Você está na página 1de 7

7

A FORMAÇÃO DE UM VÍNCULO AFETIVO ENTRE EDUCADORAS E CRIANÇAS COMO


POSSIBILIDADE PARA UMA ADAPTAÇÃO FELIZ A CRECHE

Suélen Cristiane Marcos, Gilza Maria ZauhyGarms

Universidade Estadual Paulista - UNESP, Programa de Pós Graduação em Educação, Presidente Prudente, SP. E-mail:
ssucris@hotmail.com. CAPES.

RESUMO
Este trabalho é fruto de um recorte de uma pesquisa de doutorado em andamento, e tem por objetivo
identificar as estratégias de promoção da adaptação infantil à creche utilizadas pelos profissionais da
Educação Infantil. A pesquisa enquadra-se na modalidade tipo estudo de caso, numa abordagem
qualitativa, envolvendo discussões sobre a inserção das crianças a creche, e o estabelecimento da parceria
entre as famílias e as instituições de Educação Infantil para o sucesso da adaptação das crianças pequenas e
para a qualidade da Educação Infantil. O campo de investigação foi uma instituição, pública de Presidente
Prudente, que atende 182 crianças de 4,5 meses a 3 anos. Os procedimentos de coleta de dados foram
entrevistas semi-estruturadas dirigidas às 11 educadoras e 7 professoras. Os resultados elucidam que os
profissionais apontam como imprescindível para o sucesso da adaptação infantil a creche a formação de
um vínculo afetivo entre educadoras, professoras e a criança.
Palavras-chave: (adaptação, creche, prática docente, crianças, afetividade).

THE FORMATION OF A RELATIONSHIP BETWEEN AFFECTIVE EDUCATIONALISTS AND CHILDRENAS


POSSIBLITY FOR ADAPTATION HAPPY NURSERY .

ABSTRACT
This work is the result of a cut of a doctoral research in progress, and aims to identify strategies to promote
children's adaptation to day care used by professionals of early childhood education. The research is part of
the mode type case study, a qualitative approach, involving discussions on the inclusion of children to day
care, and the establishment of partnership between families and Early Childhood Education institutions for
the successful adaptation of small children and the quality of early childhood education. The research field
is an institution, public PresidentePrudente, which serves 182 children from 4.5 months to 3 years. The
data collection procedures were semi-structured interviews addressed to 11 educators and 7 teachers.
Results clarify that professionals point as essential to the success of children's adaptation to day care the
formation of an emotional bond between educators, teachers and children.
Keywords: (adaptation,nursery, teaching practice, children, affectivity).

INTRODUÇÃO criança a creche, temos a pretensão de averiguar


Este trabalho é um recorte de uma as expectativas, como e por quais estratégias se
pesquisa de doutorado em andamento que surge valem as educadoras e professoras ao
da necessidade de discutir o processo de vivenciarem essa experiência. “Ouvir”, ou seja,
adaptação das crianças de 4,5 meses a 3 anos na “dar voz,” as educadoras elucidará como é o
instituição creche, a partir das perspectivas dos processo utilizado neste período de adaptação
profissionais e das famílias, na intenção de das crianças a instituição. Na concepção de
delinear possíveis caminhos na construção de Rapoport (2005, p. 19), a boa ação pedagógica,
uma parceria entre a família e a instituição de sensível às necessidades das crianças é
Educação Infantil. imprescindível para a adaptação das mesmas,
No que se refere, especificamente, as principalmente no caso dos bebês:
concepções dos profissionais sobre o ingresso da

