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DIREITO ELEITORAL – BRUNO GASPAR - RJPLUS

AULA 04 – 16.05.2022

Atualização: 10.12.2022

VEDAÇÕES E CONFLITOS DE ATRIBUIÇÃO ENTRE

MEMBROS DO MP ELEITORAL

▪ Art. 128, inciso II, e da CF/88: a partir da promulgação da Emenda


Constitucional nº 45/04, a atividade político-partidária por membros do
Ministério Público passou a ser proibida expressamente. Duas
possibilidades:
a) Todos os membros do Ministério Público que ingressaram após a
CF/88 sofrem os efeitos da EC nº 45/04 e, caso almejem concorrer a
cargo público eletivo, terão que se afastar definitivamente do cargo para
se filiar a algum partido político.
b) Com relação aos membros que ingressaram na instituição ANTES da
CF/88, está assegurada a opção pelo regime jurídico anterior (o qual, em
síntese, admite a mera licença para concorrer, com o posterior retorno
ao cargo exercido).
▪ Não há conflito de atribuição entre PRE e promotor eleitoral do mesmo
Estado, pois prevalecerá a decisão do PRE. Se forem de Estados
distintos, a decisão seria do PGE.
▪ Entre promotores do mesmo Estado, o conflito deve ser decidido pelo
PRE, mas se forem de Estados diferentes, a decisão caberia ao PGE.

PARTIDOS POLÍTICOS

Conceito (Rodrigo Zilio): “Grupos sociais com formação ideológica


definida e com objetivo de conquista do poder estatal”.
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Esses grupos têm uma formação ideológica e seu objetivo é chegar ao


poder estatal. A gente sabe que para se chegar ao poder, qualquer pessoa
tem que estar filiada a um partido político.

Natureza: O partido político apresenta natureza de pessoa jurídica de


direito privado, devendo seu estatuto ser registrado no serviço de Registro
Civil de Pessoa Jurídica do local de sua sede (art. 8° da Lei 9.096/95 –
LPP alterado pela lei 13.877/2019).

• Art. 1º, §1º da Lei 12.016/09 assegura o cabimento de Mandado de


Segurança contra ato de dirigente partidário.

Vamos dar uma olhada no art. 8º da Lei 9.096/95:

Art. 8º O requerimento do registro de partido


político, dirigido ao cartório competente do
Registro Civil das Pessoas Jurídicas do local de
sua sede, deve ser subscrito pelos seus
fundadores, em número nunca inferior a 101
(cento e um), com domicílio eleitoral em, no
mínimo, 1/3 (um terço) dos Estados, e será
acompanhado de: (Redação dada pela
Lei nº 13.877, de 2019)

I - cópia autêntica da ata da reunião de


fundação do partido;

II - exemplares do Diário Oficial que publicou,


no seu inteiro teor, o programa e o estatuto;

III - relação de todos os fundadores com o nome


completo, naturalidade, número do título
eleitoral com a Zona, Seção, Município e Estado,
profissão e endereço da residência.

*** Depois que o partido político adquire a personalidade jurídica


(pessoa jurídica de direito privado), o que acontece? A partir do
momento que o partido político adquire personalidade jurídica (que a
gente sabe é uma pessoa jurídica de direito privado), na forma o art. 8º
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da Lei 9.096/95, a partir daquele momento em que ele adquire a


personalidade jurídica, começa a correr o prazo de 2 anos, para ele obter
as assinaturas de eleitores não filiados, que são fundamentais para o
registro no TSE.

▪Art. 17, §2º da CF/88: Adquirida personalidade jurídica, na forma da


lei civil, o estatuto deve igualmente ser registrado no TSE. Para ser
registrado no TSE, é necessário preencher alguns requisitos.

▪Art. 7º, §1º da Lei 9.096/95: Só é admitido registro do estatuto do


partido que tenha caráter nacional, considerando-se como tal aquele que
comprove, no período de dois anos, o apoiamento de eleitores não filiados
ao partido político, correspondente a 0,5% dos votos dados na última
eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos
em branco e os nulos, distribuídos por um terço, ou mais, dos Estados,
com um mínimo de 0,1% do eleitorado que haja votado em cada um deles.
(Redação dada pela Lei nº 13.165, de 2015)

▪ A Resolução TSE 23.571/2018, que disciplina a criação, organização,


fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, tratou do prazo para
comprovar o apoiamento.

§ 1o Só é admitido o registro do estatuto de


partido político que tenha caráter nacional,
considerando-se como tal aquele que comprove,
no período de dois anos, o apoiamento de
eleitores não filiados a partido político,
correspondente a, pelo menos, 0,5% (cinco
décimos por cento) dos votos dados na última
eleição geral para a Câmara dos Deputados, não
computados os votos em branco e os nulos,
distribuídos por um terço, ou mais, dos
Estados, com um mínimo de 0,1% (um décimo
por cento) do eleitorado que haja votado em
cada um deles.
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Art. 7º, § 3º: O prazo de dois anos para


comprovação do apoiamento de que trata o § 1º
deste artigo é contado a partir da data da
aquisição da personalidade jurídica do
partido político em formação, na forma
prevista no art. 10 desta resolução.

O caráter nacional (requisito para registrar partido político no TSE)


significa que o partido político tem que ter representatividade nacional.

*** Essas assinaturas que são apostas nas listas de apoiamento,


significam filiação? Não, muito pelo contrário. Para aquela pessoa que
assina a lista de apoiamento, ela está dizendo que quero que esse partido
seja criado, mas ela não está se filiando automaticamente a ele, uma
coisa não tem nada a ver uma coisa com outra.

Atenção: as assinaturas apostas nas listas de apoiamento não significam


filiação.

▪ Com a obtenção do apoiamento mínimo, deverá ser realizado o registro


do estatuto do novo partido, através de requerimento ao TSE, na forma
da Resolução 23.571/2018.

Art. 7º, §2º da LPP: Só o partido que tenha


registrado seu estatuto no Tribunal
Superior Eleitoral pode participar do
processo eleitoral, receber recursos do
Fundo Partidário e ter acesso gratuito ao
rádio e à televisão, nos termos fixados nesta
Lei.

