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Introdução à

lavra de minas
a céu aberto
Sheila Mena Barreto Silveira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

> Definir o papel histórico e social da mineração no Brasil.


> Explicar o método de lavra a céu aberto e a relação estéril/minério.
> Determinar as operações unitárias básicas no método de mineração a céu
aberto.

Introdução
A mineração, que consiste na extração de bens minerais para utilização humana, é
uma das atividades mais antigas que o homem realiza. Desde a época pré-histórica,
a necessidade de conversão de bens minerais em produtos para uso humano é
constante na sociedade. Essa demanda exigiu que aprimorássemos os métodos
de extração e beneficiamento dos materiais. Considerando que o desenvolvimento
de uma nação e o bem-estar de sua população não existem sem o uso intensivo,
porém racional, dos bens minerais, o conhecimento desse segmento é essencial
para qualquer sociedade que busque crescimento.
Neste capítulo, você vai conhecer o papel histórico e social da mineração no
Brasil e, mais especificamente, o método de lavra a céu aberto, desde o conceito
de relação estéril/minério (REM) até as principais operações unitárias básicas.
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A mineração e o desenvolvimento do Brasil

Histórico da mineração no Brasil


Desde os primórdios da humanidade, a extração mineral é uma peça funda-
mental para o desenvolvimento social e econômico das civilizações, o que
não foi diferente no Brasil. Antes do final do século XVII, a busca por ouro,
prata e pedras preciosas era constante, porém sem grande êxito, uma vez
que os locais onde era realizada essa busca não continham jazimentos des-
ses minerais. No entanto, com a queda do valor agregado do açúcar, devido
à concorrência das Antilhas, a Coroa portuguesa aumentou a procura por
minerais preciosos (como metais e diamantes) com a criação do movimento
de interiorização denominado Bandeiras. Esta foi uma política social que
incentivou a população para exploração mineral, pois o valor agregado do
açúcar já não era atrativo. Os bandeirantes, pessoas que foram para as regiões
não povoadas do Brasil, como Sudoeste e Centro-Oeste, buscavam índios e
metais preciosos para comercialização nas cidades do Nordeste brasileiro
e, consequentemente, na Europa.
Juntamente a essa expansão territorial, foram descobertas diversas jazi-
das minerais, o que deu início ao ciclo econômico do ouro, intensificando a
extração mineral de diamante e ouro no atual estado de Minas Gerais. Esses
bens minerais eram encontrados em aluviões, que são depósitos de areia,
argila e cascalho, nas margens e nos leitos dos rios, transportados e acumu-
lados por processos erosivos, logo, estando disponíveis para extração sem
necessidade de escavação ou qualquer técnica além da utilização de bateia
(espécie de peneira utilizada para separação física do minério e estéril).
Com a facilidade de acesso e a inexistência de necessidade de especificação
técnica do trabalhador, o esgotamento desse tipo de depósito mineral deu-se
de forma consideravelmente rápida.
A mineração por bateia, método de separação por densidade, representa
muito bem as condições precárias de trabalho encontradas na época. Os
escravos ficavam diariamente expostos a condições insalubres, como sol
forte e água até os joelhos por longos períodos de tempo. À medida que rios
e riachos menores eram exauridos, os proprietários passaram a exercer a ati-
vidade mineira em corpos de água maiores a partir de sistemas de dragagem.
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A Figura 1 ilustra como era feita a exploração do ouro em aluvião.

Figura 1. Extração de ouro em aluvião realizada por escravos.


Fonte: Cotrim (2002 apud FERREIRA, 2013, p. 4).

