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Monografia-Diana Mazuze FINAL REVISADO
Monografia-Diana Mazuze FINAL REVISADO
I
Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique
O supervisor
________________________________
(dr João Machavate)
II
Declaração de honra
Eu, Diana Yosse Moisés Mazuze, declaro por minha honra que esta monografia científica é o
resultado da minha investigação pessoal e das orientações do meu supervisor, e que o seu
conteúdo é original e todas as fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e
na bibliografia final.
Declaro ainda que este trabalho não foi feito nem apresentado em nenhuma outra instituição
para obtenção de qualquer grau académico.
A Candidata
____________________________________
III
Aprovação do Júri
Este trabalho foi examinado no dia ____ de ________________ de _______ por nós,
membros do júri examinador do Instituto Superior de Ciências e Tecnologia de Moçambique.
_______________________________________
O arguente
_______________________________________
O supervisor
_______________________________________
IV
Dedicatória
V
Agradecimentos
Aos meus pais Moisés Mazuze e Calisa Navaia, aos meus irmãos Wadner Mazuze e Ilka
Mazuze, pelo apoio incondicional, prestação de assistência material e psicológica, e
incentivarem directa e indirectamente para a concretização dos meus objectivos, vai
endereçado o meu muito obrigado.
À minha prima Waynoma de Fátima e ao meu tio Arlindo Navaia, pela ajuda prestada no
âmbito da elaboração de minha monografia.
Agradeço profundamente aos meus amigos em especial Elton Melice, Gilda Muchanga e
Joaquim Novela, que sempre me acompanharam e suportaram nos momentos altos e baixos
não só da minha vida académica como no que confere aos restantes âmbitos da minha vida.
Aos meus colegas de turma, que comigo caminharam durante a fase da licenciatura, apoiaram
e repreenderam sempre que necessário. Agradeço especialmente as minhas colegas Adriana,
Cláudia, Dália, Neya, Nicole Anselmo e Nicole Lorde, que para além de colegas são grandes
amigas, companheiras e incentivaram-me bastante durante a elaboração da monografia.
VI
Lista de siglas e abreviaturas
C- Concessão Mineira
VII
Lista de unidades de medição
Grandeza Símbolo Unidade
Ângulo de atrito Φ º
Coeficiente de compressibilidade av cm2/s
Coeficiente de compressibilidade volumétrica mv cm2/s
Coeficiente de permeabilidade K cm/s
Coesão C Kgf/cm2
Densidade δ g/cm3
Força F Kgf
Índice de vazio E 1
Índices de plasticidade Ip 1
Massa específica Ρ Kg/m3
Peso específico γ kN/m3
Pressão P kPa
VIII
Resumo
O presente trabalho de pesquisa aborda os pressupostos da metodologia alternativa de co-
disposição dos resíduos sólidos gerados na mina África Minerais, Lda., com o principal
objectivo de avaliar os parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril e do rejeito de
ouro para a aplicação desse sistema. As técnicas convencionais de disposição de resíduos
sólidos da actividade mineira, na maioria dos casos, representam um risco para o meio
ambiente, daí surge a necessidade de estudos de técnicas alternativas tendo em conta as
características dos materiais, como é o caso da co-disposição. Para a elaboração da presente
pesquisa, optou-se pela pesquisa descritivo-explicativa, exploratória e experimental. Para a
recolha de dados, utilizou-se a observação directa dos processos de produção de ouro, geração
de resíduos sólidos provenientes das etapas de lavra e beneficiamento mineral e as técnicas de
disposição dos mesmos na mina, para além da pesquisa laboratorial onde fez-se a
caracterização e determinação dos parâmetros de resistência e permeabilidade das amostras de
estéril e de rejeito da mineração de ouro, com vista a identificar as suas características físico-
mecânicas que permitam a aplicação em sistema de co-disposição. Concluiu-se que o rejeito
gerado na mina apresenta características de uma areia siltosa sem plasticidade, com baixa
coesão e um ângulo de atrito interno igual a 30.4º, comportando-se como areia fofa. Estas
características fazem com que as partículas de rejeito não adiram umas às outras devido a falta
de consistência, factor este que inviabiliza a mistura do rejeito e o estéril em sistema de co-
disposição, nas suas condições naturais, pois este primeiro não possui nenhuma propriedade
ligante.
IX
Abstract
X
Índice
Dedicatória ............................................................................................................................................ V
Agradecimentos ................................................................................................................................... VI
Resumo ................................................................................................................................................. IX
Abstract ................................................................................................................................................. X
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 1
1.5. Objectivos..................................................................................................................................... 4
1.5.2. Específicos............................................................................................................................. 4
1.6.3. Relevo.................................................................................................................................... 5
XII
CAPÍTULO V- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .............................................................. 47
XIII
Lista de Figuras
Figura 1: Mapa de Localização Geográfica do Distrito da Manica (Cortesia de Veloso Paz, 2019) ...... 4
Figura 5: Co-diposição em camadas alternadas de estéreis e rejeitos (Leduc, et al, 2003) ................... 15
Figura 6: Injecções de rejeito em furos verticais ou inclinados em depósitos de estéril (Leduc, et al,
2003)...................................................................................................................................................... 16
Figura 8: Mapa de amostragem (Fonte: Adaptado de Google Earth Pro, 2019) ................................... 24
Figura 9: Ilustração de processos de análise de granulométrica conjunta (Foto: Autora, 2019) ........... 27
Figura 10: Ilustração dos procedimentos de realização do ensaio edométrico (Foto: Autora, 2019).... 28
Figura 11: Ilustração do ensaio de corte directo. (Foto: Autora, 2019) ................................................. 29
Figura 12: Ilustração dos procedimentos de determinação de massas volúmicas e absorção das
amostras de estéril. (Foto: Autora, 2019) .............................................................................................. 31
Figura 14: Circuito de cominuição da primeira unidade de processamento na Empresa África Minerais,
Lda......................................................................................................................................................... 35
Figura 16: Técnicas de disposição de estéril na Empresa África Minerais, Lda. .................................. 38
Lista de fluxogramas
Fluxograma 1: Fluxograma básico do processo de exploração mineral (Autora) ................................. 10
Lista de gráficos
Gráfico 1: Curva granulométrica da amostra MNC-P1R ...................................................................... 40
Lista de tabelas
Tabela 1: Relação em peso da mistura estéril-rejeito no sistema de co-disposição. (Adaptado de Leduc
e Smith, 2003) ....................................................................................................................................... 19
Tabela 4: Tabela de ensaios realizados nas amostras de rejeito e estéril (Autora, 2019) ...................... 26
Tabela 10: Resultados da determinação de massas volúmicas e absorção das amostras de estéril ....... 43
Tabela 12: Valores típicos de coeficiente de permeabilidade nos solos (Fonte: ABNT, NBR 16416
(2015) .................................................................................................................................................... 45
Tabela 13: Valores típicos de coesão e ângulo de atrito nos solos (Fonte: Marangon, 2018)............... 45
Tabela 14: Tabela da avaliação dos parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril da mineração
de ouro ................................................................................................................................................... 46
Tabela 15: Tabela da avaliação dos parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril da mineração
de ouro ................................................................................................................................................... 46
XV
Lista de anexos
Anexo 1: Ficha de observação............................................................................................................. XVII
Anexo 2: Coordenadas de localização da área da concessão mineira da mina África Minerais, Lda. XVII
Anexo 3: Ficha de ensaio de análise granulométrica conjunta – Amostra MNC – P1R .................. XVIII
Anexo 4: Ficha de ensaio de análise granulométrica conjunta – Amostra MNC – P2R ...................... XIX
Anexo 9: Ficha de ensaio de determinação do peso específico e absorção de água - Amostra MNC-
P1E ..................................................................................................................................................... XXIV
Anexo 10: Ficha de ensaio de determinação do peso específico e absorção de água - amostra MNC-
P2E ...................................................................................................................................................... XXV
Lista de Apêndices
XVI
CAPÍTULO I – INTRODUÇÃO
Neste capítulo, são apresentados todos aspectos introdutórios sobre o tema em abordagem,
sendo que o qual compreende a contextualização sobre o tema em pesquisa, problema de
pesquisa, justificativa da escolha do tema, objectivos da pesquisa, hipóteses e descrição da
área de estudo.