Art. 7º, §3º da LPP: Somente o registro do


estatuto do partido no Tribunal Superior
Eleitoral assegura a exclusividade da sua
denominação, sigla e símbolos, vedada a
utilização, por outros partidos, de variações
que venham a induzir a erro ou confusão.
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Art. 4º da Lei 9.504/97: Poderá participar das eleições o partido que,


até seis meses antes do pleito, tenha registrado seu estatuto no Tribunal
Superior Eleitoral, conforme o disposto em lei, e tenha, até a data da
convenção, órgão de direção constituído na circunscrição, de acordo com
o respectivo estatuto. (Redação dada pela Lei nº 13.488/17).

O art. 4º da Lei 9.504/97 é importante, porque foi dado sua redação pela
Lei 13.488/17, que é a reforma eleitoral que aconteceu em 2017, e
devemos ter atenção, porque esse prazo é de 6 meses antes do pleito, o
partido para participar das eleições, ele tem que ter o seu estatuto
registrado no TSE até 6 meses antes da data da eleição.

Entre os artigos 12 e 19 dessa Resolução 23.571/2018, está


disciplinado esse requerimento que deve ser feito para o registro do
partido político. A gente não precisa aprofundar no estudo de resolução,
isso normalmente, não vai ser cobrado na prova.

Vamos tratar agora, da organização, das características, do


funcionamento dos partidos políticos.

Características: 1) Liberdade de criação: art. 17, caput da CF/88 – “É


livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos,
resguardados a soberania nacional (...)” 2) Caráter nacional: art. 17,
inciso I da CF/88. 3) Autonomia partidária: art. 17, §1º da CF/88 §1º:
É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura
interna e estabelecer regras sobre escolha, formação e duração de seus
órgãos permanentes e provisórios e sobre sua organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas
coligações nas eleições majoritárias, vedada a sua celebração nas eleições
proporcionais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas
em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus
estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 97, de 2017).

Vamos falar de cada uma delas.


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Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e


extinção de partidos políticos, resguardados a
soberania nacional, o regime democrático, o
pluripartidarismo, os direitos fundamentais da
pessoa humana e observados os seguintes
preceitos:

A liberdade de criação de partidos políticos, liberdade de fusão,


incorporação desde que preservada a soberania nacional, o
pluripartidarismo, o regime democrático, os direitos fundamentais da
pessoa humana, tem que ser necessariamente observado.

Sobre o caráter nacional, o art. 7º, §1º da Lei dos Partidos Políticos, que
fala que o partido tem que ter um caráter nacional e fala que ele tem que
ter representatividade em todo o território nacional.

Eleitores de diversos Estados da federação, tem de assinar aquela lista


de apoiamento dos partidos políticos, esse caráter nacional do partido
político, está previsto no art. 17, inciso I da CF/1988. É um preceito que
a Constituição estabelece que deve ser atendido.

Então, a gente não pode ter a criação, por exemplo, de um partido


mineiro, o partido dos Estados do sul do Brasil, não pode. O partido tem
que ter caráter nacional, tem que ter representatividade, em todo o
território nacional.

Vamos conversar a partir de agora sobre aquela característica mais


importante dos partidos políticos, a autonomia partidária. A autonomia
partidária está prevista no art. 171, §1º da CF/1988. Que foi alterado
pela Emenda Constitucional 97/2017, por isso, vocês terão que ter muita
atenção com esse art. 17, §1º, da CF/1988, porque a autonomia
partidária é uma característica fundamental dos partidos políticos. Essa
redação é nova, é da Emenda Constitucional 97/2017 e vejam bem a
liberdade que tem os partidos políticos de se organizarem, escolherem as
próprias regras, os seus regimes de coligações, definir a sua estrutura
interna, suas diretrizes, seu programa de atuação. Então, essa
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autonomia partidária fala o seguinte, o partido não pode tudo, mas ele
pode quase tudo. Por isso, é uma característica importantíssima.

A CFRB adotou o princípio da liberdade de organização ao assegurar ao


partido político autonomia para definir sua estrutura interna,
organização e seu funcionamento.

▪ É através do estatuto partidário que a agremiação estabelecerá suas


diretrizes internas, objetivos e programa de atuação (arts. 14 e 15 da Lei
9.096/95).

▪ Exemplos:

a) Art. 20 da LPP: Vou exemplificar a autonomia partidária: é o artigo 20


da Lei dos Partidos Políticos (Lei 9.096/1995): Art. 20, da Lei
9.096/1995. É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto,
prazos de filiação partidária superiores aos previstos nesta Lei, com
vistas a candidaturas a cargos eletivos.

Em regra, a pessoa para concorrer para cargo público eletivo, ela tem que
estar filiada a um partido político, pelo menos 6 meses antes das eleições.

Esses 6 meses, antes das eleições, está estabelecido no art. 9º, da Lei
9.504/1997. O que é importante? Esses 6 meses antes das eleições,
que a pessoa tem que estar filiada ao partido político é um prazo mínimo.
Dentro de sua autonomia partidária, o partido pode estabelecer prazos
superiores, para que a pessoa possa concorrer por aquela agremiação
partidária. É justamente o que eu acabei de ler para vocês, no artigo 20.

Então, pode o partido estabelecer que para concorrer por aquele


partido, a pessoa tem que estar filiada há dois anos, por aquela
agremiação partidária? Sim, pode. Essa decisão está dentro da
autonomia partidária, dentro das regras de organização e funcionamento
dentro daquele partido.

b) Candidato nato: art. 8º, §1º da Lei 9.504/97 § 1º Aos detentores de


mandato de Deputado Federal, Estadual ou Distrital, ou de Vereador, e
aos que tenham exercido esses cargos em qualquer período da legislatura
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que estiver em curso, é assegurado o registro de candidatura para o mesmo


cargo pelo partido a que estejam filiados.

Segundo exemplo, dessa mesma questão, é o artigo 8º, §1º da Lei


9.504/1997. Aos detentores de mandato de deputado federal, estadual
ou distrital ou de vereador e aos que tenham exercido esses cargos em
qualquer período da legislatura que estiver em curso, é assegurado o
registro da candidatura para o mesmo cargo pelo partido a que estejam
filiados. Pessoal, vejam bem esse dispositivo, pensem no seguinte
exemplo: Bruno é Deputado Federal pelo Partido Amarelo, esse artigo 8º,
§1º da Lei 9.504/1997 assegura para Bruno o direito de ter o registro da
candidatura para o mesmo cargo de deputado federal que já foi eleito,
pelo partido que esteja filiado, ou seja, o Bruno (Deputado Federal pelo
Partido Amarelo), tem assegurado o direito ao registro da sua candidatura
pelo Partido Amarelo, mesmo que o corpo de filiados, que o Partido
Amarelo não queira o Bruno como candidato a Deputado Federal. É isso
que traz o artigo 8º, §1º, que trata da figura chamada candidato nato. O
candidato tem direito de concorrer pelo partido ao qual foi eleito
Deputado Federal, para o cargo de Deputado Federal, mesmo que o
partido não queira mais o candidato.

