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TEREVISTAELETRONICA DAPGERJ eee Ce fer are PROTECAO DE CRIANCAS E ADOLESCENTES NA LGPD: DESAFIOS INTERPRETATIVOS CHILDREN PROTECTION IN THE BRAZILIAN GENERAL DATA PROTECTION LAW: INTERPRETATIVE CHALLENGES Elora Fernandest Filipe Medon? RESUMO: A Lei Geral de Protegdo de Dados Pessoais (LGPD), desde a sua promulgagio, & objeto de diversas discusses doutrinarias acerca de alguns de seus dispositives. No que se refere & protegio especial de criangas e adolescentes, disposta no art. 14, da Lei, percebe-se que ainda persistem duvidas interpretativas e lacunas regulatérias que, diante do tratamento massivo de dados pessoais, podem ser prejudiciais a0 melhor interesse. A partir disso, este trabalho busca discutir quatro pontos ainda obscuros na Lei acerea da temétiea, quais sejam, a normativa referente ao consentimento: as bases legais apliciveis ao tratamento de dados de criangas ¢ adolescentes; a necessidade da elaboracao do Relatorio de Impacto Protegio de Dados como instrumento para protegao da privacidade e dos dados de criangas e adolescentes; e,0 debate acerca da efetivacao da norma constante do art. 14, §4°, da LGPD. PALAVRAS-CHAVE: Protecao de dados. Privacidade. Criangas ¢ adolescentes. Lei Geral de Protegio de Dados Pessoais (LGPD). ABSTRACT: Since its enactment, there has been several doctrinal discussions about some provisions of the Brazilian General Data Protection Law. Regarding the necessity of children’s special protection in its article 14, there are still interpretative questions. and regulatory gaps that, given the massive processing of personal data, can be harmful to the best interest of the child. This paper seeks to discuss four points that are still obscure in the law about the theme, namely, the normative referring to consent; the legal bases applicable to processing of children’s data; the need to conduct a Data Protection Impact Assessment as an instrument to protect children’s data and privacy; and the debate about the implementation of the rule contained in the law’s art. 14, $4. KEYWORDS: Data protection. Privacy. Children, Brazilian General Data Protection + Doutocanda em Diseito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERI). Mestra em Direito ¢ Inovacio pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFIF) graduada em Direito pela mesma insttuigio, com periodo de intercimbio académico na Universidad de Salamanca (Espanha). Faz parte do corpo editorial da Revista de Estudos Empiricos em Direito (REED) e € alumna do Deutscher Akademischer Austauschdienst (DAAD). E-mail: elorafemandes@live.com. *Doutorande ¢ Mestie ci Diseito Civil pela Universidade do Estado do Rio de Janciro (UERJ). Professor Substituto de Direito Civil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ¢ de cursos de P6s-Graduagio do Instituto New Law, PUC-Rio, IERBB-MP/RJ, ESA-OAB, CEPED-UERJ, EMERJ, CEDIN, CERS e do Curso Trevo. Membro da Comissio de Protegdo de Dados e Privacidade da OAB-RI, do Instituto Brasileiro de Estudos de Responsabilidade Civil (BERC) ¢ do Instituto Brasileio de Direito de Familia (BDFAM). Advogndo ¢ pesquisador, Instagram: @filipe.medon. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janeiro - PGE-RJ, Rio de Janeiro, v. 4 n. 2, maio /ago, 2021 Regulation. SUMARIO: Introdugio. 1. Consentimento ¢ autoridade parental. 2. Bases legais para 0 tratamento de dados de criangas e adolescentes. 3. Relatério de Impacto a Protegao de Dados. 4. A Minimizagao na coleta dos dados segundo o artigo 14, §4°. 5. Conclusdo. Referéncias. SUMMARY: Introduction. 1. Consent and parental authority. 2. Legal basis for processing children’s data, 3. Data Protection Impact Assessment. 4, Data minimization according to article 14, $4. 5. Conclusion. References. Introdugio Desde antes da sua promulgacdo e entrada em vigor, a Lei Geral de Protecio de Dados Pessoais (Lei n°, 13.709/2018) j4 era objeto de intensos e inquietantes debates doutrinarios acerca do sentido ¢ do alcance de alguns de seus dispositivos. Passados mais de dois anos, parece ainda nfo haver consenso com relagdo a alguns deles, como € 0 caso do regime de responsabilidade civil que teria sido adotado pela Lei e a disciplina protetiva de criangas e adolescentes conferida pelo polémico artigo 14, A inquietacio neste tltimo caso se revela especialmente problemitica, sobretudo quando se tem em vista a necessidade de se conferir tutela protetiva diferenciada a essas pessoas em desenvolvimento e marcadamente vulneriveis. A lesio a seus direitos da personalidade, em que se pode ineluir a protegio de sua privacidade e, mais amplamente, de seus dados pessoais, tem a potencialidade de causar danos permanentes que, se ainda nao se revelam no presente, por certo serio manifestados num futuro proximo. Para se ter uma dimensio disso, basta pensar que dados coletados hoje por meio, por exemplo, de redes soviais, aplicativos diversos e brinquedos inteligentes conectados a Intemet (Internet of Toys), poderio vir a formar os perfis dos adultos de amanh’ e de forma iis vezes irreversivel, dada a dificuldade em se exercer o arrependimento no futuro.* Se a “Vale lembrar que o desenvolvimento cognitivo e mental do ser humano inicia-se na infancia e é um proceso identificavel que se da por varias etapas ¢ superagao de fase subsequentes na sequénecia correta, sem que seja possivel pular estigios. Nao se trata de algo que se adquire e transforma.se em um patriménio do individuo, mas € uma evolugdo, uma construct paulatina, que demanda tempo e vivéncias, areladas a uma interaio complexa ¢ multirreferencial entre a natureza da constituigdo genética (nature) e os estimulos dos meios de convivencia e socializagao da erianca (nurture), inclusive os provenientes das novas tecnologias de informagao e connunicacao. sentimento de vergonha, por exemplo, nfo ¢ identificado em bebés com menos de dois anos. Da mesma forma, autonomia faz parte do desenvolvimento humano, seja do pouto de vista motor ¢ corporal, seja do ponto de vista afetivo, moral ¢ intelectual.” (HARTUNG, Pedro; HENRIQUES, Isabella; PITA, Marina. A protegdo de dados pessoais de criancas e adolescentes. In: DONEDA. Danilo: MENDES, Laura Schertel: SARLET. Ingo Wolfgang; RODRIGUES JR., Otavio Luiz; BIONI, Bruno (coords). Tratado de Proteciio cle Dacios Pessoais Rio de Janeiro: Forense, 2021. pp. 204-205). “A esse respeito, pemmita-se a referéncia a: TEPEDINO, Gustavo; MEDON, Filipe. 4 superexposi¢ao de Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 perfilizagio (profiting) com base em dados pessoas jé & perigosa para adultos, o que dizer de dados que sfo coletados desde a mais tenra inflincia,S e que poderio ser utilizados para as mais diversas finalidades no futuro? Como exercer 0 controle desses dados? E certo que 0 risco de manipulagio e classificagdo dessas pessoas “deve ser combatido para que, no exercicio de seu direito 4 privacidade, eles possam ser livres para escolher serem eles mesmos, consumir o que bem entenderem e trilhar suas trajet6rias livremente.”7 A importincia de se atentar para o tratamento dos dados dessas pessoas em desenvolvimento pode ser avaliada a partir dos miltiplos impactos e problemas para o bem- estar individual e social, como, por exemplo: (@ a amcaga a integridade Asica, psiquica ¢ moral por contatos maliciosos de tereeiros; (i) a hiperexposicio de dados pessoaise discriminaglo; (ii) a modulagio ¢ manipulacao de comporramento: e (iv) a microssegmentagao da pratica abusiva & ilegal da publicidade infantil* A partir da leitura de seu artigo 14, percebe-se que a LGPD nao abrangeu todos os desafios que se apresentam no tratamento de dados de criangas e adolescentes e, no que se refere aquilo que foi regulado, ha ainda diversas dividas interpretativas. Dentre elas, pode-se destacar quatro eixos, os quais servo objeto de anilise deste artigo: primeiramente, é preciso delimitar a normativa aplicivel ao consentimento, seja para saber quem precisa consentir, seja para saber a extensio da autonomia conferida as criangas e aos adolescentes. Em segundo Iugar, discute-se quais seriam as bases legais aplicaveis ao tratamento de dados desses sujeitos, vez que o art. 14 traz normativas especificas apenas para o consentimento. Em um terceiro momento, busea-se compreender a importincia da elaboragio