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Material Caso Tributário Sentença Construída
Material Caso Tributário Sentença Construída
II) FUNDAMENTAÇÃO
A) DAS PRELIMINARES
3) Do Valor da Causa
Verifico que a parte autora atribuiu à causa o valor de R$ 50.000,00 (cinquenta
mil reais) por entender que a dívida é cobrada de três sócios e, assim, cada um deveria
arcar com um terço do montante global.
No entanto, observa-se que o fundamento legal para que os sócios respondam
pela dívida em cobro é o artigo 135 do Código Tributário Nacional (CTN) que, a despeito
da sua literalidade explicitar uma responsabilidade pessoal, a jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça entende que se trata de uma responsabilidade solidária entre os
administradores e a empresa devedora originária.
Nessa toada, na responsabilidade solidária, a dívida toda pode ser cobrada de um
dos devedores solidários, competindo a esse, posteriormente, promover a ação de
regresso em face dos demais devedores, conforme preceitua o Código Civil.
Nada obstante, ainda que se perfilhasse o entendimento da responsabilidade
pessoal, não há discussão que em relação aos administradores da empresa a dívida é
cobrada de modo solidário, razão pela qual o proveito econômico que a parte autora
pretende com essa demanda é o valor integral da dívida, qual seja R$ 150.000,00 (cento e
cinquenta mil reais).
Assim, considerando que a parte autora é cobrada por toda a dívida e que
eventual desconstituição do título executivo pelos argumentos tecidos na inicial –
inexigibilidade do título, compensação, decadência, prescrição – implicam num proveito
econômico do valor global da dívida, forte no artigo 292, § 3º, do Código de Processo Civil
(CPC), corrijo, de ofício, o valor da causa para R$ 150.000,00 (cento e cinquenta mil reais).
Destaco que não se faz necessária complementação de custas, uma vez que os
embargos à execução fiscal são isentos de custas conforme a Lei Federal nº 9.289/96.
4) Da falta de Legitimidade da Parte Autora para Pleitear Direito de Clara Solar
A Embargante aduz pela ilegitimidade da codevedora Clara Solar, pois a referida
pessoa não exercia o objeto social da empresa, sendo que a administração da sociedade
era exercida pelo codevedor Plutão Oliveira.
Observa-se que Clara Solar não é parte nessa demanda, razão pela qual a parte
autora pretende atuar em legitimação extraordinária, o que não comporta o caso.
Nesse sentido, o artigo 18 do CPC explicita que ninguém poderá pleitear direito
alheio em nome próprio senão quando autorizado por lei e, no vertente caso, não verifico
qualquer das hipóteses de substituição processual permitida pela legislação.
Frise-se que não se cuida de matéria que pode ser alegada por qualquer dos
devedores solidários e que a todos aproveita, mas, trata-se de tema – legitimidade passiva
– que apenas aproveita ao próprio devedor e que, portanto, deve ser por ele alegada.
Desse modo, não conheço da alegação de ilegitimidade passiva da codevedora
Clara Solar, uma vez que a parte embargante não possui legitimidade para esse pedido na
demanda.
B) DO MÉRITO
2) Da Inexistência de Decadência
A Embargante aduz que, acaso o crédito tributário em foco não esteja extinto
pela compensação, estaria extinto pela decadência, uma vez que a dívida data de mais de
doze anos.
Além disso, sustenta que o crédito tributário nunca foi constituído, pois não
houve qualquer notificação do auto de infração recebida pela empresa.
O argumento não pode acolhido, na medida em que o crédito tributário restou
constituído e fora lançado pelo próprio contribuinte em lançamento por homologação.
Nesse sentir, conforme explicita a Fazenda Nacional em sua impugnação, a dívida
em cobrança no processo executivo a que esse feito está apensado restou declarada pela
empresa devedora, com a apresentação de DCTF.
Frise-se, consoante acima ressaltado, que, no lançamento por homologação, a
apresentação de declaração por parte do contribuinte constitui o crédito tributário, não
necessitando qualquer outra conduta do Fisco, orientação, inclusive, estampada em
entendimento sumulado do Superior Tribunal de Justiça.
Destarte, tendo havido o lançamento do crédito tributário pela empresa
devedora, não havia necessidade de novo lançamento por parte do Fisco, razão pela qual
este não ocorreu e, consequentemente, também não houve a notificação ao sujeito
passivo.
Outrossim, cabe pontuar que a União Federal informa que a declaração (DCTF) foi
entregue ao Fisco em 10/06/2010, o que permite concluir que não houve a decadência,
nos termos do artigo 150, § 4º, do CTN.
Nessa linha de raciocínio, o tributo em cobro, imposto de renda da pessoa jurídica
de base de cálculo lucro real e com apuração anual, constitui um tributo cujo fato gerador
é complexivo, é dizer, ocorre ao longo de certo período de tempo, que, no caso concreto,
por ser apuração anual, o lapso temporal compreende um ano.
Assim, no âmbito do aspecto temporal da obrigação tributária, o fato gerador
tem-se como ocorrido em 31 de dezembro. Logo, para o vertente caso, o fato gerador do
gravame em cobro ocorreu em 31/12/2005.
Diante disso e considerando que o imposto de renda é tributo sujeito a
lançamento por homologação, a regra incidente ao caso é a do artigo 150, § 4º do CTN,
que explicita que o crédito tributário deverá ser lançado em até cinco anos do fato
gerador, sob pena de decadência.
