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GRANDE LOJA MAÇÔNICA DE MINAS GERAIS

LOJA MAÇÔNICA PAZ E TRABALHO Nº 17

O ESOTERISMO NA RITUALÍSTICA MAÇÔNICA

Antônio Egg Resende – Orador

Esta peça arquitetônica é praticamente uma síntese da obra de mesmo título, de autoria
do Irmão Eduardo Carvalho Monteiro, da Grande Loja Maçônica do Estado de São Paulo.
Ao cumprir missão imposta pelo nosso Venerável Mestre, optei por este tema, porque
ministrar instrução sobre os símbolos que norteiam a Maçonaria constitui um dos
encargos do Orador.
Faço-o com muita satisfação, esperando que essa se estenda a todos os Irmãos, pela
sensação de estarmos, juntos, haurindo novos conhecimentos maçônicos.

Meus Irmãos,
Nas escolas de Mistérios, como a Maçonaria, as pessoas são admitidas por iniciação.
O Maçom iniciado abre a porta para seu mundo interno e dirige para seu coração a
compreensão de um mundo superior.
Então, o iniciado se coloca em comunhão com a Força Maior e submete seu coração à
chama Eterna da Sabedoria.
Precisamos, pois, entender a Maçonaria como uma incessante busca interior e não a
Maçonaria das aparências, dos ágapes, da volubilidade, de mera convivência social.
Infelizmente, muitos de nós não viajamos para o interior de nós mesmos, mas procuramos
nos satisfazer com os adornos e paramentos frívolos de graus exteriores.
O ritual maçônico, praticado com sacralidade e conhecimento, movimenta um potencial
energético elevadíssimo, compondo uma clara relação simbólica homem - templo -
universo. Edificando justo e perfeito nosso Templo Interior colaboramos na obra de
criação do Templo Universal, aderindo, dessa maneira, à Grande Obra ou Arte Real,
ensinada e transmitida pelos iniciados na Tradição.
Um ritual pode ser definido como um cerimonial compreendendo gestos, palavras,
atitudes e dramaturgia respondendo a necessidades essenciais.
E não nos basta lermos o texto frio dos rituais, pois os ensinamentos ocultos, invisíveis,
esotéricos estão na leitura das suas entrelinhas, onde estão conhecimentos novos,
sempre possíveis de se obter, a cada releitura.
Para haurirmos os benefícios de uma cerimônia maçônica, intrinsecamente mágica, a
solenidade e a seriedade devem ser assumidas já na Sala dos Passos Perdidos, quando,
antes da entrada Ritualística no Templo, o Mestre de Cerimônias faz uma breve preleção,
convidando a todos a que se entreguem a uma meditação, a fim de deixarem para trás, os
problemas do mundo profano de onde provêm. Infelizmente, contudo, por não dispormos
de tal espaço, junto às Lojas que se reúnem no Palácio Maçônico, essa parte da
ritualística fica prejudicada. Mas, no início das sessões de nossa Loja, temos a prática da
saudável invocação ao GADU, que visa exatamente atingir-se esse rompimento entre as
condições mentais e espirituais em que estávamos envolvidos e as necessárias ao bom
desenvolvimento dos nossos trabalhos ritualísticos, o que requer, contudo,uma atitude
compenetrada de diálogo com o G:. A:. D:. U:. Além disso, é conveniente que alguns
costumes sejam evitados, como fumar até à porta do Templo, mascar chicletes, manter
conversas paralelas, cruzar pernas e braços, ler textos diversos do ritual do grau, etc.
A abertura e o encerramento da sessão são a parte mágica, digamos sacramental dos
trabalhos. Quando seu desenvolvimento é bem equilibrado liturgicamente, favorece uma
atmosfera de interiorização e paz espiritual, havendo possibilidade de se alcançar estados
alterados do ser.
Devemos ter, durante toda a reunião, uma atitude mais espiritualizada, receptiva, todos
compenetrados de nossa condição de iniciados, voltados para nossa iluminação interior,
como forma de fazer parte da Grande Consciência Cósmica, da Egrégora da Loja.
Passemos, pois, a analisar a força do Ritual e dos Símbolos.

