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7º Curso de Formação Continuada da Olimpíada Nacional em História do Brasil: “Patrimônio Cultural e Ensino de
História: Desafios do e no Tempo Presente” - Campinas – 06 de fevereiro a 16 de abril de 2023 - ONHB-Unicamp

Patrimônio cultural nas aulas de História

Profa. Dra. Jaqueline Ap. Martins Zarbato*

A busca pela conexão entre o ensinar e aprender História leva em conta as


diferentes dimensões subjetivas de alunos/as e professores/as, os quais
experimentam no campo do ensino de História saberes e práticas
transformadoras e emancipatórias. Com essa concepção em mente, incluímos
nas aulas de História a abordagem sobre patrimônio cultural, uma vez que com
um Brasil tão vasto, múltiplo, diverso, heterogêneo nos possibilita ampliar e
aprofundar abordagens sobre os temas de História do Brasil. Sejam com análise
de monumentos, de festas, de crenças e religiosidades, de edificações com
diferentes funções, assim como os museus.
Mas, o que propomos nessa ação na aula de história com os patrimônios
culturais?
São diferentes abordagens que podemos realizar, projetadas pela Didática
da História, pontuamos que a orientação temporal, a interpretação das fontes e
a narrativa de estudantes são elementos que contribuem para o entendimento
sobre a importância, valorização e preservação do que é patrimônio cultural no
Brasil. Há vários especialistas na área de História 1 que se dedicam a essa
temática, alguns com mais ênfase ao ensinar história pelo patrimônio.

* Professora de História da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Brasil, Doutora em História pela
Universidade Federal de Santa Catarina.
1 Os estudiosos como: Márcia Chuva, com o livro arquitetos da memória. Martha Abreu com o texto Cultura

imaterial e patrimônio histórico nacional. Antonio G. R. Nogueira, com o texto: Inventário e patrimônio
cultural no Brasil. Francisco Régis L. Ramos, com o texto a danação do objeto: o museu no ensino de história.
Ulpiano B. Menezes, com o texto: Do teatro da memória ao laboratório de história: a exposição museológica
e o conhecimento histórico. Janice Gonçalves, com o texto passados compostos e decompostos: o patrimônio
cultural em tempos de memória e desmemória.
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E entre diálogos históricos na sala de aula, o patrimônio cultural apresenta


outros significados para as trajetórias de grupos sociais, de edificações
abandonadas, de praças e monumentos, apresentando uma função da história
pública. E, de certa maneira, ampliando a leitura de mundo de crianças e jovens
sobre as representações históricas, de saída de campo, de exploração em visitas
às museus, de (re) conhecimento dos bens patrimoniais tangíveis e intangíveis(
material ou imaterial). O patrimônio intangível abrange as expressões
simbólicas e culturais de um povo, como as festas, as danças, músicas,
saberes, costumes, formas de expressão, entre outros. O patrimônio
tangível consiste em bens materiais são aqueles sobre suporte físico,
representados pelas edificações, paisagens, conjuntos históricos urbanos e bens
móveis e integrados à arquitetura.
A abordagem sobre o patrimônio cultural reflete também o que os grupos
sociais definem como bens culturais representativos das
identidades/identificações de cada região, de construções subjetivas que estão
ao alcance de todos/as no espaço público. O que impulsiona a relação com a
memória, pois, o uso do patrimônio cultural relaciona-se com a memória social e
coletiva, e, também com a história local.
Neste sentido, ao propor as discussões sobre a representatividade do
patrimônio para a cidade, fundamentamos as noções críticas sobre a
manutenção, valorização e preservação de elementos que remetem à memória
histórica. Tendo em vista que a cidade apresenta alguns monumentos,
edificações, museu, praças, entre outros, propomos trabalhar de forma integrada
com os patrimônios que têm influência mais direta no cotidiano das pessoas e da
cidade.
Os bens culturais que fazem parte do patrimônio cultural podem ser
abordados com a intenção de problematizar a sua permanência na paisagem
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urbana. E em meio as abordagens, reflexões e contextualizações, percebemos


que as crianças, jovens e adultos de determinada cidade podem contribuir para
a aula de história. Vamos a alguns exemplos:

Um monumento histórico e aulas oficinas: experiência,


interpretação, narração sobre o Patrimônio cultural.