do Relatério de Impacto & Protegio de Dados como instrumento para protegao da privacidade e dos dados de eriangas e adolescentes. E, finalmente, é apresentado 0 debate acerca da efetivagio da norma constante criangas por seus pais na internet e o direito ao esquecimento. No preo. DONEDA, Danilo. Da privacidade & protegdio de cados pessoas. Rio de Jancixo: Renovar, 2006, p. 173. ©0 desafio aqui € ainda maior se considerado o fato de que “as criangas ¢ 08 adolescentes atuais sto a primeira ‘geragao cujos dados estdo armazenados desde o nascimento, razio pela qual cuidado tem que ser maior, em face ‘da propria novidade do tema.” (TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RETTORE, Anna Cristina de Carvalho. A autoridade parental e o tratamento de dados pessoais de criangas e adolescentes. In: TEPEDINO, Gustavo: FRAZAO, Ana; OLIVA, Milena Donato (coord,). Lei Geral de Protege de Dados Pessoais e suas repercussées no Direito Brasileiro. Sto Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 517). * TEIXEIRA. Ana Carolina Brochado; RETTORE, Anna Cristina de Carvalho. A autoridade parental € 0 tratamento de dados pessoais de criancas e adolescentes. In; TEPEDINO, Gustavo: FRAZAO, Ana; OLIVA, Milena Donato (coord,). Lei Geral de Protecao de Dados Pessoals e suas repercussoes no Direito Brasileiro. Sto Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 517. S HARTUNG, Pedro: HENRIQUES, Isabella: PITA, Marina. A protecio de dados pessoais de eriangas @ adolescents. In: DONEDA, Danilo: MENDES. Laura Schertel; SARLET. Ingo Wolfgang: RODRIGUES JR. Otavio Luiz: BIONI, Bruno (coord). Zraiado de Protectto de Dados Pessoais, Rio de Jairo: Forense, 2021, p 203. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 do art. 14, $4°, da LGPD, a luz da realidade fitica de contratagdes de adesio e da necessidade de se prevenir a explorago dos dados infanto-juvenis para além do estritamente necessirio para o funcionamento de determinada aplicagao. E disso que se passa a tratar. 1. Consentimento e autoridade parental Oriundo do voedbulo latino consentire, etimologicamente, o verbo “consentir” quereria dizer “sentir junto”. Talvez esta busca etimoldgica revele um conceito oculto que © legistador, embora nao tenha pensado, pode ter aleangado por meio da disciplina do pardgrafo primeiro do artigo 14, quando disp6s que: “[o] tratamento de dados pessoais de criangas deverd ser realizado com 0 consentimento especifico e em destaque dado por pelo menos um dos pais ou pelo responsivel legal.” Fato é que, numa primeira leitura, a superficie do dispositive parece indicar que como as criangas so encaradas pela legislagao como absolutamente incapazes de praticar por si s6 05 atos da vida civil, caberé a pelo menos um dos pais ou responsével legal consentir para que haja o tratamento de seus dados pessoais, que, por forga do caput do mesmo artigo, deverd ser realizado em seu melhor interesse. Nada obstante, para além da camada superficial do dispositive, um mergulho mais profundo em sua teleologia permite conduzir o intérprete a exegese de que o tanto quanto possivel € preciso que os pais “sintam junto” de seus filhos. Dito em outras palavras: 0 consentimento passa a ser encarado numa perspectiva dialégica, que considera e tem como base a autonomia crescente daquela pessoa em desenvolvimento ‘Nao € por outro motivo que o legislador deliberadamente excluiu 0 adolescente da regra insculpida no paragrafo primeiro do artigo. E 0 que esta por trés disso é justamente essa percepgio de que deve ser considerada a autonomia do adolescente, cuja predominaneia é diretamente proporcional ao desenvolvimento de suas capacidades para assumir os encargos de sua vida na rede e fora dela a partir de uma atuagio dialogica dos pais. Tal participagdo na idade zero é total. S2o os pais que tomam todas as decisbes relativas aos dados pessoais de seus filhos, quando estas dependem do consentimento, como a catalogagio de seu crescimento por meio de aplicativos de acompanhamento da gravidez ou de seu cadastro em hospitais, escolas ete, Conforme a crianga vai crescendo, ela passa a “sentir junto” com seus pais, manifestando também seus desejos e vontades, que devem ser Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 respeitados dentro do possivel. Finalmente, quando ingressam na adolescéneia, 0 papel dos pais comeca a diminuir: o protagonismo no consentimento passa a ser cada vez mais dos adolescentes. Como se afirmou em outra sede: Isso porque a criagdo e a educagao dos fillios ocorrem como um processo: tanto ior a atuago dos pais quanto menor so os filhos, ou melhor, quanto menos discemnimento eles tém. Quando vio cresceudo, automaticamente faz-se menos necesséria a intervengto parental, vez que, através desta mesma convivéncia e do processo educacional, vivenciam situagées que Ihes conduzem & paulatina aquisigao da maturidade. Dessa forma, vio se tornando mais aptos para 0 exercicio dos direitos fundamentais, fazendo opedes com mais liberdade.® Isso nfio significa dizer, contudo, que os pais se exoneram de suas responsabilidades: a autoridade parental, verdadeito mtinus, os obriga a participar ativamente da tomada de decisio dos filhos na rede por meio daquilo que a doutrina tem chamado de “educacdo digital”, em contraposigao direta ao que se convencionou designar por “abandono digital”.!° E, assim, dever precipuo dos pais orientar e supervisionar os filhos, ainda que lhes garantindo um espago minimo (que aumenta com a idade) de privacidade e intimidade™ para © livre desenvolvimento de suas personalidades. Todavi ha que se ressaltar a diminuta importaneia do consentimento na realidade, sobretudo quando considerado 0 fato de que, usualmente, “os pais no tém controle sobre a atividade de seus filhos em ambientes virtuais e em situagdes que impliquem coleta de dados. Algumas vezes, as criangas podem forjar 0 consentimento parental para terem acesso a contetido e aplicativos que sejam de seu interesse.”!? $ TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; MEDON, Filipe. hipersecualizagdo infimtoxjuvenil na internet ¢ 0 papel cos pais: liberdade de expressio, autoridade parental e melhor interesse da crianga, p. 08. No prelo © TEIXEIRA, Awa Carolina Brochado. NERY, Maria Carla Moutinho, Vulnerabilidade digital de criancas & adolescents: a importncia da autoridade parental para uma educagao 1s redes. In; EHRHARDT JR., Marcos; LOBO, Fabiola (org.). Vuinerabilidade e sua compreensio no direito brasileiro. tndaiatuba: Foco. 2021. p. 142 ® Por mais, ver: SHMUELL Benjamin; BLECHER-PRIGAT, Ayelet. Privacy for Children. Columbia Human Rigs Law — Review, Is, v. 42, ip. 759-798, 2011, Disponivel em ‘naps://papers.ssmn.com/sol3/papers.cfiaiZabstract_id~1746540. Acesso em: 13 fev. 2021... 761 ™ EBERLIN, Fernando Bitscher von Teschenhausen, Direitos da Crianca na Sociedade da Informacao: ambiente digital, privacidade e dados pessoais. Sio Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 206. Nesse sentido, pode-se destacar o caso da menina italiana de 10 anos, que mosreu, em janciro de 2021, apés suposta participagao no Blackout Challenge no TikTok, que consiste em estar 0 maior tempo possivel sem respirar. A ‘Autoridade italiana proibiu a rede social de continuar a processar dados de usuarios dos quais nao se tem certeza da dade, 0 que violaria as disposie@es relacionadas ao tratamento de dados de criangas e adolescentes no pais. Ela jé tinha aberto, inclusive, um processo contra 0 TikTok em dezembro, alegando uma falta de atengdo & proteydo de criangas e criticando a facilidade com que elas conseguem se inserever na plataforma (ITALY blocks TikTok for certain users after death of girl allegedly playing ‘choking’ game. The Guardian, 23 jan. 2021 Disponivel em: _ hitps:/swww theguardian.com/ world) 2021 /jan/23italy-blocks-tiktok-for-certain-users-after- allegedly-playing-choking-game. Acesso em: 12 fev. 2021, ITALIA. GARANTE PER LA PROTEZIONE DEI DATI PERSONALL Tit Tok: dopo il caso della bimba di Palermo, il Garante privacy Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Como esclarece Fernando Eberlin: ‘mesmo que 0 consentimento seja formalizado pelos pais, eles possivelmente nto acompanhario os filhos na utilizaco dos servigos e terio pouca ou nenhuma influéncia em relag2o aos contetidos acessados, & forma de utilizagdo ¢ aos dados efetivamente fomnecidos pelas criangas. Vale dizer, ainda que o consentimento parental seja verificdvel (como requerem a LGPD e 0 COPPA), 0 fato de a mae ou 0 pai consentirem nao significa que a crianga estaré preparada."