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Individuo, razdo e moral: uma anéalise comparativa de Habermas e Durkheim Raquel Andrade Weiss Resumo ‘Meu objetivo neste artigo ¢ analisar de forma comparada a nogio de indivi concebida por Emile Durkheim e Jiirgen Habermas. Ambos entendem o indi ‘como um ser moral, contudo, conforme procurarei evidenciar, hi diferengas substanti- vas no cntendimento do que seja a moral enquanto um proceso de formagio social desse individuo. Tais diferengas serio exploradas especialmente em trés aspectos, quais scjam: 1) a relagio entre individuo € moral; 2) a idéia de raaio; 3) a idéia de liberdade ou autonomia, Palavras-Chave: Emile Durkheim, Jiirgen Habermas, Moral, Individuo, Razio e Li- berdade Abstract ‘The main objective of this work is to processa comparative analysis of the individual's conception developed by Emile Durkhcim and Jurgen Habermas. Both authors understand individual as a moral being, bur as ['ll try ro put in evidence there are substantive differences in their understanding about the moral could be in the individuals social consteuction process. That differences will be exploited especially in three aspects: (1) the individual/moral relation, (2) the idea about the reason and (3) + the concept about moral freedom or autonomy. Keywords; Emile Durkheim, Jiirgen Habermas, Moral, Individual, Reason and Moral Freedom (Mestre em Sociologia, Universidade de Sio Paulo) #2005 m 105 106 m plural 120 1, INTRODUGAO A discussio da nocio de individuo esté presente, embora no com esta designagao, na cradigao filosdfica desde Aristételes e Platio, Na verdade, até mesmo Sécrates jé manifesta- va preocupacio em conhecer a natureza do ser humano enquanto uma totalidade fisica € spiritual, tanto que Horkheimer (1976) se refere a ele como o “arauto das idéias individu- alistas”; ou seja, um formulador da concepgio do homem como um ser “uno”, “nao-dividi- do”, Entretanto, a0 longo da histéria do pensamento ocidental, ocorreram desdobramen- tos a partir da reflexdo ¢ do debate em tome dessa concepeao que acabaram redundando em reformulacdes de seus significados ontoldgicos ¢ fenomenoligicos. Desse modo, os fundamentos que petmeiam a noge que atualmente temos acetca do conceito de indivi- duo jf nao coincide com a nocio grega, dai ndo ser posstvel falar em individuos gregos. ‘A concepgao moderna de individuo surgiu no scio da Filosofia Liberal e im- pregnou-se de nogées correlatas, tais como liberdade e igualdade, e vinculou-se de forma estreita ¢ otimista A redescoberta da Rezo, enquanco instrumento de transfor- magio ¢ de aperfeigoamento do mundo. Foi nesse momento que a Sociologia, ainda em processo de formulagio teérica e de institucionalizagao académica, tomou para sia tarefa de investigar, de manciza positiva, 0 fendmeno da moral e seus efeitos sobre os individuos. O individuo, assim, passou a ser considerado como um ator moral concre- to, submetido nio a valores universais, mas sim a valores objetivos de dada sociedade especifica. Certamente, Emile Durkheim foi um dos inteleccuais que contribuiu de forma mais intensa e sistemética para consolidar essa nova abordagem do individuo, afinal, foi o pioneio na construcio desse problema com contornos sociolégicos. Contemporaneamente, Jurgen Habermas procurow retomar o problema social da determinagio moral e racional do individuo, partindo de uma releitura critica de Du- rkheim e estabelecendo um didlogo com esse autor de forma direta (cf. HABERMAS, 1987, 1989a, 1989b) ¢ indireta (cf. HanerMas, 1983). Na verdade, defendo que ha pontos de divergéncia e de convergéncia entre esses autores, mas, ainda que exista uma tensio expressa nia oposicio de suas propostas, hd em comum a valorizagio da reflexdo acerca da clissica triade tanto filoséfica quanto sociolégica, qual seja, individuo/razio! liberdade; evidenciando a relevancia de sua discussio. Diante dessas consideragées, meu objetivo neste texto ¢ analisar comparativamente a concepgio de individuo, tal como esta aparece formulada em alguns textos fundamen- tais de Durkheim ¢ Habermas! . Paralelamente, minha intengio € ressaltar a importincia dos conceitos de razio e moral na diferenciagio que cada um dlestes autores apresenta a "Tniciaimente, interessante notar que, embora tanco Durkheim como Habermas tenham sido noto- riamence influcnciados pela Filosofia de Immanuel Kant, as idéias desses aucores acerca do individuo, como ser moral, divergem substancialmente da perspectiva kantiana, Para Kant (1986, 2002}, viduo és prior, um ser predisposto & moralidade, uma vez que, a0lado da dimensto sensivel, existe no individuo, enquanto sujeito transcendental, a dimensio racional, que se manifesta 4 sua consciéncia ‘com a forma do imperativo categérica. Durkheim e Habermas, por outro lado, sustentam que o indi- viduo se torna um ser moral em consequacia de um processo de socializagSo, de modo que a.ac30 moral nio depende de uma ki interna, constitutiva do sujcto. Para ambos, é Somente na comunidad, 4 seja, na interagio intersubjetiva, que o individuo pode se tornae wm ser mora. respeito do que seja ontoldgica, tedrica e sociologicamente 0 ator moderno dos dramas sociais: 0 individuo. Assim, procuro mostrar que tanto Durkheim quanto Habermas, con- cebem 0 individuo como um ser social, ou seja, que este inexiste de maneira independence da sociedade, ¢ que este, portanto, deve constituir-se enquanto um ser moral. Desse modo, a exposigio esté estruturada da seguinte maneira: na segio seguince, discuto de forma sucinta os significados que envolvem a nogao de individuo no con- texto moderno, ressalcando que a propria palavra é moderna e que surgiu como a sintese de idéias ¢ ideais filoséficos antigos e modernos. Na terceira seco, discuro como a nogio de individuo estd presente-no pensamento de Emile Durkheim, do ponto de vista tedrico-positivo ¢ do ponto de vista normativo. Discuto também como Durkheim percebe o individuo enquanto objeto ¢ sujeito da morale qual o papel da razo no processo de autonomizagio do individuo A quarta segio seré dedicada & analise de como Jiirgen Habermas constréi teérica e normativamente a nogdo de individuo, partindo da sua proposigao de sujeito moral. Procurarei mostrar como a sua nosdo de individuo € tributéria de sua concepgio de razio comunicativa e de sua proposta de constituigéo de uma sociedade fundada eticamente pela ago comunicacional.” Conforme procurarei argumentar, isso ocorre na medida em que, para Habermas, a personalidade moral s6 € possivel pela participagao do individuo nas interagdes sim- bélicas da linguagem. Tal participagio desempenha importante papel socializador, na medida em que tem como fim tornar 0 individuo apto a participar dos processos deliberativos. Finalmente, na conclusio, apresento um balango comparativo dessas duas teorias, procurando estabelecer as semelhangas ¢ as diferengas entre ambas, no que se refere ao modo pelo qual cada uma constréi uma visdo particular acerca do que €0 individuo enquanto ser moral 2. O INDIVIDUO NO PENSAMENTO LIBERAL CLASSICO Embora