A atividade mineira nos primeiros 70 anos do século XVIII foi de grandes


proporções, alcançando 50% da produção mineral de ouro do mundo, cerca
de 15 ton/ano de ouro em meados de 1750 (FIGUEIRÔA, 1994). O declínio da
atividade se deu principalmente pelo exaurimento dos rios e riachos e os
aumentos dos impostos pela coroa portuguesa. Nessa época surgiram diversas
revoltas, entre elas pode-se destacar a inconfidência mineira, associada ao
nome de Joaquim Jose da Silva Xavier, também conhecido como Tiradentes.
A partir desse ciclo econômico, percebeu-se o potencial mineral do terri-
tório brasileiro, o que deu início a diversas pesquisas por parte de empresas
privadas e pelo próprio governo. Cabe ressaltar que a importância social e
econômica da mineração durante os séculos XVII e XVIII foi diminuindo devido
à migração dos trabalhadores para os grandes centros urbanos em busca
de oportunidades no recém iniciado processo de industrialização. Embora
a atividade mineira tenha esfriado, permaneceu desempenhando um papel
de destaque na economia, principalmente nos arredores de sua instalação.
No período industrial, tardio no Brasil quando comparado às nações
europeias, a necessidade de matérias-primas para a construção civil e para
as indústrias reaqueceu o segmento da mineração. Desde então, uma par-
cela significativa do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro é oriunda dessa
atividade. De acordo com dados do Ministério de Minas e Energia, em 2019, o
setor mineral correspondia a 4% do PIB do país e a 22,6% da balança comercial
(importações e exportações) (BRASIL, 2020).
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Mineração e impacto social na sociedade brasileira


Quando se trata do viés social, é preciso destacar que a mineração contribuiu
de forma significativa para a distribuição locacional das cidades e de seus
habitantes. Quando foram “descobertas” as jazidas de metais na região em
que hoje estão Minas Gerais e Goiás, houve uma migração mais acelerada
para esses locais, com o desenvolvimento de sítios urbanos no entorno das
áreas que estavam sendo lavradas. O mesmo ocorreu na região Norte, com
a abertura dos complexos Serra Pelada e Carajás, ambos localizados no
estado do Pará.
O ciclo da implantação de um empreendimento mineiro, em áreas com
pouco desenvolvimento urbano, consiste basicamente na criação de vilarejos
para comportar os novos moradores, atraindo comerciantes e prestadores de
serviços. Essa cadeia gera necessidade por novos insumos, como material de
construção e itens básicos de alimentação e higiene, criando novos postos
de trabalho e atraindo mais pessoas. Ao aumentar o porte do centro urbano
e, consequentemente, a quantidade de pessoas na região, há demanda de
implantação de serviços básicos (como maternidade, posto de saúde, sane-
amento básico, eletricidade, etc.), expandindo ainda mais a rede de pessoas
e serviços necessários. Com o tempo e com o aumento da densidade popula-
cional, os antigos vilarejos se consolidam como municípios, e suas atividades
primárias deixam de ser oriundas exclusivamente da mineração, já que ocorre
uma diversificação nas atividades desenvolvidas pela população.
Sendo assim, a implantação de empreendimentos de mineração acarreta
desenvolvimento urbano no seu entorno. No entanto, se as atividades mineiras
não forem bem conduzidas, os impactos ambientais podem sobrepor-se aos
benefícios do empreendimento, o que ocasiona desconforto na população
lindeira.
A satisfação e o bem-estar da vizinhança de uma mineração são fatores
essenciais para a manutenção do empreendimento, uma vez que a pressão
popular pode inviabilizar, mesmo que de forma temporária, a implantação
e/ou a operação da mineração. Um exemplo é a Mina Guaíba, complexo de
extração mineral de carvão e areia no Rio Grande do Sul cujo projeto prevê
torná-la a maior mina a céu aberto do Brasil. Apesar de demonstrar ser alta-
mente tecnológica e lucrativa, devido às fragilidades ambientais elencadas
no sítio e no próprio projeto, em 2020, foi suspensa a análise, por parte do
órgão ambiental, dos estudos técnicos apresentados pelo empreendedor.
Destaca-se, nesse sentido, o que o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram)
(2014, p. 8) afirma:
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[...] a mineração reflete positivamente na qualidade de vida dos cidadãos. É pouco


percebido pela população, por exemplo, que o Índice de Desenvolvimento Huma-
no – IDH dos municípios onde ocorre a mineração é maior do que a média do IDH
dos Estados onde se localizam e superior, também, ao dos municípios onde não
há essa atividade econômica. Outro aspecto a observar é que, mesmo em pontos
distantes dos grandes centros urbanos ou em áreas onde se concentram bolsões de
pobreza, a presença de um empreendimento mineral é fator concreto de estímulo
ao desenvolvimento sustentável dessas localidades.

