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Sebenta de História Do Cristianismo Antigo
Sebenta de História Do Cristianismo Antigo
O estudo que vamos fazer limita-se no tempo: é a história antiga a que queremos
conhecer. Daí que uma segunda interrogação possa surgir: que séculos iremos abranger?
Como dividir a história?
Esta Igreja que queremos encontrar nos seus primeiros passos foi instituída por
Alguém, em determinadas condições sócio-religiosas numa determinada região. Nasce
aqui a nossa terceira curiosidade: como se vivia na Palestina no período imediatamente
precedente ao nascimento de Jesus? Que ambiente social e religioso se respirava?
Convém, conclui este autor, não dar à história um fim e uns estatutos ambíguos.
Convém não reduzir a realidade natural e histórica ao mistério de salvação ou vice-
versa.1
Um pouco na mesma linha mas numa posição já mais moderada coloca-se Roger
Aubert. Este, na introdução à Nuova Storia della Chiesa, defende a distinção de planos e
métodos entre história e teologia. Reconhece, porém, que a teologia tem que contribuir
com alguns conceitos teológicos para que seja possível fazer-se uma história da Igreja.
Eis, esquematicamente, o pensamento de Aubert: “A história da Igreja [...], como
qualquer trabalho histórico, procura reconstruir com métodos rigorosamente científicos,
o mais objectivos possível , o passado da sociedade eclesiástica, a sua evolução através
dos séculos e as traços particulares que a caracterizaram em cada época, tal como se
podem descobrir através das pegadas que este passado deixou nos documentos escritos,
nos monumentos arqueológicos e noutras fontes passadas pelo crivo da crítica histórica
elaborada por gerações de eruditos”.
“Se é assim, que espaço pode ser deixado para as considerações teológicas [...]?
Um espaço não desprezível se se pensa que não é quase possível estudar e sobretudo
expôr o passado de uma instituição, qualquer que ela seja, sem possuirmos noções
relativamente claras sobre a sua natureza e sobre a importância respectiva dos diversos
aspectos que apresenta. Quando se trata de uma instituição de natureza religiosa como a
Igreja, noções do género provêm em grande parte da teologia, o que equivale a dizer
que cada concepção da história da Igreja, quer se queira quer não, implica
necessariamente certas opções teológicas”. Por exemplo, é a teologia quem deve
explicar o que se entende por Igreja, por Povo de Deus, e por Esposa de Cristo...2
Segundo Hubert Jedin, a História da Igreja tem por objecto o crescimento, no
espaço e no tempo, da Igreja fundada por Cristo. Para se fazer essa história é
indispensável a Teologia, pois que é esta (teologia) que fornece à história os seguintes
elementos:
-- a origem divina da Igreja;
-- a forma (hierárquica e sacramental) como a Igreja está ordenada;
-- a assistência do Espírito Santo;
1
Cf. ALBERIGO, G., Nuove Frontiere della Storia della Chiesa, in JEDIN, H., Introduzione alla Storia
della Chiesa, Brescia, 1979, 14-19.
2
AUBERT, Roger, in Nuova Storia della Chiesa I, ed. Marietti, 7-8.
3
Segundo José Orlandis, o historiador eclesiástico terá que julgar os factos à luz da
fé para lhes poder tirar o sentido pleno. Tem que ter em conta que a Igreja de Cristo é
uma realidade divino-humana, um “mistério” e que o mais importante da sua vida não
constitui “notícia”, escapando inclusive à capacidade de observação da empírica.
Um historiador não crente que observe a vida da Igreja com uma visão puramente
natural, poderá sem dúvida fazer estudos valiosos, sobre muitas parcelas da sua história.
Poderá, por exemplo, investigar as relações entre a Igreja e os Estados ou a prática
religiosa num determinado período do passado; poderá fazer a história de uma diocese
ou de um domínio monástico, a de um sindicato cristão ou a de um partido confessional
“católico”. Mas não poderá escrever uma autêntica história da Igreja, porque será
incapaz de apreender a sua dimensão mais profunda.4
b) Problemas de datação
Não foi ainda encontrado um critério de divisão da história universalmente aceite
ou totalmente convincente. Esta afirmação vale para a história civil; e vale igualmente
(talvez sobretudo) para a história eclesiástica, pois que:
-- é difícil “encaixotar” no tempo o plano divino de salvação;
-- a Igreja Católica, como dizia Pio XII na sua alocução ao X congresso Histórico
Internacional em 5 de Setembro de 1955, não se identifica com nenhuma cultura. E se já
as mudanças de cultura são difíceis de datar, pior ainda as mudanças internas que o
Espírito, com a colaboração dos homens, vai operando na Igreja.
Apesar de tudo, não têm faltado tentativas de divisão da história. Assim, por
3
Cf. JEDIN, H., Introduzione alla Storia della Chiesa, Brescia 1979, 35-39.
4
exemplo:
Bihlmeyer-Tuechle dividem a história em:
-- Idade Antiga
-- Idade Média
-- Época das reformas
-- Época Moderna
(nós englobamos estas duas na Idade moderna)
Para alguns autores a Idade Média começa a inícios do século V, com as invasões
bárbaras e consequente alteração do quadro político e social da Europa;
Para outros (inclua-se o nosso José Orlandis), a Idade Antiga prolonga-se até fins
do século VII, início do VIII, sendo a período que vai de 400 a 700 considerado como
período de transição, durante o qual a “ordem antiga” vai ruindo e a Idade Média se vai
delineando.
Da nossa parte, concordamos com estes últimos, pelo que o nosso estudo da
história antiga abrangerá os séculos I a VIII.
c) Situação da Palestina
Três grandes potências ou núcleos dividem entre si a Palestina no tempo pré-
cristão e ainda durante a vida de Cristo: império romano, cultura helenista, e judaísmo.
Detenhamo-nos brevemente sobre cada uma destas forças:
4
Cf. ORLANDIS, J., Historia de la Iglesia, I – La Iglesia Antigua y Medieval, Madrid 1977, 19-20.
5
judaico, o qual, sob o príncipe asmoneu Antígono, lhe ofereceu viva resistência. Mas
com a ajuda de Roma, Herodes o grande conseguiu conquistar Jerusalém no ano 37 a.c.
exterminando a dinastia dos asmoneus, defensora da liberdade religiosa judaica.
À morte de Herodes (4 a.c.), o seu domínio foi dividido pelos filhos (Arquelau,
Herodes Antipas e Filipe), não sem que o povo judaico tivesse mostrado de novo o seu
descontentamento.
Como Arquelau não oferecia segurança aos seus correligionários romanos,
Augusto nomeou para a sua região (que abrangia a parte principal do território da Judeia
com Samaria e Idumeia) dois procuradores (um deles era Pôncio Pilatos), os quais
tinham sede oficial em Cesareia. A estes foi confiado o encargo de velarem pela
segurança militar e pela tranquilidade política.
Ao carácter sanguinário de Herodes o Grande e à antipatia judaica em relação aos
romanos se deve a fuga de muitos judeus para fora da Palestina. Este factor, como
veremos, ajudará à propagação do cristianismo.
teimosia. Essa particular crença do povo judaico assenta em três grandes pilares:
O seu monoteísmo: o povo tinha consciência de ter sido conduzido pelo Deus
verdadeiro em todas as fases da sua história, pelo Deus que tantas vezes se tinha
revelado como o único Senhor. Os homens piedosos centram a sua vida neste Deus que
governa e guia, dado o pacto, a aliança que o mesmo Senhor com ele concluira. O
israelita rejeita qualquer espécie de idolatria, enquanto na sua oração com frequência
repete: “Escuta, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor” (Dt 6, 4).
escrupulosa da lei, separando-se de tudo quanto não era hebraico (o nome “fariseu”
significa exactamente “separado”).
Para cada situação da vida eles fixavam a atitude que a lei ordenava (tremenda
casuística...). Faziam uma minuciosa interpretação da lei, interpretação consignada na
Mishna e no Talmud. Para a interpretação da lei servem-se muito da tradição oral, do
parecer dos anteriores mestres.
Acreditam na existência dos anjos e na ressurreição dos corpos e preocupam-se
particularmente com a observância do sábado e a pureza legal. Quem não observava o
Sábado (caso de Jesus, que ao sábado cura o paralítico na piscina de Betsaida...) não
pode ser enviado por Deus...; e quem não cumpre a pureza legal (caso dos discípulos
que comem sem terem lavado as mãos – cf. Mc 7,2) é digno de reprovação.
Consideram-se os representantes do judaísmo correcto e quando conseguem
cumprir rigorosamente a lei conseguem também perder a virtude da humildade (cf. o
fariseu e o publicano que rezam no Templo...).
Os mais sábios de entre os fariseus eram conhecidos sob a designação de
“Doutores da Lei”.
Além dos dois grupos que mencionamos existiam ainda, dentro do povo judaico,
outros dois: o dos essénios, os quais – contrariamente ao que sucede com os anteriores
(fariseus e saduceus) – não vem mencionados no Evangelho, e o dos judeus da diáspora.
não seguissem a lei tal como eles a entendiam, eram considerados, irremediavelmente,
ímpios. Quanto ao ímpio, esse não é digno de compaixão, antes deve ser perseguido
com ódio implacável e contra ele se invoca a ira e maldição de Deus.
Viviam em colónias isoladas, quase todas situadas na costa ocidental do Mar
Morto. Uma dessas colónias, o grupo de Qumrán, assumiu o carácter semelhante ao de
uma ordem religiosa, de tipo monacal, onde o aspirante só era admitido como membro
com plenos direitos depois de um tempo de prova. Refeições e conferências comuns
mantinham unidos os membros, hierarquicamente ordenados. A estrita irmandade de
Qumrán observava o celibato, embora nas proximidades da fundação vivessem sequazes
casados.
Judeus da diáspora: desde há muito tempo que o povo judeu não habitava apenas
na Palestina. A partir do séc. VIII a.c., em ondas sucessivas, provocadas por
deportações forçadas ou emigração voluntária, o judaísmo espalhara-se, tendo como
seus principais centros Antioquia, Roma e Alexandria (cf. Filon). Onde o número lhes
permitia, os judeus da diáspora organizavam-se em comunidades, cujo centro era a
Sinagoga.
O vínculo que unia os judeus da diáspora era a sua fé. E este factor era o principal
impeditivo a que eles fossem absorvidos pelo paganismo circundante. É evidente,
porém, que os ambientes onde se inseriam acabaram por influir sobre eles. Como
qualquer emigrante, depois de algum tempo, os judeus abandonaram a sua língua
materna e adoptaram a língua universal da Koiné, ou grego comum (nesta língua foram
traduzidos alguns livros do Antigo Testamento – cf. versão dos Setenta). E acabaram
também por sofrer o influxo cultural do helenismo (cf. Filon de Alexandria).
A diáspora judia é factor justificativo do sucesso da primeira evangelização cristã.
A elaboração dos Setenta, a propagação do monoteísmo, a existência de Sinagogas
(pontos de partida da evangelização cristã) são alguns dos motivos que facilitaram uma
rápida difusão da doutrina e pessoa de Jesus e do plano salvador do Pai.
Ninguém duvida que o fundador da Igreja foi Cristo. Foi também Ele quem elegeu
os Apóstolos, e colocou Pedro como primeira pedra da Igreja. Aos 33 anos de idade
Cristo morre, e os discípulos vivem uma fase de dispersão e apreensão.
Mas três dias depois da morte Cristo ressuscita e aparece aos Apóstolos. Depois, à
vista deles, eleva-se aos céus (Act 1, 9), no monte Olivete. Os discípulos regressam a
Jerusalém, e vão-se reunindo no Cenáculo com algumas mulheres, com a mãe de Jesus,
com parentes de Jesus.
Entretanto era necessário escolher um substituto para aquele que tinha atraiçoado
Jesus: Judas. Cento e vinte pessoas participam nessa escolha, sendo o eleito Matias. A
eleição dá-se por iniciativa de Pedro, é escolhida uma testemunha ocular da ressurreição
de Jesus e, em última análise, é Deus quem o escolhe (todos rezam para que Deus
manifeste a Sua vontade). A comunidade participa e colabora na eleição.
No dia de Pentecostes (= festa hebraica das colheitas, dedicada ao agradecimento
a Deus pelo colhido e à oferta das primícias), a Igreja nascente, fortalecida pelo
Espírito, conhece notável incremento. Muitas pessoas tinham vindo à Cidade Santa para
a festa (cf. Act 2, 9). Pedro dirige-lhes a palavra e proclama coma verdadeiro Messias o
Jesus de Nazaré crucificado e ressuscitado. Como fruto da sermão de Pedro, três mil
Judeus aderem a Cristo, e recebem o baptismo.
