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PEDAGOGIA E ARTE/DANÇA: UMA ANÁLISE

CURRICULAR DE DOIS CURSOS SUPERIORES DE


PEDAGOGIA DA CIDADE DE MANAUS, AMAZONAS.

Carlos Alexandre Borges de Lima


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Amanda da Silva Pinto


Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP

RESUMO

A única habilitação aceita para trabalhar na Educação Infantil em todas as áreas do


conhecimento fica sob a égide do curso de Pedagogia, regida pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDB 9.394/96, é feita em nível superior, na modalidade
de graduação em cursos de licenciatura plena em Pedagogia. Assim, o presente
manuscrito analisa sobre a formação do pedagogo a partir da visão curricular da
disciplina de Arte à luz da Base Nacional Comum Curricular, analisando a atual
realidade do currículo da disciplina de Arte nos cursos de Pedagogia. Tais questões,
focalizaram no seguinte problema: como se estrutura curricularmente a formação do
pedagogo/professor de Educação Infantil para atuar na prática docente nas instituições
de Educação Infantil na área de Arte/Dança, em 2 (dois) cursos de Pedagogia ofertado
pela Universidades do Estado do Amazonas e pela Universidade Federal do Amazonas,
localizadas na cidade de Manaus/AM? A preocupação surge do fato de que as
disciplinas que compreendem os conteúdos de Arte/Dança dos cursos superiores de
Pedagogia não contemplam as necessidades dessa área de conhecimento na ação dos
professores na Educação Infantil. A pesquisa se desenvolve a partir dos estudos dos
teóricos-pesquisadores que contribuíram nessa temática, os quais podemos destacar:
Barbosa (2005), Becker (2004), Ghedin (2002), Piaget (1971), Pinto (2015), Savater
(2005), Rengel (2007), Vygotsky (1991), LDB (1996), PCN (1998), BNCC (2020). A
Metodologia se concentrou somente na documental (GIL, 2002) e na análise de
conteúdo (BARDIN, 1977), observando referentes matrizes curriculares das
Universidades públicas, até então pesquisadas, sofreram poucas reformulações dentro
de um período de 10 anos e possuem poucas relações com a BNCC. E que somente
uma disciplina de Arte/Dança dentro do curso de Pedagogia, não é suficiente para dar
conta de seu extenso conteúdo, pois na maioria das vezes essa disciplina Arte-
Educação não abrange a diversidade que o tema propõe.
Palavras-chave: ensino de arte/dança, formação do pedagogo, matriz curricular,
BNCC.
INTRODUÇÃO

Atualmente muito se discute sobre o papel da Arte/Dança na Escola, mas são


visíveis alguns equívocos sobre a importância dessa área de conhecimento por
parte dos próprios professores por não possuírem formação específica na área,
sendo desse modo, uma maior dificuldade em trabalhar com a Arte/Dança na
Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino fundamental. Falando em senso
comum, Arte/Dança está sendo trabalhada nas Escolas de Manaus de forma
superficial, sem aprofundamento teórico, e sem um procedimento didático
adequado para a prática docente nos segmentos iniciais da Educação Básica.

O objetivo deste artigo é analisar como se estrutura curricularmente a formação


do pedagogo/professor de Educação Infantil para atuar na prática docente nas
Instituições de Educação Infantil na área de Arte/Dança, em 2 (dois) cursos de
Pedagogia ofertado pela Universidade do Estado do Amazonas e pela
Universidade Federal do Amazonas, localizadas na cidade de Manaus, levando
em consideração o fato de que as disciplinas que compreendem os conteúdos
de Arte dos cursos superiores de Pedagogia não contemplam as necessidades
dessa área de conhecimento na ação dos professores na educação infantil.

Está sob a égide do curso de Pedagogia, atuar em todas as áreas do


conhecimento, sendo o Pedagogo o único profissional habilitado para atuar
como docente na Educação Infantil e nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental,
de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, lei
9.394/96, sendo feita em nível superior. Tal pressuposto nos faz perceber o
quanto é necessário proporcionar formação adequada aos profissionais de
Pedagogia para trabalhar com o Ensino de Arte/Dança na Educação Infantil.

Sabemos que a formação em nível de licenciatura em Dança habilita entre outras


áreas para atuar na prática docente no Ensino Fundamental, Médio e Superior,
o que nos faz perceber que cabe ao curso de Pedagogia fornecer as bases para
esta prática na Educação Infantil, englobando em seu componente curricular
disciplinas referentes à área de Arte/Dança em suas linguagens. Porém, os
cursos de licenciatura em Pedagogia não dão suporte à formação do
componente curricular “Arte-Educação” oferecido em muitas Universidades
como componente curricular optativo nos cursos de Pedagogia, de acordo com
as Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia (BRASIL, 2005).

Essa pesquisa se justifica pela relevância que a formação nas Universidades


supracitadas apresenta no que se refere à região do Amazonas, em termos de
formação acadêmica, destacando que os professores de Educação Infantil têm
que desenvolver suas atividades tomando por norte a formação inicial que lhe
qualifica para a Educação Infantil. A atualidade do tema se reveste no fato de
muitos professores atuantes nas Creches, Centros de Educação Infantil e Pré-
Escolas deste município de Manaus serem formados com uma Matriz Curricular
com pouca relação com as exigências da Base Nacional Comum Curricular–
BNCC em função da práxis do Pedagogo no componente Arte/Dança.

