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reformador março 2006 - A (final).

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Expediente Sumário
4 Editorial
O Edificador e a Obra

13 Entrevista: Dalva Silva Souza


Fundada em 21 de janeiro de 1883 O trabalho pelos tempos novos
Fundador: Augusto Elias da Silva
15 Presença de Chico Xavier
A campanha da Paz – Irmão X
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 124 / Março, 2006 / N o 2.124 21 Esflorando o Evangelho
ISSN 1413-1749 Ceifeiros – Emmanuel
Propriedade e orientação da
FEDERAÇÃO ESPÍRITA BRASILEIRA 32 A FEB e o Esperanto
Diretor: NESTOR JOÃO MASOTTI
Diretor-Substituto e Editor: ALTIVO FERREIRA Miscelânea – Affonso Soares
Redatores: AFFONSO BORGES GALLEGO SOARES, ANTONIO 33 Memoru, homo / Memento, homo – Sylla Chaves
CESAR PERRI DE CARVALHO, EVANDRO
NOLETO BEZERRA e LAURO DE OLIVEIRA SÃO THIAGO
Secretária: SÔNIA REGINA FERREIRA ZAGHETTO 42 Seara Espírita
Gerente: AMAURY ALVES DA SILVA
Gerente de Produção: GILBERTO ANDRADE
Equipe de Diagramação: SARAÍ AYRES TORRES, AGADYR
TORRES E CLAUDIO CARVALHO
Equipe de Revisão: MÔNICA DOS SANTOS E WAGNA
5 Evolução – Juvanir Borges de Souza
CARVALHO 9 Irmãs Fox – Rildo Gomes Mouta
REFORMADOR: Registro de publicação 10 Atitudes – Joanna de Ângelis
o
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cia Federal do Ministérioda Justiça), 12 Corrupção – Umberto Ferreira
CNPJ 33.644.857/0002-84 • I. E. 81.600.503
17 O Homem é Espírito e Matéria – Sr. A. Desliens
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34 Em dia com o Espiritismo – O que é morte? –
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38 Riqueza intocada – Dario Veloso
Projeto gráfico da Revista: JULIO MOREIRA 39 A transformação do instinto – Adésio Alves Machado
Capa: LUIS HU RIVAS
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Editorial
O Edificador
e a Obra
A
inda sob os ecos das comemorações do Bicentenário de Nascimento do
Codificador, os espíritas preparam-se para comemorar, no próximo ano,
o Sesquicentenário da Doutrina Espírita: em 18 de abril de 2007 comple-
tam-se 150 anos do lançamento de O Livro dos Espíritos – ocorrido em Paris, França,
em 1857 –, quando se pretende ampliar e intensificar a difusão da mensagem conso-
ladora e esclarecedora da Terceira Revelação.
Tratando, ainda, da personalidade do Codificador, cabe-nos lembrar que, no dia
31 de março de 1869, Allan Kardec retornava ao Mundo Espiritual, fechando o ciclo
de seu trabalho em uma existência altamente profícua, que materializou na Terra a
presença do Consolador que Jesus havia prometido.
Um ano depois, em 31 de março de 1870, com o translado do seu corpo do
Cemitério de Montmartre para o Père-Lachaise, em Paris, foi inaugurado o dólmen
que lhe serve de túmulo, com a presença de grande número de amigos e seguidores
da Doutrina por ele codificada. Nessa oportunidade, o Sr. A. Desliens, que foi o seu
secretário particular durante muitos anos, pronunciou importante discurso em sua
homenagem, que está sendo publicado nesta edição de Reformador.
Através desse pronunciamento do Sr. Desliens, que ressaltou a extraordinária obra
de Allan Kardec – a qual descortinou para a Humanidade o Mundo dos Espíritos –,
pode-se melhor avaliar a repercussão dessa obra em sua época e o reconhecimen-
to dos amigos pelo seu trabalho e valor pessoal, seja à frente da codificação doutri-
nária, seja no trato com todos os que o procuravam em busca de orientação e escla-
recimento.
É mais um registro que Reformador destaca em respeito ao Codificador, cuja vida
serve de referência a todos os que reconhecem o significado da Doutrina Espírita em
suas vidas e, agradecidos, esforçam-se por conhecer, praticar e divulgar a mensagem
consoladora que os Espíritos Superiores trouxeram para todos os homens, da qual
Allan Kardec foi porta-voz e exemplo.

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Evolução J U VA N I R B O R G E S DE SOUZA

S
ão imutáveis as leis divi- está expresso no capítulo
nas, criadas por Deus para I, versículo 2, do Evange-
toda a eternidade. lho de João.
Todos os seres criados, inclusi- A assistência permanen-
ve o Espírito imortal, obedecem à te do Cristo e de seus pre-
vontade do Criador expressa em postos, sempre atuantes,
suas leis. presentes no passado e na
Somente com o Consolador, atualidade, estender-se-á
prometido e enviado pelo Cristo pelo futuro, atendendo às
de Deus, puderam ser entendidas, condições evolutivas deste
em suas reais significações, diver- orbe e de seus habitantes.
sas prescrições das Escrituras Sa- Os Enviados do Go-
gradas. vernador da Terra em to-
Como esclareceu o Espírito de das as épocas procuraram
Verdade (O Evangelho segundo o impulsionar o progresso
Espiritismo – “Prefácio”), com a intelectual e moral dos po-
Terceira Revelação “são chegados vos, nações e raças.
os tempos em que todas as coisas A História das civiliza-
hão de ser restabelecidas no seu ções registra a presença de
verdadeiro sentido, para dissipar muitos deles, na China e
as trevas, confundir os orgulhosos na Índia milenares, na Pér-
e glorificar os justos”. sia e no Egito antigos, na Moisés
Hoje podemos perceber, com Grécia e no Império Ro-
segurança, que o amor e a miseri- mano. Mas podemos deduzir facil- A Doutrina Espírita esclarece
córdia do Criador sempre estive- mente que a assistência benfazeja que a Assistência Superior não
ram presentes em nosso mundo, do Alto se faz presente nos tempos substitui o esforço individual da
como em todo o Universo. modernos e nos períodos da pré- criatura para sua ascensão, mas o
O Cristo foi o Espírito designa- -história, atendendo às necessida- auxilia sempre, seja no campo da
do pelo Pai para assistir e acom- des do homem de todas as épocas. inteligência e dos conhecimentos,
panhar a evolução das entidades Essa assistência permanente é seja no referente aos sentimentos.
que vieram habitar neste Planeta decorrente do Amor de Deus por O Espírito, encarnado ou em
e aqui realizarem seu progresso. toda sua criação e é dirigida em estado livre da matéria, desenvol-
Ele é o Verbo do princípio e “esta- nosso mundo pelo Mestre Divino ve-se por si mesmo, na medida
va no princípio com Deus”, como – Jesus. dos esforços que emprega para

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seu próprio aperfeiçoamento in- lidades quanto aos grupos, povos dicar-se mais à busca de conheci-
telectual e moral. e raças. A lei das reencarnações, mentos em uma existência, e em
Dotado de livre-arbítrio, essa as múltiplas existências em mun- outra dedicar-se ao aperfeiçoa-
faculdade com que foi criado, dos de resgates e de provas e so- mento moral.
nem sempre o Espírito escolhe o frimentos, mostram os desígnios De forma geral, as aquisições
caminho do progresso, do bem, superiores do progresso para to- de ordem moral são mais difíceis
no sentido da felicidade. dos e a necessidade das correções que as de ordem intelectual.
As leis divinas atuam sempre na Por isso, reconhecendo essa di-
busca das retificações necessárias. ficuldade, o Cristo dedicou-se mais
Compreendemos, assim, que em transmitir ensinamentos mo-
um mundo de “expiações e pro- rais aos homens, porque sabia que
vas”, como o nosso, destina-se, os conhecimentos em geral, até
antes, a retificar erros e desvios mesmo os de natureza cientí-
praticados e repetidos, no pas- fica, poderiam ser alcança-
sado de cada ser, em prejuízo dos por eles mesmos, como
do adiantamento intelectual e efetivamente tem ocorrido.
moral que possa conquistar. Há um outro fator, de
Ocorre comumente que a grande importância, in-
rebeldia do Espírito é de tal fluindo poderosamente no
ordem, contra a Lei Divina ou progresso de toda a popula-
Natural, que as retificações se ção terrena. É a solidarieda-
estendem por vidas sucessivas e de dos mais adiantados pa-
por longo tempo. ra com os da retaguarda.
Mas os ensinos da Espirituali- As escolas de todos os
dade Superior mostraram que não níveis oferecem um exemplo
há condenação eterna, suprimindo de solidariedade que se incor-
a idéia antiga do inferno adotada porou à organização social em to-
por diversas religiões, inclusive pe- do o mundo. São os professores e
las igrejas cristãs e pela mitologia. mestres transmitindo ensinamen-
Por mais rebelde seja o Espírito, tos aos alunos e aprendizes, elevan-
comprazendo-se no mal, encarna- Sócrates do assim os conhecimentos e pa-
do ou desencarnado, o Criador ja- drões individuais, o que se reflete
mais o deserdará e o condenará dos desvios anteriores. É a eterna em toda a comunidade mundial.
sem remissão. Sempre haverá uma Justiça funcionando em correla- Quando à instrução intelectual
possibilidade de arrependimento, ção com as demais leis divinas. se junta o ensino moral ajustado
de refazimento, de início de uma A evolução anímica ocorre às leis divinas, a solidariedade re-
nova fase de vida, sem prejuízo das com todos os Espíritos, mas não vela-se como uma das formas de
retificações dolorosas, mas neces- do mesmo modo, nem simulta- amor ao próximo, o grande man-
sárias e justas. neamente, como está expressa na damento aceito pelas religiões do
Esse entendimento veio com a questão 779 de O Livro dos Espí- mundo.
Nova Revelação e corrige muitas ritos. As Revelações trazidas pelos
interpretações de textos das Es- A marcha ascendente não se emissários do Cristo e por Ele,
crituras Sagradas de diversas reli- efetua em todos os sentidos, ao em pessoa, à Humanidade, são
giões. Aplica-se tanto às individua- mesmo tempo. O homem pode de- outras formas de solidarieda-

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de–amor manifestadas pelo Su- Ele mesmo prometeu que roga- o momento escolhido para o en-
perior aos que se encontram na ria ao Pai o envio de outro Con- vio do Consolador prometido, a
retaguarda. solador que ficaria eternamente Grande Revelação que desvenda o
Tem sido difícil para os homens no mundo. Mundo Espiritual e relembra os
compreenderem o porquê da pre- “(...) o Consolador, que é o ensinos do Cristo, esquecidos ou
sença de tantos emissários do Alto Santo Espírito, que meu Pai envia- mal interpretados.
nas mais diferentes fases evolu- rá em meu nome, vos ensinará Outras razões ocorreram para o
tivas da Humanidade. Somente a todas as coisas e vos fará recordar advento do Consolador na época
Revelação Espírita lançou luz so- tudo o que vos tenho dito.” (O própria acima referida. A primeira
bre o assunto. Compreendemos, Evangelho segundo o Espiritismo, delas se prende à garantia de que a
então, que a bondade, o amor e a p. 134, 1. ed. especial, FEB.) Nova Revelação não seria suprimi-
misericórdia do Criador jamais Não há dúvida para os espíri- da e aniquilada, como ocorrera an-
faltaram às suas criaturas. tas sinceros de que o outro Con- tes com outras idéias e movimen-
No caso específico da Terra, o solador enviado é a Doutrina dos tos. Com a conquista das liberda-
Cristo, uno com o Pai, no sentido Espíritos, a Doutrina Consolado- des, com controle e limitação dos
de executor de suas leis e de sua ra que abre perspectivas novas poderes absolutistas, já havia no
vontade, acompanha a evolução para a compreensão da Vida do mundo ocidental mais respeito às
deste planeta e de suas Humani- Espírito imortal, esse conjunto idéias novas, desde a Revolução
dades, auxiliando seu progresso admirável de ensinos da Espiri- Francesa.
através de assistência permanen- tualidade Superior, mostrando Por outro lado, foi no século
te, sem prejuízo do livre-arbítrio uma realidade que estava oculta, XIX que ressurgiram antigas filo-
de seus habitantes. pela incapacidade de compreen- sofias materialistas, sob nova rou-
A presença de seus Emissários são da generalidade das criaturas pagem, aproveitando-se da liber-
em todas as épocas da História humanas. dade duramente conquistada para
humana obedece ao princípio da Após muitos milênios de con- se firmarem no mundo.
solidariedade, do amor, sem per- jecturas sobre a natureza de Deus, Essas filosofias, que se propa-
da da responsabilidade de seus tu- o Criador, sobre o homem e seu garam rapidamente, represen-
telados. destino, sobre a vida em suas múl- tam um retrocesso penoso no
Sua vinda, há 2.000 anos, obede- tiplas manifestações, sobre o Uni- campo das idéias, por estarem
ceu a um planejamento superior, verso visível; após o progresso al- divorciadas das realidades e da
visando ratificar o que estava de cançado nos campos intelectual e verdade.
acordo com as leis divinas, retificar moral; após a conquista da liber- O Consolador, o Espiritismo,
o que fora mal-entendido e exem- dade individual e coletiva, subju- foi o opositor natural ao materia-
plificar a vivência em um mundo gada pelos interesses egoísticos lismo multiforme que se propa-
atrasado, de expiações e provas. dos próprios homens, o Governa- gou pelas massas humanas – posi-
Por isso, além de Governador dor espiritual deste orbe julgou tivismo, utilitarismo, comunismo
espiritual deste planeta, Ele é o chegada a hora de uma Nova Re- – já que as religiões e filosofias es-
modelo a ser seguido por seus ha- velação, de excepcional importân- piritualistas se viram enfraqueci-
bitantes. É o “Caminho, a Verdade cia pelas verdades que encerra e das para opor-lhes contestações
e a Vida”, conforme deixou claro pelas retificações que dela decor- válidas, pelos erros e enganos de
em seus ensinos. rem em relação a muitas concep- suas próprias doutrinas.
A presença do Cristo entre os ções anteriores. As concepções materialistas
homens é o marco especial de uma Em meados do século XIX, o ressurgidas no século XIX tiveram
Era Nova. denominado “século das luzes”, foi conseqüências importantes em