Verifica-se, pois, que o contribuinte tinha até 31/12/2010 para realizar o
lançamento do crédito tributário.
Nada obstante, conforme relatado, a declaração constituindo o crédito tributário
foi entregue em 10/06/2010, portanto antes do escoamento do prazo decadencial e,
assim, não há falar em decadência do tributo em tela.
Portanto, improcede a alegação da parte autora.
3) Da Inocorrência de Prescrição
A parte autora argumenta que, não havendo a extinção da dívida pela
decadência, teria havido pela prescrição, uma vez que os fatos geradores são de 2005, a
ação foi ajuizada em 10/04/2015 e a tentativa de citação da devedora originária ocorreu
em 20/06/2015.
A embargada alega que não se pode falar em prescrição da exação em comento,
pois o prazo prescricional apenas se iniciou com a não homologação do pedido de
compensação pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, sendo que antes desse período
a dívida estava extinta sob condição resolutória.
Conforme exposto em tópico acima, o crédito em cobro no processo executivo a
que esse feito está apensado não resta extinto por compensação, uma vez que o Fisco
manifestou-se antes do decurso do quinquênio explicitado no artigo 74, § 5º, da Lei
Federal nº 9.430/96, pela não homologação integral do pedido de compensação da
empresa Puxado LTDA., haja vista a insuficiência de créditos para compensar com seus
débitos.
É cediço, também, que a compensação declarada a Secretaria da Receita Federal
do Brasil extingue o crédito tributário sob condição resolutória, nos termos do que se
apreende do artigo 74, § 2º, da Lei Federal nº 9.430/96.
Portanto, até a manifestação do Fisco em 10/01/2015 e notificado ao
contribuinte em 15/01/2015, o crédito tributário estava extinto sob condição resolutória,
é dizer, não podia ser cobrado na medida em que estava extinto.
Somente com a não homologação da compensação pelo Fisco federal é que
nasceu ao próprio Fisco a possibilidade de cobrança de crédito tributário, haja vista a
insuficiência de crédito por parte do contribuinte no encontro de contas para realizar a
compensação.
Nessa toada, considerando o princípio da actio nata, que estabelece que a
prescrição inicia-se com o nascimento da pretensão, a pretensão da Fazenda Nacional de
ter o seu crédito adimplido apenas surgiu com a verificação que o contribuinte não
detinha créditos suficientes para adimplir seus débitos, razão pela qual ainda existia
crédito tributário a ser exigido.
Assim, tendo o contribuinte sido notificado da não homologação da compensação
em 15/01/2015 poderia, no trintídio subsequente e conforme o artigo 74, § 7º, da Lei
Federal nº 9.430/96, apresentar manifestação de inconformidade ou pagar o tributo,
tendo, contudo, restado inerte, nos termos do que afirma a Fazenda Nacional em sua
impugnação.
Nessa linha, em 15/02/2015 surgiu a possibilidade da União Federal em cobrar o
crédito tributário referente ao imposto de renda do ano de 2005, sendo esse o termo
inicial do prazo prescricional do crédito tributário em comento.
Frise-se que, desde o momento em que nasceu o crédito tributário com o
lançamento, o prazo prescricional nunca teve curso, pois, como dito, houve a sua
declaração como extinto sob condição resolutória.
Ademais, houve o despacho citatório que interrompe o prazo prescricional
prolatado em 15/04/2015, nos termos do artigo 174, parágrafo único, inciso I, do CTN.
Saliente-se, também, que o despacho que determina a citação interrompe a
prescrição e retroage à data da propositura da demanda, conforme preceitua o artigo 240,
§ 1º, do CPC e entendimento do Superior Tribunal de Justiça.
Desse modo, o prazo prescricional que teve início em 15/02/2015, restou
interrompido em 10/04/2015, não havendo que se falar, portanto, em prescrição.
Afasto, contudo, a argumentação da Fazenda Nacional de que a inscrição do
crédito tributário em Dívida Ativa da União suspende o curso do prazo prescricional por
até cento e oitenta dias.
Essa orientação justifica-se, pois o artigo 146, inciso III, alínea b, da Constituição
Federal preceitua que o tema da prescrição para crédito tributário apenas pode ser
tratado por lei complementar.
A suspensão da prescrição pela inscrição do crédito tributário em Dívida Ativa, no
entanto, é veiculada pelo artigo 2º, § 3º, da Lei Federal nº 6.830/80, a qual é lei ordinária
e, desse modo, não pode cuidar desse tema.
Dessa maneira, referido dispositivo legal não tem incidência para o crédito
tributário, sob pena de inconstitucionalidade, tendo aplicação somente para o crédito não
tributário que também é inscrito em Dívida Ativa.
Nada obstante, nos termos do exposto, não há falar em prescrição do crédito
tributário em cobrança, razão pela qual não acolho a alegação da parte embargante.
III) DISPOSITIVO
Custas não são devidas, haja vista a isenção da Lei Federal nº 9.289/96.
Sentença não sujeita ao reexame necessários, por não ter havido julgamento
desfavorável à União Federal (artigo 496, caput, do CPC).
Com o trânsito em julgado, traslade-se cópia desta sentença para os autos da
Ação de Execução Fiscal apensa.
Registre-se. Publique-se. Intimem-se.
Local e data.
Juiz Federal Substituto