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HD, Material de Apoio, Parte I, 2009, Rev Abr Svs e BN
HD, Material de Apoio, Parte I, 2009, Rev Abr Svs e BN
Faculdade de Direito
Departamento de Direito Privado e Processo Civil
________________________________________
UFRGS Av. João Pessoa, 80 - Centro - CEP 90040-000
Porto Alegre/RS
E-mail: facdir@orion.ufrgs.br
Http/www.direito.ufrgs.br
versão 2009
HISTÓRIA DO DIREITO
(Material de Apoio)
Sérgio Severo
svsevero@hotmail.com.br
HISTÓRIA DO DIREITO1
(TOBIAS BARRETO2)
1
O presente texto é composto de noções desenvolvidas na disciplina de Introdução ao Estudo do Direito junto à UnB,
História do Direito junto à UFRGS, bem como de adaptação didática e desenvolvimento de matérias tratadas no texto de
nossa autoria: Sérgio Severo, “Modernidade perplexa! (retrospectiva e prospectiva do pensamento jurídico a partir do
paradigma sistêmico, nas noções de Direito e Estado em Hans Kelsen), in Anais do XXIII Congresso Nacional de
Procuradores do Estado, São Luís - MA, pp. 315-345. No presente momento a fonte principal, sobretudo com relação
aos direitos não escritos e antigos é a obra indicada como leitura recomendada para a disciplina: John Gilissen,
Introdução Histórica ao Direito, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2ª ed.,1995.
2
Nascido em Campos, em 1839, TOBIAS BARRETO foi para Salvador em 1861, para seguir carreira eclesiástica, à qual
se dedicou por um dia, chegando pela manhã e fugindo à noite. Efetuou estudos preparatórios em Salvador e depois
rumou para Recife, onde prestou os exames e matriculou-se na Faculdade de Direito em 1864. Foi o precursor da Escola
de Recife, que exerceu grande influência sobre o pensamento jurídico no Brasil, tendo uma forte influência germânica.
Para conhecer melhor o pensamento de TOBIAS BARRETO pode-se consultar suas Obras Completas, editadas pelo
Instituto Nacional do Livro, com os seguintes trabalhos: "Ensaios e Estudos de Filosofia e Crítica", 1875; "Brasilien, wie
es ist", 1876; "Ensaio de pré-história da literatura alemã"; "Filosofia e Crítica"; "Estudos Alemães", 1879; "Dias e
Noites", 1881; "Polêmicas", 1901; "Discursos", 1887 e "Menores e Loucos", 1884.
3
Rudolf Von Jhering (1818-1892), A luta pelo Direito, trad. de João Vasconcelos, Rio de Janeiro, Forense, p. 01.
4
Luís Fernando Coelho, Introdução Histórica à Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Forense, 1977, p. 23. LUÍS
FERNANDO COELHO é Doutor e Livre Docente, Professor de Filosofia do Direito, tendo exercido magistério na
UFPR, UFSC, PUC/PR e na UNIPAR – Umuarama, é autor de várias obras, dentre as quais destacam-se: Teoria Crítica
“ CREONTE
- Mesmo assim ousaste transgredir minhas leis?
ANTÍGONA
- Não foi, com certeza, Zeus que as proclamou, nem a Justiça
com trono entre os deuses dos mortos as estabeleceu para os
homens.
imagem: www.dialogos2.org
Nem eu supunha que tuas ordens tivessem o poder de
superar as leis não-escritas, perenes, dos deuses, visto que és
mortal.
Pois elas não são de ontem nem de hoje, mas são sempre
vivas, nem se sabe quando surgiram.
Por isso, não pretendo, por temor às decisões de algum
homem, expor-me à sentença divina. (...)”.
do Direito, Lógica Jurídica e Interpretação das Leis, Teoria da Ciência do Direito, Fundações Públicas, Introdução
Histórica à Filosofia do Direito, Saudade do Futuro. Para maiores informações sobre o autor, v.:
http://www.academus.pro.br/professor/luizfernando/meio.htm.
5
Luís Fernando Coelho, Idem, p. 30.
6
Sófocles, Antígona, trauzido por Donaldo Schüler, Porto Alegre, L&PM, 2007, págs. 35-36.
7
Observe-se que tal processo desenvolve-se de forma bastante lenta, sendo mais notado a partir da Revolução Francesa e
do jusracionalismo, a partir do século XVIII. Em Portugal, p. ex., pode ser observada uma intensa força da Igreja na
consolidação do Império, sendo os primeiros reis considerados vassalos lígios do papa, como Afonso I, podendo ser
observados casos em que o Papa intervinha, liberando os súditos da obediência devida, como aconteceu em relação a
Sancho II (sobre o assunto, ver: A. H. De Oliveira Marques, Breve História de Portugal, Lisboa, Presença, 1996, p. 36 e
s.).