O que é ser professor? Que professor é você? Aquele que sempre desejou ser
professor? Ou aquele que se tornou professor por necessidade? Descobriu-se
professor à luz dos professores que teve? Quando paramos para pensar em
quem foram nossos mestres, percebemos que são muitos. E quantos mestres
tiveram esses mestres? E os mestres deles, com quem aprenderam? Nesse
contexto sequencial de entendimento de Arte e de Corpo entre as gerações de
mestres, é uma problemática de tradição de entendimento sobre esse
alunocorpo inteligente na construção do conhecimento. Hoje já temos estudos
que apontam para outros caminhos de entendimento dessa pessoacorpo, como
por exemplo, os estudos de Corponectividades de Lenira Rengel . Em outras
palavras, que somos “seres corponectivos” (RENGEL, 2007, p. 41).

O professor é poderoso. Muitos de nós nos lembramos de professores que nos


propiciaram experiências especiais, pessoas que vão continuar sendo nossos
professores sempre. Professores que fizeram diferença em nossas vidas e com
quem aprendemos até mesmo a ser professor. “A condição humana dá a todos
nós a possibilidade de sermos, pelo menos em alguma ocasião, professores de
alguma coisa para alguém. (...) a educação é valiosa e válida, mas também é
um ato de coragem, um passo à frente da valentia humana” (SAVATER, 2005,
p. 12).
“O conhecimento das artes tem lugar na interseção da experimentação,
decodificação e informação” (BARBOSA, 2005). Esses procedimentos integram
a epistemologia da Arte, e pressupõem a construção do conhecimento em Arte.
Na educação sempre existirá a relação entre o docente, os discentes e os
conteúdos, haja vista que são entre esses pólos que encontramos o
desenvolvimento do conhecimento. Essa relação permeia o que entendemos por
concepções pedagógicas, e esses processos costumam supervalorizar, em
alguns casos, o docente, os discentes, os conteúdos, ou até mesmo, a interação
entre essas partes. “Essas concepções, traduzindo didaticamente, fazem
avançar, retardar ou até mesmo impedir o processo de construção do
conhecimento” (BECKER, 2004).

A falta de preparação de professores para ensinar Arte/Dança é um problema


crucial, que nos leva a confundir improvisação com criatividade (BARBOSA,
2005). A carência do aprofundamento sobre a prática docente em Arte/Dança
acarreta diversos problemas, deixando de cumprir alguns objetivos como
produção artística, apresentação estética e informação histórica, partindo da
abordagem triangular de Ana Mae Barbosa (2005), contextualização Histórica,
Apreciação artística e produção artística, que dentro do campo da Pedagogia e
dos níveis de conhecimento são conceitual, procedimental e atitudinal,
veiculados com os quatros pilares da educação.

Precisamos ser professores que fazem a diferença. Ao trabalharmos na sala de


aula, devemos cuidar da qualidade das propostas feitas para perceber que
experiências elas propiciam. Elas propõem questões que ensinam a pensar? Ou
são atividades desconexas, com efeitos sedutores, sem intenções de
transformar a trajetória do aluno? A formação estética do professor se dá muito
antes de ele entrar na universidade, de ser estudante de qualquer área do
conhecimento. É fundamental que ele se dê conta de toda bagagem estética que
traz, que utilizará em todos os contatos com a expressão humana, inclusive com
as crianças na escola.

A formação em Arte/Dança de uma criança pequena, principalmente, é uma


formação estética. O desenvolvimento estético da pessoa começa quando ela
nasce, talvez antes disso, na barriga. Há uma frase de Oliver Sacks (1998, p. 13)
sobre isso: “O que ele mais se lembra da infância dele são os cheiros, da
fazenda, da terra, que é onde ele se sente mais em casa”. É disso que a gente
pode fazer uso quando está trabalhando com as crianças, da nossa experiência
estética, do que a gente viveu. Precisamos valorizar nossas experiências.

Precisamos repensar as formas ou metodologias de formação desses


profissionais de Pedagogia, já que o fato é que a formação em Arte/Dança nas
escolas deixa muito a desejar, consequência de uma defasada formação de
professores, que através dos tempos tem privilegiado fórmulas e receitas, sem
a necessária vivência ou reflexão, sobretudo no que se refere à arte
contemporânea. As Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de Pedagogia
vão nos elucidar que o egresso do curso de Pedagogia deverá estar apto a
“aplicar modos de ensinar diferentes linguagens, (...) de forma interdisciplinar e
adequada às diferentes fases do desenvolvimento humano, particularmente de
crianças”. Mas, que na realidade na formação do Pedagogo só fica nas escritas
das ementas do curso e não no desenvolvimento das competências e
habilidades.

A Lei Federal 13.278/2016 alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação


Nacional (LDB – Lei 9.394/1996) estabelecendo prazo de cinco anos para que
os sistemas de ensino promovam a formação de pedagogos/professores para
implantar esses Componentes Curriculares no Ensino Infantil, Fundamental e
Médio. Mesmo com essa lei, que sanciona a inclusão das Artes Visuais, da
Dança, da Música e do Teatro nos Currículos dos diversos níveis da Educação
Básica, ainda permeia a falta de valorização e reconhecimento dessa área de
conhecimento e suas especificidades.

Ainda há uma grande negligência na Matriz Curricular do Curso de Pedagogia,


mesmo com as mudanças da Base Nacional Comum Curricular (2020). As
Universidades, sejam elas públicas ou privadas, não dão ênfase ao Componente
Curricular de “Arte-Educação”, e isso se percebe pelo fato dessa disciplina
sempre estar como disciplina “optativa”, com pouca carga-horária e como algo
lúdico, jogos e brincadeiras, e não como uma disciplina de conteúdo, como as
demais que, para tais Instituições, consideram como as únicas relevantes para
a prática do Ensino Regular.

