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2 AS CONDIÇÕES SEMÂNTICAS: PRIMEIRO EXISTIU O NOME, DEPOIS A Formatado: Fonte: 12 pt

REGIÃO NOMEADA Formatado: Fonte: 12 pt


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"Amazônia" é um termo que evoluiu de uma mera palavra que foi transformada
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empara um conceito, pois complexo, adquirindo ao longo do tempo tornou-se polissêmica, ou Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm,
seja, agregadora de váriosuma polissemia que abarca múltiplos significados. O renomado Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
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historiador alemão Reinhart Koselleck evidenciadestaca que “os conceitos são, portanto,
vocábulos nos quais se concentra uma multiplicidade de significados”.1 Para esse historiador
alemão, necessitamos utilizar Nesse sentido, Koselleck enfatiza a necessidade de empregar
conceitos como ferramentas para operarcapturar, reunir e fixarestabilizar experiências
fugidias, bem como integrá-las àtransitórias, incorporando-as tanto na linguagem e aoquanto
no comportamento. Apresentar, neste capítulo, um tipo humano. Nesta seção, propomos uma
espécie de arqueologia do conceito de Amazônia, é compreender algo basilar dauma
abordagem congruente com a História dos Conceitos pregadadelineada por Koselleck, a
saber: “os conceitos concretos, em torno dos quais o debate político se organiza, dependem
dos conteúdos de experiência histórica [...]”.2 Ou seja, para debatermos. Portanto, ao discorrer
sobre a invençãocriação regional amazônica e o seu consequente regionalismo político, além
da própriabem como sobre a nova denominaçãonomenclatura para a antiga entidade do antigo
Grão-Pará, torna-se faz necessário compreenderimperativo apreender os conteúdoselementos
de experiência histórica incorporadosque se amalgamaram ao conceito de Amazônia −. Esta
tarefa que desenvolvemos naconstitui o fulcro da primeira parte desta tese.
É sob inspiraçãoÀ luz das premissas da História dos Conceitos que , este capítulo
temse propõe a traçar o objetivo de mapear o aparecimentotrajeto da emergência e a
utilizaçãoaplicação do termo "Amazônia nos " em vocabulários e , dicionários, bem como em
outros suportes, visto que além de considerarmos e outras fontes, uma vez que os dicionários
como importantes suportesnão apenas desempenharam o papel de registros físicos de registro
da linguagem que, mas também contribuíram para a formaçãoconfiguração conceitual
amazônica.da Amazônia. A escolha pelos opção pela análise dos dicionários busca discutir as
visa aprofundar a compreensão das transformações semânticas dos termos, o que acaba por
revelaras quais são elucidadas, em grande medida, apela historicidade desses mesmos termos,
permitindo perceber outros significadosvocábulos, expondo facetas adicionais das expressões,

1
KOSELLECK, Reinhardt. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro:
Contraponto Editora; Editora PUC Rio, 2006, p. 109.
2
KOSELLECK, Reinhart. História dos Conceitos: estudos sobre a semântica e a pragmática da linguagem
política e social. 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Contraponto, 2020, p. 51.
sobretudo o conteúdoparticularmente o substrato semântico associado aos nomesàs
denominações em tela. As demaisestudo. Quanto às outras fontes, sua escolha esteve pautadaa
seleção se fundamentou na compreensãoconvicção de que foram relatos deas narrativas dos
viajantes que estiveram no exploraram o norte do Brasil, bem comojuntamente com os
debates históricos sobre a história dessa região no âmbito do IHGB, além das assim como as
notícias em veiculadas nos jornais sobre essa parte do Brasil, queacerca dessa parcela do
território brasileiro, constituem camadas de significados agregadosestratos de significado que
se amalgamaram ao conceito de Amazônia.
Além do mais, essas fontes acimaAdemais, as citadas fontes contribuíram para o que
chamamos, nesse trabalhodenominamos, neste estudo, de formação conceitual, noção a que
aludem um conceito elucidado por Assis e Ferreira, ao interpretarem e ressignificarem o
pensamento do historiador que reinterpretam e ampliam a concepção de Reinhart Koselleck,
para entender que. Para eles3, uma formação conceitual registra e forja simultaneamente, no
plano da linguagem, um determinado contexto de experiências [...]”.Para esses autores, uma
formação conceitual não é estáticase estagna em um estado estático e puramente
sincrônicasincrônico4, mas que “[...] conteria em siincorpora diferentes camadasestratos de
significado, diacronicamente escalonadas. Tais significados seriam o resultado em uma
progressão diacrônica. Esses estratos emergem dos processos de mediação,
recepçãoassimilação, apropriação e reinvençãoreinterpretação de sentidos, associados a os
quais se entrelaçam com formações conceituais do passado”.preexistentes.
Do ponto de vista semântico e ocidental, o conceito de Amazônia e/ou amazônica é
mais antigo do que o conceito geográfico e identitário regional no que diz respeito ao Brasil.
Logo, nossa hipótese inicial caminha no sentido de observarmos o quão o conceito em tela
não foi usado desde sempre para denominar um recorte regional no Brasil, e que seu uso nesta
mesma área visou a aludir à condição de conceito agregador de novos significados para uma
área que – através de suas elites – pretendia construir novos sentidos, imagens e concepções
para apresentá-los ao Brasil e ao mundo.
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2.1 Das amazonas à Amazônia nos dicionários Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

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O trabalho com os estudo dos dicionários ibéricos, bemassim como dos ingleses e 0,67 cm, Espaçamento entre linhas: Múltiplos 1,15 lin.

franceses justifica-se primeiro em função, encontra sua fundamentação primordial na

3
Ibidem, p.9.NOTA
4
Ibidem, p.9. NOTA
contextura da própria relação colonial espanholamantida entre a Espanha e portuguesa
Portugal com o território hoje chamado de atualmente designado como região amazônica,
visto que primeiro. Com efeito, inicialmente, a Coroa Castelhana esteve como senhora dessas
deteve a supremacia sobre essas terras, posteriormente acedida à Coroa Lusa assumiu o
domínio. Somente. Apenas em 1750 ocorreu a definição da posse portuguesa dessas terras
através, por intermédio do Tratado de Madrid, o qual reconhecia a expansão dos portugueses
nesse território, embora concretizou-se a demarcação da soberania portuguesa sobre essas
terras. Nota-se, contudo, que os lusitanos já tivessem assumido oexerciam controle da sobre a
área desde 1616 com a fundação de, quando alicerçaram uma colônia sob o nome de
“denominada "Feliz Lusitânia”,", posteriormente denominada de rebatizada como Nossa
Senhora de Belém do Grão-Pará. Por outro ladoParalelamente, a atenção aos vocabulários e
incursão nos dicionários e léxicos ingleses e franceses decorre justamente da amplitude se
justifica pela ampla influência linguística dessas nações a nível global da língua desses países
no mundo e pela proximidadepelo histórico vínculo e interesse que historicamente
mantiveramnutriram com as Américas e, por conseguinte, com a América e a Amazônia.
Para esse exercícioNo que concerne a esta abordagem conceitual, acessamosa
exploração recaiu sobre dicionários produzidos na oriundos da Espanha, Portugal, Inglaterra e
França entre os, ao longo dos séculos XVI ea XIX. As bases de dados pesquisadas permitem
uma maior consulta nesse recorte.submetidas a escrutínio conferem maior amplitude a essa
análise. A partir do século XIX, passaremos a contemplar osexpandimos nosso campo de
investigação para abranger dicionários de cunho luso-brasileirosbrasileiro, avançando, assim,
sobre o léxico brasileiro.pátrio.
Decidimos por procurar, na produção dicionarística A determinação em buscar
vestígios nos dicionários da ibérica, da inglesa e da francesa certos vestígios paratraduz-se em
uma discussãoindagação histórica a partir da ancorada na semântica acerca da Amazônia, por
acreditar . Tal busca é motivada pela compreensão de que os vocabulários e dicionários estão
para além da condição de um e léxicos transcendem a simples suporte lexical organizado
alfabeticamente, visto que “o saber lexical, em suas diversas formas, constitui-se
atravésclassificação alfabética do léxico, sendo concebidos como uma constelação de
significados que se molda por intermédio de processos históricos, muitas vezes de longa
duração”.frequentemente de extensão temporal considerável. O saberconhecimento linguístico
é, em sua essência, um produto cultural, social e histórico, e não pode ser dissociado da ação
dos homens do tempo que o produziu.estreitamente entrelaçado com as ações humanas no
contexto temporal de sua concepção. A opção que fazemos pelos pela exploração dos
dicionários recaideriva justamente sobre de seu papel como reunidor de significados Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
depositários de um léxico, acabando por revelar ossignificados lexicais, culminando na
Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
revelação dos intrincados processos de nomeação e classificação denominação e pt

categorização das sociedades. Krieger et al. resume., no contexto, sintetizam tal Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
importânciarelevância ao considerarafirmar que: Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt

O dicionário de língua – a mais prototípica das obras lexicográficas – constitui-se no Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
único lugar que reúne, de modo sistemático, o conjunto dos itens lexicais criados e pt
utilizados por uma comunidade lingüística, permitindo que ela reconheça-se a si Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
mesma em sua história e em sua cultura. Além de se constituir em espelho da pt
memória social da língua, o dicionário desempenha o papel de legitimar o léxico.5
Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
Iniciemos pelos nossa análise nos dicionários ingleses e franceses, muito em função da Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
própria dimensão mundialuma abordagem que se justifica sobremodo devido à ampla
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circulação da língua inglesa, bem como a no contexto global, aliada à significativa relação
Formatado ...
histórica que tanto a Inglaterra equanto a França mantiveram com a região equatorial da América do Formatado ...
Sul e o consequente estabelecimento de suas Guianas. Outro fator importante a ser Formatado ...
considerado é o fato de , por extensão, à consolidação de seus enclaves na região das Guianas. Formatado ...
Formatado ...
É imperioso considerar, ademais, que tanto a Inglaterra equanto a França terem se constituído,
Formatado ...
ainda nos temposrecessos medievais nos primeiros , delinearam os primórdios dos estados
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europeus, constituindo, assim, as semeando os fundamentos das primeiras burocracias, e Formatado ...
chancelarias e lançado as bases daque deram sustentáculo à formação de das nações, o que Formatado ...

requereu a montagem de em um aparatoprocesso que demandou a orquestração de um Formatado ...


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arcabouço cultural e linguístico. Este aspecto é congruente com a observação de Benedict
Formatado ...
Anderson, ao versar sobre o acerca do papel das línguas nacionais para a formaçãona gênese das
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nações, entre os especialmente nos séculos XVIII e XIX, percebeem que “ele assinala que "os Formatado ...
dicionários monolíngues eram enormesconstituíam compêndios vastos do tesouro impresso de Formatado ...

cada língua”.6 Ainda se justifica A incursão na dicionarística nos domínios da lexicografia Formatado ...
Formatado ...
inglesa e francesa otambém encontra sua justificativa no fato de que parteuma parcela da
Formatado ...
erudição filológica e lexicográfica desses países ter se esforçado por resgatar a civilização dessas
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nações empenhou-se na ressurreição da herança helênica atravéspor meio de livrosobras Formatado ...
literárias e materiaisrecursos diversos. Aparece, nesse movimento, Neste contexto, emerge a Formatado ...
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antiga ideia de que a concepção da Europa era descendente dos gregos e, portanto, aqui se
Formatado ...
5
KRIEGER, Maria da Graça et al. O século XX, cenário dos dicionários fundadores da lexicografia brasileira: Formatado ...
relações com a identidade do português do Brasil. Revista Alfa, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 173-187, 2006, p. 174.
6 Formatado ...
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 112. Formatado ...
vislumbra a ideia de perceber como herdeira da civilização grega, o que por sua vez suscita a
indagação sobre como a lexicografia apresentoucanalizou os termos "amazonas" e "Amazônia Formatado ...

nesses países" nesse cenário.


Os dicionários ingleses antigos, entre os séculosdatados do século XVI e ao XVIII, possuem Formatado ...

várias referências em relaçãoalbergam diversas alusões aos vocábulos termos em


discussão.debate. A lexicografia inglesa do século XVI trouxe, à tona, primeiro, à frente de seu
tempo, introduziu primeiramente a expressão “"amazonia” estritamente relacionada a",
diretamente associada aos nomes dedas rainhas das lendárias mulheres guerreiras de origem
grega. O primeiro dicionário a trazer o termo foi pioneirismo nesse sentido é atribuído a "The
Dictionary of Sir Thomas Elyot, escrito", composto por Thomas Elyot, em 1538, com que apresenta
quatro menções aoocorrências do termo na seguinte , delineando uma sequência de significados:
“"Hippiades –- imagens de mulheres a cavalo, como as mulheres da Amazônia sempre foram
pagas”retratadas" (ymages of women on horseback, as the women of Amazon were alway paynted);
“"Menalippa –- a rainha Amazónia,Amazona que Hércules venceu”subjulgou" (quene of Amazon,
whome Hercules vanquyshed)”; “)"; "Pantasilea –- uma rainha da Amazonia”Amazônia" (a
queene of Amazon); “"Pentesilea – “- "a queene of Amazon, whiche was slayne at the syege of
Troy”" (uma rainha da AmazóniaAmazônia, que foi morta no sitiocerco de Troia). Neste Nesse
século, a Europa moderna vivia a inspiraçãoestava permeada pelo espírito humanista e o apego à
por uma revalorização da Antiguidade, ressuscitada sobretudo revivida a partir dospor meio de
seus ensinamentospreceitos e da própria história.eventos históricos. Thomas Elyot trata de
aborda lideranças femininas de uma terra, de uma áreaem um território que ele denomina de
“"Amazonia”. Na". Em sua edição de 1542, sob o título de intitulada "Bibliotheca Eliotae,", Elyot
voltou a repetirratifica os termos e osseus respectivos significados atribuídos em 1538.
A partir do À medida que adentramos o século XVII, observamos que os dicionários Formatado ...

ingleses não apresentavam mais contemplavam o termo "Amazônia,". Em seu lugar apresentavam,
emergiu a expressão “"amazon”" ou "amazona, grosso modo, com", capturando, de forma
sucinta, o significado que passaria a ser conhecidoposteriormente se difundiria mundialmente,
como se pode notaratestado em "An English Expositor, de", da autoria de John Bullokar, datado de
1616:
Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
Uma mulher do País Amazónico. As amazonas eram mulheres guerreiras da Cítia,
que mantinham uma região só para elas, sem homens, mas que, para terem filhos,
faziam companhia aos povos vizinhos. Destruíam os filhos ou mandavam-nos para
casa do pai, mas conservavam as filhas, que ajudavam na caça, no tiro, no tiro ao
alvo e nas lutas de armas. Queimavam o seio direito de seus filhos, para que não lhes
fosse prejudicada a sua arquitetura, daí o nome de amazonas, que (em grego)
significa mulheres que não têm seio (tradução nossa).7

EssaEsta versão ainda possibilita perceberproporciona a criaçãoapreensão da


construção das condiçõesfundações semânticas para o uso da palavra “que pavimentaram a
evolução da utilização do termo "amazônico”.". Nas edições de 1621 e 1641, John Bullokar
voltaria a repetir oretomaria a apresentação do mencionado termo e oseu respectivo
significado. Nesse período, já se registramNeste intervalo, começaram a emergir produções
que passaram a ressaltar o caráter violentoenfatizar os atributos marciais e guerreirobélicos
das amazonas, como ilustrado em "The English Parnassus" (1657), composto por da autoria Formatado: Fonte: Não Itálico

de Joshua Poole, que apresentou a amazona como guerreira, resistente, robusta, cruel, feroz,
viril, masculina, ousada, valente, precipitada, inebriante, furiosa e que fazia uso de um
caracterizou as amazonas como guerreiras resilientes, robustas, cruéis, ferozes, viris,
masculinas, ousadas, valentes, impetuosas, inebriantes, furiosas e proficientes no uso do
machadoEsse perfil como arma.8 Fragmentos destes traços ressurgem, até certo ponto, em
partes, voltou a aparecer em Edward Phillips, "The New World of English Words" (1658), Formatado: Fonte: Não Itálico

significandoconcebido por Edward Phillips, retratando as amazonas como


“certasdeterminadas mulheres guerreiras da Ásia, que moravam perto do residiam próximas
ao Rio Thermodoon, que queimaramincineravam seus mamilos direitos e
mataramassassinavam todos os seus filhos do sexo masculino”[...]” (” [...](tradução nossa).
Ainda nos dicionários do século XVII, percebe-se o retorno na dicionarização do
termo identifica-se a partir dereintrodução do termo nas obras lexicográficas, desta vez
associado aos nomes de rainhas das amazonas, desta feita, não mais da “referentes à
"amazônia”,", a exemplo dos dicionários: "The Academy of Pleasure" (anônimo), em 1656, e
"An English Dictionary,", de Elisha Coles, em 1677.
Dois dicionários ingleses do século XVIII que foram consultados mantémmantêm o
núcleo interpretativo sobre as amazonas, sobretudo considerando-as de ascendência grega,
guerreiras que mutilavam praticavam a mutilação de um seio, entre além de outras
características já conhecidas.previamente reconhecidas. Entretanto, esses dicionários , porém,
diferenciavam-se dos dicionáriosdiferenciam das obras lexicográficas dos séculos anteriores

