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Pch9llabi Fidalgo
Pch9llabi Fidalgo
Fidalgo Fidalgo
FID.
Porém, a que terra passais?
Percurso da personagem:
DIABO Pera o Inferno, senhor.
35 FID. Terra é bem sem-sabor.
v. 27 – eufemismo
DIABO Quê? E também cá zombais?
FID. E passageiros achais O D., para não assustar as personagens que vão
pera tal habitação? surgindo no cais, não afirma diretamente que a sua
barca tem como destino o Inferno. Usa, assim,
DIABO Vejo-vos eu em feição
outras expressões que pretendem indiretamente
40 pera ir ao nosso cais7... dizer o mesmo de forma suavizada. Por isso,
encontraremos inúmeros eufemismos em toda
a obra.
FID.
Parece-te a ti assi.
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DIABO Em que esperas ter guarida ? v. 29 – cómico de situação: o F. confunde o D. com
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FID. Que leixo na outra vida uma senhora
v. 31 – Parece-me um barco reles…; o F. mostra-se
quem reze sempre por mi. desdenhoso e altivo
45 DIABO Quem reze sempre por ti!... v. 35 – metáfora
Hi hi hi hi hi hi hi hi! vv. 36-38 – O F. mostra-se arrogante e insolente.
O D. acusa-o de querer ter, no Inferno (“cá”), o
E tu viveste a teu prazer,
mesmo comportamento de gozo que teve
cuidando cá guarecer10 enquanto vivo
por que rezem lá por ti? vv. 39-40 – O Diabo afirma que o comportamento
do F. está adequado ao Inferno
v. 40 – eufemismo (morrer)
vv. 43-44 – argumento de defesa do F.: deixa na
terra quem reze pela sua alma
vv. 45-46 – O Diabo escarnece do F.; o D. muda o
tom cerimonioso e deixa de o tratar por vós e
passa a tu
vv. 47-49 – versos sentenciosos; argumento de
acusação do D.: o F. viveu como quis
1. ora: agora. 2. está apercebida: pronta para partir. 3. ilha
perdida: Inferno. 4. ess’ora: imediatamente. 5. a senhora: o vv. 48-49 – antítese
Fidalgo confunde o Diabo com uma senhora. 6. cortiço:
embarcação pobre. 7. ao nosso cais: inferno. 8. guarida:
proteção, salvação. 9. leixo: deixo. 10. guarecer: salvar-te.
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Fidalgo
Pois que já a morte passastes. vv. 58-59 – influência grega: rio Letes, um dos rios
havês de passar o rio13. do submundo, que as almas tinham de atravessar
FID.
A estoutra barca me vou.
– Hou da barca! Pera onde is? Percurso da personagem:
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou! vv. 67-71 – O F. interpela o Anjo (A.) que,
70 (Par Deos, aviado estou!16 inicialmente, o ignora
Cant’a isto17 é já pior... vv. 67-68 – apóstrofe
Que jiricocins18, salvanor19!
vv. 70-73 – cómico de linguagem, cómico de
Cuidam que sou eu grou20?) situação: linguagem popular; como não é
imediatamente atendido pelo A., o F. enfurece-se
ANJO
Que querês? e, num aparte, insulta o barqueiro
FID. Que me digais,
75 pois parti tão sem aviso21,
se a barca do Paraíso
é esta em que navegais.
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Auto da Barca do Inferno à lupa
DIABO
À barca, à barca, senhores! v. 106 – pregão; apóstrofe
Oh! que maré tão de prata! v. 107 – metáfora
v. 108 – metáfora hiperbólica
Um ventezinho que mata vv. 106-109 – cómico de carácter: o D. usa
e valentes remadores! pregões e até canta uma música para publicitar
a sua barca
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Fidalgo
Diz, cantando:
120 Venha essa prancha! Veremos vv. 120, 122, 124 e 128 – presente do conjuntivo
esta barca de tristura. com valor de imperativo
vv. 120-121 – conformação do F.
DIABO Embarqu’a vossa doçura,
v. 122 – ironia
que cá nos entenderemos…
Tomarês um par de remos,
125 veremos como remais,
e, chegando ao nosso cais, v. 126 – perífrase (Inferno)
todos bem vos serviremos. v. 127 – O D. dará pancada ao F. (estas palavras
seriam acompanhadas de um gesto ameaçador
do D. que, naquele momento, tem nas mãos os
Esperar-me-ês vós aqui,
FID. remos)
tornarei à outra vida vv. 128-130 – cómico de carácter e de situação:
ver minha dama querida revelando arrogância e ingenuidade, o F. ordena
130
ao D. que espere, uma vez que vai regressar à
que se quer matar por mi. terra para ver a sua “dama querida” que acredita
DIABO Que se quer matar por ti? que o ama
FID. Isso bem certo o sei eu. v. 132 – O D. abandona o tratamento mais
33 cerimonioso por “vós” e passa a tratar o F. por “tu”,
DIABO Ó namorado sandeu ,
mostrando a realidade da sua nova situação
135 o maior que nunca vi! v. 134 – “sandeu” – arcaísmo
v. 135 = o maior que já vi!
FID. Como pod’rá isso ser,
que m’escrevia mil dias? vv. 137-139 – hipérbole
DIABO Quantas mentiras que lias
e tu… morto de prazer!
140 FID. Pera que é escarnecer,
que nom havia mais no bem34?
PCH9LLABID © Porto Editora
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Auto da Barca do Inferno à lupa
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DIABO Assi vivas tu, amen ,
FID.
Isto quanto ao que eu conheço…
145 DIABO Pois estando tu espirando, vv. 145-147 – cómico de linguagem
se estava ela requebrando37
com outro de menos preço38.
FID. Dá-me licença, te peço, vv. 148-149 – cómico de carácter: o F. continua,
que vá ver minha mulher. ingenuamente, a insistir no regresso, mas agora já
pede autorização ao D.; cómico de situação: afinal
150 DIABO E ela, por não te ver,
a “dama querida” (v. 130) não era a esposa, mas a
despenhar-se-á dum cabeço. amante
vv. 149-150 – antítese
Quanto ela hoje rezou, v. 151 – hipérbole
vv. 152-155 – cómico de situação: afinal os gritos
antre seus gritos e gritas, da esposa eram de alegria e de alívio
foi dar graças infinitas v. 154 – hipérbole
155 a quem a desassombrou39. G. V. critica, no ABI, a infidelidade no casamento
FID. Cant’ela, bem chorou! que abala os valores da família e a própria
sociedade.
DIABO Nom há i choro de alegria?
FID. E as lágrimas que dezia?
DIABO Sua mãe lhas ensinou.
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Fidalgo
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