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Atividade 3: Interagir com a ministragéo em classe sobre Processos Histéricos da Urbanizagao do Brasil (1 pag. espaco simples) — peso 2,0 Faca um resumo da aula e apresente de forma cronolégica os principais eventos dos Processos Histéricos da Urbanizagao do Brasil. Aula ministrada pelo prof. Dr. Wander de Lara Proenga. A palestra do Dr. Wander de Lara Proenga comega com uma afirmagao e uma provocagao: “Hoje temos cerca de 84% das pessoas vivendo nos espacos urbanos’, “de que maneira a Igreja brasileira acompanhou a transformagao do Brasil rural para o Brasil urbano"? Para maior didatica ele dividiu sua fala em quatro tépicos: 1. 0 Brasil nasce de um experimento europeu, 2. © cenario amerindio, 3. cendrio histérico da urbanizagao do Brasil e, 4. cendrio urbano contemporaneo. Tépico 1 - O Brasil nasce de um experimento europeu. O Dr. Wander unicia afirmando que o cenério europeu foi a mola propulsora para a formagao do Brasil colénia A Europa vinha do feudalismo (séc. IX ao XIV) que era caracterizado pelo grande actimulo de terras, os servos presos a terra, o sistema econémico era a base de troca de produtos e o dinheiro era escasso, sendo considerado até pecaminoso mexer com dinheiro como sinal da “usura” pela Igreja Catdlica No campo religioso havia, segundo Max Weber, uma “religiosidade encantada” onde a religiéo se fazia necessaria para explicar a vida e os fenémenos da natureza, que eram tidos como sinais divinos. Predominava o “catolicismo mistico” com rituais para a colheita e gado, ligado a oferendas, predominando as orencas a religiao. Um bom exemplo dado pelo Dr. Wander foram os “andarilhos do bem’, um movimento a margem da Igreja Catélica em que os andarilhos, apesar de serem catélicos, usavam rituais. Tais praticas eram combatidas e punidas pela Igreja Catélica, mas elas funcionavam as escondidas. No século XIV, com a crise feudal se inicia um processo de éxodo rural com a populagao do campo buscando as novas cidades, que naquele momento se formavam e buscavam a sua soberania e autonomia, as chamadas Cidades- Estados, surgindo assim o processo de urbanizagdo, que foi a marca dos séculos XV ao XVII na Europa Com o crescimento dessa cidades surgiram problemas naturais para acomodar esses egressos do campo que vinham para essas cidades sem muita perspectiva de vida. As cidades passaram a ter que lidar com guerras, fome e pestes (negra e bubénica) No século XVI foram entao pensadas algumas estratégias para acomodar a populagao que chegava e uma delas foi a busca de “coldnias" com o propésito duplo de buscar novas fontes de alimentos para essa gente que chegava e levar parte dessa populagdo desassistida para ocupar essa colénia Acontece um novo momento guiado pelos saberes e surgiram as Escolas Maritimas com o intuito de fomentar as grandes navegagées em busca dessas colénias e acontece o também nessa época o ressurgimento de universidades. A reboque das universidades surge a racionalizagéo, 0 humanismo e o desencantamento da religido. Podemos dizer que a prépria cidade desencanta a fé. Na medida em que as pessoas se mudam para as cidades ha o declinio da magia. E também nas cidades que temos as universidades onde a ciéncia explica o mistico, onde ha a troca de experiéncias de pessoas diferentes e a prdpria Igreja é afetada pois as doutrinas desencantam a fé, fazendo surgir uma religido mais racional. Por outro lado, gracas as cidades a Igreja comeca a enxergar essas praticas hereges e as punir. As punigdes eram basicamente duas: morte por enforcamento ou na fogueira e degredo desses hereges para a colénia. O Brasil, colénia de Portugal, passa a receber essas pessoas que vivenciaram o catolicismo herege se transformando num “purgatério” para que os hereges se recuperassem. As penas eram de 5 a 10 anos de degredo na Colénia. Muitos hereges eram também mandados para os mosteiros para entenderem as penitencias - dai vem o nome das " Portugal aumentou seu territério pelos bandeirantes e pelos jesuitas (1750) e surge 0 desafio de povoar um territério ainda maior. A solugdo foi resolver um problema urbano e um