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SOCIEDADE EDUCACIONAL TRÊS DE MAIO – SETREM

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

FERNANDA LUIZA GRÄF SCHAKOFSKI

A EUTANÁSIA À LUZ DO DIREITO À MORTE DIGNA

Três de Maio/RS
2023
FERNANDA LUIZA GRÄF SCHAKOFSKI

A EUTANÁSIA À LUZ DO DIREITO À MORTE DIGNA

Projeto de Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado como requisito para a aprovação
no componente curricular de Orientação de
Trabalho de Conclusão de Curso I.

Professora Orientadora: Ma. Danielli Regina Scarantti

Três de Maio/RS
2023
SUMÁRIO

1 ELEMENTOS TEXTUAIS ........................................................................... 3


1.1 TEMA DO PROJETO .................................................................................. 3
1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA .......................................................................... 3
1.3 PROBLEMA DE PESQUISA ....................................................................... 3
1.4 HIPÓTESES ............................................................................................... 3
1.5 OBJETIVOS ................................................................................................ 4
1.5.1 Objetivo geral ............................................................................................ 4
1.5.2 Objetivos específicos ............................................................................... 4
1.6 JUSTIFICATIVA .......................................................................................... 5
1.7 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................... 7
1.8 METODOLOGIA ....................................................................................... 19
1.9 CRONOGRAMA ....................................................................................... 19
2 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS ................................................................ 20
2.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 20
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1 ELEMENTOS TEXTUAIS

1.1 TEMA DO PROJETO

Eutanásia – a (im)possibilidade de legalização da prática em face do princípio


da dignidade da pessoa humana e o direito de escolha do paciente como garantia à
morte digna.

1.2 DELIMITAÇÃO DO TEMA

A (im)possibilidade do reconhecimento da prática da eutanásia no Brasil, com


base nos aspectos constitucionais do princípio da autonomia da vontade e dignidade
da pessoa humana, servindo como pressuposto para a efetivação do direito de
escolha do paciente ao direito à morte digna, tal como o acesso e a liberação da
eutanásia no exterior pelos países que reconhecem e legalizaram a prática, os
aspectos utilizados no âmbito internacional que poderiam ser adequados e
introduzidos no Brasil.

1.3 PROBLEMA DE PESQUISA

Quando o Estado já não consegue mais garantir uma vida digna e saudável a
uma pessoa acometida por uma doença terminal ou incurável, sem perspectiva de
melhora, é (in)constitucional a repressão ao direito de escolha do paciente a não mais
querer viver sob as condições de dor e sofrimento?

1.4 HIPÓTESES

Como provedor dos direitos sociais consagrados na Constituição Federal, o


Estado tem a responsabilidade de proporcionar à população o acesso à saúde e
garantir um nível mínimo de sobrevivência para seus cidadãos. No entanto, sabe-se
que o Estado falha em garantir esse mínimo em alguns casos, deixando os pacientes
com doenças incuráveis ou terminais sem opção submetidos a sua repressão, pois
não têm escolha a não ser esperar por um fim triste e doloroso.
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O ordenamento jurídico brasileiro, embora não tenha uma lei específica


discorrendo sobre este assunto, trata a eutanásia como crime de homicídio. No
entanto, existe uma atenuante que é verificada no caso de o ato ter sido solicitado
pela vítima, tendo em vista o seu sofrimento inevitável e prolongado, sendo possível
a consideração da redução da pena por relevante valor moral ou social.
A descriminalização da eutanásia no cenário internacional leva em
consideração a vontade do paciente que está a sofrer por uma doença incurável e
sem perspectiva de melhora, observando, porém, critérios rigorosos para que o
procedimento possa ser executado, critérios que poderiam servir como base para uma
legislação acerca do tema no ordenamento jurídico brasileiro.

1.5 OBJETIVOS

1.5.1 Objetivo geral

Inicialmente pretende-se analisar o princípio da dignidade da pessoa


humana e sua evolução, pesquisar sobre a possibilidade de flexibilização da eutanásia
no ordenamento jurídico brasileiro, visando a garantia e efetividade da autonomia da
vontade do paciente e o direito a uma morte digna quando acometido por alguma
enfermidade incurável, com o intuito de verificar de que forma a negativa do direito de
escolha impacta na vida de pessoas que já não possuem outra perspectiva devido ao
diagnóstico terminal.

1.5.2 Objetivos específicos

• Analisar o princípio da dignidade da pessoa humana e sua relação com


a prática da eutanásia, pesquisando a evolução do referido direito constitucional ao
longo dos anos, estudar a aplicação do princípio da autonomia da vontade como
pressuposto para a efetivação do direito de escolha do paciente, demonstrando que a
autonomia humana é o direito de decidir sobre os percursos da própria vida;
• Pesquisar sobre a regulação da eutanásia no cenário nacional, fazendo
também uma análise da eutanásia à luz do código de ética médica, bem como realizar
um estudo a respeito do tema em âmbito internacional, sobre sua aplicabilidade e os
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critérios utilizados nos países que a descriminalizaram, e de que forma isso poderia
influenciar para que a prática possa ser introduzida no Brasil.

