrato social.
ii. Princípio da veracidade do nome empresarial. Conforme o art. 1.013,
parágrafo único, CC, “EM TODOS OS ATOS, DOCUMENTOS OU PUBLICAÇÕES, O
LIQUIDANTE EMPREGARÁ A FIRMA OU DENOMINAÇÃO SOCIAL SEMPRE
SEGUIDA DA CLÁUSULA "EM LIQUIDAÇÃO" E DE SUA ASSINATURA
INDIVIDUAL, COM A DECLARAÇÃO DE SUA QUALIDADE”
iii. Deveres do liquidante. No procedimento de liquidação, em seguida
apresentados, o liquidante irá cumprir as disposições gerais de apuração
dos ativos, pagamento dos passivos, partilha dos remanescentes e
prestação de contas. Conforme o art. 1.103, CC, são deveres do
liquidante:
Art. 1.103. Constituem deveres do liquidante:

I - averbar e publicar a ata, sentença ou instrumento de dissolução da sociedade;

1. Cassação. A cassação de autorização de funcionamento é um


exemplo de instrumento de dissolução.
II - arrecadar os bens, livros e documentos da sociedade, onde quer que estejam;

III - proceder, nos quinze dias seguintes ao da sua investidura e com a assistência, sempre que possível, dos
administradores, à elaboração do inventário e do balanço geral do ativo e do passivo;

2. Balanço especial. Os documentos elaborados são, precisamente,


o balanço especial.
3. Confissão de falência e pedido de recuperação judicial. Nessa
etapa, conforme o art. 1.103, VII, pode o liquidante “CONFESSAR A
FALÊNCIA DA SOCIEDADE E PEDIR CONCORDATA, DE ACORDO COM AS
165

FORMALIDADES PRESCRITAS PARA O TIPO DE SOCIEDADE


LIQUIDANDA”. No entanto, as ações são alternativas, de forma que
ele pode confessar a falência ou pedir a concordata, nunca os dos
simultaneamente. Com efeito, falido não pode pedir recuperação
judicial.
IV - ultimar os negócios da sociedade, realizar o ativo, pagar o passivo e partilhar o remanescente entre os sócios
ou acionistas;

4. Ultimação dos negócios sociedade. “Ultimar” significa encerrar


os negócios da sociedade. Conforme o art. 1.105, CC, “COMPETE
AO LIQUIDANTE REPRESENTAR A SOCIEDADE E PRATICAR TODOS OS
ATOS NECESSÁRIOS À SUA LIQUIDAÇÃO, INCLUSIVE ALIENAR BENS
MÓVEIS OU IMÓVEIS, TRANSIGIR, RECEBER E DAR QUITAÇÃO”.
a. Vedações ao liquidante. Conforme o art. 1.105, parágrafo
único, CC, “SEM ESTAR EXPRESSAMENTE AUTORIZADO PELO
CONTRATO SOCIAL, OU PELO VOTO DA MAIORIA DOS SÓCIOS,
NÃO PODE O LIQUIDANTE GRAVAR DE ÔNUS REAIS OS MÓVEIS E
IMÓVEIS, CONTRAIR EMPRÉSTIMOS, SALVO QUANDO
INDISPENSÁVEIS AO PAGAMENTO DE OBRIGAÇÕES INADIÁVEIS,
NEM PROSSEGUIR, EMBORA PARA FACILITAR A LIQUIDAÇÃO, NA
ATIVIDADE SOCIAL”. O liquidante deve, portanto, vender os
bens imóveis, dando celeridade ao processo, salvo no caso
em que o grave é indispensável ao pagamento de
obrigações inadiáveis.
V - exigir dos quotistas, quando insuficiente o ativo à solução do passivo, a integralização de suas quotas e, se for o
caso, as quantias necessárias, nos limites da responsabilidade de cada um e proporcionalmente à respectiva
participação nas perdas, repartindo-se, entre os sócios solventes e na mesma proporção, o devido pelo
insolvente;

5. Integralização das quotas. A integralização das quotas só é


exigida nos casos em que o ativo não é suficiente.
VI - convocar assembleia dos quotistas, cada seis meses, para apresentar relatório e balanço do estado da
liquidação, prestando conta dos atos praticados durante o semestre, ou sempre que necessário;