1.1. Contextualização
O presente trabalho, enquadra-se no âmbito da elaboração da monografia final do curso para a
obtenção do grau de licenciatura em Engenharia Geológica e de Minas. Deste modo, realizou-
se uma avaliação dos parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril e rejeito de ouro
para aplicação em sistema de co-disposição na área de estudo, destacando-se os pontos que
realçam a sua relevância em torno da sua aplicabilidade.
1
Titulo de Concessão Mineira (C), com uma produção anual estimada em 28100g de ouro, gera
durante as fases de lavra e de processamento quantidades significativas de estéril e de rejeito
respectivamente, sendo estes dispostos de forma separada em áreas livres de mineração que
compreendem estruturas geotécnicas, nomeadamente: bacias de lama e pilhas de estéril.
Com o decorrer do tempo e aumento da produção, há tendências de aumento na geração de
resíduos e consequente necessidade de ocupação de novas áreas de disposição, áreas essas que
além de afectar a paisagem, apresentam potencial risco ambiental, como é o caso da
contaminação de afluentes pela Drenagem Ácida das Minas (DAM) e da instabilidade das
estruturas de contenção de resíduos da mineração que culmina com infiltração e rompimento
das estruturas (Silva, 2014).
Desde modo, o presente trabalho de pesquisa aborda os pressupostos da metodologia
alternativa de co-disposição dos resíduos sólidos gerados na mina África Minerais, Lda., com
ênfase na avaliação dos parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril e do rejeito de
ouro, sendo esta uma alternativa para redução de ocupação de áreas distintas de disposição
destes resíduos sólidos e para a redução de riscos ambientais.
1.2. Relevância
A escolha do tema do presente trabalho parte do pressuposto de que qualquer actividade
mineira contribui de forma significativa para a degradação do meio ambiente por isso deve se
buscar mecanismos para prevenir possíveis danos e torna-la sustentável.
As estruturas convencionais de disposição de resíduos sólidos da actividade mineira, na
maioria dos casos, apresentam instabilidade, factor esse que condiciona, por exemplo, o
rompimento causado pelas propriedades físico-mecânicas que cria condições de liquefacção e
consequente zonas de fraqueza, assim como a DAM no caso de pilhas e barragens associadas
a sulfetos, como é o caso da mina em estudo.
É neste contexto que surge a necessidade de se aplicar novas técnicas de disposição de rejeito
e estéril que, para além de garantir segurança, reduzem o espaço ocupado pelas técnicas
convencionais de disposição de resíduos da actividade mineira, tornando estes possíveis de
alocar no mesmo espaço físico tendo em conta os seus parâmetros geotécnicos, sendo
oportuno trazer contribuições no âmbito académico e social.
No âmbito académico, esta pesquisa torna-se relevante por tratar de um assunto peculiar, uma
vez que fornecerá aos leitores, estudantes e interessados informações do âmbito bibliográfico
para outras investigações relacionadas com o tema até mesmo para granjear em alguma
discussão ou debate.
2
No âmbito social, o estudo contribui para o estímulo do uso da técnica da co-disposição que é
deveras pertinente, sob ponto de vista de gestão de resíduos sólidos da mineração na mina em
estudo e mineradoras em geral e no cumprimento de acções de preservação do meio ambiente,
tornando assim a actividade extractiva sustentável.
1.4. Hipóteses
Hipótese: Se for feita a avaliação do comportamento dos parâmetros de resistência e
permeabilidade do estéril e do rejeito da mineração de ouro, então pode-se determinar a
aplicabilidade do sistema de co-disposição na mina África Minerais Lda..
3
1.5. Objectivos
1.5.1. Geral
Avaliar o comportamento da resistência e permeabilidade do estéril e do rejeito de ouro para a
aplicação em sistema de co-disposição na mina África Minerais, Lda..
1.5.2. Específicos
1. Caracterizar o estéril e o rejeito do ouro;
2. Determinar os parâmetros de resistência do rejeito através do ensaio de corte directo e de
permeabilidade através do ensaio odométrico;
3. Analisar a resistência e permeabilidade da mistura (estéril e rejeito), em diferentes
proporções.
Figura 1: Mapa de Localização Geográfica do Distrito da Manica (Cortesia de Veloso Paz, 2019)
4
De acordo com o Relatório do Plano de Actividade da Empresa África Minerais, Lda.
referente ao ano de 2019, a área da empresa, C 8566C, localiza-se no Distrito de Manica no
Posto Administrativo de Machipanda, povoado de Chimedza, com as coordenadas ilustradas
no anexo 2, tendo 377,82 hectares a cerca de 40km a Noroeste da Cidade de Manica e é
acessível através de terra batida.