7
BULLOKAR, John.. An English Expositor: teaching the interpretation of the hardest words in our language
(Um expositor de inglês: ensinando a interpretação das palavras mais difíceis da nossa língua). Londres: John
Legatt, 1616. Disponível em: https://leme.library.utoronto.ca/lexicon/entry/323/172em:. Acesso em: 31 ago.
2020. (tradução nossa).
8
Poole, Josué. O Parnaso inglês, 1657. Lingüística inglesa, 1500-1800, n. 359. Menston: Scolar Press, 1972. In:
https://leme.library.utoronto.ca/lexicons/494/details#fulltext Acesso em 31 ago. 2020. Joshua Poole, The
English Parnassus (1657). In: https://leme.library.utoronto.ca/search/quick Acesso em 31 ago. 2020.
no tratamento do termo “"amazona”. Tratamos dos". Analisamos os seguintes dicionários: "A Formatado: Fonte: Não Itálico

Dictionary of the English Language" (1755), de autoria de Samuel Johnson, e "A New Formatado: Fonte: Não Itálico

Universal Etymological English Dictionary" (1755), organizado por Joseph Nicol Scott. No
primeiro, as amazonas são mencionadas em outros verbetes, em alguns dos quais
notapercebe-se certa visãouma conotação negativa, acomo por exemplo de: “Para saltar –
amazona saltitante” (tradução nossa), “consorte – sua amazona guerreira invade seu anfitrião”
(tradução nossa), “duas mãos – Uma amazona, a grande prostituta de duas mãos” (tradução
nossa), “errado – Acho que você é uma amazona invencível, pois vai superar, embora em um
assunto errado” (tradução nossa).
O segundo dicionário acima citadosupramencionado, notadamente o "A New Formatado: Fonte: Não Itálico

Universal Etymological English Dictionary,", além de aludirretomar as alusões às amazonas a Formatado: Fonte: Não Itálico

partir de seu com base no conteúdo já dicionarizado anteriormentelexicográfico preexistente,


foi o primeiro a fazer menção geograficamente aoincluir informações geográficas sobre o rio
Amazonas em dois verbetes: “"Brazil”, quando é mencionado", mencionando que é um país
“"limitado pelo Atlântico e pelo rio Amazonas ao norte”" (tradução nossa); e “"Amazon”, este
último significando “", que significa "um grandeextenso rio da América do Sul, que nascetem
sua nascente no Peru, perto do próximo ao equador, corree flui para o leste por um curso de
mais de percurso superior a 3.000 milhas”" (tradução nossa). Possivelmente Provavelmente, o
destaqueenfoque geográfico para o no rio Amazonas nesseneste momento deva-se deve ao
que período destacado por Arthur Reis considerou como o período , em que a área
geográficaregião às margens do grande rio passou a ser objeto de observações mais
minuciosas, por parte de missionários e sertanistas, com vistas ao que o autor chamou deà
identificação geográfica do vale às vésperas do Tratado de Madrí,Madri em 1755, que
substituiu o Tratado de Tordesilhas firmando novosredefiniu os limites entre as colônias
espanholas e portuguesas na América.
Os dicionários franceses consultados a partir do século XVII dicionarizaram o termo
"amazonas a partir do seguinte" com um conjunto de significados, os quais que podemos
sintetizarresumir a partir das edições do "Le dictionnaire de l'Académie française, ", de 1694: Formatado: Fonte: Não Itálico
Formatado: Fonte: Não Itálico

Amazone - mulher de coragem masle & guerreira. Ela é uma amazona. Esse Formatado: Fonte: 12 pt, Itálico
significado vem do fato de que costumava haver um país inteiro dominado por
mulheres todas guerreiras, que eram chamadas de amazonas. Pentasilea Rainha das
Amazonas (tradução nossa).9

9
COIGNARD, Jean-Baptiste, 1693-1765, impressão. O Dicionário da Academia Francesa 1694. Em Paris: na
Viúva de Jean Baptiste Coignard, Impressor Ordinário do Rei, e da Académie Françoise, rue S. Jacques, na
Golden Bible: e em Jean Baptiste Coignard, Impressor e Livreiro Ordinário do Rei, e do Académie Françoise,
No século XVIII, as edições do Le Dictionnaire de l'Académie française, a partir de
1762, apesar de seguir o Dictionaire critique de la langue française (1787), ao postular que as
amazonas eram mulheres de coragem masculina e guerreiras, acrescenta, em relação ao
verbete “Amazone”:
Formatado: Fonte: 12 pt
[...] esse significado vem do que os Antigos escreveram que havia uma vez na Ásia Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
um grande país habitado por mulheres todas guerreiras, chamadas Amazonas,
porque desde a infância eram queimadas um úbere para torná-las mais adequadas
para o tiro, o arco (tradução nossa).10

No século XIX, a sexta edição do "Le Dictionnaire de l'Académie française", em sua Formatado: Fonte: Não Itálico

sexta edição, 1835, retomouresgatou os significados do século XVIII e adicionou, pela


primeira vez, introduziu o significado do vocábulo termo "amazonas relacionando-o"
associado à moda, aduzindoacrescentando o seguinte: “o hábito da amazona, ou
absolutamente,simplesmente amazona, vestido geralmentetraje usualmente feito de tecido,
que as utilizado por mulheres usam quando cavalgam.ao montar a cavalo. Também se diz:
Para Vestir-se vestir como uma amazona”. Como existia maisDado que havia um verbete
adicional sobre o mesmo termo, notamos que um terceiro verbete, em vez de seguir com o
significado de “o hábito da amazona””, foi escritoformulado da seguinte formamaneira: “o
hábito da Amazônia, ou absolutamente,simplesmente Amazonas”. Logo, observamosDesse
modo, evidenciamos que a palavra “Amazônia” aparecesurgiu pela primeira vez na
dicionarística francesa relacionadano âmbito lexicográfico francês, associada ao significado
de uma mulher amazona.
É importantede relevância perceber as possibilidadesnuances semânticas paraque
envolvem o vocábulo termo "Amazônia" e o trato geográfico sobre a abordagem geográfica
da América do Sul na dicionarística francesano âmbito lexicográfico francês do século XIX.
No "Dictionnaire de la langue française" (Littré), datado de 1873, aparece o questionamento Formatado: Fonte: Não Itálico

sobre a surge uma indagação acerca da origem incerta do nometermo “amazone”, Formatado: Fonte: Não Itálico

postulandoaventando a possibilidade de que “Todas essas etimologias são incertas; e é


possível que amazon'amazona' seja algum nome geográfico,topônimo ou algum termo

rue S. Jacques, perto de S. Severin, no Livre d'Or, 1694, p. 33. Disponível em: https://purl.pt/37774/l-2715-
a_2_master/l-2715-a/l-2715-a_PDF/l-2715-a_0000.pdf Acesso em: 1 de set. 2020. O Dicionário da Academia
Francesa 1694, t. 1 (Coignard. Paris , 1694 ). In: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17 Acesso em: 1º set.
2020.
10
O Dicionário da Academia Francesa. Quarta edição. T.1 (Brunet, Paris, 1762). In: https://artfl-
project.uchicago.edu/node/17 Acesso em: 1º set. 2020.
mitológico de uma etimologia hoje irreconhecível”. Nesse dicionário, é feita uma
mençãoreferência à palavra "amazonas" como uma expressão que significa se refere a um rio
com o mesmo nome, o que nos apontouindicando assim um indício do uso geográfico do
termo. Foi no O ano de 1873 que a dicionarística francesa começou a utilizar a palavra marca
o início do emprego do termo "Amazônia" na lexicografia francesa para designar uma área do
região no norte da América do Sul, marcando, na dicionarística. Isso representa, na análise da
lexicografia europeia analisada nessecontemplada neste estudo, a designação de uma parte da
Américado continente como "Amazônia. Essa". Esse é uma épocaum período em que
váriosdiversos viajantes começavamcomeçaram a tratar referir-se a essa parteregião do Brasil
pelo nome de "Amazônia, numa época em que", notavelmente quando a França possuía
relaçãomantinha uma conexão direta com essa área, através da presença da Guiana Francesa.
No mesmo dicionário, observamos verbetes formados por unidadesobservam-se
entradas lexicais que fazem referência à fauna e à flora da América relacionandodas
Américas, associando-as com osaos termos "amazonas" e "amazônico, vejamos:". Por
exemplo, no verbete “Half amazona” refere-se a “Espécies”, há referência a uma “Espécie de
papagaio da Guiana”; mais adiante, no verbete “Ordem”, os papagaios da Guiana são
referenciados da seguinte maneira: “ele [o papagaio amazônico] pertencedescritos como
“pertencentes à ordem das amazonas pelodevido ao vermelho que tem no chicote daspresente
nas asas”11. Ao tratar de um gênero de macacos da América do Sul, o dicionário em tela faz
menção àsmenciona as “forêts des bords de l'Amazone””, ou seja, as florestas das às margens
da Amazônia. Na composição do No verbete “Pampa” aparece a”, é atribuído o seguinte
significação: “vastasignificado: “ampla planície da América do Sul, ao redor decircundante a
Buenos-Ayres e na bacia amazônica”12. É relevante notar que, nos dicionários mais antigos
que circulavam na Europa, os termos que se ligam ao Brasil e à América há uma inclinação
para unidades lexicais e referências à natureza, como percebeu Filomena Gonçalves em
relação ao Vocabulário de Bluteau, compreendendo que “[...] as unidades lexicais relativas ao
Brasil dizem respeito sobretudo à fauna, à flora, aos acidentes geográficos, aos utensílios, aos
gentios, ao tipo de propriedade ou exploração agrícola”.13
Na dicionarísticaesfera lexicográfica espanhola, registramos apenasencontramos
somente duas referências em relação ao vocábulo menções ao termo "amazonas e ", sem

11
ORDEM, Émile Littré. Dicionário da língua francesa (Littré). Volume 3. Paris: Machadinha, 1873.
Disponível em: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17. Acesso em: 05 set. 2020)..
12
ORDEM , Émile Littré. Dicionário da língua francesa (Littré). Volume 3. Paris: Machadinha, 1873.
Disponível em: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17. Acesso em: 05 set. 2020.).
13
GONÇALVES, Maria Filomena. A marca lexicográfica “termo do Brasil” no Vocabulario Portuguez e Latino
de Rafael Bluteau. Alfa, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 205-228, 2006.
nenhuma faz referência ao termo "Amazônia entre os" nos séculos XVI e XVIII. Os registros
citados acima Essas referências estão em dois suportes semânticos: presentes em duas obras
semânticas: "Origen y etymología de todos los vocablos originales de la Lengua Castellana" Formatado: Fonte: Não Itálico

(1611), de autoria de Francisco de el Rosal, um médico natural de Córdova; "Vocabularium Formatado: Fonte: Não Itálico

Hispanicum Latinum et Anglicum copiossisimum, cum nonnullis vocum millibus


locupletatum, ac cum Linguae Hispanica Etymologijs" (1617), composto por Joanum Formatado: Fonte: Não Itálico

Browne, publicado inicialmente publicado em Londres. Nestes dicionários, o vocábulo termo


"amazonas aparece a partir de uma ligeira definição acerca de uma " é brevemente definido
como uma nação de mulheres guerreiras, privadas de que removiam um dos seios para
desenvolverpraticar exercícios de batalha, que faziam combate, levando uma vida sem livre
de homens, além do registro da variação etimológica. Além disso, é registrado um debate
etimológico em torno de “do termo "amazones”. Temos, nesse caso,". Essas fontes
apresentam o registro mais comum e antigo acerca das e comum sobre as Amazonas,
inclusive localizando-as com origem situando-as na Cítia (Europa). A dicionarísticaNo
contexto da lexicografia espanhola no período apresenta dessa época, os significados para
amazonas de forma associados às Amazonas são tratados de maneira concisa, rápida, sem
mais detalhes e discussãoou discussões adicionais.
Acerca dosEm relação aos dicionários consultados do no mundo luso-brasileiro, entre
o séculoos séculos XVI e XVIII, o destaque principal, e praticamente o único dicionário a
apresentar o vocábulo amazonas e termos correlatos foi o , é o "Vocabulario Portuguez e Formatado: Fonte: Não Itálico

latino" (1712-1728), escrito pelo padre de origem francesa Raphael Bluteau (1638-1734), que Formatado: Fonte: Não Itálico

registrou um maior de origem francesa. Esse dicionário apresenta um volume maior de


informações entre os dicionários consultados sobre a expressão em tela, referindo-se à
antiguidade das amazonas e suas localizações geográficas na Cítia e na Líbia. A expressão
“amazona”, emsobre o termo "amazonas" e seus correlatos. Raphael Bluteau, diferentemente
dos dicionários espanhóis, é mais detalhada discorre de forma mais abrangente sobre o
significado do termo, narrando a história das Amazonas na Eurásia e na África,
apresentandomencionando rainhas e até questionando aspectos, como o fato de não haver
provas da proximidade das amazonas com a suposta conexão entre as Amazonas e Alexandre
Magno. Aparecem os velhos significados do termo amazonas a partir da versão sobre as As
definições tradicionais das Amazonas como mulheres guerreiras, que usam arcos, sem
arqueiras, destituídas de um seio e originárias da Capadócia são mantidas.
Além de apresentarfornecer os antigos significados, tradicionais, "O Vocabulario Formatado: Fonte: Não Itálico

Portuguez e latino foi" vai além da mera descrição das Amazonas da região dana Eurásia, Formatado: Fonte: Não Itálico
visto que se propôs a apresentar certopropondo um debate de autores que acreditavam na
sobre a presença de amazonasdessas figuras em várias regiões, a exemplo da Etiopiacomo a
Etiópia Oriental e na a China. O texto dicionarístico ainda incursiona pela também se aventura
na obra "Eneida", do autor romano Virgílio, para citar as expressões latinas como
“Amazonidum” e “Amazonius”. NessaEssa ampliação de abordagem, nota-seenfoque também
inclui a citaçãomenção ao rio das Amazonas, logo tratou acercaexplorando a história de
Francisco Orelhano, Tenente general de Gonçalo Pizarro, que, durante uma expedição em
1540, teria denominadonomeado o rio o qual que navegava por como "Orelanna" e logo
depois de posteriormente "Amazonas em função da", devido à presença, de mulheres
"belicosas" em suas margens, de mulheres “belicosas”, que pareciam exercer
mandoautoridade sobre os homens, assim “imaginou ter achado as verdadeiras Amazonas, &.
Essa informação foi divulgada na Europa se publicou esta nova de sorte, que lhe ficou ao Rio,
perpetuando o nome Continua do rio.14 O Vocabulario Portuguez e latino
explanandodicionário continua, explicando que “Este Rio chamase por outro nome o graõ Formatado: Fonte: Não Itálico

Pará, & pellos da terra Paraguassu, que soa na nossa lingoa Largo mar. Amazonum fluvius, ij.
Masc. Outros lhe chamaõ Orelliana, ae. alludindo ao nome do seu primeiro descobridor”.15
O Vocabulario Portuguez e latino deixava entrever possíveis desdobramentos
semânticos no horizonte do vocábulo Amazônia, posto que apresentava outro termo
semelhante a expressão amazonas, a saber: “amazónio”, como se observa nos significados
apresentados:

Epitheto, que se dà a cousas concernentes às Amazonas. Monte Amazonio he hum


monte da Azia, cujas fraldas banha o rio Thermodon, assim chamado das Amazonas,
que viviaõ nos contornos do dito monte. Tambem ao monte Tauro por essa ou outra
semelhante razaõ se dà o título de Amazonio, ou Amazonico. Amazonios eraõ os
povos do Imperio das Amazonas. Amasonij, orum. Masc. Plur.{O graõ senhor dos
Turcos escreveo aos Amazonios. Lobo. Corte na Aldea, Dial. 3. pag. 72.}16

É imperativo notarmosessencial observarmos as significativas derivações importantes


do vocábulo termo "amazonas", tais como "amazonio, ", "amazônico" e "amazonios,
expressões que constituíram o percurso semântico para", as quais compuseram a trajetória
semântica em direção à concepção da Amazônia, sobretudo o termo principalmente a
expressão "amazônico.". A referênciamenção ao Monte amazonio e ao Tauro amazônico