de maneira demasiado simplificada, é possivel afirmar que aquilo que ca- racteriza a nogio moderna de individuo é a prépria dimenséo de universalidace impl cada nesse conceito. Antes, essa expressio era utilizada apenas para designar um ser “nao-dividido”; na acepgao moderna, “individuo” aparece como um conceito cartega- do de significados (cf. HeLter, 1982; Beck & BECK-GERNSHEIM, 2002; Lukes, 1975). E um termo utilizado para designar a esséncia dos homens de todos 0s tempos ¢ de todos os lugares, concebidos enquanto seres que nascem livres, com dircito posse do préprio corpo ¢ dos bens materiais obtidos com trabalho justo ¢ honesto e, sobretudo, so seres que se caracterizam por serem dotados de razio. Por possuirem todos os homens essas mesmas caracteristicas, ¢ dado, pois, que eles sfo iguais, possucm uma mesma nacureza humana e por isso devem se tratar ¢ serem tratados como uma tinica raga, a raga humana. Embora a filosofia liberal reconhecesse que até entao os homens nao haviam sido cratados como iguais ¢ que nao haviam sido todos livres, o seu objetivo era disseminar essas idéias para edificar uma sociedade fundada sobre esses valores. 92005 m 107 108 w plural 12m De fato, sao esses os valores que constituem o alicerce da modernidade, enquanto novo perfodo que surgiu na histéria do mundo ocidental como a aurora que prometia trazer a luz apés séculos de trevas. Uma nova ordem se instala: um novo modo de produgdo, novas relagées sociais, os Estados modernos constituem-se, a arte transfor- ma-se, 2 religiio passa a ser questionada ¢ a razio é clevada como a nova fonte dos valores, como o maior dentre todos os valores. Porém, entre 0 perfodo em que os revoluciondrios franceses carregavam a bandeira da “Liberté, Egalite, Fraternité” ¢ 0s dias de hoje, a histéria deu muitas voltas, abalando aquelas conviec6es tdo sélidas sobre as quais foi constituida essa sociedade. A razio, antes considerada a chave para a emancipagio humana, passou a ser questionada, ¢, por conseqiiéncia, a propria idéia de individuo deixou de ser pura ¢ cristalina, tornan- do-se uma imagem turva, dificil de ser definida Conforme procuro discutir aqui, as transformagées em torno das concepgoes de ra240 e individuo podem ser apreendidas a partir da obra de pensadores de diferentes periodos que buscaram compreender ¢ interpretar © momento histérico em que vive- ram, Neste texto, sio analisados dois momentos distintos da modernidade, aqui repre- sentados pelos pensamentos de Emile Durkheim ¢ Jiirgen Habermas. O primeiro vi yeu em um momento em que todas as idéias eram ainda promessas a serem realizadas a razio era, ainda, a grande esperanga para a realizagio dessas promessas. O segundo, nosso contemporineo, edifica sua obra em um terreno histérico bastante distinto, em que os antigos valores passam a ser questionados em fungio de acontecimentos graves que levaram a uma descrenga no potencial emancipatério da raza? ¢ na validade da proposicéo do individuo genérico enquanto atributo vilido para todos os homens, que constituia a idéia que validava o principio do direito positivo ¢ do Estado moderno. Enfim, a Razao que fundamentava a concepgio do homem enquanto individuo teve seu alvorecer durante o século XVII, brilhou com forte intensidade entre os sécu- los XVIII ¢ XIX, ¢, na primeira metade do século XX, teve anunciado seu creptisculo. A pattir de entio, tudo 0 que é permitido esperar é 0 surgimento de um outro dia, com tum outro sol. Em certa medida, a proposta de Habermas vai nessa direc3o, uma vex que accita parte das criticas radicais 2 Raz4o, mas, a0 mesmo tempo, postula a existén- cia de uma “razdo ampliada”, que revela sua dimensio comunicativa, Tratam-se, pois, de diferentes momentos desse periodo a que chamamos “modernidade” e, conforme procurarei discutir a seguir, as peculiaridades desses momentos deixaram marcas inten- sas na obra dos autores aqui analisados; marcas essas que podem ser vishumbradas na forma com que cada um concebe o individuo como ser moral e racional. 3. A NOGAO DE INDIVIDUO NA TEORIA DE EMILE DURKHEIM E muito difundida a idéia de que o individuo no ocupa qualquer lugar de importincia ‘no pensamento ou na teoria durkheimiana, Isso, porém, nfo passa de uma visio meramen- te epidérmica, conforme procurarei discutit neste t6pico. Na verdade, embora na reoria ¢ ? Para uma sintese de perspectivas criticas & RazSo, vera analise de Habermas (2001). nas investigagbes de Durkheim o individuo nao seja a unidade de anilise privilegiada por sua metodologia, esse autor reservou a0 individuo um espago de enorme relevancia O fato da idéia de 0 individuo nao estar presente na metodologia proposta por Durkheim pode ser explicado por duas razées. A primeira é a sua adesio 20 positivismo comteano, cuja proposta era o estudo cientifico da realidade social e ao neo-criticismo de Charles Renouvier. Na verdade, a adesfo ao positivisme aconteceu de mancira quase obri- gatéria, pois essa era a principal alternativa possivel para uma abordagem nio-filoséfica da sociedade. No caso de Renouvieur, destaca-se a tese desse autor de que o fundamento tiltimo da conduta moral individual sio as regras resultantes da especificidade das intera- ses sociais, que tém lugar nas diversas formas de comunidade humanas (Cf. HAMELIN, 1927; MuccHigiu, 1998). Considerando que a preocupagio central de Durkheim consis. tia em viabilizar um estudo cientifico das coisas humanas (Cf. DuKHEiM, 1999, 1994b, 1994c, 194d, 2003) que Fugisse das especulagées filosdficas, foi natural sua simpacia pelas propostas desses autores, embora ambos tenham permanecido ainda no dominio filoséfico. Uma segunda justificativa para o fato de que nogio de individuo nao encontrar lugar privilegiado na proposta metodolégica de Durkheim é dada pelo reconhecido esforgo do autor em delimitar a sociedade como objeco especffico da Sociologia, que em confronto com a Psicologia, deverin cuidar de entender dos individuos (Cf. DURKHEIM, 1994, 2000). Foi exatamente com 0 intuito de precisar com clareza o objeto da Sociologia e justificar sua necessidade enquanto ciéncia auténoma, que Durkheim insistiu reiteradamente que s80 08 fatos sociais, ¢ no os individuos, o objeto dessa nova disciplina, 0 que o levou a negar os individuos enquanto entidades explicativas dos fendmenos soc Entretanto, em grande parte de sua obra a nosio de individuo aparece de maneira bastante clara € ocupa lugar central em suas discussées acerca da moral, seja quando procura defini-la, ou quando esté preocupado em ensiné-la. Afirmo a importancia do individuo em sua teoria acerca da moral porque, a despeito de defini-la como sistema de regras que visam ordenar a sociedade e garantit 0s lagos de solidariedade, e embora a fonte desta moral seja social, e portanto externa a nés, segundo Durkheim, é aos individuos que ela sempre se refere. Em uma conferéncia pronunciada aos alunos da Ecole Normale de Auteuil, faturos professores das escolas primdrias, Durkheim afie- mou o seguinte a respeito da sociedade: Elle n'est pas tous entitre en debors de nous: elle ext