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todo o século seguinte, até os dias de todas as sociedades humanas. na do Progresso, desde que se
atuais. As revoluções comunistas É o caso do pragmatismo, do neo- disponha a acompanhar a trans-
atingiram muitos países, impon- positivismo, do utilitarismo, do formação deste orbe de “expia-
do em algumas nações organiza- culto do prazer a qualquer custo, ções e provas” em um “mundo
ções sociais baseadas em seus formas de viver de um número regenerado”.
pressupostos divorciados da reali- incalculável de pessoas em todas as Essa transformação é lenta e
dade que é o homem, uma alma latitudes, independentemente de trabalhosa e na realidade teve iní-
ligada a um corpo. sua filiação a uma religião ou filo- cio desde que o Cristo estabele-
Se houve recuo em importan- sofia. ceu as regras e orientações morais
tes nações européias – casos da Esse é um resumo do quadro que Ele resumiu no “Amar a Deus
Rússia e seus satélites, Polônia, de habitantes da Terra no que se sobre todas as coisas e ao próxi-
Alemanha Oriental e países da refere às cogitações religiosas e mo como a si mesmo”, como base
Europa Central –, de outro lado filosóficas, às crenças e descren- e fundamento essencial na vivên-
as idéias materialistas–comunis- ças na existência de um Criador, cia humana.
tas impuseram-se na China, o de uma Causa Primária que ex- Nos ensinos para que os ho-
mais populoso país do mundo. plique a existência de tudo quan- mens possam evoluir e regenerar
As idéias mate- to existe. o mundo, o Cristo aponta o Ca-
rialistas estão pre- Ao lado das intuições transcen- minho para a Verdade e a Vida.
sentes no seio dentes sempre existiram as idéias O Consolador complementou
niilistas, oriundas do materia- as lições do Mestre, desvendando,
Detalhe do quadro,
lismo, que atribuem a origem a vida futura do ser humano e a
Cristo e a Samaritana, de
Giovanni Battista Gaulli de tudo, inclusive a vida dos Verdade no seu sentido relativo,
seres, a simples combinações alcançável pelos homens.
de elementos materiais, sem Nesses ensinos, a Vida se apre-
cogitar do elemento espiri- senta com uma significação real
tual. muito mais ampla, infinita, plena
Os habitantes deste pla- de Justiça, de parte do Criador,
neta têm vivido, através dos ao mesmo tempo que estabelece
milênios, dentro desse qua- para cada ser vivente a necessida-
dro diversificado, em vidas de do trabalho e do esforço no
sucessivas nas quais vão res- Bem.
gatando erros e progredin- Como seres em evolução que
do naquilo que um mun- somos, habitantes de um mundo
do atrasado lhes pode que corresponde às nossas atuais
proporcionar. condições, temos dificuldade em
Mas, ao que tudo alcançar a Verdade em seu senti-
indica e dentro das do absoluto. Nossa capacidade
previsões da Espi- para o conhecimento do superior
ritualidade Supe- não ultrapassa determinados li-
rior, é chegada a mites.
hora de um avan- Daí a importância da Doutrina
ço da população Consoladora no mundo, com
terrena, de acor- suas luzes aclarando o caminho a
do com a lei divi- percorrer por todos nós.

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Irmãs Fox R I L D O G O M E S M O U TA

H
á 158 anos, num lugarejo cubação do mo-
denominado Hydesville, derno espiritua-
condado de Wayne, Esta- lismo, que daria,
do de Nova York, Estados Uni- mais tarde, sur-
dos da América do Norte, exata- gimento ao Espi-
mente em 1848, ocorreram os pri- ritismo em toda a
meiros fenômenos organizados, Europa”.
provocados pelos Espíritos, ten- Afirmam alguns
do por objetivo unir os homens historiadores que, na-
pela consciência de seus destinos quela noite de 31 de mar-
imortais. ço de 1848, quase sem conse-
Naquele dia, à noite, estando a guir conciliar o sono, a família Fox
família Fox (John Fox, sua esposa recolheu-se cedo, agora com as duas
e duas filhas – Margareth Fox e meninas, por receio, dormindo no tada” por “almas do outro mundo”,
Kate Fox) a dormitar, eis que se quarto dos pais. realizaram algumas “sessões”, vi-
ouviram fortes batidas nas por- Foi quando as pancadas aumen- sando descobrir o “autor” ou “au-
tas, nas paredes, em algumas oca- taram de intensidade, fazendo tre- tores” daqueles estrondos.
siões verdadeiros estrondos pela mer os próprios móveis. Numa dessas “sessões”, um dos
casa toda. Essas batidas já haviam sido per- pesquisadores descobriu que o
Segundo descrição da pesquisa- cebidas por anteriores inquilinos da “brincalhão” nada mais era que
dora Emma Hardinge, no seu livro cabana, como os Bell (1844-46) e os o Espírito de um mascate, de no-
História do Moderno Espiritualismo Weeckman (1846-47), mas intensi- me Rosma, indicando ter sido as-
Americano, publicado em 1870, ficaram naquela noite histórica pa- sassinado há cinco anos naquela
essas pancadas tiveram início em ra o Espiritismo, ocasião em que cabana, quando desencarnara es-
fins de 1844, quando na referida uma delas, tentando identificar a faqueado, após ser roubado, tendo
cabana residia a família Bell, e con- procedência dos raps, começou a seu corpo sido enterrado na adega
tinuaram com a saída desta e a che- tamborilar com os dedos sobre um da casa.
gada dos Fox, em 11 de dezembro dos móveis, procurando falar com Os acontecimentos de Hydes-
de 1847. o suposto autor das mesmas, atra- ville foram, assim, os primórdios
Porém, foi em 1848 que ocor- vés de pancadas. dos fenômenos espíritas inteli-
reu a primeira conversação inteli- – Sr. Pé-Rachado, faça o que eu gentes que, ajudados por médiuns,
gente entre os chamados “vivos e faço. e codificados por Allan Kardec,
mortos”. Outras batidas são feitas e o diá- vieram dar forma à Doutrina dos
Foram os anos de 1848-49, no logo prossegue, agora com a ajuda Espíritos, que hoje se espalha por
entanto, conforme esclarecimen- de Margareth. todo o mundo, esclarecendo-nos
tos de Eugène Nus, na obra Coi- Chamados os vizinhos, que jul- e fortalecendo-nos em Deus, em
sas do Outro Mundo, a “fase de in- gavam estar a cabana sendo “visi- Cristo e na Caridade.

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Atitudes
A
atitude mantida pelo indi- soal, sem a coragem para enfren- rais diante da Consciência Cósmica,
víduo em relação à vida e às tar-se e assumir os valores que lhe também faculta conquistas impres-
demais pessoas é a radio- são pertinentes. cindíveis à felicidade.
grafia moral que melhor o define. É muito fácil e saudável a expo- A atitude decisiva de trabalhar
Nascida nos hábitos do com- sição do mundo interior, especial- em favor do próximo e do progresso
portamento, cada qual expressa os mente quando de referência às ati- geral, quando é adquirida a respon-
sentimentos e as qualidades que tudes gentis e bondosas que con- sabilidade que promove o ser inte-
lhe são peculiares. tribuem para tornar os relaciona- riormente, é conquista significativa.
Certamente, não poucos con- mentos duráveis e edificantes. As atitudes são a chave de segu-
seguem dissimular a sua realida- A feição dura, assinalada pela rança para o êxito ou o fracasso em
de íntima, graças à maleabilidade revolta ou pela amargura, pelo res- qualquer empreendimento.
emocional, mascarando-se para sentimento ou pela ira, além de As atitudes resultam dos atos
não se permitir identificação por embrutecer desvela o nível primá- cultivados, nem sempre felizes, que
parte dos outros. rio de evolução em que se estagia. se incorporam à conduta do indi-
Mesmo na usança de tal condu- Por outro lado, a atitude vulgar, víduo, passando a caracterizá-lo.
ta, sem dar-se conta, desvela a pu- irresponsável ou doentia, exterio- Os hábitos fazem parte do quo-
silanimidade e a insegurança pes- riza a irreflexão e imaturidade, em tidiano de todas criaturas, dando
escala de primitivismo emocional. surgimento, pela repetição, às ati-
Todos transitam no mundo ex- tudes perante a vida.
perienciando aprendizagem que irá Os hábitos saudáveis conduzem
contribuir para a auto-iluminação, à felicidade, à harmonia, enquan-
a autoconsciência. to que aqueles perturbadores res-
Os enfrentamentos de qualquer pondem pelos desequilíbrios, ge-
natureza constituem oportunida- rando transtornos emocionais.
des preciosas para o amadu- Torna-se necessária a atitude po-
recimento espiritual de sitiva em relação aos objetivos ele-
relevância no proces- vados, de forma que a sua conduta
so evolutivo. se transforme em uma agradável
Eis aí a pro- maneira de viver.
videncial fina- As atitudes funcionam como re-
lidade da reen- flexos da vida interior, podendo
carnação que, ser renovadas, transformadas, tra-
além de ensejar balhadas pelo Espírito, que é o co-
reparações mo- mandante do corpo.
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O pensamento, dessa forma, é voráveis ao crescimento íntimo. En- O Seu exemplo de fidelidade ao
convidado a reflexões agradáveis quanto que as reações da mágoa e ideal para o qual viera, tornou-O
e felizes, de maneira que dê sur- do ódio, à semelhança de cimitar- respeitado mesmo pelos adversá-
gimento ao hábito saudável que ras, terminam por ferir-te antes que rios, aqueles que O combatiam e O
contribui em favor do crescimen- afetem aos demais. vilipendiavam.
to espiritual. Cultivados os hábitos mentais, Mediante esse comportamento,
Por hábito, pensa-se mais no ne- conforme as emanações educadas era a Luz para o mundo em trevas
gativo, recordando-se dos momen- ou não, eles transformam-se em de ignorância, o Caminho a ser
tos difíceis, portanto, afligentes, atitudes existenciais que irão fo- seguido no matagal de crueldade, a
quando seria mais edificante evo- mentar novos comportamentos. Porta de acesso ao Reino de Deus...
car-se alegrias, realizações edifican- Ilumina a mente com as subli- As atitudes são expressões de
tes, a fim de que se possa prolon- mes lições do Evangelho, enrique- identificação entre o ser íntimo
gar satisfações e encantamentos pes- ce os lábios com palavras edifican- que as desvela e o mundo exte-
soais, transformando-se em atitudes tes e as tuas serão atitudes dignas. rior que lhes ignora a realidade.
agradáveis. Tudo quanto seja armazenado Sejam, portanto, as tuas atitudes

no pensamento transforma-se em elegantes e cristãs para o teu pró-
alimento emocional que, de acor- prio bem.
Cuida com atenção de preservar do com a qualidade, envenena ou
as atitudes de edificação, aquelas santifica a alma. Joanna de Ângelis
que te apresentam como candidato Seleciona reflexões e treina atitu-
à perfeição, deixando, à margem, des mentais pacíficas, compassivas, (Página psicografada pelo médium
ressentimentos e desconfortos mo- misericordiosas, e conseguirás fruir Divaldo P. Franco, na reunião mediú-
rais, vivenciando sempre os mo- do bem-estar que a retidão propor- nica da noite de 31 de janeiro de
mentos agradáveis e abençoados. ciona àqueles que se lhe entregam. 2005, no Centro Espírita Caminho da
É certo que nem sempre se po- As tuas atitudes falam sem pala- Redenção, em Salvador, Bahia.)
de estar sorrindo ou numa atitude vras a teu respeito, desvelando os
jovial. No entanto, pode-se evitar a recursos de que dispões nos cofres
expressão de mau humor e espa- do coração.
lhar dissabores que ressumam do in- Exercita a coragem de ser ver-
consciente assinalado pelo acumu- dadeiro sem agressividade, de ser
lar das questões negativas e infeli- amigo sem bajulação e as tuas
citadoras. atitudes solidárias estimula-
Não penses que o mundo irá tra- rão outras que se converte-
balhar-te a evolução, favorecen- rão em nobre corrente de
do-te com a conquista estelar, nem amor humano, tornando a
que as demais pessoas poderão fa- vida mais rica de luzes e de
zer aquilo que te está destinado. harmonia.
Nele encontrarás as oportunida-

des favoráveis ao teu adiantamen-
to, mas a atitude combativa é tua. Jesus manteve to-
O amor com que te revistas tor- das atitudes coe-
nará as tuas atitudes de paz e de en- rentes entre o que
ternecimento, atraindo para o teu falava e o que
círculo emocional as vibrações fa- fazia.

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Corrupção
“(...) prometendo-lhes liberdade, quando eles mesmos são escravos da corrupção,
pois aquele que é vencido fica escravo do vencedor. Portanto, se, depois de terem
escapado das contaminações do mundo mediante o conhecimento do Senhor
e Salvador Jesus Cristo, se deixam enredar de novo e são vencidos, tornou-se o
seu último estado pior que o primeiro.”
(2 Pedro, 2:19-20.)

U M B E RTO F E R R E I R A

O
s índices de corrupção no comportamento humano inade- fortalecer-se, porque o homem
mundo são assustadores. quado. Sem dúvida, a prática da vislumbra a possibilidade de usar
Isso tem suscitado muitos corrupção é uma das conseqüên- a sua inteligência, conhecimentos
questionamentos sobre as razões cias do egoísmo, tema que é estu- e habilidades para atender aos
desse comportamento do homem. seus interesses pessoais, portanto,
Como o Cristianismo ensina um de satisfazer ao egoísmo.
comportamento diametralmente Como pode a Doutrina Espírita
oposto, o índice de corrupção de- colaborar na erradicação da cor-
veria ser muito pequeno nos rupção?
países cristãos. O conhecimento espírita des-
O apóstolo Pedro, em sua perta no homem a consciência
segunda carta aos cristãos, de que reencarna para progre-
aborda dois aspectos desse dir, principalmente no campo
comportamento. Num deles, moral. Ele compreende que
coloca a corrupção como ven- não progredirá se não comba-
cedora e o que a pratica como ter as imperfeições, os defeitos
vencido por ela, conseqüente- morais, sobretudo o egoísmo.
mente seu escravo. No outro, abor- Enquanto o egoísmo exercer for-
da a responsabilidade do cristão te influência sobre as ações do ser
que não resiste à sedução dos inte- humano, dificilmente a corrupção
resses materiais. Envolve-se em ato deixará de existir.
de corrupção e fica numa situação dado nas questões 913 até 917 de No futuro, quando a Huma-
pior, devido à consciência de estar O Livro dos Espíritos. nidade conhecer os ensinamentos
agindo em desacordo com os ensi- Ensinam-nos os Espíritos que de Jesus e praticá-los, a corrupção
namentos evangélicos e, portanto, todos os males decorrem do egoís- desaparecerá e a justiça social dei-
contrariamente às leis de Deus. mo, imperfeição moral que não xará de ser um sonho, uma espe-
O Espiritismo nos apresenta diminui com o desenvolvimento rança, para se transformar em rea-
uma explicação lógica para esse intelectual. Ao contrário, pode até lidade.