A região de Manica é drenada pelo rio Revuè e seus afluentes. Por sua vez, este drena as suas
águas no rio Búzi que é a bacia hidrográfica principal. A rede hidrográfica predominante na
região é do tipo detrítica, com numerosos riachos que nascem nas serras e atravessam em
direcções as zonas baixas sendo que a maior parte dos rios gerados pelas fontes naturais na
concessão são de regime permanente.
1.6.3. Relevo
O Cratão de Zimbabwe constituído por cadeias montanhosas marca a faixa fronteiriça com o
Zimbabwe. Esta formação compreende especialmente basaltos, riolitos e lavas alcalinas. A
maior parte dos afloramentos formam cristais e cadeias montanhosas.
Quanto aos solos, estes mostram uma estreita relação com a geologia e o clima e são
localmente modificados pela topografia e o regime hídrico. Em geral, são desenvolvidos sobre
materiais do Soco do Pré-câmbrico, rochas ácidas como granito e gnisse, sendo solos
argilosos vermelhos óxicos ou castanho avermelhado profundos com uma topografia
suavemente ondulada.
Localizada no flanco sul da base sinclinal de Manica, mais precisamente a norte da Serra
Isitaca, a formação de Macequece é a mais antiga unidade do grupo de Manica e é composta
essencialmente por um pacote de rochas vulcânicas máfica-ultramáficas e sedimentares
metamorfizadas (Sumburane, 2011).
Estas formações são envolvidas por rochas granitoides e a mineralizações de Ouro está ligada
a associação granito-green stone. Devido a estas características geológicas, o distrito de
Manica é rico em recursos minerais, ocupando uma posição de destaque em relação aos outros
distritos da província. Um terço do território do distrito dispõe de ferro, titânio, ouro, cobre,
níquel, asbesto, bauxite, diatomite, ciassite, urite, monte- morilinite, mica e caulinita,
encontrando-se a maior parte destes minerais em Mavonde e Machipanda.
6
Figura 2: Mapa da Geologia Regional (Adaptado de GTK_Consortium, 2006)
7
1.6.4.2. Geologia local
Localmente, a área de estudo está inserida nas unidades litológicas que enquadram-se no
Complexo de Mavonde e Grupo de Manica. No que tange ao Complexo de Mavonde, este
compreende rochas metamórficas do tipo granito foliado (A3Vpg), por vezes porfírico. A área
compreende também as unidades litologicas das formações de Vengo e Macequece, onde são
encontradas rochas do tipo metabasalto e xistos máfico (A3MMba), xisto quartzo sericítico
(A3MMqss) e xisto talco clorítico (A3MMtc), como ilustra a figura 2.
8
Figura 3: Mapa da Geologia Local (Adaptado de GTK_Consortium ,2006)
8
CAPÍTULO II – REVISÃO DA LITERATURA
Neste capítulo são apresentados conceitos de vários autores sobre os termos que sustentam a
pesquisa, nomeadamente, rejeito, estéril, co-disposição e os condicionantes geotécnicos para a
sua aplicação.
Robertson, et al (1985), define estéril como um agregado natural de um ou mais minerais que
é retirado da mina para libertar o minério, não tendo este algum valor económico, o que faz
com que não seja processado antes ser destinado em pilhas de estéril. Localizado acima do
minério a ser explorado, este material possui origens distintas podendo ser fruto de rocha sã,
do próprio minério, rocha encaixante ou segmentação de materiais provenientes de outros
locais (Alves, 2009).
Para Gomide (2018), rejeito é a porção sem valor que está associada ao minério e é descartado
durante e ou após o processo de beneficiamento. Por outra lado, Thomé (2018) define rejeito
como a fracção estéril produzida pelo beneficiamento de minérios em um processo mecânico
e ou químico que separa-o do concentrado final comercializável. As suas características
variam de acordo com o tipo de mineral e do tipo de tratamento em unidade de
processamento.
A actividade mineira compreende quatro (4) fases que são: a prospecção e pesquisa, o
desenvolvimento, a produção e o fechamento da mina. Na fase de produção, o bem mineral
passa por processos que visam adequa-lo às exigências do mercado para posterior
comercialização. O fluxograma 3 ilustra um esquema básico do processo de extracção de
minério onde, para além do produto final, mostra as operações que geram os principais
resíduos sólidos da actividade mineira, nomeadamente as operações de lavra e
beneficiamento, sendo que, caso não haja condições para o reaproveitamento económico dos
mesmos, devem ser dispostos em locais e condições apropriadas.
9
Fluxograma 1: Fluxograma básico do processo de exploração mineral (adaptado de Valadão, 2007)
O IBRAM (2016) ainda refere que, os outros resíduos resultantes da operação das plantas de
mineração são, em geral, os efluentes das estações de tratamento, os pneus, as baterias
utilizadas nos veículos e maquinarias, além de sucatas e resíduos de óleo em geral, cuja
disposição se dá em locais e de formas que a eles se adequam.
No que tange ao estéril, este encontra-se em diferentes granulometrias, sendo disposto sob
forma de pilhas de grandes dimensões, as quais dá-se o nome de pilhas de estéril (PDE), como
descrevem Silva (2014) e Gomes (2017). Quanto ao local de disposição, Alves (2009) afirma
10
que este material é estocado em forma de pilha nos talvegues e alocadas próximas a área de
lavra, mas também, pode ser disposto em antigas cavas da mina ao céu aberto ou subterrânea.
Quanto aos rejeitos da actividade mineira, segundo Peixoto (2012), esses são geralmente
dispostos sob forma de polpa, mistura do material sólido associado a grandes quantidades de
água, onde estes são transportados por gravidade ou bombeamento, através de caneletas ou
tubulações também denominadas rejeitodutos até ao sistema de disposição. Para este autor, a
disposição final do rejeito pode realizar-se em cavidades subterrâneas, em ambientes
aquáticos ou na superfície dos terrenos onde, para o último caso, são construídas estruturas
como barragens de rejeito, pilhas, cavas exauridas, entre outras.
11
O tipo de produto a depositar e a sua estabilidade físico-química;
A área ocupada;
A altura máxima prevista;
O tipo de transporte e de descarga;
As condições de segurança aplicadas relativamente as estruturas existentes.
O estéril disposto em aterros deve ser armazenado em área própria, desmatada e com base
impermeável composta por camada de argila com espessura não inferior a 1mm para o caso
de pilhas de materiais lixiviáveis e, para o caso da bacia de lama cujo material provem de
instalações de tratamento e beneficiamento de minérios metálicos, a base da parede de
suporte, a parede de suporte que se encontra em contacto com a lama e o fundo da bacia,
devem ser impermeáveis de acordo com o projecto aprovado pela entidade competente como
previsto nos números 5 e 2 dos artigos 258 e 259 respectivamente, do Regulamento de
Segurança Técnica e de Saúde nas Actividades Geológico-Mineiras.
