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Ano B - São Marcos: Página
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– Identificar a nossa vontade com a de Deus. Como é que Ele nos manifesta a sua vontade.
Vontade de Deus e santidade.
– Outros modos de a vontade de Deus se manifestar na nossa vida: a obediência. Imitar Jesus no
seu ardente desejo de cumprir a vontade de seu Pai-Deus. Humildade.
I. A VIDA DE UMA PESSOA pode edificar-se sobre alicerces muito diferentes: sobre rocha,
sobre barro, sobre fumaça, sobre ar... O cristão só tem um alicerce firme em que se apoiar com
segurança: o Senhor é a rocha permanente1.
O Evangelho da Missa2 fala-nos de duas casas. Numa delas, houve talvez a intenção de
economizar nos alicerces, ou pode ter havido pressa em terminá-los. Não se pôs o devido
cuidado. O Senhor chama homem louco a quem edificou dessa maneira. As duas casas ficaram
prontas e pareciam iguais, mas tinham alicerces muito diferentes: uma delas estava apoiada sobre
pedra firme, a outra não. Passou algum tempo e chegaram as dificuldades que haveriam de pôr à
prova a solidez da construção. Certo dia, desabou um temporal: Caiu a chuva, transbordaram os
rios e sopraram os ventos contra aquela casa. Foi o momento da prova. Uma das casas manteve-
se firme na sua estrutura; a outra ruiu estrepitosamente e o desastre foi completo.
A nossa vida só pode ser edificada sobre Cristo, nossa única esperança, nosso único alicerce.
E isto quer dizer, em primeiro lugar, que devemos procurar identificar a nossa vontade com a
dEle. A nossa adesão não há de ser prestada a uma figura esbatida de Cristo, mas ao seu querer
e à sua Pessoa. Nem todo aquele que diz Senhor, Senhor, entrará no Reino dos céus, mas
aquele que cumpre a vontade de meu Pai que está nos céus, lemos no Evangelho da Missa de
hoje.
A vontade de Deus é a bússola que nos indica em cada instante o caminho que nos leva até
Ele; é, ao mesmo tempo, a trilha da nossa felicidade. Que grande alegria há de ser a nossa, se
pudermos dizer no final dos nossos dias: procurei sempre conhecer e seguir em tudo a vontade de
Deus! Não nos hão de alegrar tanto os êxitos que tivermos obtido, nem nos hão de importar
excessivamente os fracassos e os sofrimentos que tivermos experimentado. O que nos haverá de
importar, e muito, será ver se correspondemos ao querer de Deus sobre a nossa vida, esse querer
que umas vezes se manifestou em termos gerais e outras de modo muito concreto. Sempre com a
suficiente clareza, se não fomos cegando a luz da alma que é a consciência.
Quem não for humilde rejeitará abertamente as indicações que lhe forem dadas ou as aceitará
externamente, mas sem lhes reservar um espaço real no seu coração, porque as submeterá à
discussão crítica e a limitações, e perderá o sentido sobrenatural próprio da obediência.
“Estejamos precavidos, portanto, visto que a nossa tendência para o egoísmo não morre, e a
tentação pode insinuar-se de muitas maneiras. Deus exige que, ao obedecer, ponhamos em
movimento a fé, porque a sua vontade não se manifesta com aparato ruidoso. Às vezes, o Senhor
sugere o seu querer como que em voz baixa, lá no fundo da consciência; e é necessário
escutarmos atentamente, para sabermos distinguir essa voz e ser-lhe fiéis”. Mas “muitas vezes
fala-nos através de outros homens, e pode acontecer que, à vista dos defeitos dessas pessoas,
ou pensando que não estão bem informadas, que talvez não tenham entendido todos os dados do
problema, surja como que um convite para não obedecer”7. No entanto, o nosso desejo humilde
de cumprir a vontade de Deus transporá esse e outros obstáculos que possam apresentar-se à
nossa obediência.
A humildade dá-nos paz e alegria para realizarmos o que foi mandado até nos menores
detalhes. O humilde sente-se alegremente livre ao obedecer. “Quando nos submetemos
humildemente à voz alheia, superamo-nos a nós próprios no coração”8 e vencemos o egoísmo
que nos escraviza.
