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Especialização em Língua Portuguesa e Matemática

numa Perspectiva Transdisciplinar

Módulo Metodologia do ensino:

II da Interdisciplinaridade à
Transdisciplinaridade

Unidade

3
Transdisciplinaridade, educação e ensino

Autora

Nedja Lima de Lucena


GOVERNO DO BRASIL ESPECIALIZAÇÃO EM LÍNGUA PORTUGUESA
E MATEMÁTICA NUMA PERSPECTIVA
Presidente da República TRANSDISCIPLINAR
DILMA VANA ROUSSEFF Metodologia do ensino: da Interdisciplinaridade à
Transdisciplinaridade
Ministro da Educação Unidade 3: Transdisciplinaridade , educação e ensino
ALOÍZIO MERCADANTE
Professor Pesquisador/conteudista
Diretor de Educação a Distância da CAPES NEDJA LIMA DE LUCENA
JOÃO CARLOS TEATINI
Diretora da Produção de
Reitor do IFRN Material Didático
BELCHIOR DE OLIVEIRA ROCHA ROSEMARY BORGES

Diretor do Câmpus EaD/IFRN Coordenador da Produção de


ERIVALDO CABRAL Material Didático
LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA
Diretora Acadêmica do Câmpus EaD/IFRN
ANA LÚCIA SARMENTO HENRIQUE Revisão Linguística
ELIZETH HERLEIN
Coordenadora Geral da UAB /IFRN
ILANE FERREIRA CAVALCANTE Coordenador de Design e Projeto Gráfico
LEONARDO DOS SANTOS FEITOZA
Coordenador Adjunto da UAB/IFRN
JÁSSIO PEREIRA Diagramação
GEORGIO NASCIMENTO
Coordenadora do Curso a Distância da
Especialização em Língua Portuguesa e Ilustração
Matemática numa Perspectiva Transdisciplinar GEORGIO NASCIMENTO
MARÍLIA GONÇALVES VICTOR HUGO
UNIDADE

3
Transdisciplinaridade , educação e ensino

APRESENTANDO A UNIDADE

Caro aluno:
Na unidade anterior, estudamos sobre a transdisciplinaridade a complexidade. Vimos
que ambas interagem e podem ser vistas como interdependentes. Esses conceitos implicam
na ideia da interligação de saberes, os quais têm fortes impactos na educação. Nesta
unidade, estudaremos sobre a relação entre transdisciplinaridade, educação e ensino, de
maneira que, ao final desta unidade, você deverá:

• entender a relação entre transdisciplinaridade e educação nos documentos legais


vigentes no Brasil;

• compreender o que é enfoque globalizador e quais as suas vantagens na educação.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Daquilo que eu sei


Nem tudo me deu clareza
Nem tudo foi permitido
Nem tudo me deu certeza
[...]
Não fechei os olhos
Não tapei os ouvidos
Cheirei, toquei, provei
Ah, eu usei todos os sentidos!

(Ivan Lins1)
1 Álbum Daquilo que eu sei – Faixa 1: Daquilo que Eu Sei.

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Unidade 3
Transdisciplinaridade , educação e ensino

LEGISLAÇÃO E REFERENCIAIS DE QUALIDADE

No Brasil, a educação atual é baseada, essencialmente, em dois documentos: Lei de


Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei Nº 9394/96) e Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN). Além desses, há o Plano Nacional de Educação (PNE) que complementa
a legislação vigente.

O Plano Nacional de Educação (PNE) é uma proposta de diretrizes metas para a


Educação no Brasil, com validade de dez anos, que visa à melhoria da qualidade
do ensino no país. A segunda edição do
PNE (2011-2020) ainda está em
uploads/2013/08/1841.jpg
com.br/novo/wp-content/
http://diariodocongresso.

processo de implantação no país.

Adaptado de: http://portal.mec.gov.br/index.php?op-


tion=com_content&id=16478&Itemid=1107 acesso
em 02 jul. 2013]

Figura 01- PNE.