14
BLUTEAU, Raphael. (1638-1734). Vocabulario Portuguez e latino (Volume 01, Letra A). Coimbra: Collegio
das Artes da Companhia de Jesus, 1712. In: Corpus Lexicográfico do Português. S/P. Disponível em: http://clp.
dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Palavras&opcao=Textos
15
Idem.
16
Idem.
constituemrepresenta uma marca espacial, além do assim como o império das amazonas; por
outro lado, apareceocorre uma marca em alusãoassociada aos povos desse império, como ou
seja, os "amazonios. A derivação". Essas derivações do vocábulo termo "amazonas foi
registrada" também nos seguintes foram registradas em dicionários luso-castelhanos,
respectivamente: específicos: no "Thesouro da lingua portugueza." (1697) de Bento Pereira, a Formatado: Fonte: Não Itálico

partir do no verbete “"Amazonius”" com o significado relacionado às “Coisas das Formatado: Fonte: Não Itálico

Amazonas”17; e em no "Diccionario castellano y portuguez para facilitar a los curiosos la Formatado: Fonte: Não Itálico

noticia de la lengua latina, con el uso del vocabulario portuguez y latino" (1721), também de
autoria do mesmo de Raphael Bluteau, comapresentando a palavra “"amazônio”" apenas com
“"id”", sem conteúdo.detalhamento.
O "Diccionario da Lingoa Portugueza" publicado pela Academia Real das Sciencias de Formatado: Fonte: Não Itálico

Lisboa (1793) seguiu, em parte, o tratotratamento das expressões "amazonas" e "amazonio" já


apresentadasdelineadas por Raphael Bluteau. A primeira unidadeentrada lexical foi “é
"almazona”", com o significado de amazonas. Logo em seguidaapós, o verbete “"amazona”
com a reprodução dos" reproduz os significados antigos difundidos na Europa sobre uma
sociedade de mulheres guerreiras que residiamresidentes na Citia, armadasequipadas com
arcos e aljavas, com relatos de mutilação etc, e que também teriam existido mutilações,
incluindo a sugestão de existência de amazonas na Etiópia. NesseNão há menção ao rio
Amazonas neste verbete, não se faz menção ao rio Amazonas.. A última unidadeentrada ou
verbete foi “é "Amazonio”", com a descrição de serem pertencentes às amazonas, com origem
latina “"amazonius”, com", fazendo referência à a uma carta do Grão Turco aos "amazonios"
e a uma amazônia que possuía uma aljava e possuía era rica em ouro. Neste dicionário, a
menção aoo rio Amazonas aparece atravésé mencionado por meio de unidades lexicais
ligadas tambémrelacionadas à fauna e à flora, a exemplo do queconforme já
elencamoselucidamos na dicionarísticalexicografia francesa. Na unidade “entrada "Anta” a
descrição aponta para que seja ", é descrito como um animal “"indígena da América”",
encontrado no Brasil, no Paraguai e no “Rio das Amazonas”18.
Apesar das possibilidadespossíveis conotações semânticas, é importante frisar que não
há qualquer menção aocrucial ressaltar que o conceito de Amazônia não é mencionado nos
dicionários luso-brasileiros examinados até o século XVIII,; de fato, a expressão praticamente

17
PEREIRA, Bento. Thesouro da lingua portugueza. 1697. In: Corpus Lexicográfico do Português. Disponível
em: http://clp. dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Palavras&opcao=Textos. Acesso em: 14 mar. 2021.
18
DICCIONARIO da Lingoa Portugueza publicado pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. (Tomo
Primeiro). Officina da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1793. Disponível em:
https://bibdig.biblioteca.unesp. br/handle out. 26033 Acesso em: 15 set. 2020.
inexistianão existia na linguagem entre os séculos XV e XVIII; se tomarmos por base a. Se
nos basearmos na lexicografia, apenas existiam as condições semânticas. eram as únicas
presentes. Menos ainda a existência desse nome como denominaçãose referia a essa
designação espacial de alguma parte dos domíniosterritórios sob domínio hispânico-lusosluso
na América. Apenas aparecerem como referências espaciais mais conhecidas nas acepções
dicionarizadas o “em termos de espaço eram registradas, tais como o "Rio das Amazonas”" e
o Pará e/ou GramGrão-Pará. O dicionário de Raphael Bluteau (1712-1728) se reporta
aomenciona o Pará como:

Primeyra Capitania da America Portugueza. Chama-se assim do rio, a que os


naturaes chamão Paraguassum, que soa em nossa lingua, Largo mar, & nós lhe
chamamos, Gram Parâ, & por outro nome, Rio das Amazonas. Vid. Amazonas. Naõ
tem esta Capitania mais que hum Forte, & huma povoaçaõ. Para, ae.§ Parâ. Certa
medida da Ilha de Ceilaõ.{(Esta Ilha toda he taõ prospera, que mandando o Rey da
Cotta semear duas paras de trigo, respondeo com sessenta. 19
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

Na transição do século XVIII para o século XIX, temos nos deparamos com o
Dicionário de Bluteau Revisto pelo brasileiro por Antônio de Moraes Silva, com a brasileiro, Formatado: Fonte: Não Itálico

cuja primeira edição data de 1789. AEsta obra marca a assinala o início da dicionarização
luso-brasileira, ou seja, uma caracterizada pela produção monolíngue do em português, com a
inserção de palavras brasileiras.que incorporou vocábulos brasileiros. Moraes resumiuSilva
condensou os oito volumes da obra de Bluteau em dois, provavelmente essa situação explique
a ausênciao que pode explicar a omissão dos verbetes "amazonas" e "amazonio.". No decorrer
do século XIX, o Dicionário de Moraes teve mais cinco edições adicionais (1813, 1823, 1831,
1844, 1858), sendo que, a partir de 1813, passou a ser intituladoadotou o título de Dicionário Formatado: Fonte: Não Itálico

da Língua Portuguesa. Somente em sua última edição aparecemforam incluídos os verbetes


"amazonas" e "amazônio. Na unidade “". O verbete "Amazonas” aparece " apresenta uma
descrição clássica, a começar pelo que diziam “tradicional, iniciando com o relato de "alguns
historiadores” sobre " acerca de uma sociedade de mulheres guerreiras originárias da Ásia
Menor. Assim como Conforme ocorria nos dicionários pretéritos anteriores do contexto
ibérico, "amazônio" é significadodefinido como algo pertencente às amazonas,
citandoincluindo a menção a uma “"amazonia aljava”.".

19
BLUTEAU, Rafael. Vocabulario portuguez, e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico ... :
autorizado com exemplos dos melhores escritores portuguezes , e latinos; e offerecido a El Rey de Portugal D.
Joaõ V. Coimbra, Collegio das Artes da Companhia de Jesu : Lisboa, Officina de Pascoal da Sylva, 1712-1728. 8
v; 2 Suplementos. Disponível em: https://www.bbm.usp.br/pt-br/dicionarios/vocabulario-portuguez-latino-
aulico-anatomico-architectonico/?page_number=4699#dic-viewer Acesso em: 18 set. 2021
Além dos dicionários bilíngues português-tupi ainda da época colonial, o dicionário
monolíngue de Moraes foi o mais amplamente utilizado e criou as condiçõespavimentou o
caminho para a futura dicionarística brasileira. Foi A partir da década de 1830,
especialmenteparticularmente em 1832, que surgiu o primeiro dicionário elaborado concebido
no Brasil, o Dicionário da Língua Brasileira, de Luiz Maria da Silva Pinto. NesseNeste
dicionário, notadestaca-se a ausência dos verbetes "Amazonas" e "Amazônia", assim como
nenhuma unidade léxica do verbete Amazonas, bem como não existe nenhum registro ou
unidade do léxicoportuguês brasileiro com a trazia tal denominação de Amazônia. O
Dicionário da Língua Brasileira, diferentemente. Ao contrário do dicionário de Antonio
Moraes, pautava-se pela ideia de o Dicionário da Língua Brasileira buscava estabelecer a
fundação de uma da dicionarística brasileira, buscava procurando diferenciar-se distinguir
como representante da língua brasileira e não mais, em detrimento da língua portuguesa.
Dantielli Garcia consideraobserva que, ao versar sobre o tratar do Brasil “[...], o lexicógrafo
deixou de lado osoptou por omitir exemplos literários – literatura Nacional –, nacionais, assim
como o vocabulário indígena. Evitou, evitando, assim, que esses outros sentidosaspectos
ressoassem no dizer sobre o em sua descrição do Brasil”..
AindaContinuando no século XIX, registra-se o aparecimento dos testemunhamos o
surgimento de dicionários com a função de complementocomplementares aos dicionários
portugueses, a exemplo do "Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos Formatado: Fonte: Não Itálico

dicionários da língua portuguesa" (1853), de Braz da Costa Rubim. NesteEste dicionário,


tambémda mesma forma, não existem verbetes sobrecontém entradas para as palavras
"amazonas" ou "Amazônia, bem como ", e suas derivações. Apenas aparece A palavra
"amazonas ligada" apenas aparece relacionada ao rio no verbete “"poreroca” que diz respeito
", referindo-se ao choqueencontro das águas do rio com as águas do mar. Ademais, aparecem
vários verbetes relacionadosdiversas entradas estão ligadas às etnias nativas da região,
significadasdesignadas como “"cabilda de sylvícolas”" ou “"hordas de aborígenes” que
habitam a " habitantes da província do Pará. Nesse contexto, a dimensão espacial
dogeográfica daquilo que hojeagora é conhecidaconhecido como a região amazônica era
compreendida como Pará no dicionário, basta perceber as diversas citaçõesuma vez que
inúmeras menções dessa palavra ligadaestão vinculadas a frutos da regiãoregionais, como
açaí, carajuru, cumauaru, entre outrasoutros.
Na fase inicial dos dicionários brasileiros, em que surgiamNos primórdios da
lexicografia brasileira, quando emergiram os dicionários de complementação, a exemplo
dosincluindo os dicionários de regionalismos, como o de Antônio Álvares Pereira Coruja,
intitulado "Coleção de vocábulos e frases usados na Província de São Pedro do Rio Grande do Formatado: Fonte: Não Itálico

Sul" (1852), e o "Diccionario topográfico, histórico e descriptivo da Comarca do Alto Formatado: Fonte: Não Itálico

Amazonas" (1852), de autoria do membro do IHGB e capitão-tenente da Marinha, Lourenço Formatado: Fonte: Não Itálico

da Silva Araújo e Amazonas, natural da Bahia e com vivênciaexperiência no Rio de Janeiro e


no Pará. Lourenço da Silva desenvolveu seu trabalho em consonânciasintonia com o projeto
de construção do Estado Nacional, logo sua missão erabuscando descrever o território da
antiga Comarca do Rio Negro, com vistaso objetivo de ampliar a complementar o
entendimentocompreensão da história nacional. O dicionário de Lourenço da Silva
constituiuconfigurou um inventário que se propôs a descrever as dimensões físicas,
climáticas, hidrográficasabarcar aspectos físicos, climáticos, hidrográficos, minerais,
produtivas, linguísticas e etnográficasprodutivos, linguísticos e etnográficos da região norte
do Império, uma área consideradade considerável importância estratégica por ser um espaço
de fronteira. Naqueledada sua natureza fronteiriça. Nesse momento inicialpioneiro da década
de 1850, era importanteimperativo para o Governo Central conhecer as obter conhecimento
acerca das áreas mais distantes do centro do de poder, além de complementar
ascomplementando informações sobre essa parte do país já levantadas pelos previamente
registradas por cronistas anteriores que a descreveram. documentaram essa região.
No dicionário em tela, compostoanálise, compilado por Lourenço da Silva, aparecem
encontram-se quatro verbetes intitulados “sob o título "Amazonas”,", todos com o teoreles de
cunho geográfico, muito mais ligadospredominantemente vinculados à hidrografia e
desligadosdissociados da tradição dicionarística ocidental que tratouabordou o termo a partirà
luz do seu significado lendário das , relacionado às mulheres guerreiras originárias da Grécia.
Nesse momento, notamos uma significativa variaçãoNeste contexto, é perceptível uma
considerável evolução semântica da palavra, pois, embora as dicionarísticas francesaos
dicionários franceses e portuguesaportugueses tenham elencadoestabelecido a ligaçãoconexão
da expressão com o rio, foi somente com oatravés do dicionário de Lourenço da Silva que a
palavra “"Amazonas” – concebido " - agora entendida em termos geográficos – preponderou
em detrimento da - passou a predominar sobre a carga semântica mítica e europeia.
DosDentre os quatro verbetes sobre o "Amazonas,", apenas um tem comoatribui o significado
ada palavra “a "Icamiába”, palavra que diz respeito ao ", termo que designou asalude às
mulheres indígenas como integrantes de uma sociedade de mulheres guerreiras. “"Icamiába”
ainda aparece" também é identificado no dicionário como sinônimo das de "amazonas" no
verbete “"Guiana” tratando da", referindo-se à sociedade de mulheres guerreiras que Orelhana
enfrentouencontrou na região. Nos demais verbetes, "Amazonas diz respeito à composição do
território, das comarcas" se refere à configuração territorial, divisões administrativas,
fortificações e delimitaçõesdemarcações da região. Provavelmente, É plausível supor que o
autor do dicionário optou por diferenciar semanticamente tenha deliberadamente optado por
estabelecer uma distinção semântica entre "Amazonas" como significado do referência ao rio
e "Icambiábas" como identificaçãodesignação do mito das amazonas, o que denota uma
tendência de torção semânticaindicando assim uma inclinação para remodelar o sentido da
palavra.
Além dissoAdicionalmente, o "Diccionario topográfico, histórico e descriptivo da Formatado: Fonte: Não Itálico

Comarca do Alto Amazonas" foi praticamente, de maneira prática, o primeiro dicionário Formatado: Fonte: Não Itálico

brasileiro no qual em que o termo "Amazônia" foi utilizadoempregado para


denominaridentificar um recorte regional, para tanto, resumimos. Resumindo o aparecimento
do termo nos verbetes correspondentes a partir do, podemos recorrer ao quadro a seguir: Formatado: Fonte: 9 pt

Formatado: Espaço Depois de: 0 pt, Não adicionar


Quadro 01: Menções à palavra Amazônia nos conteúdos dos verbetes selecionados do Diccionario topográfico, espaço entre parágrafos do mesmo estilo
histórico e descriptivo da Comarca do Alto Amazonas (1852).
Verbete Significados
Alto-Amazonas “(Comarca de S. José do) da Província do Pará [...]”. “[...] Comprehende a comarca as
regiões da Amazonia, seguintes: – Guiana, Mundurucania e Solimões[...]”. [...] três
grandes divisões naturaes, efeito da disposição do território, a saber: Amazonas, Solimões
e Rio Negro”.20
Cumiari “R. da Guian., na margem esquerda do Japura [...]”. Requena, comissário plenipotenciario
hespanhol em seu affinco de encurtar as possessões portuguesas na Amazonia, recusou
demarcar, como cumpria, por este rio [...]”.21
Directorio “[...] regular a administração dos indígenas[...]”. “[...] com que teve de lutar o Directorio
para o seu desempenho em uma sociedade lassa da administração, que até então a
contivera, tendente a dissolver-se por maquinações dos jesuítas [...]” “[...] os quais
pretendiam tornar a Amazonia o antigo deserto”.22
Solimões “Existem na Amazonia dous rios com o nome de Beni”.23
Fonte: Amazonas (1852).
Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm, Primeira linha:
1,25 cm, À direita: 0 cm
É possível vislumbrar certa ligação do uso da palavra discernir uma conexão entre o
uso do termo "Amazônia conexa ao" e o território da antiga Comarca do Rio Negro, que,
justamente em 1852 passava, passou a ser a Província do Amazonas. PercebeObserva-se que,
no início da década de 1850, com o estabelecimento de mais uma província na área norte às
margenssetentrional ao longo do rio Amazonas, a nomenclatura "Amazônia passou" começou
a ser utilizadaempregada para concederdelinear uma ideianoção de região, antes vista sobre o
prisma de anteriormente abordada sob a perspectiva do Grão-Pará ou Pará, visto que além

20
AMAZONAS, Lourenço da Silva Araújo e. Diccionario topographico, historico, descriptivo da comarca do
Alto-Amazonas. Recife: Typ. commercial de Meira Henriques, 1852, p. 11. Disponível em:
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3135
21
Ibidem, p. 100.
22
Ibidem, p. 105.
23
Ibidem, p. 332.
desta amostra através do . Isto é corroborado tanto pelo registro presente no dicionário em
tela, nos análise quanto por discursos políticos no Parlamento brasileiro e , bem como em
propostas de redivisão do território nacional, também observamos o uso da palavra
reorganização territorial do país, nos quais é perceptível o emprego do termo no contexto deda
criação da nova província brasileira.
EssaEsta situação acima converge para se pensar a nos remete à importância dos
apontamentos feitosdas observações feitas pelo sociólogo e teórico da culturacultural galês
Raymond Willians, ocasião emWilliams, que destaca que o autor considera que “"os
significados das palavras são interessantes. Muitas vezes, porém, o notáveis. Contudo,
frequentemente, o aspecto mais interessantenotável é a sua variaçãoevolução subsequente”.24
Em outras palavras, tal como se observaevidencia acima, o termo “vocábulo "Amazônia”
apareceu" inicialmente emergiu em dicionários estrangeiros como com um significado
ligadoassociado às rainhas das amazonas, logo falava-seremetendo à ideia de rainhas que
reinavamreinantes em um espaçocenário mítico e da Antiguidade: a Amazônia. Também
lembramos doMenciona-se também o uso do termo para se referir à própria mulher
amazonaàs próprias mulheres amazonas como uma "amazonia. Todavia". No entanto, a
dobramudança semântica visualizadaidentificada no "Dicionário topográfico aponta para " Formatado: Fonte: Não Itálico

direciona a noção de Amazônia como para uma região localizada no ao norte do Brasil.
Em 1859, foi publicado no Brasil o "Dicionário da Língua Portuguesa, em ", uma Formatado: Fonte: Não Itálico

homenagem ao Imperador D. Pedro II, de autoria de Eduardo de Faria, proposto como o. Este
dicionário foi promovido como o mais exatopreciso e mais completo de todos os dicionários à
sua época, vistouma vez que seu autor consideravaavaliou as produçõesobras de Bluteau e
Morais como inexatainexatas e incompletaincompletas, respectivamente. A obracontribuição
de Eduardo de Faria foi praticamente o primeiro dicionário voltado para o léxico luso-
brasileiro a conter um verbete dedicado aoinclusão do termo “"Amazonia”, todavia,", embora
este não aludiaesteja associado a um recorteuma delimitação regional, tendo apresentado
como significado sermas sim se refira a Amazonia uma planta herbácea da Índia. Trouxe
ainda osO dicionário também apresenta vocábulos correlatos, tais como “"amazonio”
significado como", que significa pertencente às amazonas, e “"amazônico”", definido como
monte da Capadócia,; ambos seguiramseguem a dicionarização proveniente da tradição
dicionarística ocidental.