*** Em relação ao candidato nato, os princípios e as características


da autonomia partidária, ficam onde neste caso? Não soa estranho?
Não parece que o art. 8º, §1º, viola a autonomia partidária? Em
relação art. 8º, §1º, no julgamento da ação direta de
inconstitucionalidade 2.530, julgado em 2002, o STF declarou o
dispositivo inconstitucional, justamente, com base na violação da
autonomia partidária.

Restrições à autonomia partidária (exemplos):

§ 1) Vedado aos partidos receber recursos financeiros de entidade ou


governo estrangeiros ou subordinar-se a eles (art. 17, II da CF/88).

§ 2) Utilização de organização paramilitar (art.17, §4° da CF/88).


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Para continuar falando sobre autonomia partidária, vamos estudar agora


as coligações partidárias.

Coligações: é o consórcio de partidos políticos formado com o propósito


de atuação conjunta e cooperativa na disputa eleitoral (José Jairo
Gomes). A coligação não possui personalidade jurídica própria, mas tão
somente a personalidade judiciária.

Art. 17, §1º da CF/88: É assegurada aos


partidos políticos autonomia para definir
sua estrutura interna e estabelecer regras
sobre escolha, formação e duração de seus
órgãos permanentes e provisórios e sobre
sua organização e funcionamento e para
adotar os critérios de escolha e o regime de
suas coligações nas eleições majoritárias,
vedada a sua celebração nas eleições
proporcionais, sem obrigatoriedade de
vinculação entre as candidaturas em
âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos
estabelecer normas de disciplina e
fidelidade partidária. (Redação dada pela
Emenda Constitucional nº 97, de 2017).

Art. 2º A vedação à celebração de coligações


nas eleições proporcionais, prevista no § 1º
do art. 17 da Constituição Federal, aplicar-
se-á a partir das eleições de 2020.

Então, a coligação é formada pelos partidos, é a união de dois ou mais


partidos, para a disputa eleitoral. A partir das eleições do ano de 2020, é
vedada a celebração de coligações nas eleições proporcionais, isso está
estabelecido no art. 17, §1º. Esse prazo dela começar a valer a partir
de 2020, está no art. 2º da própria Emenda Constitucional 97/2017.
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Lá em 2002, o TSE editou a Resolução 20.993, determinando que


houvesse uma certa simetria entre as coligações celebradas em âmbito
nacional, estadual e municipal. A EC nº 52/2006 modificou esse art. 17,
§1º, que foi novamente modificado agora, pela EC nº97/2017, revogando
a verticalização e dano plena autonomia aos partidos políticos, para
firmar o regime de suas coligações. Então, hoje, não é mais necessária
essa simetria e, hoje, os partidos têm plena autonomia para fixar o regime
de suas coligações. Portanto, não há mais essa necessidade de simetria,
entre as coligações estabelecidas em âmbito nacional, estadual e
municipal. Como eu falei para vocês, partido político dentro de sua
autonomia partidária, ele não pode tudo, ele pode muito, mas ele não
pode tudo. Ele pode quase tudo. Aqui, eu trouxe restrições à autonomia
partidária (ela tem restrições na própria Constituição Federal).

Obs.: Vale lembrar que é durante a realização das convenções partidárias


que os partidos políticos deliberam sobre a realização ou não de
coligações com outras agremiações. Elas se extinguem com o fim do
processo eleitoral. As coligações terão denominações próprias. E serão
atribuídas à coligação as prerrogativas e obrigações de um partido
político.

OBS.: Uma vez coligado, o partido político somente possui legitimidade


para atuar de forma isolada no processo eleitoral quando questionar a
validade da própria coligação, durante o período compreendido entre a
data da convenção e o termo final do prazo para a impugnação do registro
de candidatos.

EMENDA CONSTITUCIONAL 97/2017: alterou art. 17 da CF/88

Art. 17, § 3º da CF/88: Somente terão


direito a recursos do fundo partidário e
acesso gratuito ao rádio e à televisão, na
forma da lei, os partidos políticos que
alternativamente:
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I - obtiverem, nas eleições para a Câmara


dos Deputados, no mínimo, 3% (três por
cento) dos votos válidos, distribuídos em
pelo menos um terço das unidades da
Federação, com um mínimo de 2% (dois por
cento) dos votos válidos em cada uma delas;
ou

II - tiverem elegido pelo menos quinze


Deputados Federais distribuídos em pelo
menos um terço das unidades da
Federação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 97, de 2017)

▪ O art. 17, §3º da CF/1988 com redação dada pela EC 97/2017 traz de
volta uma coisa chamada cláusula de barreira, ou cláusula de
desempenho prevendo que os partidos somente terão acesso aos
recursos do Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita no
rádio e na televisão se atingirem um patamar mínimo de candidatos
eleitos.

▪ Os requisitos acima, alternativos, são muito rigorosos e praticamente


asfixiam partidos pequenos. No caso do inciso II, a grande maioria dos
partidos atualmente não possui 15 Deputados Federais. Logo, em tese,
eles terão que se valer do inciso I.

Vale ressaltar que essa restrição do novo §3º do art. 17 somente vai
produzir todos os seus efeitos a partir das eleições de 2030. Enquanto
isso, a Emenda previu uma regra de transição de forma que, a cada
eleição, os requisitos vão se tornando mais rigorosos até que atinja os
critérios do § 3º do art. 17 em 2030.

▪ Art. 17, §5º da CF/88: A EC 97/2017 trouxe, ainda, uma regra peculiar
dizendo que se um candidato for eleito por um partido que não preencher
os requisitos para obter o fundo partidário e o tempo de rádio e TV, este
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candidato tem o direito de mudar de partido, sem perder o mandato por


infidelidade partidária.

Art. 17 (...) § 5º Ao eleito por partido que


não preencher os requisitos previstos no §
3º deste artigo é assegurado o mandato e
facultada a filiação, sem perda do mandato,
a outro partido que os tenha atingido, não
sendo essa filiação considerada para fins de
distribuição dos recursos do fundo
partidário e de acesso gratuito ao tempo de
rádio e de televisão.