Um novo incremento da Igreja dá-se quando Pedro cura no Templo um coxo de
nascença. Nessa altura o número dos crentes eleva-se a cinco mil (cf. Act 3, 1-9).
assistência social.
Além dos Apóstolos e diáconos aparecem também os presbíteros ou anciãos. Não
sabemos bem qual a sua origem. Sabemos apenas que se sentavam nas assembleias ao
lado dos Apóstolos e que as decisões do Concílio de Jerusalém foram tomadas quer em
nome dos Apóstolos quer em nome dos presbíteros. Sabemos igualmente que fora de
Jerusalém eles estavam à frente das Igrejas locais.
económica. Os Actos dizem-nos que os irmãos põem tudo em comum, mas esse pôr em
comum não era obrigatório.
Finalmente recorde-se a existência de um serviço assistencial aos pobres e às
viúvas, controlado pelos Apóstolos mas efectuado pelos diáconos.
Oposição do Sinédrio
Os mesmos Judeus que levaram Cristo à morte por se auto-intitular Messias,
viravam-se agora contra os que diziam que ele tinha ressuscitado. Além disso, os
milagres operados pelos Apóstolos e a sua pregação que ganhava para a fé uma
multidão de crentes determinaram a intervenção das autoridades judaicas de Jerusalém.
Entre as medidas repressivas levadas a cabo por essas autoridades sublinhem-se as
seguintes: Pedro e João são presos e proibidos de falarem ou ensinarem em nome de
Jesus (Act 4, 3 e 18); os Apóstolos são presos pelo sumo sacerdote e pelos saduceus e
metidos no cárcere público (Act 5, 18). Um anjo do Senhor abriu as portas da prisão...
Voltam depois a ser chamados ao Sinédrio e intimados a não falarem em Jesus (Act 5,
27-29).
Estevão, um dos diáconos, é chamado ao Sinédrio e acaba por sofrer o martírio
(Act 7, 57-60). O discurso por ele proferido diante do Sinédrio faz estalar uma grande
perseguição, a primeira sofrida pela Igreja. Esta perseguição obrigou muitos discípulos
a fugirem de Jerusalém, a que viria a originar uma maior difusão da cristianismo e uma
separação cada vez maior entre a Igreja e a Sinagoga. Veremos adiante para onde
fugiram estes discípulos...
Sobre o martírio de Estevão ver DANIEL-ROPS I, 38.
Conversão de Saulo
Na narração do martírio de S. Estevão, Saulo é mencionado. Era jovem e inimigo
declarado dos cristãos. Tanto é assim que assiste de bom grado ao martírio de S.
Estevão e toma parte nele.
Por nascimento pertencia ao grupo dos helenistas. Era de Tarso. Mas tinha
recebido uma herança ainda mais valiosa: era “da raça de Israel, da tribo de Benjamim,
hebreu e filho de hebreus” (cf. Fil 3, 5). Por isso Saulo aprendeu desde a infância as
línguas grega e aramaica. Em aramaico lhe fala Jesus quando o faz cair do cavalo. E o
12
Cristãos de Antioquia
A perseguição que se desencadeou à morte de Estevão não levou apenas os
cristãos para outras cidades da Judeia e para a Samaria. Alguns foram para muito mais
longe: ilha de Chipre, Damasco e Antioquia. Em Antioquia, os cristãos lá chegados,
provenientes de Jerusalém, pregavam a Evangelho somente aos judeus. Mas outros que
também para lá foram e que eram provenientes do Chipre e Cirene, tinham mentalidade
mais aberta e começaram a dirigir-se aos gregos, anunciando-lhes Jesus Cristo. Este
acontecimento – como diz o nosso autor – assinala a grande abertura da Igreja aos
gentios, abertura que timidamente Pedro havia iniciado sofrendo várias resistências.
Em Antioquia os sequazes de Cristo receberam dos pagãos a nome de
. O aparecimento desta designação pode revelar duas coisas:
-- a imagem que os ambientes pagãos teriam das comunidades cristãs. Os cristãos
seriam uma espécie de seita messiánica, os “partidários de Chrestos” (cf. PETERSON,
E., Fruhkirche, Judentum und gnosis, Viena 1959, 64-88);
-- que a comunidade dos cristãos tinha já uma consistência que lhe permitia ser
reconhecida a nível oficial, aos olhos dos romanos.
14
Reaparecimento de Paulo
Após a sua conversão Paulo vive três anos afastado da vida pública, e no ano 39
vai a Jerusalém, onde se encontra (provavelmente) com Pedro e Tiago, irmão do Senhor
(Gal 1, 18; Act 9, 27). Entra em choque com os helenistas (Act 9, 29), os quais
procuram dar-lhe a morte. Então Paulo é levado pelos irmãos para Tarso (Act 9, 30),
onde Barnabé, no ano 42, o virá buscar para o conduzir consigo a Antioquia (cidade
onde passa os anos 43-44).
No ano 44 Paulo e Barnabé tornam de novo a Jerusalém e quando regressam a
Antioquia vão acompanhados dum terceiro elemento: João Marcos. Poucos meses
faltavam para que Paulo desse início ao seu ministério (ano 45).
Deixemos, porém, o ministério de Paulo para o capítulo seguinte e vejamos que
outros acontecimentos se registaram na década de 40.
ROPS I, 45-46.
Na noite anterior ao dia marcado para a execução de Pedro, este milagrosamente
foi libertado, retira-se de Jerusalém (ano 43) e apenas voltaremos a encontrá-lo nessa
mesma cidade aquando da realização do concílio.
Entretanto a perseguição que determinou a fuga de S. Pedro depressa acabará pois
Agripa morre na ano 44.
Durante a ausência de Pedro, Tiago, irmão do Senhor, toma conta da Igreja de
Jerusalém. Viveu como verdadeiro asceta e viria também ele a dar a vida por Cristo,
através do martírio.
O Concílio do Jerusalém
É outro dos grandes acontecimentos dos anos 40. Pedro reaparece nele. Estão
também presentes nele Paulo e Barnabé. (Ler o nossa autor pp. 9 e 10. Ter sobretudo em
conta isto:
-- o Concílio contribui para um maior distanciamento entre o cristianismo e a
sinagoga;
-- fica definitivamente resolvida a questão das relações entre o cristianismo e a lei
moisaica).
16
Juliano) atestam que a vida dos cristãos era, para a ambiente pagão, uma pregação
eloquente, e que o exemplo deles obtinha muitos aderentes à Igreja. Os seus costumes, o
amor fraterno e a admirável actividade caritativa emergiam luminosamente no pano-de-
fundo obscuro de uma sociedade saturada de vícios e de aversões e de ódio. Orígenes
(C. Cels. 3, 29) declara que os cristãos, confrontados com a massa pagã, são autênticos
“astros celestes sobre a terra”. E Justino (Apol. 1, 16) atribui muitas conversões ao seu
exemplo de virtude. Ver Carta a Diogneto V e VI.
h) Um outro factor decisivo favorável ao cristianismo e fonte de muitas
conversões foi a firmeza dos cristãos nas perseguições (destas falaremos adiante) e a
heroicidade dos mártires. Tertuliano ousava afirmar, dirigindo-se aos pró-cônsules
pagãos: podeis fazer-nos a mal que quiserdes, podeis crucificar-nos, torturar-nos,
condenar-nos, aterrorizar-nos, matar-nos. Isso de nada vos servirá; antes pelo contrário,
prejudicais-vos a vós próprios pois que o sangue é semente de novos cristãos (“...semen
est sanguis christianorum” – Apol. 50).
género humano; a finais do século II os cristãos são vistos como causa das calamidades
públicas, dado o desprezo a que votam as divindades da pátria. Estas calúnias não rara
levantaram contra eles a furor do povo;
c) Nem só os romanos estavam contra os cristãos. Os próprios judeus que não
tinham aderido a Cristo consideravam os seus co-nacionais como inimigos da raça e
como traidores do povo e da sua religião;
d) Por fim, os gentios que se convertiam, particularmente os provenientes dos
estratos superiores da sociedade, eram vistos como “ateus”, como “inimigos do género
humano” e sujeitavam-se a serem perseguidos ou a sofrerem o martírio.
76).
Poderá reter-se como certo que Pedro visitou a Galácia, o Ponto, a Bitínia, a
Capadócia e a Ásia. Aos fieis destas províncias dirige o Apóstolo a sua primeira
Epístola.
Da menção de um partido de Cefa em Corinto (1 Cor 1, 12) pode deduzir-se que
Pedro por lá terá estado algum tempo.
Finalmente, Pedro esteve em Roma. Nisso a Tradição é concorde. Não sabemos
em concreto os passos que deu até chegar a Roma, nem a data exacta da sua chegada,
havendo quem a coloque no ano 42 (cf. LEBRETON e ZEILLER, op., cit., 225.
Também Eusébio aponta esse ano).
Segundo una tradição em voga no quarto século e posteriores (nascida com o
autor do catálogo dos papas – S. Jerónimo) Pedro habitou em Roma durante 25 anos.
Também Eusébio aponta tal número (Pedro teria entrado em Roma no ano 42 e falecido
no ano 67). Estes depoimentos, porém, se por um lado nos dão a perceber que o príncipe
dos Apóstolos permaneceu em Roma muito tempo, por outro não se conjugam com
outros dados históricos irrefutáveis: é que a perseguição de Nero, que vitimou Pedro,
produziu-se no ano 64. Além disso, e como pode deduzir-se das viagens petrinas, que
atrás elencamos, Pedro não esteve sempre em Roma...
Da permanência de Pedro em Roma pouco mais se conhece que o seu martírio.
Este ter-se-á dado por crucifixão, e a texto mais antigo a confirmá-lo é o Evangelho de
S. João (21, 18), escrito depois da morte de Pedro.
A expressão “estender as mãos” é usada par alguns autores clássicos (cf. Plauto)
para significar a suplício da crucifixão.
A Tradição do martírio por crucifixão vem explicitamente no Martyrium Petri do
terceiro século, divulgado por Tertuliano e Orígenes.
O lugar de sepultura de Pedro foi o Vaticano; no fim do segundo século o padre
romano Gaio falava do “troféu” (monumento celebrativo) de Pedro sobre esta colina.
Nas proximidades Nero tinha, como afirma Tácita, martirizado os cristãos no
circo que se sabe ter existido na zona vaticana, junto da actual Basílica de S. Pedro. Não
é, portanto, impossível que os cristãos tivessem recolhido os ossos do Apóstolo e os
tivessem sepultado na vizinha colina, em humilde túmulo. Esse lugar, como as recentes
escavações comprovaram, era destinado a lugar de sepultura para gente humilde.
20
entre os judeus. Isto representa um facto novo, que é fundamental para Paulo. Na
verdade, a partir deste momento, ele começa a elaborar a teologia da rejeição dos judeus
e da conversão dos pagãos.
Aos gentios que se convertem Paulo não impõe a circuncisão, nem a observância
de outras prescrições rituais judaicas. Esse um dos motivos que justifica a contínua e
calorosa oposição de tantos judeus; esse é também um dos motivos da realização do
Concílio de Jerusalém onde a questão foi dirimida a nível da Igreja. Dizemos “a nível da
Igreja”, pois que muitos judeus não ficaram nada convencidos de que a solução
encontrada era a melhor. Pelo contrário, procuraram fanaticamente destruir Paulo e
afastar dele as “suas” igrejas...
b) SEGUNDA VIAGEM
Esta viagem, iniciada a princípio do ano 50, é de extrema importância, pois
assinala a entrada de Paulo na Europa.
Como companheiro de Paulo encontramos agora Silas. Depois de terem passado
por Tarso (cidade natal de Paulo) dirigem-se às comunidades de Licaonia (Derbe e
Listra).
Em Derbe juntara-se-lhes Timóteo, partindo depois os três para Icónio e
Antioquia da Pisídia.
Partindo desta última cidade, Paulo vai à conquista de novos mundos. Atravessa a
Galácia, a Frígia e a Mísia (aqui ao grupo dos três alia-se um quarto, Lucas).
Os Actos nada nos dizem acerca do acolhimento que Paulo e companheiros (Silas
e Timóteo) receberam na Galácia. Mas a carta paulina aos Gálatas faz-nos supôr um
acolhimento cordial, embora pouco depois essa comunidade se tenha deixado seduzir
pelo judaísmo.
