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jusbrasil.com.br
22 de Setembro de 2023

Investigação preliminar
Inquérito Policial
Publicado por Wesley Caetano ano passado

1 Considerações iniciais

O Direito Processual Penal visa regular a persecução penal, ou


seja, o poder-dever do Estado de apurar e punir as infrações pe-
nais. Esta possui duas etapas: investigação e processo.

A primeira etapa é, na maioria das vezes, efetuada pela polícia


judiciária.
SAIBA
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MAIS
Para melhor
My Research Folder entendimento, importante delimitar e sintetizar o
papel das polícias no Brasil, conforme disposto no art. 144 da
Constituição Federal de 1988 e na Lei n. 12.830/13.

- Polícia Administrativa/Ostensiva: possui papel de prevenção


(Polícia Militar, Rodoviária, Ferroviária e Marítima).

- Polícia Judiciária ou Civil: em seu aspecto estrutural, é com-


posta por Delegados de carreira (concursados, bacharéis em Di-
reito), com tratamento protocolar similar ao das demais autori-
dades, (art. 3ª da Lei 12.830/13). No aspecto funcional, auxilia o
Poder Judiciário e conduz o inquérito policial (art. 144, §§ 1ª e
4º da CF/88). É composta pelas polícias civis dos Estados e pela
Polícia Federal.

2 Conceito e finalidade de Inquérito Policial

No processo civil, é possível começar a demanda sem nenhum


elemento de prova (o autor pode apresentar as provas no decor-
rer do processo). Inclusive, nas lides sobre relações de consumo,
o autor pode não só iniciar o processo sem provas, como tam-
bém afirmar que não irá produzi-las nem no decorrer da ação,
pleiteando a inversão do ônus da prova.

No processo penal, a sistemática é totalmente oposta a isso.

Não há como iniciar a ação penal sem que se tenha um mínimo


de provas (justa causa), que se consubstancia no binômio prova
da materialidade e indícios de autoria e participação.

A investigação criminal serve para encontrar elementos que via-


bilizem o início do processo.

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Apesar Folder
My Research disso, não é imprescindível a investigação criminal para
iniciar a ação penal, desde que já exista justa causa (esta é sim é
imprescindível).

O Inquérito Policial é a única modalidade de investigação tra-


zida minuciosamente pelo Código de Processo Penal.

Porém, há outras modalidades de investigação:

Procedimento Investigatório Criminal (PIC): é presidido


pelo Ministério Público. O Supremo Tribunal Federal acolheu a
teoria dos poderes implícitos, oriunda da Suprema Corte Ameri-
cana, para fixar o entendimento de que se a Constituição ou-
torga uma missão, precisa também outorgar poderes para que
esta seja cumprida. Pertinente, neste aspecto, o conhecimento
do teor da Súmula 234 do Superior Tribunal de Justiça: “A par-
ticipação de membro do Ministério Público na fase investigató-
ria criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição
para o oferecimento da denúncia.”

Inquérito Parlamentar: é promovido pela Comissão Parla-


mentar de Inquérito (órgão investigador).

Inquérito Policial Militar: a autoridade militar que exerce


cargo de direção ou comando procederá ao inquérito ou dele-
gará a outro militar para, como Encarregado, elaborá-lo, na
forma da legislação vigente, para apurar crimes militares.

Inquérito da Polícia Legislativa: presidido pela Polícia Le-


gislativa (do Senado ou da Câmara dos Deputados) para apurar
crimes praticados no interior das casas legislativas. O enunciado
da Súmula 397 do STF estabelece: "O poder de polícia da Câ-
mara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime
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cometido
My Research nas suas dependências, compreende, consoante o re-
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gimento, a prisão em flagrante do acusado e a realização do
inquérito."

O inquérito policial pode ser conceituado como um procedi-


mento administrativo preliminar, com prazo, de caráter infor-
mativo, presidido privativamente pela autoridade policial, tendo
por objeto apurar a autoria, a materialidade e as circunstâncias
da infração penal, com a finalidade de contribuir na formação
da opinião delitiva do titular da ação.

Quando o crime deixa vestígios (crime intranseunte ou não


transeunte), a materialidade é auferida pelos vestígios deixados,
ou seja, é demonstrada pelo exame de corpo de delito. É o que
prevê o art. 158 do CPP:

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será in-


dispensável o exame de corpo de delito, direto ou indi-
reto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

O Pacote Anticrime definiu o que é vestígio no § 3º, art. 158-A,


do CPP:

§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou


latente, constatado ou recolhido, que se relaciona à in-
fração penal. (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019)

As circunstâncias da infração envolve o reconhecimento de qua-


lificadoras, privilegiadoras, causas de aumento e diminuição de
pena.