1.6 JUSTIFICATIVA

As ações relacionadas à saúde possuem grande relevância no ordenamento


jurídico, pois possuem uma relação direta com a vida das pessoas, um bem tutelado
jurídica e constitucionalmente pelo Estado. Porém, em alguns casos não há como de
fato efetivar essa garantia, como em pessoas que estão acometidas por uma doença
grave ou incurável, circunstâncias em que é somente possível prolongar a vida do
paciente com medicamentos a fim de reduzir a dor e tentar ampará-lo até que a sua
morte chegue.
O projeto ora apresentado busca trazer a importância sobre discutir a morte
com dignidade, e possui significativa relevância em razão de buscar transparecer a
importância de levar em consideração a vontade e autonomia do paciente, uma vez
que somente a pessoa que passa e sente toda a dor e sofrimento, tanto físico quanto
psicológico, sabe de fato como é estar vivendo sob estas condições. A intenção é
demonstrar a importância de ter uma lei equilibrada, que dê mais dignidade ao fim da
vida das pessoas, não tornando duradouro o sofrimento de forma desnecessária, já
que em esfera medicinal não há forma de reversão e perspectiva de melhora.
A prioridade deve ser a preocupação com o bem-estar do ser humano,
respeitar a sua vontade e sua autonomia sobre o que acha que seria melhor para si
mesmo, e não mais a luta contra algo que certamente não há mais como vencer, no
caso, a doença e o fim da vida. A decisão final sobre manter ou não um tratamento,
quando o paciente já não reúne mais condições para reversão do seu quadro clínico,
deve sempre prevalecer nas mãos do indivíduo e, somente quando não for mais capaz
e possível de expressar a sua vontade, caberá então à família tomar essa importante
decisão. Uma das alternativas que tem sido muito procuradas em casos de pacientes
terminais e com doenças graves ou incuráveis é a eutanásia.
Em sentido literal, a eutanásia significa “boa morte” ou ainda morte piedosa,
que consiste na abreviação da morte de pacientes que estejam com doenças em
estágio terminal e incurável, promovendo a diminuição do seu sofrimento. Esta prática
é proibida na maioria dos países em razão de diversas crenças e ideologias, e é um
assunto com numerosas e variadas discussões éticas e morais. Essa prática fora
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utilizada por várias civilizações antigas, porém, a nossa legislação atual não confere
esse direito.
O Estado, como garantidor dos direitos fundamentais e sociais previstos na
Constituição Federal, tem o dever de fornecer à população o amparo necessário e
saúde de qualidade, e a medicina não mede esforços para garantir isso. Dito isso,
tem-se como necessária a compreensão da utilização do princípio da dignidade da
pessoa humana, que é um princípio elencado pela carta magna no seu artigo 1º inciso
III, sendo fundamento basilar da República, e o Princípio da autonomia da vontade do
paciente, que é um dos pilares da Bioética.
Por se tratar de um assunto um tanto quanto polêmico, digamos assim, ainda
são poucos os lugares e países do mundo que permitem a prática e que
regulamentaram a eutanásia em seus ordenamentos jurídicos, sendo que a maior
parte destes países situam-se no continente europeu. Atualmente, a morte assistida
é permitida na Holanda, Bélgica, Luxemburgo e Suíça, Canadá e Estados Unidos, nos
estados de Oregon, Washington, Montana, Vermont e Califórnia; e na Colômbia. No
Brasil, em 1996, foi proposto um projeto de lei nº 125/96 no Senado Federal instituindo
a possibilidade de realização de procedimentos de eutanásia no Brasil, porém o
projeto nem chegou a ser colocado em votação.
Nos últimos anos a eutanásia tem sido tema de intensos debates,
principalmente nos países ocidentais. A Revista The Economist (2015, p. 16), de
acordo com a pesquisa realizada com 15 países, apenas dois destes - Polônia e
Rússia – se mostraram em desacordo a eutanásia. Ainda em 2015, outros países
como o Canadá, um dos mais recentes dentre os citados anteriormente, passou a
aderir a prática da eutanásia. Assim, esta prática vem sendo debatida e aceita pela
sociedade de diversos países.
De outro norte, no Brasil, 57% dos entrevistados pelo instituto DataFolha em
uma matéria publicada no Jornal Folha de São Paulo em 08 de abril de 2007, reprova
a eutanásia, 36% responderam que são a favor da prática, que é considerada crime
no país. Somente 2% dos pesquisados são indiferentes ao tema, enquanto 5% não
souberam responder. Estudos demonstram que a divergência pode estar relacionada
com a forte religiosidade no Brasil.
Sabe-se que, falar em vida, morte e sofrimento humano é sempre um assunto
difícil e complexo, por isso é muito importante trazer essa discussão acerca do tema
para a sociedade, para que todos possam ter conhecimento e também voltar um olhar
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sem julgamentos para quem gostaria de fazer essa escolha. Como já mencionado, a
eutanásia é uma “morte piedosa”, o paciente só irá pedi-la quando sentir que a vida
está impossível de ser tolerada, numa condição insuportável de sofrimento físico e
psíquico, e quando se fala em morrer, nesse caso é estar falando que aquilo ali é o
limite, não sendo possível de aguentar mais. Portanto, o Estado não deve vir a limitar
que o paciente viva em agonia, ao paciente deve ser dado o poder de tomar as
decisões sobre o seu tratamento, assim como decidir a hora de parar e poder dizer
que não quer mais continuar a viver, de forma que para ele tal situação já chegou ao
extremo, não querendo mais submeter-se ao sofrimento até o fim de sua vida.