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Entrevista D A LVA S I LVA S O U Z A

O trabalho pelos
tempos novos
Dalva Silva Souza, Presidente da Federação Espírita do Estado do Espírito Santo, comenta
que é necessário trabalhar pela criação da base indispensável aos tempos novos, para
que se consolidem as metas previstas pelos Espíritos Superiores

Reformador: Qual a dimensão do Reformador: Há promoção de even- ou campo experimental em sua


Movimento Espírita do Espírito tos em nível estadual? sede?
Santo? Que ações federativas a Dalva: Nosso calendário anual de Dalva: Há três programas em
FEEES realiza em nível regional? eventos é rico, porque realizamos curso na sede da FEEES, objetivan-
Dalva: Há cerca de 140 institui- encontros estaduais de todas as do vivenciar experiências, diag-
ções espíritas no Estado e 84 delas áreas. Começamos com o Encon- nosticar situações, colher dados,
são adesas à FEEES. Uma das me- tro de Mocidades, que acontece sugerir e coordenar a implanta-
tas é integrar as demais ao movi- durante o Carnaval; em seguida, o ção de iniciativas validadas pelos
mento unificado. Temos realizado Encontro de Presidentes de Casas resultados obtidos. Esses progra-
eventos, em todas as regiões, com Espíritas, realizado sempre em
esse objetivo e também com a in- março, na época do aniversário da
tenção de incentivar a criação de Instituição; prosseguimos com o
núcleos espíritas nos municípios Encontro de Trabalhadores do Aten-
que ainda não os possuem. Anual- dimento Fraterno, o Encontro de
mente, realizamos Encontros Re- Trabalhadores de Visitas Fraternas,
gionais de Trabalhadores e de Mo- o Encontro de Monitores do ESDE,
cidades Espíritas, além de cursos e o Encontro de Trabalhadores da
seminários que deslocam, para as Área Mediúnica, o Simpósio Capi-
diferentes regiões, equipes dos De- xaba do Divulgador Espírita, o En-
partamentos de Comunicação So- contro de Evangelizadores, o En-
cial, Orientação Mediúnica e Estu- contro de Trabalhadores da Assis-
dos Sistematizados. Uma iniciativa tência e Promoção Social, e fina-
muito importante foi a realização lizamos o ano com a Mostra de
regional do Curso de Capacitação Arte Espírita. De dois em dois
Administrativa de Dirigentes de anos, realizamos o Con-
Casas Espíritas, que está propi- gresso Estadual.
ciando também aos companheiros
do Norte e do Sul uma nova visão Reformador: A FEEES
do Movimento Espírita. mantém programas
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mas estão ligados a três departa- junta entre os Conselhos Regionais te do trabalho de unificação do
mentos: Departamento de Estu- Espíritas e a FEEES, para a criação Movimento Espírita brasileiro.
dos Sistematizados, que mantém de grupos de estudo em localida-
grupos que aplicam os roteiros des que não contam com institui- Reformador: Como avalia o desen-
propostos pela FEB; Departa- ções espíritas, e para a estruturação volvimento do Movimento Espírita
mento de Orientação Mediúnica, de grupos em casas espíritas de em nossos dias?
que vem trabalhando com as menor porte; Revivendo o Pacto Dalva: Quando Humberto de
apostilas “Estudo e Prática da Áureo, com o objetivo de integrar Campos, pela psicografia de Chico
Mediunidade”, da FEB, para o as casas de uma mesma região, pa- Xavier, escreveu Brasil, Coração do
desenvolvimento de grupos de ra confraternização e troca de ex- Mundo, Pátria do Evangelho, quis,
educação e prática da mediuni- periências. Além disso, incentiva- certamente, conscientizar-nos do
dade; Departamento de Comuni- mos a realização de eventos de con- projeto que está delineado no
cação Social, que trabalha na fraternização espírita, em agos- Mundo Maior acerca do destino do
orientação da reunião pública, to, por ocasião do Dia Estadual da nosso país, mostrando que somos
avaliando os trabalhos de exposi- Confraternização Espírita, data es- instrumentos, mais ou menos ajus-
ção doutrinária e testando pro- tabelecida por Lei Estadual em tados, das forças espirituais que nos
gramas de palestras. 1986, e participamos anualmente cercam, e podemos contribuir ou
da Feira da Paz, evento grandioso não para que se consolidem as me-
Reformador: Há campanhas ou promovido pelo Paz-ES, que reúne tas previstas pelos Espíritos Supe-
projetos em andamento? organizações do Terceiro Setor e riores. Cabe ao Movimento Espíri-
Dalva: A FEEES mantém plantão compõe uma grande mostra da ta superar as amarras culturais e
semanal de suas equipes de traba- ação capixaba em prol da igualdade trabalhar pela criação da base in-
lho em sua sede, para atendimento e da fraternidade entre os homens. dispensável aos tempos novos. O
a solicitações, em contatos por tele- desafio é gigantesco, mas toda
fone ou presenciais, oferecendo Reformador: Como a FEEES inte- grande jornada começa com os pri-
orientação para a implementação rage com as Comissões Regionais e meiros passos. Penso que estamos
das três grandes campanhas pro- Reuniões do Conselho Federativo dando esses passos e já conquista-
postas pela FEB: Família, Vida e Nacional? mos significativas vitórias, uma vez
Paz. Desenvolvemos os seguintes Dalva: Desde que assumimos a que a reunião anual do CFN, sob a
projetos: Presença Jovem, que obje- gestão da FEEES, em 2001, temos coordenação da FEB, vem mos-
tiva levar a mensagem ao jovem participado da reunião anual do trando a união que caracteriza o
não espírita; Reler Kardec, objeti- CFN e de todas as reuniões da Co- panorama atual do Espiritismo no
vando fundamentar todas e quais- missão Regional Centro. Nosso es- Brasil, trazendo-nos informações
quer atividades desenvolvidas pela forço nesse sentido atende a uma sobre a dinâmica crescente do Mo-
instituição espírita no estudo e percepção muito clara da impor- vimento em todos os Estados, além
compreensão das obras básicas da tância dessas iniciativas. A proposta de destacar o crescimento do Espi-
Codificação; Estruturação e Capa- de união para troca de experiências ritismo em todo o mundo, pela
citação do ESDE, para sensibilizar entre trabalhadores das Federativas atuação do Conselho Espírita Inter-
o público participante das reuniões Estaduais nas Comissões Regionais nacional. Prossigamos, pois, forta-
doutrinárias das casas espíritas é muito motivadora. Procuramos, a lecendo o ideal de unificação do
quanto à importância da implanta- cada ano, cumprir as tarefas que Movimento Espírita, compreen-
ção do Estudo Sistematizado da nos são solicitadas para levarmos as dendo na organização federativa o
Doutrina Espírita; Interiorização contribuições que estão ao nosso programa ideal de desenvolvimen-
do ESDE, proposta de ação con- alcance a esse fórum tão importan- to da cultura espírita.

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Presença de Chico Xavier

A campanha
da Paz
E
stabelecidos em Jerusalém, depois do Pentecos- Obrigações dilatadas reclamaram concurso hu-
tes, os discípulos de Jesus, sinceramente empe- mano.
nhados à obra do Evangelho, iniciaram as cam- Os continuadores de Jesus apelaram das tribunas,
panhas imprescindíveis às realizações que o Mestre solicitando braços compassivos que lavassem os
lhes confiara. doentes e distribuíssem os pratos. Cooperadores en-
Primeiro, o levantamento de moradia que os gajaram-se gratuitamente e formaram-se os diáconos
albergasse. prestimosos.
Entremearam possibilidades, granjearam o apoio Criancinhas começaram a despontar na estância
de simpatizantes da causa, sacrificaram pequenos lu- humilde e outra espécie de assistência se impôs, rápi-
xos, e o teto apareceu, simples e acolhedor, onde os ne- da. Era necessário amontoar o material delicado em
cessitados passaram a receber esclarecimento e conso- que os recém-nascidos, à maneira de pássaros frágeis,
lação, em nome do Cristo. pudessem encontrar o aconchego do ninho. Senhoras
Montada a máquina de trabalho, viram-se defron- abnegadas esposaram compromissos. A legião prote-
tados por novo problema. As instalações demanda- tora do berço alcançou prodígios de ternura.
vam expressivos recursos. Convocações à solidarie- E novas campanhas raiavam, imperiosas. Campa-
dade se fizeram ativas. Velhos cofres foram abertos, nhas para o trato da terra, a fim de que as despesas
canastras rojaram-se de borco, entornando as der- diminuíssem. Campanhas para substituir as peças
radeiras moedas, e o lar da fraternidade povoou-se de inutilizadas pelos obsessos, quando em crises de
leitos e rouparia, candeias e vasos, tinas enormes e fúria. Campanhas para o auxílio imediato às famílias
variados apetrechos domésticos. desprotegidas de companheiros que desencarnaram.
Os filhos do infortúnio chegaram em bando. Campanhas para mais leite em favor dos pequeninos.
Obsidiados eram trazidos de longe, velhinhos que os Entretanto, se os apóstolos do Mestre encontravam
descendentes irresponsáveis atiravam à rua engrossa- relativa facilidade para assegurar a mantença da casa,
vam a estatística dos hóspedes, viúvas acompanhadas reconheciam-se atribulados pela desunião, que os
por filhinhos chorosos e magricelas aumentavam na ameaçava, terrível. Fugiam da verdade. Levi criticava
instituição, dia a dia, e enfermos sem ninguém arras- o rigor de Tiago, filho de Alfeu. Tiago não desculpava
tavam-se na direção da pousada de amor, quando não a tolerância de Levi. Bartolomeu interpretava a bene-
eram encaminhados até aí em padiolas, com as marcas volência de André como sendo dissipação. André con-
da morte a lhes arroxearem o corpo enlanguescido. siderava Bartolomeu viciado em sovinice. Se João, mui-
Complicaram-se as exigências da manutenção e to jovem, fosse visto em prece, na companhia de irmãs
efetuaram-se coletas entre os amigos. Corações gene- caídas em desvalimento diante dos preconceitos, era
rosos compareceram. Remédios não escassearam e indicado por instrumento de escândalo. Se Filipe dor-
as mesas foram supridas com fartura. mia nos arrabaldes, velando agonizantes desfavorecidos

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de arrimo familiar, regressava sob a zombaria dos Pedro gemeu, indiferente aos amigos que o assom-
próprios irmãos que não lhe penetravam a essência bro empolgava:
das atitudes. – Senhor, compadece-te de nós, os aprendizes ator-
Com o tempo, grassaram conflitos, despeitos, quei- mentados!... Que fazer, Mestre, para garantir a se-
xumes, perturbações. Cooperadores insatisfeitos com gurança de tua obra? Perdoa-me se tenho o coração
as próprias tarefas invadiam atribuições alheias, fatigado e desditoso!...
provocando atritos de consequências amargas, junto – Simão – respondeu Jesus, sem se alterar –, não
dos quais se sobrepunham os especialistas do sarcas- me esqueci de rogar para que nos amássemos uns aos
mo, transfigurando os querelantes em trampolins de outros...
acesso à dominação deles mesmos. Partidos e corri- – Senhor – tornou Cefas –, temos realizado todo o
lhos, aqui e ali. Cochichos e arrufos nos refeitórios, bem que nos é possível, segundo o amor que nos ensi-
nas cozinhas enredos e bate-bocas. Discussões azeda- naste. Nossas campanhas não descansam... Temos
vam o ambiente dos átrios. Fel na intimidade e des- amparado, em teu nome, os aleijados e os infelizes, as
prezo por fora, no público que seguia, de perto, as viúvas e os órfãos...
altercações e as desavenças. – Sim, Pedro, todas essas campanhas são aquelas
Esmerava-se Pedro no sustento da ordem, mas em que não podem esmorecer, para que o bem se espalhe
vão. Aconselhava serenidade e prudência, sem qual- por fruto do Céu na Terra; no entanto, urge saibamos
quer resultado encorajador. Por fim, cansado das atender à campanha da paz em si mesma...
brigas que lhes desgastavam a obra e a alma, propôs – Senhor, esclarece-nos por piedade!... Que cam-
reunirem-se em oração, em benefício da paz. E o gru- panha será essa?!...
po passou a congregar-se uma vez por semana, com Jesus, divinamente materializado, espraiou o olhar
semelhante finalidade. Apesar disso, porém, as con- percuciente na diminuta assembléia e ponderou, triste:
tendas prosseguiam, acesas. Ironias, ataques, remo- – O equilíbrio nasce da união fraternal e a união
ques, injúrias... fraternal não aparece fora do respeito que devemos
Transcorridos seis meses sobre a prece em conjun- uns aos outros... Ninguém colhe aquilo que não
to, uma noite de angústia apareceu, em que Simão semeia... Conseguiremos a seara do serviço, conju-
implorou, mais intensamente comovido, a inspiração gando os braços na ação que nos compete; conquis-
do Senhor. Os irmãos, sensibilizados, viram-no engas- taremos a diligência, aplicando os olhos no dever a
gado de pranto. O companheiro fiel, rude por vezes, cumprir; obteremos a vigilância, empregando crite-
mas profundamente afetuoso, mendigou o auxílio da riosamente os ouvidos; entretanto, para que a harmo-
Divina Misericórdia, reconhecia a edificação do nia permaneça entre nós, é forçoso pensar e falar
Evangelho comprometida pelas rixas constantes, es- acerca do próximo, como desejamos que o próximo
molava assistência, exorava proteção... pense e fale sobre nós mesmos...
Quando o ex-pescador parou de falar, enxugando E, ante o silêncio que pesava, profundo, o Mestre
o rosto molhado de lágrimas, alguém surgiu ali, rematou:
diante deles, como se a parede, à frente, se abrisse – Irmãos, por amor aos fracos e aos aflitos, aos
por dispositivos ocultos, para dar passagem a um deserdados e aos tristes da Terra, que esperam por nós
homem. a luz do Reino de Deus, façamos a campanha da paz,
À luz mortiça que bruxuleava no velador, Jesus, começando pela caridade da língua.
como no passado, estava ali, rente a eles... Era ele,
sim, o Mestre!... Mostrando o olhar lúcido e pene- Pelo Espírito Irmão X
trante, os cabelos desnastrados à nazarena e melanco-
lia indefinível na face calma, ergueu as mãos num Fonte: XAVIER, Francisco C. Contos Desta e Doutra Vida. 11. ed.
gesto de bênção!... Rio de Janeiro: FEB, 2004, cap. 31, p. 143-147.