Não há um consenso entre os documentos que norteiam a educação nacional, de


modo que, ora eles abordam aspectos da interdisciplinaridade, ora da transdisciplinaridade.
Em muitos momentos, essa abordagem está nas entrelinhas.
A LDB orienta que deve existir um vínculo entre
educação, prática social e o mundo (Artigo 1º § 2º). Já, os
PCN se configuram como os referenciais de qualidade da
Fonte: Hugo (2013).

educação. Assim, em sua composição, está a ideia de que


eles são uma proposta flexível, não homogênea, e aberta.
Isso significa que é preciso adaptá-los às especificidades de
cada região do país.
Figura 02 - Escola. Há muitas críticas a respeito desses documentos, no
entanto, devemos salientar que eles trazem contribuições
significativas para a educação no país. De um modo geral, esses documentos apontam
para uma educação que ultrapasse os conteúdos disciplinares e tenha significado para a
vida. Isso dialoga com a transdisciplinaridade que, como enfoque globalizador, não tem a
disciplina como finalidade, mas como um meio para se chegar aos objetivos educacionais
(ZABALA, 1998).
Os documentos criticam os modelos educacionais que estão centrados na figura
do professor ou da disciplina, considerando-os descontextualizados e desinteressantes,
ainda que valorizem as contribuições que esses modelos trouxeram para as discussões

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Unidade 3
Transdisciplinaridade , educação e ensino

pedagógicas atuais. Além disso, há uma forte crítica à ideia da fragmentação das disciplinas,
conforme podemos ver em:

Ao contrário de uma concepção de ensino e aprendizagem como um


processo que se desenvolve por etapas, em que a cada uma delas o
conhecimento é ‘acabado’, o que se propõe é uma visão da complexidade
e da provisoriedade do conhecimento. De um lado, porque o objeto de
conhecimento é ‘complexo’ de fato e reduzi-lo seria falsificá-lo; de outro,
porque o processo cognitivo não acontece por justaposição, senão por
reorganização do conhecimento. (BRASIL, 1997, p. 33)

No fragmento acima, fica clara a influência das discussões sobre a transdisciplinaridade


e complexidade, sobretudo, quando trata da incerteza do conhecimento, um dos princípios
da complexidade. O texto ainda ressalta a ideia de que o processo cognitivo para a
aprendizagem é perpassado por analogias e relações que fazemos entre um objeto e outro.
Como já mencionamos anteriormente, os PCN não são claros quanto à abordagem
Fonte: Nascimento (2013).

Figura 03 - Analogia.

dos conceitos. Assim, é comum vermos a interdisciplinaridade no decorrer do documento


e a transdisciplinaridade mais voltada à discussão dos temas transversais.

INTERDISCIPLINARIDADE NOS PCN

Segundo Lenoir (1998 apud FAZENDA, 2008), a interdisciplinaridade está baseada


em três níveis que dialogam, ou deveriam dialogar, entre si: o curricular, o didático e o
pedagógico. O primeiro está relacionado à organização de um currículo interdisciplinar. O
segundo diz respeito ao plano de ação para esse currículo em sala de aula. O terceiro se
configura como a atualização pedagógica do plano de ação.

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Transdisciplinaridade , educação e ensino

Para conhecer mais sobre a “interdisciplinaridade escolar”, consulte o texto


Interdisciplinaridade: as disciplinas e a interdisciplinaridade brasileira, de Mariana
Aranha Moreira José, no material complementar.

A importância da interdisciplinaridade está contemplada nos PCN, aqui destacamos


o que diz o documento do Ensino Médio:

Partindo de princípios definidos na LDB, o Ministério da Educação, num


trabalho conjunto com educadores de todo o País, chegou a um novo
perfil para o currículo, apoiado em competências básicas para a inserção
de nossos jovens na vida adulta. Tínhamos um ensino descontextualizado,
compartimentalizado e baseado no acúmulo de informações. Ao contrário
disso, buscamos dar significado ao conhecimento escolar, mediante a
contextualização; evitar a compartimentalização, mediante
interdisciplinaridade; e incentivar o raciocínio e a capacidade de
aprender. (BRASIL, 2000, p. 4) (grifo nosso)
genero-textual-seu-uso-aula-735561.
com.br/fundamental-2/conceito-
Fonte; http://revistaescola.abril.

shtml?page=1

Figura 04 - PCN.