8
Sobre direitos não ocidentais com influência religiosa, cumpre salientar que ainda remanescem fortes elementos nos
direitos muçulmano e hindu (v.: René David, Os Grandes Sistemas do Direito Contemporâneo, trad. do original
intitulado ‘Les Grands Systèmes du Droit Contemporains, Droit Comparé’ por Herminio A. Carvalho, São Paulo,
Martins Fontes, 1986, p. 407 e s.).
9
As quatro questões vêm sendo objeto de discussões legislativas e judiciais. Seja a questão do casamento homoafetivo,
com exemplos concretos de adoção por ordenamentos jurídicos estrangeiros ou com vivas discussões legislativas, como
ocorre no Brasil e recentemente sucedeu na Espanha. Com referência ao aborto, a sua incorporação à esfera da legalidade
também é objeto de grandes discussões. No Brasil, o Supremo Tribunal Federal também vem examinando, com vivas
discussões sociais, a permissão de aborto com relação a fetos portadores de anencefalia. Por seu turno, não são menores
os debates relativos à eutanásia, observados nos noticiários e até mesmo em filmes de cinema. Encontra-se em
julgamento no STF a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3510, na qual é suscitada a inconstitucionalidade de
dispositivos da Lei 11.105/05 (Lei de Biossegurança) que autorizam a pesquisa com células-tronco embrionárias. Em
razão de um pedido de vista, por parte do Ministro Menezes Direito, a Sessão Plenária de julgamento está suspensa, na
ocasião já tinham votado a favor da constitucionalidade o Relator, Ministro Carlos Britto, e, com pedido de antecipação
de voto, a Presidente do STF, Ministra Ellen Gracie. Na prática, o que se discute é a compatibilidade das pesquisas com
células-tronco embrionárias com o ordenamento constitucional brasileiro.
10
O Direito, assim como o Estado, comporta vários significados, como bem demonstram as seguintes passagens: “A
palavra ‘direito’ vem do latim directum, que corresponde à idéia de regra, direção, sem desvio. No Ocidente, apesar de
em alemão ser recht, em italiano diritto, em francês droit, em espanhol derecho, tem o mesmo sentido. Para os romanos
jus era direito, diverso de justitia, no nosso sentido de justiça, ou seja, qualidade do direito.
De modo muito amplo, pode-se dizer que a palavra ‘direito’ tem três sentidos: 1º, regra de conduta obrigatória (direito
objetivo); 2º, sistema de conhecimentos jurídicos (ciência do direito); 3º, faculdade ou poderes que tem ou pode ter uma
pessoa ou seja, o que pode uma pessoa exigir de outra (direito subjetivo)” (GUSMÃO, Paulo Dourado de. Introdução ao
Estudo do Direito, Rio de Janeiro: Forense, 19ª ed., 1996, p. 55). “A palavra direito é usada em muitos sentidos. Há o
direito positivo, posto pelo Estado ou nascido das vontades nos contratos, o direito natural, fruto da ordem divina ou dela
na razão do homem, o direito vigente que, estando em vigor, se acha dotado de força e não foi revogado por outro
posterior, e o direito do futuro, que projeta um ideal jurídico ou político. O direito objetivo indica o ordenamento positivo
colocado diante de nós e o direito subjetivo a faculdade de exigir seu cumprimento” (POLETTI, Ronaldo. Introdução ao
Direito, São Paulo: Saraiva, 3ª ed. ver. e ampl., 1996, pp. 122-123).
11
O Estado, que é uma noção moderna, introduzida no período de Maquiavel, assim como Direito comporta diversos
significados e mesmo, ao longo da história, diferentes designações, como, v.g., res publica e civitas entre os romanos,
que legaram a designação status rei publicae e status rei romanae, como prováveis antecessores da designação Estado.
De tal modo, Estado é aqui considerado como conjunto político, social e jurídico, envolvendo a ordenação da sociedade,
a partir de uma população e um território definidos, estabelecendo um poder soberano no plano interno e externo. Sobre
o Estado, v.: Giorgio Del Vecchio, Teoria do Estado, trad. por António Pinto de Carvalho e pref. por Miguel Reale, São
Paulo, 1967; Alexandre Groppali, Doutrina do Estado, trad. da 8ª. ed. it. por Paulo Edmur de Souza Queiroz, São Paulo,
1953.
sem uma força externa que o aplique de forma heterônoma12. Por outro lado, se a
precedência for do Estado, o Direito é um mero instrumento de comunicação com
os súditos, não requerendo qualquer qualificação para configurar-se como
aplicável, na medida em que é um mero elemento de expressão do poder
organizado.
12
A heteronomia é um dos elementos que distinguem o Direito da moral, pois, enquanto esta é autônoma, fazendo-se
valer pela ação do grupo, o Direito requer a solução estatal dos conflitos, através de uma figura neutra, que representa o
juízo da sociedade na resolução de disputas e determina as penas eventualmente cabíveis.