Logo, o desenvolvimento do setor mineral está diretamente associado ao


desenvolvimento social e econômico do Brasil, devendo ser expandido, de
forma sustentável, para o fortalecimento da nação brasileira.

O carvão mineral é um bem mineral controverso, uma vez que sua


exploração é vista pela sociedade como altamente poluidora e gera-
dora de impactos ambientais diversos. No entanto, sua participação na matriz
energética brasileira é significativa, consistindo em 26,9%, de acordo com a
Agência Internacional de Energia, e consolidada, já que as termoelétricas são
acionadas quando há déficit hídrico para geração de energia elétrica no setor
de hidroeletricidade (EPE, 2020).

Lavra a céu aberto: conceitos básicos


A extração mineral pode ocorrer a céu aberto (na superfície terrestre) ou de
forma subterrânea (abaixo da superfície). A seleção do método de lavra a
ser utilizado depende da disposição espacial do depósito mineral. Opta-se
pelas operações a céu aberto sempre que o depósito estiver próximo da
superfície ou quando a relação de custo-benefício for favorável. Destaca-se
que, usualmente, os custos de implantação e operacional são mais baixos
em minas a céu aberto do que em minerações subterrâneas.
De acordo com De Carli (2013, p. 7-8),

a lavra a céu aberto tem aplicação muito mais frequente do que a lavra subterrâ-
nea, devido a diversas vantagens atribuídas a este método. Dentre as principais
vantagens encontram-se o custo de lavra, a capacidade de produção, menor
diluição, versatilidade para qualquer tipo de mineralização, grande recuperação
de depósito e ambiente menos agressivo do que nas operações subterrâneas.
Contudo, este método também tem suas desvantagens, como a limitação pela
profundidade, necessidade de investimento inicial elevado, recuperação da área
após as atividades, disponibilidade de terreno para locação de pilhas de material
estéril e barragens de rejeito, entre outras.
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Existem inúmeros métodos de lavra a céu aberto, que podem ser classi-
ficados de distintas formas. Os métodos utilizados mais usuais são a lavra
por bancadas simples ou múltipla (open-pit mining), a lavra em tiras ou fatias
(stripmining ou open-cast mining) e a lavra de pedreiras (quarry mining ou
dimension stone mining).
De acordo com Curi (2017), os principais métodos podem ser definidos da
seguinte maneira:

„ Método de lavra por bancadas: trata-se do principal método de lavra a


céu aberto e o mais utilizado nas minerações brasileiras, bastante pre-
sente na lavra de minerais metálicos. As bancadas podem ser simples
ou múltiplas, dependendo da profundidade final do corpo mineral. São
desenvolvidas, consecutivamente, de cima para baixo e devem apresen-
tar um ângulo de repouso que garanta sua estabilidade. Geralmente,
são utilizadas quando o corpo de minério se encontra recoberto por
espessa camada de solo. Após a extração mineral, o estéril é deposi-
tado nas proximidades da cava para uma futura recuperação da área.
„ Método de lavra em tiras: conhecido pela alta produtividade e menor
custo operacional, é utilizado principalmente em depósitos tabulares
e camadas horizontais com pouco capeamento. Entre os minérios que
são lavrados dessa forma, destacam-se a bauxita, o carvão e o xisto
betuminoso. Esse método costuma utilizar equipamentos de grande
porte, tais como shovels e draglines ou mineradores contínuos (bucket
wheel excavator — BWE).
„ Pedreiras: método direcionado à lavra de materiais de uso direto na
construção civil, como pedras para revestimentos, pisos e britas. Entre
as rochas extraídas por esse método, destacam-se os gnaisses, granitos
e calcários. As pedreiras são conhecidas pela produção de granulados,
e seu método segue a sequência desmonte e britagem, separando o
material através de uma série de peneiras em dimensões distintas.