Atravessada a Frígia e a Mísia, Paulo e companheiros dirigem-se para a
Macedónia, empurrados pela visão relatada em Act 16, 9. Fizeram uma primeira
“escala” em Filipos. A primícia da pregação aos filipenses foi Lídia, comerciante de
púrpura, que se fez baptizar a ela e a toda a família, e recebeu os missionários em sua
casa. Surgiu assim o primeiro núcleo da igreja de Filipos.
De Filipos, os missionários dirigem-se para Tessalónica. Paulo começa a
frequentar a sinagoga, e durante três sábados consecutivos prega o Cristo morto e
22
ressuscitado (cf. Act 17, 2-3). Muitos gregos e mulheres mais nobres acreditam,
enquanto os judeus, “cheios de inveja” (Act 17, 5) põem a cidade em alvoroço. Paulo e
seus companheiros fogem para Bereia. Aqui há novas conversões, e novos ataques dos
judeus. Paulo foge para Atenas deixando em Bereia os seus companheiros de viagem.
Indignado com a idolatria ateniense, com os epicúreos e estoicos, Paulo começa a
pregar Cristo. Ávidos de novidades, epicúreos e estoicos escutam com interesse o
“estrangeiro”. Alguns, com certo desprezo, perguntam: “que pretende este charlatão
dizer-nos?”. Outros, ao ouvi-lo falar de Jesus e de ressurreição observam: “este anuncia
deuses estrangeiros”. Uns e outros atraídos pelo fascínio do exótico conduzem Paulo ao
areópago. Aqui o Apóstolo profere o discurso que vem registado em Act 17, 22-31 (e
que é de leitura obrigatória).
Foram escassos os frutos do trabalho de Paulo em Atenas. Algumas almas
confiaram-se a ele, mas não suficientes para fundar uma Igreja. Os cultos atenienses,
enfeudados na sua sabedoria, riem-se do Apóstolo... Depois destes acontecimentos
Paulo desloca-se a Corinto, cidade cosmopolita e um dos principais centros do comércio
mediterrâneo. Muitos coríntios levavam uma vida licenciosa, num caos moral que iria
dar não poucas dores de cabeça a Paulo.
Apenas chegado a Corinto, une-se a Áquila e Priscila que tinham vindo de Roma,
e que trabalhavam na fabricação de tendas. Com eles trabalhou e viveu, discutindo
todos os sábados na sinagoga e convencendo judeus e gregos.
Quando Silas e Timóteo, que tinham ficado na Macedónia (mais precisamente na
Bereia) se vieram reunir a ele aqui em Corinto, Paulo redobrou a sua actividade.
Aumentaram os êxitos da sua missão e também a oposição dos judeus. Paulo
permanece em Corinto ano e meio (início de 51 a verão de 52), ensinando (sobretudo
aos gentios) a Palavra do Senhor.
Depois retorna a Antioquia passando por Jerusalém.
c) TERCEIRA VIAGEM
Na Primavera do ano 53, Paulo empreende outra viagem. Depois de uma visita à
comunidade da Galácia e da Frígia (confirmando na fé todos os discípulos), dirige-se a
Éfeso, onde começa por pregar nas sinagogas, e depois numa escola (de Tirano); a
pregação prolonga-se por dois anos. De Éfeso escreve a carta aos Gálatas e a primeira
23
aos Coríntios. Com esta primeira carta aos Coríntios não consegue pôr ordem naquela
cidade. Paulo decide-se, no verão de 55, a ir lá pessoalmente.
Foi um fracasso.
Retorna a Éfeso; volta a escrever aos Coríntios (2 Cor) e manda-lhes a carta por
Tito (talvez com intenção secreta de saber o efeito que a carta produziria).
Paulo tinha então intenções de continuar a sua obra em Éfeso até à festa do
Pentecostes do ano 56, porque em Abril e Maio, as grandes festas de Artemisa (deusa da
fertilidade) atrairiam à cidade muitos peregrinos. Deste modo, essa ocasião poderia
proporcionar uma mais rápida difusão do Evangelho.
A festa realizou-se, mas foi ocasião para um motim que pôs em perigo a vida de
Paulo. Um ourives, de nome Demétrio, queixou-se que o seu comércio era ameaçado
pelo Apóstolo, pois que este pregava em toda a parte que os deuses feitos por mãos
humanas não eram deuses. Demétrio conseguiu sublevar os ourives e estes puseram a
cidade em alvoroço. Uma vez mais Paulo teve que se esquivar.
Apesar dos desgostos sofridas em Corinto e Éfeso, Paulo não desanima. Dirige-se
a Troade, e daí à Macedónia. A fins de 57 está em Corinto, onde escreve a carta aos
romanos.
Inicia-se então a viagem de regresso a Jerusalém: de Corinto a Filipos, de Filipos
a Troade, de Troade (por mar e fazendo escala em Mileto para onde convoca uma
reunião dos presbíteros de Éfeso aos quais dirige um “discurso de despedida” – Act 20,
17-36) a Tiro e de Tiro a Jerusalém, onde chega no dia de Pentecostes do ano 58.
Chegado a Jerusalém, Paulo vai a casa de S. Tiago, onde se encontravam reunidos
os anciãos. Paulo contou então os êxitos que obtivera no seu apostolado entre os
gentios. S. Tiago e os anciãos, por sua vez, informam Paulo das acusações que os judeus
lhe fazem: desviar os pagãos da circuncisão e dos costumes judaicos (Act 21, 21).
Aconselharam-no a fazer publicamente um acto de lealdade ao judaismo. Paulo vai,
portanto, ao Templo.
Judeus vindos da Ásia reconhecem Paulo e levantam um grande tumulto. Acusam
injustamente o Apóstolo de ter profanado o Templo, introduzindo nele um pagão (um
tal Trófimo de Éfeso). O tumulto originou a detenção de Paulo pelas tropas romanas,
sob as ordens do tribuno Lisia.
Este tribuno, que não entende o aramaico, não entende nada do que se está a
24
5
O Cânone Muratoriano fala de uma “profectio Pauli ab urbe ad Spaniam proficiscentis”; S. Clemente de
Roma, na sua Carta aos Coríntios fala que o Apóstolo chegou como arauto do Evangelho até aos limites
extremos do Ocidente.
25
a) No Oriente
-- No Oriente romano dois grandes focos de irradiação: a Síria e a Ásia Menor.
-- Século II aparece novo centro de irradiação: Edessa (capital do pequeno estado
de Osrohene). Escapam-nos as circunstâncias em que se deu a evangelização desta
cidade. A tradição recolhida por Eusébio, que põe o rei Abgar em correspondência com
Jesus e faz evangelizar o país pelo Apóstolo Tomás e pelo discípulo Tadeu (Addai)
apresenta todo o aspecto de lenda...
-- Século III a Arménia romana adere ao cristianismo. Tal facto é confirmado pela
26
carta que a essa região enviou o bispo Dionísio de Alexandria, por ocasião do cisma de
Novaciano.
-- Desde o século II reconhecem-se historicamente bispos em Alexandria e esta
cidade parece já ter naquele tempo uma numerosa população cristã. Em Alexandria
funcionou uma famosa escola catequética, na qual ensinaram homens ilustres como
Orígenes e Dionísio, o Grande.
-- Século IV: cristianismo chega à Mesopotâmia,6 introduz-se na Pérsia7; será que
também chegou à India?.8
b) No Ocidente
-- Em Itália:
Tácito (Anais XV, 44) diz-nos que já na perseguição de Nero se registou em Roma
uma “multitudo ingens” de mártires cristãos.
Quando Paulo vem a Roma na ano 61 e desembarca em Pozzuoli muitos cristãos
vão-lhe ao encontro...
O Papa Cornélio (+258) fala de um número imenso de cristãos romanos, guiados
por 46 presbíteros, 7 diáconos e perto de 100 clérigos menores, com 1500 viúvas e
orfãos confiados aos seus cuidados.
As sedes episcopais de Cápua e Nápoles são muito antigas, havendo até quem as
date de fins do século I.
A sede de Milão deverá datar-se de meados do século II; e do mesmo tempo, se
não ainda anterior, é a sede de Ravena.
Do século III serão as sedes de Aquileia, Pádua, Verona...
-- Na Gália:
As notícias mais seguras sobre a Gália encontramo-las no século II. Sob o
Imperador Marco Aurélio (169-179), em Lyon e em Vienne encontramos comunidades
florescentes, formadas em grande parte por gregos, os quais durante a perseguição
6
Por volta do ano 260 o bispo Dionísio de Alexandria supõe que lá existe uma Igreja organizada e
Eusébio diz-nos que a perseguição de Diocleciano fez mártires nesta região.
7
O rei persa Shapur I (241-272) durante as suas campanhas de guerra arrastava consigo para a Pérsia
muitos prisioneiros cristãos da Síria.
8
É provável que o Evangelho tenha lá chegado, via Edessa. Ainda no início do nosso século havia quem
ligasse a evangelização da Índia ao Apóstolo Tomás (cf. DAHLNAN, J., Dio Thomaslegende, 1912 e
VATH, A., Der hl, Thomas, der Apostel Indiens, 1915). Tal ligação, porém, parece-nos hipótese remota...
27
tiveram muito que sofrer; o bispo de Lyon, Ireneu, pregou também aos celtas.
Várias sedes episcopais surgiram no segundo e em parte no terceiro século:
Marselha, Arles, Vienne, Orange, Paris, Reims...
-- Na Germânia:
S. Ireneu (Adv. Haer. I, 10, 2) fala-nos de Igrejas “in Germaniis” (= Germânia
inferior e superior, sobre a margem esquerda do Reno). Entre as dioceses mais antigas
contam-se as de Treviri, Colónia, Maguncia (ou Magonza).
-- Na África:
Centro principal: Cartago, que recebeu o cristianismo no século II. Natural de
Cartago era Tertuliano, o qual nos diz (Adv. Scap. 2) que a população das cidades era
constituída por um maioria de cristãos.
No século III uma das grandes figuras desta Igreja africana foi S. Cipriano, que
refere (cf. Ep. 59, 10), que por volta do n. 240, um herético foi condenado por noventa
bispos.
Na Hispânia:
Vários autores admitem a hipótese de o cristianismo ter chegado à Hispânia por
intermédio de S. Paulo (cf. FLICHE–MARTIN e BIHLMEYER–TUECHLE).
Admitindo essa hipótese, o certo é que nada sabemos das consequências dessa missão
paulina...
Ireneu (Adv. Haer I, 10, 2) e Tertuliano (Adv. Jud. I, 7) são os primeiros a falar de
igrejas nesta região.
Notícias mais precisas encontramos por meados do século III, quando Cipriano
(Ep, 67) escreve às Igrejas de Leão, Astorga e Mérida e acena à de Saragoça (na altura
chamada Caesaraugusto).
As cartas do Concílio de Elvira (cerca de 305) falam de numerosas comunidades
cristãs.
Conclusão: ler último parágrafo da p. 25 do Orlandis.
28
a) No Oriente Romano
Dois grandes focos de irradação: Síria e Ásia Menor
1. SÍRIA
-- recordem-se, no séc. I,
* viagens de Paulo
* aparecimento do nome “cristãos”
-- no séc. II, está já fortemente penetrada de cristianismo
-- progressos da evangelização continuam certamente no séc. III
-- pelas assinaturas do Concílio de Niceia (ano 325) possui nessa altura pelo
menos 22 bispos; entre eles figuram os corepiscopoi = bispos rurais: sinal de que o
cristianismo já chegara aos campos
2. ÁSIA MENOR
-- em muitas cidades pregou S. Paulo, talvez também S. João, antes de finais do
séc. I
-- é uma das regiões do império onde Cristo mais foi pregado
-- Paulo funda a Igreja de Éfeso, que João terá governado
-- o Diácono Filipe estabelece-se nas Igrejas de Tróade, Laodiceia, Gerápolis
-- o Apocalipse é dirigido às Igrejas de Esmirna, Pérgamo, Sardes, Filadelfia,
Tiatira, Éfeso e Laodiceia
-- as cartas de S.to Inácio (+/- ano 100) falam das Igrejas de Trala e Magnésia
-- Paulo leva o cristianismo
* à Pisida (Icónio, Antioquia, Listra, Derbe)
* à Galácía
* à Frígia (cf. comunidade de Colossos)
-- a Bitínia, nas costas do Mar Negro, é alcançada ainda no séc. I
-- a cidade de Sínope, no séc. II, tem já bispo: o pai do futuro hereje Marcião
-- na região do Ponto existem muitos cristãos já no tempo de Marco Aurélio (séc.
