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FENOMENOLOGIA E ARTE Tee te aac ee ae (ere O Filésofo que Tenta Compreender a Loucura* O que faz um fildsofo se interessar pela psiquiatria, pela psicologia ou pela psicandlise? Ele tenta compreender os atos e todas as situagdes do psiquia- tra, do doente, do psicanalista ou do psicélogo, baseando-se numa questao fundamental, para a qual tomo a formula de Kier- kegaard: trata-se de saber o que quer dizer ser homem. De fato, 0 fildsofo ou os filésofos sé tiveram acesso a psiquiatria a partir do momento em que entenderam 0 que alguns psiquiatras ou analistas entenderam. O que esta em causa na psiquiatria é 0 ho- mem, através do homem doente o homem que cada um é. Em outros termos, a questao que vocé me coloca recobre a que 0 psiquiatra suico Ludwig Binswanger levantou em epigrafe num ensaio sobre o homem na psiquiatria, a saber, quem é 0 doen- te. A questo possui, de fato, dois sentidos: pode significar que se 1. Entrevista com Henri Maldiney realizada e traduzida pelo organizador. Pu blicada no Jornal da Tarde (Sao Paulo), em 4 de setembro de 1982. de expressoes, av defininde ain doente através oente é apenas a encarnagio mental, Todavia, 0 i Aes vai chamar doente Hun panne de situagaey de condatay, enfins de sintont da downga. Nessa poraped’ articular desta abstragio qu ; a ; ‘oe doonte significa outra coaxial quem deste homem que tenho diante de min doente, que mostra a sua histéria, 0 oe destino, algo de singularidade intransferivel, Assim, @ Jigagao centre filosatia e psiqulatria nao éacidental, ainda que se tenha sem nossa dpoca = o que seris necesndrio elucidar ~, produzido en r 4 : Suma ligagho essencial que pde em jogo a definigio interna tanto do fildsofo quanto do psiquiatra, é 0 relagio com 0 hoe gem que ests implicada nesta questiio que corresponde histo- ricamente a uma transformagdo da psiquiatria, transformagio nao é realizada em todos os lugares e sempre: a passagem do homem enquanto objeto ao homem enquanto existente, Eis o ponte de inflexdo mais importante, isto é, existir significa Re manterse fora (ex-), um homem sé ¢ fora de si; antecipando- “seasipriprio perpetuamente, existe diante de si, t justamen- te nesse intervalo que se pode encontrar bloqueado e é entio jue coms e a ea o patoldgico, Diz-se comumente que o doente se num estado critico, Se se der : ae e se der a estado critico o sentido ver- dadeiro, mais falso, O doente se definiria cad: ser como um ser que se tornou incapaz d iow ‘mem normal que vive ee ea dori i perpetuamente de estad: i : o critico, reorientando-se a todo lo critico em es- aren que definem suas oe a © sob a pressio de endo, suas possibilidades. Hé just ncialidades ou, melhor Justamente casos em que os dessa existéncia diante deles pro- quando desenh; : am, pi stica. Dé-se, enties Pintam, entregam-se doentes reencontram algo _. PNos, por exemplo, -Auma atividade arti cotidiana, Isso significa que a alienagao de um homem nunca é total, permanece sempre uma possibilidade humana por onde se reata a vocé, a mim, a todos que sio capazes de se achar em sua presenga. Eis qual é, para mim, o ponto de juncao em que 0 filésofo e o psiquiatra podem encontrar-se. Historicamente, foi Ludwig Binswanger que enunciou esse aspecto com mais precisao, a partir de 1925. E ele havia chegado a sua concepgio de psiquiatria pela leitura de fildsofos, especialmente Husserl e Heidegger. Direi, também, que Roland Kuhn, que descobriu o tofranil, medicamento especifico para a depressao, quando interrogado por médicos, em Constanga, sobre como atingiu seu objetivo, respondeu que nao foram os estudos de quimica que haviam constituido a base, mas 0 interesse pela fenomeno- logia de Husserl e de Heidegger. Sobre isso, ele disse: “S6 pude inventar o remédio depois de ter inventado