6. Prestação de contas. Nesse inciso, iniciam os deveres de


prestação de contas do liquidante, especificamente o dever de
prestação de contas periódica.
VIII - finda a liquidação, apresentar aos sócios o relatório da liquidação e as suas contas finais;

7. Prestação de contas final. Essa etapa é obrigatória para o


liquidante, marcando o fim da liquidação.
166

a. Prazo de liquidação. O procedimento de liquidação não


possui um prazo máximo, conforme a lei, que indica
apenas a necessidade de celeridade. O contrato social, no
entanto, pode indicar um limite.
8. Assembleia de encerramento da liquidação. Conforme o art.
1.108, CC, “PAGO O PASSIVO E PARTILHADO O REMANESCENTE,
CONVOCARÁ O LIQUIDANTE ASSEMBLEIA DOS SÓCIOS PARA A
PRESTAÇÃO FINAL DE CONTAS”. Nessa assembleia, é feita a
prestação de contas final.
IX - averbar a ata da reunião ou da assembleia, ou o instrumento firmado pelos sócios, que considerar encerrada
a liquidação.

9. Averbação da ata de encerramento da liquidação. Conforme o


art. 1.109, CC, “APROVADAS AS CONTAS, ENCERRA-SE A LIQUIDAÇÃO,
E A SOCIEDADE SE EXTINGUE, AO SER AVERBADA NO REGISTRO PRÓPRIO
A ATA DA ASSEMBLEIA”.
9. Extinção da sociedade. No procedimento de dissolução da sociedade, ela não se
extingue com a assembleia de encerramento da liquidação, mas com a baixa do
registro, feita mediante averbação da ata no registro próprio. Com a assembleia de
encerramento da liquidação, ocorre a extinção de fato, enquanto, com a averbação,
ocorre a extinção de direito.
10. Equiparação entre as normas da administração e do liquidante. Conforme o art.
1.104, CC, “AS OBRIGAÇÕES E A RESPONSABILIDADE DO LIQUIDANTE REGEM-SE PELOS
PRECEITOS PECULIARES ÀS DOS ADMINISTRADORES DA SOCIEDADE LIQUIDANDA”. Dessa
forma, aplicam-se o deveres do art. 1.011, CC, bem como as mesmas causas de
impedimento à administração.
11. Pagamento das dívidas sociais. Conforme o art. 1.106, CC, “RESPEITADOS OS DIREITOS
DOS CREDORES PREFERENCIAIS, PAGARÁ O LIQUIDANTE AS DÍVIDAS SOCIAIS
PROPORCIONALMENTE, SEM DISTINÇÃO ENTRE VENCIDAS E VINCENDAS, MAS, EM RELAÇÃO A
ESTAS, COM DESCONTO”. O liquidante, portanto, pagará mesmo as dívidas que não
venceram; no entanto, com abatimento no pagamento. Essa regência visa a dar
celeridade ao procedimento.
12. Partilha dos remanescentes. Conforme o art. 1.107, CC, “OS SÓCIOS PODEM RESOLVER,
POR MAIORIA DE VOTOS, ANTES DE ULTIMADA A LIQUIDAÇÃO, MAS DEPOIS DE PAGOS OS
CREDORES, QUE O LIQUIDANTE FAÇA RATEIOS POR ANTECIPAÇÃO DA PARTILHA, À MEDIDA
EM QUE SE APUREM OS HAVERES SOCIAIS”. Esse procedimento de partilha somente ocorrerá
depois de pagos os credores.
167