13
“On définit généralement le Droit, en disant que c’est l’ensemble des règles qui gouvernent la conduite des hommes
vivant en société. Cette définition est peut-être insuffisante, en ce sens qu’il y manque l’idée essentielle de la contrainte
d’origine collective ou de la crainte religieuse qui forcent chaque membre du groupe à l’observation de ces règles ainsi
rendues obligatoires. ‘Le droit sans force, a dit durement Ihering, est un mot vide de sens.’
Mais cette force sans laquelle le Droit n’existe pas, n’est pas nécessairement celle de l’Etat, comme l’ont cru à tort
Ihering et d’autres juristes du XIXe. Siècle. En fait, le Droit a pris naissance bien avant l’Etat. La force contraignante
qui donne à la règle son caractère juridique peut venir d’une collectivité, comme la famille ou la tribu primitive, à
laquelle on ne peut pas donner le nom d’Etat. Elle peut aussi venir d’un individu plus fort que l’être auquel il impose des
règles de conduite, par exemple, du mari vis-à-vis de sa femme, du père vis-à-vis de ses enfants, ou du maître vis-à-vis de
ses esclaves. Enfin, les prescriptions religieuses rendues impératives par la crainte du châtiment divin ont un caractère
incontestablement juridique” (Henri Decugis, Les Étapes du Droit, des origines a nos jours, Paris, Sirey, 1946, p. 11).
14
Paulo Nader, Filosofia do Direito, Rio de Janeiro, Forense, p. 94.
15
HANS KELSEN (11 de outubro de 1881-19 de abril de 1973) – A biografia mais completa de Hans Kelsen foi escrita
por seu aluno e assitente: Rudolf Aladár Métall, Hans Kelsen, Leben und Werk, 1969. Identificado como o Jurista do
Século XX, nasceu em Praga e, aos três anos de idade, com a família, composta de judeus de classe média, mudou-se
para Viena. Obteve o Doutorado em Direito em 1906. No ano de 1911, KELSEN foi nomeado Professor de Direito
Público e Filosofia do Direito na Universidade de Viena, com o seu primeiro trabalho significativo, Hauptprobleme der
Staatsrechtslehre, uma obra de 700 páginas sobre a teoria do direito público.Nos anos de 1918 e 1919, KELSEN tornou-
se, respectivamente, Professor Associado e Professor Titular de Direito Público e Administrativo na Universidade de
Vienna. A década seguinte estabelece um período de desenvolvimento das atividades docentes, com vários de seus alunos
destacando-se como significativos juristas, dentre eles, ADOLF MERKL, ALFRED VERDROSS, FELIX KAUFMANN,
FRITZ SANDER, ERICH VOEGELIN, ALF ROSS, CHARLES EISENMANN, LUIS LEGAZ Y LACAMBRA e
FRANZ WEYR. Juntos, estes significativos juristas formaram a Escola de Viena (Wiener Schule). Em 1919, torna-se
uma personalidade fundamental na História do seu país, uma vez que lhe foi confiada a tarefa de elaborar um esboço na
nova Constituição austríaca, adotata em 1920 e preservada, em seus princípios fundamentais, ao longo do século. Em
1921, KELSEN é indicado para a Corte Constitucional austríaca, onde exerceu fornte influência, sendo afastado, por
motivos políticos, no ano de 1930. Na ocasião, mudou-se para Colônia, onde ensinou Direito Internacional na
Universidade. Em 1933, com a tomada do poder pelos nazistas, houve uma sensível modificação na Universidade de
Colônia, culminando com a sua remoção. Posteriormente, inicia atividades acadêmicas no Institut Universitaire des
Hautes Etudes International. O início da II Guerra Mundial e sua convicção de que a Suíça se envolveria no conflito,
motivou a decisão de KELSEN de partir, em 1940, para os Estados Unidos, onde lecionou em várias faculdades, mas
principalmente em Berkeley, onde KELSEN finalmente encontrou um ambiente calmo, conduzindo a uma intensa e
profícua atividade, especialmente no ensino do Direito Internacional. Em 1945, tornou-se conselheiro legal das Comissão
de Crimes de Guerra das Nações Unidas, em Washington, com a tarefa de preparar os aspectos jurídicos e técnicos do
Tribunal de Nuremberg. HANS KELSEN morreu em Berkeley, em 19 de abril de 1973, aos 92 anos, deixando
aproximadamente 400 trabalhos, legado de uma imensa vida produtiva. Muitos de seus trabalhos foram traduzidos para
aproximadamente 24 línguas. Em 1971, ao celebrar seus 90 anos de vida, o governo austríaco fundou o Hans Kelsen
Institute, em Viena, onde estão a maioria dos seus escritos originais e é também a entidade mantenedora de seu
importante legado cultural. O Instituto, por exemplo, produziu a primeira edição do General Theory of Norms, em 1979.