24
WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um Vocabulário de Cultura e Sociedade. Editora: Boitempo
Editorial, 2007.
O dicionário de Eduardo Faria foi produzido com fins de reforçar a unidade nacional
através da língua, logo sua missão voltava-se para a pátria, para o país, notadamente sob o
comando de um imperador. Essa situação permite perceber que não havia interesse sobre o
tema regional, visto a preocupação com o nacional. As referências geográficas do norte
amazônico foram feitas por vias dos termos rio Amazonas, Província do Pará e pelo verbete
“Eldorado”, momento em que se cita um país imaginário da América Meridional que teria
possivelmente se situado no Amazonas, sobretudo por ser visto como lugar de grande
quantidade de ouro cuja capital seria Manoa, tida como capital desta região.
O "Dicionário de Botânica Brasileira" (1873), coordenado e regidoorganizado por Formatado: Fonte: Não Itálico

Joaquim de Almeida Pinto, a partir dos manuscritos de Arruda Câmara, e revisado pela
Sociedade Velosiana e aprovado pela , com aprovação da Faculdade de Medicina da Corte,
apresenta inclui vários verbetes sobre vegetais que descritos como origináriosplantas nativas
ou que possuíam com presença nas “"regiões amazônicas”.". A referência geográfica regional
aparece emerge cerca de uma década depois do após o uso nos do termo em discursos
parlamentares, oportunidade em que a . Este emprego da ideia de região amazônica foi
utilizada pelos adotado por representantes políticos paraensesdo Pará para ampliarem o
espaço de atuaçãoampliar a sua influência no Norte do Brasil. Além do quedisso, é preciso
lembrarrelevante notar que no mundoâmbito botânico e nas discussões ligadasrelacionadas à
natureza, os vocábulos termos "Amazônia" e "região amazônica" já circulavam entreeram
utilizados por viajantes e homens de ciência dacientistas durante a segunda metade do século
XIX, especialmente por aqueles que realizavamconduziam expedições pelo rio Amazonas.
A análise com base nos dicionários foi realizadaconduzida até a década de 1870, haja
vistauma vez que a partir dessedeste período, especialmente a partir de após 1880, os
vocábulos termos "região amazônica" e "Amazônia já eram utilizados com maior frequência"
passaram a ser frequentemente empregados para denominardesignar um recorte regional
brasileiro.no Brasil. O percurso dessesdestes termos nos dicionários foi importanterevelou-se
significativo até esseeste ponto para evidenciar as variações, as torções semânticas e a
variedadea evolução, a transformação semântica e a diversidade de significados aplicados,
pois permite atribuídos, permitindo compreender essencialmente, sobretudo, que o uso dosa
utilização destes termos para nomearidentificar a região não foi desde sempre, a nomeação
regional temuma constante, tampouco emergiu espontaneamente. A concepção de região
amazônica possui a sua própria história, dada sua historicidade cheia de significados.
trajetória histórica, repleta de conotações.
Além do mais, interessa-nos evidenciar que a incursão na Adicionalmente, é pertinente
destacar que a exploração da dicionarística demonstra que o termo "Amazônia" não foi
utilizadoempregado até o século XIX comopara delinear uma delimitação geográfica regional
para uma de alguma parte da América, bem como não foi utilizado. Da mesma forma, não se
pode identificar a utilização deste termo como conceito político dentro de um projeto também
político das elites da região amazônica. PodeEvidencia-se notar que, antes do século XIX
praticamente não eram utilizados, os termos "região amazônica" e "Amazônia" eram
praticamente inexistentes como referências geográficas da para a área às margensao longo do
rio Amazonas. A cartografia e a literatura de viagem faziam uso deutilizavam outras
nomenclaturasdenominações para denominar esse recorte geográfico. Adescrever esta área
geográfica. Qualquer menção de algum modo à “"república amazônica”,", por exemplo,
apareceuestava relacionada apenas como referência a um possível espaço do associado ao
mito das mulheres guerreiras, as amazonas, de modo que não fazia nenhuma referência ao
amazonas, sem qualquer vínculo com o conceito moderno de Amazônia. EsseEste primeiro
capítulo possuidesempenha a função justamenteprimordial de demonstrardestacar que,
embora haja basesfundamentos para o conceitoa concepção de Amazônia, eleesta deve ser
concebidocompreendida a partir de uma dimensãoperspectiva política e identitária, haja vista
o fato de . Destaca-se que esta concepção não o é desde sempreintrínseca, não surgiu do nada,
nemde forma automática e não acompanhou o momento processo inicial de configuração da
região pelo agente externoregional levado a cabo por influência externa.
Por outro lado, os significados deassociados a uma terra opulenta, de terra pouca
escassamente habitada e a espera pelo progresso já passaram a ser com expectativas de
desenvolvimento foram construídos nos primeiros temposmomentos do domínio branco e
europeu sobre ana região. EssesEstes significados, reconfigurados, passaram a compor, de
forma ressignificada, o instrumental o arcabouço de significados do conceito moderno de
Amazônia, o qual pretendemos estudar nesse trabalho, visto que “é o foco deste estudo. É
crucial analisar esta transformação a partir de uma perspectiva política e identitária, uma vez
que "todo conceito fundamental contémcarrega, em diferentes graus de profundidade,
parcelasvariados, traços de significados passados, assimbem como expectativas de
futurofuturas com pesos diversos”.diferentes níveis de importância". Além disso, a análise do
que, o campo lexical é importanteemerge como um aliado essencial para a compreensão do
processo de invenção da ideia de Amazônia, permitindo rastrear os significados
pretéritosanteriores das palavras “"amazônica”" e “"Amazônia”, o que colabora". Tal
abordagem contribui diretamente para o entendimentoa compreensão de que tais
denominações pouco tinham a verestas designações possuíam pouca relação com a concepção
política das citadasdessas palavras no contexto do século XIX, como veremos adiante. Para
rastrearmosconforme será detalhado a seguir. A fim de investigar a construção regional a
partir da concepçãoideia de Amazônia, é imprescindível estudarmostorna-se imperativo
examinar a formação política dessa parteparcela da América do Sul, passando em
revistarevisitar desde a formação doda região Norte até o Grão-Pará, bem como a formatação
da dimensãoalém de analisar a configuração territorial dessa área, incluindo as formas de
nomeação, por parte das adotadas pelas entidades estatais no durante o processo de ocupação
e domínio sobre essa áreacontrole do território.

2.2 Do Rio das Amazonas ao Pays das Amazonas

A formação conceitual que resultouculminou na linguagem e nomenclatura


"Amazônia possuiu " é fruto de um histórico de experiências para sua formação, logo se faz
necessário passar pelo que demanda exploração. Nesse sentido, é imperativo abordar o termo
"Amazonas, pois ", uma vez que conceitos como o de Amazônia, “estão sempre engatadas são
intrinsecamente interligados em redes conceituais” e devem ser analisados conjuntamente aos
“[...] em conjunto com os conceitos que frequentemente o acompanham ou estão na sua
vizinhançacorrelatos, como afirmou enfatizado por Koselleck. Assim Portanto, o termo
"Amazonas chegou às" foi introduzido nas Américas através de uma complexa intricada e
antigaancestral rede discursiva europeia, que ao longo do tempo alimentou, por muito tempo,
uma variada gamavariedade de imagens sobre outros lugares fora de seuacerca de territórios
além do próprio continente. Na época das expansões marítimas europeias diversos europeu.
Durante as épocas de expansão marítima europeia, uma multiplicidade de mitos e narrativas
fabulosas foram produzidasgeradas ou apropriadasassimiladas como formas de explicação do
não conhecido e da própria elucidar o desconhecido, além de moldar a percepção do europeu
acerca do europeia sobre o "outro, o que equivale a falarmos na construção de alteridades
acerca de ", representado por povos e lugares distantes, como a América, Ásia e África. No
caso da Ao considerarmos a América é imperioso considerar nesse contexto, é essencial
reconhecer a sua invenção e nesteenquanto uma realidade construída, processo a utilizaçãono
qual se valeu de um variado instrumentaldiversificado conjunto de inteligibilidadeferramentas
conceituais de origem europeia.
O historiador mexicano Edmundo O’Gorman, em trabalho de comprovado fôlego, sua
abrangente obra "A Invenção da América" (1992), já demonstrouelucidou a inutilidade da Formatado: Fonte: Não Itálico
ideiainadequação do conceito de "descoberta" e apresentou a amplaperspicaz tese da invenção
da América através do pensamentoda perspectiva ocidental. Ao operarquestionar a crítica à
teseideia de descoberta, o autor utiliza o pensamentodescobrimento, O’Gorman se vale das
reflexões do frei espanhol que viveu no chamado Novo Mundo, Bartolomeu de Las Casas,
visando problematizar os grandes argumentos que justificavamresidente no denominado Novo
Mundo, para abalar os principais fundamentos que sustentavam a teoria da descoberta, por sua
vez, evidenciado descobrimento. Ele demonstra que uma das premissas centrais dessa teoria
foi a concepção providencialistacrença na providência divina, ou seja, que o descobrimentoa
descoberta da América foi se deu por desígnio divino. Para tanto, Las Casas para , ao explicar
ocomo Cristóvão Colombo tinha conhecimento de Colombo sobre a da existência da Índia
juntou “[...] numa, reuniu uma heterogênea e indigesta mescla,intrincada miscelânea que
incluiu o mito da Atlântida, os chamados versos proféticos de atribuídos a Sêneca, a lenda
dode um piloto anônimo e até a teoria das Hespérides de Oviedo.25 Nestes termos, observa-se
um misto. Esta compilação revela uma amalgama de lendas e teorias que vistas apenas do
ponto de partida do frei espanhol, permite-nos aventar que tal , ao serem analisadas sob a
perspectiva de Las Casas, sugere a presença dessa complexa situação também esteve presente
nos vários em diversos momentos e nos diversos pontos instauradores de contextos que
permearam a construção das explicações para com orelacionadas ao processo de colonização
e conquista da América.
A filóloga hispânica Azuar (2010) reforça fortalece a tese de que mitos da antiguidade
foram transplantados àtranspostos para a América e que , sendo o caso das amazonas
exemplifica a um exemplo representativo da retórica colonial da alteridade, sobretudo por
meio da. Isso é particularmente evidente pela visão ocidental e masculina ocidental
colonizadora que vinculoudos colonizadores, que estabeleceram uma conexão entre o mito
das mulheres guerreiras come a América, ambas tidas como femininas, deassociadas à
feminilidade e a um poder absorvente a serem dominadas, possuídas, convertidas, visto seu
perfil rebelde, selvagem, misterioso, oculto, lunar, comser subjugado, dominado e convertido.
Esta associação foi alicerçada nas características consideradas rebeldes, selvagens,
misteriosas, ocultas e lunares, além de apetites considerados estranhos que culminaram,
culminando na narrativa antropofágica do canibalismo americano convertendo a ideia, como
veremos logo mais, de. Essa narrativa contribuiu para transformar a noção das amazonas da
Antiguidade “matadoras, que eram percebidas como "assassinas de homens”", para as

25
O’GORMAN, E. A Invenção da América. Reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do seu
devir. São Paulo: Ed. da UNESP, 1992, p. 39.
amazonas americanas “, que eram interpretadas como "devoradoras de homens”. Para". Azuar Formatado: Português (Brasil)

argumenta que: Formatado: Português (Brasil)

Todo eso tiene una sencilla explicación, relacionada tanto con la economía
representativa de la alteridad (en femenino) como con la reactivación moderna-
colonial del mito clássico de la amazona, para la que la antropofagia, además de ser
el signo máximo del salvajismo y el extremo imaginario del miedo masculino al
poder ‘absorbente’ de lo femenino, lo es también del temor al Otro en el espacio de
su dominio: representa la contingencia de que esa absoluta otredad desnuda y
disponible que se asoció alegóricamente con América fuera a su vez deseante y
devoradora26.
Formatado: Português (Brasil)

A projeção da imagem selvagem projetada sobre a América possuíaencontra suas Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

basesraízes históricas e o próprio conceito de "amazona guarda" mantém relações intrínsecas


com os significadosas conotações dessa palavra ainda no mundo grego.na Grécia antiga. Para
os gregos, os Citas teriam a vereram associados, em seus inícios, com certa idade dos
monstros,primórdios, a uma era de criaturas monstruosas. Desde Equidna dos relatos , figura
presente em narrativas gregas comuns gregos à , até a referência a mixopárthernos de feita por Formatado: Fonte: Não Itálico

Heródoto tem-se a ideia, há uma concepção de um ser seres meio humano, humanos e meio
animal. Foi justamente na animais. A Cítia que as narrativas gregas localizaram o
estabelecimento das amazonas , mais especificamente às margens do rio Termondonte,
advindasfoi o local no qual as narrativas gregas situaram as amazonas, alegadamente oriundas
da região do Cáucaso, na Ásia Ocidental. Em Heródoto, No Livro IV de suas "Histórias, é Formatado: Fonte: Não Itálico

exposta a visão", Heródoto expressa a perspectiva grega de alteridade sobre as em relação às Formatado: Fonte: Não Itálico

amazonas, mencionandodestacando que os próprios citas consideramdesignam essas mulheres


guerreiras a partiratravés do termo oiórpata, nome"oioipatês", que em grego se traduz como
“matadorassignifica “assassinas de machos”. Para o homens”. François Hartog, historiador
francês François Hartog, , ressalta que Heródoto não citou a optou por essa terminologia ao
invés da tradução etimológica da palavra no grego popular grego , que se remeteremetia a "a- Formatado: Fonte: Não Itálico

mazós,", que pode ser interpretado como “sem seio”, preferindo o termo oiórpata. É
perceptível, assim, o interesse”. Esse enfoque grego em classificar certa visão sobre asna
nomenclatura das amazonas. é evidente e significativo.
Além do maisAdemais, Hartog ressaltaenfatiza que o ato de nomear não é
neutrodesprovido de intenções e está intrinsecamente ligado à retórica da alteridade, vistouma
vez que impor oum nome revelacarrega consigo certo poder e que tal. Esse ato é muito mais

26
AZUAR, Remedios Mataix. Androcentrismo, Eurocentrismo, Retórica Colonial: Amazonas en América.
América Sin Nombre, nº 15, p. 118-136, 2010. ISSN: 1577-3442 / e ISSN: 1989-9831 P. 126.
do que vai além de uma simples fala, por isso, consideraarticulação verbal, sendo que,
conforme coloca Hartog que “sabe-se que, , “desde a narrativa do Gênesis, sabemos que a
nomeação supõesimplica domínio: renomeandoao renomear as criaturas de Deus, Adão
proclama, ao mesmo tempo, sua preeminênciasuperioridade sobre elas”. Outra questão
importante levantada Outro aspecto relevante levantado por Hartog diz respeito à relação
doentre o nome come a produçãoconstrução de imagem, pois utilizando como exemplo a
questão dos imagens. Tomando os nomes dos deuses gregos como exemplo, ele esclarece que
o nome do deus expressa a um nome de uma divindade não apenas transmite uma
representação sonora e, mas também encapsula uma imagem daquilo que representa. O termo
"amazona" atesta o poder daqueles que conferiram esse nome, encapsula o domínio daqueles
que os nomes eram, na verdade, imagens das coisas. O nome “amazonas” revela o poder do
que as nomeou, traduz o poder de quem se interessou em escolheram nomeá-las.
SobreConsiderando a nomeação e o conceito de "Amazonas no mundo grego" na Grécia
Antiga, segue a definição do presente no "Dicionário de Mitologia Grega e Romana:". Formatado: Fonte: Não Itálico