aussi en nous, Elle nest vraiment reélle et vivante que dans les consciensces particulitres. Elle est en nons et elle et en dehors de nous, Elle est la meilleure partie de nous-mémes. Tout ce quil y a en nous de vraiment bumain nous viene dela socide, out ce qui constitue nos consciences d'bommes rots vient delle (Durkuets, 1992: 619) Assim, € possivel entender que, na teoria durkheimiana, a moral ¢ algo presente nos individuos, e, a0 mesmo tempo, é responsdvel por sua parte mais sublime ‘. Eo que > "Ela nfo esté inteizsmente fora de née: cla ests também em nés. Ela nfo é verdadeiramente real viva senfo nas conscigncias particulares. Ela esté em nds e fora de nés. Ela éa melhor parte de nés mesmos. ‘Tudo aquilo que existe em nés de verdadeiramente humano provém da sociedade, ido aquilo que constitu! nossas consciéncins enquanto homens pravém dela” (traducio livre) ‘Pata uma discussio mais decida a respeito da telagio entee a dimensio social € « dimensio social do = 2005 m 109 110m plural 12m constitui aquilo de verdadeiramente humano, dada a idéia de Durkheim de que © homem sé existe porque vive em sociedade, uma vez que é a sociedade que garante 0 acémulo de conhecimento, a sofisticacéo e a multiplicidade dos préprios sentimentos € a permanéncia de certos valores e de certas idéias sobre 0 proprio homem. Portanto, a moral cambém ¢ um bem desejado, é algo que existe nio s6 com a intengao de anular impulsos e instintos em nome da reprodusio da sociedade, mas também existe para os individuos, para formé-los enquanto homens*. Dessa maneira, 0 individuo € concebido enquanto objeto da moral, posto que @ moral age sobre ele, conformando suas ages, seus sentimentos, sua personalidade. Entretanto, defendo aqui que, embora isto nao seja formulado de maneira explicica na teoria de Durkheim, o individuo pode ser também sujeito da moral, a0 passo que pelo uso da razio Ihe é dado agir sobre a moral, refletindo sobre ela e propondo mudancas. © argumento que defendo é, pois, que o individuo aparece na teoria de Durkheim como uma dualidade, na medida em que ¢ considerado objeto e sujeito da moral. Durante virios anos, Durkheim ministrou um curso chamado “Educagio Moral”, cujo contetido das aulas foi publicado postumamente em um livro com esse mesmo nome, Para esse curso, o autor formulou uma reflexio sobre o que é @ moral, em geval, ¢ propés que esta fosse decomposta em trés elementos, que corresponderiam também aos trés mo- mentos do processo de internalizacio da moral. Com base, especialmente, nesse texto (DurkHeim: 2001), defendo aqui a idéia de que, com essa concepgio acerca da moral, Durkheim abrit a possibilidade do individuo constituir-se também como um sujeito da moral, desde que seja possivel atingir 0 terceiro estégio da moral, que € 0 escigio em que a moral é caracterizada pelo “espirito de autonomia’, Para que tal idéia seja vislumbrada com maior nitider, é necessétio comegar por apresentar, de maneira bastante resumida, quais siio esses trés elementos da moralidade, tal como propostos por Durkheim. Para o autor de A Educagito Moral, a primeira caracteristica de todas as agées morais & aque clas se assemelham a regras preestabelecidas, porque o dominio da moral é.0 dominio do dever. Na primeira definicio formal que Durkheim (2001:97) apresentou sobre a mo- ral, ele afirmout que “a moral é um sistema de regras de ago que predeterminam a condu- ta’, De acordo com sua perspectiva, o que hi em comum em todas essas regs € 0 Faro de que elas exercem certa ago coerciva, que delimita a a¢zo humana. Diante dessa constata- Gio, afirmou que essa delimitagio da agio corresponde a uma necessidade essencial da regra, sendo esta uma de suas fungées constitutivas. Portanto, a moral impée regularidade 4 agéo, sendo a primeira caracteristica da moral, enquanto regra, analisada por Durkheim. ‘Uma outra dimensio constitutiva da moral, incimamente relacionada com a regu- laridade, € a nosao de autoridade. Segundo a definigio de Durkheim (2001:101), 2 hhomem, ver especialmente o artigo de Durkheim (1970), A Dualidade da Narurera Humana, em que 0 aucor afirma que existe uma inevitéve relagio de complementaridade entre essas duas dimensdes. 5 Quanto a iss, ¢ importante destacar que Durkheim entedia a moral nfo apenas como umm dever; como supunha Kant, mas também como um bem, iso é, como algo passivel de ser desejrdo pelo homer, Essa tse de Dutleheim é particularmence importante, uma ver que, na esteira da teoria de Schopenhauer (Cf. Mestrovic, 19952, 1995b), Durkheim (1975) aficmaya, contra Kant, que ni ¢ passive! etsmpouco dlescjvel que & regen moral fosse algo destinado a anular a natureza sensivel do homem. regra é um imperativo que se impde as nossas agdes, ¢ como todo imperative que ¢ ordenado excernamente, supée uma autoridade que a ordene e faca com que seja obe- decida. Por isso, na concepgio durkheimiana, a egra, além da nogio de regularidade, implica também a de autoridade, Em termos conceituais, Durkheim (2001: 101) afir- mou que “por autoridade teremos de entender o ascendente que sobre nds exerce qual- quer poder moral que nos seja reconhecidamente superior”. Nas regras propriamente morais, a autoridade exerce um papel ainda mais preponderante, pois, nesse caso, sur- ge sempre como algo incontestdvel, que se deve obedecer mesmo que, no principio, nao se conhegam as suas razdes. Regularidade e autoridade constituem o primeiro elemento da moralidade, que constitui 0 espirito de disciplina. Esse espirito consiste na primeira disposigao a ser estabelecida na crianga para que ela se torne um ser capaz de agir moralmente. Para o autor, a disciplina moral possui em si um valor social, independentemente daquilo que prescreve, pois, segundo ele, a prdpria vida social supde regularidade. Deve-se observar aqui, que toda essa discussio sobre a disciplina se insere numa perspectiva filosdfica clissica que atribui grande importéncia ao dominio de si préptio como uma condigéo para a liberdade. Por isso, nosso autor no pensa liberdade ou auto- nomia como a possibilidade de fazer tudo o que se deseja, mas em rermos da possibilida- de de controlar os prdprios desejos, Contudo, se para ele a disciplina é um elemento tao importante da moralidade, ressalta também que uma disciplina moralmente boa nao poderia se sobrepor a critica e & reflexdo, deixando espaco para que a moral possa se transformar, na medida em que isso for se cornando necessario. Sobre isso, Durkheim (2001:121) escreveu que “€ preciso que as regras morais se encontrem investidas de autoridade, sem a qual elas seriam ineficazes, mas, a partir de um determinado momento da histéria, tal autoridade nao deve subtral-las a discussiio; nio se deve fazer delas {dolos para os quais o homem nfo ouse, por assim dizer, erguer os olhos”. Depois de discutir 0 espirito de disciplina, Durkheim introduz 0 que chama de espirite de adesto ao grupo, que diz respeito & aceitacao da regra estabelecida. Pela insergio no grupo, a moral deixa de set apenas um devere passa a ser também um bem, pois, a vida em sociedade ¢ condigao da