A influência de KELSEN continua a ser observada especialmente através da Teoria Pura do Direito, positivismo jurídico
crítico (Direito Constitucional e Direito Internacional), Filosofia do Direito (temas como justiça e direito natural),
Sociologia (causalidade e retribuição), Teoria Política (democracia, socialismo e bolchevismo) e críticas da ideologia.
Remanescendo, KELSEN, como a principal referência do pensamento jurídico. Imagem e dados biográficos podem ser
examinados no site do Hans Kelsen Institut: http://www.univie.ac.at/staatsrecht-kelsen. V. tb.: LADAVAC, Nicoletta
Bersier, “Hans Kelsen (1881 - 1973) Biographical Note and Bibliography”, in European Journal of International Law,
v. 9, nº 2, art. 11, http://www.ejil.org/journal/Vol9/No2/art11.html#TopOfPage.
16
Hans Kelsen, Teoria Pura, São Paulo, Martins Fontes, 2ª ed. bras., 1985, p. 302.
17
Sobre o assunto podemos adotar a síntese do constitucionalista da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,
JOSÉ JOAQUIM GOMES CANOTILHO: “Estado de direito é um Estado ou uma forma de organização político-
estadual cuja atividade é determinada e limitada pelo direito” (Estado de Direito, Cadernos Democráticos, Coleccção
Fundação Mário Soares, Lisboa, Gradiva, 1ª. ed., 1999, p. 11).
18
“Através desta centralização, a ordem jurídica do Estado distingue-se da primitiva ordem pré-estatal e da ordem
supra-estatal (ou interestatal) do Direito internacional geral” (idem, ibidem).
19
Hans Kelsen, Teoria Pura, cit., p. 302 e pp. 334 e ss.
20
Hans Kelsen, Teoria Pura, cit., p. 306, grifamos e destacamos.
21
Nos Hauptproblem der Staatsrechtslehre, KELSEN discutiu a questão da precedência confrontando os enfoques
derivados da causalidade e da imputação, para concluir pela concomitância, em face da unicidade, que posteriormente
ganhou o aporte filosófico a partir da construção de HERMANN COHEN (Ethik des reinen Willens) para quem havia um
nexo entre o objeto do conhecimento e a direção do conhecimento (Sobre o assunto: LOSANO, Mario. Teoría Pura del
Derecho, Evolución y Puntos Cruciales, Bogotá, Temis, trad. de Jorge Guerrero R., 1992, pp. 20 e ss). A questão é ainda
examinada, talvez a fórmula que mais expresse uma remanescente preocupação com a matéria seja a autopoiética, ao
expressar a auto-referência como uma resposta para o ‘dilema’: “(...) o direito positivo é um direito auto-produzido, não
apenas no sentido de que é produto do homem, mas sobretudo no sentido de que é produto do próprio direito”. A tese
autopoiética expressa por GUNTER TEUBNER vai ser repetida na sua obra em várias passagens (O Direito como
Sistema Autopoiético, Coimbra, Calouste Gulbenkinan, trad. do original intitulado Recht als Autopoietisches System
(1989) por José Engrácia Antunes, 1993, p. 3, grifamos).
22
A noção de sociedade politicamente organizada pode ser observada em Maquiavel (O Principe, São Paulo, RT, 1996,
pp. 21 e ss.), como também ser observada já em noções gregas e romanas. Mas os elementos e a forma de manifestação
do Estado são uma construção da modernidade, do momento em que surgiram os Estados na configuração pós-feudal.
Ver: DEL VECHIO, Giorgio. Teoria do Estado, trad. por António Pinto de Carvalho, São Paulo, Saraiva, 1957, pp. 22 e
ss.
23
ROUSSEAU, Jean-Jacques (1712-1778). O contrato social, trad. do original intitulado Du Contrat Social por Antonio
de Pádua Danesi, São Paulo, Martins Fontes, 1989, pp. 20-21.
24
A realidade contemporânea, em que os relacionamentos matrimoniais não duram a vida inteira, sujeitos à separação e
ao divórcio, há posições que apontam para uma poligamia seqüencial, mas tal reflexão não é relevante para a presente
representação.
25
Com a observação de que, no sistema federativo norte-americano, esse “nosso direito” pode variar de um Estado para
outro, de modo que um indivíduo do Oklahoma poderia ouvir de um californiano a resposta, “no nosso direito é
permitido o casamento entre pessoas do mesmo sexo”.
26
Dentre as suas obras podemos destacar a seguinte: Direito Constitucional, Coimbra, Almedina. O Professor
CANOTILHO é um dos expoentes do direito constitucional e sua biografia é assim apresentada na página da Faculdade
de Direito: “Foi regente de várias disciplinas da Secção de Jurídico-Políticas tendo neste momento a seu cargo Direito
Constitucional nas Licenciaturas em Direito e Administração Pública. Foi defensor oficioso junto de tribunais militares
durante três anos. Foi Vice-Reitor da Universidade de Coimbra e Vice-Presidente do Conselho Directivo da Faculdade de
Direito. Fez a sua preparação para o doutoramento em Freiburg e Heidelberg, na então República Federal da Alemanha.