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O Homem é
Espírito e Matéria
Discurso pronunciado na solenidade de inauguração do dólmen de Allan Kardec, no
Cemitério do Père-Lachaise, em Paris, no dia 31 de março de 1870, em comemoração ao
primeiro aniversário de morte do Codificador
P E LO S R . A. D E S L I E N S *

Senhores, se mundo espiritual, que pressen-

H
á um ano, neste mesmo tia desde a juventude e que descre-
dia, um desses grandes es- via com lógica, clareza e eloqüên-
píritos que aparecem atra- cia inimitáveis, tão logo experiên-
vés dos séculos para guiar a Hu- cias mais diretas lhe permitissem
manidade em sua marcha ascen- constatar a sua realidade.
dente rumo ao conhecimento da Qual moderno Cristóvão Co-
verdade, escapava prematuramen- lombo, pelo estudo do mundo ma-
te de seu invólucro corporal. Ia terial visível que tinha sob os olhos,
colher, na verdadeira pátria das ele adivinhara a existência de um
almas, a recompensa de seus tra- mundo espiritual invisível que, do
balhos conscienciosos, de seu de- homem a Deus, continuava a ca-
votamento perseverante, de suas deia ininterrupta que se eleva do
lutas incessantes e fecundas pelo átomo ao homem.
triunfo da verdade e pela prática Antes dele, muitos outros ha-
do bem. Ele mesmo ia explorar es- viam reconhecido que em todos os
reinos da Natureza as espécies se
*N. do T.: Secretário particular de Allan
sucedem em virtude de leis ma- dias, e mesmo os Pais da Igreja, os
Kardec, o Sr. A. Desliens era um dos mé-
ravilhosamente simples, desde os pensadores de todas as épocas, to-
diuns da Sociedade Espírita de Paris. infinitamente pequenos até os in- mando por bússola a lógica e a
Após a desencarnação do Codificador, foi finitamente grandes. Muitos ha- razão, imaginaram que se esten-
alçado à função de Secretário-gerente da viam reconhecido que é por graus dia muito além da Humanidade a
Revista Espírita. Além de responder pelo
comitê de redação da Revue, administrou insensíveis que se passa do infusó- harmoniosa gradação que haviam
a “Sociedade Anônima do Espiritismo” rio invisível ao elefante, do átomo observado do lado de cá. A distân-
até junho de 1871, renunciando a esse imperceptível aos maiores globos cia infinita que existe entre a mo-
cargo em virtude de grave moléstia que o celestes. lécula infinitesimal e o ser huma-
acometera. (WANTUIL, Zêus. THIESEN,
Francisco. Allan Kardec, vol. III, p. 157, 2. Desde os filósofos da antigüi- no, preenchida tão racionalmente
ed. Rio de Janeiro: FEB, 1982. dade até os cientistas dos nossos por todas as espécies inferiores ao

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homem, implicava, necessaria- to, o elo de transição entre o mun- vivificante do saber sobre os seus
mente, acima do homem e até do material inferior e o mundo es- contemporâneos, haviam ten-
Deus, na existência de uma série piritual superior. E, com efeito, in- tado levantar a ponta do véu que
de seres superiores, sem os quais a dependentemente da forma, todas lhes ocultava os segredos do
Criação não teria passado de uma as crenças religiosas afirmam mais futuro e, mesmo através de nu-
obra imperfeita e truncada. Con- ou menos a existência dos seres vens espessas, conseguiram en-
seqüentemente, esse mundo su- desse mundo imaterial, imiscuin- trever a verdade. Mas a conser-
perior deverá compor-se de uma do-se nas questões humanas como varam preciosamente no foro ín-
variedade tão grande de seres agentes secundários entre o Cria- timo, mal ousando aprofundá-la
quanto a daqueles que constituem dor e a criatura. Negar sua exis- e não a transmitindo senão a ra-
o mundo humanimal. tência e sua intervenção salutar ou ros discípulos, cuja superiorida-
O homem, síntese perfeita da perversa nos atos da vida terre- de e discrição apreciavam. Ne-
criação visível e sensível, devia ser na, seria negar evidentemente, nhum deles foi capaz ou teve a
o intermediário, o ponto de conta- os fatos sobre os quais repousam ousadia de reunir os elementos
as crenças de to- esparsos das leis entrevistas; ne-
dos os povos, de nhum buscou no fato brutal, na
todos os filóso- experimentação direta, a prova
fos espiritualis- material e física da existência des-
tas, até os sábios se mundo e de suas relações com
da mais remo- o nosso.
ta antigüidade, Allan Kardec fez o que até en-
cujos nomes chega- tão ninguém fizera. Estudou os
ram até nós. fatos, analisou-os metodicamente
Mas, cabia ao nosso sé- e, de suas observações laboriosas,
culo ilustrar-se pela desco- resultaram ensinamentos cons-
berta e exploração desse mun- cienciosos, condensados em obras
do desconhecido; cabia a Allan imortais, sábia e claramente escri-
Kardec vulgarizar, condensar, tas, por meio das quais ele vulga-
coordenar e popularizar as leis rizou no mundo inteiro, em al-
que governam o mundo guns anos, a mais prodigiosa des-
espiritual e os meios de coberta do nosso século.
se entrar em relação com Após quinze anos de trabalhos
os seres que o habitam. perseverantes, depois de haver
Por certo, alguns Es- consagrado todo o seu ser a esta
píritos eminentes, mis- empresa gigantesca, depois de ter
sionários do progres- sacrificado seu repouso, sua saúde
so, quais faróis desti- e sua vida à edificação da Dou-
nados a espalhar a luz trina, suas forças traíram sua co-
ragem e ele caiu fulminado no
momento em que, dando a última
demão à primeira parte da obra,
seus trabalhos iam entrar numa
nova fase com numerosos ele-
mentos de sucesso.
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Capa

Combatendo mais que nunca donarás tua companheira, que a ções, que devemos o que somos a
pelo triunfo das verdades demons- sustentarás com teus conselhos esta matéria, sem a qual não sen-
tradas pelo Espiritismo, ele morreu diários; que nos inspirarás e nos tiríamos o desejo de nos subtrair-
em plena atividade, em todo o vi- instruirás, a fim de mantermos a mos às necessidades que ela im-
gor e pujança de sua inteligência: a Doutrina na via prudente e sábia põe, nem nos esforçaríamos para
lâmina havia consumido a bainha! em que a colocaste. avançar na senda da perfeição
O homem desagregou-se! O Pelo estudo do Espiritismo, pe- infinita!...
corpo, privado de vida, foi resti- las idéias do futuro nas quais cres- Efetivamente, não é por ela e
tuído à terra, mas a alma que o cemos ao teu lado, sabíamos que o para ela que procuramos superar
animava foi receber a recompen- túmulo entreaberto só se fecharia os obstáculos que reaparecem in-
sa da missão digna e nobremente sobre a matéria em decompo- cessantemente sob os nossos pas-
cumprida. Livre das preocupa- sição, e que a inteligência, já pla- sos? Não é ela que nos grita, a ca-
ções terrenas, liberta das mesqui- nando nos espaços, abandonaria da vitória alcançada, sob todas as
nhas paixões que nos perturbam conosco o campo de repouso, para formas e por todos os meios:
cá embaixo, ela retornava ao continuar, no mundo dos Espí- Marcha, marcha!...
mundo dos Espíritos como o exi- ritos e com novos meios de ação, Deus nada criou de inútil.
lado regressa ao seu país natal, o aperfeiçoamento da obra que Dando inteligência à matéria,
como o prisioneiro escapa da ce- empreendeste. deu-lhe também os meios de che-
la em que estava encerrado. É por E, realmente, por tua solicitude gar até Ele. Contudo, se devemos
isso que não lamentamos por ele, para com nossos fracos esforços, reconhecer na matéria em geral
certos que estamos de sua felici- pelos eflúvios benfazejos que nos um auxiliar indispensável a todos
dade, mas pela Sra. Allan Kardec, proporcionava o teu concurso in- os nossos progressos e se, nessa
por nós mesmos e pelos espíritas cessante, não tardaste a demonstrar qualidade, ela tem algum direito
do mundo inteiro o golpe terrí- que, se nos havias deixado mate- perante nós, que sentimentos nos
vel que o subtraiu à nossa afeição rialmente, ao menos teu Espírito devem animar em presença desse
comum. não nos tinha abandonado. corpo, dessa ferramenta maravi-
Com efeito, não é para os que se Por que, então, nós, espíritas, lhosamente organizada, através da
vão, como Allan Kardec, que a nos encontramos aqui neste pri- qual damos impulso a todas as fa-
morte é cruel!... Anjo da liber- meiro aniversário de tua partida culdades de nossa alma, exprimi-
tação, ao lhes tocar com as asas, terrestre, se sabemos perfeitamente mos todos os pensamentos, todas
abre-lhes horizontes desconheci- que não te encontras aqui e neste as aquisições de nosso ser inte-
dos, reservando seus rigores para lugar jamais estarias? Por que este ligente!
os que ficam em volta da lareira monumento, que tua modéstia Ah! Estamos certos de que se
deserta, para a companheira de to- nunca iria reivindicar? trata de um sentimento de grati-
da uma existência de devotamento Se aqui nos encontramos, res- dão instintivo para com o com-
e afeição, para os amigos e dis- peitosamente inclinados em tor- panheiro inseparável de todos os
cípulos do pensador laborioso!... no das vestes corporais que aban- labores, sentimento que, desde
Ó mestre venerado! Como nos donaste quando não mais te ser- épocas pré-históricas até nossos
foram salutares os teus ensina- viam, é porque, a despeito do que dias, tanto nos povos mais selva-
mentos! Tuas obras se constituí- disseram, não somos esses místi- gens quanto nos mais civiliza-
ram em precioso auxílio para nós cos que, esquecendo completa- dos, suscitou no homem o res-
todos! Graças a ti e às verdades mente a vida terrena, vivem ex- peito inveterado pela morte e a
que nos fizeste tocar com o dedo, clusivamente para o céu; é porque necessidade de consagrar, por
sabemos, de fato, que não aban- sabemos, por tuas sábias instru- meio de monumentos inviolá-

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veis, o pedacinho de solo onde bém um corpo. Foi por meio espírita, os nossos mais vivos
repousam para sempre os seus desse corpo que nós o conhece- agradecimentos e calorosas felici-
despojos mortais!... mos, que nossas inteligências se tações pelo talento de que deu
E, quando o corpo que jaz sob punham em relação com a sua. prova. Com efeito, não é uma
a lápide funerária há servido de Esta a razão por que hoje nos en- simples imagem do nosso venera-
asilo a um desses Espíritos Supe- contramos reunidos em volta do mestre que temos sob a vista; é
riores que, por suas concepções deste túmulo. o seu pensamento, é a sua in-
grandiosas, revolucionaram sua Assim como seus trabalhos teligência toda inteira que irradia
época, de que profundos senti- imortais, as marcas dos homens em torno deste busto e que fala
mentos religiosos não devemos de gênio pertencem à História da aos nossos olhos a linguagem das
estar impregnados em sua pre- Humanidade. Delas fazem parte almas. Possa esse bronze, que
sença! integrante e, para as reconstituir transmitirá aos séculos futuros os
Não foi por meio desta organi- por inteiro, para as apresentar se- traços do imortal fundador da
zação poderosa, hoje fria e inani- melhantes às futuras gerações, ávi- Filosofia Espírita, contribuir para
mada; não foi pelo exterior desse das por conhecerem os que lhes aumentar ainda mais a reputação
corpo perecível que conhecemos abriram novos horizontes a explo- que o Sr. Capellaro adquiriu por
Allan Kardec? Contudo, aos que rar, é preciso não só o livro, repre- seus trabalhos anteriores.
virem uma deificação da matéria sentação materializada da inte-
na homenagem espontânea que ligência, mas as formas mesmas Caro e venerado mestre:
lhe prestamos aqui, diremos: que essa inteligência animou.
Não! Allan Kardec não se acha Os livros continuarão de pé Se, como não duvidamos, estás
aqui todo inteiro! Neste invólucro através dos tempos, para trans- aqui presente, conquanto invisível
que repousa aos nossas pés, neste mitir aos nossos descendentes o para nós, rogamos que continues
cérebro extinto, nestes olhos para nome daquele que foi o primeiro dispensando, à corajosa compa-
sempre fechados não há mais que a ter a ousadia de penetrar os nheira que não se intimidou em
um instrumento quebrado! Este arcanos da vida imortal, empu- assumir este pesado fardo para
mesquinho jazigo não poderia nhando o facho da lógica e da ra- assegurar a execução de tuas von-
conter essa inteligência de escol, zão! Mas a imagem física dessa tades, e a todos nós, teus amigos e
esse Espírito tão fecundo, essa in- alma, o semblante do homem, es- discípulos, a proteção de que já
dividualidade tão poderosa, para se espelho onde a inteligência nos deste tantas provas.
quem o mundo terreno era limi- vinha refletir-se, não pertencerá Com tua lembrança, com teus
tado demais, e que não parece ter também à História? A posterida- trabalhos e com os eflúvios salu-
descoberto o mundo espiritual se- de não nos cobrará severa conta tares que nos proporcionará a tua
não para facultar um campo mais se, esquecidos e negligentes, não presença, continuaremos, no li-
vasto à sua insaciável atividade. nos empenharmos em tornar mite de nossas forças, a desen-
Não! O Espírito não se acha aqui conhecida a sua vasta fronte, essa volver e popularizar a obra que
sob essa laje tumular; ele plana leal fisionomia que transpira be- nos confiaste, avançando a passos
sobre nossas cabeças, num mun- nevolência e amor pela Humani- lentos, mas seguros, rumo aos
do melhor, onde suas faculdades dade? Um artista de talento, o Sr. tempos felizes prometidos à Hu-
se exercem em toda a sua pleni- Capellaro, houve por bem preen- manidade regenerada.
tude e onde esperamos encontrá- cher esta lacuna lamentável. Nós
Tradução de Evandro Noleto Bezerra
-lo um dia. lhe pedimos que aceite aqui, em – (Extraído do opúsculo: Discours
Mas Allan Kardec não era ape- nome da Sra. Allan Kardec, em prononcés pour l’anniversaire de la
nas uma inteligência; era tam- nome de toda a grande família mort d’Allan Kardec – Paris, 1870.).

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Esf lorando o Evangelho


Pelo Espírito Emmanuel

Ceifeiros
“Então disse aos seus discípulos: A seara é
realmente grande, mas poucos os ceifeiros.”
– (MATEUS, 9:37.)

O
ensinamento aqui não se refere à colheita espiritual dos grandes períodos de
renovação no tempo, mas sim à seara de consolações que o Evangelho envolve
em si mesmo.
Naquela hora permanecia em torno do Mestre a turba de corações desalentados e
errantes que, segundo a narrativa de Mateus, se assemelhava a rebanho sem pastor.
Eram fisionomias acabrunhadas e olhos súplices em penoso abatimento.
Foi então que Jesus ergueu o símbolo da seara realmente grande, ladeada porém de
raros ceifeiros.
É que o Evangelho permanece no mundo por bendita messe celestial destinada a
enriquecer o espírito humano, entretanto, a percentagem de criaturas dispostas ao
trabalho da ceifa é muito reduzida. A maioria aguarda o trigo beneficiado ou o pão
completo para a alimentação própria. Raríssimos são aqueles que enfrentam os
temporais, o rigor do trabalho e as perigosas surpresas que o esforço de colher recla-
ma do trabalhador devotado e fiel.
Em razão disto, a multidão dos desesperados e desiludidos continua passando no
mundo, em fileira crescente, através dos séculos.
Os abnegados operários do Cristo prosseguem onerados em virtude de tantos
famintos que cercam a seara, sem a precisa coragem de buscarem por si o alimento da
vida eterna. E esse quadro persistirá na Terra, até que os bons consumidores aprendam
a ser também bons ceifeiros.

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Pão Nosso. 1. ed. especial. Rio de Janeiro: FEB, 2005, cap. 148,
p. 309-310.