As intenções expressas nos documentos do MEC para o campo da Arte na Base


Nacional Comum Curricular - BNCC, vai dizer o seguinte,

Nessa nova etapa da Educação Básica, o ensino de Arte deve


assegurar aos alunos a possibilidade de se expressar criativamente em
seu fazer investigativo, por meio da ludicidade, propiciando uma
experiência de continuidade em relação à Educação Infantil. Dessa
maneira, é importante que, nas quatro linguagens da Arte–integradas
pelas seis dimensões do conhecimento artístico, as experiências e
vivências artísticas estejam centradas nos interesses das crianças e
nas culturas infantis. Tendo em vista o compromisso de assegurar aos
alunos o desenvolvimento das competências relacionadas à
alfabetização e ao letramento, o componente Arte, ao possibilitar o
acesso à leitura, à criação e à produção nas diversas linguagens
artísticas, contribui para o desenvolvimento de habilidades
relacionadas tanto à linguagem verbal quanto às linguagens não
verbais. (BNCC, 2020, p. 1996).

No 29° Congresso Nacional da Federação de Arte/Educadores do Brasil e 7°


Congresso Internacional de Arte/Educadores em 2019, muitas pautas foram
levantadas durante a mesa redonda com Secretarias e Coordenadorias da
Educação Pública de Manaus, dentre muitas falas dos associados, uma me
chamou mais atenção e me fez refletir sobre a indagação enquanto Pedagogo.
Não posso confirmar se a associada era estudante ou profissional já formada,
mas ela se levantou e fez uma pergunta para a Coordenadora da SEMED –
Secretaria Municipal de Educação, “e nós profissionais da Pedagogia, que
trabalhamos nos anos iniciais do Ensino Fundamental? Não possuímos na nossa
formação inicial competências para trabalhar o ensino de Arte, sendo que nos
são exigidas tantas coisas, e não nos formamos para isso”. A Coordenadora lhe
respondeu o seguinte “esse ano de 2019 estamos começando a fazer formações
continuadas com os professores dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental e
Educação Infantil”. Ou seja, a preocupação partiu em um período de novembro
de 2019, sendo que em 2020 no início do ano começou a pandemia, e permeia
até então.

E esses estudantes de Pedagogia que estão em Ensino Remoto, e que muitos


deles estão em semestres que possuem o Componente Curricular de
Arte/Dança? Ou, os professores da Rede Pública de Ensino que também estão
trabalhando o ensino de Arte em Ensino Remoto e até então, não tiveram a tal
formação continuada no campo das Artes por conta do isolamento social? Muitas
discussões ainda precisam ser feitas em relação à formação do Pedagogo, não
sendo o enfoque desta pesquisa. A citação supracitada na Base Nacional
Comum Curricular - BNCC sobre o Ensino de Arte/Dança nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental exige que o profissional de Pedagogia trabalhe nas quatro
linguagens da Arte, integradas pelas seis dimensões do conhecimento artístico,
as experiências e vivencias artísticas. Agora pergunto mais uma vez, recebemos
competências, em especial a educação corporal, para trabalhar as quatro
linguagens da Arte no curso de Pedagogia?

É importante, em se tratando do planejamento curricular para essa


área, que se saiba com que referências ela foi colocada na PC
(Proposta Curricular), visto que o senso comum, em sua maioria (inclui-
se, nesse grupo, aqueles que não são profissionais de Dança), não
entende essa linguagem artística [...], pois é um problema atual o não
entendimento dos conteúdos da Dança, mesmo por profissionais da
educação. Ainda há aqueles, dentro da escola, incluindo diretores,
gestores e professores, que não têm conhecimento do trabalho com a
dança, no sentido de que ela não serve somente para abrilhantar
momentos festivos. (PINTO, 2015, p. 29)

A área de Arte/Dança como área de conhecimento, no entanto, exige estudo. A


experiência estética e a formação contínua da estética como um todo é uma
parte pequena do conhecimento da área de Arte/Dança. Existe outro lado, que
é conhecer a história da Arte/Dança, as manifestações e transformações através
dos tempos. A formação para um professor que quer trabalhar com Arte/Dança
é muito exigente. Não é suficiente copiar do YouTube uma coreografia pré-
estabelecida somente para uma data festiva e colocar as crianças para dançar
e se divertir como se a Arte/Dança fosse só “um brinco” ou “tanto faz ter
Arte/Dança ou não ter”, isso não é uma aula de Educação Corporal. Uma aula,
necessariamente, é resultado de reflexões e de escolhas, de intencionalidade.

O corpo da criança fala. Quando você vê uma criança muito concentrada, até o
dedão do pé dela está concentrada. E as expressões das crianças? Elas nos
dizem muito também. Assim como inúmeras expressões que podemos identificar
no rosto de cada criança, o corpo das crianças fala. Não é possível separar
reflexão e pensamento do corpo de criança pequena, pois todos estão juntos.
Pensamento e ação estão integrados. Não existe um sem o outro. Sem o
movimento, a criança não é capaz de se desenvolver, de pensar. “A lacuna sobre
o entendimento da dança na escola vai além da sua incompreensão como
disciplina, pois engloba o que se entende pelo ato de dançar” (PINTO, 2015, p.
31).