A obediência é indispensável na ação apostólica. Sem obediência, de nada serviriam os meios
humanos e o nosso esforço; tudo seria inútil diante de Deus. De nada serviria aplicar todas as
energias de uma vida numa obra humana, se não contássemos com o Senhor. Até os aspectos
mais valiosos das nossas obras ficariam sem fruto se prescindíssemos do desejo de cumprir a
vontade de Jesus: “Deus não necessita dos nossos trabalhos, mas da nossa obediência”9.
III. A VONTADE DE DEUS manifesta-se também nas coisas que Ele permite e que não
sucedem como esperávamos ou até são totalmente contrárias ao que desejávamos ou havíamos
pedido com insistência na oração. É esse o momento de intensificarmos a nossa oração e de
fixarmos mais os olhos em Jesus Cristo, especialmente quando os acontecimentos se revestem
de particular dureza e dificuldade: a doença, a morte de um ser querido, a dor dos que mais
amamos...
O Senhor fará com que nos unamos à sua oração: Não se faça como eu quero, Pai, mas como
Tu queres10.Não se faça a minha vontade, mas a tua11. Ele quis compartilhar conosco até
mesmo aquilo que às vezes a dor tem de injusto e de incompreensível. Mas também nos ensinou
a obedecer até à morte, e morte de cruz12.
Se alguma vez tivermos que sofrer muito, as nossas lágrimas não ofenderão a Deus. Mas
deveremos dizer imediatamente: Pai, faça-se a tua vontade. A imagem de Jesus no Horto de
Getsêmani dir-nos-á como proceder nesses momentos: teremos que abraçar a vontade de Deus
sem estabelecer-lhe limites ou condições de nenhum tipo, e agarrar-nos a uma oração
perseverante. E então diremos interiormente na nossa oração pessoal: “Tu o queres, Senhor?...
Eu também o quero!”13 E virá a paz, a serenidade à nossa alma e à nossa volta.
A fé faz-nos ver uma sabedoria superior por trás de cada acontecimento: “Deus sabe mais.
Nós, os homens, compreendemos pouco do seu modo paternal e delicado de nos conduzir até
Ele”14. Há uma providência por trás de cada acontecimento; tudo está ordenado e disposto para
que sirva melhor à salvação de cada um – absolutamente tudo, tanto o que sucede num âmbito
mais geral como o que acontece cada dia no pequeno universo da nossa profissão e família.
Todas as coisas podem e devem ajudar-nos a encontrar o Senhor e, portanto, a encontrar a paz e
a serenidade em nossa alma: Tudo contribui para o bem dos que amam a Deus15.
O cumprimento da vontade de Deus é fonte de serenidade e de paz. Os santos deixaram-nos o
exemplo de uma obediência sem condições à vontade divina. Assim se expressava São João
Crisóstomo: “Em todas as ocasiões eu digo: Senhor, faça-se a tua vontade; não o que quer este
ou aquele, mas o que tu queres que eu faça. Esta é a minha fortaleza, esta é a
minha rocha inamovível, este é o meu báculo seguro”16.
Terminamos a nossa oração pedindo juntamente com a Igreja: Ó Senhor nosso e nosso Deus,
a cujos desígnios se submeteu a Virgem Imaculada, aceitando na Anunciação do anjo que o
vosso Filho se encarnasse no seu seio, Vós que a transformastes por obra do Espírito Santo em
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templo da vossa divindade, concedei-nos, seguindo o seu exemplo, a graça de aceitar os vossos
desígnios com humildade de coração17.
(1) Is 26, 5; Primeira leitura da Missa da quinta-feira da primeira semana do Advento; (2) Mt 7, 21;
24-27; (3) Concílio Vaticano II, Constituição Lumen gentium, 41; (4) Lc 2, 51; (5) Concílio Vaticano
II, Constituição Lumen gentium, 3; (6) Fil 2, 8; (7) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo
que passa, n. 17; (8) São Gregório Magno, Moralia, 35, 14; (9) São João Crisóstomo, Homilias
sobre São Mateus, 56, 5; (10) Mc 14, 36; (11) Lc 22, 42; (12) Fil 2, 8; (13) Bem-aventurado
Josemaría Escrivá, Caminho, 9ª ed., Quadrante, São Paulo, 1999, n. 762; (14) Álvaro del Portillo,
Apresentação de Amigos de Deus, Quadrante, São Paulo, 1979; o grifo é nosso; (15) Rom 8, 28;
(16) São João Crisóstomo, Homilia antes do exílio, 1-3; (17) Coleta da Missa do dia 20 de
dezembro.
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