29
II)
-- a Capadócia tem cristandades desde o séc. II
4. EGIPTO
-- terá recebido a semente cristã no tempo apostólico
-- a tradição atribui a fundação de Alexandria a S. Marcos
-- desde o séc. II conhecem-se historicamente bispos de Alexandria
-- aí funcionou uma famosa escola catequética (cf. Orígenes...)
-- no séc. II, perseguição de Septímio Severo faz aí (e em Tebaida) muitos
mártires
-- 50 lugares do Egipto – Cirenaica incluída – contam com comunidades cristãs
antes de Niceia e mais de 40 possuíam sedes episcopais
-- da Cirenaica é o Cireneu que ajudou Jesus. Muitos cireneus estão presentes no
Pentecostes
-- na 2ª metade do séc. III têm bispo próprio as cidades de Cirene, Berenice,
Arsinoe e Sosuza
6. ARMÉNIA ROMANA
-- bispo Dionísio de Alexandria (meados séc. III) dirige aos cristãos armenos,
governados pelo bispo Mansurio, uma carta sobre a penitência
b) No Ocidente Romano
1. PENÍNSULA ITÁLICA
-- tempo de Nero cristianismo tem já raízes profundas em Roma
-- ao vir para Roma, Paulo é acolhido em Pozzuoli por alguns cristãos
-- ainda no séc. I existe cristianismo em Herculano e Pompeia (cidades soterradas
na catástrofe de 79)
-- no séc. II já existirão as sedes de Milão e Ravena
-- no séc. III aparecem Aquileia, Verona, Brescia, Pádua
-- antigas são também, havendo quem as date do séc. I, as dioceses de Cápua e
Nápoles
2. GÁLIA
-- há quem diga que Paulo aportou em Marselha ou Norbona... lenda?!
-- séc. II: grande esforço evangelizador com S.to Ireneu de Lião
-- no mesmo séc. II – tempo de Marco Aurélio – aparecem os mártires de Lião e
Vienne (também Marselha?!)
-- do séc. III serão as sedes de Marselha (?), Arles, Orange, Paris, Reims,
Soissons, Chalôns, Bourges, Boudeus...
3. GERMÂNIA
-- S.to Ireneu fala da Igreja “in Germaniis” (= inferior e superior, sobre a margem
esquerda do Reno)
-- entre as dioceses mais antigas: Treveri, Colónia, Magonza
4. HISPÂNIA
-- vários autores falam em Paulo (Fliche-Martin; Bihlmeyer-Tuechle...) mas nada
31
5. BRETANHA
-- terá sido tocada pela evangelização no séc II
-- no séc. III Orígenes fala dela como região que conhece a fé cristã
-- ainda no séc. III, a perseguição de Dioclesiano faz lá vítimas (S.to Albano, em
Verulano e outras vítimas em Caerleon)
-- no Concílio de Arles (314) estão presentes três bispos: de Londres, de York e de
Lincoln
6. ÁFRICA
-- ver sebenta p. 33.
-- ver Fliche-Martin I, 289
-- ver ib., II, 191 -193
Mesopotâmia
-- faltando pégadas sólidas, admite-se que a Pérsia tenha conhecido o cristianismo
a finais do séc. I ou inícios do II
-- grande expansão do evangelho a partir do séc. III
-- ver Fliche-Martin II, 195
3. GEÓRGIA
4. ARMÉNIA NÃO ROMANA
5. ÍNDIA
(ver Fliche-Martin II, 196)
Mapas em:
-- Atlas Bíblico Geográfico-Histórico
-- História do Cristianismo, 64-65
Sobre este tema: “Regiões evangelizadas até ao século IV”, ver FLICHE–
MARTIN, Historia de la Iglesia:
I, El nacimiento de la Iglesia , 283-291;
II, La Iglesia en la penumbra, 181-197.
33
Para percebermos as causas das perseguições temos, pois, que procurar outros
motivos. E esses motivos (continuamos a falar em termos genéricos) são os seguintes:
a) Exclusivismo dos cristãos: só o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob é que é
Deus. Ele é o a único Deus;
b) Intransigência em relação a qualquer outro culto ou religião. Os romanos
inserem no seu elenco de deuses as divindades dos povos conquistados e admitem até a
existência de deuses desconhecidos; e essas muitas divindades que compõem o
Pantheon romano recebem culto. Os cristãos, porém, não aceitam isso e recusam-se a
prestar culto aos deuses “fabricados pelas mãos dos homens”;
c) Pretensão de universalidade (cf. o que sobre isto dissemos anteriormente);
d) O cristianismo – como pôs em relevo M. Sordi – apresenta-se como uma
novidade, como qualquer coisa que se opunha e rompia com a tradição. Ora sendo
recente, ele não tinha “credenciais” suficientes para ser tomado em consideração,
34
PERSEGUIÇÕES DO SÉCULO I
a) Perseguição de Nero
A perseguição de Nero relaciona-se com o incêndio de Roma, ocorrido no ano 64.
Por isso vamos referir-nos primeiro ao incêndio e depois à perseguição, vendo depois as
conexões entre uma e outra.
O incêndio começou na noite de 18 para 19 de Julho. Durou 6 dias e 7 noites. Das
14 regiões em que Augusto tinha dividido Roma, 3 foram destruídas e 7 seriamente
danificadas.
Todas as fontes que relatam o acontecimento consideram Nero o autor do
incêndio. Nenhuma culpa dos cristãos. E o povo tinha consciência da inocência dos
cristãos. Sabendo disto, Nero (como Pilatos) quis lavar as mãos e lançar as culpas sobre
os seguidores de Cristo.
Ouçamos Tácito (Anais XV, 44): “...nenhuma obra humana, nenhuma
generosidade do príncipe ou cerimónia expiatória conseguiu destruir a infâmia de que o
incêndio tinha sido ordenado. Portanto Nero, para cortar o falatório, inventou réus e
castigou com refinadas penas aqueles que, já odiosos pelas seus ritos nefandos, o vulgo
chamara cristãos”.
Do depoimento de Tácito colhemos dois elementos:
1. houve uma perseguição;
2. as penas foram “refinadas”.
35
Uma vez que os cristãos foram colectivamente acusados do incêndio, bastava que
alguém se declarasse cristão para “ter direito” a ser condenado.
A execução das refinadas penas deu-se no Outono do ano 64, inícios de 65. Teve
lugar nos jardins de Nero. Foi feita em modo cruel, mas ao mesmo tempo teatral. Três
géneros de suplícios:
-- Venatio = os cristãos eram revestidos de peles de feras para que os cães os
dilacerassem;
-- Crucifixio = pregados ou atados na cruz;
-- Tunica molesta = queimados vivos para iluminarem as trevas noturnas.
Convém ainda ter em conta que esta perseguição foi excepcional, provavelmente
confinada aos cristãos de Roma. E convém referir que a perseguição neroniana não se
esgota no episódio violento que até aqui estivemos a narrar. Ela ter-se-á prolongado de
forma não tão intensa mas mais sistemática, nos anos sucessivos. Ver Daniel-Rops I,
154-155.
36
b) Perseguição de Domiciano
Alguns estudiosos recentes puseram em dúvida a existência desta perseguição.
Porém, os argumentos por eles apresentados baseiam-se mais na fantasia que na
realidade (cf. MONACHINO, V., Le persecuzioni nell’impero romano e la polemica
pagano-cristiana, Roma 1980, 36ss). De facto, muitas são as fontes que nos atestam a
existência de tal perseguição. Assim,
-- Clemente de Roma começa a sua carta aos Coríntios escrevendo: “...e isto por
causa das imprevistas calamidades que se sucederam e das tribulações que nos tocaram
em sorte”;
-- Algumas passagens do Apocalipse falam de tribulações que os cristãos sofreram
ou irão sofrer (cf. 1, 9 onde João se refere à sua deportação para Patmos; cf. 2, 3 onde se
fala de ter sofrido pelo nome de cristão; cf. 2, 9 onde se fala de tribulações e se alude às
blasfémias daqueles que se dizem judeus mas que não são mais que “sinagoga de
Satanás”; cf. 2, 13 onde se volta a referir a fidelidade ao nome de cristão como causa de
tribulações).
Estas passagens que referimos põe-nos em contacto com uma perseguição naquele
tempo existente. Os cristãos são perseguidos por causa do seu “nome”. Talvez os judeus
tivessem contribuído na perseguição: pelo menos é isso que insinua a denúncia
“Sinagoga de Satanás”.
Um outro testemunho valioso acerca desta perseguição de Domiciano é-nos dado
37
por Eusébio. Referindo-se a Domiciano, Eusébio diz-nos que ele “...acabou por mostrar-
se o verdadeiro sucessor de Nero no ódio e na guerra contra Deus” (HE III, 17).
Resumindo:
a) Motivos de condenação:
-- ateísmo ou “impiedade para com os deuses”;
-- pertencer ao cristianismo ou ter o nome de cristão.
b) Extensão da perseguição:
-- Roma;
-- Províncias da Ásia.
c) Mártires:
-- Glabrio ou Glabrião;
-- Flavio Clemente;
-- Flavia Domitila;
-- Muitos outros.
Ver Daniel-Rops I, 163-165.
PERSEGUIÇÕES NO SÉCULO II
O reatar das perseguições tem a ver com uma carta que Plínio, ao ser elevado ao
cargo de Governador provincial da Bitínia, dirigiu a Trajano. A carta de Plínio e o
rescrito de Trajano são os primeiros documentos oficiais entre o Estado Romano e os
cristãos que chegaram até nós.
1. No tempo de Trajano
A carta de Plínio, o jovem, a Trajano
Data de 112 ou 113. E diz o seguinte (a tradução é minha; o texto original - em
latim - encontra-se em A., MANARESI, L’Impero Romano e il Cristianesimo, Turim
1914, 107-108):
“É meu costume, senhor, referir-te todos os assuntos sobre os quais tenho dúvidas.
Na verdade, quem pode, melhor do que tu, resolver a minha incerteza ou iluminar a
minha ignorância? Nunca estive presente em processos feitos contra os cristãos, e por
isso ignoro em que é que e até que ponto devo castigá-los ou interrogá-los. Senti
também incerteza se seria de admitir qualquer descriminação por causa da idade e se as
crianças, uma vez que são ainda débeis, devem ser tratadas como os mais robustos; se se
deve perdoar a quem se arrepende, ou se a quem foi cristão nada ajude o facto de não
continuar a sê-lo; se se deve punir quem ostenta o nome de cristão, ainda que não tenha
cometido delitos, ou se se devem punir os delitos independentemente da ostentação
daquele nome. Entretanto, em relação àqueles que me foram denunciados como cristãos,
agi deste modo. Interroguei-os se eram cristãos; se confessassem que sim, fazia-lhes
duas ou três vezes a mesma pergunta ameaçando-os de castigo; se persistiam,
condenava-os. (...) Foi-me proposto um opúsculo anónimo contendo os nomes de
muitos, os quais negaram depois serem ou terem sido cristãos, uma vez que, seguindo o
meu exemplo, invocaram os deuses, ofereceram vinho e incenso à tua imagem (...) e
além disso maldisseram a Cristo (...).
(...) Recorri ao teu conselho, porque isto pareceu-me digno de consulta dado o
grande número de acusados, uma vez que muitos, de todas as idades, de todas as
classes, de ambos os sexos são e serão chamados a juízo. Não só pela cidade mas
também pelas aldeias e os campos se difundiu a contágio desta superstição, a qual
parece poder ser travada ou corrigida. Certo, já se vê que os templos recomeçam a ser
39
O rescrito de Trajano
Rescrito = espécie de constituição imperial; não é uma lei, mas interpretação
autêntica de uma lei já existente.
Alguns magistrados não concordavam com esta concessão feita aos privados.
Entre eles, o próprio pró-consul da Ásia, Licínio Graniano. Este escreveu ao imperador
Adriano dizendo-lhe não considerar justo que se cedesse aos gritos da praça para
condenar inocentes.
Respondendo à questão que lhe fora colocada, Adriano mandou um rescrito (que
foi recebido e endereçado não já a Graniano mas sim no seu sucessor, Minucio
Fundano). Eis o texto do rescrito:
41
Não nos é possível fixar com segurança a data deste rescrito. Mas a sua datação
deverá colocar-se pelos anos 125-126.
