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O que é Distributismo?

Não ao
socialismo e não ao capitalismo…
Redação Brasil Paralelo

Um cão que traz na boca uma tocha irradia luz por onde passa correndo: essa
imagem foi escolhida para representar o que é o distributismo, uma teoria que
se apresenta como uma alternativa para resolver os problemas deixados tanto
pelo capitalismo quanto pelo socialismo.

No distributismo, a propriedade privada, a liberdade e a geração de riqueza


unem-se naturalmente à vida das famílias.

O que você vai encontrar neste artigo?


1. O que é distributismo?
2. Quando surgiu o distributismo?
3. Terra, trabalho e capital
4. Capitalismo ou socialismo?
5. Os princípios do distributismo
6. Que tipos de problema o distributismo poderia resolver?

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O que é distributismo?
O distributismo, distribucionismo ou distributivismo é uma teoria social e
econômica que surgiu na Inglaterra, desenvolvida por Hilaire Belloc e por
Gilbert Chesterton a partir da Doutrina Social da Igreja Católica.

A proposta distributiva pretende ser uma terceira via, uma alternativa ao


capitalismo e ao socialismo, uma vez que esses dois formatos não conseguem
resolver os problemas sociais vividos pelo trabalhador.

Respeitando a lei natural, na teoria do distributismo, considera-se a propriedade


privada como a principal garantia de liberdade política e de sustento do
homem.

Atualmente, esse tema não recebe muita importância e raramente é mencionado


em grandes trabalhos econômicos: poucos estudiosos conhecem o
distributismo. Mesmo assim, em alguns âmbitos das universidades americanas,
figuram ainda algumas reflexões distributivistas.

Quando surgiu o distributismo?


Os fundamentos do distributismo aparecem com evidência na encíclica Rerum
Novarum do Papa Leão XIII, onde ele articulou teorias sociais e econômicas. Em
resumo, o papa apontou os caminhos que devem ser seguidos nas transações
econômicas, nas relações de trabalho, no pagamento do salário, na vivência da
solidariedade e na difusão da propriedade.

Esse conjunto de princípios morais elencados a serem vividos, foi


posteriormente compendiado como Doutrina Social da Igreja: o distributismo é
a forma prática de aplicação desses valores no mundo político.

O problema do trabalhador
Antes da Revolução Industrial, o mundo dependia da produção agrícola para se
desenvolver: a população vivia em função do campo.

Mas a industrialização trouxe o problema da jornada de trabalho, juntamente


com uma nova dinâmica de mercado, o que trouxe problemas sociais. O
trabalhador se viu sujeito a condições precárias, a uma desumana jornada de
trabalho e a salários injustos.

Entenda de uma vez por todas porque os salários dos homens e das mulheres são
diferentes.

Ao mesmo tempo, a expectativa de vida do trabalhador havia aumentado, já que


não era mais necessário depender do campo, que poderia não dar o fruto
conforme as reviravoltas da natureza.

A Rerum Novarum foi publicada para combater duas ideologias: o liberalismo,


que não resolvia os problemas sociais vividos pelo trabalhador da época; e o
socialismo, que tentava resolver esses problemas mas piorava a situação.

Foi por isso que Belloc e Chesterton buscaram descrever a melhor forma de
aplicar na realidade os princípios morais contidos na carta do papa.

História da Ordem dos Templários.

Hilaire Belloc e Gilbert Chesterton

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Hilaire Belloc foi um historiador francês que viveu na Inglaterra e se consagrou
como grande escritor britânico. Ele foi o primeiro a sistematizar o pensamento
sobre o distributismo, em seu livro The Servile State, de 1913.

Entretanto, o principal propagador dessas ideias foi o escritor inglês Gilbert


Keith Chesterton. Ele foi um dos que mais escreveu ensaios acadêmicos
defendendo o distributismo em oposição à plutocracia: os grandes capitalistas e
os meios de comunicação de massa.

Juntos, nos anos 1907 e 1908, Belloc e Chesterton debateram com Bernard Shaw
e H. G. Wells na revista New Age. Pela primeira vez, as ideais do distributismo
foram expostas ao público.

A 1917, em Nova York, lançou-se o livro Utopia of usurers and other essays
contendo nove artigos e 17 ensaios sobre o distributismo, escritos por
Chesterton.