Deste modo, têm sido feitos estudos que buscam alternativas de disposição de resíduos que,
para além de reduzir as áreas ocupadas pelos métodos convencionais, trazem condições para a
redução de riscos de ocorrência de Drenagem Ácida das Minas (DAM) causadas pelas
diferentes estruturas de contenção de estéril e rejeito, sendo algumas das alternativas a Co-
disposição e a Disposição Compartilhada do Estéril e Rejeito da actividade mineira, sendo
que o presente trabalho tem como objecto de estudo a co-disposição.
2.3. Co-disposição
Segundo Alves (2009), Co-disposição é a situação em que se mistura previamente os rejeitos
ou rejeito e estéril para em seguida dispor. Esta técnica surge como proposta de Brauner, em
1978, devido as grandes dificuldades de disponibilidade de espaço para descarte do estéril e
rejeito e a grande variedade apresentada por cada um, principalmente os rejeitos finos que
geralmente tem baixa permeabilidade.
12
Sob ponto de vista de Lapakko e Leopold (2001), Co-disposição refere-se à combinação do
rejeito e estéril antes do descarte, com o principal objectivo de explorar as propriedades
hidráulicas do rejeito (material com granulometria fina) pra limitar a exposição dos resíduos
sólidos da actividade mineira ao oxigénio.
Vector (2002) citado por Alves (2009), com o objectivo de obter novas opções de disposição
de rejeitos realizou ensaios de laboratório e avaliações preliminares para manuseio de rejeito
de mineração. O princípio foi dispor os rejeitos e os estéreis separadamente e em conjunto em
diversas proporções com o propósito de caracterizar as propriedades geotécnicas dos materiais
e examinar como o material se comportaria em condições diferentes de disposição em termos
de resistência e permeabilidade.
Com relação aos resultados dos ensaios de resistência realizados, Vector (2002) citado por
Alves (2009) demonstrou que altas proporções de estéril misturado com rejeito (4:1)
apresentam elevado ângulo de atrito interno e em casos de proporções mais baixas (2:1) o
ângulo de atrito interno é semelhante ao do rejeito disposto separadamente.
13
Contudo, é relevante notar que as propriedades dos resíduos de uma mina podem variar
significativamente de um local para outro, dependendo da geologia que os originou e processo
de lavra (estéril) e beneficiamento (rejeito) aos quais estes são submetidos.
14
Figura 5: Co-diposição em camadas alternadas de estéreis e rejeitos (Leduc, et al, 2003)
Para Silva (2014), este método inclui também a injecção de rejeito no depósito de estéril por
meio de perfurações verticais ou inclinadas, formando uma malha de furos na superfície da
pilha. Para este efeito, é necessário que o rejeito apresente-se espessado ou na forma de pasta
e que se disponha de equipamentos para perfuração e injecção (Figura 8).
15
Figura 6: Injecções de rejeito em furos verticais ou inclinados em depósitos de estéril (Leduc, et al, 2003)
Para além dos três tipos de co-disposição apresentados por Habite e Bocking (2012), Gowan,
et all (2010) apresenta mais um tipo que a seguir passa-se a descrever:
Mistura de betão: uma mistura de betão representa a co-disposição ideal, que consiste
em uma mistura de agregado (grosseiro), areia e cimento (finos), que são misturas
com um volume muito limitado de água. Por exemplo, para uma mistura típica na
proporção 3: 2: 1 de agregados grosseiro, areia e cimento respectivamente, a relação
água-cimento é de 0,35. Tendo se a mistura pastosa resultante, essa é despejada ou
bombeada para estrutura de contenção ou mesmo em aberturas em minerações
subterrâneas.
16
A selecção das diferentes formas de co-disposição vai depender de vários factores que são:
Características do rejeito (geoquímica, densidade, viscosidade, distribuição de
tamanho de grão, mineralogia, etc.);
Características do estéril (geoquímica, grau de desgaste, de distribuição de tamanho de
grão, mineralogia, etc.);
O tamanho máximo da rocha (pedra grosseira não pode ser bombeada);
A proporção estéril-rejeito;
Topografia local;
Facilidade de construção e de operação;
Condições climáticas (clima frio, seco e humidade, etc.);
Custos do ciclo de vida da instalação de co-disposição; e
Minimização do potencial risco (erosão do vento e da água, a estabilidade do talude,
liquefacção, fecho, etc.).
Para a determinação da resistência ao corte, Marangon (2018) refere que podem ser feitos
ensaios “in situ“ e em laboratórios, sendo que no primeiro caso o objectivo é determinar a
resistência ao cisalhamento do solo e obtenção da curva tensão-deformação, enquanto que no
segundo caso o objectivo é obter parâmetros de resistência ao corte (coesão e atrito). “In situ”,
este parâmetro pode ser determinado utilizando os métodos de Ensaio de Palha ( Van Shear
17
Test), Ensaio de Penetração Estática do Cone (CPT ou Deep Sounding) e Ensaios
Pressiométricos ( câmara de pressão no furo de sondagem). No laboratório, a obtenção desse
parâmetro dá-se com base na realização de Ensaios de Compressão Simples, Ensaio de
Cisalhamento Directo e Ensaio de Compressão Triaxial.
Leduc e Smith (2003), descrevem na sua obra que primeiramente deve-se fazer uma avaliação
separada do estéril e do rejeito e, com base nestas análises, determinar o uso da co-disposição.
De seguida deve-se realizar ensaios variando a percentagem de cada material, considerando o
efeito escala, e a partir daí avaliar qual das proporções apresentou melhor desempenho nas
condições de drenabilidade e resistência, sendo realizados comummente os seguintes ensaios:
18
Compressão simples para os rejeitos misturados com cimento ou outro material
cimentante;
Análise química dos materiais.
Tabela 1: Relação em peso da mistura estéril-rejeito no sistema de co-disposição. (Adaptado de Leduc e Smith,
2003)
19
CAPÍTULO III - MATERIAIS E MÉTODO
Neste capítulo são apresentados, os materiais, métodos e todos os procedimentos
metodológicos que foram utilizados de modo a alcançar os objectivos traçados e responder as
hipóteses previamente preconizadas. São aqui apresentadas de forma detalhada os materiais
utilizados para a recolha de dados e resultados, os tipos de pesquisa adoptados, assim como as
principais limitações e os constrangimentos encontrados ao decorrer da realização do trabalho
de campo.