As Amazonas veneravam, particularmente, a deusa Ártemis, de quem seguiam,


escrupulosamente, o exemplo (atribuísse-lhes a fundação da cidade de Éfeso e do
famoso templo de Ártemis, uma das maravilhas do mundo antigo). Uma vez por
ano, elas aceitavam no seu reino a presença de homens, a fim de assegurar a sua
descendência, mas matavam ou mutilavam todos os recém-nascidos do sexo
masculino. As filhas retiravam o seio direito', a fim de lhes permitir manejar o arco
mais comodamente. Segundo a lenda, as Amazonas aparecem, constantemente, em
oposição aos Gregos.
Amazona significaria, assim: privada de um seio; mesmo que se considere o prefixo
a como um aumentativo, de qualquer modo a palavra significa: mamal, e aplica-se
então, perfeitamente, a Ártemis de Peso. Se não tivermos em conta a etimologia da
palavra, o nome Amazona é dado hoje em dia às mulheres que montam a cavalo27.
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

Toda a carga semântica e de alteridade atribuídasque historicamente se atribuiu às


amazonas no mundocontexto ocidental acabou por ser investidofoi, em última instância,
projetada sobre os povos que viviam na América.habitavam o continente americano. Em
relação à imagemrepresentação feminina da América, pode se notar que metaforicamente foi
sendo gestada é possível observar uma gestação metafórica que a exemplo de concebeu como
um corpo a ser escrito, como evidencioudescrito, conforme indicou Michel de Certeau, para
quem . De acordo com Certeau, Américo Vespúcio, tido comocomumente considerado o
"descobridor, de posse", chegou ao Ocidente munido de armas europeias e vindodesembarcou
em navios aportam no Ocidente e “diante dele, deparando-se com a América índia, mulher

27
HACQUARD, Georges. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. [S.l.]: Divisão Gráfica das Edições ASA.
1 .@ edição: 1996.
indígena, uma figura feminina estendida, nua, desprovida de vestes, uma presença não
nomeadareconhecida da diferença, um corpo que desperta numemerge em meio a um espaço
repleto de vegetaçõesvegetação e animais exóticos”.. Segundo Certeau, nestenesse momento,
o conquistador irá operarempreenderá a escrita do sobre o corpo do Outro e, inscrevendo nele
marcar a sua própria história. Esse narrativa histórica. Tal perspectiva do historiador francês
está referindo-se remete à escritaprática da história conquistadora que passou a funcionar na
escritacolonização ocidental colonizando corpos, pois “utilizará, que utilizou o Novo Mundo
como uma páginaum "papel em branco" (selvagem) para nela escrever o querer ocidental”
registrar a vontade do Ocidente. 28
Um dos mais antigosprimeiros textos sobre a ideiatratar da noção de descoberta da
América, por exemplo, foi intitulado de o "Sumário de La Natural História de Las Índias, de Formatado: Fonte: Não Itálico

autoria" de Gonçalo Fernández de Oviedo, em datado de 1526, uma referência feminina do


exemplifica essa dinâmica de atribuir características femininas ao espaço e que . Inicialmente,
para os espanhóis inicialmente passava, tal texto passou a denominarnomear o então chamado
Novo Mundo. No Esse processo de invençãoconstrução da América, ocorreu revela uma
nítida e inicialmarcante perspectiva de alteridade, associada primeiramente ao elemento
feminino.
Vannesa Fonseca, ao estudar o porquê daAo examinar o motivo subjacente à
feminização do nome "América,", especialmente no momento que tratacontexto da mitologia
colonial acerca darelacionada à ilha denominada “Antilia”,"Antília", Vannesa Fonseca
esclarece que:

Por outro lado, a mulher e a ilha, estão unidas em laços simbólicos. Ambos são
concebidos como espaços a conquistar, onde os mistérios, recompensas espirituais,
tesouros, em suma, o inesperado são recompensas espirituais, tesouros, em suma, o
inesperado. Algumas ilhas de diferentes tradições mitológicas são também habitadas
por mulheres.29
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm

O A compreensão de Fonseca revela que o uso do nome "América" e sua feminização


é, na compreensão de Fonseca, uma vontaderepresentam um exercício de poder, de e
dominação, diante de toda a cargaem contraposição à forte conotação masculina advinda
doque permeava o mundo ocidental aplicada aoe se refletia no processo de colonização dessa

28
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982, p. 9.
29
No original: “Por otra parte, la mujer y la isla se unen en lazos simbólicos. Ambas se conciben como espacios
susceptibles de ser conquistados, donde se guardan misterios, recompensas espirituales, tesoros , en fin, lo
inesperado. Algunas islas de diferentes tradiciones mitológicas también están habitadas por mujeres. Cf.:
GOZALEZ, Vanessa Fonseca. (1). América es nombre de mujer. Revista Reflexiones, 58(1), p. 7. Disponível
em: de https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/reflexiones/article/view/10965 Acesso em: 15 maio 2021.
área, vistoregião. Nota-se que, em uma alusão ao seu descobridor, a América
significava,ganhava a conotação de "terra de Américo", e esse significado prevalecia para
muitos naqueles tempos de conquistana era das conquistas. Nesse contexto, a “terra de
Américo”. Foi nessa terra que muitosdenominada América servia como palco para a
reatualização de diversos mitos oriundos do mundo antigo e medieval foram reatualizados e .
Esses mitos desempenharam considerávelum papel para significativo ao atrair a atenção do
mundo europeu para essa parte do globo o mundo europeu, a exemplo, exemplificado no caso
do Eldorado e asdas amazonas.
Em outra análise realizada por Fonseca, em outro estudo, desta feita sobre aque se
volta à erotização do continente americano, destaca justamenteé salientada a presença
proeminente das amazonas nesse campono âmbito imaginário e mitológico que sustentava.
Tais figuras sustentavam a ideia de uma América virgem e que aguçava as, evocando uma
aura de exotismo que despertava o interesse das expedições eeuropeias e estimulava a
curiosidade pelo exotismo daem relação à região:

Uma atitude semelhante em relação à visão da América assumiria alguns


descobridores e conquistadores posteriores. A tentação irresistível do invisível, da
imagem sedutora das Amazonas, cidades de ouro, fontes de eterna juventude,
plantas com propriedades maravilhosas, não só promoveram, mas também
produziram grandes avanços no conhecimento do continente.30
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm, Não ajustar
espaço entre o texto latino e asiático, Não ajustar espaço
O próprio nome América fez parte do processo de invenção imagéticaimagético- entre o texto asiático e números
discursiva do continente, dado que antes do uso desse nome, se entrelaça com a nomeação de Formatado: Não ajustar espaço entre o texto latino e
asiático, Não ajustar espaço entre o texto asiático e
América, a qual sucedeu outros foramtermos utilizados para denominaridentificar as novas números
terras da Coroa espanhola, a saber: Índias e Novo Mundo. ParaSegundo Adão Arturo, o esse
percurso para se chegar à de denominação do continente passou por compreende três
momentos: primeirofases distintas: inicialmente, no período da chegada dos europeus a
estasessas terras, tendo como ponto alto a notadamente marcado pela chegada de Colombo,
em 1492, não existia o nomea noção e nem a ideianomenclatura de América; ainda não
existiam; em segundo, no momento posterior marcado pela viagem lugar, num estágio
subsequente, caracterizado pela expedição de Américo Vespúcio, entre 1501 e 1502, a ideia
apareceu e atuava, mas o nome não existia, de modo que se forjaram as denominações de do
continente começou a se consolidar, embora a designação não tenha emergido naquele
momento. Foram cunhados então termos como Mundus Novus e Nuevo Mundo, conferindo Formatado: Fonte: Não Itálico
Formatado: Fonte: Não Itálico
30
GOZALEZ, Vanessa Fonseca. Visión y trazo de America.la erotizacion del continente. Revista Reflexiones,
30(1). Disponível em: https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/reflexiones/article/view/10802 Acesso em: 15 maio
2021.
ideia a uma essa nova parte do mundo diferente dos antigosparcela do globo uma identidade
diferenciada em relação aos continentes; terceiro, foi somente ancestrais; finalmente, em 1507
que o continente foi batizado de , o nome "América, em alusão" foi oficialmente atribuído ao
continente, em uma homenagem a seu revelador.descobridor.
Além do mais, a área às margens do Ademais, a região adjacente ao rio Amazonas,
além do exotismo e do perfil selvagem e bárbaro que lhe foi imputadade ter sido revestida
pela Europa de uma carga exótica, selvagem e bárbara, também foi sendo construídamoldada
discursivamente a partirpor meio da assimilação de mitos reproduzidos e até “, muitos dos
quais "transplantados”" para o contexto americano, é possível notar a forte presença da ideia
de um reino do ouro e . Verifica-se uma recorrência na formação de riquezas. Praticamente
em todos os tempos as sociedades pensaram, por exemplo, em concepções sobre lugares
mágicos livres de dores e miséria. Desse quadro, pode-se notar o surgimento de lugares de
muita farturaabundância e riqueza, a exemplo daespaços utópicos isentos de adversidades e
privações. Nesse cenário, emergem narrativas como a lenda do reino do Preste João da Índia,
procurado pela grande que se difundiu da Ásia e à África chegando até a América, e
transformado na e atravessou fronteiras até alcançar as Américas, onde transformou-se na
conhecida lenda do El Dourado,Eldorado – um lago cheio de ourodourado situado no
centrocoração do continente americano, cujo rei vestia-se governado por um monarca vestido
de ouro dos pés à cabeça, posteriormente esse lugar seria a. Essa visão se metamorfoseou em
Manoá, uma cidade lendária de Manoá, inicialmente em situada nas terras peruanas,
provocando a mobilização de viajantes e cientistas que buscavam encontrá-la. mas que
despertou o interesse de exploradores e estudiosos que empreenderam jornadas em busca
desse enigma.
De acordo com as considerações de Gabriel Roy, por muito se acreditou, via a
cartografia, por muito tempo sugeriu que o lago Parima (lago constituído de , associado a
riquezas auríferas), que coincidia com , correspondia a Manoá, era a e servia como nascente
de váriosdiversos rios na região americanaAmérica, como o Orinoco, Branco, Amazonas e
Prata. Nestes termosComo resultado, os espanhóis iniciaram uma série deorganizaram
expedições em busca dovoltadas à localização desse lago ou rio do ourodourado nas Américas
e devido a certos achados. Com base em descobertas de ouro nas regiões das Guianas, e
região de em ilhas, hoje da atual América Central, cada vez mais se tentou construir talessa
ideia nas Américasse arraigou progressivamente no continente. Em 1539, saía uma expedição
do Peru comandaliderada por Gonçalo Pizzaro compartiu do Peru, envolvendo mais de quatro
mil homens com ordensa missão de encontrardescobrir o El Dourado e o paísa lendária terra
das canelas. Essa Durante o trajeto, a expedição foi dividida a certa altura do caminho e se
fragmentou, com um dos capitãescomandantes, Francisco de Orellana, desceuexplorando o rio
Coca, passando pelo atravessando o rio Napo e chegando ao Amazonas, ocasião em que, pela
altura do. Nesse ponto, próximo ao rio Jamundá, teriam lutado comsupostamente
confrontaram mulheres guerreiras (amazonas) e, ao alcancem o mar através da em um embate
que culminou na foz do rio, chamaram-noa qual denominaram de "rio das Amazonas. Neste
contexto,". As amazonas americanas foram colocadas na condição de guardiãspassaram,
assim, a ser associadas à custódia do El Dourado, visto que os ditostornando-se uma barreira
significativa aos conquistadores europeus na busca pelo ouro, uma vez que estes se
defrontaram com lutas sangrentas com tais mulheres guerreiras, elas que logo se tornaram um
empecilho à conquista. obstáculos formidáveis na busca por ouro.
AsO papel das amazonas passarampassou a ser tidasdelineado como aquelas que
estavam próximas a aquele de guardiãs dos espaços de riquezas, como citado acima
sobreriqueza, ecoando o mencionado mito do Eldorado, especialmente possuidores. Essa
conexão com a abundância de ouro, como podemos observar no que diz o é exemplificada
nas palavras do cronista da viagemjornada de Francisco de Orellana, o frei Gaspar de
Carvajal, em datado de 1541:

Aqui nos deram notícia das amazonas e das riquezas que há mais abaixo, e quem o
fez foi um índio chamado Apária (3), velho que dizia ter estado naquela terra, e
também nos deu notícia de outro senhor que estava apartado do rio, metido terra a
dentro, e que ele dizia possuir enorme riqueza de ouro. Este senhor se chama Ica;
nunca o vimos porque, conforme disse, ficou desviado do rio ...31.

O relato do frei dominicano foi pautado na se sustentou sobre a fantasia e naa


imaginação do Velho Mundo empregada à América, de modo que, segundo , transferidas para
o contexto americano. Conforme salientado por Ana Pizarro, “é otal narrativa enraíza-se no
imaginário do Prestes João, o das áreas contíguasregiões adjacentes ao Éden, o e do grande
Khan: em meio às batalhasaos embates com os indígenas aparecerão a imagem, emergem as
32
figuras dessas mulheres guerreiras, as amazonas. Nestes termosPortanto, a crônica da
viagemexpedição de Francisco de Orellana estabelecedelineia os marcosextremos das
noçõesconcepções de paraíso e inferno que passaram a nortear os discursos sobre a moldaram
as discussões acerca da parte nortesetentrional da América, pois é narrado. Nesse relato, se

31
CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento del rio de Orellana. In: Descobrimentos do rio das Amazonas. Trad.
C. de Melo Leitão. 5º. São Paulo: Ed. Brasiliana, 1941, p. 24.
32
PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio: imaginário e modernização. Trad. Rômulo Monte Alto. Belo
Horizonte: Editora da UFMG, 2012, p. 43-44.
delineia um cenário de fomeprivações e de batalhasconflitos com selvagensas populações
nativas, em plenameio a uma densa floresta densa; ao mesmo tempo, descreve;
simultaneamente, delineia-se um espaçoterritório de riquezasopulência, fertilidade e
promissão.perspectivas auspiciosas. A partir da primeira viagemexpedição oficial sob o
domínio espanhol em busca do a égide espanhola rumo ao Eldorado, outras expediçõesnovas
empreitadas foram direcionadas para esta áreaa essa região, a exemplo da missão deliderada
por Pedro Urzúa, em 1559.
A parteconstrução discursiva e imagética da porção norte da América do Sul
continuou sendo construída discursivamente e imageticamente a partir das expediçõestambém
foi fortemente influenciada pelas explorações portuguesas. NoAo final da década de 1630, por
oportunidadeem decorrência da expedição de Pedro Teixeira aopelo rio das Amazonas,
Alonso de Rojas escreveu sobre a parte da viagem entre o Grão-Pará e Quitoredigiu o texto
intitulado "Relação do Descobrimento do Rio das Amazonas" (1639), ocasião em que Formatado: Fonte: Não Itálico

condiciona o espaço em voltao qual descreve o trecho da jornada entre o Grão-Pará e Quito.
Nesse relato, o autor retrata os arredores do rio como um jardim doautêntico Éden, lugar
comparadoum recanto comparável ao paraíso, terrestre, repleto de muitasopulentas riquezas:
“. Nas palavras de Alonso de Rojas: "Do Rio das Amazonas se pode afirmar que as suas
margens são em fertilidade Paraísos, e se a arte ajudar à fecundidade do solo, será todo ele
uma série de aprazíveis jardins”.". E continua o cronista:

[...] O rio das Amazonas rega mais extensos Reinos, fecunda mais veigas, sustenta
mais homens e aumenta com as suas águas mais caudaloso Oceano; só lhe falta, para
vencê-los em felicidade, ter sua origem no Paraíso, como daqueles rios nos afirmam
graves Autores.33
Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm, Primeira linha:
1,25 cm
Além do maisAdemais, em outra crônica importantede significativa relevância para a
compreensão sobre osdos primeiros atos de nomeação da área na região que posteriormente
veio a ser chamada de conhecida como Amazônia, o jesuíta Cristóbal de Acuña escreveu
elaborou "Novo descobrimento do Grande Rio das Amazonas," em 1641, narrando. Nesta Formatado: Fonte: Não Itálico

narrativa, ele retrata a viagem do expedição liderada pelo comandante da expedição


portuguesaportuguês Pedro Teixeira, em 1639, desta feita, a viagem de volta entre durante seu
retorno de Quito e oao Grão-Pará. Acuña foi escalado pelo O governo espanhol para incumbiu
Acuña de acompanhar as intençõesatividades portuguesas na região durante a partir da
viagem de Teixeira. Em sua minuciosa descrição e registro, Acuña estabelece

