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4.

A Teoria do Consumidor e a
Procura

Microeconomia 1
Linguagem…
• Cabaz de Bens: é composto por quantidades
de vários bens. Quando se comparam cabazes,
os bens são os mesmos, mas as quantidades
de cada um variam…

– Admitamos dois bens: laranjas (y) e bolachas de


chocolate (x)… (3,2) é um cabaz composto por 3
bolachas e 2 laranjas. Graficamente, é um ponto
do espaço (x,y)…

Microeconomia 2
4.1 Conjunto das
Possibilidades de Consumo

• É o conjunto de todos os cabazes que podem


ser adquiridos com um dado orçamento.

• O conjunto de cabazes cuja despesa esgota o


orçamento designa-se “Restrição Orçamental”

Microeconomia 3
4.1 Restrição Orçamental
    

€10 para gastar em bolachas e laranjas


Cada laranja custa 10 cêntimos, cada bolacha
custa 25 cêntimos

A restrição orçamental será 0,25  0,1  10

Microeconomia 4
4.1 Restrição Orçamental
Y

100
0,25  0,1  10

Conjunto das
possibilidades de
consumo

40
X

Microeconomia 5
Efeitos de Alterações de Preços
Y

M Redução de pY
pY

Xp x + YpY = W

Aumento de pX

W X
pX

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Efeitos de alteração do orçamento
Y

W Aumento de W
pY

W original

Redução de W

W X
pX

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Problema do Consumidor
• De entre os cabazes disponíveis no Espaço das
Possibilidades de Consumo, encontrar a
escolha óptima, dados:

– Orçamento (W)
– Preços de mercado ( ,  )
– Preferências….

Microeconomia 8
4.1 Axiomática de Preferências
• Formam um conjunto de hipóteses
comportamentais para o consumidor:

1. Desejabilidade (consumir mais, é melhor).


Então, por exemplo, o consumidor vai preferir o
cabaz A(25,30) ao cabaz B(20,20) simplesmente
porque o cabaz A contém mais quantidade do
que o cabaz B.

Microeconomia 9
Desejabilidade
Y

Conjunto dos cabazes


preferidos a A
(dão maior satisfação)

A(X,Y)
Conjunto dos
cabazes que dão
menor satisfação
do que A

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4.1 Axiomática de Preferências
• E se um cabaz contém mais de um bem e
menos do outro?!? Qual o preferido? (20,30)
ou (30,20)?!?

– É preciso saber quais são os cabazes indiferentes


entre si…

Microeconomia 11
4.1 Curva de Indiferença

• Curva de indiferença: conjunto dos cabazes


indiferentes entre si!

– Devido à hipótese de desejabilidade, os cabazes


indiferentes entre si não podem conter mais quantidade
de ambos os bens, nem podem conter menos quantidade
de ambos os bens: têm de conter sempre mais de um e
menos do outro.

– No espaço XY, a curva de indiferença tem de ter inclinação


negativa!
Microeconomia 12
Curva de Indiferença
Y

A, B e C são cabazes indiferentes


entre si…
35 A

B
20
C
15

15 20 30 X

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Taxa Marginal de Substituição
• É a taxa à qual o consumidor está disposto a
trocar um bem pelo outro e ficar indiferente.

• Define-se como a quantidade do bem Y de


que está disposto a prescindir, para ter mais
uma unidade do bem X e ficar indiferente

Microeconomia 14
Taxa Marginal de Substituição
∆Y ∆X
Y

De A a B: TMS = -3 = -15/5

35 A
De B a C: TMS = -0.5 = -5/10

B
20
C
15

15 20 30 X

15
TMS como declive da Curva de Indiferença
∆Y ∆X
Y

De A a C: TMS = ∆Y/∆X = -1,3 = -20/15

35 A
TMS = tg(α)

∆Y TMS é o declive da Curva de


Indiferença num ponto entre A e C
α C
(Teorema de Lagrange)
15
∆X

15 30 X

Microeconomia 16
Taxa Marginal de Substituição
• Ao longo da curva de indiferença apresentada
(convexa), a TMS é decrescente em valor
absoluto:

– Admitimos que o consumidor valoriza mais o bem


de que dispõe em menor quantidade

– Quanto maior a quantidade de um bem de que o


consumidor dispõe, menor o valor que atribui a uma
unidade adicional, porque fica mais perto do ponto de
saciedade, onde o consumo deixa de ser desejável!
Microeconomia 17
Axiomática de Preferências
(cont.)
1. Desejabilidade => as curvas de indiferença
têm inclinação negativa!
2. As preferências são completas: dados dois
cabazes, o consumidor sabe sempre dizer
qual a relação de preferências entre eles =>
todos os cabazes pertencem a uma curva de
indiferença!
Quanto mais alta for a curva onde se localiza um cabaz,
maior a satisfação que resulta do consumo desse cabaz
(desejabilidade…)
Microeconomia 18
Curvas de Indiferença “bem
comportadas”
Y

Sentido de aumento
da satisfação

X
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Axiomática de preferências
(cont.)
1. Desejabilidade
2. As preferências são completas
3. As preferências são transitivas:

A é preferido a B
B é preferido a C
Então………….. A é preferido a C!