Outros autores que aderiram à proposta distributiva foram Arthur Penty, Cecil
Chesterton, W. T. Titterton e Vincent McNabb.

No Brasil, o distributismo foi defendido por Gustavo Corção e Alceu Amoroso


Lima (Tristão de Ataíde). Atualmente, é difundida pela Sociedade Chesterton
Brasil.

Especialmente, o Corção é muito conhecido por sua obra Três alqueires e uma
vaca, 1961. Nela, ele disserta sobre o que é Distributismo e suas críticas ao
capitalismo e ao marxismo.
Em 1930, nos EUA, o distributismo foi tratado em inúmeros artigos no The
American Review, publicado e editado por Seward Collins.

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Terra, trabalho e capital


No distributismo, o conceito de terra abrange o meio que será transformado
pela ação do homem, incluindo as ferramentas e os maquinários a serem
empregados.

Trabalho é a energia humana, mental ou física empregada na produção da


riqueza. Como a geração de riqueza é um processo que demanda tempo, é
prudente reservar parte do que foi produzido para atender às necessidades
futuras. Parte do lucro da produção pode também ser reservado para novos
investimentos.

Vale ressaltar também que o Distributismo herda os princípios econômicos


escolásticos, visando não apenas gastar de forma utilitarista o que se produz ou o
que se receba. Pensa-se na destinação final dos bens, levando-se em
consideração a família e o bem comum.

A riqueza é toda a matéria inteligentemente transformada para atender às


necessidades humanas.

A reserva de riquezas para se utilizar em novos investimentos recebe o nome de


capital.

Belloc defendeu que a transformação inteligente, específica e necessária do


meio, fruto da criatividade do homem, é produção de riqueza.

A importância do meio de produção no distributismo


A matéria prima encontrada na natureza precisa ser transformada para ser
utilizada da melhor forma e por mais pessoas. Neste caso, os meios de produção
são a própria terra e os equipamentos e ferramentas necessárias para trabalhar
e transformar materiais brutos em bens ou serviços.

Quando o homem não possui o meio de produção por si mesmo, ele passa a
depender da permissão de alguém que possui para conseguir gerar riqueza, já
que não o faz por si mesmo.
Em outras palavras, se uma pessoa não tem terra nem capital para investir, terá
de trabalhar para quem tem: assim, o proletário é o indivíduo que oferece seu
trabalho em troca de parte dos lucros dos outros. Essa é a maior característica
capitalista.

Considerando a teoria distributivista, a crítica feita por seus defensores não é


direcionada à venda da força de trabalho, mas sim ao fato de que os meios de
produção ficam muitas vezes limitados a um número pequeno de cidadãos.

No sistema capitalista, os meios de produção estão concentrados nas mãos de


poucos.
No sistema socialista, os meios de produção estão concentrados na mão do Estado.

Nenhum caso resolve o problema real.

Descubra porque não é possível que o socialismo dê certo.

Capitalismo ou socialismo?
Daniel Sada Castaño expende o distributismo como uma terceira via, porque ele
se opõe ao capitalismo e ao socialismo, ambos sistemas concentradores de
propriedade nas mãos de poucos ou de um, o Estado.

O distributismo rejeita o capitalismo e o socialismo, pois reconhece que, na


prática, ambos os sistemas limitam a propriedade privada.

No caso capitalista ou proletarianista, o foco é a maximização do retorno dos


investimentos, cujo custo, com muita frequência, é o abuso do trabalhador e o
sacrifício do bem comum, como visto na Revolução Industrial.

No caso socialista, o problema é pior: os socialistas buscam a eliminação da


propriedade privada para centralizá-la nas mãos de um governo impessoal e
centralizado.

Ao se estudar o que é o distributismo, fica claro que há uma certa concordância


com os socialistas na crítica ao liberalismo, mas uma total discordância na
forma de resolver o problema.

Chesterton não admirava os liberais ingleses que demonstravam admiração pelo


estado protecionista e interventor: em seus escritos, apontava para a perda de
liberdade gerada pela segurança que Estado garantia.

Em seu livro The Outline of Sanity (Os Limites da Sanidade), Chesterton aborda
um dos núcleos da doutrina distributista.
Ele não se ocupa da distinção público-privado da propriedade e dos meios de
produção; afinal, se o trabalhador continua preso na pobreza, apenas
sobrevivendo e sem a oportunidade de crescer e se desenvolver, não faria muita
diferença a propriedade ser pública ou privada.