FINANCIAMENTO PARTIDÁRIO

Observem que o art. 31 da Lei nº 9.096/95 traz as vedações aos partidos


políticos:

Art, 31. É vedado ao partido receber, direta


ou indiretamente, sob qualquer forma ou
pretexto, contribuição ou auxílio pecuniário
ou estimável em dinheiro, inclusive através
de publicidade de qualquer espécie,
procedente de:

I - entidade ou governo estrangeiros;

II - entes públicos e pessoas jurídicas de


qualquer natureza, ressalvadas as dotações
referidas no art. 38 desta Lei e as
proveniente do Fundo Especial de
Financiamento de Campanha;

IV - entidade de classe ou sindical.

V - pessoas físicas que exerçam função ou


cargo público de livre nomeação e
exoneração, ou cargo ou emprego público
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temporário, ressalvados os filiados a partido


político.

Essas são as vedações aos recursos que podem ser entregues ou doados
a partidos políticos.

Com relação aos recursos privados, o STF considerou inconstitucional a


doação de Pessoa Jurídica para campanhas e partidos políticos. Essa
proibição de doação de pessoas jurídicas, para campanhas eleitorais e
partidos políticos, ela está prevista no art. 31, inciso II.

Mas devemos ficar atentos, pois as pessoas esquecem que o partido


político não pode mais receber doação para campanha, não é só para a
campanha eleitoral que a pessoa jurídica não pode doar. A pessoa
jurídica também não pode doar para os partidos políticos.

Ressalvadas tais vedações, partidos recebem recursos públicos e


privados para suas atividades. O financiamento partidário público vem
do Fundo Partidário. O art. 38 da Lei 9.096/95, descreve como se
constitui o fundo. Os recursos do Fundo Partidário são administrados
pelo TSE e distribuídos aos partidos políticos segundo as regras do art.
41-A do mesmo diploma legal.

Vamos realizar a leitura o art. 41-A da Lei 9.096/95:

Art. 41-A. Do total do Fundo Partidário: I –


5% (cinco por cento) serão destacados para
entrega, em partes iguais, a todos os
partidos que atendam aos requisitos
constitucionais de acesso aos recursos do
Fundo Partidário; e II – 95% (noventa e
cinco por cento) serão distribuídos aos
partidos na proporção dos votos obtidos na
última eleição geral para a Câmara dos
Deputados. Parágrafo único. Para efeito do
disposto no inciso II, serão desconsideradas
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as mudanças de filiação partidária em


quaisquer hipóteses.

Os recursos do fundo partidário são administrados pelo TSE e são


distribuídos aos partidos políticos de acordo com as regras do art. 41-A,
desse mesmo dispositivo.

Portanto, o partido político recebe recursos, que podem ser tanto


públicos, como a gente viu do fundo partidário, como recursos de doação,
por parte de pessoas físicas; não pode receber de pessoas jurídicas.

Toda a movimentação financeira das agremiações partidárias deve ser


submetida à fiscalização da Justiça Eleitoral.

Art. 32 da LPP. O partido está obrigado a


enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o
balanço contábil do exercício findo, até o
dia 30 de abril do ano seguinte.

§ 1º O balanço contábil do órgão nacional


será enviado ao Tribunal Superior Eleitoral,
o dos órgãos estaduais aos Tribunais
Regionais Eleitorais e o dos órgãos
municipais aos Juízes Eleitorais.

§ 4º Os órgãos partidários municipais que


não haja movimentado recursos financeiros
ou arrecadado bens estimáveis em dinheiro
ficam desobrigados de prestar contas à
Justiça Eleitoral e de enviar declarações de
isenção, declarações de débitos e créditos
tributários federais ou demonstrativos
contábeis à Receita Federal do Brasil, bem
como ficam dispensados da certificação
digital, exigindo-se do responsável
partidário, no prazo estipulado no caput
deste artigo, a apresentação de declaração
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da ausência de movimentação de recursos


nesse período. (Redação dada pela Lei nº
13.831, de 2019)

§ 5º A desaprovação da prestação de contas


do partido não ensejará sanção alguma que
o impeça de participar do pleito eleitoral.

▪ A não apresentação das contas partidárias pela unidade


correspondente acarreta a suspensão das cotas do Fundo Partidário,
enquanto perdurar a inadimplência (art. 37-A da LPP).

A Justiça Eleitoral fiscaliza todo o recurso que entra nos partidos


políticos e como ele é gasto. Muitas pessoas confundem a prestação de
contas de campanhas eleitorais, com as prestações de contas de partidos
políticos. Por enquanto não estamos falando de prestação de contas de
campanha. Os recursos para a campanha serão estudados mais na
frente.

Como nós estamos falando da prestação de contas do partido político,


temos que ter em mente que o partido político, mesmo fora do período
eleitoral, tem gastos (tem gastos de luz, água, com empregados, etc) e
todos os gastos do partido político, devem ser fiscalizados pela Justiça
Eleitoral. Então, por favor, não confundam a prestação de contas do
partido político com a prestação de contas de campanha eleitorais.

A prestação de contas dos partidos está toda na Lei 9.096/1995,


enquanto a prestação de contas de campanha está lá na Lei
9.504/1997, que é a Lei Geral das Eleições.

O §4º do art. 32 da Lei 9.096/95, foi modificado por uma lei super recente
(Lei 13.831/2019), que alterou sucintamente a redação do §4º, que agora
está dizendo o seguinte:

§ 4º Os órgãos partidários municipais que não


haja movimentado recursos financeiros ou
arrecadado bens estimáveis em dinheiro ficam
desobrigados de prestar contas à Justiça
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Eleitoral e de enviar declarações de isenção,


declarações de débitos e créditos tributários
federais ou demonstrativos contábeis à
Receita Federal do Brasil, bem como ficam
dispensados da certificação digital, exigindo-
se do responsável partidário, no prazo
estipulado no caput deste artigo, a
apresentação de declaração da ausência de
movimentação de recursos nesse período.

A parte sublinhada é a que foi alterada pela Lei 13.831/2019. E, também,


ficam desobrigados de enviar declarações de isenção, declarações de
débitos e créditos tributários federais ou demonstrativos contábeis à
Receita Federal do Brasil, bem como ficam dispensados da certificação
digital.