Exerceu funções de Conselheiro de Estado e é autor de um vasto número de obras entre as quais se destacam
Constituição Dirigente e Vinculação do Legislador, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Constituição da
República Portuguesa Anotada, Protecção do Ambiente e Direito da Propriedade (Critica de Jurisprudência Ambiental),
Direitos Humanos, Estrangeiros, Comunidades Emigrantes e Minorias, Peter Häberle: Ein "Príncipe" auf dam Gebiet dês
Por outro lado, quando nos referimos à dicotomia entre a “eu tenho
direito” (1) e “o nosso direito” (2), estamos nos referindo às noções de direito de
um sujeito (direito subjetivo) e à variedade de direitos como objeto ou expressão
do ordenamento jurídico de uma determinada sociedade (direito objetivo).
Verfassungsrechts.” (https://woc.uc.pt/fduc/person/ppgeral.do?idpessoa=112).
27
Bartolomé Clavero, Introducción histórica del derecho, v. I, cit., p. 10-11.
28
Devemos ter em mente, contudo, que o Dicionário Aurélio não faz tal distinção, não sendo, portanto, um erro a grafia
com letra minúscula.
diz: “O resultado, depois de não ser marcado aquele pênalti, foi uma injustiça!”
Sorrindo, o outro responde: “Ao contrário; foi feita justiça (1) ao time que jogou
melhor”.
29
Personagem de Leon Tolstói (1828-1910), v.: A morte de Ivan Ilitch, trad. por Vera Karam, Porto Alegre, LP&M,
1997.
escolhem por deméritos as suas vítimas. Ainda que muitos acreditem que “está
escrito”, a própria “escritura” não é resultado de um juízo de mérito.
30
As funções do Estado seriam, na forma predominantemente admitida, as funções administrativa, legislativa e judicial,
representando, respectivamente, os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
31
PLÁCIDO E SILVA. Vocabulário Jurídico, v. I, Rio de Janeiro, Forense, 1987, p. 75.
32
No alfabeto latino clássico, além das letras W, Y e Z, não existiam as letras J e U, daí a primeira ser substituída pelo I e
a segunda ter a grafia do V. Portanto, na língua da inscrição INRI (IESVS NAZARENVS REX IVDAEORVM) as
palavras de Júlio César teriam sido: “ALEA IACTA EST” (a sorte está lançada).
33
Respectivamente: justiça, Direito, jurista e erro de justiça (ou judicial).
34
Adotadas entre os séculos XIII e XIV, várias palavras com orígem latina estão relacionadas ao Direito, como na lista
acima, significando, respectivamente: justiça (mas também determinados agentes da Justiça, como os Juízes da Suprema
Corte, v.: http://www.supremecourtus.gov), justo, jurídico, judicial, juiz, jurisprudência, jurisdição, julgamento.
35
VON JHERING, Rudolf. A luta pelo direito. Rio de Janeiro: Forense, trad. João de Vasconselos, 5ª ed. bras., 1986.
36
Nascido na França, em Libourne, LEÓN DUGUIT foi Catedrático das Universidades Caen e de Bourdeaux,
destacando-se como um inovador no plano do direito público. Sua obra principal, Traité du Droit Constitucionnel, de 5
volumes, foi publicada em 1911, sendo concebida como uma obra clássica do direito francês. A obra citada é a seguinte:
DUGUIT, Léon. Fundamentos do Direito. São Paulo: Ícone, trad. de Márcio Pugliesi, 1996.
fonte: ww.u-bordeaux4.fr
Agora fica claro que a menção ao “nosso direito” permite tal ou qual
ato ou negócio na vida entre as pessoas (e.g., casamento poligâmico ou
autorização para dirigir aos 16 anos), representando, inequivocamente, o direito
na sua acepção objetiva.
37
ENGISH, Karl. Introdução ao pensamento jurídico. Lisboa: Fund. Calouste Gulbenkian, 3ª ed., trad. do original
alemão intitulado Einführung in das Juristische Denken (1964) e prefácio de J. Baptista Machado, 1977.
Direito tal e qual é hoje, ou como foi no passado, e não como deveria ou
haveria de ter sido (...)”38.
38
LOSANO, Mario G.. Los grandes sistemas juridicos. Madrid: Debate, 1ª reimpr., trad. do original intitulado I Grandi
Sistemi Giuridici por Alfonso Ruiz Miguel, 1993, p. 33.