felicidade do individuo. Conforme afirmei anteriormente, 0 dominio da vida motal coincide com o da vida social. Portanto, a ago moral supde que 9 individuo aja de acordo com as regras da sociedade. Por outro lado, para que a adesio a sociedade seja de faro moral, € preciso que o individuo o faga pela propria sociedade c nfo apenas como um meio para satisfazer a si proprio. Assim, surge um paradoxo: nés devemos amar a moral, mas a moral supde a abnegagao de nossos interesses. Como solugao desse paradoxo, Durkheim afirmou que, na verdade, aderir & socie- dade nao implica negar os proprios interesses, na medida em que o desenvolvimento da sociedade nao significa a anulagio do individuo. Ao contrério, 0 individuo sé se tealiza como ser humano se adere & sociedade. Da mesma forma que a auséncia de disciplina, também a auséncia de adesio & sociedade seria, para Durkheim, causa de infelicidade. Para o autor, o egolsine faria o homem sentir-se fraco, perdido, pois, na verdade, ele seria, em sua maior parte, um produto da sociedade. m2005a 111 112m plural 120 Assim, a adesio ao grupo também encontra uma justificativa racional, na medida em que é algo que realiza a prépria natureza humana; é 0 “dever por exceléncia” cujo objetivo deveria ser aquele de promover a realizagao do préprio homem, enquanto ser social. Portanto, para o autor, uma pessoa, além de um ente capaz de auro-controlc, seria também um sistema de idéias, de sentimentos, ou seja, uma consciéncia que possui contetido; 0 contetido acumulado, resultado de anos de conhecimento e de experiéncia, nos é dado pela sociedade. Finalmente, Durkheim apresentou 0 espirita de autonomia, definido como a atitu- de do individuo que aceita a regra porque a reconhece racionalmente estabelecida. Segundo o autor, esse espitito, que seria o grande diferencial de sua proposta educaci onal, deveria ser formado no individuo para que tomasse consciéncia dos pressupostos racionais da moral, para que assim, pudesse conhecer sua natureza e suas Fungées, € com isso, tornar-se capaz de transformar o préprio contetido da moral. Em principio, 2 autonomia da vontade é algo que parece estar em contradigéo com © outro aspecto constitutive da moral, que € a autoridade da regra. Mas, na teoria durlheimiana, auronomia nio quer dizer a possibilidade agir de acordo con: tudo 0 que «© desejo nos incita a fazer, mas € uma liberdade de agio num sentido bastante especifico. Dessa forma, “querer livremente nao é querer o absurdo; pelo contririo, é querer o que é racional, que o mesmo ¢ dizer, € querer agir em conformidade com a nanureza das coisas” (DurkHeIM, 2001: 176). Essa é, pois, a primeira idéia importante a ser considerada sobre a sua concepgio de autonomia da vontade: uma vontade autSnoma ¢ uma vontade sacional, é 0 desejo do possivel, daquilo que a razio considera como sendo 0 bem* Dessa forma, assim como uma agio aurénoma com relagio 20 mundo fisico supée que se conhecam as leis desse mundo, no que se refere & moral, uma acdo auténoma seria aquela que considerasse a natureza da moral, para que se pudesse aderir a ela de forma espontinea ¢ consciente, ou contribuir para que a moral existente encontrasse sua “normalidade”, caso fosse reconhecido que ela esté contrariando sua prépria razio de ser. Esse seria, segundo 0 autor, o tinico modo de nos tornarmos senhores de nés mesmos, pois, dado que nao € possivel nos livrarmos das forcas que agem sobre nés, deveriamos cuidar de tomar consciéncia dessas forsas. Para justificar a necessidade de formar nas criangas esse espirito de autonomia, o autor afirmou que, num mundo que se pretende racional, ja nao bastaria obedecer, mas seria preciso que a moral fosse entendida, para que, entio, pudesse ser espontaneamente aceita Analisando esses argumentos de Durkheim, é possivel afirmar que, nos dois pri- meiros elementos, a moral apresenta-se a0 individuo de mancira émpositiva, ou seja, slo elementos externos que agem sobre ele, que, nesse caso, néo é mais do que um objeto da moral. Segundo Durkheim, tal formulagio se deve a observagio de faros histéricos, ou seja, ele atesta a existéncia desses dois elementos da moral com base na “Na verdade, ¢ importante consideraro fato de que tal concepcio de autonomia esté em consonincia com o espitito mais progressista daquela época (1982). Portanto, é possivel afiemar que as interpreta- Bes que sublinham o caréter conservador da pedagogia durkheimiana, como & 0 c3s0 da andlse de Adora (1966), Freitag (2002) ¢ Fernandes (1994), incorrem em certo anacronismo, 20 julgar a obra do autor de acordo com critérios contemporineos quanto 20 que deve ser considerado como liberdade. observagio € na andlise do real; nao se refere 4 especificidade do conteido da moral, que € tao variado quanto 0 sfo as sociedades, mas, refere-se & sua estrutura, ao modo pelo qual o contetido especifico se manifesta. Durante muito tempo, a moral teria sido vinculada & religido e até confundida com esta (cf. DURKHEIM, 2002b). Em todas as religiGes, fossem clas religides cribais, fossem as grandes religides monoteistas, a moral teria feito com que o individuo tivesse respeite € obediéncia pelo ser que prescrevia ou que ensinava a regea moral, assim como também teria tido por efcito despertar o sentimento de coletividade e pertenga ao grupo. Em suma, com base em uma andlise positiua da realidade moral, Durkheim afirmou que os individuos teriam sido forjados, moldados, pela moral, ¢ nesse sentido & que setiam seus objeros. No terceiro elemento, o individio deixaria de ser determinado pela moral, e passaria a ter condigdes de agir sobre ela desde que tivesse sido capacitado, por meio da prépria educagéo moral a usar a razio; a relagio entre moral ¢ individuo tornar-se-ia, pois, uma relagio em via de mio dupla. Assim, o individuo poderia refletir sobre a importancia da regra, sobre sua validade enquanto meio que garante a existéncia da sociedade e, se fosse 0 caso, seria capaz de influenciar sobre a moral de sua sociedade, mediante questionamento da validade da regra c da proposigio de mudangas na moral formal, qual seja, a moral objetivada na forma da lei, Nesse caso, 0 individuo poderia tomar-se sujeito da moral. Entretanto, reconhecer a existéncia da moral nfo significaria passar a agit de ma- neira a ignorar a regra, mas agir conhecendo as raz6es de sua existéncia. Como afirma David Riesman (1995), em clara aproximagio com 0 pensamento de Durkheim, um individuo aurénomo seria diferente de um individuo andmico, posto que, enquanto o primeiro poderia agir de maneira diferente da média, caso julgasse isso possivel e ade- quado, o segundo contrariaria a regra justamente por néo conhecé-la ou por néo con- seguir ajustar-se a ela. Mesmo quando o individuo auténomo agisse exatamente con- forme a regra, ele, segundo Riesmann, diferenciar-se-ia dos individuos no au:énomos ou'ajustados” por ter a consciéncia de que o faz, porque sua conformidade seria fruto de escolha, ¢ nao de simples imposigao. Ao falar do espirito de autonomia, porém, Durkheim deixa 0 campo da positivida- dec adentra no campo da normacividade, posto que a auronomia s6 seria possivel em uma moral nio religiosa, ou seja, em uma moral leiga, na medida em que 2 autonomia suporia que o individuo pudesse usar a razio, ¢ que fosse capaz de reconhecer a origem social, ¢ nao divina, de toda regra estabelecida, Esse era exatamente o cerne da propos- ta normativa de Durkheim, que defendia o ensino de uma moral laica, sobretudo nas escolas primérias. Assim, 0 autor permaneceu no campo da positividade somente quando se referiu aos dois primeiros elementos da moral, ao falar do individuo enquanto obje- to moral; isso porque, a moral que pdde observar foi somente aquela religiosa, qué se restringia a estes dois elementos. ‘Ao tratar da autonomia como um terceiro elemento constitutive da moral leiga, Durkheim passou a pensar a formagio do individuo também em suas proposigdes normativas, isto é, discutiu também como deveria ser a formagio moral do individuo. Quanto a isso, € importante notar que além de cientista, Durkheim também teve 1m 2005. 