Destaca-se que o tipo de lavra conhecido por lavra ornamental ou quarry


mining está englobado na classificação de pedreiras, uma vez que é consi-
derado um material para uso na construção civil, apesar de não passar pelo
processo de britagem.
As Figuras 2, 3 e 4 ilustram os métodos de lavra a céu aberto por bancadas,
em tiras e pedreira, respectivamente. Nota-se a similaridade da geometria
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das cavas, sempre em patamares, cujas operações ocorrem de forma des-


cendente (de cima para baixo).

Figura 2. Método de lavra a céu aberto — bancadas.


Fonte: Rodovalho (2019, documento on-line).

Figura 3. Método de lavra a céu aberto — em tiras.


Fonte: De Carli (2013, p. 11).
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Figura 4. Método de lavra a céu aberto — pedreira.


Fonte: Investimento... (2020, documento on-line).

Com o conhecimento dos tipos de métodos de lavra a céu aberto definidos,


é possível imaginar que, ao retirar o material de interesse (minério), será
necessário extrair material sem valor agregado, que é denominado estéril.
Portanto, ao lavrar um depósito mineral, extrai-se o minério, que vai ser
aproveitado economicamente, e o estéril, que deve ser depositado em local
próprio definido, chamado de pilha de estéril.
O parâmetro que correlaciona a quantidade de estéril a ser removida
para a extração do minério é chamado de relação estéril/minério (REM) e
usualmente é expresso em m³/m³ para material agregado de construção civil,
em t/t para minerais metálicos, e em m³/t para carvão (DE CARLI, 2013). Esse
parâmetro é essencial para a viabilidade econômica do empreendimento,
uma vez que, durante o planejamento mineiro, a REM determina, juntamente
a critérios operacionais, a geometria da cava final.

A maior mina a céu aberto em operação no Brasil, denominada


Carajás, está localizada no sudeste do Pará e foi “descoberta” de
forma inusitada. Em 31 de julho de 1967, o geólogo Breno Augusto dos Santos,
que buscava jazidas de manganês na região, desceu do helicóptero em que se
encontrava, durante o seu abastecimento, e começou a examinar algumas rochas
no local. O que ele notou foi que, em vez de manganês, a região possuía ferro,
ocasionando o início dos estudos geológicos para esse mineral na região. Foi uma
feliz coincidência para todos os envolvidos na área de mineração (CONHEÇA...,
2018, documento on-line).
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Lavra a céu aberto: principais operações


unitárias
As principais operações unitárias em mineração a céu aberto consistem no
decapeamento (ou descobertura), na perfuração e no desmonte do maciço
rochoso, no carregamento e no transporte do material detonado para o
beneficiamento. Algumas dessas etapas podem ser mais longas que o usual
ou mesmo suprimidas, dependendo das condições geológicas, locacionais e
operacionais do empreendimento. As etapas de recomposição topográfica
e/ou recuperação de mina estão sendo inseridas, aos poucos, como uma
operação unitária, visto que, no passado, ao se exaurir uma mina, não havia
exigência legal de recuperação da área degradada.
As atividades ligadas diretamente às etapas de extração do bem mineral,
relacionadas às operações unitárias básicas, são denominadas operações
de produção, enquanto as demais atividades que têm por finalidade apoiar
esse processo são definidas como operações auxiliares.
A etapa de decapeamento consiste na remoção da cobertura vegetal e de
solo presentes acima do minério. Essa etapa pode ser curta, se não houver
muita cobertura, ou longa, se houver solo espesso ou densa vegetação.
Normalmente, são utilizados equipamentos de carregamento para remover
o solo, como carregadeiras ou retroescavadeiras. Usualmente, os órgãos
ambientais exigem que, nos projetos mineiros, o solo vegetal seja guardado
para a recuperação da área impactada; logo, deve-se prever local para estoque
durante a fase de planejamento mineiro.
Uma operação auxiliar é o desenvolvimento de vias que permitem o
acesso ao minério e às áreas de depósito de estéril e solo. Os acessos são
normalmente planejados pelo profissional responsável pelas operações
de infraestrutura da mina. O objetivo é maximizar a extração de minério e
minimizar a remoção do estéril, sempre buscando o menor deslocamento dos
equipamentos presentes no empreendimento, o que representa uma economia
significativa de combustível e desgaste do maquinário. Parâmetros como
largura, raio de curvatura e declividade da rampa são alguns dos pontos que
devem ser observados na construção dos acessos. Além disso, deve-se levar
em consideração as dimensões dos equipamento utilizados nas operações
unitárias, como caminhões e escavadeiras (SOUSA et al., 2012).
Os processos de perfuração e desmonte ocorrem quando o maciço ro-
choso não é friável, ou seja, necessita de força externa para ser removido. A
perfuração consiste na confecção de furos no maciço rochoso para inserção
de material que possa realizar a fragmentação, como argilas expansivas
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ou explosivos. Para a realização da perfuração,utiliza-se o equipamento