Podemos iniciar com a problematização do monumento, quem conhece?, onde


fica?, quem construiu? Desde quando esta naquele lugar? O que representa para
a cidade? Representa algo para a História do Brasil?
Os questionamentos iniciais ajudam a organizar o nível de conhecimento e
entendimento sobre o que significa um monumento. Vejam que muitas vezes, as
pessoas desconhecem que há diferenças entre monumento e monumento
histórico. Após a abordagem do entendimento dos estudantes, pode-se ampliar
as discussões sobre o que os bens culturais podem revelar sobre a história local?
E sobre a história regional? E sobre a história do Brasil?
Esses questionamentos nos ajudam a refletir sobre a importância do
patrimônio cultural (tangível e intangível) e sua articulação com os temas
históricos. Além disso, pode-se trabalhar com a perspectiva da educação
patrimonial, a qual contribui para compreender a história local, de forma que
possamos participar do processo de reconhecimento, valorização e preservação
do patrimônio e da memória. Conhecer a história local colabora no processo de
construção das identidades/identificações assim como na valorização do exercício
da cidadania. Pois, a comunidade passa a valorizar os espaços, lugares de
memória e os bens patrimoniais.
Um dos documentos norteadores para discussão sobre patrimônio é o Guia
de Educação Patrimonial, de Maria de Lourdes Horta (1999). O guia se tornou
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fundamental para os estudos e é destacado como um instrumento de


“alfabetização cultural” que possibilitaria uma leitura e escrita de mundo. Em que
seria, [...] um processo permanente e sistemático de trabalho educacional
centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e
enriquecimento individual e coletivo. Busca levar as crianças e adultos a um
processo ativo de conhecimento, apropriação e valorização de sua herança
cultural, capacitando-os para um melhor usufruto destes bens, e propiciando a
geração e a produção de novos conhecimentos, num processo contínuo de criação
cultural”. (IPHAN, Guia Básico de Educação Patrimonial, 1999, p.07).
Na ação educativa com a análise do patrimônio cultural, define-se que bem
patrimonial vamos analisar e então utiliza-se a proposta das 4 etapas
metodológicas da Educação Patrimonial: a) a Observação que se baseia em
exercícios de percepção visual e sensorial com o objetivo de identificação do
objeto de estudo, sua função e significado; b)o Registro que busca desenvolver
atividades de registro das percepções efetuadas por diversas maneiras possíveis
(fotografias, desenhos, entrevistas, vídeos, maquetes e etc.) com a finalidade
de fixação do conhecimento percebido, sua análise crítica e o desenvolvimento
da memória e do pensamento intuitivo e operacional; c) a Exploração que
consiste na análise do problema, no levantamento de hipóteses, pesquisa em
outras fontes (arquivos, bibliotecas, jornais, entrevistas), postura crítica e etc.,
e) e por último a Apropriação que busca desenvolver a capacidade de auto
expressão, participação criativa e valorização do bem cultural através de
recriações, releituras ou dramatizações deste propiciando um envolvimento
afetivo e a internalização dos saberes apreendidos.
Seguindo essa proposta, podemos citar exemplo desenvolvido na cidade de
Campo Grande/MS, com a criação um roteiro de análise sobre os monumentos
históricos. Nesse processo foi utilizado diferentes fontes históricas sobre
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patrimônio histórico cultural, que remetiam a história local. Com produção de