113 114m plural 120 papel importante como intelectual engajado, comprometide com as transformagoes educacionais requeridas para a consolidagio da Terceira Reptiblica (cf, Lukes, 1984; Ferwanpes, 1994; Muccteiit, 1998; Weisz, 1979), Até entio, a moral ensinada era ministrada por padres, ou por pessoas ligadas 4 religifo, ¢ 0 contetido dessa moral era, nacuralmente, religioso (cf. Maveur, 1973). Segundo Ferdinand Buisson, um dos principais colaboradores do entéo ministro da educagio, Jules Ferry, essa politica de laiciaagio seria a reforma mais importante ea mais duravel a ser feita pelo partido republicano, afinal, seria a nica garantia de evitar um retorno ao passado e de afastar toda forma de obscurantismo. De modo geral, os grandes objetivos da escola publica seriam os de permitit 0 progresso social, liberalizar as consci- ancias ¢ enraizar a Reptiblica, afinal, conforme Mayeur (1973: 114) sintetiza muito bem, “Fonder Pécole laique, c'est aussi fonder la République et, les deux notions sont alors indissociables, foritfier la patrie. Sur les bancs de I’école laique doit se forjer, par- dela les divisions de clase ou la diversité des régions, le sentiment de l'unité nationale’? Como se sabe, durante boa parte de sua carteira, Durkheim esteve profundamente envol- vido com esse projeto de hricizagio do ensino. Na verdade, sua concepgio sobre moral, desen- volvida no contexto mais geral de sua teorta sociolégica, levaram-no.a proporum nove mode- lo de educago moral, que radicalizava ainda mais o laicismo de Jules Ferry. De acordo com a tese de Durkheim, 0 projeto de consolidagio de uma sociedade republicana demandava do apenas o ensino leigo da moral, mas, sobretudo, 0 ensino de uma moral leiga. Aqui reside toda a diferenga com relagio & proposta de Jules de Ferry e de todos aqueles que hd cerca de vinte anos vinham centando empreender a reforma do ensino francés. Segundo a perspectiva durkheimina, de nada adiancatia simplesmente passar 0 ensino da mesma moral religiosa para as mios de professores leigos. Em ver disso, seria preciso encontrar novas bases de legitimidade moral, ou seja, descobrir qual a moral Fequerida pela sociedade republicana que, pretendendo set uma sociedade livre ¢ leiga, nccessitava de homens cujo comportamento correspondesse as suas expectativas, 2s suas novas necessidades. Também nao seria 0 caso de abolir 0 ensino da moral, poi para Durkheim, seria preciso que as novas gecagées fossem formadas segundo o espit to de igualdade, de liberdade, e que fossem capazes de usar livremente a razio. Como as idéias de liberdade e de igualdade nio eram “dadas da natureza”, mas valores dessa sociedade, seria preciso que, desde pequenas, as criancas aprendessem tais valores, ¢ que entendessem que na sociedade em que vivem, também existem regras a screm segui- das, fundadas sabre a idéia do direito naturel. Ainds, seria preciso que percebessem que © vator mais importante dessa sociedade era a possibilidade de que seus individuos fos- sem capazes de usar a razio, que fossem livres ¢ reconhecem-se todos como iguais. E esse contexto de transformagGes na sociedade francesa que se insere a proposta durkheimians de uma moral laica, que prope a sociedade, e ndo Deus, como fonte da autoridade moral. Tratava-se, ainda, de uma moral cuja finalidade era formar a tazdo 7 "Fundar a escola laica, é também fundar a Repiiblica c, as duas nos6es eram entao indiscocisveis, fortalecer a patria. Nos bancos da escola laica seria preciso forjas, para além das divisbes de classe ou da diversidade regional, o sentimento da unidade nacional”, (traducio livee da autara) no individuo, para que pudesse tornar-se um ser auténomo, livre, Entretanto, como Durkheim pretendia ser “idealista sem ser utépico”, ele ponderou que, para que 0 espirico de autonomia fosse um horizonte possivel, seria preciso que, inicialmente, fosse inculcado nos individuos o espirito de disciplina e o espirito de adesio 20 grupo, porque no inicio de sua vida social, eles nao seriam capazes de agit de acordo com os novos valores sociais ¢ tampouco seriam aptos 2 usar a razio como guia de suas ages. Quanto a isso, ¢ notério que nesse projeto pedagdgico estava implicada a antiga discussio filossfica entre desejo e vontade, pois, para Durkheim, o uso a razio teria como fungio maior, gerar um individuo capaz de se auto-governar, apto a controlar racionalmente seus desejos, convertendo-os em vontade. Assim, a prépria auconomia € liberdade dependeriam de uma formagi obe io moral inicial, cujo primeiro passo seria a nia as rogras ¢ valores sociais, que demandacia, sobretudo, a formagio progres- siva da raz0 até 0 momento em que 0 individuo adquirisse plena capacidade de usar essa faculdade. Com isso, seria possivel que 0 individuo deixasse de ser apenas objeto da moral tornando-se, finalmente, sujeito desta. Assim, a triade individuo, razio moral articular-se-ia dé maneira harmoniosa, promovendo, como consequiéncia dessa interagio, a propria autonomia, ou seja, a liberdade. ‘Ainda, no que concerne a sua preocupasao em garantir a viebilidade da Replica francesa, que supunha a existéncia de individuos “individualizados’, na acepgio pro- posta pela filosofia liberal, Durkheim (2002a) discorreu sobre o papel do proprio Esta- do, enquanto insticuigéo que assegura as libercades individuais. Essa discussio se dew no Ambito de suas reflexGes a respeito da relagio entre individuo e Estado, em que 0 autor afirmou que, embora o Estado se colocasse como uma forga acima dos individu- 05 e capaz de dominio sobre estes, o proprio Estado deveria garantir a possibilidade de que esses individuos pudessem existir livremente. Isso ocorreria na medida em que limitasse a agio dos chamados “grupos secundirios’, que tenderiam a congregar 0s individuos em pequenos agrupamentos, exercendo maior controle sobre eles, 0 que acabaria por anular a liberdade que possuem os homens que vivem nas grandes cidades, Eneretanto, a existéncia desses grupos secundirios seria, segundo Durkheim, igualmente necesséria, posto que cles