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eer el TTP d mbro D e agi iC: A indisponibilidade de bens privados como ato de. constricdo judicial e seu acesso ao registro imobilidrio Eduardo Pacheco Ribeiro de Souza* Palestra proferida no | Simpésio Luso-brasilero de Direito Registral, no dia 21 de setembro de 2006, no auditério do Sheraton Porto Alegre Hotel. O texto publicado aqui foi gentilmente cedido pelo palestrante/autor. Definicao de indisponibilidadé:: 2. A legalidade da restricao ‘ 3. Previsdes de indisponibilidade 4. O decreto judicial e seu acesso ao registro imobilidrio 5. Efeitos decorrentes da indisponibilidade 6. Efeitos decorrentes da indisponibilidade judicial 1, Definigao de indisponibilidade {A proptiedade plena confere a seu titular 0 poder de usar, gozar e dispor da coisa, bem como de reivindicéla de quem injustamente a detiver. O direito de proptiedade compreende, portanto, 0 so, goz0 e disposi¢ao da coisa: ius ute: di fruendi et abutendi.O poder de dispor representa a possiilidade de alienacao da coisa por qualquer de suas formas. 0s Cédigos Civis de 2002 e de 1916 dispoem que “o proprietéri tem a facul dade de usar, gozar e dispor da coisa, € © dliteito de reavé-la do poder de quem Quer que njustamente a possua ou dete- nha” (art. 1.228, caput) No dizer de Caio Mario da Siva Pereira direito de dispor “é a mas viva expresséo dominial, pela maior largueza que espelhat.! Nao obstante tratar-se de atributo mais revelador do direito de propriedade, o poder de dispor pode sofre resti- «bes legals, vluntarias, administrativas ou judicas As inalienabilidades decorrentes dos atos de vontade consister na insttuigéo do bem de fama ena imposicao da cléusula respectiva aos atos de liberalidade, por testamento (ou doacdo (ar.1.911, CO). © dlspositivo legal citado esta- boelece que a inalienabilidade implica impenhorabiidade e incomunicabilidade, trazendo para a sear legislativa o que ji estava assentado na jursprudéncia, no verbete 49 da stimula do Supremo Tribunal Federal. A indisponibilidade decorrente de ato de lberalidade afeta, como se ve, tanto a disposicao \oluntéria como a forgada A instituigao do bem de familia acessa 0 folio real por ato de registro em sentido estrito (at-167, 1, lei 6015), ea clusula de inalienabitdade ~ temporaria ou vitalicia -, por ato de averbacdo(ar.167, I, 11, da mesma le) Pode a inalie- “A instituigao do bem de familia acessa 0 folio real por ato de registro e a clausula de inalienabilidade - temporaria ou vitalicia por ato de averbacao.” nabilidade ser temporéra ou vitalcia A faculdade de dispor pode ser sub- traida ainda por determinacio legal, administrativa ou judicial, da qual decorrem os atos de constrigao judicial, | examinados em sequida, Ha discussbes | sobre esse assunto, notadamente sobre | a possibilidade de 0 magistrado decidir pela indisponibilidade sem amparo em espectica previsso legal fm apertada_sintese, indisponibil- dade € a testrigdo a0 poder de dispor da coisa, 0 que impede por qualquer forma sua alienagdo ou oneragao. Poderd ser temporéria ou vitalicia, se se cuidar de inalienabilidade por atos de vontade. Se legal, administrativa ou judicial, seré essencialmente proviséria, uma vez que ‘no constitul um fim em si mesma, Em qualquer caso, nao seré absoluta No obstante a inaienabiidade e a indisponibiidade signifiquem restricfo ao poder de dispor da coisa, em principio o temo inalenabildade ¢ usado para a restigbes decorrentes de atos de vontade, 30 passo que termo indisponibilidade, para se reer as estrigbes impostas pel lei ou em razdo de atos administrativos ou jurisicionas Diferenga relevante assenta na fnalidade. Enquanto nos ‘tos de vontade 0 que se busca alcangar com a restrigio & 2 protecio do beneficisrio da cléusula ~ daquele que fica impedido de dispor -, nos demais atos, o objetivo, em princl- pio, &efetivar as decisdes administrativase jurisdicionais em desfavor de quem tenha alcancado seu poder de disposicao. A titulo de ilustracdo, pois estamos a tratar de bens pattculaes,registre-se que os bens puiblicos de uso comum do povo e os de uso especial so inaliendveis por disposigao legal, enquanto conservarem sua qualificagao (at. 100, CO). A alienacdo de bens piblicos dominias depende da observin- cla de exigéncias egais (art. 101, CC) 1 PEREIRA Caio Mario da Sia. nts de dito civil, 7.2, ode nei: Forense, 1986, vl SETEMBRO | OUTUBRO | 2006 i Porto Alegre CePA el rocielfe) —e Edicao especial 2. Alegalidade da restri¢ao judicial Negar ao proprietirio a possibilidade de dispor do bem restringindo-the, portanto, 0 exerccio do direito de proprie- dade, caracteriza medida de excecdo, que deve ser utilizada com critéio, Até mesmo quanto 8s restricbes voluntérias © legislador inovou, no Cédigo Civil de 2002, 20 impedir 0 testador de estabelecercléusula de inalienabilidade sobre os bens da legitima, salvo por justa causa (art. 1.848, copu contrario sensu, nao ha proibicao de imposigao da quanto aos bens integrantes da metade disponivel A medida deve restringi-se as hip6teses estrtamente necessaias € ndo fere 0 dieito de propriedade, desde que aplicada com observancia do devido processo legal. 0 exer- cicio do direito de propriedade sofrerestrigdes vias, como a de natureza urbanistica, ambiental, por exemplo, especial mente porque a propriedade atenderé a sua fungi social (arte, Xitl, CF), ndo estando afastada a possibiidade de rada provisoria da faculdade de disposicao do bem. A leitura isolada do inciso XXII do artigo quinto da Carta Magna pade levar 3 agodada concluséo de que o legislador consttuinte garantiu direito de propriedade sem qualquer possibilidade de restric. Mas, dentre 0s demais incisos do proprio artigo quinto, tencontramos elementos que apontam em sentido diverso. 0 inciso XXII reza que a propriedade atenderé sua fungao social; 0 XXIV permite a desapropriagio; a alinea "b do inciso XLVI permite a adocao da pena de perda de bens, pela egislagdo infraconstitucional e o inciso LV autoriza a privacdo dos bens, desde que observado 0 devido proceso legal Considerando ainda que o inciso XXXY do referido artigo ‘quinto assequra o acesso ao poder Judicirio para que apre- ciea lesdo ou a ameaca ao direto, parece-nos que o decreto de indisponibilidade de bens, generalizada ou individuada, rndo malfere a Constituigdo, desde que assegute ao titular do direito 0 devido processo legal, com contraditério e ampla defesa Saiente-se que o pardgrafo quarto do artigo 37 do a sua 2 HELENA, EberZoehler Sante indsponbilid de bens como medida Disponive! em: Disponve em:

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