1.7 REFERENCIAL TEÓRICO

O presente referencial teórico aborda a dignidade da pessoa humana,


relacionando-a com o direito à vida e os princípios constitucionais, versando também
sobre o princípio da autonomia da vontade. Para isso, em sede de considerações
iniciais, será estudada a origem do princípio da dignidade da pessoa humana, as
classificações de direitos fundamentais dispostas na Constituição Federal, perfazendo
uma relação com a efetivação do direito de escolha do paciente ao direito à uma morte
digna.
Nota-se que a eutanásia é uma prática proibida no Brasil, sendo assim,
pretende-se demostrar como o tema está disposto no ordenamento jurídico brasileiro,
e em que pese, demostrar a importância de se ter um dispositivo tratando sobre o
assunto, bem como a possibilidade de sua legalização, como uma forma de tornar a
sociedade mais humanizada no aspecto do final da vida. O direito à vida e a dignidade
humana são um só, devendo andar sempre lado a lado, pois uma vida digna é ter uma
qualidade de vida.
Inicialmente, Ingo Wolfgang Sarlet (2001) refere que o princípio da dignidade
humana enfrenta alguns desafios em termos de conceituação, pois existem várias
definições e considerações que implicam diferentes entendimentos sobre o assunto.
A escola de pensamento estoica , por exemplo, idealizou a dignidade como uma
qualidade inerente à humanidade o que diferencia o homem dos demais seres. Essa
noção transmitia a ideia de que os indivíduos tinham liberdade para fazer escolhas
e eram responsáveis por suas ações e seu próprio destino, ao mesmo tempo
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projetava a ideia de que todos eram iguais em sua natureza e, portanto, todos
mereciam ser tratados de maneira igualitária, com a mesma dignidade.
O termo inicial baseou-se em ideias teológicas e filosóficas antes de ser um
direito constitucional, tendo passado por diversos momentos históricos até chegar à
concepção atual. A dignidade, na antiguidade, era vista como um atributo, dignidade
humana era considerada uma espécie de honraria relacionada à posição social que o
indivíduo ocupava. Com isso, era permitida a quantificação da dignidade entre os
sujeitos, com uma convicção assim fazia com que dignidade não fosse igual para
todos, portanto tornava a justiça desigual também. (WEYNE, 2013).
A concepção de dignidade humana, da forma como conhecemos hoje,
consolidou-se entre os anos de 1939 a 1945. Esta foi uma reação internacional às
atrocidades cometidas na Segunda Guerra Mundial, assim, o ideal de igualdade entre
as pessoas começou a tomar força e passou a se consolidar, arrebatando quaisquer
diferenciações feitas em razão de cor, raça, etnia, religião ou sexo. Foi a partir daí que
os documentos nacionais e internacionais passaram a explanar a ideia de dignidade
da pessoa humana. (WEYNE, 2013).
Em âmbito internacional, o documento mais influente conhecido em relação
ao assunto, indubitavelmente, é a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 10
de dezembro de 1948. (CANOTILHO et al., 2018). A Declaração dos Direitos
Humanos estabelece pela primeira vez a proteção dos direitos humanos em esfera
internacional, pós segunda guerra mundial, como forma de resposta às barbáries
cometidas durante a guerra e o nazismo, promovendo o respeito universal, e em seus
trinta artigos estabelece a igualdade, a dignidade humana, independentemente da
raça, cor, religião, sexo, etnia, posição social, ou qualquer outra condição. Sendo
assim, este documento visa a proteção universal dos indivíduos contra atos que
venham a violar ou atentar contra a dignidade humana. (PIOVESAN, 2018).
Em âmbito nacional, a dignidade da pessoa humana é trazida pela primeira
vez na Constituição Federal de 1988 como um direito fundamental. (WEYNE, 2013).
Com o decorrer do tempo, o conceito de dignidade evoluiu, sendo hoje considerado
um valor proeminente. Assim, Sarlet (2006, p. 46) traz seu conceito a respeito do
princípio da dignidade humana:

Qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o faz


merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e
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da comunidade, implicando, neste sentido, um complexo de direitos e


deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra todo e
qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe
garantir as condições existentes mínimas para uma vida saudável,
além de propiciar e promover sua participação ativa e corresponsável
nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os
demais seres humanos.