a. Oposição de sócio. Conforme o art. 1.109, parágrafo único, CC, “O DISSIDENTE


TEM O PRAZO DE TRINTA DIAS, A CONTAR DA PUBLICAÇÃO DA ATA, DEVIDAMENTE
AVERBADA, PARA PROMOVER A AÇÃO QUE COUBER”. Se o sócio se sentir lesado na
distribuição dos remanescentes, portanto, ele pode reclamar judicialmente uma
solução diversa.
13. Credor não satisfeito. Conforme o art. 1.110, CC, “ENCERRADA A LIQUIDAÇÃO, O
CREDOR NÃO SATISFEITO SÓ TERÁ DIREITO A EXIGIR DOS SÓCIOS, INDIVIDUALMENTE, O
PAGAMENTO DO SEU CRÉDITO, ATÉ O LIMITE DA SOMA POR ELES RECEBIDA EM PARTILHA, E A
PROPOR CONTRA O LIQUIDANTE AÇÃO DE PERDAS E DANOS”. O credor, portanto, encerrada
a liquidação, não pode entrar nos bens pessoais dos sócios, inexistindo, também, possibilidade
cobrança em solidariedade, apenas individualmente. Ele só pode cobrar até o limite da soma
adquirida em partilha e por cobrança individual. Alternativamente, pode o credor
propor, também, uma ação indenizatória contra o liquidante, de responsabilidade
ilimitada. O prazo dessas duas ações é de um ano, conforme o art. 206, § 1º, V, CC.
São duas ações que podem ser propostas, portanto, em face do credor lesado:
a. Ação de cobrança. Pode ser proposta até o limite da partilha e individualmente,
nunca em solidariedade;
b. Ação de indenização. Pode ser proposta contra o liquidante, de
responsabilidade ilimitada.
14. Liquidação judicial. Os arts. 1.111 e 1.112, CC, tratam da liquidação judicial. Essa
liquidação se dá de três formas:
a. Falência. No caso de falência, a liquidação será judicial, com base na Lei
11.101/05;
b. Insolvência. No caso de insolvência da sociedade simples, observa-se o
Código de Processo Civil de 1973.
c. Outras hipóteses. Nos demais casos, o procedimento aplicável é o
procedimento comum, com as peculiaridades da legislação material.
i. Explicação. O Código de Processo Civil de 2015 não trata mais da
liquidação judicial. No entanto, dispõe o art. 1.111, CC, que “NO CASO DE
LIQUIDAÇÃO JUDICIAL, SERÁ OBSERVADO O DISPOSTO NA LEI PROCESSUAL”. O
Código Civil de 2002, de fato, foi promulgado na vigência do antigo
Código de Processo de 1973. Quanto à falência, sobreveio legislação
especial. Quanto à insolvência, permanecem em vigor as disposições do
antigo Código de Processo. Quanto aos demais casos, pelo comando da
norma mencionada, aplica-se o procedimento comum.
168

SISTEMATIZAÇÕES

1 EXCEÇÕES QUANTO ÀS CLASSIFICAÇÕES DE SOCIEDADES

Quanto ao
Sociedade Rural
Objeto

Divisão do Sociedade
Capital Cooperativa

Variabildiade do Sociedade
Classificações da
Capital Cooperativa
Sociedade

Sociedade
Simples do Tipo
Simples
Tipos Livres
Sociedade
Responsabilidade Cooperativa
dos Sócios

Sociedade em
Tipos Híbridos
Comandita

1. Sociedade rural. Essa espécies de sociedade tem seu regime jurídico condicionado
pelo seu registro ou não na Junta Comercial. Não havendo registro, o regime jurídico
é simples, com as normas da sociedade simples. No caso de registro na Junta
Comercial, o regime jurídico e empresarial;
2. Sociedade cooperativa. Diferentemente das demais sociedades, a sociedade
cooperativa tem capital variável. Além disso, seu capital, apesar de ser dividido em
quotas, não permite que seu regime jurídico seja empresário ou simples,
alternativamente. Independentemente do objeto, seu regime jurídico nunca é empresarial.
Por fim, a sociedade cooperativa é um tipo livre quanto à responsabilidade dos sócios,
podendo os sócios escolherem entre a responsabilidade limitada ou ilimitada, mas em
bloco;
3. Sociedade simples do tipo simples. Os sócios dessa espécie societária podem escolher
entre a responsabilidade limitada ou ilimitada – tipo livre –, mas em bloco;
4. Sociedade em comandita. Nesse tipo societário, há duas categorias de sócios,
representados pelo comanditários e comanditados.
169

2 CAUSAS DE TRANSFORMAÇÃO DA RESPONSABILIDADE LIMITADA EM


ILIMITADA

Prática de Atos de
Sociedade em
Gestão e Uso do
Comandita Simples
Nome na Firma Social

Incidência de Deliberação
Responsabilidade Sociedade Limitada Infingente do
Ilimitada Contrato ou da Lei