denominado perfuratriz, que pode ser simples ou altamente tecnológico. O
desmonte de rochas é o processo realizado após a perfuração do maciço e
consiste no carregamento do material (argila expansiva ou explosivo) nos
furos até a fragmentação da bancada do maciço.
A perfuração e o desmonte de rochas são etapas vitais para o êxito da
lavra, uma vez que é a partir delas que o minério será carregado e transpor-
tado, assim como o estéril. Logo, uma correta locação dos furos e um plano
de fogo adequado são essenciais para que a fragmentação seja a planejada
e condizente com o esperado para as etapas posteriores (carregamento,
transporte e beneficiamento).
Em ambientes nos quais o minério e o estéril não necessitam de uso de
explosivos para a sua fragmentação, a etapa de perfuração e desmonte é
suprimida, passando diretamente para o carregamento e para o transporte.
Quando se utiliza apenas o equipamento de carregamento para remoção
do material, trata-se de desmonte mecânico, que pode ser utilizado apenas
em matérias pouco consolidados — em algumas situações, é necessário
antecedê-lo por etapas que provocam de maneira artificial essa friabilidade.
Entre os métodos conhecidos para esse formato de lavra, pode-se destacar
a dragagem e o desmonte hidráulico.
Quando o material já está fragmentado, a próxima etapa é o carregamento,
que consiste na retirada da bancada e na alocação na caçamba dos caminhões.
O carregamento do material é realizado por equipamentos como carregadeiras,
retroescavadeiras, pás carregadeiras ou até mesmo dragline — esta última
utilizada em maior escala no método de lavra em tiras.
Por mais que pareça simples,a tarefa de carregamento é primordial para
o desenvolvimento mineiro. A correta locação do equipamento de carrega-
mento e do caminhão permite a otimização da operação, não gerando filas
de caminhões para serem carregados. Souza (2001 apud ROCHA, 2017, p. 31),
nesse sentido, afirma que:

a seleção do melhor equipamento é determinada por diversos fatores, sendo o


principal deles a escavabilidade do solo, que por sua vez depende da dureza do solo
intacto, resistência mecânica, propriedades abrasivas dos minerais constituintes,
densidade in situ e empolado, grau de preparação do solo, fragmentação, etc.
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O transporte do material fragmentado usualmente é realizado por cami-


nhões, mas também pode ser feito por correias transportadoras, dependendo
do layout da mineração. O importante é que esse transporte, desde a frente
da lavra até o beneficiamento, seja realizado por equipamento adequado
ao porte do empreendimento e seguindo as regras de segurança de direção
defensiva.
Segundo Souza (2001 apud ROCHA, 2017, p. 31),

as unidades de transporte pertencem quase que totalmente aos ramos convencio-


nais (rodoviário, ferroviário e hidroviário), podendo, também, ser os não convencio-
nais, como oleodutos, gasodutos, minerodutos e transportador por correias, sendo
a seleção do tipo definida por três fatores básicos: caraterísticas do jazimento
(determinam o método de acesso e sistema de explotação, comprimento das vias,
inclinações etc.), tamanho da explotação (determina a capacidade necessária dos
meios de transporte), e intensidade de condução dos trabalhos.