3.1. Materiais
Para a elaboração do presente trabalho, utilizou-se os materiais que compreendem as etapas
de pesquisa a serem apresentadas a seguir.
20
3.2. Metodologia
Para responder os objectivos traçados na presente pesquisa, o trabalho é estruturado em cinco
(5) etapas:
21
Figura 7: Fluxograma da pesquisa científica (Fonte: Autora, 2019)
Para além da literatura recomendada pelo supervisor, e outra consulta pela autora com auxílio
de fontes bibliográficas, recorreu-se também às seguintes instituições:
Biblioteca do Departamento de Geologia da UEM - consulta de trabalhos ligados à
geologia e depósitos de ouro no distrito de Manica;
Laboratórios de Engenharia de Moçambique (LEM) – consulta de manuais sobre normas e
procedimentos dos ensaios de caracterização dos materiais (solos e agregados);
22
Direcção Nacional de Geologia e Minas – consulta de cartas geológicas, aquisição de
“shap files” da geologia da área de estudo e;
Direcção Provincial dos Recursos Minerais e Energia (DIPREME) de Manica – consulta
de relatórios de actividades realizadas pela empresa, submetidos ao DIPREME, referente
aos anos 2018/2019 com o objectivo de obter informações sobre a actividade mineira na
Empresa África Minerais, Lda..
Para a colecta das amostras foram usados como instrumentos o GPS para a marcação das
coordenadas dos pontos de amostragem, sacos plásticos para o armazenamento das amostras
com capacidade para 10 kg e marcadores permanentes para a identificação das amostras e pá
manual para a retirada do material. À posterior, uma vez que a mina não apresenta um
23
protocolo padrão de amostragem, procedeu-se à colecta de amostras de estéril e rejeito
obedecendo o seguinte procedimento:
As amostras de estéril foram recolhidas em dois pontos, sendo que o primeiro localiza-se na
pilha de estéril e o segundo no talude à jusante da barragem de rejeito com as designações
MNC – P1E e MNC – P2E respectivamente. As amostras de rejeito, com as designações
MNC – P1R e MNC – P2R foram recolhidas em dois pontos no interior da barragem de
rejeito (figura 8) a uma profundidade de 0,50m, com as coordenadas ilustradas na tabela 3.
Coordenadas
Pontos de Referência
Designação Latitude (S) Longitude Profundidade
amostragem da amostra
(E) (m)
Rejeito Ponto 1 MNC – P1R 18º48´´36´ 32º53´´22´ 0.50
Rejeito Ponto 2 MNC – P2R 18º48´´36´ 32º53´´23´ 0.50
Estéril Ponto 3 MNC – P1E 18º48´´39´ 32º53´´16´ -
Estéril Ponto 4 MNC – P2E 18º48´´37´ 32º53´´22´ -
24
3.2.3. Trabalho Laboratorial
Após o trabalho de campo, as amostras foram levadas para o Armazém Nacional de Amostras
Geológicas da Direcção Nacional de Geologia e Minas (DNGM) em Maputo. As mesmas
foram transladadas posteriormente para o Laboratório de Engenharia de Moçambique (LEM),
local onde se seguiu a sua preparação para a realização dos ensaios de caracterização e
determinação dos parâmetros de resistência e permeabilidade dos materiais.
O trabalho laboratorial foi feito no LEM, na Cidade de Maputo, num período de 60 dias, nos
meses de Maio e Junho, nos Departamentos de Geotecnia e de Materiais de Construção e
Estruturas, o que possibilitou a realização dos ensaios para a obtenção de dados relevantes. O
objectivo dos ensaios esteve vinculado ao fornecimento de dados básicos que permitam uma
avaliação do provável ganho de resistência e redução das condições de circulação de fluídos
no rejeito quando associado ao estéril.
25
Tabela 4: Tabela de ensaios realizados nas amostras de rejeito e estéril (Autora, 2019)
A análise granulométrica da amostra de rejeito de ouro foi feita com base nas especificações
contidas na Norma LNEC E 196-1966. Este processo teve como principal objectivo
determinar quantitativamente a distribuição por tamanho das partículas que constituem a
amostra que, neste caso, dá-se o tratamento de um solo (embora não seja um solo natural),
possibilitando assim a determinação das suas características físicas.
26
Para a análise granulométrica conjunta, ensaios complementares foram realizados como:
Determinação da Densidade das Partículas (Norma NP-83 1965), Determinação do Teor de
Água (Norma NP-84 1965) e Determinação de Limites de Consistência (Norma NP-143
1969).
b) Ensaio edométrico
Primeiramente, introduziu-se uma carga de 0,500kg, tendo sido duplicada até atingir os 16kg.
Feitas as leituras durante 24h após a introdução da última carga, fez-se a descarga onde após
24h fez-se novamente a leitura obtendo-se assim todas leituras que posteriormente, em função
do incremento de deformação, foram usadas no cálculo dos índices de vazios, coeficiente de
27
compressibilidade, coeficiente de compressibilidade volumétrica, coeficiente de consolidação
e coeficiente de permeabilidade.
A resistência ao corte do rejeito de ouro foi determinada com base no método de ensaio de
corte directo, seguindo-se a Norma ASTM D 3080-90. Este procedimento permitiu a
determinação dos parâmetros de coesão e ângulo de atrito do rejeito de ouro de modo a
compreender o grau de interacção entre as partículas e como esses tendem a comportar-se
quando sujeitos a solicitação cisalhante, este factor definirá a necessidade ou não de se fazer a
co-disposição sob ponto de vista de aumento de resistência quando misturado ao estéril.
28
registados a partir de um defletómetro colado na metade superior da caixa. O movimento
dado pelo deslocamento aplicado na parte inferior da caixa provocou tensões tangenciais, que
foram aumentando até se dar a ruptura. Efectuaram-se as leituras de 10s em 10s nos primeiros
50s e de 50s em 50s até se dar a ruptura, tal que se verifica quando o valor da tensão diminui
ou se mantém constante (vide figura 11).
Este ensaio foi realizado com o uso de três tensões normais (mínimo recomendado) de 2kg,
4kg e 8kg em três corpos de prova, o que permitiu a obtenção de dados necessários para plotar
o gráfico cartesiano tensão vertical × tensão horizontal com os pontos referentes as tensões
verticais adoptadas e as horizontais medidas, que posteriormente são interpolados por uma
recta que define a coesão, o ângulo de atrito e, consequentemente, a resistência ao corte da
amostra.
