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Em 1982, depois de ter feito um curso de Laminação

de Fibra de Vidro com Resina de Poliéster na PUC


do Rio de Janeiro, resolvi experimentar meu
conhecimento técnico na matéria e revesti um pequeno
veleirinho de madeira com PRFV (poliéster reforçado
com fibra de viro).
Fiz tudo by the book: lixei pré impregnei e laminei.
Ficou até bonitinho

Botei minha obra na água e zarpei. Ela seguia suave e silenciosa impulsionada pela
gostosa brisa vespertina da Baia da Guanabara quando numa orça mais apertada comecei a
ouvir uns barulhos estranhos, como se algo estivesse rasgando. Depois disso o barco
começou a se arrastar lentamente. Não fazia água, mais seguia pesadão. Resolvi voltar o
mais rápido possível para terra.
Já em piso firme constatei que o revestimento em PRFV havia delaminado em função
da natural má aderência mecânica da resina de poliéster e havia se formado uma enorme
bolsa de água ao longo do costado. Esta foi minha primeira lição prática de que resina de
poliéster é somente um plástico, não é cola, por tanto não tem boa aderência mecânica
sobre praticamente nada.
A quantidade de monômero de estireno na resina de poliéster catalisada é o principal
fator que define o estágio de cura da peça. Muito embora haja experimentos que constatem
a existência de traços de monômero de estireno em peças de PRFV com mais de 30 anos
de existência, nota-se na prática que depois de 72 horas da cura do poliéster o nível do
estireno no composto se reduz a valores muito baixos, sendo então considerada para efeitos
práticos, completamente curado.
Como não há ligação química de uma resina completamente curada com uma
laminação nova e a resina de poliéster não permite uma boa ligação mecânica, o que fazer
para reparar uma peça de fibra de vidro com mais de 72 horas de catalisada? Simples: epóxi
é a solução. Epóxi é cola e das melhores que existe.
Existem diversos tipos de resinas epoxídicas, entre elas as adequadas a colagem de
madeira e as recomendadas para laminação de fibra de vidro. Evidentemente fica difícil para
o hobista comum ter em sua casa uma resina epoxídica para laminação e outra para
colagem. Não é grave. Como normalmente utilizamos mais as resinas para colagem, vamos
nos ater um pouco a elas.Por serem densas e difíceis de impregnar as fibras de vidro,
precisamos adicionar um diluente no epóxi de colagem para torna-lo trabalhável com
laminação. A adição de thinner para verniz epoxídico (International GTA 029 ou 220) ou
mesmo de álcool a um teor máximo de 10% vai nos facilitar muito o trabalho.
Importante ressaltar que qualquer reparo que se faça em aviões de fibra de vidro,
sempre, agrega peso ao modelo, daí ter no epóxi outra grande vantagem sobre a resina de
poliéster.
A resina básica do epóxi é cerca de 20% mais leve que a resina de poliéster. (Não,
1kg de resina de poliéster não pesa mais que 1kg de resina epóxi, mas ocupa muito menos
volume!). NÃO USE MANTA, é muito menos resistente que o tecido de fibra de vidro e o
resultado final invariavelmente é mais pesado. Minha recomendação é a utilização de
tecidos finos, na ordem de 125 a 175 g/m², os mesmos utilizados na produção das pranchas
de surf. Particularmente prefiro os de 125g/m², são mais versáteis.
Já ouvi de alguns aeromodelistas que os reparos em fibra de vidro com epóxi ficam
muito flexíveis, daí eles preferirem usar resina de poliéster (sic) a resina epóxi... Vários
fatores podem causar isso:
· Excesso de diluente degrada o epóxi
· Uma camada somente de tecido fica realmente flexível
· Epóxi não está totalmente curado – mesmo os de cura rápida, 10 minutos somente
depois de 2 ou 3 dias estão totalmente curados e atingem sua rigidez máxima
Etapas de uma recuperação:
1. Limpar bem as superfícies a serem reparadas
2. Lixar com lixa d’água 120 no entorno das trincas
3. Manter as partes unidas com fitas adesivas
4. Cortar tiras de tecido de tal forma que a trama fique a 45° do corte
5. Diluir o epóxi de colagem (se for o caso)
6. Pré impregnar levemente no entorno das trincas a serem reparadas
7. Aplicar o tecido. Normalmente a laminação interna de uma a três camadas é o
suficiente para todos os reparos
Nos casos de necessidade de aplicação de mais de uma camada de tecido é
recomendável que eles sejam cortados com larguras crescentes de 10 mm por tira, para se
evitar um ressalto localizado, originando indesejáveis concentrações de tensões.
Em 90% dos casos os reparos serão feitos com duas laminações superpostas, uma
de 20 mm e outra de 30 mm.

Figura 1: Camadas de tecidos de diferentes tamanhos


Abaixo iremos restaurar juntos alguns danos na fuselagem do planador......
Pesaremos o avião antes e depois dos reparos para termos o valor preciso do
adicional de peso devido as laminações.
Pesagem:
· Antes dos reparos: 1625 gr
· Depois dos reparos: 1705 gr
Foto 1: Ruptura longitudinal da emenda de colagem da fuselagem

Foto 2: Trincas nas bases do canopy

Foto 3: Notar que houve uma ruptura quase que total em todo o perímetro da fuselagem.
Neste ponto a laminação começou com uma faixa de tecido mais larga em quase todo o
perímetro interno e depois foram aplicadas mais duas camadas conforme a Figura 1
Foto 4: Ruptura lateral

Foto 5: Visão externa da ruptura mostrada na Foto 3

Foto 6: Trincas no estabilizador horizontal. Estas trincas serão reparadas externamente com
massa de epóxi e fio moído de 0,5 mm de comprimento, já que não há acesso interno para o
reparo.
Foto 7: Pesando o avião antes do reparo

Foto 8: Preparando o tecido para ser cortado. Repare que a trama está disposta em +_ 45°.
Colar uma fita crepe na linha do corte para evitar que o tecido muito fino se esgarce. Esta
fita será facilmente retirada posteriormente sem prejudicar o tecido com a ajuda de um
algodão ou pano limpo embebido em acetona. Molhar bem a fita e retira-la do tecido antes
da secagem da acetona.
Foto 9: Faixa mais larga de tecido para onde for necessário

Foto 10: Pré impregnando o tecido que será aplicado em locais de mais difícil acesso

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