33
ROJAS, Alonso de. Relação do Descobrimento do Rio das Amazonas. In: Descobrimentos do rio das
Amazonas. Trad. C. de Melo Leitão. 5º. São Paulo: Ed. Brasiliana, 1941, n° XVIII.
comparaçõestraça paralelos entre o rio Amazonas e outros rios docursos d'água pelo mundo,
bem como reativarevivificando a perspectiva do Eldorado e das riquezas da terra,
reafirmandoterritoriais. Ele reitera que “"neste grande Rio tudo se encontra: aqui o Lago
Dourado, aqui as Amazonas, aqui os Tocantíns e aqui os ricos Omaguas, como adiante, se
dirá”.".
A imagem da terra de riquezas ganhou representação na cartografiada terra abundante
em riquezas foi também capturada nas representações cartográficas da época, a
chamadanotadamente na denominada cartografia moderna, momento em que os . Esse período
testemunhou um comprometimento dos Estados modernos passaram a investir recursos em
pesquisas relacionados ao conhecimentocom a pesquisa geográfica, englobando a
compreensão dos fenômenos terrestres e a realização de cálculos da terra, bem como
passaram a considerar, e concebendo a cartografia como uma aliada nas questões geopolíticas
de ferramenta geopolítica vital para as disputas por territórios.territoriais. Chambouleyron
acrescentaacresce que a “[...] "cartografia moderna (marcadaque se caracteriza pela
matematização da linguagem) está ligada à intrinsicamente vinculada à formação dos Estados
modernos e também a formação dos à criação de impérios regionais e ultramarinos”. Nestes
termos". Nesse contexto, a produçãoelaboração cartográfica esteve fortemente perpassada
pelos grandes poderesfoi largamente influenciada pelas maiores potências estatais e
colaborou, contribuindo para a geração de um construção do imaginário em torno da parte
norteregião setentrional da América.
Para além do Eldorado, é possível pensar, em linhas geraisplausível contemplar, em
termos abrangentes, a configuração inicialinaugural do espaço nortesetentrional da América
do Sul. São notóriasNotáveis são as váriasdiversas denominações que atribuídas a esse rio
recebeu e, por extensão, o próprio espaço em sua volta.à região circundante. Francisco de
Orellana o chamou de batizou como rio de Orellana, enquanto outros textos chamaram-no de
registros o identificam como rio Marañón, devido a sua forma cheias de curvasem virtude de
sua sinuosidade e bifurcações. Teria sidoramificações. O navegador espanhol Vicente Pizón,
por sua vez, foi possivelmente o primeiro a comunicar as às autoridades reaisrégias a
existência do “"rio de Mar doce”, o que posteriormente passou a ser chamado de “", que mais
tarde foi denominado "Santa Maria do Mar Doce”, depois ganhando definitivamente o nome
de", e finalmente consolidado como Amazonas. É perceptível oEvidencia-se assim que o mito
das amazonas gregasda mitologia grega foi utilizadoempregado para nomear um espaço
americano, pois antes esse rio possuía várias denominações,uma localidade americana, uma
vez que o rio em questão anteriormente ostentava múltiplos epítetos, tais como Paranaguazú,
Solimões e Guyerme.
É importante destacar que Importante ressaltar que, naquele contexto, toda a referência
espacial que fazia naquele momento era em relação à estava intrinsecamente associada à
presença das amazonas, logo a conferindo à região amazônica era apenas uma área cujo
conteúdo se restringiauma identidade restrita ao mito das mulheres guerreiras e era
difusamente compreendida à , naquela época., de compreensão difusa. No século XVIII, mais
precisamente em 1774, o ouvidor e intendente geral da Capitania do Rio Negro, Francisco
Xavier Ribeiro Sampaio, escreveuregistrou um diário em relação a durante sua viagem à
mencionada Capitania, nesse diário também discutiu acerca da . Nesse registro, ele abordou a
denominação do rio Amazonas através de uma parte do texto intitulada breve “em um trecho
intitulado brevemente "dissertação sobre o rio Amazonas, e sobre a existência das mulheres
amazonas”.".
Ribeiro Sampaio discorre emconduz sua argumentação com discordância das
denominações espanholas do rio e da existência própria presença do mito das mulheres
guerreiras, iniciando por apresentar amazonas. Inicialmente, ele apresenta versões que
confirmavamcorroboram tal existência, mascontudo, logo adianteem seguida, esclarece que
não acreditava sua descrença na presença ocorrência das amazonas na América e . Ele ressalta
que tal ideia somente se sustentava subsistia com base em argumentos do maravilhoso
maravilhosos e nas preocupaçõesinquietações populares. Segundo eleDe acordo com Ribeiro
Sampaio, por muito tempo acredita-se acreditou que existisse um tipona existência de “uma
suposta "república amazônica”, correspondente ao", localizada no interior da Guiana,
masembora sem nenhumaqualquer comprovação por parte dosde portugueses, espanhóis,
franceses ou holandeses. Essa mençãoA alusão de Ribeiro Sampaio à “"república amazônica”
dizia respeito a nomeação do espaço, localizado" está intrinsicamente ligada à nomenclatura
do território situado na Guiana, que era essencialmente relacionada à pretensaa qual estava
intimamente associada à suposta presença das amazonas nanessa área em tela.particular.
O ouvidor e intendente geral da Capitania do Rio Negro deixa entreverevidencia em
seu texto o posicionamento português contra a ideia de “a postura portuguesa em relação à
denominação do "rio das Amazonas” em favor de “", preferindo o termo "rio Amazonas”,
partindo do cronista". Baseando-se na crônica da viagem do português Pedro Teixeira, o pelo
jesuíta Cristóbal de Acuña, de quem extraiuRibeiro Sampaio, extrai trechos da obra, se dizia
acreditar, à e indica que, àquela época, acreditava nas amazonas, mas ao mesmo tempo
levantava suspeiçãotambém lançava dúvidas sobre a questão, principalmente pelo que ouviu
em uma audiênciaespecialmente após ouvir relatos em Quito. Ribeiro Sampaio
consideravaEle sustentava que a existência concepção das amazonas na América foi obra
derivou da narrativa de Francisco de Orellana, pois o mesmo que desertouum desertor do
exército espanhol precisava construirque necessitava forjar uma narrativa heroica sobre si,
utilizando uma históriarecorrendo a um enredo universal para lhe engrandecer, notadamente
realçar sua proeza, notavelmente o caso das amazonas. O ouvidor esclarece que o perfil
guerreiro dea representação das mulheres indígenas daguerreiras na América teria
fornecidoofereceu o argumento para que Orellana tivesse associado essas mulheres as
associasse às amazonas asiáticas. Ele ainda elencou que as mentirasAlém disso, Ribeiro
Sampaio lista que falsidades e ficções embasaramfundamentaram a pretensa ideia de das
amazonas americanas, logo “favorecendo-a o gosto da nação Hespanhola, porque tem sido
transmitida, e apoiada para o maravilhoso. alimentando a inclinação pelo maravilhoso na
nação espanhola, e conclui: "Basta de amazonas, e prossigamos a em nossa viagem”.".
Também No século XVIII, o padre jesuíta português João Daniel, empor meio de seus
manuscritos que deram origem à obra "Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, Formatado: Fonte: Não Itálico

publicado", publicada em 1776, e resultado de sua viagem a essa parte da América, à região
entre 1741 e 1757, debruçouempenhou-se sobreem abordar a questão do nomeda
nomenclatura do rio Amazonas. Daniel produziucompôs um volumoso manuscrito que
mesclava uma visão perspectiva utilitária da árearegião do rio Amazonas com uma
perspectiva visão divina e de riquezas da parte da na América do Sul. João Daniel,
descrevendoAo abordar as causas origináriasorigens do nome do maior rio dessanaquela parte
da América, argumentavado continente, João Daniel argumenta que as tropas do comandante
Pizarro, em determinada alturaum ponto específico do rio Trombetas, se confrontaram as
tropas lideradas por Pizarro enfrentaram os indígenas da região, especialmenteárea,
notadamente um exércitogrupo de mulheres guerreiras, daí mediante o poder de fogo espanhol
fugiram, mas foram nomeadas de amazonas. Sob a supremacia bélica espanhola, essas
mulheres recuaram e, segundo Daniel, foram apelidadaspassaram a ser denominadas
amazonas pelos espanhóis pelo modo semelhante, devido a seus modos de vida semelhantes
às amazonas gregas. Nesse pontocontexto, o jesuíta português já se afastava –
mesmodistanciava - ainda sem muita clareza –que não de forma totalmente esclarecida - do
tomaspecto mítico em torno dasassociado às amazonas, pois compreendeao perceber o
processoato de nomeação como uma ação deliberada pelos intencional dos espanhóis. .
Além do maisdisso, o jesuíta esclareceressalta que naquele momento –, na época de
sua escrita – no que concerne à parte, a área do rio acima do rio Negro, o nome do
comandante espanhol Orelhana já não mais era utilizado para denominar o rioreferida pelo
nome do comandante espanhol Orellana, mas sim o nome como Solimões, utilizadoconforme
a denominação dada pelos portugueses. Em síntese, esse o padre jesuíta chamavachama a
atenção para o fato de que o rio recebeu dois nomesduas denominações mais conhecidos dos
conhecidas entre os espanhóis, a saber: Orelhana: Orellana e Maranhão, todavia,
denominações queentretanto, esses termos não prosperaram.prevaleceram. A discussão, sobre
a origem e o nome do rio Amazonas passou a apareceremerge em váriosdiversos escritos do
século XVIII, muito em função das em grande medida devido às disputas geopolíticas e deaos
interesses da Coroa portuguesa com vistas em relação ao domínio dessadaquela área
geográfica.
Diante do problema da desafio relacionado à forma esferoide e da grandeza da
terraesferoidal da Terra e à sua magnitude, a França envioupromoveu duas expedições à
América, uma das quaisdelas contou com a presença participação do escritor e viajante
Charles Marie La Condamine (1701-1774)), que, em seu relatório de viagem,
resultadoresultante da expedição espanohispano-francesa à América Meridional, entre 1735 e
1745, apresenta uma série de situações em que demonstra como, até aquele momento, ocorria
um constatecenários que ilustram o constante processo de nomeação de povos, lugares e rios
por parte do homem europeu na América, a exemplo dos momentos em que se reporta à
nomeação do caucho, de povos indígenas e do rio Amazonas. Na publicação oficial do citado
relatório, com o título de dos europeus no continente americano. No contexto de sua obra
intitulada "Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas,", La Condamine Formatado: Fonte: Não Itálico

mencionavadestaca a velha disputa pelo nomeantiga contenda sobre a designação do rio entre,
envolvendo os espanhóis que o chamavam de Maranhão e Orellana, e os portugueses, que o
denominavam o citado rio de Amazonas ou Solimões. 34
Os recortes espaciais citadosmencionados por La Condamine em relação a essaesta
parte asda América não faziam menção à Amazônia, emas sim à América Meridional, ao
Pará, ao rio das Amazonas e aà bacia hidrográfica amazônica, como na parteno trecho em que
ele esclarece que o rio Negro não eraé um braçoafluente do rio Amazonas, dizendo queao
afirmar: “Em todo este intervalo oesse trecho, as margens do terreno das margens é
elevado,são elevadas e nunca se vê inundado: o mato aíestão inundadas; a vegetação é menos
bravo,densa e o paísa paisagem é completamente diferentedistinta das margens amazônicas”

34
LA CONDAMINE, Charles-Marie de, 1701-1774. Viagem na América Meridional descendo o rio das
Amazonas / Ch. -M. de La Condamine. – Brasília: Senado Federal, 2000.
35
Duas questões estão postas neste do Amazonas.” Este ponto, primeiro envolve duas
questões: a derivação do vocábulo “termo "amazônica”" da bacia do rio Amazonas; segundo,
quee o vocábulo “uso do termo "país” aparece " como sinônimo de localidade ou região, uma
discussão que faremos adiante.abordaremos a seguir. O termo “"amazônica”" também
apareceuaparece em uma carta do Sr. Godin de Odonais ao Sr. de La Condamine, vistoonde
se menciona que um dos trechos da carta cita que “"a viarota amazônica está proibida pelo rei
da Espanha”,36 notadamente ocorre evidenciando uma referência ao rio Amazonas. A
referência “utilização do termo "amazônica” em" por La Condamine remete-se muitoestá
mais associada à ideia de uma região às nas margens do rio Amazonas, estabelece uma
proximidaderelacionando-se com a ideiao conceito de região natural muitoque estava em voga
àna época, logo, não há nenhuma menção no uso do termo paraapresentando conotações
políticas.
A percepção espacial a partirresultante da palavra “"amazônica”" em La Condamine
aponta paraproporciona efeitos de análise nesse analíticos neste estudo, paradirecionando a
utilizaçãoexploração e denominação dessadesta parte da América do Sul a partir de pelos
representantes do mundo europeu, ou seja, oeuropeus. O uso do léxico "amazônico" nas
Américas foi uma operaçãoação territorial inicial europeiados europeus para efeitos de
localização deidentificar uma área hídricageográfica que perpassavaabrangia um território
muito mais amplovasto do que a divisão administrativa e política referente aodo Estado do
Maranhão e Grão-Pará, e a referência geográfica Pará, esta última muito presenteamplamente
mencionada nos relatos de viagens. É importante frisarrelevante destacar que a palavra “o
termo "amazônica”" aparece apenassomente em duas oportunidadesocasiões na obra, o que
denota ainda pouca frequência dessa palavraindica que sua utilização para designar uma área
na América. era ainda pouco frequente. De todo modoqualquer forma, a presença desse termo
dessa palavra na obra citada de autoria de La Condamine já se constituiu em mais uma
contribuição àcontribuiu para a formação conceitual que resultouculminaria no conceito de
Amazônia em tempos depois. Todavia, talposteriores. No entanto, essa denominação era
desprovidacarecia de conteúdoum significado político e identitário capaz de representar um
movimento regional, como passou ocorrerverificado um século depois, oportunidade em
quemais tarde, quando surgiram as ideias de região amazônica, Vale do Amazonas e
Amazônia foram produzidas. Logo. Portanto, os discursos dos europeus contribuíram para a

35
Ibidem, p. 89.
36
Ibidem, p. 187.
formação conceitual amazônicado conceito amazônico, mas não explicam a invenção regional
da Amazônia a partir das relações de forçaspoder e demandas internas a estadessa área.
Os resultados da expedição de 1735 à América, a qual possuíaque contou com a
presença de La Condamine, também evidenciaram o discurso colonial sobre as riquezas da
área em torno doregião circundante ao rio Amazonas, especialmente quando esse viajante
tratou sobreabordou a “"fertilidade da região e as das plantas úteis”, entre elas", incluindo a
goma elástica. La Condamine contribuiu para ampliar a concepção de riqueza natural dana
região àsdas margens do Amazonas, pois informou sobre ao relatar plantas e árvores paraque
iam além das chamadas “"drogas do sertão”", já conhecidas pelo mundo. Segundo esse
viajante: “[...]Conforme suas palavras: "[...] a ‘quinina’'quinina', a
‘ipecacuanha’'ipecacuanha', a ‘simaruba’'simaruba', a ‘salsaparrilha’'salsaparrilha', o
‘guaiaco’'guaiaco', o ‘cacau’'cacau', a ‘baunilha’'baunilha', etc. seriamsão as únicas plantas
úteis que aencontradas na América encerra, e a sua grande utilidade conhecidaamplamente
reconhecida e comprovada não é de molde a encorajar a seria incentivo suficiente para novas
rebuscas?”.descobertas?".
Pra Além das especiarias já conhecidas, La Condamine trouxe ao conhecimento do
mundo europeu a goma elástica, à época conhecida também comoentão denominada caucho.
A cada nova revelação e descoberta das expedições estrangeiras àsnas margens do Amazonas
despertava-se ainda mais , aumentava o exotismo e a cobiça exploradoraânsia exploratória
sobre essa parte do mundo, pois, segundouma vez que, nas palavras de Maria Cristina Bohn
Martins “de todas as vastas terras a serem exploradas pelos naturalistas europeus, nenhuma
era mais desconhecida e exótica para o público do Velho Mundo do que as selvas e as
montanhas da América do Sul.”37 Essa é uma época em que muitas das “[...] ." Esse período
foi marcado por várias "expedições científicas financiadas pelo Estado buscavam
alvosobjetivos específicos. Por vezesEm alguns casos, ciência e colonização atuavam de
forma integradaestavam interligadas; em outros momentos, o naturalista abandonava aabria
mão da ciência em nomefavor de interesses administrativos e econômicos.”."38
No final do século XVIII e início do século XIX foi a vez do, o viajante alemão
Alexander von Humboldt (1769-1859) se dirigirempreendeu uma jornada à América do Sul,
viagem autorizada pela Corte espanhola e que durouse estendeu de 1799 a 1804. De acordo