Titular da ação penal será o Ministério Público ou o particular


(ofendido ou representante). O inquérito policial tem por finali-
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acesso colaborar para o convencimento
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uso ilimitado de penal
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My Research a adoção ou não de providências penais, ou seja, é um
elemento de filtro. Isso também evita que pessoas inocentes se-
jam injustamente alocadas no polo passivo da ação.

Para Aury Lopes Jr, o inquérito policial possui uma finalidade


acidental- oferecer ao juiz justa causa para adoção de medidas
cautelares no transcorrer na persecução penal, com base em las-
tro indiciário.

O art. 27 da Lei de Abuso de Autoridade tipifica a conduta de re-


quisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório
de infração penal ou administrativa, em desfavor de alguém, à
falta de qualquer indício da prática de crime, de ilícito funcional
ou de infração administrativa, com pena de detenção, de 6 me-
ses a 2 anos, e multa.

Os dados coletados/descobertos durante o inquérito policial não


são provas, mas sim elementos de informação. Para que haja
prova precisa haver a bilateralidade probatória (amplo
contraditório).

3 Natureza Jurídica do Inquérito Policial

O inquérito policial é um procedimento administrativo prelimi-


nar de caráter informativo.

Procedimento é um conjunto encadeado de atos (diligências in-


vestigatórias), sem amplo contraditório. Não possui partes e por
si só não gera sanção. Não é judicial. Mas eventualmente pode
ter intervenções judiciais (medidas acobertadas pela cláusula de
reserva jurisdicional).

Um processo administrativo possui partes e dele pode surgir


Você tem sanção.
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Para uma
My Research doutrina minoritária o inquérito policial é processo,
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pois há interesses conflitantes entre delegado e imputado. Não
há sanção mas há constrangimentos/reprimendas com caracte-
rísticas de sanção.

O valor probatório do inquérito policial é relativo, consoante


postula o caput do art. 155 do CPP:

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apre-


ciação da prova produzida em contraditório judicial,
NÃO PODENDO FUNDAMENTAR SUA DECISÃO EX-
CLUSIVAMENTE NOS ELEMENTOS INFORMATIVOS
COLHIDOS NA INVESTIGAÇÃO, ressalvadas as pro-
vas cautelares, não repetíveis e antecipadas. (grifo
nosso)

Mas, afinal, é possível a produção de provas no inquérito poli-


cial? Sim, mas sem contraditório real, somente diferido.

4 Características do Inquérito:

4.1 procedimento inquisitivo

O procedimento inquisitivo é caracterizado pela concentração


de poder em única autoridade, sem partes, e, portanto, sem con-
traditório e ampla defesa).

Mas a inquisitoriedade não é absoluta, diante das prerrogativas


do exercício da advocacia.

O art. 7º, inciso 21 , do Estatuto da OAB estabelece o direito do


advogado de acompanhar o cliente perante qualquer autori-
dade, apresentar razões e formular quesitos:
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Art. e7ºPeças.
São direitos do advogado:
XXI - assistir a seus clientes investigados durante a
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apuração de infrações, sob pena de nulidade absoluta
do respectivo interrogatório ou depoimento e, subse-
quentemente, de todos os elementos investigatórios e
probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respec-
tiva apuração: (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

Porém, a presença de defensor durante o inquérito policial não


é obrigatória e não gera nulidade.

Já na fase processual, a defesa técnica é imprescindível, con-


forme se extrai do art. 185 do CPP e da Súmula 523 do STF:

Art. 185. O acusado que comparecer perante a autori-


dade judiciária, no curso do processo penal, será quali-
ficado e interrogado na presença de seu defensor, cons-
tituído ou nomeado.

Súmula 523 do STF: No processo penal, a falta da


defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiên-
cia só o anulará se houver prova de prejuízo para o
réu.

De acordo com o art. 14 do CPP, o ofendido, ou seu represen-


tante legal, e o indiciado poderão requerer requisição de perícia,
informações, documentos e dados que interessem à apuração
dos fatos. Todavia, se o delegado negar tais requerimentos, não
há recurso, pois a negativa está no campo da discricionariedade
da autoridade policial.

O Pacote Anticrime acrescentou ao CPP o art. 14-A, segundo o


qual deve o delegado citar (notificar) o integrante das forças po-
Você tem liciais (art. 144
acesso somente da CF) para que
às funcionalidades constitua
gratuitas. advogado
Assine para no prazo
uso ilimitado de de
Jurisprudência,
48h, Modelos
quandoe investigado
Peças. pelo emprego de força letal no desem-

penho de
My Research suas funções. Se o investigado for omisso, a instituição
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a qual ele pertencia a época do fato será intimada e disporá de
48h para nomear advogado. Essa regra também é aplicada aos
membros das Forças Armadas que empreguem força letal na
operação de Garantia da Lei e da Ordem (Art. 16-A do CPPM).