Quanto ao conteúdo do rescrito ele diz-nos o seguinte:
1. Também para Adriano, como já para Trajano, os cristãos são passíveis de
condenação;
2. Adriano não se opõe a que os provinciais acusem os cristãos, porém exige que a
acusa seja feita por meio de uma petição, que deve ser apresentada ao tribunal para que
se proceda a um regular processo;
3. Quem toma a iniciativa de acusar os cristãos deve demonstrar que eles
cometeram qualquer coisa contra as leis. Isto provado, o juíz deve punir conforme a
gravidade do delito;
4. O juíz não deve permitir o acesso aos caluniadores, e se descobre que alguém
agitou para caluniar deve puni-lo severamente.
9
Isto em linha de máxima. Houve, no entanto, excepções - caso de S. Policarpo de Esmirna, que foi
vítima de um tumulto e não de um processo regular.
10
Sobre a montanismo falaremos em pormenor mais tarde.
43
3. O Estado não vai por sua iniciativa à procura dos cristãos; mas aceita
denúncias, feitas conforme à lei, por parte dos cidadãos privados. Quando alguém, em
processo regular, é acusado perante o juíz, este começa por convidar o cristão à
apostasia. Se o cristão não cede, sofre a pena capital;
4. Geralmente os magistrados inclinam-se mais para a absolvição que para a
condenação;
5. Apesar do previsto na legislação, o ódio popular e os tumultos continuaram a
fazer as suas vítimas. Para corrigir e travar tais exasperações foram editados rescriptos,
que nem sempre foram eficazes (cf. caso de Policarpo de Esmirna e dos 50 cristãos de
Lyon).
Deus as suas coroas depois de terem sofrido com enorme coragem os diferentes
tormentos e toda a espécie de morte” (VI, 1).
Um problema importante que temos agora que levantar é este: como justificar esta
perseguição dos anos 202-203 que parece contrastar com o comportamento do
imperador nos anos anteriores?
11
Sobre elas existe uma obra, cujo autor provável é Tertuliano e que se intitula Passione delle SS.
Perpetua e Felicità. Um extracto dessa obra aparece em G. LAZZATI, Gli sviluppi della litteratura sui
martiri nei primi quattro secoli (Turim 1956) 177-189.
46
Sabe-se que Maximino começou por expulsar do seu palácio imperial os cristãos
nele residentes; e sabe-se que na Capadócia e Ponto a perseguição foi sanguinária e
causou muitas execuções.
Quando se alterou o vértice do império e Filipe foi substituído por Décio, quase
todos esperavam que o novo imperador fizesse rebentar nova perseguição, tal era o
clima de hostilidade e oposição contra a política tolerante e até benévola de Filipe.
Na origem da perseguição por ele desencadeada está um seu edicto, que não se
sabe exactamente quando foi promulgado. O que se sabe é que o maior número de
12
Assim se explica que o fim do seu reinado (ano 249) tenham encontrado a morte Apolónia, o velho
47
mártires cristãos se registou no ano 250, pelo que o edicto não pode ser senão de 249 ou
primeiros meses de 250.
O Edicto de Décio impunha, não só aos cristãos reconhecidos como tais ou aos
suspeitos de o serem, como a todos os habitantes do império a participação nos
sacrifícios que se iriam realizar em honra dos deuses oficiais. Esses sacrifícios
constituíam uma solene supplicatio aos deuses para que protegessem o Estado. Quem
não sacrificasse teria pelo menos que queimar uns grãos de incenso diante das imagens
dos deuses...
O Edicto não devia vigorar por muito tempo, mas apenas até que todos tivessem
tido possibilidade de sacrificar. Estabelecia-se, pois, um tempo limite para a execução
do sacrifício. Terminado o prazo (e salvo circunstâncias especiais previstas – v.g. casa
de doença...), infligiam-se as penas, que poderiam ir desde a tortura ao exílio e à
execução...
Serapião...
48
violado nas suas fronteiras Ocidentais pelas contínuas invasões dos bárbaros, aflito
interinamente por epidemias atribuídas à ira dos deuses e por carências econômicas (que
poderiam ser minimizadas através do confisco de bens a essa Igreja que aos poucos
tinha enriquecido...).
13
Da paixão de S. Cipriano possuimos o verbal do interrogatório e a sentença – cf. MONACHINO, Le
50
Perseguição de Dioclesiano
Terminada a perseguição de Valeriano, a Igreja gozou de um clima de paz durante
mais de 40 anos. Foi tempo suficiente para que a Igreja se consolidasse, e até para que
criasse simpatia em muitas autoridades estatais.
a) Reformas
Dioclesiano quer acabar com a longa crise que abalou durante todo o terceiro
século o império romano. Ele sabia que essa crise se devia essencialmente a dois
factores: um externo (contínua pressão dos bárbaros nas fronteiras do império) e outro
interno (frequentes usurpações do poder imperial por parte dos comandantes de legiões
ou de governadores que eram aclamados imperadores pelos soldados).
Dioclesiano reúne-se com Maximiano em Milão no ano 289. Nesta reunião ele
exprime a sua concepção religiosa, acrescentando ao seu nome o título de Jovius (=
participante da divindade de Júpiter) e ao de Maximiano o de Herculius (= protegido de
Hércules, que era filho de Júpiter).
Estes novos títulos são deveras significativos: significam que o poder imperial se
coloca em directa conexão com a divindade, isto é, o poder vem da divindade e o
imperador é mais que humano (= participa do sobre-humano). Designar Maximiano
com Herculius é dizer-lhe que ele (tal como Hércules é filho de Júpiter) está
subordinado a Dioclesiano.
Esquematizando:
Dioclesiano (Jovius) = Augusto
Maximiano (Herculius) = Augusto
Constanço Cloro = César
Galério = César
b) Perseguição
Nela se podem distinguir duas fases:
1ª Fase: afastamento dos cristãos do exército e do palácio imperial. Não se sabe ao
certo quando tal afastamento se verificou; muito provavelmente terá ocorrido entre os
anos 298-300.14
Processou-se sem derramamento de sangue, por vontade expressa de Dioclesiano.
A maior parte dos cristãos permaneceu fiel à sua fé, pelo que foi despedida. Os oficiais
cristãos do exército perderam os graus que tinham (gradus dejectio), os simples
soldados foram despedidos ignominiosamente (ignominiosa missio).
Note-se, entretanto, que no próprio palácio de Dioclesiano esta medida repressiva
para os cristãos só foi aplicada parcialmente, tanto que quando apareceu o primeiro
edicto de 303 ainda viviam no palácio imperial notórios cristãos.
É igualmente de supor que Galério (inimigo dos cristãos) e Maximiano (homem
rude) tenham aplicado essa medida repressiva com mais firmeza, e que Constanço Cloro
a tenha aplicado de um modo muito ameno.
Assim estiveram as coisas até 303...
2ª Fase: edictos de perseguição. Pelo que nos diz Lactâncio no seu De mort.
persecut. Cap. X-XI, no inverno entre 302-303, Dioclesiano e Galério encontraram-se
para conversarem sobre os assuntos mais importantes do Estado. Naturalmente que o
14
J. MOREAU, in Sourc. Chret. 39, II, 263 e 266 diz que terá ocorrido entre os anos 299-300; SORDI, Il
53
cristianesimo e Roma, in Storia di Roma XIX (Bolonha 1965) 336-338 fala do ano 297.
54
Terceiro edicto: data, também ele, de 303, e terá sido promulgado antes do
inverno desse ano.
Exigia aos clérigos encarcerados que sacrificassem aos deusess: os que
sacrificassem seriam postos em liberdade; os que não sacrificassem seriam torturados
ou sofreriam até o martírio.
15
Arúspice = sacerdote que faz prognósticos após análise das entranhas das vítimas.
55
1. Organização
CLÉRIGOS MAIORES:
-- o Papa (Pedro e seus sucessores)
-- os bispos e presbíteros (1)16
- confusão terminológica
- dois tipos de comunidades
- eleição dos bispos
-- os diáconos
CLÉRIGOS MENORES:
-- subdiácono
-- acólito
-- exorcista
-- leitor
-- hostiário
FIÉIS:
-- confessores
-- viúvas, virgens, ascetas
-- carismáticos
-- simples cristãos
-- lapsi / traditores
2. Vida
a) Iniciação cristã: catecumenado (audientes e competentes ou electi) e baptismo17
b) Eucaristia18
16
Ver sobre isto artigo fotocopiado e inserido nestes apontamentos.
56
17
Acrescentar ao Orlandis o que dizemos nas p. 67-68.
18
Acrescentar ao Orlandis o que dizemos nas p. 68-69.
19
Ver nestes apontamentos p. 70.
57
Uma vez que o bispo era o pastor da sua igreja, não é de estranhar que a selecção
da pessoa que haveria de desempenhar o episcopado intersasse vivamente a toda a
comunidade.
3. O primado romano
Eram constituídas, na sua maioria, por gentes de humilde condição, mas contavam
com pessoas pertencentes à aristocracia romana.
À frente da Igreja estava o bispo como chefe único – isto, claro, a partir da
instituição do episcopado monárquico.
Presbíteros e diáconos constituíam os graus supremos do clero.
Quando cresceu o número de fiéis e nas grandes cidades resultou impossível
atender a todos num único centro, os presbíteros que antes assistiam o bispo local nas
funções litúrgicas e pastorais puseram-se à frente das diferentes igrejas ou “títulos” que
se criaram.
O número de diáconos costumava ser fixo: sete, em memória dos sete primeiros
diáconos instituídos pelos apóstolos em Jerusalém.
Além dos clérigos maiores (Bispos, presbíteros, diáconos) surgiram – para auxílio
59
dos primeiros e ao longo dos três primeiros séculos – os clérigos menores: subdiácono,
acólito, leitor, exorcista, hostiário.
O mais frequente, nos tempos apostólicos, era o baptismo dos adultos (embora
também tivessem sido baptizadas crianças). Como dizia Tertuliano, nesta época “os
cristãos não nascem, fazem-se”.
6. Eucaristia
Num primeiro período ela celebrava-se à noite, como a última ceia. Isto trazia
inconvenientes, denunciados já por S. Paulo em 1 Cor 11, 20ss. Por isso, já no início do
século II começa a celebrar-se de manhã, antelucanum (antes do amanhecer).
Justino, na sua 1ª Apologia, dá-nos pormenores sobre o modo como a Eucaristia
era celebrada: a assembleia abre-se com a leitura das “memórias dos Apóstolos” e dos
“Escritos dos Profetas” (LXVII, 2). Estas leituras são seguidas de uma homilia
(terminada esta retiram-se os penitentes e os catecúmenos).
Ver Comby I, 54; Folch Gomes, 65-67.
O alimento sagrado era distribuído na palma das mãos; o cálica servia para todos.
7. Cemitérios
Repare-se que se diz “entre cristãos”. É que se o lítigio fosse entre um cristão e
um pagão só havia uma possibilidade: o recurso ao magistrado romano.
Quem deu a solução para o caso foi Paulo, aproveitando a ocasião de cristãos de
Corinto terem recorrido a juízes civis para resolver um conflito. Paulo reagiu. Já era
escandaloso que os irmãos se pegassem entre si; pior ainda se recerriam aos tribunais
civis.
Por isso Paulo propôs que os conflitos se resolvessem dentro da Igreja. O
procedimento a seguir seria o da arbitragem: os litigantes deveriam escolher como
árbitros um ou vários cristãos que pela sua prudência e imparcialidade fossem dignos de
confiança e deveriam comprometer-se a acatar a decisão.
Esta questão recrudesceu aquando da perseguição de Décio, por causa dos lapsi.
que a apostasia era pecado irremisível, mesmo em caso de morte. Por seu turno, o Papa
Cornélio, condenou a doutrina de Novaciano, o qual chegou mesmo a ser condenado
por um sínodo romano.
66
O período que vai de 70 a 140, além de ser um período de expansão, foi também
para o judeo-cristianismo um período de crise interna. Essa crise interna levou ao
aparecimento de várias correntes heréticas, das quais destacamos duas: CERINTO e
EBIONISMO.