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
8

A ação pedagógica das revele menor sofrimento


educadoras pode ser pelo afastamento materno.
considerada um dos fatores (RAPOPORT, 2005, p. 9)
mais relevantes em termos De acordo com Perissé (2007) a perca
da adaptação dos bebês à psicológica se traduz por um momento de
creche. A qualidade dos fragilidade emocional que tende a acarretar a
cuidados depende em potencialização de inseguranças e angústias. Em
grande parte da habilidade concordância Balaban (1988, p. 25), aponta que a
de as profissionais prestarem experiência da separação acontece em todas as
atenção em cada um e fases da vida dos seres humanos e os afeta.
levarem em conta as reações A separação afeta as
individuais dos bebês. crianças. Afeta os pais. Faz
brotar sentimentos nos
Partimos do pressuposto de que o professores. O início da vida
processo de adaptação das crianças é um elo escolar pode ser uma
entre as instituições de Educação Infantil e as ocasião excitante ou
famílias, sendo necessário que cada uma dessas também uma ocasião
instituições entenda a importância de sua agradável. Junto com
atuação. Sem a parceria entre as instituições de aqueles que realmente estão
Educação Infantil e as famílias a adaptação das encantados por estarem
crianças, muitas vezes, tem se caracterizado por iniciando sua vida escolar,
um processo angustiante para todos os existem frequentemente
envolvidos. São comuns situações de separação outras crianças chorando ou
abrupta das crianças de suas famílias em que as pais tensos e nervosos.
crianças são conduzidas chorando para dentro (BALABAN, 1988, p. 24).
das instituições de Educação Infantil pelos
profissionais enquanto as famílias observam A adaptação das crianças as instituições
atônitas e impotentes. de Educação Infantil é um processo complexo,
O processo de adaptação das crianças nas pois, de acordo com Rossetti-Ferreira e Vitória
instituições de Educação Infantil pode ser muito (1993), exige muito emocionalmente da criança.
doloroso não só para a criança como para seus A criança tem que lidar com um novo ambiente,
familiares, principalmente para a mãe, educada com a separação diária da mãe e dos familiares e
socialmente para cuidar de seu filho e que tem com as novas pessoas que não pertencem a sua
um vínculo muito forte com a criança, pois família, com o estresse da despedida da família
implica na separação da criança de seus na entrada, com a nova rotina da instituição, com
familiares mesmo que apenas por um período do a troca de fraldas, a hora de dormir, de se
dia, todavia, enquanto os pais trabalham ou alimentar, com os novos relacionamentos com os
desempenham outras funções sociais é preciso educadores infantis e com outras crianças. A
escolher sob a cargo de quem ficará a educação criança, geralmente, manifesta seus sentimentos
das crianças. Tendo sido a decisão tomada é relacionados a adaptação a instituição pelo choro
preciso lidar com a adaptação da criança e da que é a reação mais temida pelas famílias, lhes
família a essa nova realidade. causando enorme desconforto. Rossetti-Ferreira
[...] esses cuidados podem se e Vitória (2000) afirmam que o choro da criança é
dar em creches e pré- o fator que mais desencadeia a ansiedade dos
escolas, em creches pais.
familiares ou lares vicinais; Segundo Santos (2012, p.34), o choro é
por um parente ou na casa muito comum no período de adaptação das
da criança dispensados por crianças que o manifestam principalmente na
uma babá/ empregada. Em entrada e quando os pais, ou familiares vêm
qualquer um desses casos, a buscá-las.
criança passa por um O choro transmite o que os
processo de adaptação até pequenos não sabem dizer. É
que esteja vivenciando a preciso aprender a
nova situação da forma que identificar a mensagem.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
9