4.2 Procedimento discricionário

O delegado conduz o inquérito com margem de conveniência e


oportunidade. É ele quem decide quais provas produzir e em
qual ordem. Logo, é correto afirmar que o inquérito policial não
tem rito, visto que diante de uma pretensão de eficiência, o IP
não deve ser previsível.

Porém, há balizas legais: não pode determinar a condução coer-


citiva do investigado, obrigá-lo a fazer reprodução simulada dos
fatos, a falar, violar reserva de jurisdição, etc.

Como já dito, os requerimentos apresentados pela vítima ou


pelo suspeito podem ser negados diante da análise de imperti-
nência (art. 14 do CPP). A ressalva integra o exame de corpo de
delito quando a infração deixar vestígios (arts 158 e 184 do
CPP). As requisições emanadas do Ministério Público e do Juiz
devem ser cumpridas (posição majoritária), salvo diante de ma-
nifesta ilegalidade (art. 13, II, CPP) ou impossibilidade fática.

Os artigos 6º, 7º do CPP, de forma não exaustiva apontam inú-


meras diligências que podem ou devem ser cumpridas, para me-
lhor aparelhar o inquérito policial:

Art. 6o Logo que tiver conhecimento da prática da in-


fração penal, a autoridade policial deverá:

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I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se
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alterem o estado e conservação das coisas, até a che-
gada dos peritos criminais; (Redação dada pela Lei nº
8.862, de 28.3.1994)

II - apreender os objetos que tiverem relação com o


fato, após liberados pelos peritos criminais; (Redação
dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

III - colher todas as provas que servirem para o escla-


recimento do fato e suas circunstâncias;

IV - ouvir o ofendido;

V - ouvir o indiciado, com observância, no que for apli-


cável, do disposto no Capítulo III do Título Vll, deste Li-
vro, devendo o respectivo termo ser assinado por duas
testemunhas que Ihe tenham ouvido a leitura;

VI - proceder a reconhecimento de pessoas e coisas e a


acareações;

VII - determinar, se for caso, que se proceda a exame


de corpo de delito e a quaisquer outras perícias;

VIII - ordenar a identificação do indiciado pelo pro-


cesso datiloscópico, se possível, e fazer juntar aos autos
sua folha de antecedentes;

IX - averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o


ponto de vista individual, familiar e social, sua condi-
ção econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e
depois do crime e durante ele, e quaisquer outros ele-
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mentos que contribuírem para a apreciação do seu
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temperamento e caráter.
X - colher informações sobre a existência de filhos, res-
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pectivas idades e se possuem alguma deficiência e o
nome e o contato de eventual responsável pelos cuida-
dos dos filhos, indicado pela pessoa presa. (Incluído
pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 7o Para verificar a possibilidade de haver a infra-


ção sido praticada de determinado modo, a autoridade
policial poderá proceder à reprodução simulada dos
fatos, desde que esta não contrarie a moralidade ou a
ordem pública.

Os artigos 13-A e 13-B do CPP apontam inúmeras diligências en-


volvendo o tráfico de pessoas.

4.3 Procedimento sigiloso

A publicidade está afastada no inquérito policial. O sigilo é ge-


renciado pelo Delegado, para dar eficiência à investigação.

Para preservar o princípio da presunção de inocência, as infor-


mações do inquérito policial não serão apontadas na certidão de
antecedentes:

Art. 20 do CPP. A autoridade assegurará no inquérito o


sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade.

Parágrafo único. Nos atestados de antecedentes que lhe


forem solicitados, a autoridade policial não poderá
mencionar quaisquer anotações referentes a instaura-
ção de inquérito contra os requerentes. (Redação dada
pela Lei nº 12.681, de 2012)
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Fauzi Hassan faz a seguinte classificação do sigilo:
a) sigilo
My Research externo: aplicado aos desinteressados, notadamente a
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imprensa.

b) sigilo interno: aplicável aos atores da persecução penal, tendo


nítida fragilidade. O delegado não vai opor sigilo ao MP e ao
Juiz.

Quanto ao sigilo oposto ao advogado, é direito do causídico ter


acesso ao que já foi produzido e está documentado nos autos de
qualquer investigação criminal. O advogado pode tomar aponta-
mentos e copiar os autos, de forma física ou digital. O acesso in-
depende de procuração; todavia, sendo decretado secreto de
justiça, o acesso é mantido, mas a procuração passa a ser
necessária.