problema colonial, Para sanear os problemas urbanos, mandava-se os “problemas” para as colénias, “purificando” as cidades ds heresia e dos criminosos. Também os que no tinham expectativa de vida e eram enviados por Portugal ¢ Espanha para suas colénias nas Américas. O Brasil passa a ser também o destino dos degredados, acusados pela Igreja Catdlica de bruxaria, feitigaria, necromancia e magia. Jodo Antonio Andreoni, mais conhecido por Antonil, um religioso jesuita e autor do mais importante testemunho sobre a economia colonial brasileira, disse: “Na colénia se purga tanto o agiicar quanto as amas”. Além disso, havia uma propaganda para se ocupar o “novo mundo" pois Portugal precisava ocupar as novas terras mas, apesar do apelo e campanha, era uma viagem arriscada pois de cada dez navios que partiam da Europa, somente seis chegavam nas Américas, numa percentual de 45% de naufragios. Ainda assim, alguns vinham para o Brasil por vontade prépria e, por esses, surgia outro problema. Muitos homens vinham sozinhos e se envolviam com as mulheres indigenas e africanas, um caminho sem volta, formando familias improvisadas e abandonando suas familias em Portugal. Esse cendrio ¢ bem especifico do Brasil e diferente da colonizagao inglesa que enviava para sua colénia na América do Norte familias inteiras, preservando esses vinculos povoando com essas familias imigrantes as suas terras Quando Portugal percebe que nao conseguiria contar s6 com voluntarios, forgava os condenados a embarcar nos navios. Os juizes emitiam como sentenga o degredo, desta vez judicial, como pena para os crimes. As pessoas que chegavam tinham o desafio de povoar e formar esse novo mundo, sendo essa a génese do povo brasileiro, Tépico 2-0 que era o mundo amerindio Sobre 0s povos que ocupavam o cenério até o século XVI nas Américas, podemos contabilizar que havia 60 milhées de pessoas aqui vivendo, a mesma populago do império romano em seu auge. Segundo estudos, nossos amerindios, termo que o Dr. Wander explicou ser 0 mais correto, chegaram ha 20 a 25 mil anos nas Américas e, especificamente, ha cerca de 12 mil anos no Brasil, sendo possivelmente povos originarios da Asia que atravessaram pelo estreito de Bering. No Brasil, quando da invaséo dos portugueses, estima-se que haviam 4,5 milhées de habitantes, que falavam cerca de 1.200 novas linguas. ‘Apesar de terem em comum uma religiosidade guiada pelo mistico, vivendo num “mundo encantado”, com predominancia do animismo, os cenérios encontrados por Portugal e Espanha no novo mundo eram diferentes. Enquanto no Brasil as primeiras cidades foram criadas pelos portugueses, os espanhiis j4 encontraram cidades, como a cidade de Asteca de Tenochtitlan, atualmente cidade do México, com cerca de 500 mil habitantes e que possuia uma estrutura urbana impressionante com comércio, bairros, exército e até satide publica. Fato interessante foi a conquista dessa cidade por Fernando Cortez que, com apenas quatrocentos homens, a dominou sem resisténcia. Ressaltasse o papel das crengas nesse episédio quando o conquistador espanhol, analisando a cultura do povo, descobriu que havia uma expectativa que a cada 50 anos acontecesse algo novo. Ele aguarda entao 2 anos e entra na cidade com seu exercito montado em cavalos — animais desconhecidos do povo, tidos os soldados como seres bicéfalos — e recebe das maos do imperador Montezuma 0 dominio da cidade de forma pacifica. Depois disso, mais soldados vieram da Espanha e consolidaram a tomada da cidade Podemos destacar também que no Peru haviam cidades Incas e na Guatemala, cidades Maias, que inclusive possuiam um sistema de crengas que muito lembravam o cristianismo com ritos de expiagao, restauragao e paraiso, além de uma cultura avangada nas areas de agricultura, arquitetura e astronomia Segundo Weber a América era um espago “encantado” de vivéncia. A Europa buscava combater um mundo encantado e se depara com outro mundo encantado. Uma religiao diferente do que conheciam com rituais extaticos, envolvendo transes e possessdo, cheia de elementos simbélicos e com a presenga de pajés (ou xamas), que detinham saberes secretos. Portugal