37
MARTINS, Maria Cristina Bohn. Uma jornada pela América Meridional e de volta à Europa: Charles Marie
de La Condamine e o relato de sua expedição pelo Amazonas. Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, v. 38, n. 2,
p. 303-324, jul./dez. 2012, p. 313.
38
RAMINELLI, Ronald. Ciência e colonização – Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira. Tempo
[on line], v. 3, n. 6, p. 157-182, dez. 1998. Disponível em: Acessado em: dez. 2007.
com Pratt, a viagem de Humboldt esteve inseridaocorreu em um contexto em que a Europa
vivia a estava imersa na expansão capitalista com a decorrente da industrialização e ana busca
por novos mercados consumidores, além do bem como pelo interesse pelo conhecimento das
em explorar as zonas interiores. Rompendo com os Distinguido dos relatos de viagem
tradicionalmente considerados como uma “"literatura de sobreviventes”, marcada pelas
sobrevivência", que frequentemente se caracterizavam por histórias de naufrágios, guerras,
entre outras e conflitos, Humboldt buscou apoiar, na procurou sustentar suas observações na
autoridade científica, os resultados das observações que fez na América, logo sua
considerável. Sua extensa produção de , composta por cerca de trinta livros como resultantes
da de sua expedição às pelas terras americanas foram marcadas por , estava notavelmente
centrada em tratados de taxonomia botânica e zoológica, elevando o modo deevidenciando
uma ciência abordagem mais descritiva da ciência em detrimento de estilos narrativos. A
escrita de Humboldt caminhava parabuscava ecoar o desejo europeu de promover a realização
de “lugares"espaços não realizados”, pois, conforme". Segundo Pratt, esseo viajante e
cientista buscou tinha a intenção de apresentar a América como um mundo natural primitivo
da natureza, um espaçoterritório ainda por ser organizado, logo um espaço cuja história estaria
por iniciar, dadas suas estava prestes a se desdobrar, dado seu potencial e suas maravilhas e
potencialidades. .
Cabe registrarCumpre ressaltar que duas nomenclaturas sobre o espaço geográfico
incursionado pelo viajante ganharam destaque em sua escrita: “para a região explorada por
Humboldt se destacam em seus escritos: "regiões equinocialequinociais da América”" e
Hileia, o primeiro nome . A primeira denominação servia como demarcaçãodelimitação das
antigas colônias americanas que visitadas por ele passou;. Por outro lado, a segunda
denominação como sinônimo dedesignação equivalia a uma área marcadamentenotavelmente
marcada por uma natureza ímpar, tida como singular, sendo considerada o ponto mais alto do
território. O termo Hileia advém do tem raízes no mundo grego e em Heródoto pode ser
rastreado a partir da até Heródoto, sendo associado à história do território da região original
das amazonas, notadamenteparticularmente a Cítia, que os gregos consideravam como uma
terra deserta, nos confins, tida como terra de desolada e distante, habitada por povos do norte
com certas de características selvagens, que estariam e localizada nos confins do mundo. Em
comparaçãocontraste com as cidades gregas, apareceriaa Hileia era percebida como uma
zonaregião situada além das culturas.fronteiras culturais. Os povos citas, para os gregos,
teriamde acordo com a perspectiva grega, tinham suas origens ligadas à chegada de Héracles
ao território desérticoà terra desértica, conduzindo um rebanho de cavalos que teria
desaparecido quandodesapareceu enquanto ele descansava,. Ao buscar osseus cavalos
perdidos, Héracles encontrou deparou-se com uma virgem-serpente que propôs concordou em
devolver-lhe o rebanho casose ele se unisse a ela, o que foi feito. Importa dizerele fez. É
relevante notar que a região que onde Héracles encontrou uma essa virgem-serpente era
justamenteexatamente a região da HílaiaHileia ou Hiléia, que significava para a época floresta Formatado: Fonte: Não Itálico

selvagemMesmo buscando “ naquela época. 39


Ainda que buscasse "reinventar a América”,
tentando transforma" e transformá-la em uma terra maravilhosa, Humboldt transportava, de
certa forma, transferiu para a nomenclatura do espaço americano a carga de alteridade
proveniente do mundo grego.
Não é somente a partir dos viajantes e cientistas que podemos acompanhar a O
processo de nomeação do espaço americano, deve-se não se limitou aos viajantes e cientistas;
é importante considerar que o processo de a colonização da árearegião norte da América do
Sul foi acompanhado por formasenvolveu práticas de nomeação de lugares, povos e coisas,
elementos, um processo esse que esteve permeado por características da hierarquização e
separação na América.hierárquicas e divisórias. Eduardo Paiva estudou a história
dainvestigou a formação do léxico das mestiçagens em estreito diálogo com as
maneiraspráticas de trabalho instituídas a partir do estabelecidas pelo poder advindo de
portugueses e espanhóisportuguês e espanhol nas Américas, de modo que. Nesse sentido, o
vocabulário relacionado às mestiçagens na Ibero-América esteve associado estava
intrinsecamente ligado às formas de trabalho imputadas as impostas às populações menos
favorecidasmarginalizadas pelo poder, especialmente através dado sistema de escravidão.
LogoAssim, dar nomenomes ao novo território se tornou-se uma operação um ato de
classificação e de domíniodominação, como podemos observarclaramente apresentado no
trabalho do autor citado acima.estudo de Paiva. Portanto, os nomes escolhidos, assim como
oas denominações escolhidas, incluindo Amazonas, foram operações, maneirasatos de
categorização, mecanismos de domínio referente àque moldaram a territorialização da
América.
Era comum, Nos primeiros séculos da colonização na América, era uma prática
comum direcionar a atenção voltada para a nomeação dos espaços, como já dito acima, bem
como apreviamente mencionado. Isso se relacionava à imprecisão dos nomes atribuídos aos
territórios, vejamos, por e podemos observar isso no exemplo o próprio caso do Brasil. Do
ponto de vistaAnalisando os escritos dos cronistas, registramospodemos identificar a

39
HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: Ensaio sobre a representação do outro. Trad. Jacyntho Lins
Brandão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
preocupação do expressa pelo frei franciscano Vicente do Salvador, no livro em sua obra
"História do Brasil, escrito", escrita entre 1619 e 1630, em que se ocupa, logo no . Desde o
início de sua escrita, comseu relato, ele se dedica a abordar a história da descoberta e o
próprio nome do Brasil, ocasião em que sobre este último descrevia que o primeiro nome
destas. Nesse contexto, Salvador observa que as terras foiforam inicialmente denominadas
Santa Cruz, em alusãoreferência à morte de Cristo,. No entanto, segundo Salvador, “"o
Demônio, com o sinal-da-cruz, perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando
perder também o muito que tinha emsobre os destahabitantes dessa terra, trabalhou. Assim,
tramou para que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficassefosse esquecido, permanecendo o
de nome Brasil [...]”.[...]". O frei franciscano alertava que preferiramalerta para a escolha de
trocar o nome do lugar proveniente deoriginado de um elemento divino, a cruz, por um termo
ligado a uma madeira divina por um tipo de madeira comercial de cor vermelha que
tingiausada para tingir tecidos. Nota-se aíNesse ponto, já se delineia uma primeira disputa
inicial em torno darelação à nomeação das novas terras americanas,. Essa disputa essa
apontada, como destacado por Laura de Mello e Souza como, configura uma tradição, levada
adiante que foi posteriormente perpetuada por humanistas portugueses, onde a luta. Essa
tradição de conflito entre Deus e o Diabo aparece ligada aose conecta com o surgimento da
colônia luso-brasileira, e que fez ecoreverbera nos relatos de missionários, como o frei
Vicente do Salvador, que, embora reproduzisse talincorporasse essa tradição, estava muito
mais sobretudo preocupado com a natureza da ocupação da nova terra.do novo território.
Além do maisdisso, Souza elenca que existia nos séculos iniciais da colonização da
América certaaponta para a flutuação e a indefinição de nomenclatura em relação às terras nos
primeiros séculos da colonização da América portuguesa, de modoressaltando que pelo menos
três denominações foram colocadasempregadas em circulação nos mapas e nos escritos, a
exemplo de: Terra dos Papagaios, Terra de Santa Cruz, e e, por fim, Brasil – a última que se
tornou consolidando como vencedora, notadamente, Brasil.. José Murilo de Carvalho
acrescenta váriosdiversos outros nomes que foram dadosatribuídos às terras que receberam
posteriormenteeventualmente receberiam o nome de Brasil, a saber:como Pindorama (1500),
Ilha de Vera Cruz (1500), Terra de Santa Cruz (1501), Terra Papagalli (1502), Mundos Novus
(1503), América (1507), Terra do Brasil (1507), Índia Ocidental (1578), Brazil (século XIX),)
e, finalmente, Brasil (século XX). Carvalho entendeinterpreta a diversidademultiplicidade de
nomes como resultado de uma disputacontenda pela grafia do nome destasdessas terras e que
envolvia, envolvendo diversos interesses e momentoscontextos históricos,. Por exemplo, a
mudança de nome da Terra dos Papagaios, uma referênciaque fazia alusão ao exotismo da
flora e fauna e flora do lugarlocal, para Brazil, cujo refletia o predomínio do interesse
comercial em torno dorelacionado ao pau-brasil se impunha..
Também é importante notarÉ igualmente relevante observar que o nome termo Brazil
foi transpostotransferido da Ásia, pois uma vez que desde o século XII essa designação era
conhecida daquele no continente asiático para se referir a uma árvore semelhante com essa
nomenclatura. Não é trivial que os nomes . Assim como o nome Amazonas e Amazônia, que
também foram transpostos do cenáriocontexto asiático, visto que as . Essas designações se
referiam originalmente a terras originárias as quais se atribuíam a existências das onde se
acreditava existirem as amazonas que se localizava, localizadas entre as extremidades do
mundo helênico e a Ásia Central. As nomeações dos espaços americanos, em partescerta
medida, passaram a carregarincorporar referências geográficas, econômicas ou culturais do
mundo antigo, e quetais conceitos circulavam na Europa à época durante a era das
explorações e das expansões e expedições marítimas.
Além Adicionalmente, tal como no caso do que, assim como o Brasil, como já
ressaltamos nesseenfatizado anteriormente neste texto, a área região geográfica às margens do
rio Amazonas possuiu vários nomes no início do processo de apresentou diversas
denominações nos primeiros estágios da colonização europeia, tanto espanhola, quanto
portuguesa. Segundo por parte dos espanhóis como dos portugueses. De acordo com Alírio
Cardoso “, "entre o final do século XVI e o início do século XVII, as cartas, crônicas e
memoriais costumam identificarfrequentemente identificavam essas terras a partir das por
meio de comparações com as Índias espanholas”.". Cardoso apontadestaca que, no século
XVI, por exemplo, todo o território toda a área que hoje corresponde aocompreende o Norte
do Brasil e uma parte do Mato Grosso era chamado por referida como Maranhão, e que a
palavra. O termo Amazônia, como recorteuma delimitação regional, não existiaestava
presente no vocabulário político do século XVII. Para Segundo esse historiador, até a criação
do Estado do Maranhão e Grão-Pará, em 1621, essa região foi era reconhecida por vários
vocábulos: “diversas designações: "Terra do rio das Amazonas”, “", "terra dos tupinambás, “",
"País das Amazonas”" e “"Terra dos Caraíbas”.".
Como se pode observar,É evidente que a maioria dosdesses nomes dessa área eram
atribuições com tinha conotações indígenas, haja vista que geralmente era uma prática
recorrente dos . Era comum que os colonizadores hispânico-lusos denominarem os
espaçoshispânicos e lusos atribuíssem nomes aos territórios conquistados com base em busca
de sua territorialização a partir de perspectivas mítico-imaginárias e/ou adaptarem o termo
usado. Além disso, frequentemente adaptavam os termos usados pelos indígenas para
nomearemnomear os lugares, como ocorreu em váriasdiversas outras regiões americanasdas
Américas, como na áreano caso da bacia do rio da Prata, a exemplo do onde o nome Paraguai
derivado do emprego, por parte dos deriva do uso pelos índios cariós ou guaranis, do nome
termo "rio Paraguay. Logo". Portanto, não é de se estranharsurpreende a adoção da alcunhado
termo Grão-Pará para compor a denominação do Estado do Maranhão a partir de 1621, época
em que . Nessa época, durante o domínio espanhol sobre as coroas de Espanha e Portugal
estavam sobre o comando espanhol, tendo em vista que tal , a expressão já era antes
utilizadaempregada pelos indígenas da região para nomearemreferir-se a parte do rio
Amazonas como rio Gram-Pará, tido como “significando "pai das águas”" ou "rio mar.".
Ainda No que concernediz respeito a outra forma de nomeação dessa área, a saber:
"Paysou seja, "País das Amazonas", notaobserva-se que seela remete ao a um território
feminino, estranhomisterioso aos olhos dos homens, um espaço a ser conquistado, colonizado
e explorado, como era assim percebido pelo mundo europeu.a perspectiva europeia da época.
No século XVIII, a cartografia aindafrequentemente utilizava francamente a
mençãoreferências às amazonas para denominar o espaçodesignar a região ao norte da
América do Sul, em detrimento doda designação Brasil, como o fez oexemplificado no Mapa
Geográfico do Brasil (1740), de autoria do italiano Giovanni Battista Albrizzi (1698-1777),
que estabelecia dedividia o espaço em um lado o denominado Brasil ou a Terra de Santa Cruz,
e, de no outro, o "PaysPaís das Amazonas".
O "Paystermo "País das Amazonas" para a América éreflete também uma versão
atualizada do pensamento ocidental sobre outros territórios, a exemplo do como o Oriente,
pois. Além da ideianoção de uma ilha feminina, cogitada aventada por Marco Polo, existiria
em mares orientais, a própria ideia de existia também a concepção da Índia, como um mundo
fantástico e de especiarias e fantasia que alimentou o imaginário conquistador dos
conquistadores sobre a América. A utilizaçãoO uso da alteridade para a demarcação de
lugaresdemarcar territórios, em detrimento do mundo grego na Antiguidade, revela uma
prática ocidental de produção deestabelecer fronteiras a partir de aspectoselementos
etnográficos, culturais e políticos. Heródoto foi consideradoé visto como um
agrimensormediador de lugares, aquelealguém que usa deemprega medidas, um autor daque
se dedica à métrica em relação ao outro, pois já que os limites e as medidas de um espaço
passam a ser de ordemuma prerrogativa do narrador. Os viajantes e conquistadores de espaços
foraterritórios além da Europa herdaram o princípio do périplo grego, ou seja,que envolve a
forma como se narram as instruçõesnarrativa de viagemtrajetos e suas distâncias, um tipo de
percursospercurso orientado e ordenado com preocupações de ênfase em topônimos. Como
apontaConforme ressalta Hartog, o périplo é o discurso de um percursoa manifestação Formatado: Fonte: Não Itálico

discursiva de uma jornada.