A dignidade da pessoa humana não está incluída entre os direitos


fundamentais elencados no rol do artigo 5º da Constituição Federal. Quanto a este
princípio, a opção constitucional brasileira optou por reconhecê-la como um dos
pilares essenciais da República Federativa do Brasil, estando disposto no inciso III
do art. 1º, tomando as pessoas como fundamento e finalidade da sociedade como
objetivo principal, campo no qual o estado atua como ferramenta para servir o homem
e não ao contrário. O Estado é um meio, cujo fim deve ser a preservação da dignidade
da pessoa humana, podendo-se concluir que o estado existe em função de todas as
pessoas, para funcionar em favor da sociedade, devendo preservar e zelar por todos,
e tudo o que o estado fizer deve ser em prol dessa sociedade. (TAVARES, 2023).
Immanuel Kant, Segundo Fábio Konder Comparato (2019), foi pioneiro da
idealização de autonomia da vontade, como também o princípio da dignidade da
pessoa humana, passando a tratar o indivíduo como um fim em si mesmo e não como
um mero meio de objetificação, sendo também o primeiro a reconhecer o homem
como um ser atribuindo-lhe valor, e não preço.

No reino dos fins tudo tem ou um preço ou uma dignidade. Quando


uma coisa tem um preço, pode-se pôr em vez dela qualquer outra
como equivalente; mas quando uma coisa está acima de todo o preço,
e portanto não permite equivalente, então ela tem dignidade. (KANT,
2019, p. 82).

A dignidade da pessoa ganha a cada momento um novo contexto e necessita


de novas proteções, e a Constituição Federal visa dar essa proteção com as garantias
fundamentais nela estabelecidas. Da dignidade humana se desprendem todos os
direitos, na proporção em que são necessários para o pleno desenvolvimento da
personalidade humana. Diante disso, parte significativa da doutrina reconhece e
compreende que o princípio da dignidade da pessoa humana abrange também as
demais manifestações de direitos fundamentais igualmente essenciais. (TAVARES,
2023).
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Os direitos fundamentais podem ser considerados concretizações das ideias


do princípio da dignidade da pessoa humana, que de modo contíguo aos direitos
humanos, refere-se a tudo que seja essencial e necessário. Nessa conjuntura, esses
direitos seriam tudo o que é indispensável à manutenção e preservação da vida
humana, direitos essenciais para viver dignamente. (SARLET, 2001).
A Constituição Federal de 1988, dispõe no Título II sobre a classificação dos
direitos fundamentais, subdividindo-os em cinco capítulos: os direitos e deveres
individuais e coletivos; os direitos sociais; da nacionalidade; direitos políticos; direitos
relacionados à existência, organização e participação em partidos políticos. Direitos
estes, classificados pela doutrina em primeira, segunda e terceira gerações, levando
em consideração a ordem cronológica em que foram reconhecidos, sendo assim
gerações sucessivas de direito. (MORAES, 2023).
No entanto, a doutrina moderna tem preferido utilizar-se do termo
“dimensões”, visto que a ideia de “gerações” induz que uma geração viria a substituir
a outra mais antiga no lapso temporal, o que de fato não ocorre. Por consequência
disso tem prevalecido o entendimento entre os doutrinadores contemporâneos de que
o termo mais adequado seria o de se tratar de dimensões de direitos fundamentais,
tendo em vista que uma nova dimensão vem a complementar as anteriores, não
abandonando as suas conquistas passadas. (TAVARES, 2023). Nesse sentido:

A teoria levou em consideração os dizeres da bandeira francesa


“liberté, egalité, fraternité” e referem-se ao avanço das conquistas
populares em termos de direitos obtidos em face dos governantes. A
inadequação de se referir à geração e a propriedade do termo
dimensão alude à possibilidade de cumulação de direitos; não são
direitos que se excluem, na verdade somam-se aos anteriormente
consagrados. As dimensões, por poderem sobrepor-se, são
designações que mais se adéquam ao contexto e permitem uma
concepção mais abrangente. (SALEME, 2022, p. 138).

É plenamente compreensível a existência de várias dimensões, pois assim


como as demais leis e normas existentes, sucedem da natureza e das necessidades
humanas. As necessidades oriundas do homem são ilimitadas e não se esgotam,
muito pelo contrário, a cada dia surge uma nova questão que necessita de um amparo
legal e diretrizes capazes de ampará-las, o que por si só explica porque são
continuamente redefinidas e recriadas ao longo do tempo. (TAVARES, 2023).
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Os direitos de primeira dimensão foram elaborados em 1789 com a Revolução