EIRELI Fraude

1. Sociedade em comandita simples. Nesse tipo societário, se o comanditário infringir


qualquer uma de suas vedações, isto é, praticar atos de gestão ou usar seu nome na
firma, sua responsabilidade ante as obrigações sociais se torna ilimitada, apesar de, em
regra, responderem limitadamente;
2. Sociedade limitada. No casos de os sócios deliberarem, em convocação, conteúdo
infringente do contrato social ou da lei, passam a responder ilimitadamente;
3. EIRELI. Nessa espécie de pessoa jurídica, se houver fraude na sua atuação, não há
mais garantia do sócio de autonomia patrimonial.

3 SOCIEDADES PERMISSIVA QUANTO AOS SÓCIOS DE SERVIÇOS

Sociedades
Cooperativas
Permissão
Sociedade
Simples

EIRELI

Contribuição
em Serviços Vedação Sociedade
Expressa Limitada
Sociedade em
Nome
Coletivo
Vedação Sociedades
Genérica Empresárias
170

1. Regra geral. Em rega, as sociedades empresárias não permitem a contribuição em


serviços, apenas adicionalmente.
2. Sociedade limitada e sociedade em nome coletivo. Na sociedade limitada, há
vedação expressa quanto à possibilidade de sócios de serviços. Na sociedade em nome
coletivo, não pode haver sócio de serviços em virtude de a responsabilidade de todos
os sócios ser ilimitada;
3. EIRELI. Como a EIRELI requer integralização do capital social e é composta apenas
de um sócio, naturalmente, não há sócios de serviço;
4. Sociedade simples. A sociedade simples do tipo simples permite o sócio de serviços;
no entanto, nunca pode ser composta apenas por essa espécie de sócio, posto que requer capital
social;
5. Sociedade cooperativa. Esse tipo societário pode ser composto unicamente de sócios
de serviços, posto que há dispensa do capital social.

4 EXECUÇÃO DE SÓCIO POR CREDOR PARTICULAR

Ordem de Execução:

Suficiência dos Bens


Processo de Execução de Execução dos Bens do Suficiência dos Bens e dos
Sócio por Credor Particular Devedor Lucros
Execução dos Lucros
Decorrentes da Quota
Execução da Liquidação das
Quotas

Processo de Liquidação:

Insuficiência Levantamento Exercício do


Apuração da Liquidação da
dos Bens e dos de Balanço Direito de
Quota Quota
Lucros da Quota Especial Preferência

• Data de Resolução •Requisito do Código •Pagamento dos


(art. 605, CPC) Civil Credores Particular
171

5 SOCIEDADES UNIPESSOAIS

Sociedades Unipessoais Temporárias (art. 1.033, IV, CC)


• Regral geral. Em regra, qualquer tipo societário, quando, por qualquer causa, se
torna unipessoal, pode assim permanecer temporariamente, por cento e oitenta dias.
• Sociedades em comandita. Nesse tipo societário, tanto na modalidade simples
como por ações, não há possibilidade, em hipótese alguma, de unipessoalidade.
Esse tipo societário requer, sempre, duas categorias de sócios.

Sociedade Subsidiária Integral


• Conceito. Em 1976, a Lei 6.404/66 [Lei das Sociedades Anônimas] admitiu a
possibilidade de uma sociedade brasileira se constituir sob o tipo de sociedade
anônima, por meio de escritura pública, no qual todo seu capital é detido por ela
mesma, isto é, trata-se de sociedade unipessoal. Esse tipo de sociedade é
denominado sociedade subsidiária integral.

Empresas Públicas
• Conceito. A Empresa Pública, sabidamente, integra a Administração Pública
Indireta. Ela foi conceituada em 1967 como uma entidade dotada de personalidade
jurídica de direito privado em que a totalidade de seu capital pertence a uma única
pessoa jurídica de direito público. Evidentemente, essa empresa não surge de um
contrato, mas de Lei.

