O Mundo é um Ashram

No hinduísmo, temos a sorte de ter muitas almas realizadas em Deus para nos guiar ao longo
do caminho espiritual. Seus ensinamentos são tão profundos e poderosos que penetram em
nossa consciência normal e nos dão novos insights sobre como viver para maximizar nosso
progresso espiritual.

Nosso paramaguru, Yogaswami, de Jaffna, Sri Lanka, nos deu uma dessas jóias quando disse:
“O mundo é um ashram, um campo de treinamento para a conquista de moksha, liberação”.

A declaração de Yogaswami tem um paralelo na peça de William Shakespeare “As You Like It”.

O mundo é um palco,

E todos os homens e mulheres apenas jogadores:

Eles têm suas saídas e suas entradas;

E um homem em seu tempo desempenha muitos papéis,

Seus atos são sete eras.

Aqui está uma paráfrase das linhas de Shakespeare, adaptada para refletir o significado
espiritual de Yogaswami:

Todo o mundo é um ashram,

E todos os homens e mulheres são almas divinas;

Eles estão amadurecendo espiritualmente através de experiências terrenas,

E uma alma em seu tempo tem muitos nascimentos,

E assim evolui para a unidade com Deus.

Vejamos mais de perto o que significa dizer que todo o mundo é um ashram. Um ashram, é
claro, é a residência e centro de ensino de um swami ou preceptor espiritual. É um lugar onde
vamos aprender sobre nossa religião e fazer progresso espiritual. Quando saímos de casa para
ir ao trabalho, escola ou outro lugar, temos em mente que estamos indo para um ashram, que
nossas ações durante o dia no escritório, fábrica, hospital, sala de aula ou em outro lugar vão
ajudar nos evoluir espiritualmente e nos aproximar de moksha? Provavelmente não. Quando
voltamos para casa e refletimos sobre o dia, sentimos que fizemos progresso espiritual
enquanto estávamos fora de casa? Provavelmente não. Por que é isso? É porque não fomos
treinados para ver a vida dessa maneira. Pensamos no ashram como um local de avanço
espiritual e consideramos o mundo como um local de tarefas mundanas e distrações de nosso
trabalho espiritual. A ideia comum é que o que fazemos no ashram, no santuário doméstico ou
no templo é o que nos traz progresso espiritual, e o que fazemos no escritório ou na sala de
aula nada tem a ver com nossa vida espiritual.
Essa perspectiva comum não é o ponto de vista de grandes almas como Yogaswami. Essas
almas sabem que muito progresso espiritual pode ser feito durante nosso tempo no mundo se
mantivermos a perspectiva correta. Chamo essa abordagem de “espiritualização da vida
diária”. Vamos trazer esse conceito para a Terra dividindo as ocasiões de progresso espiritual
quando estivermos no mundo em duas categorias: enfrentar os desafios da vida e encontrar
oportunidades para servir.

Primeiro, vamos olhar para enfrentar os desafios da vida. A vida virá até você, quer você
queira ou não. Tempos alegres e fáceis, tempos difíceis, dias felizes e tristes - tudo está
chegando. Está tudo aí, no seu carma. Não pode deixar de vir. Então você não precisa sair
procurando. Você não precisa tentar fazer algo diferente. Você não pode evitá-lo. Você não
pode se esconder disso.

Os desafios da vida virão até nós. O que vai acontecer vai acontecer. Mas onde o foco deve
estar, para aqueles que estão no caminho espiritual, é como respondemos a esses desafios.
Por que? Porque é aí que temos uma escolha. Por exemplo, uma criança pequena nos mantém
acordados a noite toda chorando. Como respondemos a isso? Isso nos incomoda? Nós
reclamamos? Ou apenas aceitamos e respondemos com muito amor? Em todas as
experiências da vida, temos controle sobre nossa resposta. Pode ser impulsivo ou pensativo. A
escolha é nossa.

Quando acusados de algo que não fizemos, como reagimos? Quando enfrentamos desafios no
trabalho – digamos que nosso chefe é injusto conosco, grita conosco – qual é a nossa reação?
Queremos gritar de volta, mas não podemos. Então, vamos para casa e gritamos com o
cônjuge? Em todos esses casos, temos escolhas. Não são os desafios que surgem, mas como os
enfrentamos que faz a diferença. Podemos reagir emocionalmente sem pensar em princípios
espirituais. Podemos ficar com raiva ou desanimados. Podemos nos preocupar muito e ficar
irritados.

Ou podemos decidir controlar quaisquer reações emocionais que possamos ter. Podemos
escolher viver sem raiva. Podemos optar por cultivar a paciência. Podemos escolher ser mais
gentis com outras pessoas, ser mais generosos. Isso é o que nos torna espiritualmente mais
fortes. À medida que controlamos nossa natureza instintiva, nossa natureza de alma brilha.

Em outras palavras, se ficarmos com raiva de vez em quando, tentemos eliminá-la

completamente. Se ficarmos impacientes com pessoas que parecem explicar as coisas de
forma extensa quando poderiam ser explicadas de forma curta, vamos aprender a não ficar
impacientes. Aprendamos a aceitar que a verbosidade é a sua natureza.

Aqui está a lista de seis desafios comuns que enfrentamos na vida que nos fornecem boas
oportunidades de progresso espiritual se respondermos de maneira sábia com autocontrole.