® ‘Nessa diregao, apesar da intensa controvérsia’ que se coloca na doutrina ¢ ainda que nio tenha sido a melhor solugio, vez que no houve qualquer estudo empirico sobre as habilidades digitais das criangas brasileiras no desenvolvimento da Lei, o legislador parece ter sido claro ao criar no parégrafo primeiro, do art. 14, hipétese de capacidade especial para os adolescents com relagiio 4 manifestagio de seu consentimento para o tratamento de seus dados. pessoais, optando “por considerar juridica e legitima situagio dotada de ampla dispone il bloceo del social, 2021. Disponivel em: bttps/‘www. garanteprivacy.it'web guesthome/docweb/~ ddocweb-display/docwelb'9524224. Acesso em: 12 fev. 2021. ITALIA. GARANTE PER LA PROTEZIONE DEI DATI PERSONALL. Tik Tok, a rischio la privacy dei minor il Garante avvia il procedimento contro il social network, il Garante privacy dispone il blocco del social, 2021. Disponivel eur Inips:/www garanteprivacy:it web/guesthome Mdocweb!-/docweb-displayidocweb'9S08923. Acesso em: 12 fev. 2021.) 2 EBERLIN, Femando Bascher von Teschenhausen. Direitos da Crianga na Sociedacie da Informasee: ambiente digital, privacidade e dados pessoais. S20 Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, pp. 205-207. ¥falinda que 0 § 1° ndo mencione os adolesceutes, nfo faria sentido deixa-los desprovidos da igual e devida protecio, sob pena de se violar as garantis consticionais dessas pessoas. Ha que se defender, nesse caso, a aplicagio do Cédigo Civil, a fim de se promover a integralidade de seus direitos. De fato, a protegao de dados pessoais, entendida enquanto parte do contrato civil, reforga a objegdo & capacidade legal de criangas © de adolescentes consentirem quanto ao tratamento de seus dados. wma vez que, pelo exercicio do poder familiar compete a mies, pais e responsaveis representé-los até os 16 anos, nos atos da Vida civil, e assist-los, apds essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-Ibes © couseatimento. Nao se coadunaria, com efit, com as ‘arantias legais 20 melhor interesse e & absoluta prioridade do adolescente que the fosse facultada a outorga de consentimento auténomo limitado para o tratamento de seus dados pessoais. Dessa forma, entende-se indispensavel o consentimento parental ou de pessoa responsivel legal para o tratamento de dados pessoais de criangas ¢ de adolescentes de até 16 anos de dade, observando-se a forma prevista no referido 14, § 1°, da LGPD. devendo, assim, o conseatiniento ser especifico e em destague, No caso de adolescentes entre 16 € 18 anos, serd necessirio 0 consentimento de ambos, nao bastando 0 consentimento parental.” (HARTUNG. Pedro: HENRIQUES, Isabella; PITA, Marina. A protesio de dados pessoais de eriancas ¢ adolescentes. ln: DONEDA, Danilo; MENDES, Laura Schertel; SARLET, Ingo Wolfgang: RODRIGUES JR, Otavio Luiz; BIONI, Brno (coords). Tratado de Protecao de Dacios Pessoais. Rio de Janeiro: Forense, 2021, pp. 212-213): TEPEDINO, Gustavo; TEFFE, Chiara Spadaccini de. Consentimento e proteyto de dados pessoais tia LGPD. In: TEPEDINO, Gustavo: FRAZAO, Ana; OLIVA, Milena Donsto (coord). Lei Geral de Protecio de Dados Pessoais e suas repercussdes no Direito Brasileiro. Sao Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 313; TELXEIRA, Ana Carolina Brochado; RETTORE, Anna Cristina de Carvalho. A autoridade parental e o tratamento de dados pessoais de criangas e adolescentes. In: TEPEDINO, Gustavo; FRAZAO, Ana; OLIVA. Milena Donato (coord.). Lei Geral de Protecao de Dados Pessoais e suas repercussées no Direito Brasileiro. Sio Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019, p. 526: “Se, por uu lado, a idade de 12 anos pode parecer muito baixa, desprotegendo jovens de 13 ¢ 14 ‘anos, talve2, por outro lado, seja isreal pensar que a coleta de dados de adolescentes de 17 anos se submeta a0 consentimento dos pais. Dai a eleiclo pela norma europeia de um marco de 16 anos — exemplo que poderia ter sido seguido pelo legislador brasileiro.” (SCHREIBER, Anderson. Protegio de dados no Brasil e na Europa, Carta Forense, $ set. 2018. Disponivel em: hmp:/www.cartaforense.com br/conteude/colunas/protecao-de- dados-pessoais-no-brasil-e-na-europa/18269. Acesso em: 13 fev. 2021.) Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 aceitagao social.”° Outro argumento que serve como sustenticulo a esta linha argumentativa reside na empiria: 0 §5°, do artigo 14, obriga 0 controlador a realizar todos os esforgos razodveis para verificar que o consentimento a que se refere 0 § 1° foi dado pelo responsivel pela crianga, consideradas as tecnologias disponiveis Todavia, a dificuldade nessa apuragao concreta, sobretudo diante de uma realidade social dindmica em que criangas e adolescentes usam 0 celular sozinhas cada vez mais cedo, toma extremamente dificil © consentimento valido dos pais em relagio as atividades dos adolescentes."® E o que poderia ser convite para caudalosas critieas, em verdade, revela-se como oportunidade para uma compreensio mais ampla, tanto do papel da autoridade parental na insergao responsével dos filhos no ambiente digital quanto do papel essencial de regulago e protegio por parte do Estado e de sociedades cempresérias. A partir disso, a autoridade parental precisa ser revisitada, com especial atengio para seus limites (contetidos negativos) e deveres (contetidos positives). Dentre os limites, pode-se destacar a pritica conhecida como (over)sharenting, que consistiria na superexposigao na rede de dados e da imagem de criangas ¢ adolescentes por quem mais deveria protegé-las: seus pais (ou, ainda, parentes proximos).’’ Aqui, 0s riscos so imensos, como se teve a oportunidade de destacar em outras sedes, incluindo a apropriagao da narrativa da historia de vida dos filhos pelos pais, o roubo de identidade por ctiminosos e a construgio de perfis que serio posteriormente utilizados por mecanismos de tomada automatizada de decisdes por Inteligéncia Artificial, bem como para bombardeamento de publicidade e 2°E prossegue a autora: “Vale lembrar, inclusive, que tanto © Cédigo Civil quanto 0 Estatuto da Crianga e do Adolescente trazem em suas nomnas determinadas disposigdes que valorizam a vontade dos menores ¢ oferecem hipéteses de capacidade especial a eles. (..) Essa nommia, sem divide, pode ser interpretada como uma excegio a0 regime de incapacidade civil. Contudo, seria ela realmente benéfica ao sujeito a quem faz referéncia?” (TEEFE, Chiara Spadaccini de. Tratamento de dados pessoais de criancas ¢ adolescentes: consideragdes sobre © artigo 14 da LGPD. O tratamento de dados pessoais sensiveis. In: MULHOLLAND, Caitlin (org.). A LGPD e 0 ovo marco normativo no Brasil. Porto Alegre: Arquipélago, 2020, pp. 166-167). 2 Acerca de ferramentas para a verificagao da idade no ambiente virtual, ef. nota de rodape u? 40. 2 Por mais, recomenda-se: STEINBERG. Stacey. Growing np shared: how parents can share smarter on social media ~ and what you can do to keep your family safe in a no-privacy world, Naperville: Sourcebooks, 2020; BLUM-ROSS, Alicia; LIVINGSTONE, Sonia. “Sharenting,” parent blogging, and the boundaries of the digital self, Popular Communication, [5 v.15, m2, p. 110-125, 3 abr. 2017. Infoma UK Limited http: /dx doi.org/10.1080/15408702.2016.1223300; BROSCH, Anna. When the child is born into the internet: sharenting as @ growing trend among parents on facebook. The New Educational Review. [s. Lv. 43, 0. 1. p 5, 31 mma, 2016. Wydawnictwo Adam Marszalek, brtp//dx.doi.org/10.15804/tner2016.43.1.19; EBERLIN. Fernando Biischer von Teschenhausen. Sharenting, liberdade de expressdo e privacidade de criancas ro ambiente digital: o papel dos provedores de aplicacdo no cenario juridico brasileiro. Revista Brasileira de Politicas Publicas, {s. 1], v. 7. a. 3. p. 256-274, 6 fev. 2018. Centro de Ensino Unificado de Brasilia, bap:/dx.doi.org/10.5102/rbpp.¥7i3.4821 Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 propaganda politico-ideolégica.'