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90 Federação
anos da
Espírita
Paraibana
A
Federação Espírita Parai- gumas mensagens, dentre elas, uma Memorial e Exposição Allan
bana, fundada em 17 de ja- do Espírito Lins de Vasconcellos, Kardec: Durante o evento foram
neiro de 1915, comemorou que, quando encarnado, doou o ter- instaladas duas exposições: uma
seus 90 anos de ininterrupta ati- reno em que foi construída a anti- permanente – o Memorial Domin-
vidade espírita com uma extensa ga sede da FEPb. gos Soares, inaugurado no dia 8 de
programação, no período de 8 a 17 A sessão de encerramento das janeiro, com 10 painéis que mos-
de janeiro deste ano, da qual parti- festividades, na sede da Federati- tram uma retrospectiva fotográfi-
ciparam, em palestras e seminá- ca de pessoas e fatos que marca-
rios, os conhecidos tribunos espí- ram as nove décadas do Movi-
ritas Divaldo Pereira Franco, José mento Espírita paraibano; a outra,
Raul Teixeira e Alberto Ribeiro de provisória – a Exposição do Bicen-
Almeida, além do Presidente Jo- tenário de Nascimento de Allan
sé Raimundo de Lima e de ou- Kardec, vinda do Congresso Es-
tros expositores daquela Fede- pírita Mundial de Paris, de 2004,
rativa. O Arcebispo da Paraíba, e fornecida pela Federação Es-
D. Aldo Pagotto, compareceu pírita Brasileira.
ao evento e assistiu ao seminá- Foi lançada uma edição espe-
rio de Divaldo Franco. cial da revista Tribuna Espírita,
A palestra de abertura foi pro- com a retrospectiva histórica dos 90
ferida por Sandra Maria Borba Pe- anos do Movimento Espírita na
reira, Presidente da Federação Es- Paraíba e dos 25 anos de fundação
pírita do Rio Grande do Norte, so- da Revista.
bre o tema Reconhece-se o espírita
pelo esforço que faz para domar as va, contou com cerca de 1.000 pes-
suas más tendências. Durante a pa- soas da capital João Pessoa, de ci- Fonte: Esta notícia é baseada em texto
lestra de Alberto Almeida, o mé- dades do interior da Paraíba e de elaborado por Fátima Farias, da qual são
dium Raul Teixeira psicografou al- capitais dos Estados vizinhos. as fotos que a ilustram.

Sessão de Encerramento: Palestra de


Divaldo (acima) e público presente

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A mediunidade
de Santa Brígida
O escritor espírita Clóvis Tavares, em seu livro Mediunidade dos Santos*, faz um relato
minucioso da mediunidade de Santa Brígida, que esteve reencarnada
no período de 1302 a 1373

SEVERINO BARBOSA

A
excepcional médium gens aos reis daquelas duas
católica, além de do- nações européias, aconse-
tada de diversas fa- lhando-os a pôr um ponto
culdades mediúnicas, tais final no grande conflito en-
como vidência, clarividên- tre elas.
cia, xenoglossia, psicofonia Todavia, como se trata-
e outras, uma se apresenta- va de conselhos em forma
va com destaque especial: a de mensagens vindas do
psicografia. outro mundo, através do
Através dessa última fa- processo mediúnico, nem
culdade, os Espíritos es- o Papa nem os reis, radi-
creviam livros e cartas di- calmente preconceituosos,
rigidas não apenas aos bis- atenderam aos apelos da
pos, cardeais e papas da Espiritualidade Superior,
Igreja Católica, mas tam- embora a médium tenha si-
bém aos reis e tantas ou- do a venerável (depois ca-
tras autoridades civis e nonizada) Santa Brígida de
militares da sua época. Vadstena.
Segundo o autor de Me- De acordo com Clóvis
diunidade dos Santos, no Tavares, que fundamen-
auge da chamada Guerra tou sua obra (reputo-a de
dos Cem Anos, entre a Imagem entalhada de Santa Brígida boa qualidade doutriná-
França e a Inglaterra, a mé- ria) em competentes bió-
dium recebeu uma mensagem com expressões severas, de um Espírito grafos daquela santa-médium-ca-
que, segundo ela, era o próprio tólica, um acontecimento curioso
*Prestígio Editorial, São Paulo, 2005, Cristo, dirigida ao Papa Clemen- envolveu a psicografia de um dos
p. 43-46. te VI, bem como outras mensa- livros mediúnicos da irmã Brí-

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gida, ao qual intitulou Sermo faculdade natural de qualquer ser nio Brandão, que obteve expresso
Angelicus. humano se comunicar com os ha- consentimento da Igreja para tra-
A convite, ela estava em Roma bitantes do mundo invisível, não duzir, da língua francesa para a
no ano 1350. O Cardeal Hugo de foi uma descoberta do Espiritis- portuguesa, uma obra muito inte-
Beaufort, irmão do Papa Clemen- mo, nem privilegia os espíritas ressante, que recebeu o título de
te VI, ofereceu-lhe hospedagem com a graça de receberem (apenas O Manuscrito do Purgatório.
no palácio da famosa cidade dos eles e ninguém mais) os Espíritos. Esse livro, mediúnico-católico,
Césares. E durante o período de Não foi a Doutrina que criou a é composto de grande quantida-
sua permanência na capela do mediunidade, tampouco Allan de de mensagens ditadas por Es-
palácio, a médium psicografou Kardec, e menos ainda os espíri- píritos perturbados que, quando
grande quantidade de mensagens tas; a faculdade é inerente à cria- aqui na Terra, foram autoridades
do outro mundo e sempre confir- tura humana, tanto quanto a inte- eclesiásticas que não cumpriram
mava perante os seus superiores ligência. E desse modo, todos so- com seus deveres religiosos. Tra-
hierárquicos que tais mensagens mos médiuns: católicos, protes- ta-se de obra mediúnica de gran-
lhe eram ditadas por um anjo. tantes, umbandistas, judeus, mu- de valor, e a médium psicógrafa foi
É bem possível que no início çulmanos, hindus, fariseus, cris- uma madre que recebeu as men-
de sua mediunidade Santa Brígi- tãos, espíritas, materialistas, ateus, sagens em um convento da Fran-
da, de sólida formação católica, crianças, adultos, velhos, mulheres ça, no período de 1874 a 1890.
atribuísse o fenômeno a outras e homens. O Manuscrito do Purgatório foi
causas, uma delas, por exemplo, Como bem assevera Kardec, publicado pelas Edições Paulinas
o demônio. Mas não podia ser em sua obra O Livro dos Médiuns, e tem o parecer do seu tradutor,
este, uma vez que as mensagens todas as criaturas humanas pos- Monsenhor Ascânio Brandão, que,
psicográficas possuíam excelente suem os germens da mediunida- entre outras coisas, afirma: (...)
conteúdo moral, com conselhos de, possibilitando-as, assim, a se aparição é uma manifestação do
para perdoar, esquecer ingrati- comunicarem com os habitantes outro mundo, de alguém que nos
dões, pacificar, tolerar, não se do mundo invisível, que perma- vem dizer o que lá se passa.
vingar, etc. nentemente nos cercam. Até parece um espírita!
Por conseguinte, as comunica- Os biógrafos de Santa Brígi- Temos na própria Bíblia diver-
ções não eram de procedência sa- da afirmam que, no seu processo sos exemplos de mediunidade.
tânica, porque satanás, sendo a de canonização, ela foi chamada, João, autor do quarto Evangelho e
personificação das trevas, simboli- em italiano, de corriere al servizio médium do Apocalipse, era dota-
camente falando, não ensina a prá- di un grande signore; traduzindo do de várias faculdades mediúni-
tica do bem. O demônio, sendo o para o português: “correio a ser- cas. Além de sair do corpo para
representante do mal, não passa de viço de um grande senhor”. Isto realizar viagens espirituais, ele era
árvore má que, conseqüentemen- significa dizer, portanto, que a vidente, audiente, clarividente, psi-
te, não produz bons frutos. própria Igreja de Roma reconhe- cógrafo, etc. Após receber, pela
Os analistas espíritas, dissecan- ceu como verdadeiras as faculda- mediunidade, na Ilha de Pátmos, a
do as potencialidades mediúnicas des mediúnicas de Santa Brígida. grande mensagem chamada Apo-
da madre Santa Brígida, concluí- E não podia ser diferente por- calipse, disse: Eu, João, sou quem
ram que ela tem muita semelhan- que, respeitáveis autoridades do ouviu e viu estas coisas. E, quando
ça com os médiuns espíritas. clero, antigas e modernas, sempre as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés
Esse fato, porém, não é de cau- manifestaram interesse pelo fenô- do anjo que me mostrou essas coi-
sar surpresa, porque a mediuni- meno mediúnico. Entre as quais, sas, para adorá-lo. (Apocalipse,
dade propriamente dita, que é a por exemplo, o Monsenhor Ascâ- 22:8.)

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Mais outra afirmativa de João nados. Ela correspondia e, além diunidade – meio de comunica-
Evangelista: Achei-me em Espírito, disso, dava instruções de como ção dos Espíritos com os homens
no dia do Senhor, e ouvi por detrás os parentes deveriam proceder, – está no contexto da própria Na-
de mim grande voz, como de trom- através de orações, para o alívio tureza.
beta, dizendo: “O que vês, escreve dos sofrimentos das criaturas do Assim, a mediunidade não está
em livro e manda-o às sete igrejas: outro mundo. absolutamente localizada, ou seja,
Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Conta-nos também o autor de não é propriedade de ninguém,
Sardes, Filadélfia e Laudicéia”. Mediunidade dos Santos que a tampouco é exclusiva de religião
(Apocalipse, 1:9-11.) médium Santa Brígida, a despeito ou de doutrina alguma. Porque
Como se percebe, havia um da reprovação da maioria das au- os Espíritos, onde quer que exis-
bom relacionamento entre o mé- toridades do clero, os chamados tam médiuns, se manifestam, tan-
dium João e os Espíritos elevados. ortodoxos, declarava abertamen- to nas tendas dos pajés, no seio
A médium católica Santa Brí- te e sem rodeios ser porta-voz das tribos mais primitivas, como
gida, no exercício consciente das dos Espíritos. E quando se achava nas mesquitas dos muçulmanos,
suas faculdades mediúnicas, pro- doente, sem condições para psico- nas sinagogas dos judeus, nos
cedia semelhantemente ao apósto- grafar, ditava as mensagens, pala- templos das religiões orientais,
lo João Evangelista. Também ela vra a palavra, solenemente, ao seu nas igrejas católicas e protestan-
recebeu do Além-túmulo diversas confessor. tes, nas casas espíritas, nos terrei-
cartas-mensagens e as remeteu Esse fenômeno não é de causar ros de umbanda, no candomblé,
aos sete bispos da Suécia. surpresa, porque ocorrência simi- nos recintos e ambientes ateus e
Através do mesmo processo lar experimentaram o profeta materialistas.
mediúnico, teve visões e narrou- Moisés, ao receber os Dez Manda- Certamente, a médium católi-
-as em livro, que recebeu o título mentos da Lei de Deus, e o profe- ca Santa Brígida estava conscien-
de O Livro das Revelações. Essa ta Maomé, ao escrever, sob in- te dessa realidade.
obra mediúnica católica foi psi- fluência espiritual, o Alcorão ou
cografada em língua sueca, cujo Corão, livro sagrado dos muçul-
texto original se compõe de manos.
14.000 (quatorze mil) palavras; Por tudo isso se vê que a me-
na tradução do idioma sueco pa-
ra o latim passou para 16.000 (de-
zesseis mil) palavras.
Santa Brígida era médium tão
respeitada no seio da Igreja Ca-
tólica do seu tempo, que os fiéis a
procuravam para, por meio da
mediunidade, obter informações
sobre os seus parentes desencar-
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Reuniões
mediúnicas no lar
EURÍPEDES KÜHL

– Há óbices à prática mediúnica a várias outras reuniões do gênero, ciam príncipes estrangeiros e ou-
no lar? no mesmo endereço; tras personagens de alta distinção”.
1. A resposta e os argumentos re- – ainda em 1855 passou a fre- – em 1o de janeiro de 1858, lan-
ferentes a essa pergunta podem qüentar reuniões similares, mas em çou o primeiro número da Revista
parecer simples, mas não são, co- outra residência: no lar do Sr. Bau- Espírita.
mo também aqui não se trata de din. Até aqui, nas numerosas reu- – em 1o de abril de 1858, fundou
enunciar que sejam complicados. niões, “eram geralmente frívolos os a Sociedade Espírita de Paris (So-
Exigem, isto sim, racionalidade, assuntos tratados”, ou “nenhum fim ciedade Parisiense de Estudos Es-
oportunidade, bom senso. determinado tinham tido”; píritas), tendo em vista que a sala
A questão, já de início, necessa- – em 1856 freqüentou, simulta- onde se reuniam não era nada cô-
riamente, nos remete às primeiras neamente, reuniões na casa do Sr. moda e se tornou muito acanhada.
reuniões mediúnicas “neologica- Baudin e na casa do Sr. Roustan e 2. É da natureza humana o grega-
mente espíritas”, isto é, com a pre- Srta. Japhet; todas essas reuniões rismo (graças à sublime Engenha-
sença de Allan Kardec, criador dos “eram sérias e com ordem”; nelas, ria Divina, ao engendrar a forma-
termos espírita e espiritismo:1 Kardec levou perguntas sérias e ob- ção da família!):
– em Paris, nos idos de 1855 teve respostas precisas, com pro- – a partir da família consan-
(maio), Kardec foi convidado por fundeza e lógica; güínea formaram-se e seguem for-
um amigo, o Sr. Pâtier,2 para assis- – a partir de então, Kardec con- mando-se, na Humanidade, outras
tir a uma reunião na casa da Sra. tou com o concurso de mais de dez incontáveis famílias, por simbioses
Plainemaison, onde, pela primeira médiuns, recebendo do Plano Es- sociais, políticas, financeiras, es-
vez, presenciou fenômenos das piritual solução às mais espinhosas portivas, lingüísticas, patrióticas, fi-
mesas que giravam, saltavam e questões; losóficas, religiosas, etc;
corriam; depreendeu, sem dúvida, – em 18 de abril de 1857, com o – a Lei Divina do Progresso vem
haver ali ação de Espíritos (desen- vasto material que cuidadosamen- ditando, desde sempre, a idealização
carnados); te modelara e remodelara, no si- e o aperfeiçoamento da vida comu-
– durante o ano de 1855 assistiu lêncio da meditação, Kardec apre- nitária, e em particular dos locais
sentou ao mundo a primeira edi- onde as multifacetárias famílias se
1 ção de O Livro dos Espíritos; reúnem, a partir dos lares, depois as
O Livro dos Espíritos. 86. ed. Rio de Janei-
ro: FEB, 2005, “Introdução”, item I, p. 15. – há cerca de seis meses, Kardec escolas, as fábricas, os clubes, os hos-
2 realizava reuniões em sua residên- pitais, os quartéis, os templos, etc;
Notas sobre reuniões mediúnicas: vide
Obras Póstumas. 37. ed. Rio de Janeiro: cia, com a presença de 15 a 30 pes- – vem de longe no homem a bus-
FEB, 2005, Segunda Parte, p. 266-295. soas, nas quais “não raro compare- ca do aconchego e intimidade que o