Cabe buscar, em linhas gerais, a compreensãoempreender, de maneira geral, uma
análise semântica do termo "país" ou "pays, visto ser importante", uma vez que essa
abordagem é crucial para pensarmos acontemplarmos sua utilização em relação aaplicação no
contexto de uma parteregião da América. O vocábulo "país é derivado ainda" deriva do latim
medieval, quando surgiuépoca em que emergiu o termo "pãgus, de modo que ". Dessa forma, Formatado: Fonte: Não Itálico

"pays significava" denotava tanto o indivíduo habitante, quanto o território que por ele
habitava. No que diz respeito ao cenário francêsocupado. Em relação à esfera francesa, João
Paulo Jeannine Andrade Carneiro resume o percursodesenvolvimento histórico do referido
termo:

No decurso do tempo histórico pays foi adaptado à realidade geográfica francesa e já


no século XVII caracterizava subdivisões das villes francesas, saindo das acepções
exclusivamente rurais. No século seguinte, o vocábulo passa a integrar a
terminologia científica do período, designando feições geológicas homogêneas [...]
No decurso do tempo histórico pays foi adaptado à realidade geográfica francesa e já
no século XVII caracterizava subdivisões das villes francesas, saindo das acepções
exclusivamente rurais. No século seguinte, o vocábulo passa a integrar a
terminologia científica do período, designando feições geológicas homogêneas.40

No mundoâmbito ibérico, especialmente na Espanha dos tempos modernos,durante a


ideia de era moderna, a concepção do "Pays das Amazonas" esteve atrelada a algumas estava
intrinsecamente ligada a diversas noções espaciais àque, na época associadas, se associavam
ao termo “"pays”,". Isso é evidenciado, por exemplo, o dicionário espanhol de em dicionários
da língua espanhola do século XVII. O Dicionário de 1609, editado por Girolamo Vittori, e
intitulado "Tesoro de las tres lenguas francesa, italiana y española, que apresenta o significado Formatado: Fonte: Não Itálico

de ", define "pays" como região. Já Similarmente, o dicionário datado de 1620,


editadocompilado por Franciosini Florentín, Lorenzo, também significa atribui a "pays" a
partir da concepção noção de região. No século XVIII, os dicionários espanhóis e ingleses
demonstram uma ampla gamavariedade de significados espaciais para o termo Pays, a
exemplo do "pays", como exemplificado pelo "Diccionario castellano con las voces de Formatado: Fonte: Não Itálico

ciencias y artes y sus correspondientes en las tres lenguas francesa, latina e italiana," de 1767, Formatado: Fonte: Não Itálico

oportunidade em que “onde "país” significa as diversas " se refere a várias regiões, províncias
e locais do no universo. Refere-se ainda a reino, terra, pátria. Além dos significados espaciais,

40
CARNEIRO, João Paulo Jeannine Andrade. O conceito de Pays e sua discussão na geografia francesa do XIX.
Revista Geográfica de América Central. Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica II Semestre 2011 p. 2.
Disponível em: https://www.revistas.una.ac.cr Acesso em: 18 jun. 2021.
O termo “país” também possuía o sentido de pode denotar reino, terra ou pátria, além de
possuir conotações relacionadas à paisagem. Percebe-se que a dicionarística espanhola esteve
mais habituada É perceptível que a significar o termo pays mediante concepções de espaço,
já no caso da dicionarística portuguesa, há certalexicografia espanhola tende a tratar "pays"
predominantemente como um conceito espacial, enquanto a lexicografia portuguesa mostra
alguma oscilação entre os significados de "pais" em termos de relação à paternidade e país no
que concerne a um recorte geográfico"país" como delimitação geográfica.
Em resumo, o termo "Pays das Amazonas"correspondia era usado para se referir, nos
relatos e na cartografiamapas da época, à terra dashabitada pelas Amazonas na América, dizia
respeito. Esse conceito estava relacionado à pátria, à região ou à província das mulheres
guerreiras. O termo "pays remetia a" fornecia uma forma de localização, de e localidade,
praticamente nada tinha a significar enquantoembora não carregasse significados
contemporâneos de um recorte político nacional, conforme o conceito moderno.. O sentido de
terra e província era o que mais ecoava, por exemplo, nas predominante, especialmente em
crônicas e relatos da tomada de posse que narravam a conquista dessa parte da América, como
podemos verexemplificado em Gaspar de Carvajal, na obra "Descobrimento del rio de Formatado: Fonte: Não Itálico

Orellana. In: Descobrimentos do rio das Amazonas, em", que se aluderefere à expedição de Formatado: Fonte: Não Itálico

Pizarro às terras do Eldorado e da canela, onde posteriormente, passou-se a


denominaçãoregião foi denominada de "país das canelas" ou ainda a "província da canela,
como era visto o ", em referência ao território de Quito. As terras americanas eram tidas como
frequentemente chamadas de "países,", como queria Carvajal, pois expressa ao tratar das
abordar as conquistas de Orellana, dizia que era ele a pessoa a ser chamada para o
descobrimento e conquista daqueles países. .
Embora a área ao redor do rio Amazonas tenha recebido outrossido designada por
diversos nomes ao longo do tempo, a nomenclaturao termo "Pays das Amazonas" ainda
continuou aparecendo nos a ser empregado em escritos que faziam menção a mencionavam
Formatado: Fonte: Não Itálico
um território dashabitado pelas Amazonas na América, como foi o caso do . Isso é ilustrado
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pelo "Novo Dicionário de Geografia Universal,", de autoria de Jacques Mac Carthy (1785-
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1835), um material uma obra de origem francesa; na oportunidade. Nesse contexto, o verbete Formatado: Padrão: Transparente
sobre o rio Amazonas, após apresentar a caracterização do riodescrever suas características, Formatado: Padrão: Transparente

também discorreu sobre aborda a possível presença das Amazonas nessa área, evidenciando Formatado: Padrão: Transparente
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que existia um na região, indicando que o território das amazonas que habitado pelas
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Amazonas coincidia com a região área às margens do rio, pois, ao fazer menção ao. O termo
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"Pays das Amazonas, também citava"41 tornou-se o “pays des-Amazones le territ. ue ce Formatado ...
fleuve arrose” (Território das Amazonas que este rio rega).
O nome de "Pays das Amazonas"ficou bastante conhecidoamplamente reconhecido na Formatado ...
Europa, de modo que, sendo usado ainda no século XIX, ainda se usava o referido termo para
nomear a árearegião geográfica que veio a ser conhecidoposteriormente ficou conhecida como
região amazônica, como podemos observar a partir dos cronistas. Isso é evidenciado nos
relatos do Império brasileiro no Pará, a exemplo do que podemos constatarcomo é ilustrado na
obra "Corografia Paraense, ou Descrição Física, Histórica e Política da Província do Grão-
Pará, em " (1833, de ), escrita por Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva (1808 – -1865), um
português que morouviveu no Pará e que vivencioutestemunhou os
movimentosacontecimentos políticos da década de 1820, sendo ainda militar da Guarda
Nacional na província da Bahia.. Embora Cerqueira e Silva, apesar de tratar em seu livro por
se refira à região como "Província do “Gram-Pará”, acaba por também denominar", ele
também utiliza a designação "Paiz das Amazonas" para descrever essa parte do Brasil de
“Paiz das Amazonas”, informando, oferecendo informações sobre asua geografia e vários
outros aspectos pertinentes ao “paiz”, a exemplo das questões políticas.relevantes.
Outro cronista que deixou sua marca no contexto do Império no Pará, foi o militar Formatado ...
português Antônio Ladislau Monteiro Baena, que na . Durante a década de 1830 esteve à
frente do trabalho , ele liderou os esforços de levantamento estatístico da Província do Pará,
organizouresultando na elaboração de duas obras que ficaram muito
conhecidasdesempenharam um papel significativo na historiografia amazônica: "Compêndio
das eras da província do Pará,", de 1838, e "Ensaio corograficocorográfico sobre a província
do Pará" (1839).
Na sua primeira obra, Baena também tratouabordou a província na condiçãosob a Formatado ...
perspectiva de um país, especialmente na apresentação, momento em que principalmente na
introdução, onde enfatizava quea importância do seu trabalho preenchiaao preencher uma
lacuna, visto histórica, uma vez que o Pará carecia de uma histórianarrativa própria. Ainda
que Baena, embora oscilasse tenha oscilado entre os termos Pará, província e país,
sobressaísseo uso predominante foi o primeiro, pois. Isso é notável na primeira metade do
século XIX transparece, período em que parece ter havido uma demanda nadentro da
província por alavancarpara promover um sentimento de identidade paraense, umaampliar a
divulgação das características da provínciaregião e estabelecer um corpuscorpo narrativo,

41
Nouveau dictionnaire géographique universel: accompagné de quatorze cartes géographiques conformes aux
divisions établies par les derniers traités. Partie 1 / . Par J. Mac Carthy. l'auteur-éditeur (Paris), 1824, p. 53.
Formatado ...
Formatado ...
Formatado ...
como se pode notar. Esse contexto fica evidente no ofício do Presidente do Pará
Formatado ...
dirigidodirecionado a Baena comunicando-lhe sobre, no qual é comunicada a impressão da Formatado ...
segunda obra citada, dizendo:mencionada, e no qual se pode perceber o seguinte trecho: Formatado ...
Formatado ...
São estas obras as que mais interessam a qualquer país, pondo patentes os seus Formatado ...
meios de riqueza, e comunicação interior, e consignando aos presentes e vindouros Formatado ...
um número de fatos reais de que as ciências se podem aproveitar em prol do mesmo,
e eu me congratulo com V. Sª pela honra, que lhe cabe da publicação desta Formatado ...
interessante obra, assim como da outra – Eras do Pará – com que ainda este ano Formatado ...
enriqueceu a nossa literatura provincial.42
Formatado ...
Formatado ...
Na década de 1850, no âmbitocontexto do acalorado debate sobre as
Formatado ...
pretensõesaspirações norte-americanas em relação aà área às margens do rio Amazonas,
Formatado ...
sobretudo a partir da campanha particularmente impulsionado pela persistente campanha do Formatado ...
tenente da marinha americana, Matthew Maury, visando deslocarpara realocar seus Formatado ...

compatriotasconterrâneos do sul dos Estados Unidos para o no Amazonas, com vistas a Formatado ...
Formatado ...
efetuar um processoa fim de promover a imigração e a navegação na região, a imprensa
Formatado ...
regional concedia desempenhou um papel de destaque a talnesse debate, de modo que o. O
Formatado ...
periódico regional Jornal do Amazonas chamado, intitulado Estrella do Amazonas, em 4 de Formatado ...
maio de 1854, em uma matériaum artigo que respondiase posicionava contrariamente às Formatado ...
pretensões americanas na região, cita no trecho que se reportautilizou o termo "país Formatado ...
Formatado ...
amazonio" ao fato da abordar a possibilidade dos de os americanos ampliaremexpandirem a
Formatado ...
escravidão no Amazonas o termo “país amazonio” Também no âmbito das.43 Além disso, nas
Formatado ...
discussões sobre as intenções americanasdos Estados Unidos nessa parte da América, registra- Formatado ...
se é registrado que o tenente da armada estadunidensemarinha americana Matthew Fontaine Formatado ...
Maury, na obra intitulada "Amazonas: as costas atlânticas da América meridional" (1853), Formatado ...
Formatado ...
chegou a chamar se referir a esse mesmo território de “como "País do Amazonas“. A
Formatado ...
utilização desse termo só demonstra". O uso sequencial de termos como "pays das
Formatado ...
Amazonas", "país amazônio" e "país do Amazonas" ilustra o entendimento de Koselleck de Formatado ...
que, na a formação dos conceitos, existem extratosconceitual envolve camadas de significados Formatado ...
do passado, assim como e possibilidades futuras, dada a sequência semântica de nomes, Formatado ...

como: pays das Amazonas, país amazônio e país do Amazonas. . Formatado ...
Formatado ...
Tempos depoisPosteriormente, nas décadas de 1880, o brasileiro radicado na França,
Formatado ...
representante da região e do Brasil na Europa, o jornalista e escritor Frederico José de Santa
Formatado ...
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42
BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Corografico sobre a Provincia do Pará. Brasília: Senado
Formatado ...
Federal, Conselho Editoria, 2014.
43
Estrela do Amazonas. JornalCorrespondência do jornal do Commercio. Nº 88, 4 de maio de 1854. Formatado ...
Anna Nery (1848-1900), publicou, na década de 1880, um o livro intitulado "Le pays des Formatado: Padrão: Transparente

amazones: l’Eldorado, les terres aà caoutchouc" (título original em francês) destinado a ), Formatado: Fonte: Não Itálico, Padrão: Transparente
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com o propósito de apresentar e propagandearpromover a região na Europa. A obra de Nery
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fez parte de um conjunto de produções que construíramcontribuíram para construir a ideia de
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da região amazônica, pois embora teor do. Embora o título o conteúdo da obra remetiasugira, Formatado: Padrão: Transparente
na verdade, àuma abordagem a respeito das terras da Amazônia. Essa produção, a obra de Formatado: Padrão: Transparente

Nery ainda será melhor debatida neste trabalhodemandará uma análise mais detalhada. Formatado: Padrão: Transparente
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É possível compreenderevidente que, até o século XIX, a área às margens do rio
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Amazonas recebeu vários nomesuma variedade de denominações, e que nenhum deles Formatado: Cor da fonte: Automática, Padrão:
Transparente
denominava nenhuma delas se referia a essa parte da América de como Amazônia.
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Apareceram menções pulverizadasMenções esparsas e espaçadasisoladas surgiram, com Transparente
alguma referência, como "bacia amazônica.". O quadro abaixo permite visualizara seguir Formatado: Padrão: Transparente

proporciona uma visualização e sintetizar asíntese da formação conceitual a partir das Formatado: Padrão: Transparente
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váriasdiversas nomenclaturas atribuídas ao que veio a ser chamado deposteriormente seria
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conhecido como Amazônia:
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Quadro 02: nomes atribuídos a área geográfica às margens do rio Amazonas entre os séculos XVI e XIX. Formatado: Padrão: Transparente
Nome da região Século(s)
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Rio de Orellana, rio Marañón, Santa Maria do
Mar Doce, Rio das Amazonas, Terra dos Século XVI Formatado: Padrão: Transparente
Caraíbas, Eldorado, Maranhão.
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Maranhão, Pays des Amazones, Reino das
Século XVII
Amazonas, Estado do Maranhão. Formatado: Padrão: Transparente
Rio Amazonas, terra Paraguassu; Pará, América
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Meridional, Gram-Pará, Estado do Grão-Pará e Século XVIII
Maranhão; bacia amazônica. Formatado: Padrão: Transparente
Regiões equinociais da América, Hileia, Estado
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do Grão-Pará e Maranhão, Província do Grão- Século XIX
Pará; Amazônia.
Fonte: Dados da pesquisa (2022). Formatado: Espaço Depois de: 0 pt, Não adicionar
espaço entre parágrafos do mesmo estilo
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É notório que nos séculos XVI e XVII a dimensão mítica possuía bastante
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
forçaexercia significativa influência no imaginário coletivo e na denominação da
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm, Espaço
nomenclatura atribuída à região. Nos séculos XVIII e XIX, ganham espaçodestaque as Depois de: 0 pt, Não adicionar espaço entre parágrafos
do mesmo estilo
nomenclaturas de caráter mais oficiais ligadasoficial, relacionadas à divisão administrativa do
território, tais como Pará, Estado do Maranhão e Grão-Pará, Estado do Grão-Pará e
Maranhão, e Província do Grão-Pará; por outro lado, apareceram os nomes mais ligados.
Paralelamente, emergem termos voltados à dimensão geográfica e científica, como Rio
Amazonas, América Meridional, e bacia amazônica, Regiões Equinociais da América, e
Hileia;. Por fim, e não menos importante,igualmente relevante, surge a nomenclatura
Amazônia, como uma expressão da busca pelo statuspor um reconhecimento político e
regional, como veremos adianteconforme será abordado posteriormente.
Se no relatoEmbora o imaginário europeu e os relatos de viagem e na imaginação
europeia existiam um forte imaginário tenham contribuído para a construção de uma imagem
vívida de um "Pays das Amazonas" ou de um eldorado, naquilo que diz respeito aoao
considerar o território às margens do rio Amazonas na América do Sul, do ponto de vista
político e administrativo foi criada a noção é fundamental examinar a perspectiva política e
administrativa que culminou na concepção espacial denominada de Grão-Pará, situada no
grande Norte. Essa entidade territorial situava-se na vasta região nortenha dessa parte da
América.do continente americano. Inicialmente cabe perguntar, é pertinente indagar o que era
se entendia por "Norte? E" e como se inseria o lugar do Grão-Pará no Norte danesse contexto
na América Portuguesa, e depois do posteriormente, no Brasil?. Como se
organizouconfigurou esse território em tempos da formaçãono período de uma geografia
bináriaconsolidação de uma dicotomia geográfica entre o Norte e o Sul, e como de que forma
as tensõescomplexas dinâmicas políticas entre o Grão-Pará e a nascente Nação brasileira
criam as condições históricas de emergência daforneceram o terreno histórico para o
surgimento da noção de Amazônia? São algumas questões importantes com vistas a
melhorTais indagações constituem elementos cruciais para situar de maneira mais abrangente
o leitor na compreensão da invenção daapreciação da construção do conceito de Amazônia
noao longo do século XIX.
No desfecho deste capítulo, emerge uma constatação eloquente: o intricado processo
de nomeação e conceituação da Amazônia revela-se como um reflexo multifacetado da
história e das percepções humanas. Desde as raízes mitológicas de um "Pays das Amazonas"
até a cristalização do termo “Amazônia” como expressão de identidade regional, traça-se uma
jornada que transcende a mera demarcação geográfica.
O fluxo semântico que percorre essa narrativa denota a constante negociação entre
perspectivas locais e influências externas, entre imaginação e realidade, entre poder político e
anseios culturais. À medida que exploradores, cronistas, dicionaristas e pensadores moldaram
os contornos linguísticos e mentais da região, um painel complexo de significados emergiu,
conferindo à Amazônia uma aura de encanto e mistério.
Esse capítulo lança luz sobre a extraordinária evolução da nomenclatura e
conceituação amazônicas, destacando como o entendimento da região ecoou nas esferas
geográfica, política e simbólica. Nesse emaranhado de termos e ideias, encontramos não
apenas o reflexo de um passado riquíssimo, mas também os alicerces para compreendermos o
presente e forjarmos o futuro desta vasta e diversificada terra. Formatado: Fonte: (Padrão) Times New Roman, 12 pt

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