® Igualmente importantes so os contetidos positives desse minus: mais do que providenciar moradia, alimento, respeito, satide e educagio, a autoridade parental também impée, na realidade atual, a participagio ativa dos pais nesse processo de ambientagdo da crianga e do adolescente a realidade tecnoldgica que os circunda, O primeiro paso, cerfamente, ha de ser garantir o acesso da crianga 4 tecnologia, pois a desigualdade social ainda nao tem permitido o acesso amplo, o que é tarefa compartilhada entre pais ¢ também 0 Estado.” Todavia, apesar da importincia fundamental da participagio dos pais ou responsiveis na protegio da privacidade e dos dados pessoais daqueles que esto sob sua tutela, ha que se atentar, também, para a atuago do setor privado e do governo na construgio desse rastro digital, Primeiramente, pois 0 consentimento é apenas uma das bases legais que permitem o tratamento de dados de criancas e adolescentes e, hoje, ¢ cada vez menos utilizado. Em segundo lugar, diversos so os estudos que questionam a racionalidade humana na tomada de decisdes, especialmente quando os custos de transagdo para agir de forma diferente sio altos, como no caso da leitura de enormes ¢ dificeis Termos de Uso ¢ da possibilidade de nao utilizagio de servigos hoje essenciais.** Isso é especialmente problemético nas redes sociais, cujos modelos de negécio dependem da agregagao de uma quantidade gigantesca de dados incentivam o compartilhamento excessivo de informagdes — inclusive de eriangas, Por fim, dados de eriangas e adolescentes esto cada vez mais sendo tratados de forma agregada aos dados de suas familias.” Esse € 0 caso dos objetos conectados assistentes virtuais, que tratam dados de varias pessoas ao mesmo tempo, inclusive eriangas & adolescentes, sem que necessariamente o melhor interesse tenha sido levado em consideragao na construgao dessas tecnologias, A partir dessas reflexdes, apesar do reconhecimento de que os adultos também 2 TEPEDINO, Gustavo; MEDON, Filipe. 4 superexposiedo de eriancas por seus pais na imernet ¢ 0 direito ao esquecinento. No prelo; MEDON, Filipe. (Over)sharenting: a supetexposicao da imagem e dos dados da crianga ha intemet e © papel da autoridade parental. In; TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; DADALTO, Luciana Autoridade Parentat dilemas e desafios contemporineos. 2. ed. Indaistubs: Editora Foco, 2021. } Para uma anilise especifica sobre as dificuldades da utilizagao da base legal do consentimento na realidade brasileira, extremamente desigual, cf, FERNANDES, Elora, Tratamento de dados de adolescentes no Brasil ¢ @ necesséria protecao de diseitos por design. In: Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS). Trabalhos finais do Grupo de Pesquisa 2020. Disponivel em: https:/itsrio.org-wp-content/uploads/2020'10/Tratamento-de-dados- de-adolescentes-no-Brasl-e-a-necessiria-protecdo-de-direitos-por-desian_Elora_Femandes.pdf, ® Ct, FERNANDES, Elora Raad, Direitos de criangas e adolescentes por desig: una agenda regulatoria para a ANPD. In: LATERCA, Priscilla Silva: FERNANDES, Elora; TEFFE, Chiara de; BRANCO, Sérgio. Privacidade e Protecao de Dacios de Criancas e Adolescentes. Rio de Janeiro: Obliq, 2021 2 BARASSL Veronica. Child | Dara | Citizen: how tech companies are profiling us from before birt, ‘Cambridge: Mit Press, 2020, Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 precisam ter e oferecer boa edueagao digital, 6 necessério trazer outros atores para a discussio, evitando colocar exclusivamente sobre os ombros dos pais ou responsiveis a culpa e 0 fardo de todos os riscos do tratamento de dados de criangas € adolescentes. A fim de coneretizar 0 artigo 227, da Coustituigde Federal, que aponta como sendo dever de todos os atores da sociedade a protecao dos direitos de criangas e adolescentes, incluindo sociedades empresirias ¢ Estado, & imprescindivel cobrar destes uma atitude proativa na construgio de regulagGes e tecnologias que protejam dados desde a sua concepgao. 2. Bases legais para o tratamento de dados de criangas e adolescentes Tendo em vista a polémica relacionada ao consentimento ja explicitada no capitulo anterior, pouco se discutiu, até a entrada em vigor da LGPD, acerca das bases legais que poderiam ser utilizadas para se tratar dados de criangas e adolescentes. A Lei nfo apresenta regra explicita sobre o tema e, por isso, é necessirio que se faga uma anilise sistemética do ordenamento juridico brasileiro. Pode-se dizer que, hoje, ha trés teses existentes que buscam enderecar esse problema e, ao final desta seco, delinear-se- uma quarta alternativa. Inicialmente, diversos autores interpretaram 0 artigo 14 de forma restritiva, de modo que as tinieas hipdteses autorizativas possiveis para se tratar dados de criangas — pessoas de até 12 anos incompletos — estariam em seu §1° ¢ §3°. Sendo assim, 0 agente de tratamento de dados deveria sempre requisitar o consentimento dos pais, tratar os dados para que eles fossem contatados ou tratar os dados para a protegdo da crianga. No que se refere aos adolescentes, seus dados deveriam ser tratados a partir das bases legais presentes no art. 7° e 11, desde que preservado o melhor interesse que também os abrange segundo o caput do art. 14, da LGPD. Uma segunda tese esti caleada na possibilidade de que todas as bases legais presentes no art. 7° ¢ no art. 11 poderiam ser utilizadas ordinariamente para o tratamento de dados tanto de eriangas quanto de adolescentes, mas, no momento de sua aplicagio, seria necessirio fazer uma andlise do melhor interesse, a partir do caso conereto, Em uma terceira via, defende-se que dados de criangas e adolescentes devem ser considerados dados sensiveis, a fim de que se aplique as bases legais do art. 11 e nao as do art. 7°, da LGPD. Todavia, acredita-se que uma anilise aprofundada do ordenamento, que leve em consideracao o sistema de protegao 4 crianca e ao adolescente ja existente, especialmente na Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Convengio sobre os Direitos da Crianga (doravante Convengao)”, na Constituigio Federal ¢ no Estatuto da Crianga e do Adolescente (ECA), deixaria claro que o legislador se equivocou a0 apresentar o tema de maneira vaga. Nesse sentido, ¢ preciso se valer desses instrumentos para enderegar o tema e identificar uma quarta via de interpretagdio, que ora se passa a propor. Um primeiro passo para a compreensio da problematica entender o que significa tratar dados a partir do melhor interesse. Sendo essa a chave mestra para qualquer tratamento de dados de criangas ou adolescentes, ela age como verdadeiro filtro em relagdo aquilo que estaria ou niio adequado a esse sistema de protege, © Comité sobre os Direitos da Crianga, que tem como uma de suas fungdes a interpretagiio da Convengio, em seu Comentario Geral n° 14,” interpretou o art. 3, 1, da normativa, que trata justamente sobre o melhor interesse. Segundo o Comité, este principio visa a assegurar a frui¢do plena e efetiva de todos os direitos reconhecidos na Convengio, bem como o desenvolvimento global da crianga, de modo a garantir sua integridade fisica, psicolégica, moral e espiritual e a promover sua dignidade, Trata~ de conceito complexo, que, preferencialmente, deve ser analisado caso a caso. Contudo, nas decisdes coletivas, como as que emanam do art. 14, da LGPD, 0 Comité entende que o melhor interesse deve ser avaliado e determinado a luz das circunsténeias do grupo especifico ou das criangas em geral* A fim de gerar consequéneias préticas a partir da interpretagio desse conceito, ele pode ser entendido, segundo Comité, a partir de trés vieses. Primeiramente, compreender- se-ia 0 melhor interesse como um direito fundamental, isto é, criangas tém o direito fundamental a que seu melhor interesse seja avaliado e constitua uma consideragio primordial quando diferentes interesses estejam em jogo, bem como a garantia de que este direito sera aplicado sempre que se tenha de tomar uma decisio que afete uma crianga, um grupo de criangas on as eriangas em geral. BRASIL. Decreto n° 99.710, de 21 de novembro de 1990. Promulga a Convencao sobre 0s Direitos da Crianga, Brasilia, 1990, Dispontvel em: bttp:/www.planalto.gov.briccivil_ 03 decreto/1990-1994/D99710.htm, Acesso em: Jan. 2021 2 UN COMMITTEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD. General comment No. 14 (2013) on the right of the child 10 hare his or her best interests taken as a primary consideration (art. 3, para. ). UN Doe CRCIC/GC!14 [. 