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sendo instalados e por vezes per-


manecendo, o que nem sempre se-
rá possível num lar; para citarmos
apenas alguns desses aparelhos:3
“Psicoscópio”, “Condensador Ecto-
plasmático” e “Emissor de Raios
gos, convidados. Logo, também na Curativos”;
maioria dos casos, tais reuniões – no C. E., sob supervisão e pro-
deram azo, cada uma, à fundação teção dos bons Espíritos, prosse-
de um Centro Espírita (C. E.), com gue o tratamento dispensado aos
lar lhe proporciona, estendendo-se a prioridade inicial de se reunirem Espíritos visitantes necessitados, os
tal busca às diversas sedes para as em uma sede, própria ou alugada. quais, nesses casos, amiúde são ali
suas múltiplas atividades, tudo, afi- É assim que hoje existem cerca de alojados (antes, durante e mesmo
nal, expressando-se por espaço e dez mil Centros Espíritas no Brasil! após a reunião mediúnica);
privacidade àqueles grupos que Seríamos injustos se formulásse- – no C. E. há clima propício e,
comungam parentesco, ideais, gos- mos oposição a reuniões mediúni- geralmente, equipamento adequa-
tos, práticas – sintonia, enfim; cas no lar, desde que não houvesse do ao estudo evangélico (meios pa-
– foi assim que das cavernas às alternativa de acontecerem em ou- ra comunicação audiovisual), em
confortáveis residências, dos tos- tro local, especificamente destinado cursos de vários horários e para
cos refúgios aos modernos quartéis, a tal atividade: no Centro Espírita. diversas turmas, além de plantão
das humildes capelas às suntuosas Contudo, a bem da verdade e de passistas e palestras públicas,
igrejas, das modestas oficinas do- com base nas nossas reflexões, fruto tudo em benefício dos freqüenta-
mésticas às grandes fábricas, dos de exaustivas pesquisas na biblio-
canteiros de hortaliças às lavouras, grafia espírita e experiência pessoal, 3
XAVIER, Francisco Cândido. Nos Do-
a civilização direcionou e direciona não somos daqueles que apóiam
mínios da Mediunidade, pelo Espírito
suas ações, compartimentalizando qualquer atividade mediúnica nos André Luiz. 31. ed. Rio de Janeiro: FEB,
o necessário espaço físico onde elas lares, nem mesmo durante o aben- 2004, caps. 2, 7 e 28.
são ou serão exercidas; çoado “Culto do Evange-
– outra não foi a vertente pro- lho no Lar”.
porcionada no advento do Espiri- 4. Justificando:
tismo na Terra: como vimos, a Co- – segundo várias
dificação “nasceu” em residências, citações na série “A
mas ao “crescer”, logo se transferiu Vida no Mundo Espi-
para “sede própria”. ritual” (13 livros de
3. Para não nos alongarmos fi- autoria do Espírito An-
camos com o que a nossa memó- dré Luiz, com psicogra-
ria e nossas pesquisas nos arrimam, fia de Francisco Cândido
dizendo-nos que as reuniões me- Xavier e Waldo Vieira, to-
diúnicas, no Brasil, até mais ou dos editados pela FEB),
menos a metade do século XX, vários são os aparelhos tra-
aconteciam majoritariamente em zidos pelos Benfeitores es-
lares. Os participantes dessas reu- pirituais ao Centro Espíri-
niões familiares quase sempre ta, destinados a auxiliar as A primeira (1890) e a última edição
contaram com a presença de ami- atividades mediúnicas, lá do livro Obras Póstumas

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sencarnados igualmente encon-


trarão atendimento e reconforto
espiritual);
– no C. E. há maior possibili-
dade de ser instalada biblioteca
de livros doutrinários e mesmo de
banca para venda dessas obras
(com isso, os médiuns têm obras
próprias à mão, para o indispensá-
vel e contínuo estudo);
– no C. E. a freqüência à reunião
mediúnica pode e deve ser contro-
lada, de forma a se evitar a pre-
sença não só de pessoas desprepa-
radas, tanto quanto de crianças –
cuidados esses que serão sempre
relativos no lar...
– no C. E., caso a reunião me-
diúnica seja diurna, muito menor
será a ocorrência de interrupções,
espontâneas ou não, tais como
campainha da rua, telefone, cor-
Associação Espírita Beneficente “Anjos da Guarda”, reio, medidores de água ou luz, etc.
de Santos (SP), fundada há 122 anos, em 2 de – no C. E. não acontecem (ou
novembro de 1883 não devem acontecer...) nem dis-
dores encarnados e desencarnados atividades de “atendimento fra- cussões, tão rotineiras entre casais,
(estes, eventuais obsessores daque- terno”, possibilitando que famí- e nem projeções televisivas de pro-
les, ou vice-versa), os quais, sob lias carentes ali compareçam e per- gramas inconvenientes, tais como
alerta, são convidados ao perdão, à maneçam por algum tempo, rece- filmes violentos ou noticiário em
auto-reforma; bendo auxílio material e princi- geral de infelicidades, fatores esses
– no C. E. há adequação admi- palmente espiritual (não há negar impeditivos da higienização espi-
nistrativa e dependências para as que eventuais acompanhantes de- ritual do ambiente.

AO S C O L A B O R A D O R E S
Aos nossos prezados colaboradores solicitamos o obséquio de enviarem suas matérias, de preferên-
cia digitadas no programa Word e com no máximo 110 linhas, na fonte Times New Roman, tamanho
de fonte 12, régua 15, justificado, para que sejam devidamente ilustradas.
Nas citações e nas transcrições devem ser mencionadas as respectivas fontes (autor, título da obra,
edição, local, editora, capítulo e página), em nota de rodapé ou referência bibliográfica.
Contamos com o apoio de todos para que possamos continuar unidos, trabalhando em função da
divulgação da nossa Doutrina.

28 106 Reformador • Março 2006


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O retorno à
Espiritualidade
H I D E M B E R G A LV E S DA F R O TA

Q
uando o ser humano fi- Olha para trás e vê os ensinamentos Disciplina-se para evocar saudá-
nalmente aceita a reencar- que reassimila de tempos em tem- veis influências e não se corromper
nação como fato da Natu- pos para, depois, voltar a abandoná- com idéias insidiosas, à primeira
reza a alcançar a Humanidade ter- -los no meio do caminho, mesmo vista inofensivas, por serem apenas
restre em todas as épocas e luga- sabendo, no íntimo, que eram cer- pensamentos.
res, sente-se no dever de destinar tos. Transcorrido tanto tempo, imi- Admite que não é receptáculo de
suas energias, sentimentos e pen- tando a própria teimosia, aprende a verdades absolutas inquestionáveis.
samentos ao aceleramento de sua ouvir sua intuição sussurrar a sabe- Extrai do conhecimento de seus pa-
evolução espiritual. doria de quem já percorreu muitas res pontos luminosos, traços de lu-
Cansa-se do vazio existencial, sendas e passou da idade de renegar cidez divina espraiados até naqueles
do cotidiano angustiado e melan- o próprio acervo de experiências que renegam a espiritualidade. Ob-
cólico, da atenção dispersa, volta- acumuladas. serva outras religiões. Vê na maioria
da a contemplar convenções e mo- Nos escaninhos da alma, redes- substrato ético comum, apesar da
dismos sociais. cobre a mediunidade, identifican- dissonância dogmática.
Cristaliza a vontade de pôr um do influências invisíveis, ora be- Pondera antes de criticar quem
basta a vícios que traz consigo ao néficas, ora deletérias, a depender julga encontrar-se em estágio evo-
longo de séculos. Agora sabe que da disposição para purificar-se da lutivo inferior ao seu, porque a ve-
não está aqui à toa. Tem missão a autocorrupção, respeitar as normas reda que aquele trilha um dia foi a
executar. Seu bem-estar espiritual éticas universais e tornar-se mais sua.
depende disso. Quanto mais tempo sensível a vibrações sutis, e menos Recorda que não adianta chegar
desperdiçar, menos realizado será, simpático a emoções e raciocínios ao topo da montanha: precisa aju-
maiores as dificuldades para cum- densos. dar os outros a escalarem-na.
prir a finalidade desta reencarnação Acostuma-se a enxergar na esfe- Muda sua postura diante dos
e enfrentar os equívocos do passa- ra da vida privada uma fortaleza inimigos, ao concluir que apenas
do, erros que há muito esperam inócua contra a exposição ao pú- energias positivas neutralizam a
correção. blico do mundo espiritual, porque negatividade; somente o perdão
Quando jovem, ouviu dos ami- no recôndito de sua intimidade incondicional extirpa rancores ime-
gos que deveria se divertir, porque trafegam Espíritos amigos e hostis, moriais; só vence o ódio o amor
tinha a vida inteira pela frente. que o conhecem melhor que a si sincero, universal, sem fins interes-
Quando amadurece à luz da Dou- próprio. Troca a defesa da privaci- seiros e exigência de reciprocidade.
trina Espírita corrói-se de remorso dade e da dissimulação pelo enfre- A partir daí compreende a impres-
pela mocidade materialista, caixa de tamento sincero de suas falhas de cindível contribuição de Jesus à
ressonância para valores fúteis que caráter, ciente de que para os Espí- evolução da Humanidade radicada
o acompanham há priscas eras. ritos sua alma está sempre nua. no orbe terrestre.

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Músculos
para a alma
RICHARD SIMONETTI

A
jovem reclamava sofrer a 
O profitente religioso, em ora-
perseguição de um Espírito ção, exercita um trabalho espiritual.
que não a deixava em paz. Na questão 683, de O Livro dos O voluntário da obra assistencial,
Idéias infelizes, sentimentos ne- Espíritos, interroga Allan Kardec: atendendo a família carente, exerci-
gativos, angústia, tristeza, denuncia- Qual o limite do trabalho? ta um trabalho de filantropia.
vam a presença da entidade malfa- A resposta é surpreendente: O importante, em favor de nossa
zeja. “O das forças. Em suma, a esse estabilidade, é estar sempre ativo,
E apelava, aflita, dirigindo-se a respeito Deus deixa inteiramente considerando que todo processo
Chico Xavier: livre o homem.” obsessivo tende a instalar-se na
– Não suporto mais essa pressão! Dirá você, leitor amigo, que o hora vazia.
Minha vida está se transformando mentor mais parece diligente repre- Não é por outra razão que há
num inferno. O que devo fazer para sentante dos patrões! nos hospitais psiquiátricos nú-
libertar-me desse obsessor que me Trabalhar até a exaustão lembra cleos de praxiterapia, literalmente
deixa agoniada? os primórdios da Revolução Indus- a terapia do trabalho, oferecendo
O médium, com a delicadeza trial, no século XVIII, quando havia ocupação aos pacientes, a qual,
que o caracterizava, respondeu, jornadas de trabalho de dezesseis associada à medicação, favorecerá
bem-humorado: horas, mal sobrando tempo para o sua recuperação.
– Trabalhe, minha filha. Traba- repouso.

lhe muito, até desfalecer. Quando a Sossegue! Não é esse o sentido da
gente desmaia de cansaço o obses- sua observação. Quando falamos em influências
sor não consegue nos envolver… Trabalho é toda iniciativa que espirituais, imperioso considerar
O comentário do médium lem- representa atividade disciplinada. que se há Espíritos interessados em
bra o velho ditado: Ao escrever estas linhas estou nos envolver e prejudicar, há tam-
Mente vazia é forja do demô- exercitando um trabalho de pro- bém os que procuram nos ajudar.
nio. dução literária.
Quando não temos o que fazer, Meus filhos, na
afloram as tendências inferiores, escola, exercitam o
favorecendo a sintonia com Espí- trabalho de apren-
ritos que nos perturbam. dizado.
Nossa defesa, portanto, é o tra- A serviçal do-
balho, que disciplina a mente, man- méstica, nos afaze-
tendo-a ocupada, sem aberturas pa- res do dia, exercita
ra as sombras. um trabalho braçal.

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FEB/CFN – Comissões
Regionais
Calendário das Reuniões Ordinárias
de 2006
E se os maus são atraídos pela Nordeste para Dirigentes de Ca-
ociosidade, os bons aproximam- 1. Comissão Regional Nordeste sas Espíritas”;
-se na medida em que nos vejam 1.1. Cidade-sede: João Pessoa c) “Avaliação das atividades-
ativos, principalmente quando (PB). -meio na sustentação do
cultivamos iniciativas no campo 1.2. Período: 7 a 9 de abril. trabalho federativo”.
do Bem, o mais nobre de todos os 1.3. Assunto: “Preparar o Centro
serviços. Espírita para interagir no Norte
Quanto maior o nosso empe- processo federativo, na sua 4. Comissão Regional Norte
nho em servir o próximo, mais condição de unidade funda- 4.1. Cidade-sede: Macapá (AP).
ampla a atenção de Benfeitores es- mental do Movimento Es- 4.2. Período: 15 a 18 de junho.
pirituais, interessados em nos utili- pírita”. 4.3. Assunto: “Vivência do Evan-
zar como instrumentos para aben- gelho na prática espírita”.
çoadas tarefas em favor dos sofre- Sul
dores de todos os matizes. 2. Comissão Regional Sul Áreas Específicas
Por isso, a par do tratamento 2.1. Cidade-sede: São Caetano Concomitantemente com a Reu-
espiritual, com passes magnéti- do Sul (SP). nião dos Dirigentes, serão reali-
cos, reuniões de desobsessão, vi- 2.2. Período: 28 a 30 de abril. zadas, com temas próprios esco-
brações, orientação de leitura, cur- 2.3. Assunto:“Orientação ao Cen- lhidos em 2005, as reuniões das
sos, é fundamental que o Centro tro Espírita”. Áreas Específicas de Assistência
Espírita crie uma estrutura de ser- Espiritual na Casa Espírita, Assis-
viços em favor da multidão caren- Centro tência e Promoção Social Espí-
te e sofredora, que constitui boa 3. Comissão Regional Centro rita, Atividade Mediúnica, Comu-
parcela da população, em qualquer 3.1. Cidade-sede: Cuiabá (MT). nicação Social Espírita, Estudo Sis-
cidade. 3.2. Período: 19 a 21 de maio. tematizado da Doutrina Espírita,
E que se vinculem a esses servi- 3.3. Assunto: Infância e Juventude.
ços as pessoas que se queixam da a) “Avaliação das Campa-
falta de motivação, apáticas, de- nhas Viver em Família, Sesquicentenário da Dou-
pressivas, comprometidas com a Em Defesa da Vida e trina Espírita
inércia. Construamos a Paz Pro- Na abertura de todas as Reu-
Abençoada seja a exaustão física movendo o Bem!”; niões Ordinárias haverá apresen-
que venhamos a experimentar nes- b) “Avaliação sobre o anda- tação do Projeto de Comemoração
se empenho, a situar-se como vigo- mento do Curso Capa- do Sesquicentenário da Doutrina
roso exercício que fortalece os mús- citação Administrativa Espírita.
culos da alma, habilitando-nos a
resistir às incursões das sombras.