e Espanha olhavam para as Américas como um lugar do mal, habitado por idélatras e praticantes de rituais do mal e a solugao para isso seria a conversao deles para a fé crista ou a punigdo jd adotada na Europa, a morte ou a expulsdo. Portugal por sua vez, teve que lidar com a religiosidade dos indigenas e com a dos negros escravizados que chegavam. Tais praticas religiosas envolviam possessao ritual, invocagao de espiritos (em geral de mortos e antepassados) e oferendas de comidas e bebidas aos espiritos. Segundo Ronaldo Vainfaz, historiador e professor brasileiro, os colonizadores utilizavam a palavra “calundu” a partir do século XVII para definir ceriménias africanas. Outro ponto que causou estranheza nos europeus, em especial nos portugueses, foi a economia de subsisténcia pois os nativos brasileiros nao acumulavam bens e produtos, usando a selva para se alimentar e trabalhavam cerca de 2 meses por ano. Ao chegarem ao Brasil os portugueses, com um olhar econémico, queriam forgar os indigenas ao trabalho, o que gerava revolta muitos deles fugiam e até se suicidavam preferindo isso ao trabalho forgado. Na triste histéria da conquista portuguesa no Brasil e da espanhola nas ‘Américas, temos uma dizimagao da populago amerindia originaria e hoje, dos 60 milhdes que existiam, restam apenas 10% desses descendentes. Outra faceta triste da histéria da colonizagéo em nosso pais se da a respeito dos negros e a da escravidao, que deixam marcas até hoje. Fica claro que a intengao da Portugal era de saquear madeira e depois minérios e usar as terras para a produgao de aguicar e nao de cuidar da colénia. Para isso foram trazidos para ao Américas cerca de 11 milhées de negros e, especificamente para o Brasil, algo em torno de 5 milhdes de escravos africanos ao longo de trés séculos. Como vimos antes, os afticanos também trouxeram sua cultura, lingua, costumes e religiéo e, na formagao do Brasil e esse grupo, aliado ao catolicismo herético dos degredados mandados para cé e dos amerindios encantados que aqui j4 estavam, produziu a concluséo que o Dr. Wander nos brindou que a “matriz brasileira ¢ encantada’! Questionou ele ainda ao fim desse bloco como as igrejas evangélicas, 0 protestantismo do século XIX lidou com isso e chegou a conclusao que, por nao saber como lidar, conviveu com critica e depois de um tempo gerou o que chamamos de “neo pentecostalismo", que se faz valer dessa matriz encantada Ressaltou ainda que dessas igrejas que surgiram no século XX a lgreja Universal do Reino de Deus é a que mais conseguiu se aproximar e acolher essa populagao encantada. Afirmou que a Universal é a mais brasileira de todas as denominagées e que melhor entendeu e a matriz e a cultura do povo brasileiro e tem em seu lider uma figura emblematica. O Bispo Edir Macedo, além de um lider nato, ¢ filho dessa religiosidade sendo de familia catdlica e tendo passagem pala Igreja Batista, Kardecismo, Candomblé, Igreja de Nova Vida e Igreja Internacional da Graga de Deus, de seu cunhado, o missionario R.R. Soares, tendo assimilado na Igreja Universal sua propria historia. Tépico 3 — Cenario histérico da urbanizagao do Brasil Nesse terceiro tépico 0 Dr. Wander trabalhou a questéo do processo de urbanizagao do Brasil dividindo em cinco fases histéricas, com periodos de 100 anos: 1500 a 1600 — 0 povoamento da costa brasileira, 1600 a 1700 - 0 povoamento do interior , 1700 a 1800 — 0 povoamento no século do ouro, 1800 a 1900 - 0 povoamento na expansao agricola e tecnolégica e 1900 a 1998 - 0 povoamento na era da industrializagao, para falar de como e onde se deu o inicio da urbanizagao e de como ela foi feita ao longo dos anos. 1,500 a 1.600 — 0 povoamento da costa brasileira O povoamento da costa do Brasil se deu pela motivagao do comércio, com um nlimero pequeno de vilas povoadas de maneira estavel, como 16 pequenas cidades fundadas pelos portugueses. 