a doenga’. Inventar a doenga quer dizer compreender o que esta em jogo em todas as expressdes de um depressivo ou de um melancélico, e dai descobrir as relagées dos estados melancélicos com os mania- cos. Por esse motivo, a filosofia nao é um debrugar-se sobre a situago psiquidtrica. E, por lhe ser interna, a fenomenologia nao é uma simples descrigao a posteriori: é essencial ao exame clinico do doente. Por que s6 agora a filosofia mergulha no campo da psiquiatria e da psicandlise? Porque na psiquiatria o homem se apresenta imediatamente em perigo. A situacao tragica de um doente chama a atengao do filé- sofo, Veja que a filosofia e a tragédia nasceram mais ou menos ao mesmo tempo eno mesmo lugar. O século da tragédia grega esta ‘entre os fildsofos arcaicos e Sécrates € Platao, acompanhados Henri Maldiney, entrevista a Nelson Aguilar * 64 1 Empédocles. Em Empédocles, o nsamento é trigico porque tende entre 0 amor ¢ 0 édio; em conflito, ¢ assim ha um acon- Hericlito, est4 fundado sobre 0 , tecimento histérico que prefigura a ee do pases filoséfico e do pensamento trégico, na medida em que. o ho- mem é um ser em perigo. Devo dizer que Platao nao o separa de mania, A mania, loucura em grego, designa nao apenas 0 delirio do louco, mas também o delirio poético ou 0 delirio. da man- tica. Os gregos viram nesses estados delirantes uma forma de pensamento. Note-se que a raiz de mania é muito diferente de outra forma de pensamento para a qual davam o nome nous. A raiz “mn” marca uma espécie de excitacao espiritual, um pen- _ samento timico, que nao é o do entendimento, do nous. No fim do século x1x, Schelling diz que o que é criador no homem é 0 delirio, o entendimento sé vem depois. Assim, sucede no inte- rior do delirio caracteristico da loucura uma afirmagao autenti- - camente humana, mas que nao se controla por ter-se perdido o.uso habitual do entendimento. Mas nao se pode defini-la ape- nas de forma negativa. A loucura manifesta, de forma desfale- ‘cente, um poder essencial do homem. no quinto século apenas po Ea psicandlise? “A psicanilise nao é absolutamente o dominio preferencial da oe ees Fe Pe da psicandlise que o pensamento filoséfico - ™aisno a a a Renna séo da doenga mental. E muito - aatitude fencmacnals Nomeia psiquiatria que se desenvolveu ~ Malise, apesar das ay as e salda da filosofia, enquanto a psica- | torno dela, ests a s ncias, apesar de tudo o que circulou em tingiu uma po ; ‘argem da filosofia. E certo que a psicanilise iy Popul pidade muito maior do que todas as outras & * 0 Fil6sofo que Tenta Compreender a Lou cura dreas da pesquisa da terapia. Porém, 86 2 gica com alguns que precisamente - Se tornou fenomenol6. acentuar z : do corpo, 0 que a psicanilise nao fez, ram a importancia Uma psiquiatra ¢ uma psicanalista como Gisela Pank exemplo, que no apenas estudou ; ‘ ) por esquizofrénicos, mas os rou, é alguém que define a loucura, sob a forma ei izoft cue ca, como uma perturbacao da imagem d. Ssquizo! realy fi . ‘8M do corpo vinda em geral dos pais, para quem as criangas sé existem como parte deles proprios, nao as deixando existirem independentemente: a me- thor forma de fabricar um esquizofrénico. E a fenomenologia do corpo que se desenvolveu com Pankow e com Kuhn jf estava na tradigao Beiquidttica fo século x1x na Franga, por exemplo, nas publicagdes de Esquirol. HA ilustragdes representando melan- célicos e manfacos nas quais as atitudes do corpo sao expres- sas com extrema precisao. Com efeito, um homem se exprime por seu corpo, pelas suas atitudes corporais, como o afunda- mento de um melancélico, a rigidez de um cataténico, que s6 se pode deslocar trazendo o pé que acaba de mover voltando atrés para impeli-lo para a frente, proceso que se reencontra no tracado do desenho cataténico. Isso implica a importancia da imagem do