As pesquisas de Vygotsky (1991) e de Piaget (1971) tratam desse assunto,


provando que o movimento é fundamental para o crescimento saudável e pleno
desenvolvimento. Então, nossas escolas de Educação Infantil devem privilegiar
a ação, o movimento, para que as crianças possam ser potentes. Como você
pensa e promove o movimento das crianças? As suas propostas contemplam o
movimento? Pensa na diversidade de movimentos que as propostas podem
suscitar? O Pedagogo precisa ser um professor pesquisador, refletir sobre sua
formação, e através da formação continuada em Arte/Dança e de cursos de
aperfeiçoamento tentar preencher essa lacuna que a formação inicial deixa em
nossa formação (GHEDIN, 2002).

As questões macro para entender o funcionamento das disciplinas na


escola ocorrem aqui para chamar a atenção de como isso está em
relação ao aluno, à pessoa. Vários pontos precisam ser discutidos
sobre isso, e um deles é o corpo. É preciso trazer a questão da
corponectividade em todos os espaços (disciplinas), passando pelo
entendimento de que a Dança como área de conhecimento aproxima
esse corpo da escola. E mais ainda: de modo transdisciplinar, o que
vem desde a atenção no planejamento (Projeto Político Pedagógico).
(PINTO, 2015, p. 87).

Ao analisar a importância da formação do pedagogo/professor para trabalhar


com o ensino de Arte/Dança, percebem-se as grandes limitações no que se
refere às linguagens abordadas, a partir da Matriz Curricular, desse Componente
Curricular. É por meio desse movimento que a formação contínua se torna tão
preponderante no processo de construção do “ser professor”, possibilitando um
diálogo dessa formação nas Universidades que formam esse “ser professor”.
Neste artigo focamos na formação regular do Pedagogo, no que ser refere ao
ensino de Arte/Dança e, para tanto, elaborou-se o contexto dessa pesquisa,
delineando os seus caminhos e construindo a perspectiva teórico-metodológica,
conforme será visto.

MÉTODOS

Neste trabalho, o caso investigado foi o Currículo do curso de Pedagogia de duas


instituições de Ensino Superior, a Universidade do Estado do Amazonas – UEA
e a Universidade Federal do Amazonas – UFAM. O fato de estes cursos se
caracterizarem como referência em termos de formação de professores de
Educação Infantil na região de Manaus - Amazonas motivou a sua escolha para
este estudo.

Os instrumentos utilizados para a construção dos dados foram: análise


documental e de conteúdo. A análise documental foi realizada através de uma
análise da Proposta Pedagógica do Curso de Pedagogia das duas
Universidades supracitadas, e de suas referidas Matrizes Curriculares. Tais
Matrizes sofreram poucas reformulações dentro de um período de 10 anos e
possuem poucas relações com a BNCC, seguindo as orientações formuladas
pelo Conselho Nacional de Educação através da Resolução n° 1 de 2006, que é
responsável pela Diretriz Curricular Nacional para o curso de Pedagogia, e é com
base nessa Diretriz que o PPC – Projeto Pedagógico do Curso de Pedagogia -
de cada Universidade é construído.

Considerando as fases da análise de conteúdo, orientadas por Bardin (1977) –


pré-análise, exploração do material, tratamento dos resultados, inferência e
interpretação, descreve-se, detalhadamente, o caminho adotado pelo
pesquisador no processo de compreensão da interlocução entre as Propostas
Pedagógicas do Curso de Pedagogia, Matrizes Curriculares, BNCC e
Componente Curricular de Arte, pois precisava organizá-los para a análise. Para
isso, utilizamos a metodologia de Análise de Conteúdo que Bardin (1977) define
como

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando


obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN,
1977, p. 42)
Tínhamos em mente uma preocupação para não fazermos, conforme aponta
Bardin (1997), uma “compreensão espontânea” dos dados que estavam em
nossas mãos. A preocupação era ter uma atitude de “vigilância crítica” diante
dos dados e, por essa razão, buscamos, por meio das inferências, atribuir-lhes
significados. Passamos pelas fases apontadas por Bardin (1977) e Franco
(2008) e apresentadas a seguir.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pré-Análise

Esta é a fase de organização dos dados. A finalidade é formar o corpus principal


da pesquisa. “O corpus é o conjunto dos documentos tidos em conta para serem
submetidos aos procedimentos analíticos” (BARDIN, 1977, p. 96). A construção
do corpus não foi uma tarefa tão difícil, pois implicaram na seleção de
documentos curriculares padrões regidos pelo Conselho Nacional de Educação
- CNE de Cursos de Ensino Superior, para a elaboração de um plano de análise.
Tínhamos em mãos dois Projetos Pedagógicos do Curso de Pedagogia das
Universidades, as Matrizes Curriculares e a BNCC.

Retomamos a questão da investigação e o objetivo proposto e passamos então


para a análise dos documentos. Durante esta fase prévia pudemos levantar 3
(três) categorias de análise mais urgentes, quais são: Nomenclatura da
disciplina; localização no currículo (optativa ou obrigatória) e ementário.
Acreditamos que tais documentos que compõem esse corpus foram suficientes
para nos ajudar a inferir respostas à nossa questão e alcançar nosso objetivo
para nos auxiliar com esses questionamentos, uma vez que estávamos tentando
ultrapassar a “compreensão instantânea”.