1600 a 1700 - 0 povoamento do interior Surgem as primeiras Vilas, num sistema ndo feudal, mas escravagista, onde grandes senhores de terra receberam as Capitanias Hereditérias e contavam com a mao de obra escrava oriunda da Africa: Esse “senhor’, em suas terras, era 0 proprio governante e juiz e a grande propriedade funcionava como um aldeamento que era composto pela casa grande, a lavoura e 0 engenho, reproduzindo ainda a micro organizagéo de uma cidade, contando ainda uma capela e um padre que dava assisténcia a regido. A ocupagao do nordeste se deu pela monocultura da cana de agticar e nesse periodo podemos destacar, além da colonizagao portuguesa a presenca, ainda que tempordria, dos holandeses (1630-1654). Liderados por Mauricio de Nassau iniciou-se uma tentativa de uma colénia holandesa onde hoje seria o Estado de Pernambuco. Ele chega com um projeto de estabelecer cidades que seriam de protestantes reformados e com o intuito também de um entreposto comercial para exploragao da cultura da cana de agiicar e escravos. Dessa tentativa fracassada de implantagdo de uma colénia holandesa com a reprodugdo do modelo de protestantismo dos paises baixos, temos o registro de alguns resultados religiosos: 0 investimento na modemizagao da cidade de Olinda e o estabelecimento de 22 igrejas, 50 pastores, uma estrutura conciliar de presbiteros e sinodos, além de um trabalho missionério que nao teve grande repercussao no Brasil naquele momento. Além do conflito com os portugueses pelas terras, houve também um conflito religioso com a Igreja Catdlica. Uma das caracteristicas dessa empreitada holandesa era, no campo religioso, a tolerdncia com outras religises, em especial com 0 judaismo. Ao serem derrotados e expulsos das terras brasileiras, rumaram para a América do Norte levando os judeus e fundaram a cidade de Nova York. Nesse periodo surgiram as chamadas “Missées”, que eram cidades dos jesuitas adaptadas ao modo indigena de viver. Eles agrupavam os nativos e Ihes ofereciam escolas, oficinas e a seguranga pois a intengdo dos jesuitas era de proteger os indigenas. As “Missées" foram atacadas e destruidas pelos préprios Bandeirantes, com a aval da Igreja Catélica e os jesuitas expulsos do pais. Com 0 aumento do ntimero de cidades litordneas e o crescimento delas, aliada ao surgimento de cidades no interior, ao terminar o século XVII a colénia contava com uma populagao de cerca de 300 mil habitantes que viviam nestas cidades. Estas cidades possuiam caracteristicas diferentes pois as cidades litoraneas eram mais suscetiveis a diversidade social enquanto as do interior, mais conservadoras, vividas no modelo Igreja-Estado-Comércio Quanto aos modelos de cidades, o Dr. Wander nos explica sobre os dois modelos existentes na Europa e que foram utilizados nas Américas e suas principais caracteristicas, que sao: 0 modelo Islémico e o modelo Europeu. No Brasil nos tivemos, e a inda vemos hoje, cidades que representavam ambos os modelos. modelo Islémico, a cidade de influéncia moura, eram cidades comercias, “espalhadas", sem uma organizagao espacial rigida e de predominancia comercial. Em geral estabelecidas préximas a faixa litoranea pela navegagao e facilitagéo do comércio. © modelo Europeu, ao contrario, eram cidades organizadas, dividindo a sua atengao aos dois grandes poderes existentes: a Igreja e o Estado. Tal modelo, chamado de “padroado”, era caracterizado pela disposigao da Igreja e o Estado lado a lado, na praca central ou praga matriz, que geralmente recebia o nome de um santo da Igreja Catélica. Ao lado da Igreja era construida a estrutura do poder da cidade, onde ficavam seus governantes. Ainda era presente um terceiro elemento — 0 econémico, que consistia na estrutura burocratica para arrecadagao de tributos. As cidades do litoral, num primeiro momento, seguiram 0 modelo Islamico e para as cidades do interior, 0 modelo do Europeu. Apesar da diferenga da disposigéo geogréfica, na pratica porém, ambas funcionavam da mesma maneira administrativa pois 0 Estado delegava a lgreja o registro de casamento, de nascimento, de sepultamento e as escolas, de organizagao dos Jesuitas. Ja a Igreja dava ao Estado 0 poder de governar e o Estado prestava obediéncia a igreja. Um exemplo desse funcionamento era o artigo 5 da Constituico Federal de 1824 em que o Imperador jurava ser catélico, 0 que perdurou até 1891 quando o Estado passa a ser laico. 