atividades que aglutinassem procedimentos de interpretação e análise de fontes
históricas, explorando-as como discursos de sujeitos que ocupam diferentes
posições nas tramas construídas em torno dos bens culturais.
A proposta envolveu o ensino de história, educação patrimonial e Educação
Histórica, visando aulas em que se reconheceram os espaços em que circulam os
alunos e alunas no bairro e na cidade onde vivem, analisando os monumentos
que encontravam em sua trajetória na cidade. Seguindo a proposição da
Educação Histórica, a problematização de cada um dos temas, foram elaborados
diferentes Roteiros de Pesquisa, privilegiando-se a coleta de documentos de
arquivos familiares, a entrevistas como homens e mulheres moradores dos
bairros e da cidade, cujas trajetórias de vida os tornam sujeitos privilegiados para
narrar experiências significativas e representativas das trajetórias coletivas.
Após isso, construiu-se o roteiro de inserção do aluno na comunidade, de
modo que ele pudesse identificar como se constituíam os monumentos como bens
culturais materiais que representavam uma historicidade própria a esse lugar,
associada ao contexto em que vivem e o que representava no Brasil. Na saída de
campo, construímos a análise em grupo, com alguns itens como: fazer a
observação, localização temporal, interpretação do que continha o monumento(
descrição física e descrição histórica). E ao retornar a sala cada grupo pode
realizar as atividades de análise com outras fontes( utilizamos jornais, fotografia,
site da secretaria estadual de cultura), construindo um mapa conceitual sobre as
diferentes informações históricas de cada monumento, verificando desde a
datação histórica, a representação histórica, tombamento, estado estrutural do
monumento, responsabilidade de manutenção e sua descrição patrimonial. E ao
final, cada grupo pode narrar o que compreendeu sobre a importância do
monumento histórico para a História do Brasil.
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Ao utilizar o patrimônio histórico, seja tangível ou intangível pode-se


compreender as diferentes explicações ao longo do tempo, bem como as
interpretações, explicações diferenciadas na história, que contam com a inserção
da significação subjetiva dos conteúdos/temas abordados. Nesse sentido, a busca
pela preservação da memória é essencial para a valorização da identidade e da
cidadania cultural de um lugar e tempo, a fim de que o passado sirva ao presente
e ao futuro. A memória não é algo imutável e repetitivo, mas “uma possibilidade
de reflexão sobre o passado através de sua representação no momento
presente.” Portanto, a memória se constitui por meio do tempo presente e não
pode ser confundida com a história (Almeida & Vasconcellos, 2004,p.107)
É a memória que nutre a história. A memória coletiva não somente é uma
conquista, como também um instrumento e um objeto de poder. (LE GOFF,
1996). E ao trabalhar com monumentos, edifícios, praças, ruas, elencamos a
importância da memória de grupos culturais. O que merece ser lembrado, ou cair
no esquecimento? Que monumentos, ruas, praças, espaços, edificações,
folclores, danças são lembrados? Quem tem direito à memória?
Todos têm direito à memória, uma vez que o passado reconstituído justifica
e valoriza a legitimação dos lugares, das suas histórias e das pessoas que vivem
nos lugares. Esse fator é um elemento social de grande caráter subjetivo e, como
tal, esteve exposto a importantes manipulações em função de determinados
interesses, de fundo político ou ideológico, para justificar alguns fatos históricos,
reclamar territórios ou explicar teorias de fundo nacionalista, entre outros. A
memória contribui com a construção da identidade cultural, em que os sujeitos
se reconheçam, a partir das experiências sociais e culturais. É a partir da memória
dos habitantes, que faz com que eles percebam, na fisionomia da cidade, sua
própria história de vida, experiências sociais e lutas cotidianas. A memória é,
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pois, imprescindível na medida em que esclarece sobre o vínculo entre a sucessão


de gerações e o tempo histórico que as acompanha.