2013. Disponivel em: |https:/tbintemet ohehr.org/_layouts/1Streatybodyextemal/Download aspx?symbolno=CRC%26C%24GC%2414 &Langen. Acesso em: 04 jan. 2021. > UN COMMITTEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD. General comment No. 14 (2013) on the right of the child to have his or her best interests taken as a primary consideration (art. 3, para. 1). UN Doc CRCICIGC/14. [s1). 2013. Disponivel |hnps:/tbinternet ober. org/_layouts/15 treatybodyestemal/Download.aspx?symbolno—CRC%20C% ‘&Lang-en, Acesso em: 04 Jan, 2021 Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Em segundo lugar, ele pode ser compreendido como um prineipio juridico fundamentalmente interpretativo, o que significa dizer que se uma disposigio juridica estiver aberta a mais do que uma interpretagdo, deve ser escolhida a que efetivamente melhor satisfaga 0 melhor interesse da crianga. Por fim, ¢ entendido também como regra de procedimento: sempre que tomada uma decisio que afeta uma determinada crianga, um ‘grupo de criangas ou as eriangas em geral, o processo de tomada de decisio deve incluir uma avaliagdo de seu possivel impacto. Compreendendo o melhor interesse como um direito fundamental, percebe-se que o art. 14, em seus §§ 1° e 3°, nfo é suficiente para concretizé-lo. Exemplo disso é o tratamento de dados de criangas para politicas piblicas, no Ambito do diteito 4 educagio.”* Sendo a educagdo obrigatéria no pais, ndo seria possivel se utilizar 0 consentimento dos pais, j4 que isso pressupde uma escolha ¢ autonomia por parte do titular de dados ou de seu responsivel egal. Da mesma forma, as hipéteses presentes no §3° no se adequariam a essa situagao Nesse sentido, o art. 7°, IJ, toma-se essencial para suprir essa lacuna e cumprir 0 melhor interesse como direito fundamental. © mesmo corre no tratamento de dados para a protegao da vida ou da incolumidade fisica (inciso VII) e para a tutela de sua sade (ineiso VII)", hipoteses autorizativas que definitivamente podem ser utilizadas para garantir o melhor interesse. Tendo em vista estes exemplos, esse exercicio interpretativo deve ser feito com cada uma das bases legais do art. 7° e 11, Percebe-se que a maior parte delas poderd garantir os direitos presentes na Convengio, na Constituigao Federal e no ECA, desde que a forma do tratamento dos dados esteja ancorada ao melhor interesse. Deste modo, afasta-se, automaticamente, a primeira tese, segundo a qual as bases legais para tratamento de dados de criangas estariam presentes apenas no art. 14, Em contrapartida, ao se compreender 0 melhor interesse como direito fundamental e, também, como prineipio interpretativo, duas bases legais presentes no art. 7° se destacam como problemiticas: o legitimo interesse ¢ a protegio ao erédito, Essas sfio bases legais 23 CE FERNANDES, Elora Raad, Uso de Tecnologias na Educagio Basica em temos de pandemia; reflexdes sobre a protegiio de dados de eriangas. In: LIMA, Stephane. Educagdo, dados e plataformas: analise deseritiva ddos terms de uso dos servigos educacionais google e microsoft, Sao Paulo: Iniciativa Educagao Aberta, 2020. p. 14-15, Disponivel em: https: ‘zenodo org/record/4005013#.X0jaG6LQJIU. Acesso em: 23 jan. 2021 28 Sobre o tratamento de dados de criancas ¢ adolescentes no ambito da tutela da sade, cf. FERNANDES, Elora Raad; CANTANHEDE, Cindyneia Ramos, Protegdo de criangas e adolescentes por design: um debate necessério em meio a pandemia de covid-19. In: BIONI, Brino R; ZANATTA, Rafael A.F.; RIELLI, Mariana: VERGILL Gabriela; FAVARO, Iasmine. Os dados e 0 virus: pandemia, protegio de dados democracia. pandemia, protegiio de dados ¢ democracia, Sto Paulo: Data Privacy Brasil, 2020. p. 73-81. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 extremamente flexiveis, 0 que permite que o agente reutilize dados para outras finalidades, sem que 0s titulares necessariamente tenham conhecimento. Isso pode colocar em xeque, por exemplo, a transparéneia necesséria para se avaliar 0 melhor interesse em cada caso. Visto que 0s préprios agentes de tratamento poderiam interpretar o que ele significa, caberia & Autoridade Nacional de Protecdo de Dados (ANPD) ou ao Judicidrio uma andlise apenas a posteriori - © que pode ser bastante arriscado tendo em vista, especialmente, os interesses inerentes ao setor privado, que nem sempre estéo alinhados aos direitos fundamentais. A hipotese autorizativa da protegio ao crédito revela-se ainda mais problematica, uma vez que o interesse do agente de tratamento, neste contexto, ¢ intrinsecamente financeito, © que nio pode se sobrepor, em uma perspectiva de ponderagao, a privacidade e @ protegio dos dados de criangas e adolescentes, cuja tutela é essencial e instrumental para a concretizagao de outros direitos fundamentais. Destaca-se que essa base legal nfo existe, por exemplo, na Europa, tendo advindo diretamente da pressio do setor financeiro e de data brokers durante a tramitagdo dos projetos de lei que deram origem & LGPD. Em suma, a0 se langar mio do melhor interesse como direito fundamental e como principio interpretativo, deve-se afastar, de plano, a aplicagao dos incisos IX e X do art. 7. Uma controvérsia, nesse sentido, poderia surgir nos casos em que o legitimo interesse € utilizado para tratar dados com a finalidade de seguranga e protegio. Exemplo disso ocorre na utilizagio de eircuitos intermos de cémeras, como nos baneos. Nessa circunstncia, entretanto, seria possivel se valer do § 3° do proprio art. 14. De acordo com este dispositivo, sempre que for necessério para proteger a crianga, bem como para contatar seus pais ou responsiveis legais, a coleta de dados poderi ocorrer independentemente de consentimento, Entende-se que isso pode ser estendido aos adolescentes, uma vez que a eles também se aplica 0 melhor interesse como direito fundamental e, com isso, a necessiria protesab. Até aqui, foi possivel afastar as duas primeiras teses, restando uma anilise mais aprofundada sobre a consideracdo dos dados de criangas ¢ adolescentes como dados sensiveis e a consequente aplicagio das bases legais do art. 11, Destaca-se, nessa linha, que essa interpretago possui uma vantagem intrinseca: o rol de bases legais presentes no art, 11 tem grande paralelismo com as 0 art. 7° — retirando-se o legitimo interesse e a protegao ao crédito € adicionando-se 0 tratamento de dados para prevengdo a fraude e a seguranga do titular. Todavia, antes de se pensar apenas nas consequéneias de se reconhecer um dado como sensivel, € preciso entender se todos os dados de criancas podem ser considerados, de fato, Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 como sensiveis, Preliminarmente, necessirio compreender que o rol de dados sensiveis, seja ele aberto ou fechado — discussio que ainda se prolonga na doutrina — inclui categorias de dados especificas e nao titulares especiais de dados. Nesse sentido, siio dados sensiveis, por exemplo, aqneles sobre origem racial ou étnica, conviegao religiosa, opiniao politica, etc., conforme o art, 5°, Il, da LGPD. Sendo assim, ao se permitir que a vulnerabilidade de eriangas justifique © tratamento de seus dados como sensiveis, ndo seria 0 caso de estender esse entendimento também para dados de idosos e de pessoas com deficiéneia, por exemplo? Em segundo lugar, a definigaio dos dados como sendo sensiveis esté atrelada a seu potencial discriminatério, sendo o seu regime de protegao mais rigoroso. Eles se diferenciam dos dados comuns, por exemplo, nas bases legais permitidas para seu tratamento, na requisigao de consentimento em destaque ¢ na intensifieagdo das medidas de seguranga Contudo, uma interpretagdio adequada do melhor interesse teria o potencial de proteger dados de criangas de forma muito mais ampla, vez que requer uma protegdo integral dos direitos infanto-junvenis, no se atendo somente a nao discriminagao. Por fim, ao se enquadrar o tratamento de dados de criangas ¢ adolescentes sob a égide exclusiva do art. 11, perder-se-ia a chance de se criar uma camada extra de protegiio em relagio aos dados sensiveis de criangas e adolescentes, sendo estes considerados hipersensiveis. Nesse sentido, com base no melhor interesse, parece evidente que dados referentes 4 religido, orientaglo sexual e biometria dessas pessoas, a titulo de exemplo, devem ser protegidos com ainda