Então, o órgão partidário municipal que não houver movimentado


recursos financeiros, ou arrecadados bens, estimados em dinheiro (isso
é muito comum, nos municípios menores, em anos que não são anos
eleitorais, acontece muito isso) ficam desobrigados de prestar contas, à
Justiça Eleitoral e Receita Federal do Brasil. Basta que o responsável por
esse órgão municipal, no prazo estipulado do caput do artigo, apresente
uma declaração de ausência de movimentação de recursos nesse período.
Fiquem atentos para esse §4º, porque ele tem redação nova.

O fato de o partido não ter as suas contas aprovadas, jamais ensejará,


impedirá de alguma forma de que ele participe das eleições.

Agora, se ele não apresentar as contas, o que acontece? Acarreta a


suspensão das cotas do fundo partidário, enquanto perdurar a
inadimplência. Isso está previsto no art. 37-A, da Lei nº 9.096/1995.
Então, se ele não apresentar, não encaminhar essa prestação de contas
para a Justiça Eleitoral, ele vai ter a suspensão, da unidade
correspondente, vai ter a suspensão das cotas partidárias, enquanto
perdurar essa inadimplência, nos termos do art. 37-A da Lei dos partidos
políticos. Já a desaprovação das contas por movimentação de recursos
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de origem, as sanções são as do art. 36 da Lei 9.096/1995. Essas são


as sanções do art. 36, para quem descumprir as vedações do art. 31 da
Lei dos Partidos Políticos.

Já a desaprovação das contas por movimentação de recursos de


origem: A desaprovação das contas por movimentação de recursos de
origem não identificada ou esclarecida ou de fontes vedadas do art. 31
acarreta as sanções do art. 36 da LPP.

Art. 36. Constatada a violação de normas legais


ou estatutárias, ficará o partido sujeito às
seguintes sanções:

I - no caso de recursos de origem não


mencionada ou esclarecida, fica suspenso o
recebimento das quotas do fundo partidário até
que o esclarecimento seja aceito pela Justiça
Eleitoral;

II - no caso de recebimento de recursos


mencionados no art. 31, fica suspensa a
participação no fundo partidário por um ano;

III - no caso de recebimento de doações cujo


valor ultrapasse os limites previstos no art. 39,
§ 4º, fica suspensa por dois anos a participação
no fundo partidário e será aplicada ao partido
multa correspondente ao valor que exceder os
limites fixados (prejudicado em razão da
revogação do art. 39, §4º da LPP).

▪ A desaprovação das contas partidárias por outras irregularidades


acarreta na devolução da importância apontada como ilícita, acrescida
de multa de até 20% (art. 37 da LPP). Somente se aplica à esfera
partidária responsável pela irregularidade (§2º).

Art. 37. A desaprovação das contas do partido


implicará exclusivamente a sanção de
devolução da importância apontada como
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irregular, acrescida de multa de até 20% (vinte


por cento).

Recurso Especial Eleitoral nº 0600012-94,


Florianópolis/SC, redator para o acórdão Min.
Alexandre de Moraes, julgado em 10.9.2020.
Desaprovação de contas e possibilidade de
cumulação das sanções dos arts. 36, II, e 37, da
Lei nº 9.096/1995. A desaprovação de contas
partidárias pode ensejar, além da sanção de
devolução da importância tida por irregular
– acrescida de multa de até 20% (art. 36, II)
–, a sanção de suspensão do recebimento de
cotas do Fundo Partidário. O Plenário do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), por maioria,
negou provimento ao recurso especial eleitoral e
manteve a decisão do TRE, nos termos do voto
do Ministro Alexandre de Moraes – designado
redator para o acórdão –, o qual afirmou que,
apesar da utilização do termo “exclusivamente”,
a norma do art. 37 é de caráter geral. Assim, a
qualquer tipo de desaprovação de contas, em
regra, aplicase a sanção de devolução da
importância apontada como irregular, acrescida
de multa de até 20%. Na linha do acórdão do
TRE, o Ministro asseverou que o art. 36 é
uma norma específica que acresce a essa
sanção geral a possibilidade de suspensão do
recebimento de recursos das cotas do Fundo
Partidário no caso de comprovada
arrecadação de recursos ilícitos. Segundo o
Ministro, a desaprovação continua
possibilitando as duas sanções, uma vez que
não se trata de lei editada posteriormente e
desvinculada do texto original, em que se
aplicaria o brocardo “lei posterior revoga a lei
19

anterior”, havendo, na verdade, uma


minirreforma política.

Então pessoal, muito cuidado. A desaprovação dessas contas dos


partidos políticos pode impedir o partido político de participar das
eleições? Não impede. Se ele não apresentar, ele vai ter a suspensão das
cotas do fundo partidário. E se as contas forem desaprovadas por alguma
causa das fontes vedadas do art. 31, as sanções estão no art. 36. Se for
por outras irregularidades, devolução da quantia apurada como lícita,
acrescida de multa de 20%.

O financiamento partidário/prestação de contas do partido é uma coisa.


As regras sobre isso estão na Lei dos Partidos Políticos. Financiamento
de campanha eleitoral é outra coisa, ou seja, a prestação de campanha
eleitoral está lá na Lei da Eleições.

INFIDELIDADE PARTIDÁRIA

Prevê a parte final do art.17 § 1° da CFRB que o estatuto do partido deve


“estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária”. Mas não há
qualquer previsão constitucional sobre a perda do mandato por
infidelidade partidária. A Lei 9.096/95, em sua redação original, também
não previa a perda do mandato por infidelidade partidária.

▪ Nesse quadro, durante muitos anos, o mandatário podia não só


contrariar a orientação da agremiação pela qual foi eleito, como até
mesmo abandoná-la, sem que isso implicasse perda do mandato.

▪ Consulta 1398/2007: “os partidos políticos e as coligações conservam


direito a vaga obtida pelo sistema eleitoral proporcional, quando houver
pedido de cancelamento de filiação ou de transferência do candidato
eleito por um partido para outra legenda” (TSE Resolução 22526/2007).
Concluiu o relator: “uma arbitrária desfiliação partidária implica renúncia
tácita do mandato, a legitimar, portanto, a reivindicação da vaga pelos
partidos”.
20

Então, a partir dessa Consulta 1.398/2007, o TSE falou, olha só, se o


mandatário mudar de legenda, se desfiliar de forma arbitrária de seu
partido político, essa agremiação partidária vai conservar o direito à vaga
obtida pelo sistema eleitoral proporcional, ou seja, o mandato pertence
ao partido. Isso o TSE decidiu, respondendo a essa consulta em 2007.
Naquele mesmo ano, quando respondeu a uma outra consulta, de
número 1407/2007, o TSE entendeu que a fidelidade partidária
também se aplicaria no sistema majoritário. Logo em seguida, o STF
referendou os argumentos do TSE ao julgar os Mandados de Segurança
nº 22.602, 22.603 e 22.604.