Se analisarmos com atenção, a proposta dos PCN está alicerçada na ideia de


contextualização do conhecimento a fim de evitar a “compartimentalização” dele. Para isso,
os PCN propõem uma reforma do currículo, como podemos ver no mesmo documento,
na página 21:

a tendência atual, em todos os níveis de ensino, é analisar a realidade


segmentada, sem desenvolver a compreensão dos múltiplos conhecimentos
que se interpenetram e conformam determinados fenômenos. Para essa
visão segmentada contribui o enfoque meramente disciplinar que, na nova
proposta de reforma curricular, pretendemos superado pela perspectiva
interdisciplinar e pela contextualização dos conhecimentos. (BRASIL,
2000, p. 21)

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Transdisciplinaridade , educação e ensino

Sabemos que há um abismo entre o que propõe os PCN e a realidade educacional no


país. Mesmo trazendo a discussão sobre a inserção da interdisciplinaridade, o documento
não apresenta “uma base conceitual que possa orientar a ação pedagógica dos professores.”
(CARLOS, 2007, p. 58). Desse modo, podemos dizer que a orientação dos PCN não
ultrapassa o nível do currículo.

Que tal lermos a segunda parte da história de Julica do professor


Manoel Lopes Costa? O texto está no material complementar da
disciplina.

Um ponto positivo na atualização dos PCN é que, de algum modo, o documento


lança mão da importância do diálogo entre as áreas do conhecimento. Para Fazenda (2003
apud FAZENDA, 2008, p. 87), o diálogo é a “única condição possível de eliminação das
barreiras entre as disciplinas. Disciplinas dialogam quando as pessoas se dispõem a isto”.
Nesse sentido, a discussão sobre interdisciplinaridade se constitui terreno fértil para que
haja aprofundamento no que diz respeito ao modo de conceber o conhecimento.
Embora a interdisciplinaridade seja um
avanço, lembramos que ela ainda está pautada
na pesquisa disciplinar, conforme observamos
na seção anterior. Uma possibilidade encontrada
Fonte: Nascimento (2013).

para evitar a fragmentação do conhecimento


e estender o diálogo para além de perspectiva
disciplinar está nas discussões acerca da
transdisciplinaridade que, nos PCN, está
relacionada à adoção dos temas transversais,
Figura 05 - Disciplinas. como veremos a seguir.

A TRANSDISCIPLINARIDADE NOS TEMAS TRANSVERSAIS

A proposta que os PCN assumem para a


inserção da ideia de transdisciplinaridade na
Fonte: Nascimento (2013).

educação está relacionada aos temas transversais.


Esses temas constituem uma problemática da
sociedade e, assim, são adotados na escola não
como áreas específicas, mas como parte de todas
as áreas. Por isso, dizemos que esses temas são
transversalizados, pois “atravessam” as disciplinas. Figura 06 - União.

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Os temas transversais elencados pelos PCN são: Ética, Saúde, Meio Ambiente,
Pluralidade Cultural, Orientação Sexual e Trabalho e Consumo. Para o documento, esses
temas são urgentes no cenário nacional e até universal (BRASIL, 1997).
Fonte: Nascimento (2013).

Figura 07 - Temas transversais.

Vejamos do que trata cada um desses temas:

• Ética: inseridos nessa temática, encontraremos discussões acerca de respeito mútuo,


justiça, solidariedade e diálogo.

• Saúde: nesse tema, podemos refletir acerca do cuidado com o próprio corpo
(autocuidado) e vida coletiva.

• Meio Ambiente: para esse tema, há a reflexão acerca dos ciclos da natureza, sociedade
e meio ambiente, do manejo e da conservação ambiental.

• Pluralidade Cultural: aqui, a discussão visa observar e refletir acerca dos diversos grupos
e culturas que compõem o cenário brasileiro, focalizando o respeito e a valorização das
diferenças e da memória de cada região do país.

• Orientação Sexual: nesse tema, discussões sobre o corpo (matriz da sexualidade); relações
de gênero e prevenções de doenças sexualmente transmissíveis são fundamentais.

• Trabalho e Consumo: para esse tema, é importante pensar em questões como as relações
de trabalho; trabalho, consumo, meio ambiente e saúde; direitos humanos e meios de
comunicação.

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Transdisciplinaridade , educação e ensino

Cada um dos temas é organizado a partir de justificativas que os incorporem à


educação, sem deixar de lado a flexibilidade e o tratamento adaptado a cada contexto
escolar. Essa flexibilidade é importante para que se respeitem as especificidades de
cada região e comunidade. Assim, os PCN orientam que há subtemas que podem ser
incorporados ao currículo escolar. Esses subtemas são conhecidos como “temas locais” e
estão diretamente relacionados às realidades de cada comunidade, por exemplo, numa
comunidade em que há um grande número de adolescentes envolvidos com drogas, a
temática “drogas” deve ser incorporada.