39
Nascido no Piemonte, NORBERTO BOBBIO (1909-2004) centrou suas atividades no estudo da filosofia política e
jurídica, exercendo suas atividades, na área da filosofia do direito, nas Universidades de Camerino (1935-1938), Siena
(1938-1940) e Padova (1940-1948), militou em grupos anti-fascistas vindo, após a guerra, a lecionar em Torino (1972-
1979), vivenciou a resistência ao fascismo, foi membro do partido socialista e pensador de destaque na Itália e no
exterior, quando se torna Professor Emérito daquela Faculdade, mas nunca deixa de aliar às atividades de professor e
filósofo, a sua atividade política, sendo nomeado (1984) Senador vitalício da Itália. A influência do pensamento de
BOBBIO pode ser aquilatada pelo número de suas obras traduzidas para o português, com destaque para: Teoria da
Norma Jurídica, 2005; Dicionário de Política, 2004; A Era dos Direitos, 2004; Estado, Governo, Sociedade, 2004; O
Problema da Guerra e as Vias da Paz, 2003; Locke e o Direito Natural, 2003; Teoria do Ordenamento Jurídico, 2003, O
Filósofo e a Política, 2003; Ensaios Sobre Gramsci e o Conceito de Sociedade Civil, 1999; O Positivismo Jurídico, 1995;
As Ideologias e o Poder em Crise, 1995.
40
BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. Brasília: Ed. UnB, trad. do original italiano intitulado Teoria
Dell’Ordinamento Giuridico (1982), por Cláudio de Cicco e Maria Celeste C.J. Santos, p. 21.
41
No mesmo sentido:Bartolomé Clavero, Instituicion historica del derecho, v. I, Madrid, Marcial Pons, 1992.
42
Henry David Thoreau (1817-1862), pilar do pensamento anarquista, motivando líderes pacifistas à não-ação (ou
sujeição pacífica) como foi o caso de Gandhi e Martin Luther King, desenvolveu seu ensaio sobre a Desobediência Civil
em função de questionamentos acerca de sua prisão por não pagar impostos, dizia ele que o Estado só se manifestava uma
vez por ano, para cobrar-lhe os impostos, logo a ele pediam que financiasse duas coisas que julgava abomináveis: a) a
Guerra dos EUA com o México, por ser contra as guerras e sobretudo contrário à anexação violenta de territórios
mexicanos; e, b) a escravidão, que ele questionava com veemência (A Desobediência Civil, Porto Alegre, L&PM, 1997,
p. 23-24).
experiência histórica nos apresenta uma situação bem mais definida, na posição
de GUSTAV RADBRUCH43 com relação ao direito nazista.
43
Nascido em Lübeck, GUSTAV RADBRUCH (1878 – 1949), tendo lecionado nas Universidades de Königsberg, Kiel e
Heidelberg, o jurista e filósofo do direito também teve um papel importante na política, como Ministro da Justiça do
governo de Weimar (1921 – 1923). Mesmo sendo inicialmente identificado com o positivismo e com o relativismo
jurídico, com o advento do nazismo ele ultrapassa tais fronteiras, aproximando-se do direito natural, como fonte de
elementos inatos ao Direito e à justiça. É relacionada ao seu questionamento, relativo ao direito e à justiça, a ‘Fórmula de
Radbruch’, na qual questiona a legitimidade de um ordenamento jurídico quando a sua divergência com os preceitos de
justiça atinja um nível intolerável, neste sentido questiona o direito nazista e inaugura uma noção incorporada à noção de
Estado de Direito, consubstanciada no direito de resistência dos cidadão frente a uma ordem injusta e portanto nula, um
direito mas também um dever, pois mesmo o respeito às leis de um ordenamento injusto é vedado aos que exercem o
poder.
44
Süddeutsche Juristenzeitung, 1, 1946, p. 105-108.
45
Exemplos: um Decreto do Presidente não pode criar um imposto, pois é matéria reservada à lei (v.: art. 150, I, CF), ou
uma Lei municipal que estabelece que beijar nas praças públicas é crime, punido com detenção, pois a matéria penal é de
competência legislativa da União (v.: art. 22, I, CF).
46
Uma lei federal que estabelece a pena de morte (v.: art. 5º, XLVII, a, CF).
47
Nuno J. Espinosa Gomes da Silva, História do direito português, cit., p. 18-19.
48
Norberto Bobbio. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, trad. do original intitulado L’età dei Diritti por Carlos
Nelson Coutinho, 1992, p. 1.
49
É natural que, ao longo dos tempos, a afirmação de leis escritas, impostas pelo poder político, instituído numa
determinada sociedade, seja um dos elementos principais para a verificação dos costumes de tais povos, sobretudo porque
o Direito é vida, expressão da regulação da vida em sociedade.
50
“Partamos de um modelo histórico evolucionista. Ou seja, de um modelo que conceba a história como uma
acumulação progressiva de conhecimento, de sabedoria, de sensibilidade. Nesta perspectiva, também o direito teria tido
a sua fase juvenil de rudeza. Contudo, o progresso da sabedoria humana ou as descobertas de gerações sucessivas de
grandes juristas teriam empurrado o direito, progressivamente, para o estado em que hoje se encontra; estado que,
nessa perspectiva da história, representaria um apogeu. Nesta história progressiva, o elemento legitimador é o contraste
entre o direito histórico, rude e imperfeito, e o direito dos nossos dias, produto de um imenso trabalho agregativo de
aperfeiçoamento, levado a cabo por uma cadeia de juristas memoráveis” (António Manuel Hespanha, Panorama
Histórico..., cit., p. 19). Sobre o assunto, v.: Jean Carbonnier, Flexible droit, pour une sociologie du droi sans rigueur,
Paris, L.G.D.J., 8e. éd., 1995, p. 10 et seq.