Francesa. Tais direitos impulsionaram a passagem de um Estado autoritário para um
Estado de Direito, que passou a respeitar e reconhecer as liberdades individuais.
(LENZA, 2023). Direitos estes que estabelecem uma divisão entre a esfera pública e
privada, estão vinculados os direitos à liberdade, à vida, à inviolabilidade de domicílio,
correspondência, telefônica, à propriedade e assim por diante. (BEDIN, 1994).
Destarte, Rodrigo Padilha (2020) explica que estes direitos objetivam limitar o poder
de agir do Estado em benefício das liberdades individuais.
Os direitos fundamentais de segunda dimensão consagram os direitos sociais,
culturais e de ordem econômica. Tais direitos foram implementados com o propósito
de reprimir os abusos por parte do Estado Liberal, impondo o dever de o Estado
realizar e entregar de alguma forma efetiva uma prestação em benefício da população.
(SALEME, 2022). “Para exemplificar, podemos citar como direitos de segunda
geração o direito à proteção na idade avançada, o direito ao lazer, à saúde, à
assistência social, ao trabalho, à habitação, ao desporto etc”. (MOTTA, 2021, p. 214).
O grande marco dos direitos de segunda dimensão foi pela Revolução
Industrial Europeia no século XIX, em razão das péssimas condições de trabalho às
quais os trabalhadores eram submetidos. (PADILHA,2020). “Está mais do que nunca
presente o surto do processo de industrialização e os graves impasses
socioeconômicos que varreram a sociedade ocidental entre a segunda metade do
século XIX e as primeiras décadas do século XX”. (WOLKMER, 2013, p. 8). Com isso,
vários movimentos surgiram para reivindicar melhores condições trabalhistas, justiça
social e uma existência mais digna para os indivíduos na sociedade. (PADILHA, 2020).
Os direitos e garantias de terceira dimensão são marcados por diversas
alterações ocorridas internacionalmente. O desenvolvimento da tecnologia e a
prevalência da desigualdade econômica e social nas diversas sociedades levaram a
mudanças internacionais no domínio dos direitos e proteções tridimensionais. Esses
direitos não se limitam a indivíduos específicos, mas visam beneficiar a sociedade
como um todo, tornando-se direitos de titularidade coletiva ou difusa. (MOTTA,
2021).
Se caracterizam, portanto, os direitos da terceira dimensão como “[...] direitos
transindividuais, isto é, direitos que vão além dos interesses do indivíduo; pois são
concernentes à proteção do gênero humano, com altíssimo teor de humanismo e
universalidade” (LENZA, 2023, p. 558). São estes, chamados de direito de
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solidariedade ou fraternidade, que englobam o direito a um meio ambiente equilibrado,


uma qualidade de vida digna e saudável, ao progresso, à paz, à autodeterminação
dos povos e a outros direitos difusos. (MORAES, 2023).
Ainda sobre a terceira dimensão, elucida Wolkmer (2013), que as
transformações ocorridas nas últimas décadas e as novas necessidades que vêm
surgindo e moldando o ordenamento jurídico, têm trazido outros direitos que podem
ser inseridos na terceira dimensão, como os direitos de gênero (proteção da mulher),
direitos das crianças e idosos, dos deficientes físicos e mentais, os direitos das
minorias (étnicas, religiosas e sexuais) e os direitos de personalidade (intimidade,
honra, imagem).
Atualmente, o tópico de dimensões além das três tradicionalmente conhecidas
têm sido explorado e estudado, incluindo a possibilidade de uma quarta, quinta e sexta
dimensões de direitos. Essas dimensões podem servir para confirmar antigos direitos
adaptando-os a novas circunstâncias e necessidades. Apesar disso, não há um
acordo unificado ou generalizado da doutrina em relação a essas novas dimensões,
pois até então são meramente didáticas. Para tanto, pode-se explicá-las da seguinte
maneira:

A quarta dimensão de direitos fundamentais surge na doutrina de


Norberto Bobbio, como o direito à engenharia genética (patrimônio
genético de cada indivíduo), do qual se extraem direitos como
congelamento de embrião, pesquisas com células-tronco,
inseminação artificial, barriga de aluguel etc. A quinta dimensão de
direitos fundamentais aponta para uma nova preocupação no direito,
que são as questões inerentes ao universo virtual. Assim, a quinta
dimensão é apontada como o direito cibernético, o que engloba tutela
de software, direito autoral pela internet, proteção dos crimes virtuais
e assim por diante. A sexta dimensão de direitos fundamentais já está
sendo construída e, para alguns, seria o direito de buscar a felicidade.
(PADILHA, 2020, p. 244).

A Constituição Federal, no seu artigo 5º, garante que “todos são iguais perante
a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”. (BRASIL, 1988, p. 1). O direito à vida é o
mais fundamental e precioso de todos os direitos, visto que a partir dele é possível
que se tenham os demais direitos.
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A vida, como dito anteriormente, e segundo Moraes (2023), é um direito social


assegurado pela Constituição Federal, estando abrangido no rol de direitos
fundamentais de primeira dimensão. Devido à natureza jurídica dos direitos e
garantias fundamentais, eles ocupam uma posição elevada no ordenamento jurídico
em relação aos demais direitos, apresentando diversas características, dentre elas a
irrenunciabilidade. Posto isto, os direitos fundamentais não podem ser objeto de
renúncia. Daí surgem discussões deveras importantes na doutrina, tais como a
renúncia ao direito à vida, o suicídio, o aborto e a eutanásia, sendo este último o objeto
de estudo e tema central desta pesquisa.
O início da vida é um dos temas mais controversos entre as comunidades
científica, filosófica e religiosa, existentes, assim, diversas teorias acerca dele. Para
isso Padilha (2020) traz a explicação das principais teorias sobre o início da vida
humana: teoria concepcionista – a fecundação do óvulo pelo espermatozoide; teoria
da nidação - ocorre entre 4 e 15 dias após a fecundação; teoria do sistema nervoso
central - no décimo quarto dia depois da concepção; teoria da pessoa humana tout
court - ocorre entre a 24ª e a 26ª semana de gestação, quando já há a capacidade de
existir fora do útero materno; teoria natalista – a pessoa somente existe a partir do seu
nascimento com vida.
O valor da vida humana é projetado no ordenamento jurídico como uma
máxima. Essa ideia abrange uma infinidade de crenças e diferentes pontos de vista,
resultando em uma gama diversificada de teorias e conceitos a seu respeito. As
diferentes percepções das pessoas sobre o assunto afetarão a sua compreensão,
muitas vezes em situações delicadas. Para aqueles que professam certas convicções
religiosas, valor da vida humana está entrelaçado com a imagem de Deus, enquanto
outros a consideram uma construção social que visa preservar a continuidade da
espécie. (BARCELLOS, 2023).
Como visto, inúmeras são as teorias que buscam explicar o momento quando
se inicia a vida, não obstante, nenhuma delas traz uma definição do direito à vida de
forma específica. Nas palavras de José Afonso Da Silva (2003, p. 196), vida deve ser
entendida como:

[...] vida, no texto constitucional (art. 5º, caput), não será considerada
no seu sentido biológico de incessante autoatividade funcional,
peculiar à matéria orgânica, mas a sua acepção biográfica mais
compreensiva. Sua riqueza significativa é de difícil apreensão porque
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é algo dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder sua


própria identidade. É mais um processo (processo vital), que se
instaura com a concepção (ou germinação vegetal), transforma-se,
progride, mantendo sua identidade, até que muda de qualidade,
deixando, então, de ser vida para ser morte. Tudo que interfere em
prejuízo deste fluir espontâneo e incessante contraria a vida.

O direito à vida está intrinsecamente ligado ao direito à saúde, previsto no


artigo 196 da Constituição Federal. “Portanto, deve existir uma estrutura adequada
capaz de garantir o nascimento, bem como promover uma vida saudável, além dos
meios para se ter um nível de vida digna, uma qualidade de vida” (SALEME, 2022, p.
151) e diante da ideia de vida digna e do direito de viver com dignidade, surge a
questão da adversidade do direito de dispor sobre a própria vida e de morrer com
dignidade. (SALEME, 2022).
Viver com dignidade significa poder exercer todos os direitos conferidos a
um cidadão. No entanto, no Brasil, persistem certas contradições, principalmente no
que diz respeito à eutanásia. A Constituição brasileira garante o atendimento das
necessidades humanas básicas e proíbe qualquer forma de tratamento indigno.
Portanto, argumenta-se que um paciente incurável deveria ser capaz de se proteger
e proteger sua dignidade usando meios como a eutanásia, usufruindo também de
sua própria autonomia para poder tomar decisões no que diz a seu respeito. (LENZA,
2023).
O termo “eutanásia” teve origem no século XVII, empregado pela primeira
vez em 1623, pelo filósofo inglês Francis Bacon. A discussão sobre o uso da eutanásia
vem desde a Grécia Antiga, daí a origem etimológica da palavra eutanásia: eu (boa)
+ thanatos (morte), na tradução literal significa boa morte, morte sem dor, morte
piedosa, morte digna. Em sentido amplo, a eutanásia é uma interferência na vida, é o
ato de ocasionar a morte por compaixão em um doente incurável ou em estado
terminal, propiciando uma morte serena e pacífica, com o propósito de acabar com o
sofrimento intenso do indivíduo. (DINIZ, 2017).
Quanto a sua origem, a eutanásia é um fenômeno bastante antigo, diversas
sociedades antigas faziam uso da prática, partindo da crença de que a vida é cíclica
e que um dia ela terá seu fim. Sob esta perspectiva considerou-se mais apropriado
aliviar a dor e o sofrimento e permitir que os indivíduos morram com dignidade. No
entanto, a interpretação do que constitui uma "morte digna" varia significativamente,
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resultando em amplos debates e divergências. Isso torna desafiador criar uma lei
que seja justa e ética. (DINIZ, 2017).
No Brasil, a eutanásia, embora não seja expressamente tipificada como crime,
é enquadrada como homicídio privilegiado. Sendo assim, dependendo do caso
concreto, poderá ser considerada a redução da sua pena, por relevante valor moral
ou social, previsto no artigo 121, parágrafo 1º do Código Penal. (PADILHA, 2020).

Art. 121. Matar alguém:


Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante
valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em
seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço. (BRASIL, 1940, p. 22).

Em 1996, o senador Gilvam Borges, do Amapá, propôs ao Senado Federal


o Projeto de Lei nº 125/96, que sugeria a legalização da eutanásia no Brasil. O
projeto de lei estabelece um protocolo para a realização da eutanásia, que exige a
presença de uma junta médica composta por cinco profissionais que possam atestar
a inutilidade da dor física ou psicológica do paciente. Além disso, o próprio paciente
deve fazer a solicitação do procedimento, e caso este não estiver consciente, a
decisão a respeito passaria então a seus parentes próximos, porém o projeto nem
chegou a ser colocado em votação e foi arquivado.
Atualmente, tramita no Senado Federal o Projeto de Lei nº 236/12, também
conhecido como Anteprojeto do Novo Código Penal brasileiro, que traz uma parte
específica sobre a eutanásia, e em seu artigo 122, pressupõe o homicídio piedoso. O
anteprojeto descreve a eutanásia como morte por misericórdia, ou por compaixão, a
pedido de um paciente terminal para aliviar o sofrimento físico e psicológico
insuportável devido a uma doença grave ou incurável. Trata-se a prática da eutanásia
dentro deste projeto como caso de perdão judicial, não vem descriminalizar, mas sim
despenalizar a prática.