Microeconomia 20
As Curvas de Indiferença
não se podem cruzar…
Y

(o gráfico mostra
preferências não transitivas)

A
C

Microeconomia 21
Racionalidade
• Em contexto de desejabilidade (não
saciedade), as preferências dizem-se racionais,
se forem completas e transitivas.

• Outras hipóteses necessárias na Teoria do


Consumidor:
– Informação completa
– Continuidade do espaço orçamental
– Independência das escolhas entre consumidores
Microeconomia 22
4.1 Função Utilidade
• A função de utilidade é uma representação numérica
da relação de preferência, que transforma cabazes de
consumo num valor (utilidade) e é tal que, dados
dois cabazes A e B:

# $ % # & ''( A é preferido a B


# $  # & ''( A é indiferente a B

Microeconomia 23
Função Utilidade
• A função de utilidade é apenas uma relação
ordinal, resultando numa ordenação de
cabazes, atribuindo um valor maior aos
cabazes preferidos. Esse valor, por si só, não
tem significado cardinal!

• Consequência: há muitas funções utilidade


que expressam as mesmas preferências, basta
que preservem a ordenação dos cabazes…
Microeconomia 24
4.1 Função Utilidade
– Ex. A(20,20) é preferido a B(10,10). Esta relação
pode ser descrita por qualquer uma das funções
seguintes:

# ), *  ) +,, * +,,
# ), *  10) +,, * +,,
# ), *  0,5 -.)  -.*
# ), *  223,2 -.)  -.*

Microeconomia 25
4.1 Função Utilidade
• Se uma função utilidade # ), * representar
uma ordem de preferências, qualquer curva
de indiferença é constituída por todos os
cabazes que estão associados à mesma
utilidade:
∀ ), * : # ), *  #2
ou
∀ ), * : ∆#  0

Microeconomia 26
4.2 Escolha Óptima

• É o ponto de escolha tal que o consumidor


atinge o máximo de utilidade possível
(localiza-se na curva de indiferença o mais alta
possível), dado que não pode ultrapassar o
orçamento disponível para consumo.

Microeconomia 27
Escolha do consumidor
Y

$∗ 5,  : 67) # ), * ∧     

A*(P,W)

28
Exercício:
• Um consumidor racional dispõe de um presente de
€120 para gastar em calças e em camisas para
renovar o seu vestuário.
• Uma camisa (bem x) custa €20 e um par de calças
(bem y) custa €30.
• As preferências podem ser descritas pela função
# ), *  .
– Qual a escolha racional, que maximiza U?
– Qual a equação da curva de indiferença no óptimo?
– Qual a despesa associada a um cabaz indiferente ao
óptimo?
29
Observação…
• No cabaz de escolha óptima o declive da
restrição orçamental é igual ao declive da
curva de indiferença

px
Declive da restrição orçamental é −
pY

Qual o declive da curva de indiferença no


óptimo? É a TMS…
Microeconomia 30
Leis de Gossen
• 2ª Lei: no cabaz óptimo,


96: 


TMS é o declive da curva de indiferença num


ponto, mas também tem uma relação com a
utilidade… precisamos da 1ª Lei!

Microeconomia 31
Utilidade Total
Utilidade Marginal
• Utilidade total: nível de satisfação que o consumidor retira ao
consumir uma certa quantidade de um bem – medida pela
função utilidade…

• Utilidade marginal: utilidade fornecida pelo consumo de uma


unidade adicional desse bem
– medida pela variação média da função utilidade, quando
uma variável X se altera, cæteris paribus, ou seja

∆#
∆
32
Leis de Gossen
• 1ª Lei de Gossen – uma unidade adicional de
um bem tem uma utilidade adicional cada vez
menor à medida que o consumo vai
aumentando – a utilidade marginal é
decrescente!

• 3ª Lei de Gossen – é da escassez, que vem o


valor económico

Microeconomia 33
Utilidade Marginal
• A utilidade marginal influencia directamente a
disponibilidade a pagar por mais uma unidade
de um bem:

– Quanto mais se consome de um bem, menor a


utilidade marginal de mais uma unidade

Microeconomia 34
TMS e Utilidade Marginal
Uma Curva de Indiferença contém todos os
cabazes indiferentes a um cabaz A, ou seja,
todos os cabazes dessa curva têm uma utilidade
igual a U(A)!