I – Judeo-cristianisino heterodoxo
1. Cerinto
2. Ebionismo
-- Alguns derivam este nome de uma personalidade que teria tido o nome de
Ebion; outros fazem-no derivar (hipótese mais provável, tendo em conta o modo
simples como os ebionitas viviam) do vocábulo hebreu ebion (= pobre);
-- os ebionitas não ensinam que o mundo tenha sido criado por uma potência
67
2.1. Gnosticismo
b) Péssima ideia da matéria: esta não foi criada por Deus, pois é intrinsecamente
má. O próprio homem, apegando-se a ela, perverte-se e alheia-se de Deus. A matéria
não é criação de Deus mas do Demiurgo, um ser criador, intermediário entre Deus e o
mundo.
e) Alguns gnósticos negam qualquer rito ou sacramento. Pelo menos é isso que
nos diz S.to Ireneu ao afirmar: “Dizem que não se deve realizar o mistério da potência
invisível e inefável com criaturas visíveis e corruptíveis (...)” (Adv. Haer. I, 21, 4). Mas
a maior parte dos gnósticos consideram os mistérios e sacramentos meios aptos para
despertar a “gnosis” no iniciado.
f) Uma vez que os gnósticos se consideram uma elite da humanidade, a sua prática
ritual está cheia de símbolos, de fórmulas sagradas e de consagrações, numa palavra, de
mistérios que têm como fim a delimitação precisa das comunidades gnósticas e o ser
sinal de uma realidade superior. Ver História das Heresias, 33ss.
69
2. Psíquicos: são cristãos de segunda classe que não entendem bem a doutrina,
mas que mesmo assim conseguem salvar-se por causa da sua fé a por causa das boas
obras que praticam;
que ao entrar no mundo assumiu um corpo aparente (docetismo), como aparente foi o
seu nascimento, paixão e morte;
-- a salvação consiste em obter a “gnosis” e em deixar-se vivificar por ela.
2.2. Maniqueismo
Fundador: o Persa Mani ou Manes, que nas fontes gregas e latinas se chama,
respectivamente ou Manichaeus. Nasceu a 216 e morreu em 277.
Reiteradas visões revelaram a Manes sua grande vocação religiosa. Um anjo revelou-lhe
que ele estava destinado a ser apóstolo e arauto de uma nova religião universal, cujo
conteúdo lhe foi manifestado em posteriores revelações. Consciente disso, Manes
começa a sua actividade iniciando uma viagem até à Índia. Através dos seus seguidores,
a doutrina de Manes chegou depois ao Egipto, Irão, China, Síria e Arábia, África,
Roma, Gálias e Espanha. Na África o maniqueismo encontrou um ilustre aderente, que
o foi durante um decénio – S.to Agostinho.
Doutrina:
-- Dualismo radical na concepção de Deus: há dois seres ou princípios supremos
de igual categoria: o Princípio da luz e a princípio das trevas. Ambos são ingénitos (=
não gerados) e possuem o mesmo poder. Encontram-se em antítese ou contraste
irreconciliável, cada um detendo o seu próprio império. O império da luz é governado
pelo pai da grandeza; o do mal, pelo príncipe das trevas, que manda sobre numerosos
demónios;
-- Concepção dualística do homem: este é mistura de luz e trevas. E o homem
começa a salvar-se quando toma consciência disso mesmo. Desde que o homem começa
a conhecer-se, o pai vem ao seu encontro, ajudando-o a libertar-se cada vez mais das
trevas que existem nele. Para se encontrar com o homem Deus serve-se de
mensageiros...
-- Os mensageiros da verdadeira religião são quatro: Buda, Zoroastro, Jesus e
Manes. Os três primeiros tiveram uma acção circunscrita: Buda actuou apenas na Índia;
Zoroastro cingiu-se à Pérsia; Jesus à Judeia. Nenhum destes três fixou a sua mensagem
por escrito. Daí que as religiões por eles fundadas depressa tenham decaído e
adulterado. Mas esse fracasso é agora compensado por Manes: ele é o apóstolo da
última geração, o enviado da luz; ele constituí o último chamamento universal (não
circunscrito a qualquer região) à salvação. O Paráclito que Jesus tinha prometido desceu
sobre Manes e revelou-lhe os mistérios ocultos (= a gnosis). Por isso Manes pode
74
apresentar-se e ensinar como o Paráclito prometido. Pela boca de Manes fala a Espírito
enviado por Jesus.
-- Ética: abstenção de tudo o que liga o homem à matéria, para que aumente o
império da luz e não o das trevas, para que o homem chegue à gnosis e não à “agnosia”.
O perfeito maniqueu é aquele que renuncia a este mundo, nele nada quer possuir,
combate em si mesmo todos os desejos e concupiscências, praticando a continência
absoluta e recusando o matrimónio.
-- Organização: os adeptos do maniqueismo estavam congregados numa igreja
bem organizada. Cabeça dessa igreja era Manes, de quem todos os outros recebem
autoridade. Sob Manes encontram-se 12 apóstolos, 72 bispos, 360 presbíteros, os
“fiéis”.
-- Sagrada Escritura: o Deus da Antigo Testamento não é o Deus da luz (nisto
coincide com Marción). Este Deus da luz é revelado sobretudo pelo Novo Testamento e
cartas Paulinas.
Ver História do Cristianismo, 98-99; Dicionário das religiões, 230-231.
3.1. Montanismo
Montano = frígio que por volta de 170, nas províncias asiáticas da Frigia e Misia
se apresenta como sendo profeta do Espírito Santo. Este Espírito Santo só agora, por seu
intermédio, iria conduzir a cristandade à verdade total.
Doutrina:
-- Escatologia: o montanismo dá grande importância às visões e revelações. O
conteúdo dessas revelações é essencialmente escatológico. Os tempos do Paráclito
tiveram início com a vinda de Montano. Cristo está para aparecer na sua última vinda. A
75
nova Jerusalém está para se tornar realidade e o seu reino durará mil anos
(milenarismo);
-- Exaltação do martírio: fugir do martírio significaria apego a este mundo que
caminha para o fim;
-- Renúncia ao matrimónio: tanto quanto possível, pois apega a este mundo. As
duas profetisas (Priscila e Maximila) abandonaram a comunidade conjugal com seus
maridos. Tertuliano condena as segundas núpcias;20
-- Necessidade do jejum, como meio de preparar a alma para a vinda de Cristo.
Montano impõe o jejum contínuo (sem qualquer interrupção) como preceito para todos
os cristãos.
O montanismo espalhou-se pela Síria, Gálias, Ásia, Roma, mas não teve tanto
impacto como o maniqueismo. Além disso, a morte dos três primeiros representantes da
profecia significou um duro golpe para a ulterior propagação do movimento. Maximila
morreu no ano 179 e ela tinha precisamente anunciado: “Depois de mim não virá
nenhum profeta mas a consumação do fim” (Tertuliano Adv. Praxeam 1). Este oráculo
permitiu a muitos adeptos um juízo sobre a autenticidade da pregação, que só poderia
ser negativo. O movimento teria acabado mais cedo se não tivesse contado com a
adesão de Tertuliano (provavelmente a partir de 205/206).
Ver História das Heresias, 55-59; História do Cristianismo, 87.
3.2. Donatismo
20
Cf. a obra De exhortatione castitatis, onde exorta um amigo viúvo a não contrair segundas núpcias, as
quais qualifica de “espécie de devassidão” e De monogamia, um violento libelo contra a liceidade das
segundas núpcias. Altaner-Stuiber, Patrologia, 165.
76
sacerdotes, os sacramentos por eles administrados não eram válidos. Por outras
palavras, a validade do sacramento dependia do estado de graça do ministro.
Esta concepção teológica manifestou-se decisiva quando foi preciso encontrar um
substituto para o Bispo de Cartago, Mansurio. Como substituto dele foi apontado e
sagrado Ceciliano. Só que um dos bispos consagrantes foi Félix, um “traditore”.
Reunidos em Concílio, 70 bispos da Numídia declararam nula a sagração e contrapõem
a Ceciliano primeiro Mayorino e logo depois Donato.
Neste cisma Donato/Ceciliano iria intrometer-se Constantino, convocando para
um julgamento em Roma os dois contendentes acompanhados cada um de 10 bispos
apoiantes, e convocando depois (ano 314) em Arles um novo concílio (no qual
participaram numerosos bispos), que não deu qualquer resultado...
Deixemos para depois a desfeixo desta contenda e fixemo-nos por agora nas
principais ideias de Donato:
a) Concebe a Igreja como comunidade integrada apenas por santos;
b) Defende uma errónea teologia sacramental. Chega a afirmar que os lapsi, para
voltarem à Igreja, têm que ser rebaptizados, e que o baptismo administrado por um
sacerdote “caído” não é válido.
Ver História das Heresias, 61-74.
77
Quem são: grupo de escritores de lingua grega dos séculos I e II, assim chamados
pela sua ligação com os Apóstolos, dos quais directa ou indirectamente se podem
considerar discípulos.
Principais escritos:
-- Didaché: composta na Síria a fins do século I ou inícios do II, contém normas
de vida moral, preceitos litúrgicos, normas referentes à organização das comunidades. É
o mais antigo texto de disciplina eclesiástica que possuímos.
-- Epistolário:
-- S. Clemente Romano (a carta que ele escreve aos coríntios exigindo que estes
lhe obedeçam é, como vimos, importante no que concerne ao Primado de Pedro);
Ver Comby I, 60.
-- S. Inácio de Antioquia (as certas que escreve às igrejas asiáticas, à Igreja de
78
Roma e a Policarpo de Esmirna são documento luminoso sobre a fé, piedade e vida das
igrejas a começos do século II); Ver Daniel-Rops I, 268-269.
-- S. Policarpo de Esmirna: escreve à comunidade de Filipos, dando-lhe
numerosas instruções acerca da verdadeira fé e da vida cristã. Insiste especialmente na
obediência devida a bispos e diáconos.
Ver Daniel-Rops I, 269.
-- Pastor de Hermas: esta obra diz-nos o que pensava a Igreja romana do século
II acerca da penitência e vida cristã. É um Apocalipse apócrifo. O autor da obra tem em
vista levar os fiéis à penitência.
-- Diálogo com Trífon, contra os Judeus, aos quais Justino quer provar que Jesus
é o Messias e que a Sua religião é verdadeira. Este Trífon talvez seja o conhecido e
douto Rabí Tarfón, contemporâneo de Justino;
21
Entre os pagãos havia quem acusasse os cristãos de se juntarem em reuniões noturnas para comerem a
80
cristãos rejeitam o paganismo porque não podem ser idólatras, adorando deuses de
madeira e de pedra; b) rejeitam igualmente o judaísmo porque os seus ritos são ridículos
e indignos da divindade; c) o cristianismo é uma religião que dá costumes, uma vida e
sentimentos superiores a tudo quanto a paganismo produziu de melhor e mais
alevantado. Os cristãos são, no mundo, o que a alma é no corpo. Animam-no com as
suas virtudes, coisa maravilhosa e humanamente inexplicável, que não é possível
realizar-se senão pela omnipotência divina. Deus enviou à terra o seu Verbo, que
também é Deus, para ser o fundador desta religião divina(...)”. (INSUELAS, o.c., 64-
65);
Ver Comby I, 38; ver a epístola na colecção Fontes de catequese 110.
a) Escola de Alexandria
b) Escola de Antioquia
João;
- comentou ainda os actos e cada uma das epístolas de S. Paulo.
Pela mesma lista de Tixeront sabemos que tem ainda outros comentários, mas não
chegaram até nós.
1. Edicto de Milão
A partir daqui,
-- o paganismo é considerado “falsa religião das trevas” e passa à situação de
apenas tolerado;
-- funcionários imperiais são proibidos de tomar parte nos sacrifícios do culto
pagão;
-- novos funcionários são escolhidos de entre os cristãos.
3.Cristianização da sociedade
22
Cf. AA. VV., Os sacramentos. Teologia e história da celebração, ed. Paulistas, colecção Anámnesis 4
88
-- “O culto dos mártires, e dos santos em geral, jogou então um papel muito
importante na catequese cristã. As massas rurais estavam formadas por gentes simples e
rudes, para as quais os santos – uns homens de carne e osso, que tinham encarnado
heroicamente as virtudes cristãs – constituíam a lição mais prática da pedagogia da fé. O
homem corrente sentia os santos como alguém muito próximo, e por isso ninguém
melhor que eles podia servir-lhe de intercessores junto de Deus e como caminho para
Ele. O culto às relíquias – provas tangíveis da “humanidade” de mártires e santos –
difundiu-se muito nesta época, porque respondia plenamente às exigências mais íntimas
6. As igrejas rurais
Mas nem todas as igrejas rurais foram “paróquias”; eram mais abundantes os
templos (oratórios, basílicas, ecclesiae). Muitos desses templos foram erigidos e
provistos por particulares (fenómeno que se irá acentuar na Idade Média). Esses
particulares – logicamente grandes latifundiários ou gente de grandes posses – tendiam
a considerar os templos por eles erigidos como propriedade pessoal, da qual podiam
91
23
Está hoje provado que a cânone de Elvira respeitante a este assunto e tido como pioneiro em matéria de
continência dos clérigos é uma interpolação posterior, pelo que pode ser falso afirmar-se a vanguardia de
Elvira neste assunto. Sobre a história do celibato ver Comby I, 11-12.