A autoridade pode opor o acesso no que diz respeito a diligên-


cias em andamento ou futuras.

O juiz pode decretar o segredo de justiça no inquérito policial


para proteger a vítima na intimidade, vida privada, honra e ima-
gem. É o que prevê o art. 201, § 6º do CPP:

§ 6o O juiz tomará as providências necessárias à pre-


servação da intimidade, vida privada, honra e imagem
do ofendido, podendo, inclusive, determinar o segredo
de justiça em relação aos dados, depoimentos e outras
informações constantes dos autos a seu respeito para
evitar sua exposição aos meios de comunicação. (In-
cluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

Se o acesso do advogado aos elementos de prova já documenta-


dos for boicotado, poderá ele apresentar simples petição ao juiz
das garantias, mandado de segurança ou habeas corpus
Você tem profilático.
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CumpreFolder
My Research lembrar que comete crime de abuso de autoridade
quem nega ao advogado referido direito:

Art. 32 da Lei de Abuso de Autoridade. Negar ao inte-


ressado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de
investigação preliminar, ao termo circunstanciado, ao
inquérito ou a qualquer outro procedimento investiga-
tório de infração penal, civil ou administrativa, assim
como impedir a obtenção de cópias, ressalvado o
acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que
indiquem a realização de diligências futuras, cujo sigilo
seja imprescindível:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e


multa.

Por força do art. 20 do CPP, pode o delegado, por exemplo, do-


cumentar posteriormente a oitiva de uma testemunha para dei-
xar sigiloso seu teor.

4.4 Procedimento escrito/documentado

O art. 9º do CPP estabelece que todas as peças do inquérito po-


licial serão, num só processado, reduzidas a escrito ou datilogra-
fadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade, conferindo au-
tenticidade do documento.

As novas ferramentas tecnológicas podem ser empregadas na


documentação (gravação audiovisual, digitalização, etc).

4.5 dispensável

Já tivemos a oportunidade de afirmar que não é imprescindível


Você tem aacesso
investigação
somente às criminal paragratuitas.
funcionalidades iniciar Assine
a ação penal,
para desdedeque já
uso ilimitado
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exista justa ecausa.
Peças. Portanto, o inquérito policial é dispensável
desde que
My Research os elementos que viabilizem o início da ação penal-
Folder
prova da materialidade e indícios de autoria e participação, já
estejam presentes.

Destaca-se que as infrações de menor potencial ofensivo podem


ser investigadas por simples Termo Circunstanciado de
Ocorrência.

Doutrina moderna capitaneada por Henrique Hoffmann sus-


tenta a indispensabilidade do inquérito policial, pois na larga
maioria dos casos é inquérito que é utilizado. Para essa cor-
rente, a dispensabilidade é a exceção.

Os juízes envolvidos na prática do crime não são investigados


pela polícia judiciária e sim pelo Tribunal competente (art. 33
da Lei Complementar n. 35/1979).

A investigação e o indiciamento dos membros do Ministério Pú-


blico está afeta à PGJ/PGR ou à sua Assessoria direta (art. 18, §
único da Lei Complementar 75/93 e art. 41, § único da Lei
8625/93).

Em relação às demais autoridades com foro por prerrogativa de


função, o STF entende que a investigação ou o indiciamento de-
pendem de prévia autorização do tribunal competente. O STJ
entende que a exigência do STF não tem respaldo
constitucional.

4.6 indisponível

Por mais que o delegado é quem preside o inquérito policial, ele


não poderá arquivá-lo:

Art. 17àsdo
Você tem acesso somente CPP. A autoridade
funcionalidades policial
gratuitas. Assine nãoilimitado
para uso poderá de man-
Jurisprudência, Modelos e Peças.
dar arquivar autos de inquérito.

A autoridade
My Research Folder policial sequer requer o arquivamento, pois não é
ele o titular da ação penal. Não há exceção.

O inquérito policial é disponível para o Ministério Público que,


enquanto titular da ação penal, pode optar por arquivá-lo, a de-
pender de sua opinião delitiva.

Doutrina majoritária defende que o delegado pode se recusar a


instaurar o inquérito policial se o fato for manifestamente
atípico.

O mesmo não pode ser dito em relação a manifesta excludente


de ilicitude, de culpabilidade e de punibilidade.

Tema polêmico diz respeito à conduta materialmente atípica


(princípio da insignificância). A doutrina tradicional defende
que a autoridade policial deverá instaurar. Henrique Hoffmann
afirma que a insignificância pode ser vista de maneira mais de-
safiadora, autorizando o filtro quanto a deflagração da investi-
gação. Luiz Flávio Gomes sustenta que, neste caso, o delegado
deve instaurar o inquérito policial, porém não deve indiciar.