Em 2015 houve uma alteração parcial deste entendimento, uma vez


que o STF decidiu pelo descabimento da perda do mandato em caso de
infidelidade partidária no sistema majoritário (ADI 5081 / DF; Relator
Min. ROBERTO BARROSO, Julgamento: 27/05/2015).

▪ “(...) As características do sistema


proporcional, com sua ênfase nos votos
obtidos pelos partidos, tornam a fidelidade
partidária importante para garantir que as
opções políticas feitas pelo eleitor no
momento da eleição sejam minimamente
preservadas. Daí a legitimidade de se
decretar a perda do mandato do candidato
que abandona a legenda pela qual se elegeu.
3. O sistema majoritário, adotado para a
eleição de presidente, governador,
prefeito e senador, tem lógica e dinâmica
diversas da do sistema proporcional. As
características do sistema majoritário,
com sua ênfase na figura do candidato,
fazem com que a perda do mandato, no
caso de mudança de partido, frustre a
21

vontade do eleitor e vulnere a soberania


popular (...)”

Portanto, hoje, só podemos cogitar a hipótese de perda de mandato por


infidelidade partidária aos eleitos pelo sistema proporcional (deputados
federais, deputados estaduais, deputados distritais e vereadores).

ASPECTOS PROCESSUAIS DA DECRETAÇÃO DA PERDA DO CARGO


POR INFIDELIDADE PARTIDÁRIA

O TSE editou a Resolução 22.610/2007 para tratar das ações judiciais


relacionadas à infidelidade partidária. Embora a Lei 13.165/15 tenha
trazido inovações à Lei 9.096/95 no que diz respeito às hipóteses
configuradoras de justa causa, a Resolução 22.610/07 continua aplicável
em outros aspectos.

▪ Legitimidade ativa: o partido político pode pleitear na Justiça Eleitoral


“a decretação da perda de cargo eletivo em decorrência de desfiliação
partidária sem justa causa”. Caso o partido não formule o pedido dentro
de 30 dias da desfiliação, está prevista a legitimidade subsidiária do MP
ou quem tenha interesse jurídico (1º suplente do partido), os quais
poderão fazê-lo nos 30 dias subsequentes. (art. 1º, caput e §2º da Res.
22.610/2007).

OBS.: O TSE já entendeu que quem tem interesse jurídico é o primeiro


suplente do partido; o suplente da coligação não tem legitimidade para
pleitear a vaga decorrente da perda do mandato por infidelidade
partidária.

O interesse jurídico aqui é do 1º Suplente do partido, então tanto para o


MP, quanto ao primeiro suplente do partido, que tem interesse jurídico,
vão poder pleitear a perda do mandato, por infidelidade partidária, caso
o partido não faça nos 30 dias, depois da filiação.

▪ O mandatário pode pleitear na Justiça Eleitoral a declaração de


existência da justa causa para o seu desligamento da organização
partidária (art. 1º, §3º da Res. 22.610/2007).
22

Ele pode pleitear que a Justiça Eleitoral fale, olha só, ele se desfiliou, mas
não foi uma desfiliação arbitrária, ele se desfiliou, mas havia justa causa
para aquela desfiliação para aquele desligamento do mandatário do
partido político, nos termos do art. 1º, §3º da Resolução 22.610/2007.

Essa Resolução do TSE é daquelas que são definitivas, ou seja, difere das
resoluções temporais, que são editadas para cada uma das eleições.
Então, no final das contas, vai caber ao Judiciário/à Justiça Eleitoral,
decidir se houve ou não houve justa causa para aquela desfiliação, para
aquele desligamento, do partido político, por parte do mandatário.

NO FINAL DAS CONTAS, CABERÁ AO JUDICIÁRIO DECIDIR SE


HOUVE OU NÃO JUSTA CAUSAPARA O DESLIGAMENTO.

▪ Competência: Nos termos do art. 2º da Resolução 22.610/2007, tanto


a ação para decretação da perda do cargo como a ação declaratória de
existência de justa causa, a competência para conhecer e julgar o pedido:

- será do TSE quanto aos mandatos federais (Presidente, Senador,


Deputado Federal);

- será dos TRE's quanto os demais mandatos (estaduais e municipais).

- Juiz eleitoral (primeiro grau) não tem competência para julgar


matérias dessa natureza.

▪ Legitimidade passiva: mandatário infiel. Se ele se filiar a outra legenda,


esta também deverá ser citada para integrar o processo como
litisconsorte (art. 4º da Res. 22.610/07).

▪ Pressupostos para a decretação da perda de cargo eletivo: efetiva


desfiliação partidária e ausência de justa causa para a desfiliação.

Para relembrar: tem que ser de um candidato eleito pelo sistema


proporcional, pois não cabe perda do mandato por infidelidade partidária
aos eleitos pelo sistema majoritário.
23

*** O que que é a justa causa? O que permite que o mandatário mude
de partido e se desfilie, sem que ele perca o mandato. Isso está no art.
22-A, parágrafo único, da Lei 9.096/95.

Art. 22-A da Lei 9.096/95. Perderá o


mandato o detentor de cargo eletivo que se
desfiliar, sem justa causa, do partido pelo
qual foi eleito.

Parágrafo único. Consideram-se justa


causa para a desfiliação partidária somente
as seguintes hipóteses:

I - mudança substancial ou desvio reiterado


do programa partidário;

II - grave discriminação política pessoal; e

III - mudança de partido efetuada durante o


período de trinta dias que antecede o prazo
de filiação exigido em lei para concorrer à
eleição, majoritária ou proporcional, ao
término do mandato vigente.

Obs: TSE (Agravo Regimental em Petição nº 31126 - PORTO ALEGRE –


RS): “A infidelidade partidária pressupõe o desligamento voluntário, e sem
justa causa, do filiado eleito pela legenda, de modo que não se afigura
cabível a propositura de ação de decretação de perda de mandato eletivo
por ato de infidelidade partidária quando a desfiliação provém de expulsão
do parlamentar, como na hipótese em apreço, nos termos da jurisprudência
consolidada por este Tribunal Superior”.