Os temas transversais estão balizados por um eixo: a cidadania. Nesse contexto, a


cidadania está como objetivo educacional maior, conforme nos apresenta a introdução dos
PCN, que está no quadro a seguir:

Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como objetivos do ensino


fundamental que os alunos sejam capazes de:

• compreender a cidadania como participação social e política, assim como


exercício de direitos e deveres políticos, civis e sociais, adotando, no dia-a-dia,
atitudes de solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o outro
e exigindo para si o mesmo respeito;

Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ttransversais.pdf. Acesso em 05 de set.2013

Desse modo, para o desenvolvimento


da cidadania, os temas transversais se
tornam ferramentas centrais. Além disso,
os temas representam questões sociais que
não devem ser tratadas como estanques,
Fonte: Nascimento (2013).

mas devem permear toda a vida escolar do


aluno, desde as séries iniciais às discussões
no ensino superior. Este último numa
perspectiva crítica diferente.
A orientação do documento é que os
Figura 08 - Cidadania. professores incluam os temas nas discussões
de seus conteúdos, fazendo a conexão
entre estudo escolar e questões sociais, de maneira que os conhecimentos adquiridos na
escola sejam conhecimentos para a vida. Assim, não há a necessidade do professor parar
para trabalhar um tema ou outro, mas que esse tema “passeie” entre conteúdos abordados.
Vale salientar que a organização didática escolhida pela escola vai direcionar o modo como

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esses temas serão apreendidos, de maneira que a profundidade, a extensão e integração


das áreas sejam articuladas nos diversos níveis. (BRASIL, 1998)
Vejamos algumas considerações sobre o trabalho com os temas transversais na escola
(BRASIL, 1998):

• O link entre os temas transversais e as áreas carece de ocorrer no seio da discussão


sobre questões que perpassam os temas e devem ser respondidas ou vistas pela ótica
das diversas áreas.

• A inserção dos temas transversais permite à escola refletir e atuar numa perspectiva
político–social.

• A transversalidade pressupõe uma mudança na prática pedagógica, pois desfaz os


nichos formais das áreas, amplia a responsabilidade com a formação dos alunos a partir
do diálogo entre professores, alunos e comunidade.

• Os temas transversais implicam um trabalho sistematizado e contínuo que está inscrito


durante toda a experiência escolar do aluno.
Como podemos ver, a inserção dos temas transversais no âmbito escolar sugere uma
mudança de paradigma, ou seja, um redirecionamento da prática pedagógica. Essa
mudança está implicada nas políticas educacionais, na formação dos professores e na
postura educacional de toda a comunidade escolar.

Para conhecer melhor os modelos tradicionais da educação brasileira, leia o


texto de Akiko Santos: Teorias e métodos pedagógicos sob a ótica do pensamento
complexo, disponível nas leituras complementares

Cabe destacar que a escola não é


responsável pela transformação social,
mas tem importância direta nessa
transformação. Nessa perspectiva, Morin,
Ciurana e Motta (2003, p. 64) destacam
que
Fonte: Hugo (2012).

Figura 09 - Escola.

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o principal objetivo da educação na era planetária é educar para o


despertar de uma sociedade-mundo [...], a missão da educação para a
era planetária é fortalecer as condições de possibilidade da emergência de
uma sociedade-mundo composta por cidadãos protagonistas, consciente
e criticamente comprometidos com a construção de uma civilização
planetária.

Logo, podemos ancorar o trabalho com os temas transversais como um ponto de


partida de uma educação para o futuro.