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A FEB e o Esperanto

Miscelânea A F F O N S O S OA R E S

A
proveitando o ensejo que se apresentou com o Nos dias 16, 17 e 18 de setembro passado, foi realiza-
novo formato de nosso mensário, a rubrica do da, no Teatro Guararapes do Centro de Convenções em
esperanto busca seguir-lhe os passos e estam- Olinda (PE) a Mostra Espírita, organizada todos o anos
pa, desde janeiro, o símbolo que, juntamente com a pela Federação Espírita Pernambucana (FEP).
tradicional estrela verde de cinco pontas (os cinco A Mostra Espírita atrai centenas de pessoas que assis-
continentes envolvidos pela simbólica cor da Espe- tem às suas palestras em busca do conhecimento sobre a
rança), representa, desde 1987, a Língua Internacional Doutrina.
Neutra, seus ideais e seu movimento. Neste ano de 2005, para surpresa do público, a Mos-
O novo símbolo foi escolhido através de concurso tra Espírita apresentou-se diferente. Uma novidade pô-
mundial realizado em meados da década de ser vista no pátio externo do teatro, onde
de 80 para os festejos do 1o Centená- se localizavam os estandes de autores,
rio do Esperanto. Venceu a suges- centros e outros grupos espíritas. E
tiva concepção de um esperan- essa novidade foi o estande da
tista brasileiro, da cidade de Ita- Língua Internacional Esperan-
buna (BA), o engenheiro Hil- to, montada pelo grupo de espe-
mar Ilton Santana Ferreira, ranto da própria FEP.
com quem tivemos a alegria de Ao longo dos três dias, dezenas
viajar a Varsóvia, Polônia, para lá de pessoas visitaram o estande em
representar a FEB naquele congresso busca de informações acerca desse idio-
jubilar. ma que tanto se assemelha à nossa própria
O símbolo apresenta, unidas, a letra E, do alfabeto Doutrina, no que diz respeito aos ideais. Cartazes, livros
latino, e a letra E do alfabeto cirílico, das línguas esla- espíritas em esperanto, panfletos, propaganda do curso
vas, sugerindo, entre outras idéias, a união entre básico para 2006, entre muitas outras coisas, foram
Oriente e Ocidente, abraçando, nesses dois grandes expostos ao público.
blocos, a ampla expressão das muitas diversidades que A própria Federação Espírita Pernambucana, na pes-
caracterizam a Humanidade e que, em alguns casos, a soa de Gisele de Souza, apoiou o grupo e confeccionou
têm infelicitado. centenas de panfletos sobre a língua para serem distri-
 buídos no estande. Certamente nenhum dos participan-
tes daquele evento saiu sem conhecer o esperanto.
Por e-mail de 3 de dezembro passado, um jovem de Esperamos que com essa divulgação todos possam
18 anos, Marcelo Augusto de Lira Mota, de Pernam- melhor entender o ideal do esperanto e, assim, aju-
buco, nos dá notícia de bela iniciativa em torno da di- dar-nos a fortalecer o ideal da Fraternidade, comum a
vulgação do esperanto nos círculos espíritas, sob os aus- espíritas e esperantistas.
pícios da Federação Espírita Pernambucana.

Eis o texto:

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Concretizou-se, graças principalmente ao esforço


perseverante de um grupo de voluntários, sob a coor-
denação de Luiz Fernando Vêncio, de Goiânia (GO),
o projeto de disponibilizar as versões em esperanto
dos cinco livros da Codificação Espírita e de O que é
o Espiritismo aos visitantes dos portais da FEB
(http://www.febnet.org.br) e do CEI.
Os livros estão em formato “pdf ”, com permissão
para cópia, o que dá a toda a coletividade mundial dos
esperantistas a ampla possibilidade de conhecimento
dos fundamentos do Espiritismo.
Agora, cuidaremos de enriquecer a Seção de Es-
peranto daqueles portais com novos materiais que
igualmente contribuam para a boa divulgação da Dou-
trina no seio da generosa família esperantista mundial,
bem como do esperanto nos círculos espíritas.

Memoru, homo Memento, homo *

L’unuaj jaroj de l’Jarmilo Tria Os primeiros anos do Terceiro Milênio


instruis multon al la tuta Tero. ensinaram muito a toda a Terra.
Ne gravas, ke la spac-7iparo nia Não importa que nossas espaçonaves
la kosmon krozas por stelar-konkero. cruzem o Cosmos na conquista de constelações.

Kontrasto monda estas pli-kaj-plia. O contraste no mundo é cada vez maior.


Dum ri/on, forton kelkaj kun fiero Enquanto sua riqueza e sua força alguns, com orgulho,
montradas al la monda part’alia exibem à outra parte do mundo,
mortanta pro malsato kaj mizero, que está morrendo de fome e de miséria,

de l’Kosma Forto venas leciono: da Força Cósmica vem uma lição:


Ja tre malgranda estas nia kono, É, de fato, pequeno nosso conhecimento,
kaj sensignifa /e la Pov’Senfina. e insignificante diante do Poder Infinito.

Ne gravas ri/o, forto kaj fiero! Não importam riqueza, força e orgulho!
Memoru, homo: estas vi sablero Lembra-te, homem: és um grão de areia
senpova /e Cunamo kaj Katrina. impotente diante de um Tsunami e uma Katrina.

(Soneto de Sylla Chaves, concebido originalmente em esperanto e com tradução, em prosa, do


próprio autor.)

* Frase latina, colhida na expressão – Memento, homo, quia pulvis es et in pulverem reverteris (Lembra-te, ó homem, de que és
pó e ao pó hás de voltar), proferida pelo sacerdote ao marcar com cinza a fronte dos fiéis, na Quarta-feira de Cinzas, lembrando
as palavras de Deus a Adão após o pecado original (Gênesis, 3:19). – Nota da Redação.

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Em dia com o Espiritismo

O que é morte?
M A RTA A N T U N E S M O U R A

O
fenômeno da morte (do rélio (imperador romano, de 161 a periências vividas pelo Espírito,
latim mors, mortis, e do 180 d.C.) destaca a igualdade dos na matéria (reencarnação) ou no
grego thánatos) é, em ge- homens perante a morte quando plano espiritual, representam
ral, estudado em três níveis de afirma: Alexandre da Macedô- oportunidades de aperfeiçoa-
abrangência: nia e seu arrieiro, mortos, reduzi- mento intelecto-moral. Para
a) como um fenômeno biológi- ram-se à mesma coisa: ou ambos o entendimento espírita, a
co natural que acomete todos são reabsorvidos nas razões semi- vida está centrada no Es-
os seres vivos do Planeta; nais do mundo ou ambos são dis-
b) no que diz respeito aos im- persos entre os átomos. (Recorda-
pactos que produz nas dife- ções, VI, 24.)
rentes culturas ou comunida- A Sociologia e a Antropologia
des humanas; estudam os efeitos que a morte
c) segundo as interpretações es- provoca nas coletividades huma-
piritualistas oriundas da filo- nas, analisando, entre outros, os
sofia e da religião. aspectos religiosos, as crenças, as
As normas vigentes na sociedade tradições, os prejuízos (morte in-
moderna determinam que a morte fantil, por doenças, por epidemias,
seja atestada por meio de procedi- por guerras, conflitos e violências,
mentos técnicos e legais, uma vez etc.), ações no meio ambiente (po-
que a morte pode ter conseqüências luição, efeito estufa, desmatamen-
para outras pessoas ou para a Na- to, etc.) Os dados sociológicos e
tureza. No caso do ser humano, antropológicos são muito impor-
faz-se a confirmação através do tantes por fornecerem uma rique-
Atestado de Óbito, assinado por za de informações a respeito da
um médico. Procedimentos seme- heterogeneidade racial e cultural
lhantes, de base científica, são igual- dos povos que formam a humani-
mente utilizados para comprovar a dade terrestre.
morte de seres não-humanos. A As orientações espíritas, trans-
aceitação da morte como fato ine- mitidas por veneráveis Entidades Assim como a borboleta, que deixa a sua
vitável estabelece um traço de união Superiores, esclarecem que, efeti- crisálida, a alma abandona o invólucro
entre todas as criaturas. Marco Au- vamente, não existe morte. As ex- corporal, conservando seu corpo fluídico.

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pírito, o ser imortal, que sobrevive tem a imortalidade da alma e a Casulo que abriga
à decomposição orgânica imposta reencarnação do Espírito ensi- a lagarta durante a
pelo esgotamento dos órgãos do nam que a morte é o início de um metamorfose
corpo físico.1 A palavra “morte”, novo ciclo de vi-
no sentido espírita, representa me- da. Segundo Pla-
ra força de expressão: Morto o ser tão (427-347 a.C.),
orgânico, os elementos que o com- a separação entre a alma e o
põem sofrem novas combinações, de corpo não apenas conduz ao iní-
que resultam novos seres, os quais cio de um novo ciclo existen-
haurem na fonte universal o princí- cial, mas, também, possibilita a
pio da vida e da atividade, o ab- futura reencarnação da alma.
sorvem e assimilam, para novamen- (Phaedo, 64-c.) Plotino, filósofo gre-
te o restituírem a essa fonte, quando go neoplatônico, afirmava: Se a dia em que dela
deixarem de existir.2 vida e a alma existem depois da comeres, morrerás.
As idéias espiritualistas sobre a morte, a morte é um bem para a (Gênesis, 2:17.) In-
morte, tanto as de natureza filosó- alma porque esta exerce melhor sua terpretando o ca-
fica quanto as de feição religiosa, atividade sem o corpo. (Enneades, ráter legalista do
consideram a morte como a sepa- I-7,3.) Para o filósofo prussiano Judaísmo, o após-
ração entre a alma e o corpo, que Schopenhauer (1788-1860), a mor- tolo Paulo afirma-
marca a passagem para outro es- te é comparável ao pôr-do-sol, va: Eis por que, co-
tágio de vida, o espiritual. É uma que representa, ao mesmo tempo, o mo por meio de um
concepção que, paradoxalmente, nascer do sol em outro lugar. (Die só homem [Adão]
produz dois tipos de interpreta- Welt als Wille und Vortesllung – O o pecado entrou no
ção, discordantes entre si: a Mundo como Vontade e Represen- mundo, e pelo pecado a
morte é o início ou é o fim de tação – 1819, I, § 65.) morte; assim, a morte passou a
um ciclo de vida. O pensamento filosófico oposto todos os homens, porque todos peca-
As doutrinas que admi- a essas idéias vê a morte como o fim ram. (Epístola aos Romanos, 5:12.)
de um ciclo de vida, e pode ser O Espírito Emmanuel, a propó-
resumido nas seguintes palavras do sito, simplifica o conceito de mor-
imperador Marco Aurélio: A morte te, esclarecendo que desencarnar é
é o repouso ou a cessação das preo- mudar de plano, como alguém que
cupações da vida. É o “morrer para se transferisse de uma cidade para
descansar” da tradição popular. A outra (...) sem que o fato lhe altere
morte como o término de um ciclo as enfermidades ou as virtudes com
de vida é, da mesma forma, um a simples modificação dos aspectos
conceito religioso enquanto asso- exteriores.
ciado ao pecado original. Para Moi- (...) A alma prosseguirá na sua
sés, a morte representa o fim das tri- carreira evolutiva, sem milagres
bulações humanas impostas à prodigiosos.3 Esclarece ainda que
Humanidade, em razão do pe- a alma desencarnada procura na-
cado de Adão e Eva: Mas turalmente as atividades que lhe
da árvore do conheci- eram prediletas nos círculos da vi-
mento do bem e do mal da material, obedecendo aos laços
não comerás, porque no afins (...).

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3
Daí a necessidade de encararmos sos reflexos ajusta-dos ao bem, XAVIER, Francisco C. O Consolador, pe-
todas as nossas atividades no mun- avançando em degraus conseqüen- lo Espírito Emmanuel. 25. ed. Rio de Ja-
do como a tarefa de preparação pa- tes para novos horizontes de ascen- neiro: FEB, 2004, questão 147, p. 92.
ra a vida espiritual, sendo indis- são e de luz.6 4
_____. questão 148, p. 93.
5
pensável à nossa felicidade, além do KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos.
sepulcro, que tenhamos um coração Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio
sempre puro.4 Referências Bibliográficas: de Janeiro: FEB, 2005, “Introdução”, item
1
A Ciência e a Filosofia, desco- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. VI, p. 30.
6
nhecendo a manifestação da lei de Tradução de Guillon Ribeiro. 86. ed. Rio XAVIER, Francisco C. Pensamento e Vida,
causa e efeito, as conseqüências de Janeiro: FEB, 2005, questão 68, p. 93. pelo Espírito Emmanuel. 15. ed. Rio de Ja-
2
do uso do livre-arbítrio e a reali- _____. questão 70, Comentário, p. 94. neiro: FEB, 2005, cap. 29, p. 133-135.
dade da vida futura, perdem-se
em indagações e investigações, na
maioria das vezes estéreis, que
não conseguem reduzir a cota de
sofrimento existente na Humani-
dade. A Doutrina Espírita, por
A porta estreita
outro lado, em sua simplicidade,
mostra que após a desencarnação
Corydes Monsores
(...) a alma volve ao mundo dos Es-
píritos, donde saíra, para passar “Entrai pela porta estreita,
por nova existência material, após porque larga é a porta da perdição.”
um lapso de tempo mais ou menos Jesus – (Mateus, 7:13).
longo, durante o qual permanece
em estado de Espírito errante [isto
é, vive no plano espiritual até que Gostaria de que, quando morrer
nova reencarnação ocorra].5 Sen- meu corpo, desta vida já cansado,
do assim, (...) a morte nos confere possa ouvir, em surdina, alguém dizer:
a certidão das experiências repe- – “vá com Deus meu amigo doce e amado”.
tidas a que nos adaptamos (...). É
deste modo que ela, a morte, extrai Que essa frase seja um bem-querer,
a soma de nosso conteúdo mental, não um discurso adrede preparado,
compelindo-nos a viver, transito- mas o amor simples que eleva o Ser
riamente, dentro dele.(...) e o faz sentir-se terno e realizado.
É por esta razão que morrer sig-
nifica penetrar mais profunda- Quando morrer meu corpo material
mente no mundo de nós mesmos, esquecido serei, pois nada sou
consumindo longo tempo em des- mais que um modesto espírito imortal.
pir a túnica de nossos reflexos me-
nos felizes, metamorfoseados em Que o esquecimento não me doa. Importa
região alucinatória decorrente do é que o caminho para onde vou
nosso monoideísmo na sombra, ou conduza-me, por Deus, à estreita porta.
transferindo-nos simplesmente de
plano, melhorando o clima de nos-