Outro dado é o de que necessário, em possibilidades que torne o


existem manifestações, ingresso a creche uma experiência feliz para as
como gritos, reações de mau crianças, minimizando o seu sofrimento e
humor, bater nas pessoas, impedindo o desencadeamento de angústias.
deitar-se no chão, reações
de passividade, de apatia, de METODOLOGIA
resistência à alimentação ou A pesquisa, foi aprovada pelo comitê de
ao sono, e comportamentos ética e pesquisa da FCT-UNESP, como consta o
agressivos. A ocorrência de protocolo CAAE 52850316.7.0000.5402 é de
doenças também é bastante natureza qualitativa, pois permite, ao
frequente. O bebê pode pesquisador, o contato direto e prolongado com
somatizar seus sentimentos a situação a ser investigada, assim como a
em relação à separação, possibilidade de uma discussão abrangente dos
apresentando sintomas dados coletados no campo de configuração do
físicos, como febre, vômitos, estudo.De acordo com Richardson (1999, p.39) a
diarréia, bronquite, alergias, pesquisa qualitativa é uma metodologia que
etc. Esses sintomas devem emprega estudos que podem descrever a
alertar para possíveis complexidade de determinado problema, analisar
problemas de adaptação, a interação de certas variáveis, compreender
mesmo que o bebê não processos dinâmicos sociais.
chore na escola. (SANTOS, Esta pesquisa por ter como foco uma
2012, p.34). instituição de Educação Infantil de uma cidade do
interior do Estado de São Paulo (SP), que atende
Para Rizzo (2000), esses sintomas de 182 crianças, de 4,5 meses a 3 anos e como
saúde são passíveis de ocorrer porque o grande sujeitos os profissionais que atuam na instituição,
investimento emocional do bebê durante a 7 professores, 11 educadores e 30 famílias
adaptação pode torná-lo menos resistente a usuárias, cujos filhos passam pelo processo de
infecção. adaptação as creches, a pesquisa enquadra-se na
O choro é constante em todas as fases da modalidade tipo estudo de caso.
adaptação, pois através do choro as crianças A técnica empregada para recolha de
muitas vezes conseguem manipular o dados foram entrevistas semi-estruturadas,
responsável que está fazendo sua adaptação, dirigidas aos educadores, professores e as
também há casos em que forçam vômitos, famílias para que explicitem suas expectativas
recusam-se a alimentar-se, percebem que assim sobre o processo de adaptação das crianças,
vão ter por perto aquela pessoa da qual não tendo como meta delinear possíveis caminhos na
querem se separar. construção de parcerias, se for o caso, num
O processo de adaptação na história da momento tão crucial, tanto para as famílias
Educação Infantil, na maioria das vezes, é quanto para as educadoras e, sobretudo, para as
entendido pelos profissionais como sendo um meninas e meninos pequenos ao adentrarem o
período de tempo e espaço determinados pela espaço da creche pela primeira vez.
instituição tendo como principal objetivo Neste trabalho especificamente
estimular as crianças a pararem de chorar. Ao buscamos identificar e discutir quais são práticas
acreditar que o sucesso da adaptação das de adaptação das crianças realizadas pela
crianças se traduz apenas na ausência de choro é instituição de Educação Infantil, para isso nos
desconsiderar toda uma situação emocional focaremos na análise parcial das repostas
complexa que não se expressa apenas por ele e oferecidas pelas 8 educadoras pertencentes a
impedir muitas crianças e famílias de se instituição participante.
adaptarem. As educadoras são responsáveis pelos
Considerando a complexidade do níveis de berçário I, que atende crianças de
processo de adaptação o objetivo deste estudo aproximadamente 3-4 a 10 meses e berçário II,
foi identificar quais são as práticas docentes que atende crianças de 10 meses a 2 anos. No
defendidas pelos profissionais para promover à berçário I cada educador cuida de seis bebês, no
adaptação infantil a creche, incentivando-nos, a berçário II esse número sobre para oito bebês. As
partir dessas estratégias pensarmos se crianças do maternal I e II do período parcial têm