O que antes importa é o poder das grandes empresas frente à pequena


propriedade, do monopólio frente ao homem e à sua família ou o servilismo
frente à liberdade.

O que é uma família? Explicação filosófica.

Em termos simples, ser privada não torna uma empresa automaticamente boa.

Muitas vezes o crescimento da empresa envolve uma proporcional perda de


qualidade no produto.

No sistema capitalista, há a formação de cartéis, trustes, monopólios e todo tipo


de parceria entre empresários e políticos. Financiamentos são feitos em
campanhas e as autoridades eleitas concedem privilégios fiscais a certos grupos
de empresários.

Como consequência, muitos empreendedores de pequenos negócios são


prejudicados.

É exatamente esse problema que conduz a uma das principais características


do distributismo.

Os princípios do distributismo
O distributismo é uma forma prática de defender a empresa familiar e local,
promovendo a descentralização da propriedade privada e dos meios de
produção; sustenta também o princípio da subsidiariedade e o da liberdade para
garantir mais autonomia às pessoas.

O professor Guilherme Freire também já gravou um vídeo sobre o Distributismo.


Vale a pena conferir.

Propriedade privada
A propriedade privada é o salário do homem transformado em um bem: alguém
trabalhou, poupou e comprou algo para chamar de seu, o que é exatamente o
seu salário transformado. No socialismo, quando uma propriedade privada é
roubada, isso é o mesmo que roubar o salário do trabalhador.

no distributismo, o ideal é que a propriedade seja ao máximo descentralizada


para que cada indivíduo assuma a responsabilidade de trabalhar e gerar riqueza.

Tendo sua propriedade, seja uma porção de terra ou ferramentas, uma família
pode ser livre para conduzir a vida sem depender necessariamente do emprego
gerado por terceiros: quanto mais pessoas tiverem propriedades, menos serão
dependentes.

Segundo o distributismo, a propriedade precisa ser descentralizada das mãos de


poucos capitalistas, para que mais pessoas possam se desenvolver, gerando o
próprio sustento e a própria riqueza.

Entretanto, isso não é uma defesa do socialismo, pelo contrário: não há uma
defesa da ausência da propriedade privada ou da concentração da propriedade
nas mãos do Estado, mas sim sua difusão para o maior número possível de
pessoas.

A propriedade é a garantia de liberdade em relação à volatilidade financeira. Na


perspectiva do proprietário, a terra é superior ao valor de mercado, porque é
indispensável para a estabilidade da família.

Por ser uma necessidade à liberdade e à sobrevivência, entende-se que o homem


tem o direito natural de apropriar-se dos frutos da terra e de possuí-la
permanentemente.

Princípio da subsidiariedade
Faz parte da essência do distributismo buscar a descentralização das coisas. As
funções organizacionais que existem na sociedade, no trabalho e no governo
seriam mais bem executadas seguindo uma hierarquia de competência.
Antes de qualquer coisa, se alguém pode resolver seu próprio problema, que ele
resolva; se não pode, que sua família resolva; depois, passa-se à comunidade
local e ascende-se até o governo como última instância possível.

Não é ideal que o Estado, o maior nível de competência, tenha que se envolver
nos menores níveis de competência da vida das pessoas e das comunidades.

O que se espera conseguir com a subsidiariedade é diminuir a interferência do


Estado nas pequenas instâncias para que ele não se torne excessivo e se forma
um.

Em suma, o princípio de subsidiariedade defende que cada qual, segundo sua


competência e possibilidade, resolva o que está ao seu alcance. O Estado é o
último nessa escala, e resolve apenas o que os grupos não dão conta por si
mesmos.

Esse princípio também combate o sindicalismo e as distantes elites que


resolvem problemas: ele valoriza guildas, corporações de ofício e os demais
grupos intermediários.

Cooperativas e governos locais diminuem o controle excessivo de um Estado


grande, agilizam as coisas e diminuem a burocracia.

Salário e justiça
Não é incomum que filósofos, juristas e economistas considerem a justiça um
elemento integrante das relações econômicas de mercado. Aristóteles já
sinalizava essa relação, afinal as trocas devem ser justas para serem efetivadas.