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Amemos
o Espiritismo
I
ndispensável é que adotemos mite romper os caminhos do mun- quais se ajoujam, desatentos com a
uma postura de mais acendra- do com sede de claridade e de har- dinâmica de doenças da alma e da
do amor ao Espiritismo, levan- monia interior. Nada obstante exis- morte moral que elas facultam.
do em conta a sua grandeza ina- tem as almas que preferem os cam- O Espiritismo é como um oásis
bordável, que nos liberta da ances- pos ressecados e desérticos do tor- de ar puro, nas desérticas condições
tral ignorância e da contemporâ- turante comodismo espiritual. do mundo, tranqüilizando as ânsias
nea superficialidade, permitindo- O Espiritismo corresponde a dos seres, pacificando o íntimo das
-nos os movimentos dos múltiplos um campo de perfumadas flores, almas. Isso não impede que encon-
progressos no trabalho evolutivo a oferecer-nos beleza e graça, além tremos os que se deixam aprisionar
que nos cabe operar. do pólen que permite a reprodução em porões de asfixia, controlados
O Espiritismo se mostra como da vida. Há, contudo, quem se con- pelas viciações de diferentes níveis
uma fonte dadivosa de águas puras forme com espinheirais ameaçado- e matizes, que reforçam o desespero
e cristalinas, para quem não se per- res e com as esterqueiras fétidas nas e a desventura humanos.
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O Espiritismo é semelhante a um sempre, conseguimos alcançar, com (Mensagem psicografada pelo mé-
sol a mostrar-nos, pelos caminhos toda lucidez, o significado e o valor dium Raul Teixeira, durante a Reu-
terrenos, as rotas de segurança, em que a mensagem do Espiritismo te- nião do CFN da FEB, em 12.11.2005,
razão da claridade que projeta ve para as nossas experiências no em Brasília (DF).)
sobre tudo e sobre todos. Triste é Planeta.
constatarmos, porém, o grande Amemos o Espiritismo, pois,
número dos que preferem as vielas como o melhor presente que Jesus *Pioneiro espírita amazonense, nasceu e
ensombradas, uma vez que temem Cristo outorgou ao nosso mundo desencarnou em Parintins (1867-1934).
a lucilação do dia transparente, que terreno, confiante em que tudo fa- Era advogado e exerceu os cargos de Pre-
permite seja bem-visto tudo quan- ríamos com essa dádiva sublime feito de Parintins, Deputado Estadual
to é necessário para o bem viver. para conquistar a decantada e e Vice-Governador do Estado do Ama-
O Espiritismo é comparado a um espiritual vida abundante. zonas. Fundou o Grupo Espírita Amor e
rio caudaloso, que nos impulsiona Caridade, em 12 de julho de 1907, e o jor-
para o grande mar do amor divino. José Furtado Belém* nal espírita O Semeador, no mesmo ano.
Nada obstante, não são poucos os
que fogem para os matagais fecha-
dos dos conflitos próprios, de onde
não conseguem divisar o horizonte Riqueza intocada
nem ter idéia de todas as dimensões
da vida que vibra nos oceanos. Tudo sofre na Terra implacável mudança,
Dedicar amor ao Espiritismo Pólo a pólo, alma a alma, em ritmo profundo,
será sempre, então, o nosso modo Mês a mês, dia a dia e segundo a segundo,
de agradecer a Deus pelo amparo A vida se refaz, aprimora-se e avança.
terreno e de nos manter vincula-
dos aos Poderes Bem-aventurados Reflete no museu onde a História descansa.
do Além, que nos enseja a manu- Bronzes, troféus, brasões, em repouso infecundo,
tenção da integridade moral, e que Mostram que a pompa humana é cinza para o mundo
nos faz sentir vitoriosos sobre nos- Ontem, púrpura e sol; hoje, trapo e lembrança...
sas pessoais limitações, avançando,
bem-dispostos, para Jesus. Força, fama, ilusão, graça, beleza e glória
Amemos o Espiritismo traba- Caem da ostentação da senda transitória
lhando, estudando e agindo em fa- Nos arquivos do tempo – o eterno sábio mudo!...
vor do bem, sem que nos consinta-
mos afastar da senda renovadora, Uma riqueza só permanece intocada,
quando o que está em questão é a A riqueza do bem que esparziste na estrada,
nossa alforria dos processos escra- Luz a esperar-te além da alteração de tudo.
vistas que a ignorância sustenta e
da indolência que nos mantém ata- Dario Veloso
dos às anciloses espirituais.
Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Poetas Redivivos. 3. ed. Rio de Janeiro:
Somente quando chegamos aos FEB, 1994, cap. 27.
campos do Invisível é que, quase

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A transformação
do instinto
A D É S I O A LV E S M AC H A D O

H
á diferença entre instinto teligência sem raciocínio. Por ele é de energia que as vitalizem, direcio-
e inteligência, e estas duas que os seres provêem às suas neces- nam suas raízes para a água e para a
condições humanas entre- sidades”. terra que as nutrem. Também a flor
cruzam-se tão sutilmente que se Através do instinto os seres orgâ- abre e fecha, conforme lhe for neces-
tornam imperceptíveis. Elas intera- nicos realizam atos espontâneos e sário. As plantas trepadeiras se en-
gem, inviabilizando ao homem dis- voluntários, visando à sua conserva- roscam em torno do que lhes pode
tinguir, em muitas ocasiões, quando ção, não havendo nesses atos instin- oferecer segurança e apoio. E, no rei-
uma termina e dá lugar à outra. tivos reflexão, combinação nem pre- no animal, os animais têm o aviso
Segundo O Livro dos Espíritos, meditação. Obedecendo cegamente do perigo que os ronda; procuram
questão 73, “(...) o instinto é uma a este impulso, as plantas procuram o melhor clima de acordo com a es-
espécie de inteligência. É uma in- o ar, voltam-se para a luz em busca tação que estão vivendo; eles cons-

Março 2006 • Reformador 117 39


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troem, sem ter a mínima orientação, Todo ato instintivo é maquinal;


abrigos, moradias, com mais ou me- já o que denota reflexão, combina-
nos arte, de acordo com suas espé- ção, deliberação é inteligente, pois o
cies; cuidam com zelo (sem ter no- ato inteligente é livre, enquanto o
ção do que seja isto) de seus filhotes, instintivo, automático.
dando demonstração, para muitas O instinto é sempre guia segu-
pessoas, de que eles amam suas ro, dificilmente falha ou se enga-
crias, enquanto há animais, os fe- na. Já a inteligência, por ser livre,
rozes, por exemplo, que comem seus muitas vezes se equivoca, levando
próprios filhos, bastando a fome o homem ao arrependimento, ao
lhes surgir. Os animais manejam remorso, à dor.
com destreza as suas garras, que lhes Agindo por instinto, o homem es-
propiciam defesa contra os outros tá sempre revelando que é um ser in-
animais; aproxima-se o macho da teligente, pois que se encontra apto
fêmea e unem-se sexualmente sem a prever o que lhe pode acontecer.
que tivessem tido a menor diretriz O instinto não poderia proma-
sobre como se processaria o cruza- nar da matéria, porque se assim
mento. Os filhotes se instalam para fosse teríamos que admitir inteli-
mamar, sem que a mãe os oriente. gência na matéria, o que não existe.
Vejamos o homem. Sua vida ini- Ainda mais teríamos de admitir
cial é toda instintiva, passando o ins- que a matéria seria mais inteligente
tinto a dominá-lo. A criança toma o e previdente do que a alma, pelo
alimento do seio materno; faz os fato de o instinto não se enganar,
primeiros movimentos sem apren- enquanto a inteligência vez por ou-
dizagem específica; grita avisando tra se equivoca.
que deseja algo ou que não está se Não é raro a manifestação ao
sentindo bem; tenta falar e andar. Já mesmo tempo do instinto e da in-
crescido, o homem também con- teligência. Quando nós caminha-
tinua a realizar movimentos instin- mos, por exemplo, o mover as per-
tivos, principalmente quando algu- nas é ato instintivo; colocamos um
ma coisa externa ameaça a sua inte- pé à frente do outro, sem cogitar-
gridade física, o mesmo acontecen- mos nisso. Agora, quando quere-
do na hora de equilibrar o corpo. A mos acelerar o passo, levantar o pé
oxigenação a que se submete pela para nos livrarmos de um obstá-
respiração, o abrir da boca quando culo, agimos inteligentemente, ou
sente sono são atos, movimentos seja, aí empregamos cálculo e com-
instintivos. binação.
Quando age inteligentemente, o Analisando o animal na hora de
homem revela atos voluntários, fru- se alimentar, de forma predatória,
tos de reflexão, premeditação e su- vemos que ele sabe como segurar a
jeitos a combinações, tudo de con- sua presa, por instinto, e levá-la à
formidade com os momentos cir- boca para devorá-la. Contudo, pre-
cunstanciais. Este patrimônio é ex- venindo-se contra eventuais amea-
clusivamente da alma. ças à conservação do alimento sob o

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seu domínio, temos que admitir Não deduzamos, daí, a nulifica-


que ele atua com inteligência. ção da proteção dos Espíritos Guias,
Sabendo-se que os Guias Espiri- porque eles agem, atuam como me-
tuais atuam em nossas vidas nos li- dianeiros de Deus, já que o Criador,
vrando de certos perigos e certos como está em O Livro dos Espíritos
males, após nos envolverem em (questões 112-113), não atua sozi-
seus eflúvios, vemos aí uma ação nho, mas em comunhão com o mo-
inconsciente do homem que se vimento de seus intermediários nos
pode atribuir a um ato instintivo, mundos físico e extrafísico.
quando ele é elaborado com inte- Devemos convir, como judicio-
ligência, no mínimo a do Espírito samente Allan Kardec destaca, que
Protetor. Há, no nosso entendi- estas maneiras de considerar o ins-
mento, uma ação conjugada do ins- tinto e a inteligência são todas hi-
tinto e da inteligência. potéticas, e nenhuma poderá ser
A Providência Divina, que pro- considerada como genuinamente
tege crianças, loucos e ébrios, mani- autêntica. Contudo, nada possuem
festa-se através do ato protetor dos de absurdidade, segundo os conhe-
Guias Espirituais, que conduzem cimentos atuais do ser humano. Po-
quem ainda não sabe caminhar na de ser isso mesmo o que acontece,
vida sem uma ajuda eficaz. como mostra a prudência científica
Figurando todos nós mergulha- do Codificador ao aconselhar cui-
dos no halo divino, ou seja, sob a dado e muita observação antes de
sua proteção sábia e previdente, va- darmos a última palavra. Ou não a
mos compreender a unidade de vis- digamos nunca, o que sempre é
tas que preside a todos os nossos mais aconselhável. Na incerteza, si-
movimentos instintivos efetuados lenciemos, dizem os que sabem
para o nosso bem-estar. mais.
Sob esta óptica o instinto há de O instinto vai se enfraquecendo
ser um excelente guia, muito seguro por sua absorção pela inteligência,
em sua ação. Incluamos aí o instinto sem, contudo, desaparecer total-
materno, o maior de todos; malgra- mente, pelo fato de ele ser guia se-
do opinião contrária dos apologistas guro, nunca prejudicial, sempre
de que tudo se resume na matéria, bom.
ele fica realçado e enobrecido. É por Agindo só instintivamente, o
intermédio das mães que Deus vela homem poderia ser bom, mas a
pelas suas criaturas. Resulta daí es- sua inteligência permaneceria pa-
tarmos sempre realçando, quando ralisada, sem desenvolvimento, e
oportuno, que por ser Deus o ver- não é isso que Deus deseja às suas
dadeiro Pai de nossos filhos, nós, criaturas.
pais terrenos, somente fazemos uma
parte mínima de esforço para deles Apoio: Livro A Gênese, de Allan Kar-
cuidar. A outra parte, a maior e mais dec, edição da Federação Espírita Bra-
expressiva, fica sob a competência sileira, capítulo III, tradução de Guillon
de Deus, pertence a Ele. Ribeiro.

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Seara Espírita

Goiás: Congresso Espírita Ciência. O evento, contou com a participação de jo-


A Federação Espírita do Estado de Goiás realizou em vens entre 13 e 25 anos.
Goiânia o XXII Congresso Espírita Estadual. De 26 a Realizou-se no período de 3 a 11 de dezembro de
28 de fevereiro passado, foi trabalhado o tema A 2005, sob a coordenação da UEP, a XVI Feira do Livro
Revelação Espírita e o Sentido da Vida. O Movimento Espírita de Belém, na Praça da República, com a
Espírita Jovem do Estado de Goiás teve programação disponibilização de mais de 1.000 títulos. Promovida
específica junto ao Auditório do Instituto Educacio- desde 1990, a Feira acumula resultados positivos,
nal Emmanuel. Informações sobre o Congresso po- sendo que, em 2004, foram vendidos mais de 12.000
dem ser vistas no site www.feego.org.br exemplares.

São Paulo: USE–SP promove Curso para Holanda: Projeto de apoio aos j0vens
Educadores A Associação Allan Kardec da Holanda anunciou para
Nos dias 4, 11 e 25 de março e 1o e 8 de abril, das 14 o primeiro trimestre de 2006 o início de um projeto
às 18 horas, acontece o Curso para Preparação de que visa ajudar na redução dos problemas sociais que
Educadores da Infância Espírita, anualmente realiza- envolvem jovens. A idéia é difundir os conceitos filo-
do pelo Departamento de Infância e Juventude da sóficos do Espiritismo junto a esse público, através de
União das Sociedades Espíritas do Estado de São um programa especialmente elaborado pelo Depar-
Paulo. O curso, que tem como meta preparar e reci- tamento Infanto-Juvenil da Instituição. Informações
clar trabalhadores para a tarefa da educação da infân- na página www.nrsp.nl ou pelo e-mail info@nrsp.nl
cia na Casa Espírita, vai ocorrer na Rua Dr. Gabriel (SEI, 7/1/06.)
Piza, 444, Santana, São Paulo (SP). As vagas são limi-
tadas e as inscrições podem ser feitas pelo e-mail Escola On-line
use@use-sp.com.br ou pelo telefone (11) 6954-6550. A Fundação Espírita André Luiz, de São Paulo (SP),
criou a Escola On-line – Centro de Estudos Espíritas
Equador: Capacitação de Dirigentes On-line (CEESPI). O objetivo é a utilização de tec-
Promovido pela Federação Espírita do Equador, com nologia para divulgar o Espiritismo. Trata-se de curso
apoio do Conselho Espírita Internacional e da Fede- a distância, com caráter presencial, e conta com um
ração Espírita Brasileira, realizou-se em Guayaquil, acompanhamento constante por parte dos facilita-
nos dias 14 e 15 de janeiro passado, o Seminário Ca- dores. O curso prevê três aulas semanais, num total de
pacitação Administrativa de Dirigentes e Colabora- 30 aulas em 10 semanas. Matrículas abertas no site
dores Espíritas, coordenado pelo Diretor da FEB www.feal.com.br/ceespi
Antonio Cesar Perri de Carvalho, com a colaboração
de Marco Leite, também da FEB. Participaram cerca Espanha: Congresso Espírita
de 80 dirigentes e colaboradores de instituições espíri- A Federação Espírita Espanhola realizou, de 4 a 6 de
tas equatorianas. dezembro de 2005, o XIII Congresso Espírita Nacio-
nal. Entre outros conferencistas, estiveram presentes
Pará: Encontro de Mocidades e Feira do no evento o tribuno brasileiro Divaldo Pereira Franco
Livro Espírita e Maria da Graça Ender, do Panamá, Vice-Presidente
A União Espírita Paraense promoveu, de 25 a 28 de da Associação Médico-Espírita Internacional. O
fevereiro, o XXVIII Encontro Intensivo de Mocidades Congresso contou com mais de 250 inscritos e cerca
Espíritas do Pará (EIMEP), cujo tema foi Espiritismo e de 300 assistentes.

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