1. O que busca o obreiro maçônico ao participar dos trabalhos em sua Oficina?


Eduardo Carvalho Monteiro, em sua obra “O Esoterismo na Ritualística Maçônica”, é
quem responde: “o desbastar da pedra bruta, o crescimento interior, o preparo do cidadão
para atuação social seriam as respostas mais comuns; no entanto, a cerimônia mágica
que faz parte de nosso ritual pressupõe o intento de alcançar estados alterados de
consciência, interiorização, penetração em estados sutis de energia ou ainda o
conhecimento gradual de outras dimensões de nós mesmos. Nem todos almejam esses
objetivos conscientemente, mas o fato de se interessarem por entrar na Ordem e terem se
submetido a uma cerimônia de iniciação já indica, ao menos, o desejo inconsciente de
atingir outros níveis de consciência. E esses portais serão transpostos graças aos
símbolos e ao ritual mágico que evocam idéias sutis e arquetípicas, a fim de conduzir o
iniciado à realização espiritual. O ritual, assim como os símbolos, é a representação de
forças, idéias e energias que se escondem atrás de sua aparência formal e simplista.
Dessa forma, nossos passos, marchas, saudações, toques, sinais, baterias e palavras
revestem-se de um sentido esotérico ou oculto que revivemos, recordamos, vivificamos e
vamos conhecendo ao praticar nossa liturgia.

2. Cortar o sagrado do profano:


Ao estudarmos a etimologia da palavra templo, vemos que ela vem do latim templum, que
significa “cortar” ou “cortado”. Assim, ao ultrapassar a porta de seu templo, podemos dizer
que o fiel ou o maçom, como praticante de sua Escola de Mistérios, está “cortando” o
mundo profano do mundo sagrado, está penetrando em seu espaço sagrado, em seu
próprio cosmo, seu Universo em miniatura, um mundo que tem um espaço e um tempo
diferenciados, simbólicos enquanto participantes de uma manifestação reveladora do
sagrado, mas reais quando personificados por meio de seus rituais. E são esses rituais
que conferem sacralidade à realidade do espaço sagrado. A porta torna-se, assim, um
símbolo cósmico. É a delimitação do espaço profano para o espaço sagrado.
Assim, enfatizamos que o Maçom deve ter consciência de que toda vez que transpuser a
porta de seu templo estará penetrando em seu espaço sagrado e, por isso, deve fazê-lo
com solenidade, contrito, com seriedade e, principalmente, cobrindo seu próprio templo
interior.
Uma pequena rememoração para nós sobre a Egrégora: “é a alma coletiva de um grupo
reunido por afinidades, tem existência no Plano Astral e, quando evocada num ritual, ela
se regenera, brilha com força e penetra no corpo sutil dos iniciados criando um clima de
união e força”. Quanto mais bem trabalhada a cerimônia mágica, mais forte a corrente de
pensamento de seus operadores, e tanto mais rápida se dá a formação da Egrégora de
uma Loja. A Cadeia de União evoca e reforça a Egrégora da Loja aumentando o potencial
de energia do grupo, que o espalha em benefício da humanidade e reforça a vida interna
da Loja. Quando os irmãos se unem em atividade tão poderosa, as individualidades
desaparecem e cria-se um ser coletivo, um organismo unitário de energia e alcance
maior, pois no coletivo a força supera a soma dos elementos individuais.