Art. 122. Matar, por piedade ou compaixão, paciente em estado


terminal, imputável e maior, a seu pedido, para abreviar-lhe sofrimento
físico insuportável em razão de doença grave: Pena – prisão, de dois
a quatro anos.
§ 1º O juiz deixará de aplicar a pena avaliando as circunstâncias do
caso, bem como a relação de parentesco ou estreitos laços de afeição
do agente com a vítima.
Exclusão de ilicitude
16

§ 2º Não há crime quando o agente deixa de fazer uso de meios


artificiais para manter a vida do paciente em caso de doença grave
irreversível, e desde que essa circunstância esteja previamente
atestada por dois médicos e haja consentimento do paciente, ou, na
sua impossibilidade, de ascendente, descendente, cônjuge,
companheiro ou irmão.

Os autores introduzem classificações sobre o instituto: a eutanásia, a


ortotanásia e a distanásia. Conforme explicado anteriormente, em consideração à
dignidade humana, a eutanásia refere-se ao processo proporcionar uma pacífica e
“boa morte” ao paciente que sofre com uma doença incurável e que lhe causa imenso
sofrimento, a fim de eliminar sua dor e angústia. Dado o estágio irreversível da doença
em que não há possibilidade de tratamento e nem cura, o ato que leva à morte um
paciente em estado de sofrimento persistente e severo é denominado eutanásia ativa.
(LENZA, 2023).
Ortotanásia, (do grego, orthós: normal, correta e thanatos: “morte correta”)
morte também chamada de eutanásia passiva, trata-se da implementação de medidas
paliativas para tratamento do paciente com doença incurável, de modo que assim se
possa aliviar e amenizar a dor e sofrimento deste sujeito, mesmo que isso signifique
diminuir o tempo de vida. Não há intervenção médica para efetuar a “boa morte”,
apenas para estagnar o tratamento e focar na eliminação da dor. Ou seja, é um
método de humanização e aceitação da morte. Tal prática é regulamentada e utilizada
no Brasil. (PADILHA, 2020).
A ortotanásia foi implementada pela Resolução CFM nº 1.805/2006 com a
finalidade de alterar a ideia de que a manutenção da vida do paciente deve ser obtida
a qualquer custo. Segundo tal resolução:

Na fase terminal de enfermidades graves e incuráveis é permitido ao


médico limitar ou suspender procedimentos e tratamentos que
prolonguem a vida do doente, garantindo-lhe os cuidados necessários
para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de
uma assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu
representante legal.
Art. 1º É permitido ao médico limitar ou suspender procedimentos
e tratamentos que prolonguem a vida do doente em fase terminal, de
enfermidade grave e incurável, respeitada a vontade da pessoa ou de
seu representante legal.
§1º O médico tem a obrigação de esclarecer ao doente ou a seu
representante legal as modalidades terapêuticas adequadas para
cada situação.
§2º A decisão referida no caput deve ser fundamentada e registrada
no prontuário.
17

§3º É assegurado ao doente ou a seu representante legal o direito de


solicitar uma segunda opinião médica.
Art. 2º O doente continuará a receber todos os cuidados necessários
para aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, assegurada a
assistência integral, o conforto físico, psíquico, social e espiritual,
inclusive assegurando-lhe o direito da alta hospitalar.
(Conselho Federal de Medicina, Resolução n.1.805/2006).

Por fim, a distanásia, dis + thanatos, que significa “morte lenta”, ansiosa e com
muito sofrimento, também é conhecida como obstinação ou futilidade médica.
Caracteriza-se pelo uso de todos os meios terapêuticos disponíveis e invasivos em
um paciente terminal que já não possui mais chance de recuperação ou cura. Essa
abordagem é feita na esperança incerta de prolongar a vida do paciente, embora
resulte em um processo de morte lento e doloroso. (PADILHA, 2020).
Há de se descrever ainda o suicídio assistido, que muitas vezes é confundido
com a eutanásia, a diferença é que o primeiro envolve o paciente tirar a própria vida
com o auxílio de um terceiro ou médico, pois, que intencionalmente fornece as
informações, incluindo a prescrição de medicamentos e orientações sobre doses letais
de fármacos e até mesmo fornecimento dessas drogas, configurando-se pela injeção
de uma única dosagem letal. (DINIZ, 2017).
A grande maioria da sociedade encara a morte como um momento de
sofrimento insuportável e intenso, criando uma significativa resistência em aceitá-la
como parte natural da vida, dificultando a compreensão dessa fase, e transformando-
a em um problema a ser superado. Essa percepção leva a uma busca insaciável por
recursos, métodos e técnicas que possam prolongar a vida, independentemente de
ser sustentada artificialmente ou não. Prolongar a morte de um enfermo que se
encontra em estágio terminal e incurável, além de lhe dar falsas esperanças, o sujeita
a um tormentoso e duradouro sofrimento, configurando um desrespeito a sua própria
dignidade. (BARROSO, 2012).
Ao discutir o direito de morrer com dignidade, não se quer diminuir a
importância do direito à vida no ordenamento jurídico como direito fundamental. As
instâncias onde se busca o exercício desse direito, são aquelas que envolvem
pacientes acometidos por doenças graves ou incuráveis, em fase terminal, que por
consequência, são submetidos a tratamentos que visam prolongar a vida a todo e
qualquer custo, os quais apenas servem para retardar o inevitável fim. (BARROSO,
2012).
18