constituiriam certo contrapeso 20 enorme poder do Estado, evitando, dessa forma, que usasse de seu poder para oprimir o individuo. Assim, seria desse conflito encre essas forcas sociais que nasceriam as liberdades individuais. Desse modo, essa constatago de Durkheim redunda também em outta proposicio normativa, uma vez que ele define qual deveria ser 0 papel do Estado ¢ dos gtupos secunddrios, com 0 intuito de garantir a emancipagio individual, requerida pela prépria sociedade moderna, 4. A NOCAO DE INDIVIDUO NO PENSAMENTO DE HABERMAS ‘Aanilise do lugar concedido 20 individuo no pensamento de Habermas, também esté relacionada com sua teoria sobre a moral. Entretanto, no caso desse autor, nao cabe a interrogagao a respeito da anise positiva sobre esse tema, porque, enquanto filésofo, sua 1m 2005 115 126 w plural 120 Preocupagao essencial no ¢ afirmar o que éou 0 que tem sido 0 individuo, mas como este deveria ser pata que a boa sociedade fosse possivel. A teoria de Habermas, assim, apresenta um cardter essencialmente normativo, ¢ € sob este aspecto que s¢ torna mais produtiva e ‘mais verossimil uma andlise de seu pensamento, no que se refere ao tema do individuo. Como afirmei anteriormente, o lugar da nogio de individuo na teoria habermasi- ana também estd vinculada a dimensio moral. Porém, 0 individuo aqui nio é concebi- do enquanto uma dualidade objeto/sujeito da moral, mas, € sempre sujeito, dado que a personalidade moral, segundo Habermas, forma-se mediante processos de intera¢ao da linguagem com fins & preparacao do individuo para a participagio efetiva no agir comunicativo, Em seu livro Consciéncia Moral e Agir Comunicativo® , Habermas pro- curou estabelecer um novo fundamento para a moralidade, assim como delineou um certo percurso do processo de socializacao ser seguido pelo individuo, para que pu- desse tornar-se um ser moral, ou seja, um ser apto a participar dos processos de delibe- tagio, obedecendo aos principios discursivos cxigidos pela ética fundada na agio co- municativa. Para tanto, tomou como referéncia o conhecimento produzido pela filo- sofia da linguagem e pela lingiistica, particularmente pela teoria de Ape, assim como se apropriou da teoria do desenvolvimento moral elaborada por Kohlberg (1981, 1982) formulando, assim, sua prépria visio a respeito desse tema. Um dos objetivos de Habermas no referido livro, foi resolver 0 conflito entre a definigto kantiana de moral, vinculada 4 nogio de Razio Pura e a definigao hegeliana de moral social, vinculada & idéia de uma razio histérica. Segundo Christian Bou- chindomme (1996: 17), Habermas teria logrado resolver este conflito entre formali- dade ¢ historicidade a0 propor sua propria nogao de moral: Chez, Habermas, on pourrait dive, d'une maniére cee fois provocante, guiau départ tour est permis au-deli méme de ce que ton peut imaginen, et que sil y a de fait une certaine limitation 2 cette permisivité, elle nest pas édictée de Uexterienr des relasions imterpersoneltes et sociales mais de Uintériewr-exclusivement de ces relations. Et cest la prévisement que nous retrouvons le langage, car cest lui-et lui seul- qui est le vecteur authentifiant et constitutif de ces relations Portanto, Habermas, propés uma moral que nfo fosse delimirada, nem de maneira puramente social, nem puramente intesior, como um a piori, mas estabelecida no Ambito da ago comunicativa. Para isso, 0 autor supée dois niveis de racionalidade. Um primeira nivel, exclusivamente formal, diz respeito a teoria da argumentacao. E, um segundo nivel, chamado cognitivo, que diz respeito 20 relacionamento entre 0 mundo objetivo, 0 mundo subjetivo, o mundo social e a ago do individuo em meio a esses mundos. Na verdade, 0 conhecimento de tal dimensio da racionalidade cognitiva pressupée como base empirica para sua teorla normativa, o conhecimento do individuo em seu * Esse livro foi publicado originalmente em 1983, menos de dois anos apés a publicagio de seu mais importante trabalho, Teoria do Agit Comunicativa, com o intuito de evitar que os argumentos ccontides ness livro pudessem dar margem & interpretagGes relacvistas,seja de caritercético, de uma lado, seja de cariter dagmético, de outro. ° Kadl-Onro Apel, ilésofo alemao, que escreveu varios livros sobre uma passivel érica fundada na discus- io, o que, segundo o préprio Habermas, ceria influenciado muito suas préprias proposigées normativas. processo formagio, viabilizando a verificagio das possibilidades do individuo desen- volver uma personalidade moral no mundo contemporaneo. Aqui reside o papel fun- damental dos estudos de Kohlberg, que fundamentaram 2 perspectiva de Habermas sobre 0 desenvolvimento infantil ¢ levaram-no a formular uma teoria a respeito da construgéo da personalidade moral, no aimbito mais geral de sua teoria comunicacio- nal. Os argumentos de Habermas a esse respeito podem ser apreendidos especialmente no texto Consciéncia Moral e Agir Comunicativo (1989c) € em outro importante artigo dedicado a esse tema, Desenvolvimenco da Moral e Identidade do Eu (1983). [Neste artigo, itei concentear o foco da andlise especialmente no iiltimo texto supra citado, com o intuito de mostrar como Habermas defendeu que o individuo deveria constituir-se enquanto sujeito moral, e como tal idéia esté incrinsecamente vinculada com sua concepgio de razfo, ou melhor, de razo comunicativa. Entretanto, para que isso apareca de maneira limpida, nao irei me deter nos detalhes do texto, mas procura- rei apresentar apenas os argumentos que considero essenciais para perceber de que modo 0 autor entende o processo de formagio da consciéncia moral e da identidade do Eu, em uma relagéo em que a primeira constitui parte da segunda e, portanto, 0 crescimento de uma esté esteeitamente vinculado 20 crescimento da outra. ‘A questo central abordada por Habermas é a que concerne as implicagdes norma- tivas dos conceitos de “desenvolvimento moral” e “identidade do Eu", analisadas pelo autor a partir de perspectiva que busca estabelecer “uma conexio, capaz de explicar atitudes profundas e politicamente relevantes, entre os modelos de socializacao, os processos tipicos da adolescéncia e as formas de identidade que os jovens constroem para si” (HaBenMas, 1983: 50), No texto em questio, Habermas apresentou a conscién- cia moral como parte constituinte da personalidade que contribuiria para o crescimen- to daquilo a que chamou de “identidade do Eu”, Essa consciéncia moral se manifesta- ria “antes de mais nada, em juizos sobre conflitos de ago moralmente relevantes (...), (que séo aqueles) capazes de resolugio consensual. A solugéo moral dos conflitas de agfo (...) pode ser entendida como o prosseguimento, com meios discursivos, do agir comunicativo, isto é, do agir orientado para 0 acordo” (HABERMAS, 1983: 58). A partir desse argumento, é possivel inferir que, para Habermas, a consciéncia moral constituit-se-ia no momento da deliberacéo, nas esferas deliberativas que ense- jariam a ago comunicativa; ainda, assim como a a¢io comunicativa produz uma rx conalidade peculiar, fundada na intersubjetividade, cla