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J. Guinsburg ot Digi pr). Cub ‘STANISLAVSKI, MEIERHOLD & CIA. U DEDALUS - Acervo - FFLCH (EDEL wait 20900034865 ff 282 0949) 139234 lezen e740 Dios sac om ng yoru EDITORA TERSPECTIVNSA 2 Bgl Ain, 3025 101000= So Po P= Brat Teta Oi 245-388 \evediaapenpciv come ot Sumario Ao Leitor 1, StastAvsxte Mensou ‘Stanisléveki oa "No Paleo Stanislavskiano: Meierbold ‘OBsuiio de Staislavskie Meierhold: (© Encontro do Desencontro -.... - ‘Um Encenador de Muminag6es Simbolstas: Meiehol (© Teatro da Teatalidade: Meierhold - ‘Stanislévski-Meierhold: Uma Relagio Anttéica. ea auer TL, UnNovo Tearno ‘Um Novo Teatro: Stanislavski Diaghilev e O Mundo da Arte no Teatro ‘Uma Assembla de Crentesna Religio de Stanislavski......- ‘Um Teatro de Idsias: Komissarjévski. =. (OTeao como Tal: Eveéinov «+--+ [Notas para um Teatro de Sintese:Tafrov (Cenas de um Teatro de Sintese: Tarov I... CCenas de um Teatro de Sitese: Taftov IML, Na Tama pos Mestaes Richard Boleslaveki SOSA MURHOLD RCIA. Hiabima: Vakténgov O Teatro fiche de Esa: Grandes a ‘Meierholde Grotvski ‘ArtwoiceHisronco Nota... (O Teatro Russo no Séula XIX. 2s ss sea ia Contes oe aso nF doSéeulo XIX....... Sistema de Staislévsi » force Onoulsnco al 3 317 Ao Leitor Retino nesta coletinea uma série de ensaios que resltaram dos meus estudos de teatro russo e de Stanislavski e Meierhold, em par ‘cular. O material fot preparado em fungi dos cursos de ps-gradua- ‘980 que ministre no Departmenta de Artes Cénicas (ECA/USP), cons tituindo ele em larga medida 0 repertéro de seus temas. Ao mesmo tempo, devia servir de base, segundo a prépriasequéncia do programa de aulas, para um projtade livro sobre Meierhold, do qual fazia parte, inclusive, o texto editado em separado, Stanislaveki 0 Teatrode Arte de Moscou*. Nao tendo levado a cabo 0 meu intent, publique, 30 Tongo dos anos, na imprensa e em revistas universtirias, virios des- ses ensaios, mas sempre tive em mente agrupé-los mum volume que, em ‘snc, s-gusse o meu plano original edesse ao letor uma visio do ‘que foi o movimento teatral russo e sovistico das trs primeiras déca- {as do século XX, pelo menos como ele se apresentou em alguns de ‘seus maiores expoentes ¢ inovadores. Ao lado desse objetivo mais amplo, que 8 pode ser aleangado aqui de maneira parcial, diferentes artigos inseridos proporcionam leiturashistricaseestéticas especii cs, que se justficam por si, ereio eu, Por isso mesmo, pareceu-me pertinente © até elucidativo, quanto A repercussto do processo artisti- ‘co enfocado, acrescentar dois ensaios sobre a produgio de duss com- pamhiasjudaicas, uma de lingua fdichee outra de lingua hebraia,cuja arte trazia osigno de seu vinculo erginico com as tendéncias da cena + Sio Paso, Perpetva, revi, 200 STAMSLAYSKL MEIERHOLD AIA. ‘sovitieadaqueles anos. Com a mesma linha de cogitgo, inclu um trabalho sobre um dos primeirose principais divulgedores dos esinamentos stanslvskanes nor palos da América; eum recorte em contaponto, ds proposta de Meierhold ede Grotvski na cons. ttugo do espetieulo, Por fim, jlgui que seria de tiidade comple. tmentaracoletinea com uma senha do evolver histrieo do testo russono srulo XTX £08 roblemascom que se defiontava epoca em ue surgiv 0 Teato de Arte de Moscou, bem como uma pequena sh ‘opse sobre "sistema de tanisl4vsi nos ermos em qus fo coloca. o nas primeirasfrmulagdes do mesre. Com estes eselarceimentos, «pero que eto nteressado no tema encotre neste liveo subsidios ¢elemenos para reflexio sobre um dos momentos mas fecundos, ‘revolucionris a madera crag eal. “Last but not east, devo aradec Jnaiderman a litre ‘minis dos extos aul nsertos, bem como as observagieseiticas ‘sugestes, que cetamente onstituem vaiosa contribu para esta minha incurto em um terreno no quel um dos maioresconhece- ores no Brasil Parte | Stanislavski e Meierhold Stanislavski Sendo 0 nosso tema Stanislivski, devo dizer antes de mais nada insformam em receitas infaliveis. Ainda mais se tém em mira a are. E falar de Stanisvskié falar de um universo artstico. Ele é um desses gigantes que marcaram a hisria da arte, um homem de gnio ‘que realizou no palco uma revolugdo que poderfamos chamar caper nicana. O seu trabalho transfer, do