92
No alie respeita aos leigos, recordemos quanto dito a propósito das eleições
episcopais; mas acrescentemos que alguns deles – os mais qualificados – continuam a
influir na seleção de bispos, nos concílios e na administração eclesiástica.
24
Os monges egípcios, quer os aderentes a S. Antão, quer os aderentes a S. Pacômio, iriam cair, no século
V, por ignorância teológica na heresia monofisita. Contribuiram assim, talvez inconscientemente, ao
aparecimento de um cristianismo copto, desvinculado de Roma e Constantinopla.
94
25
Sobre o sentido das palavras anacoreta, cenobita, monge, etc., ver Comby I, 85.
95
1. Introdução
3. Bispos e dioceses
Até ao século IV o bispo tem a sua acção praticamente confinada na cidade, uma
vez que os campos ainda não tinham sido evangelizados. Quando estes recebem o
Evangelho, o Bispo tem que estender a sua acção às periferias urbanas, aos espaços
rurais e aos camponeses. Abre-se assim o caminho à noção de DIOCESE (= extensão
territorial sob autoridade de um determinado bispo).
4. O Bispo e a Sociedade
5. As províncias eclesiásticas
Competia ao metropolita:
-- controlar as eleições episcopais nas diversas dioceses da província;
-- julgar no seu tribunal as causas providas em apelo dos tribunais diocesanos;
-- presidir aos concílios provinciais, órgão colegial do episcopado da província
onde se tratavam as questões de interesse comum, se resolviam diferenças e se legislava
sobre a vida religiosa.
superior à das simples capitais de província eclesiástica. Sedes deste tipo podem
encontrar-se quer na Igreja latina quer na Oriental.
Na Igreja latina
Na Igreja Oriental
A acção dos Papas nem sempre se confinou ao religioso. Eles tiveram também
importantes intervenções nos grandes acontecimentos políticos que marcaram a
passagem da antiguidade à Idade Média. Eis alguns exemplos:
-- Leão I vai ao encontro de Átila e salva a Itália da invasão dos hunos (452);
101
-- o mesmo Papa, três anos depois, sai ao encontro do rei vândalo Genserico que
se preparava para destruir Roma. Desta vez Leão I conseguiu apenas que se poupassem
as vidas e que a cidade não fosse incendiada;
-- quando, no século VI, se debilitou o domínio bizantino sobre Itália, Gregório
Magno e os Papas da sua época tiveram que proteger o país e as populações contra a
permanente ameaça dos ducados longobardos da Itália central.
9. Concílios Ecuménicos
S.to Atanásio:
-- em Niceia – 325: defende homoousios do Filho
-- tem três “Discursos contra os Arianos”
--foi Bispo de Alexandria
-- presumível autor de “A vida e obras de n/ santo pai Antão”
Basílio de Cesareia:
-- foi Bispo de Cesareia
-- organiza a caridade – CIDADE DE EMERGÊNCIA
-- preocupa-se com a vida monástica – grandes e pequenas regras
-- preocupa-se com a ortodoxia (defende divindade do E.S.)
Gregório de Nazianzo:
-- autor de cinco “Discursos Teológicos”, nos quais
-- defende a divindade do Filho e do E.S.
Gregório de Nisa:
-- Bispo de Nisa
-- defende divindade do E.S. no Concílio de Constantinopla
S. João Crisóstomo
Cirilo de Alexandria:
-- principal mariólogo – Theotokos (= Maria, Mãe de Deus)
105
S. to Ambrósio:
-- baptizou S. to Agostinho
-- conselheiro de três imperadores (Graciano, Valentiniano II, Teodósio)
S. Jerónimo:
-- traduz do hebraico para o latim a S.E. (VULGATA)
S. to Agostinho:
-- autor das “Confissões” e de “A cidade de Deus”
S. Leão Magno:
-- dogma cristológico e teologia do primado
S. Gregório Magno:
-- autor de “Morais” e “Diálogos”
-- canto gregoriano
S. to Isidoro de Sevilha:
-- autor das Etimologias
1. Introdução
O que vamos agora fazer é recordar os padres gregos e latinos que mais fama
obtiveram e que mais contribuiram para a formulação da doutrina e teologia cristãs.
2. Os padres Orientais
26
Estes últimos dois factores distinguem-nos dos simples escritores eclesiásticos a quem faltava pelo
menos um deles.
107
b3) Gregório de Nisa: é o teólogo mais profundo deste grupo dos três
Capadócios. Chegou a ser casado, entrou depois num mosteiro, acabou por ser bispo de
Nisa. Desempenhou, sobretudo pela defesa da divindade do Espírito Santo, papel
importante no Concílio de Constantinopla. Ver Insuelas, 280ss.
27
Ver a sua “homilia para o tempo da fome e da seca” – Comby I, 113.
108
3.1. “O primeiro dos grandes padres ocidentais foi S. to Ambrósio (333-397), que
realizou uma notável actividade literária de exegese bíblica e de pregação, mas esteve,
além disso, no centro da actualidade, numa época singularmente conflituosa e difícil.
Ambrósio era um romano genuíno e esta realidade faz-se sentir tanto na sua brilhante
carreira civil como no seu governo pastoral de Bispo de Milão, a cuja sede foi elevado
por aclamação popular, sendo ainda simpes catecúmeno. Correspondeu a S.to Ambrósio
a honra de administrar o baptismo àquele que havia de ser o maior dos padres
ocidentais, S.to Agostinho. Coube-lhe também em sorte ser amigo e conselheiro de três
imperadores (Graciano, que o venerava como a um pai; Valentiniano II, assassinado aos
20 anos; e Teodósio, o Grande) e excomungou um deles (o último) – Teodósio, o
Grande – por causa da matança de Tessalónica; todavia, por ocasião da sua morte fez
dele um impressionante elogio fúnebre, tão sentido como a oração que pronunciara anos
antes em memória do seu antecessor Valentiniano II. A fama de Ambrósio transcendeu
a sua sede episcopal – Milão – cujo prestígio cresceu notavelmente, não só na Itália do
Norte, como também em outras regiões do Ocidente latino” (Orlandis, História Breve
do Cristianismo, 39);
3.3. “(...) o principal padre da Igreja e uma das figuras cimeiras da história cristã,
e mesmo de toda a humanidade, foi o africano (actual Argélia) Aurélio Agostinho
(354-430). As suas “Confissões” – autobiografia espiritual desde a infância até à
conversão – é uma obra prima da literatura universal (...). S. to Agostinho comentou a
Antigo e o Novo Testamento e tratou os grandes temas da teologia, que graças ao seu
contributo experimentou progressos decisivos. (...) Agostinho interroga-se acerca dos
109
acontecimentos históricos que se sucediam diante das seus olhos e em especial ante a
ruína do império romano do Ocidente, abatido pelas invasões dos bárbaros,
precisamente quando tinha chegado a ser um império cristão. Os pagãos interpretavam
estas desgraças de Roma como um castigo dos deuses, por se ter abandonado a velha
religião. Em resposta Agostinho escreveu a “Cidade de Deus”, ensaio de teologia e de
história (...) em que se pergunta pelo sentido dos tempos e pelo plano da providência
divina” (Orlandis, História breve..., 40);
3.5. S.to Isidoro de Sevilha: “(...) pode considerar-se em rigor o último padre
ocidental. As suas “Etimologias” foram a primeira enciclopédia cristã e a sua missão foi
ser mestre do Ocidente medieval, ao qual fez chegar as riquezas da sabedoria da
Antiguidade” (Orlandis, História Breve..., 40).
ARIANISMO, o qual, por sua vez, lança raízes em dois outros desvios doutrinais: o
sabelianismo e o subordinacionismo. Vejamos, então, primeiro o que diz o sabelianismo
e o que se entende por subordinacionismo para depois entendermos a que é o arianismo.
O símbolo de Niceia foi aprovado quase por unanimidade: Ario e outros dois
bispos que o recusaram foram excomungados e desterrados.
contra os arianos.
Cristo.
4. Na sequência do monofisismo
Sérgío pensava que esta fórmula podia satisfazer a todos; aos católicos porque
mantinha a doutrina das duas naturezas definida em Calcedónia; aos monofisitas porque
a única energia e vontade simbolizavam a perfeita unidade de Cristo que eles
postulavam.
Calcedónia com uma profissão de fé explícita nas duas energias e nas duas vontades em
Cristo.
6. A questão da Graça
A finais da século IV, o mundo religioso da Península Hibérica foi agitado por
algumas doutrinas acerca da graça, que tinham como autor um monge bretão de nome
Pelágio e como divulgador na Península o asceta Prisciliano.
A pressão dos bárbaros sobre o império começa já a sentir-se no século III, altura
em que Roma se viu obrigada a retificar alguns limites, abandonando certos territórios
muito avançados. A meados do século IV, empurrados pelos hunos (sediados na
Mongólia, actual China), os visigodos vêm instalar-se na actual Grécia, a sul do
Danúbio, e em 410, chefiados por Alarico I saqueam Roma, indo depois instalar-se no
sul da Gália e na Hispânia, fixando a sua capital em Tolouse.
Outras tribos bárbaras não seguiram o percurso do Danúbio mas sim o do Reno:
são elas as dos suevos, vândalos e alanos. Os suevos e alanos viriam a ser absorvidos
pelos visigodos, que na península ibérica e sul da Gália estiveram até serem destruidos
pelos árabes em 711. Os vândalos, com Genserico, atravessam o estreito e apoderam-se
da província romana do Norte de África. Genserico dominou a população e formou aí
um novo reino, que durou até 535, altura em que foi destruído pelos bizantinos
(Justiniano I, tentando reunificar o Antigo Império, mandou Belisário a combatê-los e
fundou lá o exarcado de Cartago).
A península italiana conheceu dois povos germânicos: primeiro foi ocupada pelos
ostrogodos (493-553), que fixaram a capital em Ravena e que em 476 tinham mandado
Odoacre a vencer e destronar o último imperador do Ocidente, Rómulo Augústulo. Os
ostrogodos desapareceram aquando da reconquista bizantina levada a cabo no tempo de
Justiniano II, com a ajuda dos longobardos (ano 568), que lá permaneceram até serem
destruídos por Carlos Magno (em 774).
120
Os francos ocupavam, por volta do ano 480, uma região de proporções diminutas
no nordeste da Gália. Conseguiram depois expandir-se muito, no tempo de Clodoveu
(ou Clóvis). Essa expansão foi tal que em pouco tempo o reino franco passou a
compreender a maior parte da actual França e amplas regiões da Bélgica, Alemanha
Ocidental e Áustria.
dos povos barbáricos que recebeu o cristianismo” (Orlandis 182). Ora quem o
cristianizou foi Ulfilas, um bispo que tinha sido sagrado em Constantinopla pelo famoso
ariano Eusébio de Nicomédia. Durante os 40 anos do seu episcopado Ulfilas
desenvolveu grande actividade entre as godos e sobretudo levou a cabo uma versão da
Bíblia em língua gótica, tendo tido previamente que compôr um alfabeto, pois que os
godos ainda não tinham escrita;
Da história do reino suevo pouco sabemos, mas uma carta do Papa Virgílio de 538
dirigida ao Bispo de Braga diz-nos que eram arianos, embora não criassem obstáculos à
Igreja Católica. Sabemos igualmente que, além do arianismo, no reino suevo existiam
ideias priscilianistas e restos de paganismo.
Mais difícil de conseguir foi a unidade interna, à qual se devotou, ao que parece,
entre os anos 578-580. Como primeiro passo para a unidade anulou a proibição dos
matrimónios mistos (já antes desrespeitada) e mandou unificar a legislação para os dois
grupos raciais.