O patrimônio e a história local: a inserção do uso do centro histórico na


prática de ensino de história

Um dos encaminhamentos realizados nas aulas de história foi a análise das


mudanças na paisagem e nas edificações do centro histórico ( ontem-hoje-
amanhã), com o embasamento da educação histórica e educação patrimonial.
Analisando o crescimento das populações em centros urbanos e de que forma os
centros históricos passaram a ser ‘abandonados’, ‘em espaços perigosos’, ou
tratados dessa forma.
O uso do mapeamento da cidade, com o google Earth, fizemos uma análise
com toda a turma sobre o centro histórico (datamos seu início e a atualmente-
2020). Desenvolvendo um debate sobre as principais mudanças em relação a
ocupação do espaço, após o debate anotamos todas as narrativas dos alunos/as.
Construímos um quadro em sala com eles, sobre o que seria mais importante
preservar no centro histórico, para tal utilizamos diferentes fontes históricas,
como fotografias das edificações, do museu, da praça. Cada grupo selecionou um
bem patrimonial para analisar: museu, edificação histórica da prefeitura, a casa
do artesão, a edificação da ferrovia. E munidos de uma prancheta, com as suas
questões sobre o bem patrimonial do centro histórico, caneta, boné, protetor
solar, fomos à campo com os grupos(cada grupo criou seu nome para a saída).
Na saída de campo, primeiramente andamos por todo o centro histórico, apenas
observando o espaço e, depois conversamos sobre tudo que foi desenvolvido em
sala e como cada grupo faria sua análise. A atividade de observação, análise,
descrição e narrativa durou uma hora e meia.( com direito a um lanche). Ao
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voltarmos para a sala, os grupos começaram a organizar o quadro de seu bem


patrimonial, com fotos antigas e recentes, com pequenos textos explicativos e
com a narrativa sobre o que representa o tombamento de patrimônio histórico
para as cidades.
Percebe-se que ao abordar a representação na cultura e história local,
tem-se também a preocupação em manter uma parte do patrimônio cultural,
visando a manutenção das identidades/identificações regionais. Pois, cada bem
patrimonial tem relação com o desenvolvimento da cidade, com as mudanças no
cenário urbano, assim, como na busca por elementos históricos que
identificassem a cultural do lugar.
Na prática de ensino de história baseamos as análises metateóricas como
impulsionadoras de um ensino de história que valoriza a complexa relação entre
ensinar e aprender. As estratégias metodológicas são incorporadas, com vistas
a ampliar o campo de abordagens e linguagens no ensino de História porque
permitem, as discussões das evidências que decorrem das informações dos
monumentos históricos permitem diferentes possibilidades de interpretação.
Uso do bairro, ruas e lugares de memória
A intenção em problematizar os lugares de memória, assim como os bens
patrimoniais locais deu-se a partir das aulas de história numa escola pública, em
que os estudantes afirmaram desconhecer os elementos patrimoniais que fazem
parte da história da região e da cidade. E em algumas situações confundiram
patrimônio cultural com patrimônio financeiro. Entre as discussões sobre a
memória e a história, surgiram as inquietações e dúvidas sobre o que
representam os bens patrimoniais para as pessoas e a cidade. os monumentos,
conjuntos arquitetônicos e lugares notáveis compõem o chamado patrimônio
cultural
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A partir desse desconhecimento, partimos da concepção da educação


patrimonial, de que o reconhecimento contribui para a preservação e manutenção
das diferentes identidades de um povo, de uma cultura. E que se os sujeitos não
se sentem representados ou mesmo não reconhecem a importância, não se
preocupam em preservar os elementos patrimoniais. Com a intenção de fomentar
as diferentes representações e interpretações que as crianças possuem sobre o
que o patrimônio cultural local e regional configura-se e influência o cotidiano
delas, iniciamos as atividades na escola.
As ações da Educação Patrimonial foram executadas com as crianças do 8º
ano do Ensino Fundamental num Escola Estadual, com uso dos museus como
lugares de memória. Criamos um roteiro de visita compartilhada, como o
exemplo abaixo:

Roteiro de Visita ao museu


Nomes:
Turma:

1. Sequência didática: a) Em sala de aula: Uso de imagens e pesquisa em


outras bases: Atividades que foram realizadas em sala, com análise de
textos e imagens. b) Diálogos educativos- conhecimentos prévios O que
você já conhece sobre o museu? Que objetos históricos você acha mais
importante? Por que? Você identifica que características históricas no
museu? 2. Na visita ao museu: a) Separar os alunos em dupla/grupo,
com uma ficha de orientação para que descrevam as análises sobre os
objetos, sobre o espaço do museu, sobre a parte externa ao redor do
museu. b) Podem ser escolhidos os objetos previamente pelo/a
professor/a. 3. Após a visita: Trabalho individual: Produção de
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quadrinhos, a partir da visita ao museu. Escolha um bem patrimonial ou


o museu e descreva o que foi mais importante na visita ao museu.
Fonte: Elaboração própria.