corpo e destaca, em comum com a filosofia fe- nomenolégica, com a filosofia existencial, uma espécie de rup- tura com o dualismo descrito por Descartes entre alma e corpo, que hoje substitui, sempre sem justificar-se, © entrelagamento do corporal e do psiquico, o que arruina a questao até satdo axial: a doenca mental provém da organogénese ou de psicogr nese? Binswanger, no ensaio “Funcao Vital e Historia eee da Vida", chama de funcao vital tanto o psiquico mee 9 a 5 la légico, ambos constituindo dupla expressao da pertur ae e fungio vital; porém, ohomem s6 comegano momento em q . . : historia. O doente mental é se torna capaz de construir a sua histori: son por uma a expressio dele préprio, na medida em ane Pas _ série de metamorfoses; metamorfoses de sua presenca no myn. do; metamorfoses durante as quais essa presenga no mundo se torna cada vez mais bloqueada, mais atolada, mais privada de sua capacidade de invengio. Isso implica a propria concepcig do homem, concepgao de que a vida nio basta para exprimir a existencia, mas existir é algo diferente de viver. Eli que se ~ encontra o viver que estd fora de si, o ser afiagte de si Préprio, a invengio da liberdade. Com isso, pode-se dizer que o pro- blema psiquiétrico se apresenta no nivel da liberdade: em que momento a liberdade de um homem desfalece e como. Eis por que nao se pode levantar questoes psiquiatricas sem pér em jogo a condi¢ao humana. Como o destino pode se tornar uma nogao chave da psiquiatria? __ Apartir do momento em que se fala em destino, 0 psicélogo ouo psiquiatra se veem obrigados a voltar a aten¢ao ao que se cha- ma justamente andlise do destino, em alemao Schicksalsanalyse, cujo fundador, Leopold Szondi, é, ao que parece, o tinico que : -alevou a sério sem afastar ou reduzir o problema da liberda- _de, pois é 0 tinico que se preocupou com o eu em seu sentido geral. O eu para os psicanalistas é definido unicamente como desejo de desejo, ou entio poder de negar. Szondi é conhe- ido como 0 autor do teste de diagnéstico experimental das ulsoes. E autor de um sistema pulsional que, de longe, ¢ 0 sale completo © o mais eficaz de todos. As pulses, segundo Szondi, se arranjam em quatro vetores, cada um dos quais cor- onde auma forma de Patologia: Primeiro é 0 vetor Contato, que significa envolvimento, io desagarramento, procurar, ficar oclima manjaco-depressivo ou mania- 67% OFildsolo que Tents Compreender a Lonewra co-melancdlico, No entanto, nado basta maniaca ou a situagdo malancdlice, queen ange eal nated do * e mo somente de contato, renee pars » Osegundo é0 vetor sexual, ¢ dlo/| ‘ernuna ou tnatos/eros, sh coma dualidade agrssvia- « Oterceiro vetor 6 0 paroxistico, o vetor Surpresa, 0 vetor critico. Ea maior audcia de Szondi foi ter reunido num tinico vetor dois fatores opostos ¢ complementares ~ a epilepsia ¢ a histeria -, reencontrando a teoria da epilepsia essencial dos feanceses no século x1x, Um exemplo: ha pouco falava da liga- gio com o corpo. Em geral, um epilético tem, em sua linhagem ancestral, epiléticos, personagens sacerdotais, dotados de fun- gao sagrada, ¢ também pessoas afetadas por dores de cabega ou gagas. O mais belo exemplo é Moisés, violento, concentragio de afetos quando mata o egipcio e gago, pois passa a palavra a Aario, profeta por exceléncia, e de que Szondi estudou 0 com- plexo para marcar como um Caim pode tornar-se um Moi- sés, Aqui ocorre uma coisa muito importante: temos exem- plos em certos ditadores-profetas contemporincos, nos quais se encontra ao mesmo tempo o tom profético que proclama e anuncia ao lado de uma acumulagio de afetos muito violentos. « O quarto vetor é 0 eu, fundamental, pois ¢ ao mesmo tempo o pulsional, definindo o que Szondi chama um destino- -coergao, um destino em paixiio sob qual o homem existe, eao mesmo tempo 0 destino-escolha