3. A Ritualística:
O Templo maçônico não é um amontoado de pedras, tijolos e massa, mas um espaço
sagrado e um dínamo que concentra considerável poder energético.
Veremos agora como os rituais de mistérios, entre os quais os maçônicos, têm sido
transmitidos desde a Antigüidade como forma de sacralizar o tempo e o espaço.
Iniciandos e oficiantes seguem regras rígidas para as cerimônias mediante preparativos e
rituais antigos e minuciosamente codificados, transmitidos de lábios a ouvidos, incluindo
vestimentas apropriadas, gestos rituais, orações rituais, símbolos visuais e a formação da
Egrégora do grupo.
A cerimônia mágica, que é a ritualística maçônica de suas sessões econômicas, é o caminho do
maçom para atingir estados alterados de consciência e poderes que estão no transcendente, além
da imediata existência humana. Para atingir esse estágio não podemos praticar o ritual maçônico
de forma mecânica ou displicente, sob pena de estarmos transformando uma prática iniciática
milenar em uma medíocre representação teatral, vazia em sua finalidade.
Entendamos Nossa Ritualística, passo – a - passo:

a.“Em Loja, Meus Irmãos!”


No interior de um recinto sagrado, como visto, o mundo profano é transcendido. Numa assembléia
de iniciados, está presente uma ação de transcedência que se exprime por diversas imagens de
uma fronteira entre o sagrado e o profano. No espaço sagrado, abrem-se os portais de outra
dimensão e, através deles, os deuses descem à Terra e o homem pode subir simbolicamente ao
céu.
Os obreiros se encaminham para as sessões com propósito definido de crescimento pessoal e de
doação de si mesmos para um mundo melhor. Portanto, estando a Loja formada, os cargos
preenchidos e aguardando ordens, todos devem estar concentrados, vibrando em uníssono,
aguardando uma voz firme e amorosa vinda do Oriente: “Em Loja, meus irmãos!” E o malhete do
V:. M:. volta-se para o coração, formando com os Irmãos Vigilantes um ternário de proteção à
Oficina, reavivando as colunas da Sabedoria, da Força e da Beleza sobre as quais se sustentam a
Loja Maçônica.
Que importância esotérica poderíamos ver em tão singelo ato da ritualística?
Da mesma forma que ao adentrar a Loja o obreiro entrou em seu espaço sagrado e “cortou” o
mundo profano, ao pronunciar tal frase o V:. M:. interrompe a marcha dos ponteiros do relógio
material e faz a Loja penetrar em seu relógio simbólico. É quando cessam os últimos vestígios de
profanidade em nós e assumimos nossa personalidade de iniciados.

b. ”Ir:. 1º Vigilante, qual é o primeiro de vossos deveres em Loja?


– “Verificar se o Templo está a coberto!”
“É função obrigatória para que estejam os maçons a salvo das indiscrições profanas. Parece um
simples ato de rotina, mas não o é, porque a Loja que está iniciando seus trabalhos ocupa seu
espaço sagrado, onde se desenrola uma outra reunião num mundo paralelo, uma usina de energia
que começa a reativar sua egrégora e, portanto, o lacre material proporcionado pela Bat:. também
encontra ressonância na outra dimensão. Dessa maneira “cobrir o templo” significa também
espiritualmente lacrá-lo das más influências e das perturbações do mundo invisível. Daí a
importância de todos os irmãos auxiliarem mentalmente nessa cobertura, fechando nosso
arquétipo do universo a vibrações negativas para que os trabalhos aconteçam justos (sob a
influência do L:. da L:. ) e perfeitos (com a presença de no mínimo 7 M:. M:. ). Como também
somos um templo, o Tabernáculo da Alma, o ritual nos pede que também cubramos o nosso
templo interior, para darmos um mergulho no nosso EU Superior, para sanearmos esse Templo
Interior, preparando-o para receber as vibrações da cerimônia mágica, prestes a se iniciar, de
maneira harmônica e com melhor assimilação. Essa cobertura do Templo Interior, na realidade
deveria começar ao nos levantarmos, no dia da reunião. Mas, como nossas atividades profanas,
preocupações de toda ordem, nos assolam o tempo todo, é aconselhável que essa cobertura se
inicie ao cair da tarde, para adentrarmos ao Templo com o espírito desarmado e isento de todo e
qualquer stress. Para se atingir tal estado, basta-nos leve concentração, pensamentos fraternos,
mentalização dos fatores positivos da reunião, olvidamento de tensões familiares, profissionais,
pessoais e entre irmãos. Se o maçom entra em uma reunião para “vencer paixões e
intransigências, à fiel obediência dos sublimes princípios da Fraternidade” e para “ levantar
templos à virtude e cavar masmorras aos vícios”, nada mais coerente que comece a praticar essa
ética em pensamento na sua vida diária e nos momentos que antecedem a sua cerimônia
maçônica. Até aqui se falou da cobertura pelo seu lado espiritual, mas não menos importante é a
cobertura material de nosso Templo Interior. Para isso é recomendável a diminuição, se impossível
a supressão do tabagismo nas horas que antecedem a ritualística. Álcool? Nem pensar! Comida
leve ou jejum também são indicados, pois favorecerão sobremaneira as práticas esotéricas da
cerimônia maçônica. “Cobrir”, portanto, é estabelecer uma proteção material e espiritual. Segundo
Rizzardo da Camino, Em Simbolismo do Primeiro Grau, espiritualmente, essa cobertura mística se
dá pela presença do G:. A:. D:. U:.” Ele afirma também que “só o 1º Vigilante possui a
sensibilidade de, após obtida a informação do Guarda do Templo, sentir se realmente a Loja se
encontra a coberto de toda influência profana, refugiando-se os Irmãos num recinto que realmente
deve ser um Templo, onde os trabalhos serão encetados sob os auspícios do G:.A:.D:. U:. A sua
resposta, autoriza o V:.M:. a prosseguir nos trabalhos.