Cabe destacar que a seleção de equipamentos das etapas de carregamento


e transporte deve ser realizada de forma criteriosa, considerando os tamanhos
de fragmentos, os ciclos esperados e, especialmente, a frota disponível.
As Figuras 5 e 6 mostram as principais operações unitárias para empre-
endimentos com desmonte mecânico e com desmonte de rochas com uso
de explosivos.

Figura 5. Operações unitárias de transporte e carregamento com desmonte mecânico.


Fonte: Ferreira (2013, p. 92).
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Figura 6. Operações unitárias de transporte e carregamento com desmonte com uso de


explosivos.
Fonte: Rocha (2017, p. 28).

Então, com essa breve exposição sobre o contexto histórico da mineração


no Brasil, foi possível verificar a relevância do setor mineral para o desen-
volvimento da sociedade brasileira.
O conhecimento dos métodos de lavra a céu aberto e das suas princi-
pais operações unitárias é essencial para qualquer profissional atuante em
mineração, já que o bom entendimento desses conceitos permite otimizar
processos, assim como aumentar o retorno financeiro, social e ambiental
dos empreendimentos mineiros.

Na etapa de planejamento mineiro, normalmente, são montadas


equipes com diversos profissionais para que estudem as diversas
áreas de interesse relacionadas à implantação de um empreendimento mineiro,
como geologia, meio ambiente e engenharia.
Nesse cenário, o engenheiro de minas necessita ter pleno conhecimento dos
critérios técnicos para determinação do método de lavra, do sequenciamento
de mina e da seleção de equipamentos de lavra e beneficiamento. Quando o
engenheiro se depara com as informações oriundas da equipe de geologia, a
primeira tomada de decisão é sobre o tipo de método de lavra mais adequado
para ser aplicado no sítio. Critérios econômicos e operacionais devem estar
presentes, associados aos dados geológicos.
Então, quando você estiver nessa situação, avalie com clareza os prós e
contras de implantar uma mineração a céu aberto e subterrânea, considere
diversos cenários, busque referências bibliográficas de áreas e situações si-
milares, e converse com profissionais da área com mais experiência — ou seja,
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estude antes de qualquer tomada de decisão, pois essa premissa influencia


todo o projeto. Lembre-se: a reavaliação do método de lavra exige alteração
de todo o projeto.

Portanto, se praticamente tudo o que é utilizado na sociedade moderna


contém ou provém de minérios e de outras substâncias minerais, estimular
a produção mineral é um componente fundamental das políticas públicas
(IBRAM, 2014). Logo, a contextualização da necessidade de minerações sus-
tentáveis advém de embasamento teórico e conhecimento técnico adequado
dos profissionais que atuam nesse segmento.

Referências
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MME, 2020. Disponível em: http://antigo.mme.gov.br/documents/36108/1006289/
Boletim+do+Setor+Mineral+-+fevereiro+2020/8c0e9fca-1f80-7fcb-15e7-f32779f6ca60?
version=1.0. Acesso em: 8 fev. 2021.
COTRIM, G. História global: Brasil e geral. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2002.
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FERREIRA, L. A. Escavação e exploração de minas a céu aberto. 2013. 118 f. Trabalho
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FIGUEIRÔA, M. F. M. Mineração no Brasil: aspectos técnicos e científicos de suas histórias
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SOUZA, J. C. Métodos de lavra a céu aberto. Recife: UFPE, 2001. (Apostila do Curso de
Métodos de Lavra a Céu Aberto, Departamento de Engenharia de Minas, Universidade
Federal de Pernambuco — UFPE).

Leitura recomendada
CONHEÇA mais sobre a história de Carajás, a maior mina de minério de ferro do mundo.
Vale, 2018. Disponível em: http://www.vale.com/hotsite/PT/Paginas/conheca-mais-
-sobre-historia-carajas-maior-mina-minerio-ferro-mundo.aspx. Acesso em: 8 fev. 2021.

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