ou liberdade, que manifesta que o homem est em ago sobre suas proprias pulsdes, domi- nando-as, Ora, 0 eu é entio um fator de contradigio porque & a.uma s6 vez, determinado e determinante. Como as coisas * operam, nao ¢ um psicdlogo que pode dize-lo, pols ier fildsofo Schelling recusou-se a responder, ¢ P dene ne gt ae ha salto qualitativo do destino ao ato de eo on on clalmente o lugar de uma dialética entre duas exis 7 cit existéncia em primeiro plano e uma aren &™ Segund, plano, complementares uma 4 outra, podendo agir em sepa, do a maior parte do tempo, mesmo se agem juntas esobretyg, alternadamente como sobre um palco Sha Vi pinturas de um epilético que poss i = aS carac. teristicas de uma pintura de esquizofrénico. a la vex que ele pintava, nao cafa em estado de crise, a crise epilética era ey, tada. Produzia naquele momento um desenho caracterizady por uma projecao paranoica, que ¢ um tipo de esquizofrenia, Havia duas existéncias que se alternavam em Primeiro eem segundo plano. Como explicar? Tanto a aise epilética quanto 0 desenho sao meios para evitar o que é sentido como 0 maior perigo: o terror paranoico ou a projecao paranoica. Quando o doente esté em crise, chegando ao desmaio, é de alguma ma- neira liberado de seu terror por um tipo de auséncia do eu, mas, quando pinta, desenha, torna-se, por assim dizer, senhor de sua " projecdo paranoica ameacadora através da expresso. Sao dois tipos de liberacao: uma patoldgica, outra artistica, que supdem __ essaalternancia do eu. Entio, o destino, desde que vocé me co- loca a questao, deve ser considerado ao mesmo tempo o estado de um homem que se encontra determinado pelo conjunto de suas pulsées, que Szondi diz ser herdado de sua vida ancestral, O inconsciente szondiano, intermedidrio entre o inconscien- te freudiano individual e o inconsciente junguiano imemorial, € um inconsciente ancestral, 0 calabouco dos ancestrais. Esse inconsciente, que é ativo, nos conduziria de maneira absoluta- ee determinada, como se vé nas Tepresentacées de ances- “digida or oes ae Havia uma barca sagrada armada e __ todos os inoviietos ar Tepresentando os ancestrais. Tinham obliquos e opostos conduzindo a barca Para onde sabiam, mas se : ihe : ™ entregar o segredo aos vivos, que TS esider @ Louctra é a imagem do destino inelutavel ¢ tralmente. Em suma, convidava-se 9 individuo a ingressar no caminho prescrito ou descoberto pelos ancestrais, Esse € apenas um aspecto do destino; 0 entre quatro necessidades pulsionais: a isis e peas introjegao e a negacio, Projegio quer dizer que sé existo pelo outro, 0 outro € eu ao mesmo tempo; ele é os dois, ele é tudo. Pela inflagao, a sou, quero ser tudo e 0 outro faz parte de mim, éo inwvereo; Hélderlin diz que hi momentos em que queremos que 0 universo seja tudo e nés nada, e ha momentos em que queremos ser tudo e o universo nada. Ora, essa é a expressio exata da proje¢ao e da inflacao. A introjecao e a negagio sio as duas formas opostas sob as quais 0 eu se exprime e se constitui como poder de ter. Cada uma tem varios aspectos. A introjecao pode constituir-se numa incorporacio: possuir alguém, algo ou o mundo em seu corpo. Por exemplo, no fetichismo. Pode ser a encarnagao num fazer-obra do querer-ser do eu. Quando escreve Ecce Homo, Nietzsche realiza seu ideal inflatério numa operagao efetiva. E, de maneira geral, a introjecdo constitui uma ponte para o mundo, seja o mundo exterior, seja o mundo inte- rior. Onde ela falta, 0 eu estd alheio ao mundo. A negagao pode ir do recalque a destruicao. Essas quatro pulsdes compdem o eu, podem estar presentes ou ausentes, mas nunca sao inefi- cazes. Mesmo quando ausentes, estao no segundo plano. Eis como Szondi, como psicélogo, define o destino. Poder-se-ia ir mais longe e retomar a definicao ou de Hegel ou de Heidegger. Para Hegel, o