c. “Qual o segundo dos vossos deveres, Irmão 1º Vig:. ?”


– “Verificar e se todos os Irmãos são maçons”. “Como deve ser feita essa verificação? O
momento também pede solenidade, concentração e espírito de união. A começar pelo malhete,
que deve ser portado orgulhosamente sobre o coração; o Irmão 1º Vig:. deve honrar a Coluna da
Força que representa, fazendo seu giro com a coluna ereta, passos firmes e compassados e,
principalmente, fixando os irmãos das colunas olhos nos olhos, para que eles sintam-se integrados
na cerimônia mágica e despertem dentro de si o sentimento de união e de sua importância
naquele momento. Veremos, então, a Egrégora da Loja sendo avivada, revigorada. Rizzardo da
Camino diz que ”não basta que os Irmãos estejam de pé, na postura exigida e vestindo seu
avental e insígnias da Loja. Não é somente neste aspecto que o 1º Vig:. há de verificar sobre se os
presentes são maçons, porque isso seria muito óbvio. Ser maçom é irradiar as qualidades mentais
e espirituais adquiridas através de uma vivência maçônica. Embora invisível ao olho comum, a
sensibilidade do 1º Vig:. capta essa disposição da alma (semelhante à auréola dos Santos) e
poderá afirmar que, realmente, todos os presentes são Maçons.

d. Para que o Venerável possa “abrir” a Loja, devem existir condições:


- a primeira delas é anunciada pelo Orador: “que estejam presentes, no mínimo, sete IIr:. MM:.
e que todos estejam revestidos de suas insígnias”;
- a segunda, sobre se há número legal, é anunciada pelo Chanceler;
- a terceira, sobre se a Loja está composta, é anunciada pelo Mestre de Cerimônias:”Sim, V:.
M:., os cargos estão preenchidos e todos os presentes se acham revestidos conforme o uso da
Loja”, significando estarem devidamente trajados e aparamentados. Segundo Rizzardo da Camino,
este anúncio de que a Loja esta composta é transcendental, pois equivale anunciar que a “obra
está completa”, visto que a Loja representa o Universo. O Grande Arquiteto, que é Justo, criou a
obra Perfeita. Após esse anúncio, ainda que chegue titular de algum cargo, não poderá haver
substituição, sob pena de desequilibrar a obra definitiva, pois o Universo é uma obra definitiva do
seu Criador. O Manual de Normas &Procedimentos Ritualísticos faz exceção ao Venerável e aos
Vigilantes.
e. O V:. M:. vai chamando ainda os 2º Diácono,1º Diácono, 2º Vig:. e 1º Vig e travando com eles
diálogos sobre os princípios éticos e morais da Mac:. Pensar que esses diálogos poderiam ser
dispensados demonstra desconhecimento sobre o real sentido dos trabalhos maçônicos e a beleza
contida em nossa ritualística. Aquele que não estuda com afinco os graus da Maçonaria não
compreende sua mensagem, nem seus símbolos e nem a explicação dos seus significados
ocultos. Uma das principais obrigações do homem maçom é combater a ignorância, a começar
pela própria, e nosso ritual nos mostra isso claramente desde o seu começo. Apesar de nossa
Instituição não ser uma religião, ela é guardiã de um idioma sagrado, a linguagem simbólica, e só
não perderá a guarda desse tesouro, se nós, maçons, nos aplicarmos na compreensão e no
significado oculto de seus símbolos e se não nos afastarmos das raízes esotéricas que compõem
nossa Doutrina. Evidentemente que, para nós maçons, pessoas esclarecidas da sociedade,
portadores de bom-senso, críticos e que devemos pautar nosso discernimento pela análise
cartesiana, a repetição não deve ser entendida como uma forma de condicionamento mental. Mas
uma atitude esotérica.

f. “Para que nos reunimos aqui, Irmão 1º Vig:. ?”


A expressão “para combater a tirania, a ignorância, os preconceitos e os erros, e glorificar
o Direito, a Justiça e à Verdade, levantando templos à Virtude e cavando masmorras ao
vício”, ressoa no coração do verdadeiro maçom como um hino de exortação à sua conduta na
vida profana e não como conceito maçante de ser ouvido repetidamente. Cada vez que se repete
Entre Colunas o ritual e nossos princípios, o homem que honra o avental que porta cresce no
mundo profano, como cidadão, chefe de família e profissional, porque já incorporou a seu
patrimônio espiritual esses valores e vela pelo seu cumprimento. Cada reunião maçônica
corresponde a um ciclo cósmico em nossa representação do Universo. Ao se repetir esse ciclo,
estamos gerando novamente cada palavra, cada conceito ali contido, ou seja, estamos re-
generando formas-pensamento de elevação do padrão ético-moral da humanidade. Neste mundo
conturbado, de turbilhões astrais negativos e de valores morais estranhos, toda forma-pensamento
positiva lançada no cosmos ajuda no equilíbrio e na harmonia dos planos mental e astral,
favorecendo a melhoria do padrão da humanidade. E não nos esqueçamos que essa forma-
pensamento é emitida com toda a força da Egrégora da Loja, potencializando o seu efeito.
Portanto, o maçom que assiste participando da reunião maçônica, compreendendo cada parte
do ritual, é o verdadeiro maçom que contribui para o bem-estar da humanidade, para o progresso
da maçonaria e para seu próprio crescimento pessoal.

g. Transmissão da Palavra Sagrada:


A mesma atitude do 1º Vigilante, durante sua circunvolução no Ocidente, para certificar-se de que
todos os presentes são maçons, deve ser praticada pelos Irmãos 1º e 2º Diáconos, quando da
transmissão da Palavra Sagrada às Colunas. Transportada pelos Diáconos, a P:. S:. deve merecer
desses a mais absoluta solenidade, estando imbuídos de que carregam uma jóia preciosíssima,
um tesouro. Assim, os diáconos devem se deslocar pelo templo com postura, coluna ereta, passos
firmes, cabeça erguida, com solenidade. Um parêntese: as formas de portar malhetes, espadas,
estrelas, bolsas e o bastão são exibidas nas páginas 55 a 61 do Manual de Normas &
Procedimentos Ritualísticos, cujas prescrições estão merecendo ser mais praticadas em nossa
Loja, inclusive no tocante a vestimenta. A P:. S:. parte do Oriente, onde nasce o Sol, berço da luz e
da ciência, viaja até o Ocidente e, finalmente, é confirmada no meridiano. Na cosmologia
maçônica, a palavra se manifesta na origem da Sabedoria e se espalha por todo o Universo,
simbolizado pelo Templo. Embora sussurrada ao ouvido, a palavra é recebida por todos e em
todos se entroniza esotericamente. Chegando ao meridiano intacta e perfeita, o 2º Vig:. anuncia ao
1º Vig:. que, por sua vez, o faz ao V:. M:. , que a emitiu, estando tudo justo e perfeito, concluindo,
assim, a triangulação necessária à unidade da Loja. Nossas PP:. SS:. não foram escolhidas ao
acaso, mas porque carregam o poder do Verbo (significando a palavra de Deus ou o próprio Deus)
são verdadeiros mantras ou instrumento da mente. É um som sagrado que irá ativar as três
colunas de sustentação de uma Loja Maçônica - Sabedoria, Força e Beleza. Repetindo
mentalmente a P:. S:. , cada obreiro estará acendendo em seu Espaço Interior as mesmas luzes
que passaram a iluminar a Loja. Fios condutores sutis interligam as vibrações individuais para
ajudar na formação da Egrégora da Loja. É a alma coletiva vibrando em uníssono por um ideal
comum de tornar mais feliz a humanidade. As palavras sagradas dos graus maçônicos são
partículas poderosas do G:. A:. D:. U:. atuando em nós, liberando vibrações rítmicas e harmônicas
com o Infinito.

h. Achando-se a Loja regularmente constituída, procedamos a abertura do Livro da Lei,


invocando o auxílio do G:. A:. D:. U:.
Uma vez o Verbo realizado, com a circulação da palavra, ele se instala com a abertura do Livro da
Lei. Trata-se de um dos momentos mais solenes da cerimônia maçônica, logo após a Transmissão
da P:., o preparatório ápice vibratório dos trabalhos que é a colocação do esquadro e do
compasso. Os Oficiais encarregados devem estar compenetrados de sua responsabilidade.
A forma piramidal ou cônica do Pálio é altamente concentradora de energias. É recomendável que
durante o ato de circulação da palavra e abertura do Livro da Lei o Irmão M:. de H:. execute uma
música suave de fundo. Procede-se, então, à abertura do L:. L:. e faz-se a leitura do Salmo 33,
que incorpora nesse momento uma ligação espiritual entre Criador e criatura, daí os costumes
maçônicos aceitarem os Livros da Lei de qualquer religião, pois não é a religião em si que importa,
mas o caráter sagrado do Livro que propicia simbolicamente a ligação Céu-Terra. A colocação do
esquadro e do compasso na disposição do grau sacraliza o espaço físico - temporal do Templo. É
o instante da comunhão entre os Planos Físico e Divino, já que os dois instrumentos símbolos da
Arte Real, representando o homem maçom, são depositados sobre a Verdade Revelada,
simbolizando o G:. A:. D:. U:.

i. A Oração do Venerável Mestre:


A belíssima oração pronunciada pelo V:. M:. é um coroamento de grande repercussão espiritual
para a cerimônia de abertura, que tem o condão de aproximar o homem do seu Eu Superior,
purificando e preparando o ambiente. Ela tem um caráter místico e altamente introdutor à
espiritualidade que o momento requer na celebração litúrgica da abertura dos trabalhos
maçônicos. Como a verdadeira oração se reveste, mais do que simples palavras, de calorosas
vibrações de nosso Ser, é essencial que ao pronunciá-la (o V:. M:.) ou mentalizá - la (os demais
Irmãos) o façamos sentido-a no coração.