51
Sinteticamente, poderíamos dizer que a filosofia da história analisa o estágio de desenvolvimento da sociedade ao
longo dos tempos. Não desconhecemos a concepção de NORBERTO BOBBIO, que identifica na experiência jurídica um
elemento relevante para aferição do desenvolvimento da sociedade, mais precisamente através da afirmação dos direitos
humanos. Sobre o assunto, ver: BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Rio de Janeiro: Campus, trad. do original
intitulado L’età dei Diritti por Carlos Nelson Coutinho, 1992.
52
Clóvis do Couto e Silva, “O direito civil brasileiro em perspectiva histórica e visão de futuro”, in RT 628:07.
53
Michel Fromont, Grands systèmes de droit étrangers, Paris, Dalloz, 2005, p. 2.
54
Mário Júlio de Almeida Costa, História do Direito Português, Coimbra, Almedina, 3ª ed., 1999, p. 29-31.
55
Para os propósitos da disciplina de História do Direito, sob o programa da UFRGS, o exame da História do
Pensamento Jurídico é objeto de disciplina própria, o que não exclui, na interação dos elementos essenciais ao exame
histórico, que se faça a remissão às idéias jurídicas que acompanham a transformação histórica do Direito.
56
Nuno J. Espinosa Gomes da Silva, História do direito português, fontes do direito, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2ª ed., 1991, p. 16 et. seq.
57
Idem, ibidem.
58
Embora a tradição jurídica seja formada por sanções coercitivas, em que o poder organizado impõe uma penalização
para uma conduta (p. ex.: “Art. 121. Matar alguém: Pena – reclusão, de seis a vinte anos”, CP). No entanto, não deve
ser desconsiderada a possibilidade de sanções premiais, ou seja, de benefícios derivados de uma conduta desejada (p. ex.:
desconto no Imposto de Propriedade de Veículos Automotores - IPVA quando o motorista passa um determinado tempo
sem levar multa).
59
Nuno J. Espinosa Gomes da Silva, História do direito português, fontes do direito, Lisboa, Fundação Calouste
Gulbenkian, 2ª ed., 1991, p. 17.
60
Idem, ibidem. O autor faz referência a NORBERTO BOBBIO, que considera que o costume “realiza-se mediante um
processo preterintencional” (La consuetudine comme fatto normativo, Padova, 1942, p. 31).
Lei Costume
Sociedade Sociedade
Direito Direito
Por outro lado, deve-se também ter presente que a lei está sujeita a
limites na transformação da sociedade, na maior parte das vezes a sua função é
absorver e aproveitar a publicidade inerente à lei (que só vige após instrumentos
de publicização) para incorporar regras que muitas vezes derivam de costumes
enraizados na própria sociedade. Um desafio absoluto da lei em relação à
61
Muitas vezes fazemos referência a uma faceta do jeitinho brasileiro, quando mencionamos as leis que não pegam, mas
MÁRIO JÚLIO DE ALMEIDA COSTA bem demonstra que este fenômeno é atemporal e universal: “Uma coisa é o
direito que o legislador estatui para os componentes de um agregado social e coisa diversa pode representar o direito
que de facto se adopta. Hoje em dia, as normas contidas nos diplomas legais coincidem fundamentalmente com os
preceitos jurídicos por que os seus destinatários se regem. Contudo, entre os povos antigos, verifica-se, não raro, um
esforço constante dos legisladores para estabelecer a observância de normas jurídicas inovadoras e mais perfeitas, ao
mesmo tempo que existe grande resistência da população, que continua apegada às instituições tradicionais” (História
do direito português, cit., p.30-31.
62
Sobre o assunto, v.: Norberto Bobbio, A era dos direitos, Rio de Janeiro, Campus, 1992, p. 73.
63
Sabe-se que a divisão dos ramos do Direito é um fenômeno recente, portanto, os textos legais antigos não fazem
distinções entre normas referentes à organização e ao exercício do poder estatal, às matérias civis ou públicas. Um
exemplo típico é a relação entre a responsabilidade criminal e civil observada no Corpus Iuris Civilis, onde não havia
uma distinção nítida para verificação de um interesse social derivado da lesão (p. ex.: furto – responsabilidade penal) ou
apenas um interesse de particulares (p. ex., uma pessoa que quebra um bem de outra pessoa – responsabilidade civil).
64
Nem todas as condutas vedadas na esfera penal é constituída por crimes, comportando, ao longo dos tempos,
modalidades menos graves (p. ex.: contravenção).