ENFOQUE GLOBALIZADOR COMO PROPOSTA

Para Libâneo (2005), na educação brasileira, podemos destacar, historicamente,


algumas tendências pedagógicas que permearam a educação ao longo do tempo, tais
como: a tradicional, a renovada, a tecnicista, entre outras. Como já mencionamos acima,
essas tendências ora focalizavam o professor, ora a disciplina, de maneira que as lacunas
deixadas por elas culminaram em discussões pedagógicas que passaram a pensar no
redimensionamento dos papéis do professor, do aluno, dos conteúdos, dos materiais
didáticos e da comunidade escolar. Contribuíram para essas discussões, as correntes
pedagógicas: neocognitivistas, como o construtivismo; sociocráticas, por exemplo, a
sociologia crítica do currículo; e holísticas, como a teoria da complexidade. Destacamos,
ainda, a contribuição e influência de Paulo Freire na educação.
De maneira geral, essas discussões
culminaram na elaboração da proposta da LDB e
dos PCN, como vimos acima. Esses documentos,
a todo o momento, explicam a importância de
relacionar os conteúdos aos contextos e dos
Fonte: Nascimento (2013).

alunos, na garantia de que eles ganhem “sentido”


para a vida. Porém, como fazer com que os
diferentes saberes possam ser articulados?
Já vimos que os temas transversais e seu
conjunto de temáticas se apresentam como
Figura 10 - Aluno como centro. uma alternativa. Zabala (1998) explica que,
para isso, há a necessidade de organização dos
conteúdos de maneira que, quanto mais ligados e relacionados esses conteúdos estejam,
mais significativo se torna o seu aprendizado. O autor critica a organização tradicional
dos conteúdos em disciplinas ou “matérias” e propõe a investigação dos conteúdos em
conceituais, procedimentais e atitudinais.

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Transdisciplinaridade , educação e ensino

Para conhecer um pouco mais sobre tipologia de conteúdos, faça uma pesquisa na
internet considerando as palavras-chave: conteúdos conceituais, procedimentais e
atitudinais.

Para Zabala (1998), existe uma diferença primordial acerca das propostas de
organização dos conteúdos: a primeira organiza-os de maneira que a disciplina é o ponto
de partida, assim, os conteúdos podem estar relacionados a uma, duas ou mais disciplinas.
Essa é forma multidisciplinar, pluridisciplinar e, em alguns casos, até interdisciplinar de
organizar os conteúdos. Na segunda proposta, organizada em unidades didáticas, os
conteúdos passam de uma disciplina para outra de modo contínuo, de maneira que as
disciplinas são os meios ou as ferramentas para os objetivos educacionais, todavia, jamais
se configuram como a finalidade deles. Essa segunda proposta é o que Zabala chama de
“método globalizado”.
Ainda, segundo o autor, cada uma dessas propostas subjaz uma concepção de ensino.
Sendo assim, a tendência da primeira é a centralidade dos conteúdos de cada disciplina,
enquanto que a segunda tem em seu núcleo o aluno e suas necessidades educacionais
gerais.
É importante destacar que o autor explica que entre um polo (disciplinas) e outro
(aluno) há diversas singularidades; portanto, essas propostas “não são excludentes, mas
somatórias” (ZABALA, 1998, p. 142). Ele ainda acrescenta que

os métodos globalizados nascem quando o aluno se transforma no


protagonista do ensino; quer dizer, quando se produz um deslocamento do
fio condutor da educação das matérias ou disciplinas como articuladoras
do ensino para o aluno e, portanto, para suas capacidades, interesses e
motivações.

No decorrer da história
educacional, há o registro de métodos
globalizados, de maneira que podemos
nos valer de suas contribuições para
a nossa prática pedagógica, de modo
sucinto, são eles:
Fonte: Nascimento (2013).

• Centros de interesse: elaborado a


partir do pensamento de que há
diferenças entre os indivíduos e de
que a educação deve ser baseada
na vida. Além do mais, destaca que
a aprendizagem possui uma mola Figura 11 - Enfoque globalizador.

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propulsora: o interesse. Nesse método, elege-se um núcleo motivador e parte-se para a


observação direta, a associação no espaço e tempo e a expressão através das linguagens.

• Método de projetos: partindo da ideia de interesse e esforço, esse método implica a


escolha de um tema global que interessa aos alunos; logo, eles se tornam protagonistas
do trabalho. Esse método implica as seguintes fases: intenção, preparação, execução e
avaliação. Destaca-se aqui a coletividade, característica necessária para que o projeto
obtenha êxito, e haja o fortalecimento de atitudes de iniciativa e cooperação.