Por resolver ficara ainda o problema religioso, que assume capital importância
quando Hermenegildo, regente da zona Bética, residente em Sevilha, casado com uma
católica franca convicta (Ingunda) e sujeito à Influência de metropolita Leandro adere
ao catolicismo. A adesão de Hermenegildo ao catolicismo provocou a ruptura com o
pai, defensor da “religio goda”; este último parte à conquista de Sevilha e Córdova (ano
584). Instado a retratar-se, Hermenegildo não o fez. Foi preso e assassinado em
Tarragona, na páscoa de 85.
124
Seu filho e sucessor, Recaredo (586-601) abraçou s fé católica dez meses após ter
assumido o governo (587). Facilitou depois a passagem do clero e bispos arianos para o
catolicismo conseguindo a integração deles no clero católico. Quanto ao povo, e uma
vez convertido o soberano, fácil foi unificá-lo sob o signo católico.
Sob a regência de Agilulfo, e muito por influência da sua mulher Teodolinda, dá-
125
28
Sobre a importância do “exemplus regis” a das princesas católicas ver Orlandis 189-191.
127
5.1. Os Alamanes
Até terem sido derrotados pelos Francos, os Alamanes eram pagãos; após
conquista de Clodoveu (496 ou 497), os mais influentes aproximaram-se da nova
religião e a parte setentrional do território ficou sob domínio Franco.
Quer nos territórios que ficaram sujeitos aos Francos, quer nos pertencentes aos
nobres Alamanes, depressa surgiram igrejas e capelas dedicadas a S. Martinho, a
S.Miguel Arcanjo, a S. João Baptista...
Importante na cristianização deste povo foi a fundação da sede episcopal de
Constança, junto ao lago homónimo. Constança viria a ser uma das dioceses maiores e
mais célebres da Alemanha.
O influxo do cristianismo sobre o povo Alamano era já forte no séc.VI, de tal
modo que os vários chefes das várias estirpes, reunidos em assembleia, decidiram
aceitar a nova religião.
5.2. Os Bávaros
Também eles tiveram que reconhecer (por volta de 540) o domínio dos Francos,
embora tivesse continuado a existir (até finais do séc. VIII) a casa ducal dos
Agilulfingos, da qual saira Teodolinda, Rainha dos Longobardos.
O principal evangelizador deste povo foi S. Ruperto, vulgarmente chamado
“apóstolo da Baviera”; a ele se deve a construção do mosteiro de S. Pedro em Salzburgo
(actual Áustria); o principal organizador eclesiástico foi S.Bonifácio, que dividiu o
território em quatro dioceses (Passavia, Ratisbona, Salzburgo e Frisinga).
Da Baviera haveriam de partir missionários que grande contributo prestaram à
evangelização dos eslavos (particularmente dos residentes na Morávia e Boémia) e
Húngaros.
128
5.3. Turíngios
6. As Crintandades Célticas
29
Ver Comby I, 127.
131
Apenas mais duas notícias, que nos ajudam a perceber o porquê da rápida
expansão do cristianismo entre os “bárbaros”: a primeira notícia tem a ver com a
religião deles; a segunda, versa a relação deles com os romanos.
Quanto à religião dos “bárbaros”: estava em franca decadência, quando eles
apareceram. Indícios desta decadência são a grande superstição em que viviam e o
fatalismo paralisante em que se moviam. Mas em contraste com esta decadência, esses
povos possuiam uma alta moralidade, reconhecida pelos seus próprios inimigos. Por
isso o “evangelho” apareceu aos olhos dos “bárbaros” como uma “alegre notícia”, que
eles aceitaram, salva raras excepções, de boa vontade.
Relativamente à relação romanos-germânicos importa dizer o seguinte: o
relacionamento entre eles nem sempre foi tão difícil quanto à primeira vista possa
parecer. Por vezes foi até fácil e nada hostil.
De facto, muitos germânicos tinham já sido criados na civilização romana. Desde
o século III inteiras tribos de povos germânicos eram toleradas dentro das fronteiras do
império, com a única obrigação de ajudarem militarmente o imperador romano em caso
de necessidade.
Mais ainda: algumas vezes encontramos bárbaros a lutarem do lado do império
romano. Assim sucedeu no tempo de Justiniano I: este chamou, como vimos, os
longobardos para o ajudarem a expulsar da Itália os ostrogodos.
Teodorico, rei ostrogodo (493-526), foi reconhecido por Bizâncio como “patricius
romanorum”, aparecendo assim diante dos romanos como vigário do imperador do
Oriente, enquanto que para os germânicos era rei.
Os visigodos conviveram de perto com os romanos. Quando os suevos e os
visigodos se converteram ao cristianismo, as diferenças étnicas entre estes povos e os
132
Tudo quanto até aqui foi dito antecede o séc. VIII, porque a partir deste, como
veremos, a situação da Europa vai alterar-se. Mas isso deixamos para a história da Idade
Média...
Islamismo
O Islamismo – a religião dos árabes – foi fundada por Maomé, no século VII.
Antes dele, os árabes adoravam a força da natureza e os astros, e tinham em Meca um
Santuário – a Kabba – onde se guardava a pedra negra.
Reconhecendo embora um Deus superior, davam mais importância aos seus
numerosos ídolos. A cidade de Meca, além de grande centro de comércio, era a cidade
sagrada, lugar de peregrinações.
“In Châ Allah” (se Deus o quiser) exprime a fé na actuação constante de Deus sobre o
universo.
Maomé
Nasceu em Meca no ano 570. Ficou orfão de pai e mãe muito cedo e foi entregue
a um tio que resolveu encaminhá-lo para o comércio.
Deslocando-se em caravanas estableceu contactos comerciais com a Arábia, Síria
e Palestina. Neste último país tomou contacto com a Sagrada Escritura e com a figura de
Jesus Cristo. Então, Maomé abandonou o comércio e empenhou-se numa reforma
religiosa.
Um dia pareceu-lhe ouvir uma voz que dizia: “Maomé, tu és o enviado de Deus”.
Desde este momento teve a certeza que Deus o destinava para ir levar aos homens a Sua
Mensagem, à semelhança dos antigos profetas. Nos primeiros tempos encontrou uma
grande resistência por parte dos ricos e autoridades que achavam que a sua doutrina
contra os ídolos, afastava as peregrinações de Meca.
Os seus seguidores fiéis foram além da sua família, os que nada tinham, os pobres
e os perseguidos.
Passou dez anos de luta silenciosa durante os quais teve que mandar para a
Abissínia muitos dos seus fiéis e ele próprio teve que fugir para Medina, que quer dizer
“cidade do profeta”. (A data da fuga – hegira – é o início da era muçulmana).
Então, Maomé, tornou-se, simultaneamente, chefe político e religioso e um
diplomata de grande talento.
Maomé morreu em Medina, a 8 de Junha de 632.
Duas verdades:
-- Allah é um, Allah é grande.
-- Maomé é o Profeta de Allah, embora precedido de outros profetas como
Abraão, Moisés e Jesus.
As obrigações:
-- A profissão de fé num Deus Único: Allah; “Não há outro Deus além de Deus,
Maomé é o Profeta de Deus”.
-- A oração, cinco vezes ao dia, voltados para Meca. Há ainda a oração pública
feita ao meio dia de sexta-feira, na mesquita.
-- O jejum de Ramadan – abster-se de comer e beber desde o nascer ao pôr do Sol,
durante o mês lunar.
-- A esmola – dada aos pobres segundo a consciência de cada um; quando os bens
ultrapassam um mínimo, os fiéis uma determinada quantia para as necessidades da
comunidade (“imposto religioso”).
-- A peregrinação a Meca – obrigatória pelo menos uma vez na vida.
O Corão:
Para o muçulmano, o texto sagrado do Corão é a maior riqueza terrena. Nele
encontra os ditames da fé, da vida cumum, leis e sugestões. Não há muculmano que não
possua um exemplar, e não é raro encontar muculmanos que o saibam todo de cor.
Compõe-se de 114 capítulos (suras); alguns dos quais muitos extensos (286 versículos)
e outros muito breves (3 versículos), num total de 6236 versículos formados por 7924
palavras e 323621 letras.
Jesus no Islão
O capítulo XIX do Corão é dedicado a Maria Virgem, muito venerada por todos
os fiéis muçulmanos e que eles consideram Mãe puríssima. De resto, o Corão fala
muitíssimo de Jesus, tido como um grande profeta.
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assembléias cultuais, como por exemplo os pitagóricos, cuja basílica foi encontrada na
Porta maior de Roma.
A basílica era uma construção alongada com três naves, cujo teto e vigamento
assentavam sobre colunatas, completadas por um vestíbulo à imitação do que existia nas
casas e, às vezes, por uma parte arredondada num dos extremos, a ábside, em que se
situava o altar. Este tipo foi certamente o mais espalhado: São Pedro, São Paulo extra-
muros, São João de Latrão, Santa Inês, Santa Maria Maior, São Lourenço extra-muros,
eram desse tipo no seu estado primitivo, para não citarmos senão igrejas romanas, e
ainda hoje se vê, quase intacta, Santa Sabina, erigida nos primeiros anos do século V. A
igreja de Tiro, dedicada em 314, e a grande basílica de Jerusalém, consagrada em 335,
eram sem dúvida deste modelo.
Mas este tipo não é o único. Conhecem-se – sobretudo no Oriente – igrejas que
não são mais do que uma sala quadrada coberta com uma cúpula e com ábsides, modelo
certamente de origem iraniana; ou igrejas em forma de cruz com os quatro braços
iguais, e até Igrejas inteiramente circulares, inspiradas em salas das termas ou dos
mausoléus, numa disposição que os batistérios hão de conservar. Talvez se deva à
influência oriental a aparição do transepto, em meados do século IV, que torna
cruciforme o plano da basílica, imprimindo-lhe claramente um valor simbólico.
Visitando esta ou aquela basílica constantiniana – Santa Sabina, por exemplo –, é
fácil imaginar o que poderia ser uma cerimônia numa igreja primitiva. O átrio é
reservado aos catecúmenos e penitentes; na nave principal amontoam-se os fiéis,
homens à direita e mulheres à esquerda; em frente, separado por grades, está o coro,
onde se instalam os presbíteros; no vão da ábside, a cadeira episcopal.
As igrejas são ornamentadas tanto no exterior corno no interior. O luxo destas
ornamentações parece impressionar muito os contemporâneos. Prudêncio consagra
descrições repassadas de fervor e de graça à decoração das basílicas de Constantino:
“Pinturas multicolores, remirando nos lagos o seu ouro, que a água matiza de reflexos
verdes. Tetos com vigas de ouro, que fazem de toda a sala como que um nascer do sol.
Nos vãos, vitrais rutilantes, semelhantes a prados repintados de flores”. É um hábito
quase geral cobrir as paredes dos edifícios religiosos com painéis decorativos, pintados
ou de mosaico. Mas não deixam de manifestar-se algumas resistências; ascetas
rigorosos, e até um concílio – o de Elvira – fazem certas reservas sobre o uso de uma
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de uns poucos motivos decorativos menores. É o Novo Testamento que fornece a maior
parte dos assuntos, muitas vezes em ligação com cenas do Antigo que, segundo o
método da interpretação simbólica, são consideradas como suas figuras. É o momento
em que se multiplicam esses suntuosos sarcófagos que se vêem no museu de Latrão, no
Vaticano, em Arles, em Ravena e no Louvre; a obra-prima é, sem dúvida, o de Júnio
Basso, datado de 359, extraordinariamente perfeito no equilíbrio da sua composição, na
proporção e na moderação das personagens. É surpreendente verificar, em todas as
esculturas posteriores a Constantino, uma mudança de expressão fisionômica em
comparação com a das épocas precedentes; ao passo que, exteriormente, muitas estátuas
apresentavam um rosto de feições cansadas e com a boca caída, as do século IV têm
uma doçura e uma serenidade notáveis. Em muitos dos seus elementos, esta escultura
anuncia já aquela que virá a florescer, seis ou sete séculos mais tarde, nos pórticos
românicos das nossas catedrais.
E assim o Evangelho penetrou nessas terras profundas onde toda a arte vai haurir
a sua seiva. Falando da unidade dessa arte, afirma um escritor decididamente “laico”:
“Esta unidade é devida à comunidade de sentimentos profundos, à emoção perante o
espetáculo do Universo divino, à piedade pela miséria dos homens, à atenção voltada
mais para o mundo dos espíritos do que para o dos corpos”, o que mostra bem que o
cristianismo soube orientar a arte, como todo o resto, para a lei de Jesus.
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