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Corpos e Pedras 1
Corpos e Pedras 1
JULIO BENTIVOGLIO
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editora.
Revisão
De responsabilidade exclusiva dos organizadores
Capa
Imagem da capa:
Autor: não citado, logo, tenho declarado que não existe intenção de violação de Atualizar monumentos e (des)ativar hist6rias ......................................... 7
propriedade intelectual Valdei Araujo
Semíramis Aguiar de Oliveira Louzada - aspectos
Monumentos, conflitos e narrativas da hist6ria ..................................... 17
Projeto Gráfico e Editoração Manica Lima, Hebe Mattos, Keila Grinberg & Manha Abreu
Lucas Bispo Fiorezi
Introdução .......................................................................................................... 35
Impressão e Acabamento Cristina Meneguello & Julio Bentivoglio
HelpBook
Ca1ne contra pedra .......................................................................................... 43
Cristina Meneguello
7
Cristina Meneguello
Julio Bentivoglio
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Corpos e Pedras: esráwas, nwnwnenralidade e hist6ria Cristina 1\![eneguello & Julio Bentivoglio
organizada de movimentos que, ha decadas, mobilizam-se pela lugares, dentre os quais uma jovem adolescente afro-americana de
ocupação e contestação de símbolos e monumentos em espaços r6 anos de idade em Ohio. 2
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Corpos e Pedras: estd:cuas, monwnentalidade e hist6ria Cristina Meneguello & Julio Bentivoglio
No Brasil, com alguma disdncia daqueles eventos, é mais de São Paulo. J Tal projeto "Dispõe sobre a proibição de homenagens
fácil visualizar os efeitos do debate que não parece ter ecoado a escravocratas e eventos históricos ligados ao exercício da prática
para muito além dos meios acadêmicos e dos movimentos sociais escravista, no âmbito da Administração Estadual direta e indireta",
organizados. Num primeiro momento, o foco voltou-se para os considerando como escravocratas "agentes sociais individuais ou
marcos da celebração do genoddio indígena, com a recorrente coletivos comprometidos com a ordem escravista no Brasil" (não apenas
percepção dos bandeirantes retratados na capital paulista, num detentores de escravos), vedando nesse sentido a denominação de
arco argumentativo que vai do justiçamento estético contra a logradouros públicos, de prédios estaduais, rodovias estaduais, locais
esdtua do Borba Gato, mostrengo de concreto de Júlio Guerra, públicos estaduais, a edificação e instalação de bustos, estátuas e
e chega ao Monumento as Bandeiras de Victor Brecheret, mais monumentos por qualquer dos Poderes no Ambito do Estado de São
facilmente defensável pelas sensibilidades modernistas, ponto Paulo e sugerindo que as homenagens já existentes sejam removidas
constante de tensão e manifestação na capital paulista. Seguiu- e musealizadas. 4 Ainda segundo esse projeto, - demanda hist6rica
se, em aulas, palestras e pela imprensa, uma coleta por exemplos do movimento negro sobre os modos de narrar a história do Brasil
nacionais de escravocratas homenageados em praça pública, que - a lei uma vez aprovada e publicada concede 12 meses para que
retornou com Joaquim Pereira Marinho, cuja esdtua esd postada equipamentos públicos sejam renomeados, após parecer de uma
diante do Hospital Santa lzabel, em Salvador ou o monumento a comissão de avaliação.
Duque de Caxias, também em São Paulo, duplamente rejeidvel
Em nivel federal, a deputada Taliria Petrone (PSOL-RJ)
por sua condição de escravocrata e por sua atuação na Guerra do
apresentou o Projeto de Lei nº 5.923/2019 que "Dispõe sobre a proibição
Paraguai. ~ando o tema começou a desinteressar os mass-media, já
de homenagens a proprietários de escravos, traficantes de escravos,
era tarde para nos indagarmos sobre a aparente invisibilidade dos
pensadores que defenderam e legitimaram a escravidão em monumentos
monumentos públicos no Brasil, sobre o desconhecimento por parte
públicos, estátuas, totens, praças e bustos ou qualquer outro tipo de
das pessoas, em geral, a respeito dos personagens que representam,
monumento". Alterou-se a proposta inicialmente apresentada que se
direta ou alegoricamente, ou do constante estado de abandono em
que se encontram. Menos ainda para evocar episódios da história do
a
estendia proibição de juntas comerciais e empresas de registrarem
marcas com expressões, figuras, desenhos ou quaisquer outros
ativismo crítico em torno de monumentos, no Brasil e no exterior,
anteriores aos eventos de 2020.