• Estudo do meio: nesse método, a ideia subjacente é que os alunos trazem consigo muitas
experiências apreendidas de modo natural a partir do meio. Nesse caso, a pesquisa
parte daquilo que o aluno já conhece e lhe é familiar, perpassando as seguintes etapas:
motivação, explicitação de problemas (problematização), respostas intuitivas (hipóteses),
determinação de instrumentos para a busca de informação, planejamento, coleta de
dados, classificação dos dados, conclusões, generalização, expressão e comunicação.
Para esse método, é importante que a pesquisa esteja relacionada à experiência.

• Projetos de trabalho globais: a partir dos alunos, e com a mediação do professor, a


ideia é que seja elaborado um dossiê com as informações acerca de uma questão
escolhida pelos alunos. Para esse trabalho, destacam-se as seguintes fases: escolha do
tema, planejamento do desenvolvimento do tema, busca e tratamento da informação,
elaboração do dossiê de síntese, avaliação e novas perspectivas. Nesse sentido, cada
aluno deve encontrar um lugar de participação de maneira que o trabalho seja
colaborativo.
Há muitas críticas em relação a esses métodos, no entanto, não podemos deixar de
destacar que eles possuem aspectos primordiais: a centralidade do aluno e o ponto de
partida de uma situação real. Além disso, eles pressupõem uma realidade e nesta realidade,
o aluno precisa se desenvolver. (ZABALA, 1998). Podemos acrescentar, ainda, que partindo
dos contextos reais e do interesse do aluno, os conteúdos ganham vida e significado. Nesse
sentido, tais métodos constituem avanço na perspectiva do processo de aprendizagem.
Mais recentemente, podemos destacar a importância do trabalho com sequências
didáticas, também chamadas de projetos ou atividades sequenciadas, nos PCN. As
sequências didáticas pressupõem uma série de passos
encadeados, os quais “favorece(m) a compreensão
da multiplicidade de aspectos que compõem a
realidade, uma vez que permite a articulação de
Fonte: Nascimento (2013).

contribuições de diversos campos de conhecimento”


(BRASIL, 1998, p. 41). Esse tipo de trabalho está
diretamente relacionado aos temas transversais, os
quais tratamos na seção anterior, isso porque esses
temas se configuram como problemáticas que
perpassam todos os campos do saber. Figura 12 - Atitude.

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Como já mencionamos, o trabalho transdisciplinar envolve uma mudança na postura


pedagógica de toda a equipe escolar. Essa mudança pode ser relacionada ao que Morin
(2003, p. 99) chama de reforma do pensamento, para ele “não se pode reformar a
instituição sem uma prévia reforma das mentes, mas não se podem reformar as mentes
sem uma prévia reforma das instituições”. Assim, a escola precisa de transformações e os
educadores também. Nesse sentido, podemos considerar como um dos pontos principais
dessa mudança, a postura pedagógica do educador, a qual é o tema da nossa próxima
unidade.

Sugestão de filme: Pro dia nascer feliz

Brasil, 2007, 88min

Direção: João Jardim

Sinopse: As situações que o adolescente brasileiro


enfrenta na escola, envolvendo preconceito,
precariedade, violência e esperança. Adolescentes
de 3 estados, de classes sociais distintas, falam de
suas vidas na escola, seus projetos e inquietações.
Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/
filme-202278/> Acesso em 29 de abril de 2013.

RESUMO DA UNIDADE

Nesta unidade, estudamos como o conceito de transdisciplinaridade está inscrito


nas discussões educacionais atuais, sobretudo, nos referenciais de qualidade da
educação nacional, os PCN. Vimos que esse documento, algumas vezes, refere-se à
interdisciplinaridade, outras à transdisciplinaridade e, em muitos momentos, as concepções
sobre a transdisciplinaridade estão nas suas entrelinhas. Ademais, vimos que a proposta dos
temas transversais é uma tentativa de diálogo e inter-relação entre as diversas disciplinas, na
tentativa de superar a fragmentação. Além disso, estudamos o que é o enfoque globalizador
e vimos exemplos de métodos que adotam esse enfoque. Finalizamos observando que a
transdisciplinaridade implica uma mudança na prática pedagógica.