A análise granulométrica da amostra de estéril de ouro foi feita pelo método de peneiração
seca com base na Norma NP EN 933-1. Este processo teve como principal objectivo
determinar quantitativamente a distribuição por tamanho das partículas que constituem a
amostra, possibilitando assim a identificação das suas características físicas.
29
Tendo-se as fracções retidas em cada peneiro, pesou-se separadamente de forma a obter as
massas correspondentes a cada um dos peneiros em relação a massa total introduzida, sendo
que os dados obtidos foram posteriormente plotados em uma curva granulométrica que
reflecte o tipo de amostra em função do peneiro que apresenta maior fracção retida.
30
Com os dados obtidos durante o ensaio, tendo em conta a massa volúmica da água à
temperatura a que se realizou o ensaio, calculou-se a massa específica aparente, a massa
específica das partículas saturadas com superfície seca, a massa específica das partículas secas
e a absorção.
Devido aos resultados apresentados pela composição e identificação das misturas estéril-
rejeito nas diferentes proporções, não foi possível executar os ensaios para a determinação dos
parâmetros de resistência e permeabilidade nas mesmas, visto que a mistura não se apresentou
consistente, não tendo havido aderência entre as partículas de rejeito e estéril. Deste modo,
este ponto não será discutido no Capitulo IV do presente trabalho.
31
3.3. Elaboração do relatório de pesquisa
Na elaboração do presente relatório de pesquisa, tomou-se em consideração as orientações
estabelecidas no regulamento do ISCTEM para este tipo de trabalho, a base da pesquisa
bibliográfica com a finalidade de adquirir os fundamentos essenciais que justifiquem o
desenvolvimento do estudo, trabalho de campo com o objectivo de recolha de amostras e
trabalho laboratorial com vista a obter resultados práticos da pesquisa científica.
32
CAPÍTULO IV- PROCESSAMENTO, ANÁLISE DE DADOS E INTERPRETAÇÃO
DE RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos através da pesquisa de campo e
pesquisa laboratorial por meio da observação directa e dos ensaios laboratoriais feitos nas
amostras de estéril e de rejeito. Faz-se também a interpretação e discussão dos resultados
obtidos baseando-se em referenciais teóricos e argumentos da autora. Os resultados são
apresentados em forma de figuras, fluxogramas, tabelas e gráficos de forma a facilitar a
interpretação.
Observou-se que a mina compreende três níveis, sendo que actualmente a exploração decorre
no último nível a uma profundidade de 280m. O desmonte dá-se por explosivos denominados
Nitromina 2 que são introduzidos em furos abertos manualmente na parede da galeria de
exploração com o uso de broca de rocha. Após o desmonte, o material é transportado em
carinhas de mão até a superfície por via de um elevador localizado em um poço que serve
para o transporte de material, de pessoal, de equipamento e de ventilação. Nessa fase, são
extraídas anualmente 254 000 toneladas de material, sendo que mensalmente são extraídas
25 000 toneladas excepto os meses de Janeiro e Fevereiro que compreendem o período de
férias colectivas.
33
Este do poço de acesso a área de extracção, recebe o material que vem da área de extracção
passa por um britador de mandíbulas (primário) e de seguida entra em um equipamento
denominado Gold Grinding Machine (Máquina de Moagem de Ouro) que consiste
essencialmente em um moinho de rodas (figura 13). A máquina de moagem funciona a base
de accionamento eléctrico onde, após introduzir o material britado é introduzida uma porção
de água e mercúrio para a recuperação de ouro por amalgamação.
Após o processo de moagem, junto com a porção do mercúrio e água, o material em forma de
polpa (mistura de material sólido e água) é retirado e manualmente é formada a amálgama
(concentrado de ouro que contém porções de mercúrio em estado sólido). Para este efeito, são
usadas bacias plásticas e potes plásticos para a decantação e por fim são usados pedaços de
tecido de linha para filtrar o concentrado de ouro que contém porções de mercúrio, sobrando
no pote uma porção de mercúrio que será reaproveitado no processo de amalgamação
seguinte. Durante o processo de amalgamação é usado um íman contido em uma garrafa
plástica para retirada de partículas de ferro que vêm associadas ao minério de ouro.
34
Fluxograma 2: Fluxograma básico do processamento do ouro na primeira unidade
Figura 14: Circuito de cominuição da primeira unidade de processamento na Empresa África Minerais, Lda.
35
No processo de amalgamação, o material fino proveniente da etapa de moagem passa por uma
placa amalgamadora que consiste em uma placa de cobre coberta com uma camada de
mercúrio onde a polpa do minério flui sob a placa inclinada, retendo o ouro na superfície
(Sousa e Lins, 1989). Antes de retirada a camada de ouro e mercúrio na placa de cobre, é feito
o bloqueio da área de descarga da polpa e no final do processo de amalgamação descrito na
primeira unidade de processamento, a placa é recoberta por uma porção de mercúrio e a área
de descarga da polpa é reaberta, repetindo-se o processo após 24 horas.
O material que passa pela placa amalgamadora é encaminhado a uma peneira onde materiais
estranhos e de granulometrias grossas são retidos e o que passa segue ao processo de flotação.
Nesta fase, são usados químicos como ROCSSMe e Isopropil-Etil Tionocarbonato, estes que
são xantatos adicionados gota-a-gota em um tambor que contém a polpa em agitação,
encaminhando-a aos equipamentos de flotação para a recuperação de partículas de ouro,
chumbo, enxofre e zinco.
Material hidrofóbico é encaminhado a uma área de decantação onde o sólido que sedimenta é
armazenado em sacos e o rejeito contendo alguma porção de água (lama), é encaminhado a
barragem de rejeito assim como material hidrofílico. A amálgama formada no processo de
amalgamação é por fim submetida a fundição e o material recuperado no processo de flotação
é tratado em outra unidade, localizada concretamente na Cidade da Beira, província de Sofala,
onde dá-se a recuperação de ouro mais ou menos a 90% (figura 15).
36
Fluxograma 3: Fluxograma básico do processamento do ouro na segunda unidade
Uma parte é disposta em uma pilha de estéril de pequena dimensão, com uma área
igual a 501,67m2 e 2m de altura, localizada a 40,4m de distância em relação ao poço
de acesso da área da lavra na direcção Sul (figura 16 A);
A outra parte, é disposta no talude à jusante da barragem de rejeito, localizada a 170m
de distância a Nordeste em relação ao poço de acesso a área de extracção, cobrindo
uma extensão lateral de aproximadamente 200m com mais ou menos 5m de altura
(figura 16 B).