j.“Em honra ao G:. A:. D:. U:. e a São João, nosso padroeiro...”
Alguns pensamentos a propósito desta alusão a São João:
(1)do saudoso Ir Onéas d’ Assumpção Corrêa, em sua obra “Orientação Maçônica”: “São João
Batista é um dos santos padroeiros da Maçonaria. A sua firme reprovação ao vício e a sua
contínua pregação em prol do arrependimento e da virtude fizeram dele um bem apropriado
patrono para a Instituição Maçônica. Sua festa é em 24 de junho. São João Evangelista é também
patrono da Ordem e sua festa se realiza em 27 de dezembro. Foram as suas constantes
admoestações em suas Epístolas, para a prática do amor fraternal e a natureza de suas visões
apocalípticas que constituíram as principais razões da veneração de que é objeto na Ordem
Maçônica”;
(2) o saudoso Ir:. Jayro Boy de Vasconcelos, em sua obra “A Fantástica História da Maçonaria”,
supõe que o verdadeiro patrono da Maçonaria é São João, o Evangelista, por ter sido “o homem,
o ser humano que mais recomendou o “amor fraternal”. Foi ele um exemplo para todos os seres
humanos, mas para os maçons em especial ele foi um padrão de fraternidade, que é a principal
bandeira da Maçonaria, desde sua fundação. Ele não só ensinava aos outros essa sadia convi-
vência, através dos seus escritos, mas colocava em prática, na sua vida, tais ensinamentos, de tal
forma que foi inclusive chamado, pelos teólogos, o “Apóstolo do Amor”. Vejamos algumas das
suas preciosas instruções:
Aquele que diz estar na luz e odeia seu irmão, até agora está nas trevas.
Aquele que ama seu irmão permanece na luz e nele não há nenhum tropeço.
Aquele, porém, que odeia a seu irmão está nas trevas e anda nas trevas e não
sabe para onde vai, porque as trevas lhe cegaram os olhos”.
(3) Rizzardo da Camino reforça a tese de Jayro Boy, ao afirmar: “dos Evangelistas, São João se
destaca pelo fato de ter absorvido do Divino Mestre, toda filosofia do amor. Fora o discípulo
amado e o seu Evangelho é um cântico de amor. A alma da Maçonaria é a dedicação que os
irmãos oferecem uns aos outros. O amor fraterno é a luz que ilumina a Loja e, por isso, São João,
o Evangelista, passou a ser considerado o patrono da Maçonaria”.

k. O Clímax:
Pronunciada a oração, com sentimento, pelo V:. M:. esse conduz, então, os obreiros a fazerem o
sinal e a proferirem a aclamação. Após cumprida toda a ritualística de maneira séria,
compenetrada, com sentimento, a Loja atinge o clímax da produção de energia e os obreiros
estão tão contentes em iniciar os trabalhos, tão felizes por estarem novamente reunidos entre
irmãos que, exultantes, extravasam esse regozijo através do sinal do grau e da exclamação
Huzzé, Huzzé, Huzzé. Segundo José Augusto de Souza, em O grau de Aprendiz Maçom, Huzzé
é o grito de aclamação do maçom escocês. Possui origem hebraica e significa “força e vigor”. Ela
é pronunciada na abertura e no encerramento dos trabalhos.
O que dizer da Egrégora nesse momento? Está em seu clímax, atingindo alto potencial de
energias cósmicas. As funções de ordem administrativa que vêm a seguir podem, então, iniciar-se
e os pedreiros-livres estarão sublimemente preparados para desenvolver suas peças de
arquitetura e articularem, Entre Colunas, suas ações de construção social fora de seu espaço
sagrado, a bem da Pátria e da Humanidade.

l. Circulação da Bolsa de Proposta e Informações:


O M:. de Cer:. é que irá circular com a bolsa de propostas e informações, seguindo a ordem
prevista no ritual. Pela sua posição hierárquica, o Venerável Mestre ao colocar a mão direita
emitirá todos os seus fluidos (entendidos como poder físico, força vital, potência mental, poderes
psíquicos, poderes espirituais) em quantidade necessária ao fortalecimento de todos os
presentes. A circulação da B:.P:.I:. é obrigatória em todas as sessões, antes da Ordem do Dia.
Nela são colocados pedidos, propostas, convites, comunicações, etc, que os Maçons queiram
apresentar à Loja. Para serem válidas e constar do Balaústre da sessão, todas as propostas e
petições devem ser apresentadas apenas por meio dessa Bolsa. Mesmo com a mão vazia, deve-
se introduzi - na Bolsa, pois essa tem um efeito esotérico, místico, de equilíbrio e harmonização
entre os Irmãos, na medida em que há um intercâmbio de fluidos, pois todos, a partir do VM, vão
depositando nela seus fluidos que se somam e simultaneamente se distribuem, pois o que mais
tem mais dá e o que pouco tem mais recebe. Mesmo ao circular “sem formalidade”, o M:. Cer:.
deve levá-la sucessivamente ao VM, 1º Vig:., 2º Vig:., Orador, Secretário e Guarda do Templo,
para, somente após, levá-la aos demais presentes, seguindo a hierarquia (MM:. MM:., Comp:. e
Aprendizes).

m. Circulação do Tronco de Solidariedade:


O Ir:. Hospitaleiro, que o conduz, obedece a mesma forma de circulação do M:. Cer:., com a B:.P:.
I:. Como sua função é colher o óbolo destinado a socorrer os necessitados, nosso
desprendimento na doação é uma demonstração de interesse social e de participação estreita
com os problemas do próximo, seja profano ou maçom.

m. “Para que ocupais esse lugar?”“.....para fechar a Loja, pagar os OOb:. e despedí-los
contentes e satisfeitos”, responde o 1º Vig:. na fase de encerramento ritualístico dos trabalhos,
e, logo após, o V:. M:. pergunta -lhe: e os Obreiros estão satisfeitos?
Como resposta todos os Irmãos, exceto as Luzes, batem a m:. dir:. no Av:. e fazem o sinal de
afirmação. Essa deverá ser a atitude de todos os Irmãos da Loja, quando os trabalhos tiverem
sido convenientemente conduzidos. Segundo Onéas d’Assumpção Correa, em “Orientação
Maçônica”, “salário é a recompensa do trabalho e o resultado que ele pode produzir para o
operário. É a remuneração de um trabalho. Em Maçonaria, sendo os maçons obreiros alegóricos
da construção do Templo da Verdade, da Ciência e da Razão, o salário é pago por meio de novos
conhecimentos, que visam ao aperfeiçoamento gradual do Maçom, não se tratando, pois, de
salário material, mas de Instrução Iniciática”.

4. CONCLUSÃO
Calcado basicamente na obra de Eduardo Carvalho Monteiro, procurei mostrar aqui a importância
do Templo Maçônico como espaço sagrado; que a ritualística maçônica é uma cerimônia mágica
e, como tal, penetra no terreno metafísico; os mecanismos esotéricos da Egrégora; a necessidade
da concentração e participação de todos os membros nos trabalhos maçônicos.
A Maçonaria é guardiã da cultura esotérica das civilizações do passado, mas convive
perfeitamente, como excelso sistema, com as fantásticas inovações tecnológicas, porque seus
membros, livres investigadores da verdade, mantêm perfeita sintonia com todos os campos de
conhecimento humano.

Bibliografia:
1. Ritual do Grau 1 da GLMMG;
2. Normas & Procedimentos Ritualísticos da GLMMG;
3. O Esoterismo na Ritualística Maçônica (principal), de Eduardo Carvalho Monteiro;
4. Orientação Maçônica, de Onéas d’Assumpção Correa e Arnaldo Pertence;
5. A Fantástica História da Maçonaria, de Jayro Boy de Vasconcelos;
6. Simbolismo do Primeiro Grau – Aprendiz, de Rizzardo Da Camino;
7. Sinopse do Grau de Aprendiz Maçom, de José Airton de Carvalho;
8. O Grau de Aprendiz Maçom – em perguntas e respostas, de José Augusto de Souza

Loja Maçônica Paz e Trabalho nº 17, em Belo Horizonte, 16 de abril de 2007

Antônio Egg Resende


Orador

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