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
10

como responsáveis apenas professoras e no eles fazerem a apresentação


período integral há alternância da professora deles, contarem a sua
com a educadora, as turmas do maternal são história, quem é o pai, quem
compostas por 16 crianças, de 2 a 3 anos. é a mãe, a família, então é
Em respeito às normas éticas da mais atividades da conversa
pesquisa nomeamos as educadoras utilizando mesmo, ai conforme eles vão
uma seqüência numérica, por exemplo: se adaptando a gente vai
educadora 1, educadora2... fazendo as atividades.
(EDUCADORA 2).
RESULTADOS
De acordo com Amorim; Vitória; Rossetti- Na mesma linha de pensamento da
Ferreira, (2000) é no cenário creche que ocorre o educadora 2, a educadora 6, descreve sua prática
desenvolvimento do campo {Educadora-Criança}, como tendo como prioridade levar a criança a
e o ambiente onde acontecem as atividades confiar nela, por meio da afetividade “Ó a gente
juntos com as crianças. No caso de bebês esse primeiro tenta fazer a criança se acostumar com
ambiente é o berçário, com berços, ou colchões, a gente e confiar na gente, é dando carinho,
que possibilitam maior autonomia e amor, brincar com ela, fazer elas se adaptarem
desenvolvimento neuromotor, onde os bebês com a gente”. (EDUCADORA 6).
ficam grande parte do seu dia. É no ambiente A educadora 3 afirma ser necessário
creche que se dá a construção do vínculo entre para adaptar as crianças um ambiente agradável
criança e educadora, que por sua vez depende do e o acolhimento das crianças por parte das
relacionamento com as famílias, a direção da educadoras para promover nas crianças a
instituição e os objetivos educacionais. É desse sensação de segurança.
momento de construção do vínculo entre criança Esse ambiente tem que ser
e educadora ou professora que discutimos nesse bem agradável, ele não
artigo. conhece o professor, essa
Ao ser indagada sobre que práticas, nova pessoa que pra ele é
procedimentos, que utiliza para promover a novidade, então a gente
adaptação das crianças a educadora 2 respondeu precisa acolher bem a
defendendo a ludicidade como meio de interação criança pra ela se sentir
com as crianças, porém destaca a afetividade, segura [...]. A gente sempre
paciência, carinho como imprescindível para costuma assim trabalhar
auxiliar na adaptação infantil, já que a criança com eles com brinquedos,
teme que a mãe não venha buscá-la, a tenha com coisas diferentes,
abandonado, não havendo atividades específicas fantoches, livros, bexigas,
para isso: essas coisas assim, uns
Eu acho que a afetividade é brinquedos diferentes, levar
tudo, tem que ter muita em outros ambientes da
paciência com a criança escola, colocar um desenho,
nesse momento, de explicar um filme. (EDUCADORA 3).
para a criança que a mãe
vai, mas a mãe volta, porque Reda; Ujiie, (2009, p.10085) concordam
a criança ás vezes tem a com a educadora 3 ao defender a apresentação
sensação que a mãe não para as crianças de um ambiente prazeroso,
volta buscar, elas têm a seguro que lhes possibilite ganhar a confiança da
sensação que a mãe deixou criança:
elas aqui, tem que ter A função da instituição de
bastante conversa, paciência Educação Infantil e dos
e carinho. (EDUCADORA 2). profissionais é de receber a
Na adaptação a gente não criança e acolher sua
dá muitas atividades singularidade, enfim,
específicas, tem que estar apresentar-se como um
conversando, pegando no ambiente seguro e
colo, a gente faz rodinha pra estimulante. O professor

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
11

deve ser o mediador cuidadoso e atento para


principal no contexto da perceber o que aproxima as
adaptação escolar, não crianças. Esse tipo de ação
deixando a sala de aula cair contribui para a
na rotina ao mesmo tempo consolidação de vínculos
em que ganha à confiança afetivos e de vivência.
das crianças e familiares. A Nesses casos, o que está em
adaptação é um processo jogo é o exercício da
continuo de mudança, convivência, são as
crescimento, pequenas ações que fazem
desenvolvimento e prevalecer à comunhão de
amadurecimento para todos. uns com os outros, a
socialização, enfim a
A educadora 4 compactua com a efetivação do processo de
educadora 3 no sentido de que as práticas por adaptação de sucesso.
elas adotadas no período de adaptação têm (REDA; UJIIE, 2009, p.10087)
como objetivo primordial passar segurança para a
criança e afirma que conquista as crianças com A educadora 8 e 11 defendem a
doces, mimos e atividades prazerosas, em suas necessidade de pegar os bebês no colo quando
palavras: estão em adaptação a creche: “[...] e dar muito
A gente chega com bala, a carinho porque no começo eles não aceitam
gente já conquista a criança muita coisa, tem que dar muito colo, muito
com algum doce molinho carinho, muito colo, é isso”. (EDUCADORA 11).
porque é berçário 1 então é Ai a gente sempre assim
só no colo, ai você vem com pega no colo, acalenta o que
bexigas, vem com algo está mais desesperado, põe
pronto, mas o mais o chão e pega o outro, são
importante mesmo é ele muitas crianças pra gente.
sentir segurança, se você As crianças se apegam mais
passar segurança, mesmo a uma pessoa, eles criam
sem bala, sem bexiga, se ela referências. No começo eles
gostar de você, se você aceitam qualquer pessoa que
conquistar ela assim, já é tira eles dessa agonia, do
80% da cura da adaptação, choro pegando eles no colo,
assim do choro, mas são levando pra fora.
esses procedimentos, trazer (EDUCADORA 8).
confiança, afetividade, as
bexigas, as balas, as O que é corroborado pelas educadoras 9
musiquinhas que a gente e 10que destacam a importância de dar colo,
canta direito com eles, ficar carinho, atenção, principalmente, para as
no chão com eles, pra dar crianças que estão apresentando maiores
aquele envolvimento, aquela dificuldades de adaptação.
amizade, uma coisa mais Bom por mim, o que eu estou
próxima. (EDUCADORA 4). fazendo aquela criança que
está com mais dificuldade eu
Para Redá e Ujiie, (2009) conseguir se tenho deixar mais no colo,
aproximar das crianças não é fácil é preciso tento deixar as crianças mais
possuir um olhar perspicaz para descobrir que fáceis no chão, e a criança
ações permitem isso, como faz a educadora 4 ao que tá com mais dificuldade
trazer e proporcionar para as crianças o que elas procuro dar mais carinho,
gostam. mais atenção pra ela.Tudo
Criar um clima propício para que eu for fazer com as
a aproximação não é tão outras, dar alimentação, dar
simples. É preciso um olhar banho, trocar, eu costumo