mais rigor que os mesmos dados referentes a adultos. Levando-se em consideragio a vulnerabilidade de criangas e adolescentes, 0 tratamento discriminatério pode ter efeitos bem mnais severos na vida dessas pessoas. Por essa perspectiva, pode-se pensar no tratamento de dados a partir do reconhecimento facial, principalmente para finalidades de vigilancia em massa (identificagao), que, além de ter o potencial de gerar discriminagio, pode ainda violar diversos outros direitos fundamentais, como a liberdade de expressio ¢ de associagio. Assim, considera-se que o art. 11 e toda a construgio tedrica que o fundamenta, em conjunto com o art. 14, devem ser aplicados apenas quando se tratar de dados de criangas e de adolescentes que se encaixem no rol de dados sensiveis. A partir dos desafios apresentados pelas trés interpretagdes apontadas acima, & necessirio e possivel pensar em uma nova altemativa. Desse modo, levando em consideragaio 0s principios estabelecidos na LGPD e em todo o ordenamento juridico brasileiro, parece ser Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 possivel advogar que, para tratar dados de eriangas e adolescentes poderiam ser aplicadas as bases legais previstas nos incisos I a VIII do art. 7°, da LGPD — desde que estejam sempre orientadas pelo melhor interesse. Além disso, deve-se considerar a base legal estabelecida no art. 14, § 3° e, especificamente em relagio ao consentimento para tratamento de dados de criangas, deve-se aplicar a regra do art. 14, § 1°. Por fim, quando a hipétese envolver dados sensiveis de criangas e adolescentes, a conjungao seri do art. 14 com o art. 11, da mesma normativa. Em todas as situagSes, no entanto, um Relatorio de Impacto a Protegao de Dados Pessoais sera essencial para avaliar como o melhor interesse sera aplicado em cada caso, 0 que serd delineado na préxima sega. Relatério de Impacto Protegio de Dados Ao se inspirar na legislacio europeia de protegio de dados, a Lei Geral de Protecdo de Dados Pessoais (LGPD) adotou, como um dos instrumentos de adequacio & lei, 0 relatorio de impacto a protegao de dados pessoais. Em seu art. 5°, XVI, a Lei o define como locumentagio do controlador que contém a descrigdo dos processos de tratamento de dados pessoais que podem gerar riscos as liberdades civis ¢ aos direitos fundamentais, bem como medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigagio de riseo”. Em outras palavras, eles sio 0 resultado de uma avaliagdo de impacto anterior, que busca compreender a necessidade e a proporcionalidade de determinado tratamento e ajudar a gerir os riscos para os direitos © liberdades dele decorrentes””, apresentando uma intensa carga de prevengao de danos Devido a grande subjetividade existente nesse tipo de anilise, mostra-se extremamente importante que sejam tragadas orientagdes que sirvam de guia aos agentes de tratamento.”’ especialmente delimitando as situagdes nas quais esse relatorio sera obrigatorio. Tendo em vista que a Autoridade Nacional de Protegdo de Dados brasileira ainda esti em processo de consolidagio, revela-se possivel necessirio pensar em casos de elaboragio mandatoria, a partir de suas especificidades e de uma anilise sistematica do ordenamento brasileiro. Um deles ¢ o tratamento de dados de eriangas adolescentes. * GRUPO DO ARTIGO 29° PARA A PROTECAO DE DADOS. Orientacdes relativas @ Avaliagito de Impacto sobre a Protecdo de Dados (AIPD) e que determinam se 0 tratamemo & “suscettvel de resultar nun elevacio risco” para efeitos do Regulamento (UE) 2016/679. [s. 1], 2017. Disponivel em: bttps:/ec.curopa.cwnewsroonvarticle29/item-detail.cfiitem_id=611236, Acesso em: 21 jan. 2021. 28 GOMES, Maria Cecilia Oliveira. Relatério de Impacto 4 Protego de Dados: uma breve anilise da sua definicao e papel na lapd. Revista do Advogado, Sao Paulo, n. 144, p. 6-15, nov. 2019. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Em primeito lugar, deve-se destacar que a anélise de impacto a direitos de criangas e adolescentes de maneira mais ampla j4 ¢ uma necessidade apresentada pelo proprio principio do methor interesse. Como ja explicitado acima, uma das facetas do melhor interesse & seu entendimento como regra de procedimento, isto é, a demanda de que, em um processo de tomada de decisdo que envolva uma crianga, um grupo de criangas ou as eriancas em geral, deve-se sempre incluir uma avaliac3o do possivel impacto (positivo ou negative) da decisdo sobre ela(s). Nesse sentido, deve-se utilizar a avaliagao para explicar como o melhor interesse foi considerado na decisio, em quais critérios ela se baseia e como foi realizada a ponderagao do melhor interesse em relacio a outras consideragdes.”? Essa avaliagao deve levar em conta a idade e maturidade da erianga (isto 6, medidas diferentes devem ser tomadas, por exemplo, para criancas de 3 ou 10 anos), que se desenvolve ao longo do tempo. Assim, essas medidas devem ser revistas ou ajustadas com base nas necessidades fisicas. emocionais, educacionais, entre outras, além de que possiveis cenirios para o desenvolvimento infantil devem ser avaliados e analisados a curto e longo prazo.*° © ja mencionado Comité determina, no Comentario Geral n° 5, *! a impreseindibilidade de um monitoramento e anélise de impacto, por parte do Estado e de toda a sociedade, de decisdes que impactem criangas e a concretizagao de seus direitos. No caso de andlises mais amplas de impactos a direitos, ja hé modelos bem estruturados que podem ser utilizados como parimetro, como & 0 caso do guia elaborado pela Unicef °. A mesma necessidade é apresentada pelo recém-langado Comentario Geral n° 25 sobre os Direitos das Criangas em relagio ao ambiente digital, que determina que UN COMMITIEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD. General comment No. 14 (2013) on the right of the Child to have his or her best interests taken as a primary consideration (art. 3, para. 1).UN Doc CRC/CIGC/14. [sL. 2013, Disponivel em: bttps:/binternet.obchr.org/_layouts/15 teatybodyexteral/Download aspx?symbolno=CRC%2iC%2EGC%214 &Lang=en. Acesso em: 04 jan, 2021 » HOF, Simone van Der; LIEVENS, Eva. The Importance of Privacy by Design and Data Protection Impact Assessments in Strengthening Protection of Children’s Personal Data Under the GDPR. Communications Law, [s I]. v. 23, a. 1, 2018. Disponivel em: hitps://papers ssrn.com/sol3 papers.cfin?abstract_id~3107660. Acesso eu: 10 out. 3. UN COMMITTEE ON THE RIGHTS OF THE CHILD. General Commem n® 5: General measures of implementation of the Convention on the Rights of the Child (arts. 4, 42 and 44, para, 6). UN Doc CRCIGC/2003/527. bu, 2003, Disponivel enn: ‘htps:/doestore.obche. org/SelfServices FilesHandler ashx?ene=6QkG 1d%2FPPRIC AghKb 7yhsiQalsgXSZxhOe (QuSR2x6Zd2%2FQRsDaC TearSeZhPr2vUev|bn6t6GSi fle Vp%42B) SHTLU2Ub%2FPZZiQWnOjEXFVAWuhi Bbqgj0dWBoFGbKde. Acesso em: 04 jan. 2021 ® UNICEF; DANISH INSTITUTE FOR HUMAN RIGHTS. Children's Rights in Impact Assessments. UN Doc RC/GC/2003/527. [5.1]. 2013. Disponivel em: hipsy//sites.unicef org/esr/assessments html. Acesso em: 04 jan. 2021. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Estados Partes devem exigir que o setor empresarial realize a devida diligéncia dos direitos da criange, em particular para realizar avaliagdes de impacto des direitos da cianga e divulgt-as a0 pibico, com especial atengdo aos impactos diferenciadose, as vezes, severos do ambiente digital sobre as criangas. Eles devem tomar medidas ‘propriadas para prevenir, monitorar, investigar e punir os abusos dos direitos da ctianga por parte das empresas.”