O inciso III é o requisito objetivo do parágrafo único do art. 22-A da Lei


9.096/95. O inciso III nada mais é do que uma janela partidária que a
Lei 13.165/2015 trouxe para a Lei 9.096/95. Permite-se que o
mandatário, independente de quaisquer razões subjetivas, mude de
partido quando ele estiver ao término do mandato vigente, ou seja,
24

terminando o seu mandato (30 dias antes do prazo de filiação exigido pela
lei).

Qual é o prazo de filiação exigido em lei? 6 meses. Então, quando ele


estiver no término do mandato vigente, por exemplo, um vereador quando
estiver ao término de seu mandato, nos 30 dias que antecedem o prazo
de filiação exigido em lei, ou seja, nos 30 dias que antecedem o prazo de
6 meses antes da eleição, ele vai poder mudar de partido, sem que isso
implique em perda do mandato por infidelidade partidária.

Para concorrer a outra eleição seja ela majoritária ou proporcional


(lembrando que a perda do cargo por infidelidade partidária, só se aplica
ao sistema proporcional), e caso ele queira mudar de partido para
concorrer em uma eleição majoritária, ele vai ter que usar dessa janela
aqui.

Sobre quais são os limites da decisão: o art. 10 da Resolução 22.610/07


dispõe:

Art. 10. Julgando procedente o pedido, o


tribunal decretará a perda do cargo,
comunicando a decisão ao presidente do
órgão legislativo competente para que
emposse, conforme o caso, o suplente ou o
vice, no prazo de 10 (dez) dias. (ADI 5081 /
DF)

▪ Não compete à Justiça Eleitoral (TSE ou TRE’s) fixar quem será


investido no cargo vago em virtude da perda do mandato por infidelidade
partidária, pois tal atribuição é do Presidente do órgão legislativo.

Insta salientar, ainda, que a EC 111/2021 acrescentou o parágrafo 6º


do art. 17 da CF confirmando o entendimento já sedimentado de que a
infidelidade partidária somente se aplica aos eleitos para cargos
proporcionais e acrescentando uma quarta hipótese de justa causa: a
anuência do partido.
25

Mesmo antes da alteração, o TSE já possuía firme jurisprudência no


sentido de que a anuência do partido autoriza a desfiliação sem perda do
mandato.

FUSÃO E INCORPORAÇÃO DE PARTIDOS POLÍTICOS

Sobre fusão e incorporação de partidos políticos, devemos lembrar de


uma norma, que vive caindo em prova, que é essa aqui: o art. 29, §9º da
LPP.

Então, tem um lapso temporal que o partido tem que estar registrado,
para que seja admitida tanto a fusão, como a incorporação.

▪ Fusão: é quando um partido se une à outro, fazendo com que se tornem


uma só entidade. A fusão deverá ser realizada por decisão dos órgãos
nacionais dos partidos, os quais elaborarão os projetos comuns de
estatuto e programa (art. 29, §1º, LPP).

Na hipótese de fusão, a existência legal do novo partido tem início com o


registro, no Ofício Civil competente da sede do novo partido, do estatuto
e do programa, cujo requerimento deve ser acompanhado das atas das
decisões dos órgãos competentes (art. 29, §4º, LPP).

▪ Incorporação: ocorre quando um partido absorve uma ou mais


agremiações, mantendo sua identidade originária. No caso de
incorporação, o instrumento respectivo deve ser levado ao Ofício Civil
competente, que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado
a outro (art. 29, § 6º, LPP).

Art. 29, § 9º da LPP: Somente será admitida a


fusão ou incorporação de partidos políticos que
haja obtido o registro definitivo do Tribunal
Superior Eleitoral há, pelo menos, 5 (cinco)
anos.

RESPONSABILIDADE PARTIDÁRIA
26

Os partidos políticos respondem civilmente por seus atos, na forma do


art. 927 do CC, por danos materiais, morais e à imagem.

O art. 15-A da LPP estabelece a responsabilidade partidária, inclusive


civil e trabalhista, limitando-se ao órgão partidário da circunscrição que
tiver dado causa ao dano ou não cumprimento da obrigação.

Sobre a responsabilidade partidária e extinção de partido político: Os


partidos políticos respondem civilmente por seus atos, na forma do art.
927 do Código Civil, por danos materiais, morais e à imagem.

▪ O art.15-A da LPP estabelece a reponsabilidade partidária, inclusive civil


e trabalhista, limitando-se ao órgão partidário da circunscrição que tiver
dado causa ao dano ou não cumprimento da obrigação.

Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil e


trabalhista, cabe exclusivamente ao órgão
partidário municipal, estadual ou nacional que
tiver dado causa ao não cumprimento da
obrigação, à violação de direito, a dano a outrem
ou a qualquer ato ilícito, excluída a
solidariedade de outros órgãos de direção
partidária. Parágrafo único. O órgão nacional
do partido político, quando responsável,
somente poderá ser demandado judicialmente
na circunscrição especial judiciária da sua
sede, inclusive nas ações de natureza cível ou
trabalhista.

Extinção de partido político: Esse tema está tudo na lei, não tem
mistério. Os incisos do art. 28, são os motivos que poderão levar a
extinção dos partidos políticos; que poderão levar a um processo de
cancelamento, que é iniciado pelo TSE, pela denúncia de qualquer eleitor,
por representante de partido ou também, por representação do
Procurador Geral Eleitoral.
27

Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e


ao Tribunal Superior Eleitoral, o registro do
partido que, na forma de seu estatuto, se
dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a
outro.

Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após


trânsito em julgado de decisão, determina o
cancelamento do registro civil e do estatuto do
partido contra o qual fique provado: I - ter
recebido ou estar recebendo recursos
financeiros de procedência estrangeira; II - estar
subordinado a entidade ou governo
estrangeiros; III - não ter prestado, nos termos
desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
IV - que mantém organização paramilitar. § 1º
A decisão judicial a que se refere este artigo
deve ser precedida de processo regular, que
assegure ampla defesa. § 2º O processo de
cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista
de denúncia de qualquer eleitor, de
representante de partido, ou de representação
do Procurador-Geral Eleitoral.