Realizada essa primeira parte, da pré-análise, partimos para a segunda fase


apresentada por (BARDIN, 1977) e (FRANCO, 2008). Nessa segunda fase
compreenderemos como cada universidade estruturou suas respectivas
Matrizes Curriculares e a escolha pela Nomenclatura das disciplinas que
trabalham os conteúdos do ensino de Arte/Dança, com base nos Projetos
Políticos Pedagógicos – PPC dos cursos de Pedagogia das duas Universidades.

Exploração do material

Nessa fase, o corpus estabelecido será estudado mais profundamente, com o


objetivo de analisar as Matrizes Curriculares e o que é descrito nos Projetos
Político Pedagógico em relação aos eixos estruturantes do curso para a escolha
da nomenclatura da disciplina que compreendem os conteúdos do ensino de
Arte/Dança nos Cursos Superiores de Pedagogia e da localidade da mesma
como disciplina “optativa” ou “obrigatória”. Desse modo, estabelecemos as
unidades de registro e unidades de contexto. “Os resultados brutos são tratados
de maneira a serem significativos (falantes) e válidos” (BARDIN, 1977, p. 101).

Na verdade, com uma pré-análise bem realizada, essa fase “não é mais do que
a administração sistemática das decisões tomadas” (BARDIN, 1977, p. 101).
Assim, partimos para a determinação das unidades de registro. “A Unidade de
Registro é a menor parte do conteúdo, cuja ocorrência é registrada de acordo
com as categorias levantadas” (FRANCO, 2008, p. 41). Os registros, de acordo
com Franco (2008), podem ser de distintos tipos que podem estar inter-
relacionados: a palavra, o tema, o personagem, o item.

Escolhemos o tema como nossa “unidade de registro” por ser uma afirmação
sobre determinado assunto que envolve “não apenas componentes racionais,
mas também ideológicos, afetivos e emocionais” (FRANCO, 2008, p. 43).
Segundo Bardin (1977, p. 195) o tema “é a unidade de significação que se liberta
naturalmente de um texto analisado segundo certos critérios relativos à teoria
que serve de guia à leitura”. Esses registros são as Matrizes Curriculares dos
Cursos Superiores de Pedagogia das duas Universidades e as categorias de
análise foram eleitas a partir dos temas.

Por meio dos procedimentos metodológicos aplicados, todo processo de análise


foi feito por meio dos dados descritos nos Projetos Políticos Pedagógicos para o
curso de Pedagogia, regido pelo Conselho Nacional de Educação n° 1/2006.
Através desse documento, os cursos superiores de Pedagogia utilizaram como
eixos norteadores para a estruturação de suas respectivas Matrizes Curriculares,
e assim, de seus ementários, no qual, tivemos como foco a disciplina de
Arte/Dança para exploração. Olhamos para cada uma de maneira isolada,
buscando as unidades de significação a partir de sua nomenclatura (primeira
categoria de análise).

Cristalizados a partir das ideias de Bardin (1977, p. 8) podemos dizer que, em


alguns casos, o uso de computadores pode ser interessante para a análise de
conteúdo, como, por exemplo, quando a unidade de registro é a palavra. Em
outros casos, a utilização de computadores pode ser ineficaz quando a análise
for exploratória ou a unidade de codificação for grande (discurso ou artigo), como
foi o nosso caso. Assim, optamos por fazer um trabalho de análise “artesanal”.
Sendo assim, uma análise única e debruçada sobre documentos especializados.

Imprimimos às Matrizes Curriculares, os Projetos Políticos Pedagógicos, a


Diretriz Curricular Nacional para o curso de Pedagogia, a Base Nacional Comum
Curricular e o Referencial Curricular Amazonense. Lemos cada um dos
documentos curriculares, buscando congruências e diferenças entre elas.
Tiramos um print digital das três Matrizes Curriculares disponíveis nos sites
institucionais das Universidades. Recortamos as Matrizes Curriculares
exatamente onde está localizada a disciplina que compreende os conteúdos de
Arte/Dança, como apresentaremos nas figuras a seguir.

Figura 01: Quadro da Matriz Curricular – UFAM (2018)

Fonte: Matriz Curricular – UFAM (2018)

Ancorados a partir das leituras do Projeto Político Pedagógico do curso de


Pedagogia da UFAM, Olhamos de maneira isolada, buscando as unidades de
significação a partir de sua nomenclatura (primeira categoria de análise)
compreender a estruturação da nomenclatura da sua disciplina intitulada “a
Criança e as Artes”. Para que isso fosse possível, buscamos primeiramente
entender em que eixo norteador a disciplina supracitada está inserida na grade
curricular do curso, cujo objetivo é verificar o nível de importância teórica que a
disciplina supracitada tem para a formação do Pedagogo na área de
conhecimento da Arte/Dança.

O eixo norteador que a disciplina supracitada está inserida é “Conteúdos e


Atividades Transversais da Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental”. É possível perceber um interesse que a Instituição tem em
relação à disciplina do Ensino de Arte/Dança na descrição do próprio eixo
estruturante e de sua nomenclatura. No entanto, a disciplina “a Criança e as
Artes” não está no mesmo eixo que as disciplinas de Língua Portuguesa,
Ciências, História, Geografia e Matemática. Tais disciplinas supracitadas estão
em um eixo de “metodologias educacionais e conhecimentos por áreas”. É
evidente que a Instituição tem uma preocupação com o desenvolvimento
cultural, social, linguístico e estético da criança em relação à área de
conhecimento Arte/Dança, e principalmente em relação à práxis docente para o
trabalho pedagógico desenvolvido na Educação Infantil e Anos Iniciais do Ensino
Fundamental.