Essa concepção mudou no iluminismo quando se começou a pensar que, para


haver justiça, o planejamento deveria ser centralizado pelo governo: a
consequência foi que o ser humano se tornou um elemento secundário ao se
pensar na economia.

Como o homem depende dos bens materiais para sobreviver, é necessário que
se considere a virtude da justiça nas políticas sociais.

Para resolver o problema dos salários injustos, de acordo com o distributismo, o


ideal é que o trabalhador receba o suficiente para se desenvolver a ponto de ter
seus próprios meios de produção e deixar de ser um proletário.

A realidade, porém, é que o salário injusto prende o proletário nessa condição.

A proposta de descentralização dos meios de produção é a alternativa


distributivista para resolver esse problema, além de constituir um caminho de
liberdade para o homem.

Geração de riqueza
O capitalismo é mais eficiente na geração de riqueza que o socialismo, conforme
demonstrado na história mundial. O mundo prosperou e, hoje, há menos pobres
e melhores condições de vida do que em qualquer outro momento da história.

Leia mais sobre o que realmente é o capitalismo e seus efeitos na sociedade.

Apesar disso, a eficiência capitalista não funciona bem sem constantes


intervenções governamentais: a consequência é que muitas empresas se
vinculam a políticos e vice-versa.

Segundo os distributivistas, a propriedade privada é a única e genuína geradora


de riquezas: nela é que a família se desenvolve, busca seu sustento e gera
sustento para os outros, além de encontrar desenvolvimento pessoal e espiritual
pelo trabalho.

A partir dessa consideração, eles defendem que com mais propriedades


distribuídas, haverá mais eficiência e evitar-se-ão conglomerados
governamentais e corporativos.

Que tipos de problema o distributismo poderia


resolver?
De acordo com os distributivistas, o mundo vive os problemas econômicos por
causa de salários estagnados, usura (lucro exagerado e indevido), especulação,
derivativos, desperdício e dívidas.

Em muitos casos, os pequenos negócios não são valorizados e os países ficam


divididos entre grandes corporações, sem contar com governos mais
complacentes às economias estrangeiras do que com a nacional.

O distributismo busca ser uma alternativa para que as famílias consigam se


sustentar e gerar a própria riqueza, evitando os problemas mencionados.

Para conseguir essa autonomia, os distributivistas buscam:

o fortalecimento da economia local, a fim de reparar possíveis danos causados pelas


grandes empresas;
o sistema de cooperativas, que dividem os lucros;
o apoio aos negócios familiares;
a promoção empresarial nas propriedades dos trabalhadores;
os empréstimos de microcrédito;
o apoio à agricultura comunitária e associações que visam programas de produção;
as iniciativas políticas que favorecem tributações diferenciadas;
a assistência jurídica aos negócios caseiros;
a revisão das práticas dos setores contábil e bancário.

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O distributismo é uma utopia?


Existem críticas ao distributismo que levam em consideração a própria
natureza humana: nem todos querem ter seus próprios meios de produção e
trabalhar para gerar riqueza a si e ao outro. Apesar disso, a essência das ideias se
ancora na realidade, como defendem os adeptos.

De fato, o maior número de empregos costuma ser gerado por pequenas


empresas, e não por grandes monopólios: a vida de uma comunidade gira
sobretudo em torno dos negócios locais.

O sistema distributivista busca ser prático, possível e vinculado à realidade. Já


existem empresas que operam seguindo os princípios do distributismo: em
pequena escala, são as empresas familiares, bancos de microcrédito,
cooperativas de crédito e companhias de seguro;

em grande escala, alguns exemplos são a corporação de cooperativas


Mondragón, na Espanha, e a economia distributista de Emilia-Romagna, na
Itália.

Nesses exemplos de cooperativas, o PIB da população é superior ao das demais,


que não operam do mesmo modo. As corporações distributivistas apontam
vantagem competitiva e um maior número de benefícios sociais.

A riqueza só é possível quando se combinam os meios de produção, o trabalho e


as matérias primas; preferencialmente, para os distributivistas, isso deve
acontecer dentro de um modelo de cooperativa que seja propriedade do
trabalhador. O melhor cenário é o de uma cooperativa operada pela própria
família.

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