Primeiro Desafio: Maus tratos por parte de outros. A vida nos fornece um fluxo constante de
experiências nas quais somos maltratados pelos outros. Em vez de retaliar ou guardar
ressentimento, podemos perdoar e responder com gentileza.

Segundo desafio: nossos próprios erros. Quando cometemos um grande erro, temos a opção
de chafurdar na dúvida e na autodepreciação ou descobrir como não repetir o erro.
Terceiro Desafio: Projetos Difíceis. Quando confrontados com tarefas que ampliam nossas
habilidades, podemos fazer o mínimo apenas para sobreviver ou ser inspirados a fazer o nosso
melhor, olhando para elas como oportunidades para melhorar nossa concentração, força de
vontade e firmeza, o que aumentará nossas habilidades de meditação e interior. esforçando-
se.

Quarto Desafio: Emoções Perturbadas. Quando ficamos chateados com as experiências da

vida, temos a opção de sofrer a agitação emocional ou nos esforçar para sair dela o mais
rápido possível.

Quinto Desafio: Conflitos Interpessoais. Quando ocorrem desentendimentos, brigas ou

discussões sérias, temos a opção de guardar rancor e talvez até mesmo evitar a pessoa ou
resolver o assunto e manter o relacionamento harmonioso.

Sexto desafio: Fofoca e calúnia. Quando as pessoas ao nosso redor se entregam a fofocas,
boatos, calúnias e intrigas, temos a opção de participar ou não e até, entre as pessoas
próximas, deixar claro que não aprovamos.

A segunda categoria de ocasiões para o progresso espiritual no mundo é o que chamo de

encontrar oportunidades para servir. Aqui está uma introdução a este conceito de Living with
Siva de Gurudeva, que ilustra lindamente a ideia de espiritualizar a vida diária por meio do
serviço.

“Vá para o mundo esta semana e deixe sua luz brilhar através de seus
bons pensamentos, mas deixe cada pensamento se manifestar em uma
ação física de fazer algo por outra pessoa. Levante um pouco os fardos
deles e, talvez sem saber, você pode levantar algo que está
sobrecarregando sua mente. Você apaga e limpa o espelho de sua própria
mente ao ajudar o outro. Chamamos isso de karma yoga, a prática
profunda de desanuviar, por meio do serviço, os vasanas egoístas,
egocêntricos e egoístas [inclinações subconscientes] da natureza inferior
que foram gerados por muitas, muitas vidas e que prendem a alma na
escuridão. Por meio do serviço e da gentileza, você pode relaxar a mente
subconsciente e obter uma compreensão clara de todas as leis da vida. Sua
alma brilhará. Você será essa paz. Você irradiará essa felicidade interior e
ficará verdadeiramente seguro, simplesmente praticando ser gentil em
pensamentos, palavras e ações.”
Existem muitas oportunidades para ajudar outras pessoas em casa, no trabalho, na escola, na
vizinhança e na comunidade. Desenvolvemos uma lista de seis práticas simples. Deixe-me
apresentá-los brevemente.

Primeira oportunidade: ver Deus naqueles que cumprimentamos. Ao cumprimentar alguém,

nos esforçamos para olhar com profundidade suficiente para ver Deus, para vê-lo como um ser
divino evoluindo através da experiência para a unidade com Deus. Nossa atitude é então
naturalmente prestativa e benevolente.

Segunda oportunidade: Voluntariado. Todos os dias, há muitas oportunidades de dar um passo

à frente e oferecer ajuda de maneiras que vão além do que é exigido de nós. Uma atitude de
serviço humilde diminui o ego e fortalece nossa identidade espiritual. Uma atitude espiritual
importante a ser mantida é estar disposto a ajudar quando solicitado, não resistir ou recusar,
estar tão aberto a ajudar os outros quanto a fazer as coisas por si mesmo.

Terceira oportunidade: Expressar apreço. Podemos elevar e encorajar os outros expressando

sinceramente o quanto somos gratos por sua ajuda, amizade e importância em nossa vida.

Quarta oportunidade: ajudar os recém-chegados. Em nosso mundo moderno, as pessoas se

movimentam muito. Assim, há um fluxo constante de recém-chegados no trabalho, na escola,
em nossa vizinhança e em nosso templo. Dar um passo à frente para recebê-los e orientá-los
em seu novo ambiente é uma excelente maneira de prestar serviço.

Quinta Oportunidade: Oferecer Hospitalidade. Todos podem encontrar maneiras criativas de

serem hospitaleiros em casa, na escola e até no trabalho.

Sexta oportunidade: fazer comentários encorajadores e elogiosos. Faça questão de dizer algo
encorajador e elogioso para todos que encontrar. O dia deles será mais brilhante por causa
disso, e o seu também.

Em conclusão, ter um ótimo dia precisa significar mais do que ganhar um bônus no trabalho ou
um A em um teste escolar. Deve incluir o progresso espiritual que você fez naquele dia ao
enfrentar com eficácia os desafios da vida e as maneiras pelas quais você ajudou e elevou
outras pessoas. Nossa lista de doze práticas é um bom começo, mas esperamos que você
continue a expandi-la à medida que insights adicionais surgirem de seu esforço para maximizar
o progresso espiritual que você pode fazer a partir das experiências e oportunidades que cada
dia traz. Além disso, os pais podem ensinar os filhos a se empenhar conscientemente pelo
progresso espiritual todos os dias na escola, enfrentando os desafios da vida e encontrando
oportunidades de servir.