a
sinais relacionados escravidão, tais como "casa grande e senzala",
"senzala", "sinhá", "negreiros", "navio negreiro", "escravocrata",
Tanto aqui quanto em outros países, esses processos vem "mucama" dentre outros. O projeto havia sido originalmente
ocorrendo há décadas e, se não se intensificaram em parte pelas proposto em novembro de 2019 (marcando o mês da Consciência
condições trazidas pela pandemia, essa visibilidade abriu espaço para
outras importantes iniciativas por politicas públicas de combate 3 Ver: https://www.aLsp.gov.br/propositura/7id=rnoo327788.
ao racismo. Na falta de imagens locais, a estátua de Colston sendo 4 Projeto da deputada Erica Malunguinho, do mandata O!:illombo (Malunguinho
refere-se a seu mandato no feminino), que declarou: "Os monumentos, por exemplo, são
a
atirada no rio empresta a força de sua narrativa visual página do materiais da mem6ria coletiva, de forma que eles são utilizados para documentar o passado
abaixo-assinado organizado pelo LAB Cidade (Laboratório Espaço das sociedades e povos. A Hist6ria oficial do Estado brasileiro ainda reproduz narrativas
LJUe excluem as experi~ncias das populações negrns e ind!genas. Esta manifestação do
a a
Público e Direito Cidade, ligado Faculdade de Arquitetura e racismo estrutural cria barreiras para a efetivação plena da democracia". Cabe, assim
Urbanismo da Universidade de São Paulo) em apoio ao projeto "reescrever a hist6ria". ("Depurada propõe lei para remover est:ltuas de escravocratas em
São Paulo. UOL Notícias, 25/06/2020. Disponivel em: https://noticias.uoLcom.br/politica/
de lei 404/2020, ainda em tramitação na Assembleia Legislativa u 1ti mas-no ti ci as/ 2020 /o G/ 25 / deputada-pro toco la-p1-que-preve-r emoc ao-de-esta tu~1s-de
escravocra tas-em-sp .h tm). Acesso em 22 ago. 202i.
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Corpos e Pedras: estáwas, monumentalidade e história
!
Corpos e Pedras: estátuas, monumentalidade e história
problema dos monumentos, da memória e do ativismo envolvidos Durante a ocupação alemã em Paris, esdtuas de bronze retiradas
em sua inscrição e percepção na paisagem urbana em diferentes de seus pedestais pelos alemães foram acumuladas, como ferro
cidades. Eles versam sobre lutas atuais, mas tambem antigas velho, num arrnazern no 12º arrondissement. Clandestinamente,
em torno destas questões, oferecendo um conjunto de reflexões Pierre Jahan fotografou, entre 1941 e 1942, esdtuas de figuras
sistematicas desenvolvidas por historiadoras e historiadores publicas, crianças, centauros, braços e pernas, crocodilos,
brasileiros interessados neste campo de problemas; iluminando todos empilhadas com partes faltantes ou sendo carregadas
objetos particulares, examinando-os sob diferentes perspectivas por guindastes. Anos mais tarde, Jeam Cocteau percebeu a
mediante perguntas e respostas pontuais. Um significativo aporte potencialidade desse material reunido e teceu, para cada
para qualquer pessoa interessada, especialista ou não, em conhecer fotografia, cornendrios que oscilam entre a descrição e o surreal.
mais de perto e sob variados :ingulos a extensão de urna questão No "sonho mau de um poeta", um político em sobrecasaca jaz ao
permanente, vivenciada em diferentes realidades históricas e lado de um crocodilo; "Deitado em uma banheira, Marat encontra
2
culturais.
l O original encontra-se depositado junto ao Mus~e Carnavalet, em Paris, que
a
guarda algumas fotografias não utilizadas rnl edição e anotações mão. o album e demais
materiais podem ser visualizados em: https://www.parismuseescollections.paris.fr/fr/
m usee-carnavalet/ oe uvre s/ album-de-la-mort-e t-les-s tatues.
2 JAHAN, Pierre; COCTEAU, Jean. La more et les statues. Paris: Les Editions do
Compass, 1946, p. 14.
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