Sociedade Limitada Unipessoal


•Permissão legislativa. Conforme o art. 1.052, parágrafo único, CC, “a sociedade
limitada pode ser constituída por uma ou mais pessoas, hipótese em que se
aplicarão ao documento de constituição do sócio único, no que couber, as
disposições sobre o contrato social”. Essa norma pode caducar, pois foi
promovida por Medida Provisória. Essa norma possibilita, portanto, a
constituição de sociedade limitada por apenas uma pessoa. Caso a Medida
Provisória caia, ela será constituída, novamente, por pluripessoalidade em
sua essência. Atualmente, há, então, essa permissão de constituição da
sociedade limitada por ato unilateral de vontade, além da possibilidade de
constituição por contrato.
EIRELI
•Natureza jurídica. Inicialmente, a EIRELI tinha natureza de sociedade unipessoal,
isto é, seria um novo tipo societário. No entanto, posteriormente, ela se
transformou em nova espécie de pessoa jurídica. Esse ponto é polêmico, posto que
alguns doutrinadores entendem que se trata de tipo societário.
•Espécies de pessoas admitidas. A EIRELI pode ser instituída tanto por pessoas
física quanto jurídicas.
172

QUADRO COMPARATIVO DOS TIPOS SOCIETÁRIOS

Em Em
Tipos Societários Em Conta de Em Nome
Em Comum Simples Comandita Comandita Limitada Anônima Cooperativa
Critérios Participação Coletivo
Simples Por Ações

Personificação Despersonificada Despersonificada Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada Personificada

Físicas e Físicas ou Físicas ou Físicas ou Físicas ou


Pessoas Físicas Físicas Físicas --- 5
Jurídicas 2 Jurídicas 3 Jurídicas 4 Jurídicas Jurídicas 6

Divisão do Quotas ou
X X Quotas Quotas Quotas Ações Quotas Ações
Capital Social Dispensa

Variabilidade do
X X Fixo Fixo Fixo Fixo Fixo Fixo Variável
Capital

Responsabilidade Ilimitada e Ilimitada ou Ilimitada e Ilimitada e Ilimitada ou


Ilimitada Ilimitada Limitada ---
dos Sócios Limitada Limitada Limitada Limitada Limitada

Sócio de Serviços X X Sim Não Variável Não Não Não Sim

2
Nenhum tipo societário pode ser composto apenas de pessoas jurídicas, posto que o administrador é elemento imprescindível no exercício da empresa, cargo que só
pode ser ocupado por pessoas naturais.
3
Na sociedade em comandita simples, o comanditário pode ser pessoa física ou jurídica; no entanto, o comanditado só pode ser pessoa física.
4
O acionista diretor, como ocupa o cargo da administração, somente pode ser pessoa físicas. O acionista simples, porém, pode ser pessoa física ou jurídica.
5
Matéria de Direito Comercial II.
6
Na sociedade cooperativa, a admissão de pessoas jurídicas é excepcional, de forma que requer objeto social condizente com o da sociedade ou que não tenha fins
lucrativos.
173

Em Em
Tipos Societários Em Conta de Em Nome
Em Comum Simples Comandita Comandita Limitada Anônima Cooperativa
Critérios Participação Coletivo
Simples Por Ações

Regime Jurídico Variável Variável Simples Variável Variável Empresário Variável Empresário Simples

Normas da Lei das


Normas da Sociedade Sociedades
Normas de Normas de Normas de Lei das
Regência Sociedade em Simples ou Cooperativas
Sociedade Sociedade X Sociedade Sociedades ---
Subsidiária Nome Normas das e Normas da
Simples Simples Simples Anônimas
Coletivo Sociedades Sociedade
Anônimas 7 Simples

Nome Firma ou Firma ou Firma ou


X X X Firma Firma Denominação
Empresarial Denominação Denominação Denominação

“Em “Sociedade
“Companhia” “Limitada”
Aditivo X X X X8 Comandita Anônima” ou “Cooperativa”
ou “Cia.” ou “Ltda.”
por Ações” “S.A.”

7
Na sociedade limitada, a presunção é de regência subsidiária pelas normas da sociedade simples. Só há regência supletiva pelas normas da sociedade anônima se nesse
sentido dispõe o contrato social.
8
Na firma social, figuram todos os sócios com responsabilidade ilimitada, conforme o art. 1.157, CC. Como, na sociedade em nome coletivo, todos os sócios têm
responsabilidade ilimitada, todos figuram na firma social.

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