também seria expressio privile- giada da consciéncia moral, enquanto resolugio consensual de conflitos relevantes. Destarte, 0 desenvolvimento da conscigncia moral deveria seguir um processo légico de ampliagio do universo simbélico, cujo 4pice seria a capacidade de formular autono- mamente juizos fundados em principios éticos universais. Para definir passo a passo 0 processo de desenvolvimento da consciéncia moral, Habermas utilizou a “elassificagao dos niveis da consciéncia’, elaborada por Kohlberg, aos quais corresponderiam sangées € ambitos de validade diferentes. Para que essa classificagéo pudesse representar niveis de desenvolvimento da consciéncia moral, 0 aucor introduziu outras caracteristicas em cada uma das etapas, que se configurariam = 2005 8 117 178 m plural 12m enquanto 1) elementos estruturais basicos do agir comunicativo, que apareceriam na crianga come sucessio légica de etapas que formam e ampliariam sua capacidade de comunicasio, de interagir simbolicamente, © autor incluiu ainda 2) as competéncias cognitivas necessérias para que a crianga fosse capaz de estabelecer interagdes em seu meio social, ¢ 3) as capacidades de agir segundo papéis. Isso implica a tese de que a iéncia moral surgiria como conseqiiéncia, quase natural, de sucessivas caracte cas que surgitiam paulatinamente no individuo. Desde o principio, a crianga conteria em si o germe da vida moral, que desabrocharia aos poucos, ¢ capacitaria os individuos para a participasio no universo das relagées simbélicas, de maneira sempre mais incensa. A partir de cada uma dessas etapas do desenvolvimento da consciéncia moral, con- cebida enquanto conjunto de aptidées que permitiriam ao individuo interagit simbo- licamente, Habermas derivou os diferentes estdgios de desenvolvimento do Eu, que so: identidade natural, quando o individuo s6 conseguiria ter como limite de diferen- ciagio 0 prdprio corpo; e identidade de papel sustentada por simbolos, quando os indivi- duos inseririam caracteristicas corporais em um dominio simbélico. Finalmente, for- mar-se-ia.o que se poderia efetivamente chamar de identidade do Eu, momento em que 08 individuos afirmariam a prépria identidade, sem vinculo direto com os papéis que exercem; ¢ em que poderiam realmente tornar-se “pessoa”. Portanto, & nesse processo que a concepgio de “consciéncia moral” encontra-se em conexio empirica ¢ teérica com a concepsio de “identidade do Ex”, referida a formagio da individualidade. Para que se possa acompanhar essa teflexio de Habermas, ¢ compreender as impli cages de seus argumentos, é preciso, antes de mais nada, ter em conta alguns de seus axiomas teéricos, sedimento de sua teoria do agit comunicativo". Isso é importante porque, na verdade, toda a argumentagio do autor acerca da fundamentagdo dos con- ceitos de identidade do Eu e mesmo de consciéncia moral, caminha tumo a um enqua- dramento das etapas dos processos de socializagio em sua teorin geral Em ouras palavras, Habermas acredita que o pice do desenvolvimento da conscién- cia moral, bem como da formagio do Eu em sua plenitude, coincidem com o momento em que o individuo dispoe de todas as capacidades de agir de maneira comunicativa; mais ainda, de participar dos processos deliberativos. Dessa maneira, cada uma das eta- pas desse desenvolvimento consiste na aquisigao gradual de cada uma das caracteristicas necessérias para que scja formado este homem capaz de participar do agit comunicativo. Para completar 0 quadro das idéias habermasianas expostas no texto analisado, cabe ainda seguir seus argumentos acerca do desenvolvimento da consciéncia moral, e, por fim, apresentar seu pensamento acerca das etapas de formagao da identidade do Eu. Partindo de sua prépria definigdo de consciéncia moral, concebida enquanto ela- boragao consciente de conflitos moralmente relevances, Habermas afirmou que seria necessirio que existisse um ponto de vista a partir do qual fosse possivel discutir as solugdes de tais conflitas, ¢ € por isso que seria crucial a formagio do que chamou de " Embora nio seja possivel discutir aqui os fundamentos da teoria habermasiana, é imprescindivel cobservar que sus coneepsio sobre 0 individuo nao pode ser descolada das premissas normativas de seu “paradigma da rezéo comunicativa", cuja formulagio mais completa encontra-se nos dois valu- mes de seu liveo Teoria do Agir Comunicativo, csiruturas de interagio posstveis, capazes de gerar uma reciprocidade entre os agentes. Seguindo essa idéia, Habermas intentou derivar os niveis de consciéncia moral mediante estabelecimento de vinculo ence as estruturas de acio, percebidas pelo sujei- to nos virios niveis de formacio, e a exigéncia de reciprocidade, que de acorco com seu nivel (se ausente, incompleta ou completa) garantiria a possibilidade de estrucuras de reciprocidade que permitiriam formulagio consensual dos conflitos a serem soluciona- dos. Os niveis de conscigncia moral atingiriam maior complexidade de acordo com 2 progressiva possibilidade de uma reciprocidade completa Uma consciéncia moral plenamente desenvolvida c se: \entada s6 ocorteria quan- do houvesse essa reciprocidade completa, quando “o principio que justifica as normas nao é mais um principio monologicamente aplicavel da capacidade de generalizagio das mesmas, mas o procedimento comunitariamente seguido para emprestat realiza- fo discursiva as pretensdes de validade discursivas” (HaERMAS, 1983; 69). Na verda- de, 0 que esta pressuposto aqui, € o axioma segundo o qual - 2 despeito da consciéncia moral depender também de caracteristicas que se desenvolvem no préprio individuo, que se referem ao dominio cognitivo - a plenitude dessa moral dependeria da existén- de outros atores capazes de participar da gio comunicativa. ‘Acompanhando o desenvolvimento da consciéncia moral, Habermas afirmou que, no Lilkimo estagio desse desenvolvimento, a identidade do Eu no seria apenas uma exterioriza- fo de sua nacurezs interna. Ocorreria, em ver disso, a formago de uma identidade do Eu que se clevaria aos moldes constitixidos no préprio processo comunicativo, movida pelos ais altos valores éticos, elaborados pelo meditem da comunicacio. Formar-se-ia, entio, uma identidade que nao seria meramente subjetiva, mas intersubjetiva. Desse modo, Ha- bermas (cf. HaBeRwas, 1983: 72) conclui seu artigo, trazendo & tona a questio do relacio- namento entre autonomia, liberdade e identidade, respondendo aos dilemas colocados pela querela entre a filosofia kantiana ¢ filosofia hegeliana: “Uma autonomia que retire do eu um acesso comunicativo & propria naureza interna € também sinal de nao liberdade. A identidade do Eu significa uma liberdade que ~ na intengio, se nao de identificar, pelo menos de conciliar dignidade ¢ felicidade ~ pée limites a si mesma.” Essa ultima idéia de Habermas est4 em consonncia com todo o seu esforco de reali- zar uma critica da azo cognitivo-instrumental, mediante uma ampliagio da prépria razio, Essa “razio ampliada’, nio seria fundada no sujeito, mas na intersubjetividade, na agio comunicativa. Quanto a isso, sua proposicio sobre as etapas de constituigae do individuo como ser moral — leia-se formado pela intersubjetividade e para a intersubjeti- Vidade -, adquice estatuto de vital importancia, Afinal, a existéncia de individuos forma- dos dessa maneira seria a condigéo mesma de efetivacio de uma razio comunicativa. 