37
Pilha de estéril Estéril disposto no talude à jusante da
barragem de rejeito
Figura 16: Técnicas de disposição de estéril na Empresa África Minerais, Lda.
O rejeito em forma de polpa, proveniente das duas unidades de processamento do ouro, cujas
sequências de operações de processamento são ilustradas nos fluxogramas 3 e 4, é disposto
em duas barragens de rejeito localizadas a 170m na direcção Nordeste em relação ao poço de
acesso a área de extracção sendo que as duas, uma vez que encontram-se interligadas, ocupam
uma área de aproximadamente 4940m2 e vão sendo alternadas na medida em que uma delas
enche.
38
4.2. Processamento e análise de dados do trabalho laboratorial
4.2.1. Caracterização do rejeito de ouro
a) Análise granulométrica conjunta (peneiração e sedimentação)
Na análise granulométrica das amostras de rejeito de ouro, foi empregue o ensaio combinados
dos processos de peneiração, com o uso da série de peneiros ASTM, e sedimentação das
partículas que passaram pelo peneiro 200,como definido pela Norma LNEC E 196-1966 (vide
anexo 3 e 4). Para as duas amostras, analisou-se que menos de 50% das amostras passou pelo
peneiro 200 (tabela 5), o que lhes confere a presença de material grosseiro na amostra.
Com base nas percentagens passantes pela série de peneiros e percentagem passante em
função do tamanho dos grãos, foi possível obter a curva granulométrica das amostras de
rejeito, onde constatou-se que as duas amostras tendem a aderir ao mesmo comportamento. A
amostra MNC – P1R apresentou uma fracção de argila igual a 5%, fracção de silte igual a
39
33% e fracção de areia igual a 62%. A amostra MNC – P2R apresentou uma fracção de argila
igual a 5%, fracção de silte igual a 34% e fracção de areia igual a 60% (gráficos 1 e 2)
b) Ensaio edométrico
40
Tabela 7: Resultados de ensaio edométrico
c) Ensaio de corte
O ensaio de corte directo foi realizado de acordo com as prescrições da Norma ASTM D
3080-90. A tabela 8 ilustra os valores da massa aplicada na caixa de corte de forma a gerar
uma tenção vertical que é directamente proporcional a essa massa. Com o incremento da
tensão vertical, verificou-se um maior deslocamento das partículas no sentido horizontal, e
consequentemente um aumento da tensão tengencial. O gráfico 3 representa a recta da tensão
tangencial em função da tensão vertical, essa que traduz o comportamento do rejeito de ouro
gerado na mina em termos de coesão e ângulo de atrito, sendo que este ultimo é dado pela
inclinação da recta.
41
Gráfico 3: Gráfico de ensaio de corte
¾” 77.50
¾” 71.87
½” 43.42
½” 35.62
42
Gráfico 4: Curva granulométrica da amostra MNC – P1E
Tabela 10: Resultados da determinação de massas volúmicas e absorção das amostras de estéril
Peso específico do Peso específico Peso específico Absorção
material das partículas das partículas (%)
Amostra
impermeável das com superfície secas (g/cm³)
partículas (g/cm³) seca (g/cm³)
Fórmulas *Y *Y *Y *Y*100
43
4.3. Interpretação dos resultados do trabalho laboratorial
Com base nos resultados da análise granulométrica conjunta apresentados nas tabelas 5 e 6 e
nos gráficos 1 e 2, segundo o Sistema Unificado de Classificação de Solos para fins de
engenharia, as amostras do rejeito são classificados como areia siltosa. O substantivo (areia) é
a fracção mais importante (superior a 50%) e o adjectivo (siltosa) para dar ideia da fracção
secundária (Tabela 11).
b) Ensaio Edométrico
Com base nos resultados do ensaio edométrico apresentados na tabela 7, constatou-se que o
rejeito apresenta uma redução do índice de vazios com o incremento da tensão. Como
consequência do preenchimento dos vazios devido a adição de cargas, os resultados mostram
uma redução dos coeficientes de compressibilidade e de permeabilidade. O valor de k,
encontra-se num intervalo que, de acordo com a tabela de valores típicos de coeficiente de
permeabilidade determinada pela Norma ABNT, NBR 16416 (2015) , classifica-se como um
rejeito de baixa permeabilidade (tabela 12). Embora o valor de k demostre que o material
possui uma baixa permeabilidade, este, em condições normais, possui condições de circulação
de fluídos devido as características granulométricas apresentadas pelas amostras de rejeito.
44
Uma vez que a maior fracção corresponde a um material arenoso, a fracção siltosa por sua vez
cobre os espaços vazios entre as partículas.
Tabela 12: Valores típicos de coeficiente de permeabilidade nos solos (Fonte: ABNT, NBR 16416 (2015)
A partir dos resultados ilustrados na tabela 8 e no gráfico 3, observa-se que, com o aumento
da tensão vertical, há maior deslocamento horizontal entre as superfícies de corte. Como
consequência do aumento do valor do deslocamento máximo, verifica-se também a subida do
valor da tensão tangencial, sendo que o gráfico 3 mostra o comportamento do rejeito quando
há variação da τ em função da σᵥ.
Tabela 13: Valores típicos de coesão e ângulo de atrito nos solos (Fonte: Marangon, 2018)
45
4.3.2. Caracterização de estéril
a) Análise granulométrica
Com base nos resultados obtidos através do ensaio de peneiramento apresentados na tabela 9
e nos gráficos 4 e 5, o estéril é classificado como agregado graúdo/miúdo artificial, uma vez
que este é resultado do processo de fragmentação por explosivos (acção mecânica produzida
pelo homem) e 80% das amostras ficou retido no peneiro número 4, tendo o restante passado
até ao peneiro número 200 (Coutinho, 1999). A curva granulométrica das amostras de estéril
ilustra uma distribuição contínua do tamanho das partículas, não havendo mudança da
curvatura.