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
12

fazer um pouco mais pra ela desenvolvimento, criança


que está com dificuldades. interage com o novo
(EDUCADORA 9). contexto mais facilmente, e
ela reconhece nesse
Num primeiro momento a ambiente um espaço onde é
afetividade, tá sempre aceita, com suas limitações e
acalentando os que a gente anseios, por pessoas atentas
pode porque são vários né, a cada descoberta que
não tem como colocar todos realizar. (BRASIL, 2011, p.17)
nos braços, nós vamos
fazendo esse processo de DISCUSSÃO
acordo com os necessitados, É evidente que as profissionais
que estão chorando mais, consideram importante no momento de
dessa forma ai... adaptação das crianças acolherem as mesmas,
(EDUCADORA 10). oferecer carinho e atenção, na tentativa de
conquistarem a simpatia da criança, passarem-
O dar colo e atenção às crianças no lhes, confiança e segurança. Nós compactuamos
momento difícil para elas que é a adaptação, com a dimensão afetiva na prática das
quando estão chorando está de acordo com as educadoras, o se importar com a criança é
orientações do Referencial Curricular Nacional louvável, pois, segundo Diesel (2003) é a relação
para a Educação Infantil: afetiva com o outro que possibilita a necessária
O choro da criança, durante segurança para explorar o novo ambiente,
o processo de inserção, todavia, as colocações carecem de um significado
parece ser o fator que mais específico, de um trabalho sistematizado,
provoca ansiedade tanto nos coletivo, para a prática educativa. Neste sentido
pais quanto nos professores. Oliveira (1995, p.127) orienta “acolher
Mas parece haver, também, adequadamente a criança exige que se tenha um
uma crença de que o choro é trabalho coletivo, em que todos se empenhem
inevitável e que a criança em organizar o espaço e a estrutura da escola,
acabará se acostumando, visando atender as necessidades infantis”.
vencida pelo esgotamento Acreditamos que as educadoras e
físico ou emocional, parando professoras participam do processo de adaptação
de chorar. infantil, envolvem-se com ele, são afetadas pelas
[...] Deve ser dada uma emoções infantis que exemplifico com a
atenção especial às crianças, descrição da EDUCADORA 1“ voltar a ser criança”.
nesses momentos de choro, O que está de acordo com as concepções de
pegando no colo ou Reda; Ujiie (2009, p.10087) “Participar do
sugerindo-lhes atividades processo de adaptação é estar implicado nele, é
interessantes (BRASIL. contagiar-se com a emoção que a interação com
Ministério da Educação e do a criança proporciona”, todavia, as profissionais
Desporto, 1998, p. 79). tiveram dificuldades ao definirem a sua prática
em considerarem como se estabelece a dinâmica
As educadoras demonstram estarem entre a turma, em esclarecerem como organizam
atentas as necessidades e preferências das a rotina das crianças, as atividades que
crianças no seu cotidiano, o que fica evidenciado desenvolvem, incluindo como se dá as
por meio de suas falas acima O que está de continuidades das atividades lúdicas por elas
acordo com o documento orientador da Unesco citadas e o relacionamento com as famílias,
que afirma que o saber ouvir criança por parte da acreditamos que todos esses elementos devem
profissional que a atende é um aspecto ser considerados para se garantir o sucesso da
importantíssimo ao acolhimento das crianças de adaptação.
qualquer idade:
Ao perceber que é acolhida e CONCLUSÃO
valorizada em vários Chama a atenção nas informações
aspectos do seu fornecidas pelas educadoras que, embora, as