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ATIVIDADES

1. Veja, no quadro a seguir, o texto de Mariana Aranha Moreira José,


“Interdisciplinaridade: as disciplinas e a interdisciplinaridade brasileira”, em que a
autora escreve:

Trabalhar com temáticas atuais permite o desenvolvimento de


comparações entre realidades diferentes. Possibilita ao aluno questionar, pôr
em dúvida determinadas verdades e, a partir delas, elaborar explicações. É
nesse exercício de pergunta e pesquisa, de possibilidades de respostas (que
podem ser diferentes, não precisam ser iguais às esperadas pelo professor) que o
aluno constrói a capacidade de argumentar, refletir e inferir sobre determinada
realidade. É no repensar constante da prática, no diálogo entre os professores
e com os teóricos, que as concepções vão se formando e, com elas, a própria
formação do aluno.

Disponível em: http://www.planetaeducacao.com.br/portal/gepi/Interdisciplinaridade_Escolar.pdf

A partir da leitura do referido texto, explique de que modo o enfoque


globalizador dialoga com as discussões pedagógicas dos documentos educacionais
do país.
2. Observe a imagem:
transdisciplinaridade.jpg> Acesso em 29
AAAAAAAAADU/SjZxMFFMLog/s1600/
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/
Q4EtZVaI8Wo/UHraqw0gcAI/

de abril de 2013

Considerando a leitura da imagem acima, elabore um comentário abordando a


relação entre transdisciplinaridade, temas transversais e ensino.

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3. Elabore uma lista de três tópicos nos quais você apresente três motivos para
o educador adotar os temas transversais em sua prática pedagógica.

LEITURAS

LEITURAS OBRIGATÓRIAS:

JOSÉ, Mariana. Interdisciplinaridade: as disciplinas e a interdisciplinaridade Brasileira. In:


FAZENDA, Ivani (Org.). O que é interdisciplinaridade?. São Paulo: Cortez, 2008.

LEITURAS COMPLEMENTARES:

SANTOS, Akiko. Teorias e métodos pedagógicos sob a ótica do pensamento complexo.


In: LIBÂNEO, J. C.; SANTOS, A. (Orgs.). Educação na era do conhecimento em rede e
transdisciplinaridade. São Paulo: Alínea, 2005.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quatro


ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de
Educação Fundamental, 1998.

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REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei
nº 9394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de
Educação Fundamental, 1996.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Introdução


aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de
Educação Fundamental, 1997.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: terceiro e quatro


ciclos: apresentação dos temas transversais. Brasília: Ministério da Educação / Secretaria
de Educação Fundamental, 1998.

BRASIL. Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio.


Brasília: Ministério da Educação / Secretaria de Educação Fundamental, 2000.

FAZENDA, Ivani (Org.). O que é interdisciplinaridade?. São Paulo: Cortez, 2008.

JOSÉ, Mariana. Interdisciplinaridade: as disciplinas e a interdisciplinaridade Brasileira. In:


FAZENDA, Ivani (Org.). O que é interdisciplinaridade?. São Paulo: Cortez, 2008.

MORIN, Edgar; CIURANA, Emilio-Roger; MOTTA, Raúl Domingo. Educar na era


planetária: o pensamento complexo como método de aprendizagem no erro e na
incerteza humana. São Paulo: Cortez, 2003.

MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o pensamento. Rio de


Janeiro: Bertrand Brasil, 2003.

LIBÂNEO, J. C. As teorias pedagógicas modernas revisitadas pelo debate contemporâneo


na educação. In: LIBÂNEO, J. C.; SANTOS, A. (Orgs.). Educação na era do
conhecimento em rede e transdisciplinaridade. Campinas: Alínea, 2005.

ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01 - http://diariodocongresso.com.br/novo/wp-content/uploads/2013/08/1841.jpg .

Figura 02 - Autoria própria.

Figura 03 - Autotia própria.

Figura 04 - Fonte; http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-2/conceito-genero-


textual-seu-uso-aula-735561.shtml?page=1

Figura 05 - Autotia própria.

Figura 06 - Autotia própria.

Figura 07 - Autotia própria.

Figura 08 - Autoria própria.

Figura 09 - Autotia própria.

Figura 10 - Autotia própria.

Figura 11 - Autoria própria.

Figura 12 - Autotia própria.

Figura 13 - http://www.adorocinema.com/filmes/filme-202278

Figura 14 - http://2.bp.blogspot.com/Q4EtZVaI8Wo/UHraqw0gcAI/AAAAAAAAADU/
SjZxMFFMLog/s1600/transdisciplinaridade.jpg> Acesso em 29 de abril de 2013

Especialização em Língua Portuguesa e Matemática numa Perspectiva


Transdisciplinar 18

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