4, CONCLUSAO, Neste artigo, procurei comparar o pensamento de Emile Durkheim e de Jiirgen Ha- bermas, no que se refere a concepsio de individuo. Para tanto, busquei, inicialmente, situar 0 pensamento de ambos os autores no contexto histérice ¢ filosdfico mais geral, no 52005 8 119 120 m plural 12m qual 0 “individuo” emergiu enquanto um problema de reflexao tedrica. Essa discussio inicial serviu 20 propésito de demonstrar como a concepgao desses autores ¢ tributéria dos temas filoséficos que surgiram no século XVIII ¢ que se desenvolveram nas décadas seguintes. No decorrer do texto, argumentei que a nogio de individuo formulada por Durkheim ¢ por Habermas deve ser entendida no ambito da teorizagio acerca da formagao moral, isto é, do processo pelo qual o individuo é formado. Entretanto, a despeito dessa caracteristica comum, 0 modo com que cada um entende o que seja a moral consticui um ponto de dissensdo. Essas diferencas podem ser vislumbradas de maneira mais nitida quando observados os seguintes aspectos: 1) a relagao entre indi- viduo e moral; 2) a id¢ia de razao; 3) a ideia de liberdade ou autonamia. A telagao entre individuo ¢ moral, refere-se a0 mado com que cada um dos autores entende 0 individuo enquanto um ser moral. Para Durkheim, o individuo &, inicial- mente, objeto da moral, posto que & moldado por uma moral que lhe é exterior, cuja origem ¢ social. Depois de socializado, se tiver sido educado de forma a ser capaz de utilizar suas faculdades racionais, o individuo passatia a ser sujeito da moral. Para Ha- bermas, 0 individuo é, desde sempre, sujeito da moral, seja enquanto portador das habilidades necessarias para uma interagio simbdlica, seja enquanto ator na ago co- munieativa. Entretanto, no ambito da tcoria habermasiana, um individuo sozinho nfo pode ser um ente moral, na medida em que depende de outros individuos para que possa utilizar suas capacidades de interagio, ¢ para que exista um contexto discur- sivo efetivo, o que também supéc a presenga de outros atores. No que tange & idéia de razdo, a teoria desses autores também implica diferencas substantivas. Para Durkheim, embora os individuos sejam dotados de um aparelho psiquico que Ihes permite o raciocinio, 0 pleno uso dessa faculdade e mesmo o seu contetido especifico, s6 chegam ao homem por meio do processo educacional. Na perspectiva desse intelectual francés, na sociedade moderna, que supée individuos li- vres ¢ iguais, « educagfo moral deveria formar individuos capazes de refletir sobre todas as coisas ¢, especialmente, capazes de reflecir sobre as prdprias regras morais. Tal reflexio seria condigao sine gua non para que os individuos se tornassem entes verda- deiramente auténomos e, seguindo a mesma légica, seria a condi¢’o para a formago do homem enquanto “individuo”, na plena acepgao do termo. No caso de Habermas, a nogio de razio é algo bastante complexo. De maneira geral, a razio, para o filésofo alemao, nao é somente subjetiva, nem somente objetiva. A verda- deira razio €aquela que engloba essas duas formas de racionalidade ¢ que se expande para além dessas dimensées, Afinal, 0 micleo da tese desse autor consiste no argumento de que a propria nogio de razao deveria ser amplinda, pela insergio da razio intersubjetiva, aquela racionalidade que ¢ fruto da interagao simbélica entre os individuos"*. Ao parti- cipar dos processos deliberativos, os individuos produzem essa razio dialégica ¢, exata- mente pela participagao nesses processos, é que os individuos adquirem um grau mais elevado de consciéncia moral, ¢ atingem a plenitude de sua identidade do Eu. Quanto a idéia de liberdade, presente na teoria desses autores, € possivel afirmar que se trata de um conceito estreitamente vinculado & idéia de moral ¢ de razio, € que resulta da articulagéo entre essas nogoes. No caso de Durkheim, a autonomia ¢ entendida como a possibilidade do individuo conhecer a nacureza ea fungiio das cegras morais de sua socieda- de, tornando-se apto a interferir sobre essas regras. O individuo livre é, porcanto, aquele capaz de usar a razio ede seguir a regra, porque a reconhece como racionalmente estabelecida, No caso de Habermas, a verdadeira liberdade nfo coincide exatamence com essa mesma nogio de autonomia, mas ¢ algo alcancado por aquele individuo que consegue moldar o seut Eu, tornando-o transparente pela comunicagio; em suma, é aquele individuo capaz de orientar todas as suas agées pela experiéncia comunicativa. De certa maneira, tanto para Durkheim quanto para Habermas, a plenitude da liberdade coincide com a perfeicéo moral ecom a perfeicéo da razio, seja 0 individuo totalmente orientado pela propria reflexao, seja 9 individuo que age totalmente movido pela razio que se produz intersubjetivamente. Neste artigo, certamente nio foi possivel dar conta de codas as dimensdes em que a nogio de individuo esté presente no pensamento de Habermas ¢ Durkheim. Entretan- to, se propés cumprir com objetivo essencial que motivou essa discussio, qual seja, 0 de levantar alguns aspectos essenciais da relagio entre individuo, razio ¢ liberdade, ¢ apontar, a centralidade desse tema no arcabougo teérico desses autores. BIBLIOGRAFIA ADORNO, Theodore. (1966). “Binleitung 21 Emile Durkheim”. In: DURKHEIM, Emile. Soziologie und Philosophie. Frankfurt, Suhtkamp. BECK, Ulrich & BECK-GERNSHEIM, Elisabeth. (2002). Individualization ~ Insti- tutionalized Individualism and lts Social and Political Consequences. London, Sage. BOUCHINDOMME, Christian. (1996) “Introduction a PEdiction Frangaise” in: Habermas, Jiirgen. Morale et Comunication. Patis, Les Editions du Cerf, 1996. DURKHEIM, Emile. (1970) “A Dualidade da Nacureza Humana”. Jn A Cibacia Social ¢4 Apdo. 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Nessa ocasiao, Durkheim intentou superar o dilema entre cazio objeiva rato subjetiva, ahtmando que tanto & forma quanto o conteddo da razio teriam origem social, 0 que equivale a dizer que a razio é um produto da interagao entre os homens, um produto que se mantém ¢ se desenvolve no decorrer dos séculos. Talvez a maior diferenga introdutida pela perspectiva habermasiana seja a énfase no cariter ad-hoc da racionalidade pritica, iso 6, da racionalidade que se zefere As questdes morais e politicas. Neentanto, aia de que em Durkheim encontramos uma primeira formlagto do que pode set cchamado de “tazdo incersubjetiva” 6 algo que nio pode ser desenvolvido por ora, mas que merece set aprofundada em pesquisas ulteriores. 0 2005 w 121 . (194d). “Julgamentos de Valor e Julgamentos de Realidade”. In Sociolo- gia ¢ Filosofia. Sa0 Paulo, Icone. (1999). As Regras do Método Socioldgico. Sao Paulo, Martins Fontes. (2000). O Suicidio, Séo Paulo, Martins Fontes. 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