* Além de o Brasil estar obrigado a cumprir as determinagdes da Convengdo, a necessidade de relatorios de impacto na protegio de dados de criangas e adolescentes jd é algo aventado na Europa e consolidado nas legislagGes mais avancadas neste tema no mundo, em especial no Reino Unido e na Irlanda. Embora 0 GDPR nio traga explicitamente essa determinagio, 0 Grupo de Trabalho do Artigo 29. para a Protegao de Dados, ao interpretar o regulamento e apresentar orientagdes sobre o tema,” traz como exemplo de situac3o que exigiria tal documentagao 0 tratamento de dados relativos a titulares de dados vulnerdveis (considerando 75). Isso inctui 08 dados de criangas, devido ao acentuado desequilibrio de poder entre os titulares dos dados © o agente de tratamento. Destaca-se, também, 0 Reino Unido, que foi pioneiro na previsio, dentro de sua lei de protecio de dados (Data Protection Aci), da necessidade especifica de o Information Commissioner's Office (ICO), sua autoridade nacional de protegao de dados, elaborar um codigo de priticas que contivesse orientagdes sobre padrdes de design tecnologicamente neutros e adequados s diferentes idades. O Age Appropriate Design Code* ou, simplesmente, Children’s Code, inteiramente baseado na Convengio, apresenta 15 padrdes de design cumulativos e interligados para fornecer protegio integrada, permitindo que etiangas explorarem, aprenderam e joguem online de maneira segura. O padro 2 & justamente, a necessidade de se elaborar um relatorio de impacto a protegao de dados. A autoridade destaca que no se trata de definir se o servigo ¢ realmente de alto risco, mas de uma anilise de indicadores potenciais de alto risco, Nesse sentido, entende que o contexto dos servigos online dentro do escopo do cédigo, isto é, que tratam dados de criangas ¢ adolescentes, ® COMITE SOBRE OS DIREITOS DA CRIANCA. Comentirio Geral No. 25 (2021) sobre os Direitos das Criangas em relaséo ao ambiente digital, UN Doc CRCICIGCI2S. [s. 1], 2021. Tradugd0 ufo oficial do Instituto Alana do inglés para o portugués. Disponivel em: _ https://criancaeconsumo.org.br/wp- content/uploads/202 1/04/comentario-geral-r 121 pdf. Acesso em: 20 abr. 2021, para. 38. # GRUPO DO ARTIGO 29° PARA A PROTECAO DE DADOS. Orientagdes relarivas @ Avaliagdo de Iinpacto sobre a Protecdio de Dados (AIPD) e que determina se 0 tratamento é “suscetivel de resultar mim elevado risco” para efeitos do Regulamento (UE) 2016679. [s.1], 2017. Disponivel em: Inns: /ee.europa ew newsroom article29/tem-detil.cfiitem id-611236, Acesso em: 21 jan. 2021 2° REINO UNIDO. INFORMATION COMMISSIONER'S OFFICE. 4ge appropriate design: a code of practice for online services. [s.L], 2020. Disponivel em: https://ico.org.uk/for-organisations/guide-to-data-protection/key- data-protection-themes/age-appropriate-design-a-code-of-practice-for-online-services/. Acesso em: 04 jan. 2021. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 inevitavelmente envolve um tratamento que pode resultar em um alto riseo para os direitos e liberdades de criangas e adolescentes. Da mesma maneira entende a Data Protection Commission (DPC), da Irlanda, que recentemente langou um documento bastante semelhante ao da ICO: 0 Fundamentals for a child-oriented approach to data processing*®. A DPC entende, também, que o melhor interesse requer que um relatério de impacto a protego de dados seja sempre elaborado quando os servigos de determinada organizagao seja direcionado/destinado a criangas ou quando possam ser por elas acessados. Essa anilise deverd considerar as diferentes idades, capacidades e necessidades de desenvolvimento, bem como os riscos reais e potenciais decorrentes do processamento de dados para a satide, o bem-estar e os interesses gerais da rianga, incluindo danos sociais, mentais, fisicos e financeiros. Percebe-se, portanto, que as obrigagSes internacionais assumidas pelo Brasil, bem como © sistema de protegio de criangas ¢ adolescentes no pais ¢ as melhores priticas internacionais demandam uma obrigatoriedade de elaboragio do relatério de impacto & protego de dados de criancas e adolescentes, Nesse sentido, ¢ imperative que a ANPD siga 0 mesmo caminho e adote, em sua interpretagdo sobre a matéria, este entendimento A minimizagio na coleta dos dados segundo 0 artigo 14, $4” © itltimo desafio interpretative que se busca enfrentar no presente trabalho é aquele relativo a0 pardgrafo quarto do artigo 14, que assim dispde: “[o]s controladores no deverio condicionar a participagdo dos titulares de que trata 0 § 1° deste artigo em jogos, aplicagées de internet ou outras atividades ao fornecimento de informagGes pessoais além das estritamente necessatias atividade. Para compreender o real alcance desta norma, necessirio fazer mengio a importante principio trazido pela LGPD em seu artigo 6°, inciso III: a necessidade, que nas palavras do legislador significa “limitagio do tratamento ao minimo necessirio para a realizagio de suas finalidades, com abrangéncia dos dados pertinentes, proporcionais e no excessivos em relagdo as finalidades do tratamento de dados.” Este principio, pode ser resumido na seguinte formulacio: nao tratar dados além do necessario. Nesse sentido, 0 %IRLANDA. DATA PROTECTION COMMISSION. Funciamentals for a child-oriented approach to cata processing. 2020, Disponivel em: bttps://www.dataprotection ie/en news-media/consultations/children-1 and-centre-findamentals-child-oriented-approach-data-processing. Acesso em: 04 jan. 2021. Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 tratamento poder ser considerado abusivo, mesmo que seja fornecido o consentimento por parte dos responsiveis*” ou seja utilizada outra base legal valida. Tal pardgrafo se revela, portanto, como uma coneretizagio do principio da necessidade, na medida em que deve haver minimizago nfo s6 do tratamento como, primeiramente, da prépria coleta dos dados coletados reputados como nao essenciais a atividade desenvolvida, o que nao deve prescindir, como visto, de Relatérios de Impacto. Esta regra objetiva “afastar as politicas de ‘tudo ou nada’, em que 0 usudrio ou aceita todas as disposigdes do servigo ou no pode utilizé-lo”,* tao comuns em contratagdes eletténicas de aplicativos, que tendem a ser sempre contratos de adesio. Como exemplo de aplicagao pritica desta norma, pense-se que para que uma crianga possa criar uma conta em determinado aplicativo no se deve exigir mais do que o minimo indispensével para o jogo Ou seja, a coleta de dados deve ser reservada ao methoramento da jogabilidade, no sendo licito utilizé-los, por exemplo, para municiar, eventualmente, publicidade. Embora coneretize os principios acima mencionados, a norma vai além, a0 empregar a expressio “estritamente necessirias”, que parece ser um aprofundamento dos prineipios gerais. Se essa vedagio jé ¢ importante para pessoas adultas sujeitas a contratos de adesio em que fornecem seus dados em troca do acesso a funcionalidades, mais ainda deve ser a protegiio conferida a essas pessoas em desenvolvimento, haja vista a insita vulnerabilidade e a gravidade dos danos que podem advir do tratamento de seus dados, como 4 amplamente demonstrado ao longo deste trabalho.? Como esclarecem Pedro Hartung, Isabella Henriques ¢ Marina Pita, a rario da norma é qu: sinds que no haja consentimento parental pam 0 tratamento de dados de 2” TEFFE, Chiara Spadaccini de. Tratamento de dados pessoais de criangas e adolescentes: consideragdes sobre 0 artigo 14 da LGPD. tratamento de dados pessoais sensiveis. In: MULHOLLAND, Caitlin (org.). A LGPD e 0 novo marco normativo no Brasil. Porto Alegre: Arquipélago, 2020, p. 171. 2 TEFFE, Chiara Spadaccini de, Tratamento de dados pessoais de eriangas ¢ adolescents: consideragdes sobre 0 artigo 14 da LGPD. O tratamento de dados pessoais sensiveis, In: MULHOLLAND, Caitlin (org.). 4 LGPD e 0 novo marco normativo no Brasil. Porto Alegre: Arquipélago, 2020, p. 171 2 [A] coleta de DP de criangas possui um cariter certamente mais sensivel se comparada a obtencdo de informagdes de adultos, jé que os mecanismos de manipulagio do comportamcnto infantil podem surtir mais efeitos nesse piblico. Da mesma forma, as consequéncias (como a possibilidade de discriminagao) podem ser mais expressivas e duradouras quando atingem pessoas mais novas. Dessa maneira, 03 termos de uso no ambiente digital, inclusive maquele concebido para criancas e adolescentes, em nome da protecio do consentimento ¢ como forma de reduzir a vulnerabilidade, deveriam buscar métodos de aproximacdo entre 0 aceite digital ¢ 0 consentimento informado. AS informagdes € 05 texos contratuais, mais do que disponiveis, devem ser redigidos de modo a serem lidos e compreendidos pelos usuarios, além de ser desejavel, inclusive «que haja mecanismos para esclarecimento de diividas ¢ de constituigao de um didlogo.” (EBERLIN, Fernando Bacher von Teschenhausen, Direitos da Crianca na Sociedade da Informagdo: ambiente digital, privacidade ddados pessoais. Sao Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2020, p. 185). Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 ccriangas e adolescentes até 16 anos de idade incompletos,tais individuos no ‘podem ser privados da participagio em jogos ou aplicagées. Tal dispositive ressalta 0 fato de que © objetivo do consentimento parental nfo é privar ccriangas e adolescentes do uso das ferramentas digitais disponiveis, mas ‘garantir que, a0 utilizé-las, seus dados nio sejam tratados ou processados sem o devido consentimento de seus esponsiveis legais."° Segundo Chiara de Teffé, o dispositivo mostra que a Lei é “reffatdria 4 requisicao excessiva de dados de criangas em servigos de divertimento e entretenimento.”* Nada obstante, a Lei nao parece ter limitado a aplicagdo da regra contida neste pardgrafo a tais servigos, gozando de abrangéneia mais ampla, Deve-se destacar, ainda, que a restrigdo do tratamento de dados para esses fins deve ser balanceada com a necessidade de se tratar dados para verificagio da idade. Essa verifieagio 6 essencial para se averiguar a necessidade do consentimento dos pais e para a aplicac3o de uma tutela mais rigida através da protecdio por design Isso porque, a um so tempo, a exigéncia de menos dados para protegio das criangas que Ihes parece beuéfica num primeiro olhar, pode vir a se tornar maléfiea também, na medida em que com menos dados, passa a ser mais difieil apurar, de fato, se houve participacao parental na formag3o daquele consentimento ¢ se ele ser, por consequéncia, valido ¢ eficaz Em resumo, apesar de derivar do principio da necessidade ja positivado no art. 6°, © pardigrafo 4°, do art 14, da LGPD € mais rigido, Isso porque nio basta mencionar outras finalidades no negécio juridico a ser estabelecido para que se colete dados extras as finalidades precipuas da aplicago. No caso de adultos, 2 LGPD determina que o principio da necessidade esta intimamente ligado ao da finalidade: desde que seja uma finalidade legitima, basta anuneid-la de forma transparente, encontrar uma base legal adequada e tratar os dados necessirios a ela, No caso de criangas ¢ adolescentes, & necessirio se abster de finalidades “ HARTUNG, Pedro; HENRIQUES, Isabella: PITA, Marina. A protegiio de dados pessoais de criangas ¢ adolescentes. In: DONEDA, Danilo; MENDES, Laura Schertel; SARLET, Ingo Wolfgang; RODRIGUES JR., Otavio Luiz; BIONI, Bruno (coord). Tratado de Protecito de Daxlos Pessoais. Rio de Taneiro: Forense, 2021, p. 214, + TEFFE, Chiara Spadaccini de. Tratamento de dados pessoais de criangas ¢ adolescentes: consideragdes sobre 0 artigo 14 da LGPD. O tratamento de dados pessoais sensiveis. In: MULHOLLAND, Caitlin (org.). A LGPD e 0 ‘novo inarco normativo no Brasil. Porto Alegre: Arquipélago, 2020, p. 171 *2 Nesse sentido, a SRights Foundation propde, em recente publicacdo. 11 padres a serem respeitados quando se trata de veiticagio de idade uo ambiente digital: “1. A verificasio da idade deve prescrvar a privacidade; 2. A verificagao da idade deve ser proporcional ao risco ¢ ao propdsito; 3. A verificag’io da idade deve ser facil para a ‘crianga utilizar; 4. A verificagao da idade deve melhorar as experiéncias das criangas, nao apenas restringi-las; 5. Provedores de verificaglo de idade devem oferecer um alto nivel de seguranca; 6. Provedores de verificaclo de dade devem oferecer caminhos para contestar costs: 7. A veriicagto da idade deve ser acessive ¢ inclusive: 8. A vetificagdo da idade deve ser transparente e responsivel; 9. A verificagao da idade deve antecipar que as ctiangas nem sempre dizem a verdade; 10, A vetificagdo da idade deve seguir o: padrbes acordados; 11. A verificagio da idade deve respeitardicitos” (SRIGHTS FOUNDATION... But hiow do they know it isa child" age assurance in the digital world. [s.L], 2021. Disponivel em: btps://Srightsfoundation.com in-action/but-how- do-they-know-it-is-a-child-age-assurance-in-the-digital-world. html. Acesso em: 31 mar. 2021, traduea0 nossa.) Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 outras que nio digam respeito a0 funcionamento bisico da aplicagao. Foi este um passo importantissimo para que os dados de criangas e adolescentes possam ser tratados apenas em seu melhor interesse, especialmente tendo em vista 0 modelo de negécios predominante atualmente, baseado na publicidade direcionada 5. Conelusio Por ter sido concebida como uma lei geral, cujo escopo abrange os setores pablico ¢ privado e 0 tratamento de dados online e offline, a LGPD demanda esforgo de interpretagio mais robusto por parte da doutrina, do Judicidrio e, principalmente, da ANPD. Como se procurou demonstrar, especialmente no que concerne a criangas ¢ adolescentes, a Lei é bastante Limitada, nfo apresentando detalhes essenciais para a concretizagio do melhor interesse no tratamento dos dados desses sujeitos, 0 que é motive de inguietantes diividas e desafios interpretativos A pattir disso, este artigo teve como objetivo apresentar exegeses possiveis para alguns de seus dispositivos, levando sempre em consideragio 0 ordenamento juridico brasileiro de forma holistica, com especial atengao para o arcabougo protetivo que vem sendo construido desde a promulgagio da Convengo e do ECA. Em um primeiro momento, discutiu-se as polémicas em tomo do consentimento estabelecido no parigrafo primeiro do artigo 14, buscando-se compreender se 0 legislador definiu, de fato, na LGPD, hipotese de capacidade especial ¢ como a autoridade parental deve ser utilizada em beneficio do melhor interesse dos filhos. Em seguida, adentrou-se nas controversas questdes relacionadas as bases legais possivelmente aplicaveis ao tratamento de dados de criangas e adolescentes, defendendo-se que o melhor interesse deve servir de filtro na aplicagdo dos arts. 7° € 11 e que as hipéteses autorizativas do legitimo interesse e da protegio ao crédito nfo poderiam ser utilizadas a priori, Debateu-se, ainda, a necessidade de se elaborar, em todas as ocasides em que dados de criangas e adolescentes sejam tratados, Relatérios de Impacto a Protegio de Dados, que servirio como instrumentos essenciais na verificagao da consideragio do melhor interesse pelo agente de tratamento. Por fim, procurou-se demonstrar como o pardgrafo 4°, do art. 14 trouxe um nivel de tutela ainda mais rigoroso quando da aplicagio do principio da necessidade ao tratamento de dados dessas pessoas, Revista Eletronica da Procuradoria Geral do Estado do Rio de Janciro - PGE-RJ. Rio de Janeiro, v. 4n. 2, maio/ago. 2021 Como se pode notar, a tutela da personalidade - em especial da privacidade e dos dados pessoais - da crianga e do adolescente, reveste-se de carter peculiar ¢ mais intenso, dada a condigdo de pessoas ainda em desenvolvimento. Diante das omissdes € controvérsias postas pela Lei Geral de Protegdio de Dados Pessoais nessa matéria, urge a doutrina, ao Iudicidrio e 4 ANPD concretizar, a partir do arcabouco normativo advindo da Convencao, do ECA e do Cédigo Civil, o preenchimento de lacunas ¢ a superacio de inquietagdes, tendo a unidade a sistematicidade do ordenamento como premissas inafastiveis, reportando-se sempre 4 matriz agregadora da Constituigdo da Repiiblica e sua axiologia. $6 assim seri possivel garantir a tutela da pessoa humana em desenvolvimento nao apenas no mundo offline, como também diante de um mundo cada vez mais conectado. E papel dos pais, do setor privado e do Estado garantir que isso seja possivel. SRIGHTS FOUNDATION. ‘Bur how do they know it is a child?’: age assurance in the digital world, [s.L.], 2021. Disponivel em: https://Srightsfoundation.cony/in-action/but-how-do-they- know-it-is-a-child-age-assurance-in-the-digital-world.html. Acesso em: 31 mar. 2021, BARASSI, Veronica. Child | Data | Citizen: how tech companies are profiling us from before birth. Cambridge: Mit Press, 2020. BLUM-ROSS, Alicia: LIVINGSTONE, Sonia, “Sharenting,” parent blogging, and the boundaries of the digital self. Popular Communication, [s. L.], v. 15, n. 2, p. 110-125, 3 abr. 2017. Informa UK Limited. http://dx.doi.org/10.1080/15405702.2016.1223300. BRASIL. Decreto n° 99.710, de 21 de novembro de 1990. Promulga a Convencio sobre os Direitos da Crianga, Brasilia, 1990. Disponivel em: http://www planalto. gov.br/ceivil_03/deereto/1990-1994/D99710.htm, Acesso em: 22 jan. 2021 BROSCH, Anna, When the child is born into the internet: sharenting as a growing trend among parents on facebook. 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