Seguindo o mesmo entendimento, dispõe Luciana Dadalto e Ana Carolina


Teixeira (2010, p. 60):

Questões afetas à intimidade, à privacidade, à vida privada de maneira


geral, competem apenas à pessoa a decisão do que fazer e do que
não fazer. Afinal, ninguém melhor do que a própria pessoa para decidir
qual a melhor decisão quando estiver diante de questões afetas a si
mesmo e à sua individualidade, pois num Estado Democrático de
Direito que tem como fundamentos o pluralismo jurídico e a dignidade
humana, cada um tem a ampla liberdade para construir o próprio
projeto de vida dentro daquilo que considera bom para si.

Na experiência humana, cada indivíduo conduz sua existência com um


significado, confere à sua vida um sentido próprio, dignidade e valores especiais e
distintos. Portanto, o direito à vida também envolve o direito de moldar o próprio
projeto de vida de forma independente. Cabe ao Estado, respeitar a autonomia de
cada ser para definir seus próprios projetos existenciais e objetivos pessoais, sem
impor restrições, constrangimentos e ideais que a maioria das pessoas considera
serem os "melhores" em um determinado momento da história. (BARCELLOS, 2023).
A eutanásia é tão antiga quanto a sociedade, utilizada durante séculos pelos
povos antigos, no entanto ainda reprovada, tanto moralmente quanto legalmente no
Brasil e na maioria dos países e territórios. Toda pessoa tem o direito a uma vida digna
e o direito de escolher o que considera ser melhor para si, assim entende-se, portanto,
que o Estado não deveria interferir nesse sentido, mas sim atribuir ao sujeito o direito
de plena escolha e de dispor sobre sua própria vida, não sujeitando o indivíduo ao
duradouro suplício, estaria assim o Estado ferindo sua dignidade, condenando o
indivíduo a permanecer vivendo em agonia até o final de seus dias.
O que se pretende, é trazer um olhar mais humanizado, e demonstrar que
todo indivíduo dotado de capacidade possui a autonomia de decidir sobre aquilo que
é melhor para si, não devendo o estado lhe impor limitações e suprimindo a autonomia
sobre as condições de sua própria vida e como deseja que ela se encerre, sem que
sua dignidade seja ferida.
Diniz (2017, p. 134) faz menção a uma passagem dos escritos de Platão, o
qual traz a afirmação de Sócrates que diz “[...] o que vale não é o viver, mas o viver
bem. O princípio da qualidade de vida é usado para defender a eutanásia, por
considerar que uma vida sem qualidade não vale a pena ser vivida”.
19

1.8 METODOLOGIA

O tema central da pesquisa se desenvolveu através da análise da evolução


do princípio da dignidade da pessoa humana ao longo do tempo, bem como as
mudanças necessárias para a efetivação dos direitos, principalmente do direito à vida
e o direito à uma morte digna, surgimento e aplicabilidade da eutanásia e sua
disposição no ordenamento jurídico brasileiro. Metodologicamente, o estudo se
desenvolveu a partir do método de abordagem hipotético-dedutivo, com a utilização
de revisão bibliográfica com renomados autores da área, em razão da necessidade
de esclarecer os principais aspectos da temática abordada.

1.9 CRONOGRAMA

Atividades Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
1)Escolha do orientador X
2)Definição do tema X
3)Encontros com orientador X x x
4)Elaboração do projeto de TCC x x
5)Entrega definitiva do projeto x
6)Defesa oral do projeto em banca x
7)Elaboração dos capítulos do TCC x x x x
8)Organização das informações gerais x x x
9)Entrega definitiva do TCC x
10) Defesa oral do TCC em banca x
11)Ajustes das solicitações da banca x
20

2 ELEMENTOS PÓS-TEXTUAIS

2.1 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARCELLOS, Ana Paula de. Curso de Direito Constitucional. 5. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2023.

BARROSO, Luís Roberto. A morte como ela é: dignidade e autonomia individual no


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1994. Disponível em:
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em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm>.
Acesso em: 13 maio 2023.

BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei nº 125/96, de 05 de junho de 1996. Autoriza


a prática da morte sem dor nos casos em que especifica e dá outras providências.

BRASIL. Senado Federal. Projeto de Lei nº 236/12, de 07 de julho de 2012.


Anteprojeto do Novo Código Penal. Disponível em:
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DINIZ, Maria Helena. O estado atual do biodireito. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
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