Em relação ao processo de interpretação, percebe-se as explicações


racionais tendem a valorizar as diferentes compreensões dos/as alunos/as. A
assimilação de conceitos/temas/conteúdos faz parte do processo da experiência
histórica. Assim sendo, não há experiência sem interpretação, mas experiência
ainda assim é algo diferente da interpretação. Ela exige interpretação, pode
modificá-la e até negá-la.

Bem patrimonial intangível: Uso da capoeira

Seguindo a concepção de valorização do bem público, mas principalmente


respeitando as construções subjetivas dos grupos culturais, pautamos a aula
sobre bens patrimoniais intangíveis. Tanto que, ao versar sobre as estratégias
cotidianas em que há um elemento patrimonial envolvido, surgiu, o tema
relacionado à capoeira e o fim da escravidão no Brasil. Com a indagação: Para
que a capoeira era usada no período escravagista no Brasil?
Longe de termos uma resposta uníssona, a compreensão dos estudantes
tem vinculação com a memória, a trajetória, e a relação com o objeto de análise.
Porém, a resposta de um aluno, foi que a capoeira era um tipo de dança, jogo e
luta; pois “eram os três, porém para cada situação, era usada de uma forma”. A
partir da fala desse aluno discutimos a capoeira como bem patrimonial brasileiro.
A proposta didática foi desenvolvida no 8º ano “B”, do Ensino Fundamental
e teve como tema central O patrimônio imaterial e os movimentos afros: um
olhar crítico sobre o desenvolvimento cultural no Brasil pós-período escravagista,
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duração de 16 aulas. As aulas eram ministradas três vezes por semana. As


estratégias didáticas tinham como princípio envolver os estudantes na análise de
fontes, na interpretação das fontes, nas narrativas sobre o que compreendiam e
como explicavam o processo relacionado ao patrimônio imaterial e os
movimentos afros. Nesse sentido, a leitura sobre o período pós-escravagista foi
o tema central que possibilitou a compreensão da capoeira como um patrimônio
imaterial.
Ao investigar sobre a Capoeira, retoma-se as abordagens sobre a história
e cultura africana e afro brasileira, com a lei 10.639/2003, em que se retoma a
valorização dos grupos culturais e as heranças africanas. Assim, foi proposto
para as primeiras aulas, a exibição do curta-metragem Maré Capoeira (2005)2,
com uma “roda de capoeira”. A concepção didática desta aula, era abordar a
temática da capoeira como patrimônio imaterial, mas de forma que os/as
alunos/as fossem envolvidos no processo de compreensão histórica. No decorrer
da aula, a mediação que fazíamos era de incentivar as questões e dúvidas sobre
os elementos da capoeira, se os/as alunos/as compreendem como luta, dança,
jogo. Se compreendem a capoeira como um processo de resistência, luta. A
intenção de discutir sobre a capoeira como um elemento da herança cultural do
período escravagista no Brasil.
Após a exibição do curta e da roda de capoeira, voltamos para a sala de
aula, para aglutinar todas as questões e questionamentos apresentados pelos/as
alunos/as, para que a partir disso, fosse possível refletir sobre o percurso
histórico da capoeira como um patrimônio cultural imaterial, bem como da

2 Filme disponível em: http://www.portacurtas.com.br/Filme.asp?Cod=4683. O filme tem como principal


cenário a roda de capoeira e alinha as narrativas textual e imagética a serviço da construção do discurso
que positiva a prática da capoeira, conferindo a ela um papel de destaque na construção da tradição e da
identidade dos afro-descendentes. Maré Capoeira é um filme que conta duas histórias: a do menino João,
um garoto negro de 10 anos de idade, seus desejos e frustrações, e a da própria capoeira, como
manifestação sócio-cultural. (Comentários de Carla Miucci Ferraresi).
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importância da capoeira como representação africana na sociedade brasileira. Na


sala de aula, os/as alunos/as os questionamentos foram em torno do que o curta-
metragem apresentou, do desejo do menino em se tornar mestre de capoeira; o
percurso da família dele para se tornar referência no que se refere à capoeira,
para a comunidade em que ele vive.

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