Tabela 15: Tabela da avaliação dos parâmetros de resistência e permeabilidade do estéril da mineração de ouro
46
CAPÍTULO V- CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
5.1. Conclusão
Com base nos objectivos traçados, a partir da elaboração do presente trabalho, chegou-se as
seguintes conclusões:
As técnicas de disposição dos resíduos sólidos gerados na mina, neste caso, o estéril e
o rejeito de ouro, vão de acordo com o tipo de material gerado, porém, não são
observadas questões ligadas a construção (dimensionamento), controle e manutenção
das estruturas de contenção em função do material gerado, o que cria condições de
instabilidade;
Com base nos ensaios realizados nas amostras de rejeito, concluiu-se que o rejeito
gerado na mina apresenta características de uma areia siltosa sem plasticidade, com
baixa coesão e um ângulo de atrito interno igual a 30.4º comportando-se como areia
fofa. Estas características fazem com que as partículas de rejeito não adiram umas às
outras devido a falta de consistência, factor este que inviabiliza a mistura do rejeito e o
estéril em sistema de co-disposição pois este primeiro não possui nenhuma
propriedade ligante;
Com base nos ensaios realizado nas amostras de estéril de ouro que, concluiu-se que
este apresenta-se como agregado graúdo/miúdo, com boa resistência e alta
permeabilidade entre as partículas, favorecendo assim a mistura com o rejeito pois não
possui partículas com tamanhos elevados, o que condiciona, por exemplo, a sua
colocação em um sistema de co-disposição por bombeamento;
47
Em suma, com base nos objectivos traçados e resultados obtidos aquando da realização do
presente trabalho, conclui-se que os parâmetros de resistências do rejeito proveniente da
mineração de ouro na mina África Minerais, Lda., não permitem a aplicação do sistema de co-
disposição nas condições naturais dos materiais, validando a hipótese da presente pesquisaque
diz: Se for feita a avaliação do comportamento dos parâmetros de resistência e permeabilidade
do estéril e do rejeito da mineração de ouro, então pode-se determinar a aplicabilidade do
sistema de co-disposição na mina África Minerais Lda.
5.2. Recomendações
Diante das conclusões obtidas a base da presente pesquisa, apresenta-se as seguintes
recomendações:
Como forma de minimizar os danos gerados pela actividade mineira naquela região,
recomenda-se às entidades que superintende as áreas de mineração e ambiente reforçar
os meios de fiscalização e buscar solução de remediação dos danos causados pela
indústria extractiva, no que concerne ao meio ambiente, de forma a tornar esta
actividade sustentável.
48
Referências Bibliográficas
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Extração de Minério de ferro. Universidade de Brasília, Brasil.
Gil, A. (2010). Como elaborar projectos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas.
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potentially acid generating wastes. Australian Centre for Geomechanics, Australia.
Ishihara, K. et al. (1980). Cyclic strength characteristics of tailings Materials, Soils and
Found, California, USA.
49
Lapakko, K, Leopold, E. (2001). Environmental mine waste management: strategies for the
prevention and of problematic drainages.Vol. 1 and 2, Saint Paul.
Laske, A; Amâncio, E.C. (2014). Determinação Massa específica e absorção de água NBR
NM 53/2003, Paraná, Brasil.
Leduc, M; Smith, M.E. (2003). Tailings co-disposal – Innovations for cost savings and
liability reduction. The Latin American Mining Record.
Luiz, A. (2019). Como funciona e para que serve uma barragem de rejeitos de mineração?
UFRGS, Brasil.
Marangon, M. (2018). Resistência ao Cisalhamento dos solos. UFJF, Minas Gerais, Brasil.
Robertson, A. et al. (1985). Mine Waste Disposal: Na update on geotechnical and aspects.
Vancouver, Canadá.
Souza, V.; Lins, F. (1989). Recuperação do ouro por amalgamação e cianetação. Problemas
ambientais e possíveis alternativas. Rio de Janeiro, Brasil.
50
Normas
Norma Portuguesa Definitiva. (1965). Análise granulométrica simples (NP EN 933-1). IGPAI
– Repartição de Normalização, Lisboa, Portugal.
Norma Portuguesa Definitiva. (1965). Determinação do Teor de Água (NP-84 1965). IGPAI
– Repartição de Normalização, Lisboa, Portugal.
51
Anexos
XVI
Anexo 1: Ficha de observação
Ficha de observação
1. Caracterização da área:
Como é que são feitas as operações de lavra para a obtenção do minério e do estéril?
Como é que é feito o beneficiamento mineral para a obtenção do concentrado e do
rejeito?
3. Descrição das técnicas usadas pela mina para a contenção dos resíduos da mineração
de ouro:
Anexo 2: Coordenadas de localização da área da concessão mineira da mina África Minerais, Lda.
Coordenadas
Vértices
Latitude (S) Longitude (E)
1 18º49´´0´ 32º52´´30´
2 18º47´´50´ 32º52´´30´
3 18º47´´50´ 32º52´´50´
4 18º48´´0´ 32º52´´50´
5 18º48´´0´ 32º52´´30´
6 18º49´´10´ 32º52´´30´
7 18º49´´10´ 32º52´´50´
8 18º49´´0´ 32º52´´50´
XVII
Anexo 3: Ficha de ensaio de análise granulométrica conjunta – Amostra MNC – P1R
XVIII
Anexo 4: Ficha de ensaio de análise granulométrica conjunta – Amostra MNC – P2R
XIX
Anexo 5: Sistema Unificado de classificação de solos
XX
Anexo 6: Ficha de ensaio Edométrico
XXI
Anexo 7: Ficha de ensaio de peneiração – Amostra MNC – P1E
ENSAIO DE PENEIRAÇÃO
AMOSTRA PROVENIÊNCIA
DISTRITO Machipanda
XXII
Anexo 8: Ficha de ensaio de peneiração – Amostra MNC – P2E
ENSAIO DE PENEIRAÇÃO
AMOSTRA PROVENIÊNCIA
REF.LEM MNC-P2E PROVINCIA Manica
DISTRITO Machipanda
REF. REQUISITANTE LOCALIDADE Chimedza
XXIII
Anexo 9: Ficha de ensaio de determinação do peso específico e absorção de água - Amostra MNC-P1E
1- ENSAIOS
NOTA: Todas amostras devem ser determinadas com uma aproximação de 0,5g e sem se ter retirado
a amostra do cesto, afim de se evitarem perdas de material.
Fórmula
*Y *Y *Y * Y*100
XXIV
Anexo 10: Ficha de ensaio de determinação do peso específico e absorção de água - amostra MNC-P2E
1- ENSAIOS
NOTA: Todas amostras devem ser determinadas com uma aproximação de 0,5g e sem se ter retirado
a amostra do cesto, afim de se evitarem perdas de material.
Fórmula
*Y *Y *Y * Y*100
XXV
Apêndices
XXVI
Apêndice 1: Carta de Estágio Profissional
XXVIII
Apêndice 2: Credencial de transporte de amostras
XXIX