Diante do fato da disciplina “a criança e as Artes” não estarem no mesmo eixo


juntamente com as disciplinas de Língua Portuguesa, Ciências, História,
Geografia e Matemática, faz-nos perceber que o Eixo onde se encontra “a
criança e as Artes” acaba sendo um eixo complementar, portanto, um segundo
plano no currículo. Percebemos isso, no momento que a Instituição separou a
Arte das demais disciplinas, colocando a Arte é uma atividade transversal, e
não como uma área de conhecimento específica, que é tão importante e que tem
conteúdos próprios como às outras (L. Portuguesa, Matemática, etc.)

Buscamos agora compreender a localidade da mesma como disciplina


“optativa” ou “obrigatória” (segunda categoria de análise) da grade curricular
do curso de Pedagogia. De acordo com a estruturação da grade curricular, a
disciplina se localiza na parte das disciplinas “obrigatórias” do curso. É muito
importante ver que a disciplina é “obrigatória”, pois a mesma é preponderante
na formação do profissional de Pedagogia, e do quanto ela é fundamental na
formação do indivíduo (aluno e professor), assim como na construção de uma
práxis docente mais sensível e humana.

Na Matriz Curricular e Periodização do curso consta em sua composição 45


(quarenta e cinco) componentes curriculares obrigatórios, que devem ser
integrados com disciplinas optativas de escolha livre dos (as) discentes. Desse
modo, a disciplina “a Criança e as Artes” está localizada no 4° período do
curso, anos iniciais de formação acadêmica dos futuros profissionais da
educação. Sendo que em sua distribuição, o curso possui 10 (dez) períodos
acadêmicos na duração de 5 (cinco) anos. A formação dos Pedagogos na UFAM
é extensa em sua duração, porém, completa em relação a sua estruturação
curricular. E para compreendermos com mais detalhamento cada disciplina a
partir dos seus ementários, veremos a seguir o ementário da disciplina “a
Criança e as Artes”.

FIGURA 02: Quadro do ementário da disciplina da Criança e as Artes.

Fonte: UFAM/PPC (2018).

O ementário do curso é preponderante para delinearmos os autores basilares


que irão fundamentar teoricamente os conteúdos da disciplina “a Criança e as
Artes”. Assim, olhamos de maneira específica, buscando identificar o lugar do
corpo e da Dança nesse currículo (terceira categoria de análise). O ementário é
um instrumento de trabalho que possui o objetivo de referenciar os conteúdos,
as metodologias, os procedimentos e as técnicas a serem utilizadas no processo
de ensino-aprendizagem concernentes às linguagens artísticas que compõem
a área de conhecimento Arte, sendo o enfoque dessa análise da área de
conhecimento Dança em relação à formação do profissional de Pedagogia que
ministrará essa disciplina “Arte” nas escolas.

É possível percebermos de forma clara e objetiva o lugar da Dança como


linguagem específica de conhecimento no currículo da disciplina, e da expressão
corporal como forma de construção de conhecimento artístico, para o
desenvolvimento das expressões criativas e da descoberta do corpo no espaço
da Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental. No entanto,
sentimos a falta nas bibliografias básicas, além do RCNEI (1998), uma referência
teórica específica para a área da Dança no contexto escolar.

É necessário um estudo aprofundado sobre a história, estética e a epistemologia


da Dança, por estudiosos da área. Não adianta proporcionar aos discentes
apenas entendimentos metodológicos, sem oferecer competências teóricas
sobre cada área de conhecimento artístico. A Dança possui seus conteúdos
(especificidades), as suas metodologias, os seus procedimentos e técnicas a
serem utilizadas no processo de ensino-aprendizagem. E para se apropriar de
tudo isso, é preciso estudarmos de forma isolada a “Dança” para que de fato,
os profissionais da Pedagogia entendam esse alunocorpo como um ser
inteligente, entrando aí a Dança como área de conhecimento. “A
contextualização da Dança quanto à sua história, estética, antropologia,
cinesiologia etc.” (MARQUES, 2007).

“O dualismo, que é um termo que admite a coexistência de dois


princípios opostos (neste caso, corpo/mente), ainda é uma forma
hegemônica de corpoqueé admitido na sua compreensão de existência
no senso comum, ou seja, que existe um corpo (físico), que é separado
da mente (abstrata), e que essa mente habita e comanda esse corpo”
(PINTO, 2015, p. 31).
Esse problema surge da questão histórica do corpo, de como fomos ensinados
em relação aos conteúdos da Dança, onde a Dança e a Educação Física utilizam
apenas o corpo, e a matemática exige o ato de “pensar/mente”. No quadro a
seguir, analisaremos a Matriz Curricular do curso de Pedagogia da UEA,
atualizada recentemente em 2017.

Figura 03: Quadro da Matriz Curricular – UEA (2017)

Fonte: Matriz Curricular – UEA (2017)

Na primeira categoria de análise dessa pesquisa (nomenclatura) com base nas


leituras do Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia da UEA,
buscamos compreender a estruturação da nomenclatura da disciplina intitulada
“Arte e Educação”. Na caracterização do curso de Pedagogia, em relação ao
seu sistema curricular, a disciplina supramencionada se encontra no eixo
estruturante curricular “conhecimento, análise e aplicação dos processos de
ensino-aprendizagem”, e da mesma forma feita na análise da Matriz Curricular
da UFAM, foi preciso entendermos primeiramente o conceito da escolha do eixo
norteador para a estruturação do nome da disciplina.