1700 a 1800 ~ 0 povoamento no século do ouro Com a expulsdo dos holandeses do nordeste do Brasil e a crise na economia do agiicar, 0 século XVII foi marcado pela busca de outras atividades que garantissem lucro para Portugal. A coroa portuguesa havia estimulado os habitantes das Vilas do interior vinculadas ao setor acucareiro, especialmente 0s da regio de Sao Paulo, a procurar depésitos de ouro e pedras preciosas. Logo os resultados apareceram, primeiro na regiéo de Minas Gerais (1693), seguindo-se os achados de Mato Grosso (1718) e Goids (1726), dando inicio ao século do ouro. A corrida do ouro acelerou extraordinariamente a imigrago européia. Com as navegagées mais seguras um grande numero de portugueses veio para o Brasil e pessoas de outras regides afluiram para Minas Gerais. Em relagao aos portugueses, calcula-se que entre 300 a 800 mil pessoas se deslocaram para o Brasil em meio século, numa época que Portugal contava com 2 milhées de habitantes. E inegavel que tal transferéncia de populagao viria a animar a vida urbana colonial Esses colonos portugueses nao vinham para executar diretamente as atividades de mineragéo mas para comandar a exploragdo. Para assegurar a forga de trabalho necessaria para a produgdo, intensificou-se em larga escala a importagao de escravos da costa da Africana. Dados populacionais e urbanos do final do século XVIII apontam que a populagao total do Brasil aproximava-se de 3 milhdes de habitantes. Salvador, a principal cidade, teria cerca de 50 mil moradores e 15 mil nos seus suburbios, rivalizando com a cidade do Porto, segunda maior cidade do império portugués. © Rio de Janeiro teria pouco mais de 40 mil habitantes, Ouro Preto, ja decadente, pouco menos de 20 mil habitantes e Cuiabé, Sao Luiz e Belém mais de 10 mil habitantes. Eram ao todo 10 cidades e 118 vilas, sobre um territério imenso. 1800 a 1900 — 0 povoamento na expansao agricola e tecnolégica: O Dr. Wander continua sua explanagao apontando que o periodo foi marcado pela vinda da corte portuguesa para o Brasil fugindo de Napoledo. Cerca de 15 mil portugueses e se instalaram no Rio de Janeiro e a colénia se transforma na capital de Portugal. O Rio de janeiro foi remodelado e passou a contar com cerca de 100 mil habitantes. A vinda da familia imperial para o Brasil (1808-1821) foi financiada pela Inglaterra que, em contrapartida, firmou um Tratado de Comércio com Portugal ‘em 1810 e passou a usar os portos brasileiros para o comércio, Do ponto de vista religioso os ingleses, que eram protestantes, influenciaram as leis e passaram a poder realizar seus cultos nos navios ou em suas casas, porém sem poderem construir templos. Somente na Constituigéo de 1924, no seu artigo 5 é que se estabelece a plena liberdade religiosa Nesse periodo ha um grande intercambio entre a colénia e a Europa. O Brasil envia jovens para estudar na Europa, em paises protestantes e inicia-se uma politica de atragao de imigrantes, em sua maioria também protestantes, que formam suas pequenas Vilas, que mantinham parte de sua cultura, em especial a lingua e a religiao. A chegada do protestantismo ao Brasil nao se da apenas pelos imigrantes mas também através das escola. O Proprio imperador Dom Pedro Il tinha muita proximidade com os protestantes e até seu médico, Dr Robert Kalley e sua esposa Sara Kalley, que chegaram ao Brasil em 1855, gozavam de grande prestigio com a corte, Com 0 protestantismo vieram significativos progressos pois eles trouxeram, além da religido, uma viséo mais social com a implantacao das casas de satide, clinicas, hospitais, servigo social com criangas carentes e escolas, Na medida que cidades iam se urbanizando mais protestantes vinham chegando e, como era de esperar, esse crescimento trouxe tensées urbanas. O Dr. Wander nos oferece um claro exemplo disso na questao dos cemitérios e dos sepultamentos. Os sepultamentos eram no século XIX controlados e realizados nos patios das Igrejas Catélicas. Na medida em que as cidades crescem ha mais sepultamentos e isso se toma um risco sanitario sendo, necessério se construirem cemitérios fora das Igrejas e fora da cidade. Na