destino é a pura negatividade na forma da uni- versalidade; a pura negatividade é 0 nada, mas sob uma forma universal. Para Heidegger, destino é 0 suprapoder imp Orentes Veja que hd sempre no destino essa ideia de onipoténcia que, pois nada pode inventar. Ai que devia ser aceito ances- ao mesmo tempo, nao pode nada, se joga o percurso de um homem como 0s tragicos observaram Henri Maldiney, entrevista @N°U _ em sua relacio com o destino. Os tragicos, como Nietzsche e Schelling, tentaram compreendé-Io. Para eles, destino ocon- junto do condicionamento hereditario situacional. Uma . tuagao humana nunca é um simples fato- Ha uma alts le ratificacao da propria situagao nos estados mais simples, como a fala. Até quando digo “chove’, decido que certo estado de mundo esta af, é a afirmagao mais pobre. Em toda situagao ha decisio. Heidegger exprime por estas duas palavras: Geworfen- heit, derrelicgao, ser langado, estar encalhado af, e Entwurf, pro- jeto. Vém da mesma raiz, werfen, langar. As palavras langarie encalhar nao se aplicam as coisas, essas almofadas nao estao encalhadas, sé o homem pode estar, s6 aquele que é capaz de compreender seu encalhe, ultrapassando-o, pode estar encalha- do. O ser lancado sé pertence a um ser que é também capaz de outra coisa, capaz de ultrapassagem. Nao ha derreliccao ou en- ~ calhe sem a transcendéncia de um projeto, sem esta capacida- de, sem este poder-ser, sem esta “ex-isténcia’, sem este poder de _suportar algo além do que é efetivamente num momento dado. Isso desempenha um papel capital na patologia, pois o que se chama patolégico é 0 bloqueio do pathos, da existéncia patica : Aqual pertencemos todos. Todos tém seu pathos, todo aconte- aay se cardter patico que nog implica, que sentimos raves do qual sentimos o mundo inteiro. $6 ha bloqueio e yecimento quando se passa do patico éti 4 "se transforma em atmosfera exorenic,, ao patético; quando : Br peer Ppressionista ou em patoldgico, ece-se enti ee a. sem defesa sob a pressao de uma situacao 4 Somos incapazes da menor decisio. Seu préximo livro aborda que problemas? Meu préximo livro ser sobretudo sobre estética. Passo tam- pém pela ideia de destino desde que, num congresso dedicado a Szondi, realizado em Cerisy, na Franga, fiz um estudo sobre o destino de Nietzsche e o destino de Hélderlin 4 luz da ana- lise szondiana. Ha também uma anilise da relacao entre arte eautismo. A respeito de outro artigo sobre a formagao da for- ma, falarei a grosso modo para me exprimir rapidamente. Hoje, quando se fala de arte tende-se, no vocabulério, a substituir a imagem pelo signo. Para mim, ambos sio falsos, imagem e sig- no sao absolutamente diferentes do que é 0 elemento forma- dor de toda arte, a forma. Ha um hiato absoluto entre imagem e signo, de um lado, e forma, do outro. A forma é sempre uma autoarticulagao. Isso se torna claro nos textos de Mondrian, nos de Maliévitch ou nos textos de Paul Klee. Opera-se a ruptura entre o objeto visto ea coisa que se tornou coisa de arte. Como diz Maurice Blanchot, quem nao pertence 4 obra como origem nunca fara obra. O que é pertencer 4 obra como origem? No caso, o ser-obra precede de alguma maneira 0 ser-homem e 0 funda, 0 que faz com que a arte nao se assemelhe a nada mais. E sempre a antecipagao de uma forma que se procura no artis- ta e que s6 pode encontrar-se fora dele. Exige a ruptura total com as evidéncias perceptivas primérias, sob a forma da ima- gem, ou as evidéncias ditas secundarias, como signoe simbolo. Af é0 momento artistico. Tento mostrar, com analogias alin- guagem, a propria estrutura da linguagem. Da mesma maneira, dadeiro do surgir no que diz respeito a poesia, éo0 momento ver camente em seus - pottico, coisa que Hélderlin mostrou magnifi ensaios de Homburgo.

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