O eixo estruturante curricular visa o estudo dos fundamentos filosóficos,


metodológicos e epistemológicos do ensino da Arte, e sua contribuição à
educação e análise das formas de expressão artística. Desse modo, fica visível
a escolha pela nomenclatura “Arte e Educação”. As disciplinas de Língua
Portuguesa, Matemática, História e Geografia se encontram no mesmo eixo
estruturante da disciplina de “Arte e Educação”. Porém, cada disciplina dentro
do eixo estruturante “conhecimento, análise e aplicação dos processos de
ensino-aprendizagem”, recebem uma conceituação em relação aos domínios
dos processos de aprendizagem e das metodologias especiais de ensino dentro
de cada área de conhecimento diferenciado. Onde as demais áreas de
conhecimento possuem a mesma descrição, só modificando o nome da
disciplina, “análise e aplicação dos métodos e processos de ensino e
aprendizagem de X na Educação Infantil e Anos Inicias do Ensino
Fundamental”. E a Arte como já descrita anteriormente, não possui a mesma
legitimidade e importância como área de conhecimento. Diante disso, fica um
pouco contraditória a relação da Arte com a Educação no processo de ensino-
aprendizagem, se a mesma não for vista e executada como uma disciplina igual
as demais inclusas na grade curricular das escolas.

Na segunda categoria de análise buscamos entendimento da localidade da


mesma como disciplina “optativa” ou “obrigatória” na matriz curricular do
curso de Pedagogia. Desse modo, a disciplina de “Arte e Educação” se
encontra na estrutura do núcleo de estudos básicos conforme distribuição de
créditos/carga horária, sendo uma disciplina “obrigatória” do curso, de acordo
com o item “e) Aplicação de conhecimentos de processos de
desenvolvimento de crianças, adolescentes, jovens e adultos nas
dimensões física, cognitiva, afetiva, estética, cultural, lúdica, artística, ética
e biossocial” do núcleo de estudos básicos.

Fazendo uma comparação com o item “i) Decodificação e utilização de


códigos de diferentes linguagens utilizadas por crianças, além de trabalho
didático com conteúdos dos primeiros anos de escolarização” ainda do
núcleo de estudos básicos, onde está localizada as disciplinas de Língua
Portuguesa, Matemática, História e entre outros, é visível que a área de
conhecimento Arte sempre está separada dos eixos e itens dos núcleos das
demais disciplinas, mostrando que a Arte não tem a mesma seriedade como uma
área de conhecimento, sendo periferizada e colocada mais de lado do que as
outras, que parecem ser mais importantes.

Todas as disciplinas obrigatórias, que fazem parte ao núcleo de estudos básicos,


possuem 3.015 horas de aulas teóricas e práticas, correspondendo a 180
créditos, sendo 510 horas de práticas e 2.505 horas de teóricas. Desse modo, a
disciplina “Arte e Educação” está localizada no 10° período do curso, último
ano de formação acadêmica dos futuros profissionais da educação.
Sendo que em sua composição, o curso possui 10 (dez) períodos acadêmicos
na duração de 5 (cinco) anos. Ao final do curso, do ponto de vista do
conhecimento, os egressos deverão atender todos os requisitos enquanto
competências qualificadas para a aplicação dos processos de ensino-
aprendizagem do Ensino de Arte/Dança. Agora veremos o quadro do Ementário
da disciplina “Arte e Educação” para compreendemos com mais detalhamento
a estruturação dos seus conteúdos.

Figura 04: Ementário da disciplina de Arte e Educação.

Fonte: UEA/PPC (2017).

Nessa terceira e última categoria de análise, procuraremos observar qual o lugar


do corpo e da Dança nesse currículo. Sabemos que a ementa narra apenas os
tópicos a serem abordados durante o processo de aprendizagem, de acordo com
as propostas de ensino da disciplina de “Arte e Educação”. A ementa possui
características formais, simplificando a leitura e uma concreta absorção dos
conteúdos a serem ministrados durante o período do curso.

Não se faz necessário comentar que o currículo não está preocupado com o
aprendizado em Dança, pois este, ao ser trabalhado em sentido amplo poderia
causar danos ao sistema dominante. Certamente isto reflete nos programas de
formação destes profissionais de Pedagogia que não tem todo suporte
necessário para trabalhar essa área de conhecimento. Na BNCC (2020) houve
uma redução por conta de colocar todas as artes no contexto interdisciplinar
onde não vemos muito bem cada especificidade. Quando se especifica na BNCC
(2020) ela precisa de um aprofundamento maior nas especificidades como da
dança, teatro, música e artes plásticas.

Os Pedagogos necessitam focar mais na BNCC na área de Dança quando for


trabalhar seus conteúdos nas escolas. Tentar pegar um pouco do currículo do
que diz respeito à educação corporal. A BNCC está mais madura do que se diz
respeito às especificidades de cada área de conhecimento. Mas um dos
problemas que até as Universidades comentem na elaboração dos seus
ementários é colocar as linguagens artísticas como se fossem uma única
linguagem, todas as áreas de conhecimento em um espaço muito mais reduzido
da Arte.

É possível analisar na organização das referências que o ementário se


preocupou mais com o Ensino de Música, deixando de lado o Ensino de Dança.
Desse modo, acabam trabalhando as demais linguagens de forma
interdisciplinar, esquecendo que o contexto ao qual aqui se insere, é a formação
de professores que terão a responsabilidade de formar outros alunoscorpos,
através da Dança.