cidade de Salvador a construgao do cemitério da cidade gerou uma revolta catélica (1836) e 0 cemitério foi quebrado. Vinte anos depois, em 1856, um surto de variola em Salvador causou muitas mortes e nao havia como sepultar tanta gente nas igrejas e a cidade reconstruiu 0 cemitério 1900 a 1998 - o povoamento na era da industrializagao No Rio de Janeiro, que era a sede do império portugués e agora sede da Republica, se inicia uma série de modemizagées na cidade. O contexto urbano era cadtico e os higienistas condenavam varios aspectos da vida urbana: corpos ainda eram enterrados nas igrejas, animais mortos eram atirados nas uas, por todo lado havia monturos de lixos e valas a céu aberto, ruas sem planejamento, muitas endemias (variola, febre amarela, peste bubénica e tuberculose) e, por isso, os navios nao atracavam no porto o que trazia prejuizo econémico ao comércio e ao turismo, Com a Reptiblica instalada 0 padrao europeu é buscado e a cidade de Paris é tomada como referéncia. O presidente Rodrigues Alves (1902) nomeou Pereira Passos como prefeito e Oswaldo Cruz como sanitarista e ages administrativas foram tomadas para a modernizagao do Rio de Janeiro. O prefeito desalojou em trés anos milhares de pessoas de suas habitagées, demoliu cerca de 2000 prédios e cortigas (politica do “bota abaixo") e promoveu © saneamento e embelezamento com novas avenidas, edificios e jardins. contingente indesejado ia para a periferia ou era mandado para o Acre, no ciclo da borracha, O espago urbano passou a ter as suas demarcagées para turistas € para os que tinham recursos, os sem poder aquisitivo iam para os morros. A génese das favelas cariocas se da nesse periodo. O sanitarista da cidade, Osvaldo Cruz, estudou na Franga e trouxe um projeto de ctiagao de vacinas, A vacinagao seria compulséria mas populagao estava com medo de se vacinar, em especial a parcela africana que imaginava que era uma estratégia do governo eliminar os indesejaveis. Além disso a populagdo africana acreditava que somente omulu poderia curar essa nova e misteriosa doenga enquanto a populagao branca se sentia escandalizada pela necessidade das mulheres exporem os bragos para serem vacinadas. © periodo foi marcado por duas grandes revoltas: a revolta da vacina e a insurreigéo de militar, deflagrada com 0 objetivo de derrubar o presidente Rodrigues Alves, ambas em 1904. Tépico 4 — O cenério urbano recente Nesse tépico o Dr. Wander usa como exemplo a cidade de Londrina, sua génese e sua transformagdo urbana e social. Londrina foi uma empreitada de empresa inglesa que adquire uma grande 4rea e resolve construir uma cidade jardim, projetada para ter, no maximo 30.000 habitantes, em 1930. Como a companhia inglesa era protestante, a cidade foi planejada para nao ter casas notumas, prostibulos e bares. Também nao haveria necessidade de cadeia pois nao haveria roubo ou violéncia. Os melhores lotes foram destinados para as igrejas protestantes e podemos dizer que em Londrina o protestantismo nasceu antes do catolicismo sendo que, ainda hoje, a cidade esta entre as sete cidades mais protestantes do pais. Em 1940 a cidade que foi projetada idealmente para ter 25 mil habitantes ja tinha 100 mil habitantes e chegou para a cidade quem néo estava previsto: cartomantes, boemia e prostituigdo. O planejamento da cidade se deu a partir da estagao de trem e a cidade foi dividida entre as chamadas “cidade jardim’ e a “cidade do mal’. Hoje, a rodovidria que trazia trabalhadores, traz contingente de rua, uma populacdo encantada e desencantada, que nao encontra acolhimento na cidade e nem na Igreja que nela esta. Wander de Lara Proenga - Pés-doutor em Historia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com pesquisa sobre a historiografia do Parané. Doutor em Histéria, na area de Histéria e Sociedade, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com tese intitulada Sindicato de : uma histéria cultural da Igreja Universal do Reino de Deus (1977- Gladyston Tavares Ladislau é formado em Teologia pela Faculdade Batista do Sul do Brasil e mestrando em Teologia pela FTSA.

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