65
Normalmente prevista, em seus aspectos essenciais, pelo direito constitucional, e no seu detalhamento e aplicação
prática, pelo direito administrativo.
66
Aqui regulam-se as possibilidades contratuais (p. ex., compra e venda, locação, etc.); a responsabilidade civil (dever de
indenizar em função de danos); a formação e proteção da propriedade e a definição dos usos que podem ser dados através
de restrições (p. ex., posse, usucapião, poderes e deveres derivados da propriedade, direitos reais limitados de gozo e
fruição – usufruto, servidão, etc. – ou de garantia – alienação fiduciária, hipoteca, etc. -; a formação e dissolução das
sociedades conjugais (p. ex., casamento, união estável, separação, divórcio), os poderes e deveres frente aos filhos,
legítimos e adotivos; a transmissão dos bens em função da morte (sucessão).
67
John Gilissen, Introdução Histórica ao Direito, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1995, p. 13.
68
Idem, ibidem.
69
Idem, ibidem.
70
No mesmo sentido: Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed.
(reimpressão), 1999, p. 24.
71
António Manuel Hespanha, Panorama Histórico..., cit., p. 15.
72
António Manuel Hespanha, Panorama Histórico..., cit., p. 16.
73
Nuno J. Espinosa Gomes da Silva. História do direito português. Fontes de Direito. 2. ed. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1991, p. 25.
74
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 24-25.
prevalecer, uma vez que “visa uma compreensão dos fatos, das idéias e das
instituições do passado na sua sequência ou dependência orgânica, dentro de um
processo causal e teológico”, concebendo-se a história de forma científica, através
de métodos próprios de investigação, análise e crítica75.
75
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 26-27.
76
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 27.
Narrativa:
Concepção Crítica:
Tirandentes foi
processado em 1790
- Quais os motivos
e a sua sentença de
da condenação de
enforcamento,
Tiradentes?
esquartejamento e
- Quais os efeitos da
exposição das partes
Inconfidência
do corpo, foi
Mineira?
cumprida em 21 de
- Qual a razão de tais
abril de 1792.
penas e como
Despojos de Tiradentes (Cândido Portinari)
evoluíram as penas?
Perspectiva - Etc.
acrítica:
- Tiradentes foi
condenado à morte
e ao
esquartejamento.
77
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 28.
78
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 28.
79
“Outra é, sem dúvida, a óptica filosófica de análise do direito, que pretende colocar, na órbita do jurídico, os
problemas ou interrogações que constituem o discurso filosófico. Tais são, como não se ignora o problema gnoseológico
ou do conhecimento (qual a natureza e a validade do conhecimento humano?), o problema ontológico ou do ser (em que
consiste a realidade nas suas diferentes estruturas?), o problema axiológico ou do valor (qual o sentido e a hierarquia
dos fins de acção?) e, ainda, embora sem verdadeira especificidade no campo do direito, o problema metafísico ou do
absoluto (qual o sentido último do mundo e da vida?)” (Idem, ibidem).
16) Plano de exposição – Para que possamos examinar o direito brasileiro sob
uma perspectiva integrada com a experiência histórica, devemos observar a
História Geral do Direito (I) e, posteriormente, inserir a análise da História do
Direito Brasileiro (II).
80
Mário Júlio de Almeida Costa, História do direito português, Coimbra, Almedina, 3ª ed. (reimpressão), 1999, p. 28.
81
A observação de MICHEL FROMONT, ao identificar a diversidade de direitos romanistas (Grands
systèmes de droit étrangers. 5. ed. Paris: Dalloz, 2005, p. 7), deve ser observada a partir das peculiaridades
sócio-políticas dos países latino-americanos, pois os processos de independência foram influenciados pela
experiência norte-americana, não apenas por uma ascendência cultural, mas, sobretudo porque, à exceção do
Brasil, as instituições imperiais não poderiam ser reproduzidas nas antigas colônias. O modelo monárquico
absolutista, talvez responsável pela não afirmação de uma estabilidade política representativa dos valores da
revolução francesa no plano constitucional (v. infra, quadro das constituições francesas), não deixa de ser
preservado nos países europeus, como bem constata HANS KELSEN, ao afirmar: “A teoria jurídica da
monarquia constitucional ainda tem atualmente – onde essa forma de Estado tende a passar para o segundo
plano – uma grande influência. Seja conscientemente, onde se pretende organizar a República com base no
modelo da monarquia, com um forte poder presidencial, seja inconscientemente, a doutrina do
constitucionalismo determina em grande medida a teoria do Estado. Como a monarquia constitucional
originou-se da monarquia absoluta, sua doutrina é, conseqüentemente, guiada sob muitos aspectos pelo
desejo de fazer que pareça a menor e mais insignificante possível a diminuição sofrida pelo monarca,
outrora absoluto” (Jurisdição constitucional. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 127).