artificioconvencional eda e6pia ‘mecinica para a vivencia naturale a criagdo organiea, o centro ne- vrilgico da arte c€nica, Sob o impacto de suas idas e experigncias, Ifo s6 estilo e priticas se transformaram, como a propria visio do teatro, na sua dimensio estétcae étca. Stanislivski pos no paleo da ‘Persona, a pessoa, Pols, para ele, poder-se-ia dizer, como para 0 filb- | Stasis em suas eens 0 programa de prepreg do aor desi savvo pla pla “sslema"- Mas na medn em qe lo ae tava de un cope fechad de concepoesaisicas e esualeia clea, tendo sda, drt od 8 vn 6 su enadorebjeto de uma pesguis ¢conrugto contin, parcce cater fazlo 40 que nas wadugdes do ios de Stai4ahipreferiam refer 10 Programa como “mnftdo" em ver de stems. Als, hra dese cnjuno de Haas parce confirmarplesament »dindmica cota esa shia deoomin ‘lo, bastando, para tanto, invoest os exemplos que slo on desenvolvimenos “fetundon peo prépri autre seus cecil, ritones ou no, bem come plo ‘Actor's Stadio, para nso mesclonsr at simticses ala Grows, ‘ STANILAVSHL MBIERHOLD 8 CA sofo prego, o homem € a medida de todas as coisas. na vida e na ate Homem e artista unem-se nelena amplitude do grande espiito.Espft {0 que the dtou nio apenas suas memoriveis realizagSes de ator € diretor ou suas js clissicasreflexdes sobre o fazer teatral, mas prt palmente essa obra, talvez Gnica na literatura do género, que € Minha Vida na Arre. Relato autobiogrifico de uma existéncia inteiramente ‘erista, como jf pedia Brissov" em 1902, e de uma encenagio n= ‘mimélica e ndo-repesentacional. Rémizov descreveu 0 espeticulo ‘como "uma sinenia de neve einverno, de apaziguamento ¢ incontido 10. Meyer Pat’ nape de A. Gado, Le Rlicon Teale 237 I. Sea uaa pono, pobliedo sao tala de "Verda Ini con O Mundo da Are, exec fot inpate sobre ids fais do joven diy ‘como fia pete em “ressges Lierios do Novo Tent", argo que comea= {ec lngamene 1 posgo de Brive que Merl inclea em seu DO Tear, 1912 (ef vs sare Tare, pp. 10510, N xing em uae 4 Thésre Russe, p 389, © Deis Babich em Le Décor du Theatre, p. 7 também liga expestamente& Bridsov ss eigens do “cao da conven sero, anelo™ mas a qualificagdo de “sinfonia ultraviolet” talvez encerre, ‘a ua sinestesia, um testemunho mais preciso do estilo da montagem, Data também dessa époce, com a unio da partitura de Mendelssohn € ‘texto shakespeariano de Sonho de wna Noite de Verda, o inicio das pesquisss meierholdianas sobre o espeticulo de base musical "Todavia, no todo, tas tentatvas de materalizar em termos cén ‘08 uma rag esilistica contra o naturalism do Teatra de Arte pro: ‘duriram resultados bastante modestos e eircunscritas, do ponto de ‘vista artstico, Ainda assim, apesar de apupos e assobios em face das Invocagbes evanescentes da musicalidade mistico-simbolista em Neve, fo fim das quats uma parte da platéia até se recusou a sai da sala, pols, disseram eles "a pega no pode te teminado, uma vez que nin ‘suém ainda no compreendeu nada", veificou-se que, seja por efei {da temporada anterior ou por tentagio da novidade escandalosa, 0 piiblico favorevera os espeticulos, a0 menos a jlgar pelo éxito de bitheteria ocorrido.E sea erica no se sentira to atraida pelo que Ihe for dado ver, no hd dvida de que, gragas aos artigos de Rémizov pura Vest, uma revista moscovita igada aos simbolistas,essa8 apre- Sentagies ajudaram a difundir 0 pome de Meierhold nos meios in elects russos, prinipalmente entre os que propugnavam pes novas tendéneias em arte rao momento em que tas correntes faiam-se ouvir com eres cent nitdez, Desde 1898, com a revista Mir Istkutsva (Mundo da Arte), encabesada por Serguti Diaghilev, as idéias estétieas do fn du sidcle europeu comegaram a ser divulgadas com maior intensida- {de nos efreulos atisticos russos, conquistando um auditéro interes sado, sobretudo entre a nova geracto, sob a égide de Dostoigvski, Soloviov. Nietzsche, Bergson, Ibsen ¢ os simbolistas franceses. Os rnomes de Balmont, Briissoy, Ivénov surgiam com a lufada do "novo ‘vento na poesia, As telase as concepgses de Benois, Bakst, Gol6vin, antecedidos por Serov e Vrubel, destacavam-se cada vez mais nas salas de exposigio e discussto, afetando inclusive a cenografia tea. tral, que fo! submetida por eles a transformagBes