Enfatizo mais uma vez com análise nesse ementário, sobre a questão de um
olhar específico para a inclusão de referenciais teóricos sobre a Dança no
contexto escolar. Há inúmeros estudiosos da área para dar todo o suporte
epistemológico e metodológico para os Pedagogos que estão sobre a égide da
LDB 9394/96 para trabalhar o Ensino da Dança no âmbito escolar.
Vale ressaltar que a prática docente na Educação Infantil tem suas próprias
especificidades, e que a formação destes pedagogos/professores deve
proporcionar ações prazerosas no sentido de desenvolver as crianças
integralmente e estimular desde a infância o pensamento crítico. A Dança
também pode e deve ser ensinada tendo por base uma educação voltada para
emancipação dos corpos e libertação das danças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo em vista o objetivo do estudo que era o de pesquisar a Formação


do Pedagogo para trabalhar com o Ensino de Arte/Dança na Educação
Infantil, e a hipótese de que o Pedagogo encontre dificuldades em trabalhar
com a dança devido à falta de disciplinas específicas durante sua formação,
se considera que o objetivo foi alcançado, uma vez que se tratou de uma
pesquisa documental por meio de um estudo de caso analisando o Projeto
Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Pedagogia da
Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e Universidade do Estado do
Amazonas (UEA) em que se aprofundou entendimento sobre a necessidade
e viabilidade de estudos sobre a Arte-Educação inserida nos cursos de
Formação de Professores de Pedagogia, como forma de proporcionar o
contato com este elemento de Expressão e Comunicação, para que ela
possa ser desenvolvida de forma correta no dia a dia escolar.

Nosso desejo nesse estudo era fazer um comparativo de quatro Matrizes


Curriculares de quatro Instituições de Ensino Superior da Cidade de Manaus.
Sendo duas de Ensino Público, ao qual, aqui foi investigado e analisado. E duas
de Ensino Particular que não quiseram contribuir para a nossa pesquisa.
Fizemos o possível para que as quatro Instituições estivessem juntas nesse
trabalho, pois as mesmas são referências em termos de formação de Pedagogos
na cidade de Manaus. Entretanto, as duas Instituições aqui ausentes na
pesquisa, não quiseram partilhar seus Projetos Políticos Pedagógicos (PPC),
não sabemos quais os motivos de fato por não quererem que viéssemos analisar
suas Matrizes Curriculares do Curso de Pedagogia
Alcançamos nosso objetivo que era o de confirmar que o Pedagogo não tem
condições de atuar com o Ensino de Arte, especificamente na linguagem da
Dança pelo motivo de não haver no Currículo disciplinas que aprofundem esta
temática, pois o Projeto Político Pedagógico do curso de Pedagogia não tem o
objetivo e perfil de estudos voltado para uma formação que tende a incorporar
a cultura corporal do movimento sendo mais aprofundada através da Dança-
educação.

No entanto, ainda o currículo do Curso de Pedagogia da UFAM e UEA não


contemplam de forma suficiente as temáticas da Arte-educação e Dança-
educação, mas há possibilidade de se oferecer disciplinas optativas ou de se
incluir as temáticas em disciplinas tais como: Arte na Educação Infantil,
Conteúdos e Metodologia do Ensino de Artes e a disciplina optativa “A
Corporeidade e Sua Representação na Prática Pedagógica”. O curso foi
reestruturado no ano de 2018 e 2017, portanto até que seja realizada nova
reestruturação esperamos encaminhar este estudo para análise pela
Coordenação de curso visando colaborar com o processo.

Podemos destacar que o suporte para a ação docente recebida no curso de


Pedagogia de acordo com os dados encontrados em relação ao componente
curricular deste curso por meio dos seus “ementários”, não foram satisfatórios,
pois foram abordadas discussões que não ofereceram suporte e embasamento
aos conhecimentos que os Pedagogos devem ter para ministrar a área de
conhecimento Dança na Educação Infantil e dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental. Não encontramos referencias teóricos sobre a Dança, estudiosos
da área que fundamentem a práxis docente para trabalhar com os conteúdos
específicos da Dança, resultando em uma deficiência para os Pedagogos no
processo de Ensino e metodológico de aprendizagem.

Porém, salientamos que somente uma disciplina de Artes dentro do curso de


Pedagogia, não é suficiente para dar conta de seu extenso conteúdo, pois na
maioria das vezes essa disciplina Arte-Educação não abrange a diversidade que
o tema propõe. Temos várias linguagens artísticas, tais como Artes Visuais,
Teatro, Música, e Dança. Se formos analisar, somente dentro do universo das
Artes Visuais, temos pintura, desenho, gravura, fotografia, cinema, escultura,
arquitetura, instalação, web design, moda, decoração, paisagismo, novela,
enfim, somente dentro de uma linguagem há uma imensidão de conteúdos a
serem trabalhados.

Concluímos parcialmente, que a formação do professor para atuar em Artes na


Educação Infantil é de extrema importância, e ressaltamos que a formação na
disciplina Arte-Educação possibilitou uma gama de conhecimentos
extremamente relevantes para atuação docente na primeira etapa da educação
básica, no sentido de desmistificar práticas artísticas que concebem a Arte
apenas como cultura popular ou como erudita, enfim desconstruímos a noção de
Arte/Dança somente como coreografias pré-estabelecidas ou apenas como um
brinco na escola, tanto faz ter dança como não ter. A área de conhecimento
Dança está cada vez mais sendo reduzida nos currículos de Pedagogia, aliás,
nunca teve amplo espaço, e agora está sendo cada vez mais reduzida.
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