Ao longo da curva de indiferença, alterar X ou Y


não pode alterar U(A), caso contrário não se
estaria ainda na mesma curva…….

Microeconomia 35
TMS e Utilidade Marginal
Ao longo da Curva de Indiferença, ∆#  0.
Se X ou Y alterarem a sua quantidade, a
alteração em U é:
Rácio das
utilidades marginais…
∆# ∆#
∆#  ∆  ∆
∆ ∆

∆#
∆# ∆# ∆
∆#  0 ⇔ ∆  = ∆ ⟺  = ∆  96:
∆ ∆ ∆ ∆#
Microeconomia
∆ 36
TMS e 1ª Lei de Gossen
• Verificámos que |TMS| é decrescente à
medida que X aumenta e Y diminui…

?@AB
• Se  96: e dada a 1ª Lei de Gossen:
?@AC

#DEG
Y #DEF #DEG #DEF
X

Microeconomia 37
Estática Comparada
• O objectivo é ver como se altera o ponto de
escolha óptima do consumidor quando se
alteram os Pressupostos.

• Vejamos o que acontece se alterarmos o


rendimento, tudo o resto constante.
Admitimos que o bem X é um bem normal…

Microeconomia 38
Via de Expansão do Rendimento
Aumento de W
Y

Via de Expansão
do Rendimento

39
Via de Expansão do Rendimento e Curvas de Engel

Y
Aumento de W

Via de Expansão
do Rendimento

W X

Curva de Engel
Bem X

40
X
Caso o bem X seja um bem inferior….
Aumento de W
Y

Via de expansão
do rendimento

W X

Curva de Engel
Bem X (inferior)

41
X
4.3 A Procura Revisitada

Iremos considerar uma alteração no preço


de mercado de um dos bens e estudar o
que acontece aos pontos de escolha
óptima…

42
Curva de Preço-Consumo
Y

Via Preço-Consumo
(Offer Curve)

X
Redução de PX
43
Curva de Preço-Consumo e Curva de Procura Individual
Y

A curva de procura Via Preço-Consumo


individual é a (Offer Curve)
imagem da curva-
preço consumo, no X
quadrante (P,Q) PX Redução de PX

Procura individual do bem X

X
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Curva de Procura
• Da determinação do óptimo do consumidor,
deduz-se a procura individual

• Por adição, obtém-se a procura de mercado,


que herda todas as propriedades das procuras
individuais (nomeadamente, os efeitos que
decorrem da variação de preços)

Microeconomia 45
Efeito Substituição
e Efeito Rendimento após ∆P
Recordando….

• Efeito substituição: se o preço de um bem aumenta


(cæteris paribus), a quantidade procurada diminui
porque os consumidores olham para alternativas que
satisfaçam a mesma necessidade, passando alguns
deles a adquirir esses bens substitutos

Microeconomia 46
Efeito Substituição
e Efeito Rendimento após ∆P
E Recordando….

– Efeito rendimento: se o preço de um bem aumenta


(cæteris paribus), a quantidade procurada diminui
porque os consumidores se sentem mais pobres
com o mesmo rendimento e reduzem o seu
consumo (quebra de poder de compra).

47
Efeitos substituição (Hicks) e
Rendimento (X bem normal)
Y
Se o consumidor não sentir a
perda de poder de compra
resultante do aumento de
preço (mantendo a mesma
A s ( P ' , W ') utilidade), a alteração no
cabaz de consumo deve-se
A* (P, W ) apenas ao efeito substituição,
A* (P' , W ) e estar-se-ia no ponto $H !

Efeito Efeito X
Rendimento Substituição Aumento
de PX
48
Curva de Preço-Consumo Bem de Giffen
Y

Via Preço-Consumo
(Offer Curve)

X
PX Redução de Px

Procura individual do bem X


(inferior de Giffen)

X
49
Efeitos Substituição (à Hicks) e Rendimento para
um bem de Giffen
Y

X s (P' ,W ' )
Curvas de Indiferença

X * (P ,W )

Efeito
Substituição X * (P' ,W )

X
Efeito
Aumento de Px
Rendimento

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As Mr.Giffen has pointed out, a rise in the price
of bread makes so large a drain on the resources
of the poorer labouring families and raises so
much the marginal utility of money to them, that
they are forced to curtail their consumption of
meat and the more expensive farinaceous foods:
and, bread being still the cheapest food which
they can get and will take, they consume more,
and not less of it.

Marshall (1895) “Principles of Economics”

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