FEDERAÇÃO DE PARTIDOS POLÍTICOS – LEI 14.028/2021

Art. 11-A da Lei 9.096/95

Art. 11-A. Dois ou mais partidos políticos poderão


reunir-se em federação, a qual, após sua
constituição e respectivo registro perante o Tribunal
Superior Eleitoral, atuará como se fosse uma única
agremiação partidária. (Incluído pela Lei nº 14.208,
de 2021) (Vide ADI Nº 7021)

§ 1º Aplicam-se à federação de partidos todas as


normas que regem o funcionamento parlamentar e a
fidelidade partidária. (Incluído pela Lei nº 14.208,
de 2021)
28

§ 2º Assegura-se a preservação da identidade e da


autonomia dos partidos integrantes de
federação. (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

§ 3º A criação de federação obedecerá às seguintes


regras: (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

I – a federação somente poderá ser integrada por


partidos com registro definitivo no Tribunal Superior
Eleitoral; (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

II – os partidos reunidos em federação deverão


permanecer a ela filiados por, no mínimo, 4 (quatro)
anos; (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

III – a federação poderá ser constituída até a data


final do período de realização das convenções
partidárias; (Incluído pela Lei nº 14.208, de
2021) (Vide ADI Nº 7021)

IV – a federação terá abrangência nacional e seu


registro será encaminhado ao Tribunal Superior
Eleitoral. (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

§ 4º O descumprimento do disposto no inciso II do §


3º deste artigo acarretará ao partido vedação de
ingressar em federação, de celebrar coligação nas 2
(duas) eleições seguintes e, até completar o prazo
mínimo remanescente, de utilizar o fundo
partidário. (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

§ 5º Na hipótese de desligamento de 1 (um) ou mais


partidos, a federação continuará em funcionamento,
até a eleição seguinte, desde que nela permaneçam
2 (dois) ou mais partidos. (Incluído pela Lei nº
14.208, de 2021)

§ 6º O pedido de registro de federação de partidos


encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral será
acompanhado dos seguintes
documentos: (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

I – cópia da resolução tomada pela maioria absoluta


dos votos dos órgãos de deliberação nacional de
cada um dos partidos integrantes da
federação; (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)
29

II – cópia do programa e do estatuto comuns da


federação constituída; (Incluído pela Lei nº 14.208,
de 2021)

III – ata de eleição do órgão de direção nacional da


federação. (Incluído pela Lei nº 14.208, de 2021)

§ 7º O estatuto de que trata o inciso II do § 6º deste


artigo definirá as regras para a composição da lista
da federação para as eleições
proporcionais. (Incluído pela Lei nº 14.208, de
2021)

§ 8º Aplicam-se à federação de partidos todas as


normas que regem as atividades dos partidos
políticos no que diz respeito às eleições, inclusive no
que se refere à escolha e registro de candidatos para
as eleições majoritárias e proporcionais, à
arrecadação e aplicação de recursos em campanhas
eleitorais, à propaganda eleitoral, à contagem de
votos, à obtenção de cadeiras, à prestação de contas
e à convocação de suplentes. (Incluído pela Lei nº
14.208, de 2021)

§ 9º Perderá o mandato o detentor de cargo eletivo


que se desfiliar, sem justa causa, de partido que
integra federação. (Incluído pela Lei nº 14.208, de
2021)

É a reunião de dois ou mais partidos políticos que possuam afinidade


ideológica ou programática e que, depois de constituída e registrada no
TSE, atuará como se fosse uma única agremiação partidária.

A federação somente poderá ser composta por partidos com registro


definitivo no TSE, sendo certo que os partidos reunidos deverão
permanecer a ela filiados pelo prazo mínimo de 04 anos.

Art. 12, parágrafo único, inciso I da Resolução TSE nº 23.670/21:


na eleição proporcional, o percentual mínimo de candidaturas por
gênero deverá ser atendido tanto globalmente, na lista de federação
quanto por cada partido nas indicações que fizer para compor à lista.
30

Em 10.08.2022, o STF julgou a ADI 6.230, o que gerou alteração em duas


normas importantes do art. 3º da Lei 9.096/95.

Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua


estrutura interna, organização e funcionamento.

§ 1º. É assegurada aos candidatos, partidos políticos e coligações


autonomia para definir o cronograma das atividades eleitorais de
campanha e executá-lo em qualquer dia e horário, observados os
limites estabelecidos em lei.

§ 2º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir o prazo


de duração dos mandatos dos membros dos seus órgãos partidários
permanentes ou provisórios. (Incluído pela Lei nº 13.831, de 2019)

§ 3º O prazo de vigência dos órgãos provisórios dos partidos políticos


poderá ser de até 8 (oito) anos. (Incluído pela Lei nº 13.831, de 2019)

Em primeiro lugar, o STF deu interpretação conforme à Constituição ao


parágrafo 2º do art. 3º da Lei 9.096/95 para assentar que partidos
políticos podem, no exercício de sua autonomia constitucional,
estabelecer a duração dos mandatos de seus dirigentes, desde que
compatível com o princípio republicano da alternância do poder
concretizado por meio da realização de eleições periódicas em prazo
razoável. Nesse ponto, a decisão teve por objetivo preservar a
temporariedade dos mandatos dos dirigentes de partidos políticos, com
base no princípio republicano. Segundo o STF, com a realização de
eleições periódicas em prazo razoável, evita-se a perpetuação dos
mandatos das lideranças partidárias.

▪ Seguindo a mesma linha de raciocínio, visando promover o que chamou


de “apuração democrática da vontade dos filiados”, o Supremo Tribunal
Federal reconheceu a inconstitucionalidade do parágrafo 3º do art. 3º da
Lei 9.096/95, de modo a impedir sucessivas reconduções nos órgãos
31

provisórios (normalmente compostas por pessoas indicadas pela direção


do partido – não eleitas pelos filiados).

Assim, é inconstitucional a previsão do prazo de até oito anos para a


vigência dos órgãos provisórios dos partidos, para evitar distorções ao
claro significado de “provisoriedade”, notadamente porque, nesse
período, podem ser realizadas distintas eleições em todos os níveis
federativos.

Caberá à Justiça Eleitoral analisar, na apreciação do registro dos


estatutos ou quando trazida a questão em casos concretos, a
constitucionalidade e legalidade do prazo de vigência dos órgãos
provisórios dos partidos políticos.

Nesse contexto, o STF especificamente quanto a essa parte na qual


reconhece a inconstitucionalidade da norma, modulou os seus efeitos
exclusivamente a partir de janeiro de 2023, prazo posterior ao
encerramento do presente ciclo eleitoral, após o qual o TSE poderá
analisar a compatibilidade dos estatutos com o que ora decidido.

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