importantes, pre ‘stmente nesse periodo, com implicagbes para o conjunto da arte é- nica € ndo apenas para a épera ou 0 balé, onde elas foram primeiro cexperimentadas, Assim, ndo é de admitar que em semelhantecontex- to de idéis etendéncias o trabalho do jovem diretore suas pesquisas teattais despertassem ineresse. sso, entretanto,ndo significa que Meierhold j tivesse encontra do. que procurava, Muito pelo contrério, ainda se achava a melo ca ‘minho entre o Teatro de Arte ¢ a efetiva criagdo simbolista com a tencarnagio do prinfpio da “estilizaglo" ou da "convengio conscien- 12. Ws (Baan, 190, Meyerhod on Theater, aed Bras, 19 13, Como reps Nina Goutikel, Le Thre Tada, p. 22. 1” no paleo, como prova sua temporada seguinte (1904-1905) na capi talda Geérgia. Com efeito, em Tiflis, onde Ihe fora oferecido um bom contratono teatro recém-consrudo pela Sociedade Artistic © equipa- do com pao giratrio, mecanismos de elevagi de nivel no tablado © ituminagio moderna, estreou com As Trés Irs ‘Aparentemente a montagem deveria traduzir uma visio nova do texto, algo similarquelade que Meierhold fala numa carta a Tehckhow. {em janeiro de 1904, com respeto 20 Jardim das Cereeiras,encenado, amteriormente em Kherson Yo pea ¢ tra como uma sinfonia de Teva pel oad ave ‘nagto—e Ce plo qc € precio eter Hor enim Me ‘gam, "Vendido. Els dangam,E assim af 0 fin. Quando se a pega, 0 tereiro a eed alessio anos ue ui nec ico dete em os lat Oye, ug cuir Una epee pando Uma grin ul eect oF SOS (a rte He nee sto algo de orrifiea 40 modo de Maxchck (— Vé-se que Meierhold faz uma leturantidamentesimbolista da peyatchekhovians, ransmutando-a num drama de essondncia mistica € ressaltando, num texto considerado por se autor como uma “comé= ia, um rictus de horror metafisco, que convert as personagens em “mdscarasfantasmagéricas” de um mundo em decomposigio, cujos sinstos rumores deveriam assalt-as sob a forma de fatdicos pres= sentiment ujas mefiticas ages deveriam desfazé-as em miasmas tedgcos de uma exstéciaabsurda. Maso principio musical da cons tnugo dramitica eat o principio plistico da esilizacio eénica, bem ‘amo elemento de grotesco, i tics da visto teatal meierholdiana, ‘Msurgemafem gerne, {Jessa dja mca demons mau ade i. som acompatha ‘no dsonane, orange moation ds oq rovinsian ue ira ale oy Cavers ive (os pegvnoe rg) [-P ainda assim essa a de interpretacio, ao que parece, nio logrou, pelo menos em As TrésIrmds, verter-se numa linguagem cénica de fato nova inovadora ois segundo esereve um ertico local, se 08, ‘comentrios em erculao criaram no pblico a expectaiva de que []a Confira do Novo Drama la proporionare algo de “novo”, slgo g36 Tis jamais vir anes (.] Quando sete, 3 “oor cisa” o asisamese guards, sul ser sbeudo us encenago exncrdiariameate ened 1, ery sur le Thee 1, 9.6 15, Subtle dio por Teéthow a0 texto 16. "Thwe Nowra Thee as Aes, its eT, 1,8 cou sea, de recriago da realidade nos bons termos de Stanislivak Ese tom artstico prevaleceu, como tudo leva a erer, durante a temporada inteita na capital da Geéepia. Além de As Trés Irma, 0 repertério compreendia O Sino Submerso e Schuck e Ja, de Haupt ‘mann, bem como Un Inimigo do Povo, de Ibsen ¢ Os Veranistas, de (Grki, cujaexibigio foi proibida pela policia. Mas a inica tentatva de mostrar um espeticulo mais ousado cenicamente fi uma remontagem de Neve. na qual a mise en scéne sofreualteragdes, sendo empastada ‘de cores to lobrepas que espantaram a eitca endo menos o pablico, aque comegou a escassear Se,afora A Liturga da Beleza, de Balmont,encenada em Nicole, fo houwve outras experiéneias no paleo das aventuras provinciais da Confraria do Novo Drama, nesse ano, Meierhold tampouco abando- ‘nou os seus projetos de renovagio no teatro e, to logo apareceu uma ‘portunidade, enveredou novamente pelas vias da pesquisa van- fardista, com o ituito de levar a uma plata, quigd melhor armada {que ade Tiflis para apreci-loestticamente, a expresso do que enten- dia por “estiizagao” e “quint-esstncia da Vida" na cena dramética. E ‘quem Ihe permit realizar ess tentativa capital para a evolugao de sua Sendo Stanisl4vski obra nao Foi 0 17. Tis Lia, Til, 28 de stembro de 1904, p. 2 On Meyrld, p18

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