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260
13

práticas de adaptação sejam em sua maioria RAPOPORT, Andrea. Adaptação de bebês à


exitôsas não existe uma proposta pedagógica, creche: a importância da atenção de pais e
coletiva ou individual, visando à adaptação das educadores. Porto Alegre: Mediação, 2005.
crianças, a não ser o prazo de uma semana, para REDA, M. G.; UJIIE, N. T. A educação infantil e o
que a permanência da criança a creche vá sendo processo de adaptação: as concepções de
aumentada gradualmente, estipulado pela educadoras da infância. Disponível em:
Secretaria Municipal de Educação, como http://.www.pucpr.br/eventos/educere/educere
exemplifica a fala “não havendo atividades 2009/anais/pdf/2496_1090.pdf. Acesso em: jan.
específicas para isso” (EDUCADORA 1). 2015
Acreditamos que a afetividade é uma estratégia RICHARDSON, Roberto J. et al. Pesquisa social:
eficiente para se adaptar as crianças, todavia, métodos e técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
para adaptar a criança de forma significativa é RIZZO, Gilda. Creche: organização, currículo,
preciso uma prática fundamentada teoricamente, montagem e funcionamento. 3. ed. Rio de
cientificamente, que possibilite estabelecer um Janeiro: Bertrand Brasil, 2000.
planejamento, que inclua atividades de ROSSETTI-FERREIRA, Clotilde; VITÓRIA, Telma.
acolhimento à criança e a sua família, a Processo de Adaptação na creche. Cadernos de
organização dos espaços, a capacidade de se Pesquisa. São Paulo, n. 86, p.55-64, ago. 1993.
relacionar com as famílias, ganhar a confiança ROSSETTI-FERREIRA, Clotilde; VITÓRIA, Telma. Os
das mesmas e estabelecer uma parceria com elas fazeres na educação infantil. 2.ed. São Paulo:
no processo de adaptação, são fatores que Cortez, 2000.
afetam positivamente a criança. Fazem-se SANTOS, E. P. Adaptação da criança na educação
prementes investimentos na formação infantil. Revista e-ped., Rio de janeiro, v. 2, n. 10,
continuada dos docentes para que amplie ago. 2012.
qualitativamente as práticas de adaptação das
crianças a creche.

REFERÊNCIAS
AMORIM, K. DE S; VITÓRIA, T; ROSSETTI- Recebido para publicação em 19/08/2016
FERREIRA, M, C. Rede de significações: Revisado em 26/08/2016
perspectiva para análise da inserção de bebês na Aceito em 30/08/2016
creche. Cadernos de Pesquisa, n. 109, p. 115-
144, mar./2000.
BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da
separação à independência. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1988.
BRASIL. Série mesa educadora para a primeira
infância. Brasília: MEC/UNESCO, 2011. v.3, p.
194.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto.
Secretaria de Educação Fundamental. Referencial
curricular nacional para a educação infantil.
Brasília: MEC/SEF, 1998. v.1
DIESEL, M. Adaptação escolar: sentimentos e
percepções do educador diante da questão.
Revista do Professor, Porto Alegre, n.19, p. 10-
13, abr/jun. 2003.
OLIVEIRA, Zilma M. Ramos de. A criança e seu
desenvolvimento perspectivos para se discutir a
educação infantil. São Paulo: Cortez, 1995.
PERISSÉ, P.M. Os desafios da adaptação. Pátio
Educação Infantil, Porto Alegre, n.13, p.41-43,
mar/jun. 2007.

Colloquium Humanarum, Presidente Prudente, v. 13, n. 3, p.07-13 jul/set 2016. DOI: 10.5747/ch.2016.v13.n3.h260

Você também pode gostar