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O Pensamento Zoroastriano
O Pensamento Zoroastriano
Conta a lenda que Zoroastro ao nascer ao invés de chorar sorriu. Essa história traduz muito
bem a visão positiva e alegre que ele tem do mundo e de seu destino.
Zoroastro descobriu o que queria, não como uma revelação e nem como coisa privativa sua.
Ele encontra o óbvio, o que está escrito nas páginas da vida e pode ser lido por qualquer
um. Ele é uma pessoa comum que no esforço de seu intelecto e na sensibilidade de seu
espírito consegue ver que este é um mundo bom, criado por um Deus bom e destinado a
alegria radiante. Constatando isso, ele desenvolve uma resposta que tem tanto uma
elaboração filosófica como conseqüências práticas para a vida.
A grande questão, colocada para ser resolvida por todos os sistemas filosóficos e religiosos,
o bem e o mal, para Zoroastro se resolve dentro da mente humana. O bom pensamento ou
boa mente cria e organiza o mundo e a sociedade, o meu pensamento ou má mente faz o
contrário. Cabe ao ser humano fazer uma escolha e ele tem o poder e a capacidade de fazê-
la. O Cosmo inteiro está a seu favor quando escolhe a boa mente enquanto que a má mente
isola e portanto, angústia aquele que por ela opta. Essa escolha é feita no dia-a-dia da
pessoa, em cada ação. Ninguém pode fazer uma opção definitiva, essa é um mecanismo
dinâmico e progressivo.
As pessoas que vão descobrindo a capacidade que têm de fazer essa opção vão se unindo
na descoberta natural de que são parte de um todo magnífico, que se forma em parceira
com Deus.
Nesse sistema não tem lugar de destaque a fé ou a crença. Não é necessário crer, é preciso
saber e agir de acordo com o que se sabe. Temos aqui então uma religião do conhecimento.
A visão de mundo de Zoroastro não coloca o ser humano como o centro, o motivo de ser do
planeta. Antes, uma das tarefas dadas pelo pensamento de Zoroastro é que o ser humano
ache o seu lugar no mundo de forma harmoniosa, de modo a não desequilibrar o meio.
Reverenciar e proteger a terra, a água, o ar e o fogo além dos outros seres viventes, é uma
preocupação constante que aparece no pensamento gático.
Talvez o que haja de melhor em Zoroastro seja a abertura, quase desafio para se seguir
adiante perguntando, descobrindo, mudando e tudo isso, num movimento dinâmico de
progresso. Nada está fechado numa ortodoxia oficial. Em seus cânticos ele faz 93 perguntas
sem respostas. Está ausente ali a arrogância de dono de uma verdade estática e acabada.
A sociedade é para ser organizada dentro desses princípios de livre escolha, boa mente e
busca do bem de todos os seres.
Zoroastro, apesar das dificuldades que enfrenta em seu tempo e que, também
desencadeiam sua busca, não vê o mundo como arruinado, do qual urge fugir e se possível
salvar alguns. Antes, o mundo é uma obra em fase de acabamento ao qual somos
convidados a unir criativamente nas nossas vidas. Essa visão de mundo provoca uma ética
diferente da que dominou o mundo ocidental, que recorre à punição/recompensa como
veículo principal de estímulo ou contenção. A prática profunda desse pensamento na
sociedade não teria criado um sistema judiciário com prisões.
O ser humano não está contaminado pelo pecado, antes, pelo contrário, capacitado à
escolher a boa mente e a construir um mundo diferente. Uma leitura de Zoroastro com essa
abundância de negações não lhe faz justiça. O contexto judaico cristão onde estamos
inseridos, porém nos obriga a usar esses termos, pelo menos num primeiro momento.
Resgatado e atualizado esse velho pensamento pode fornecer material para a ética que
precisamos nesse nosso tempo. Ele é aberto, estimula o conhecimento e a pesquisa, é
ecológico, inclusivo e pode ser também fonte de uma profunda e rica espiritualidade.