Se o delegado não instaurar o inquérito policial cabe recurso ad-


ministrativo para o chefe de polícia ou petição simples ao Minis-
tério Público e ao Juiz, pois estes podem requisitar a
instauração.

A indisponibilidade não se confunde com o juízo negativo de ad-


missibilidade para instauração da investigação, que pode ser
exercido pelo delegado (art. 5ª, §§ 2ª, CPP).

O inquérito policial só pode ser desarquivado com o surgimento


de novas provas.
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A depender
My Research Folderdo fundamento, o inquérito não poderá ser desar-
quivado: atipicidade, causa extintiva de punibilidade (salvo se
baseada em certidão de óbito falsa).

Há divergência acerca da possibilidade ou não de desarquiva-


mento de inquérito policial arquivado sob o fundamento de ex-
cludente de ilicitude. Para o STF, é possível desarquivar; para o
STJ, não.

Com as novas regras trazidas pelo Pacote Anticrime sobre arqui-


vamento de inquérito policial, não há mais que se falar em coisa
julgada material. Mas as hipóteses de não desarquivamento
ainda são válidas.

Fala-se, ainda, em arquivamento implícito- quando o Ministério


Público deixa de oferecer denúncia em face de um dos investiga-
dos ou de um dos fatos, sem ordenar o arquivamento. Não é ad-
mitido no ordenamento jurídico brasileiro; e arquivamento in-
direto- o Ministério Público deixa de oferecer denúncia por en-
tender que o juízo não tem competência para processar e julgar
determinado caso.

Não é possível opor exceção de suspeição ao delegado de polícia,


mas deverão eles declarar-se suspeitos, quando ocorrer motivo
legal. E se o delegado não se declarar suspeito? poderá configu-
rar corrupção passiva privilegiada, prevaricação, sujeitá-lo a
sanção administrativa. Mas não trará nenhuma consequência
para o processo.

Os vícios do inquérito policial (mera peça administrativa) não


maculam a ação penal.

4.7 oficial
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O inquérito
Jurisprudência, policial
Modelos e Peças. é presidido por agente estatal. 
4.8 procedimento
My Research Folder temporário

O delegado deve atender a prazos prefixados em lei, diante da


razoável duração da investigação (art. 10, CPP c/c 3ª B. VIII, §
2ª do CPP)

Procedimento Unidirecional- o inquérito policial tem como des-


tinatário o titular da ação, pois é ele o detentor da opinião
delitiva.

4.9 oficioso

Nos crimes de ação penal pública incondicionada, o delegado


deve instaurar inquérito policial, se assim recomendar a Verifi-
cação da Procedência das Investigações. O delegado pode ins-
taurar de ofício, por meio de portaria, ou mediante requisição
do juiz (ofende o sistema acusatório), do MP ou a requerimento
do ofendido ou seu representante.

5 Notitia Criminis

O delegado pode tomar conhecimento da infração penal nas se-


guintes formas:

Notitia Criminis de Cognição imediata, direta ou espontânea-


delegado toma conhecimento do fato delituoso por meio de suas
atividades rotineiras.

Notitia Criminis de cognição mediata, indireta ou provocada-


por meio de um expediente escrito (requisição do juiz ou MP,
representação da vítima).

Notitia Criminis de cognição coercitiva- por meio de uma situa-


Você tem ção flagrancial.
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NotitiaFolder
My Research Criminis inqualificada- é denúncia anônima. O Dele-
gado deve fazer a Verificação de Procedência das Informações
antes de instaurar inquérito policial.

O inquérito, nos crimes de ação penal pública condicionada a


representação ou de iniciativa privada, só poderá ser instaurado
com a representação ou requerimento do ofendido ou seu
representante.

O prazo decadencial da representação e da queixa crime é 6 me-


ses após conhecimento do autor do crime. Esse prazo não se in-
terrompe e nem se suspende (art. 38 do CPP).

A representação escrita do ofendido ou seu representante acerca


da infração penal é denominada de delatio criminis postulató-
ria.

Quando qualquer do povo noticia ao delegado a ocorrência de


um delito, fala-se em delatio Criminis simples.

Referências bibliográficas:

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de di-


reito processual penal / Salvador, JusPODIVM, 2019.

ROQUE, Fábio; NEGRI, Klaus . Processo penal didático / Salva-


dor, JusPODIVM, 2019.

Imagem de Steve Buissinne por Pixabay

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/investigacao-preliminar/1595136749

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