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Versão Com Marcas
Versão Com Marcas
1
KOSELLECK, Reinhardt. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro:
Contraponto Editora; Editora PUC Rio, 2006, p. 109.
2
KOSELLECK, Reinhart. História dos Conceitos: estudos sobre a semântica e a pragmática da linguagem
política e social. 1ª Ed. – Rio de Janeiro: Contraponto, 2020, p. 51.
sobretudo o conteúdoparticularmente o substrato semântico associado aos nomesàs
denominações em tela. As demaisestudo. Quanto às outras fontes, sua escolha esteve pautadaa
seleção se fundamentou na compreensãoconvicção de que foram relatos deas narrativas dos
viajantes que estiveram no exploraram o norte do Brasil, bem comojuntamente com os
debates históricos sobre a história dessa região no âmbito do IHGB, além das assim como as
notícias em veiculadas nos jornais sobre essa parte do Brasil, queacerca dessa parcela do
território brasileiro, constituem camadas de significados agregadosestratos de significado que
se amalgamaram ao conceito de Amazônia.
Além do mais, essas fontes acimaAdemais, as citadas fontes contribuíram para o que
chamamos, nesse trabalhodenominamos, neste estudo, de formação conceitual, noção a que
aludem um conceito elucidado por Assis e Ferreira, ao interpretarem e ressignificarem o
pensamento do historiador que reinterpretam e ampliam a concepção de Reinhart Koselleck,
para entender que. Para eles3, uma formação conceitual registra e forja simultaneamente, no
plano da linguagem, um determinado contexto de experiências [...]”.Para esses autores, uma
formação conceitual não é estáticase estagna em um estado estático e puramente
sincrônicasincrônico4, mas que “[...] conteria em siincorpora diferentes camadasestratos de
significado, diacronicamente escalonadas. Tais significados seriam o resultado em uma
progressão diacrônica. Esses estratos emergem dos processos de mediação,
recepçãoassimilação, apropriação e reinvençãoreinterpretação de sentidos, associados a os
quais se entrelaçam com formações conceituais do passado”.preexistentes.
Do ponto de vista semântico e ocidental, o conceito de Amazônia e/ou amazônica é
mais antigo do que o conceito geográfico e identitário regional no que diz respeito ao Brasil.
Logo, nossa hipótese inicial caminha no sentido de observarmos o quão o conceito em tela
não foi usado desde sempre para denominar um recorte regional no Brasil, e que seu uso nesta
mesma área visou a aludir à condição de conceito agregador de novos significados para uma
área que – através de suas elites – pretendia construir novos sentidos, imagens e concepções
para apresentá-los ao Brasil e ao mundo.
Formatado: Fonte: Não Negrito
2.1 Das amazonas à Amazônia nos dicionários Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
3
Ibidem, p.9.NOTA
4
Ibidem, p.9. NOTA
contextura da própria relação colonial espanholamantida entre a Espanha e portuguesa
Portugal com o território hoje chamado de atualmente designado como região amazônica,
visto que primeiro. Com efeito, inicialmente, a Coroa Castelhana esteve como senhora dessas
deteve a supremacia sobre essas terras, posteriormente acedida à Coroa Lusa assumiu o
domínio. Somente. Apenas em 1750 ocorreu a definição da posse portuguesa dessas terras
através, por intermédio do Tratado de Madrid, o qual reconhecia a expansão dos portugueses
nesse território, embora concretizou-se a demarcação da soberania portuguesa sobre essas
terras. Nota-se, contudo, que os lusitanos já tivessem assumido oexerciam controle da sobre a
área desde 1616 com a fundação de, quando alicerçaram uma colônia sob o nome de
“denominada "Feliz Lusitânia”,", posteriormente denominada de rebatizada como Nossa
Senhora de Belém do Grão-Pará. Por outro ladoParalelamente, a atenção aos vocabulários e
incursão nos dicionários e léxicos ingleses e franceses decorre justamente da amplitude se
justifica pela ampla influência linguística dessas nações a nível global da língua desses países
no mundo e pela proximidadepelo histórico vínculo e interesse que historicamente
mantiveramnutriram com as Américas e, por conseguinte, com a América e a Amazônia.
Para esse exercícioNo que concerne a esta abordagem conceitual, acessamosa
exploração recaiu sobre dicionários produzidos na oriundos da Espanha, Portugal, Inglaterra e
França entre os, ao longo dos séculos XVI ea XIX. As bases de dados pesquisadas permitem
uma maior consulta nesse recorte.submetidas a escrutínio conferem maior amplitude a essa
análise. A partir do século XIX, passaremos a contemplar osexpandimos nosso campo de
investigação para abranger dicionários de cunho luso-brasileirosbrasileiro, avançando, assim,
sobre o léxico brasileiro.pátrio.
Decidimos por procurar, na produção dicionarística A determinação em buscar
vestígios nos dicionários da ibérica, da inglesa e da francesa certos vestígios paratraduz-se em
uma discussãoindagação histórica a partir da ancorada na semântica acerca da Amazônia, por
acreditar . Tal busca é motivada pela compreensão de que os vocabulários e dicionários estão
para além da condição de um e léxicos transcendem a simples suporte lexical organizado
alfabeticamente, visto que “o saber lexical, em suas diversas formas, constitui-se
atravésclassificação alfabética do léxico, sendo concebidos como uma constelação de
significados que se molda por intermédio de processos históricos, muitas vezes de longa
duração”.frequentemente de extensão temporal considerável. O saberconhecimento linguístico
é, em sua essência, um produto cultural, social e histórico, e não pode ser dissociado da ação
dos homens do tempo que o produziu.estreitamente entrelaçado com as ações humanas no
contexto temporal de sua concepção. A opção que fazemos pelos pela exploração dos
dicionários recaideriva justamente sobre de seu papel como reunidor de significados Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
depositários de um léxico, acabando por revelar ossignificados lexicais, culminando na
Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
revelação dos intrincados processos de nomeação e classificação denominação e pt
categorização das sociedades. Krieger et al. resume., no contexto, sintetizam tal Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
importânciarelevância ao considerarafirmar que: Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
O dicionário de língua – a mais prototípica das obras lexicográficas – constitui-se no Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
único lugar que reúne, de modo sistemático, o conjunto dos itens lexicais criados e pt
utilizados por uma comunidade lingüística, permitindo que ela reconheça-se a si Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
mesma em sua história e em sua cultura. Além de se constituir em espelho da pt
memória social da língua, o dicionário desempenha o papel de legitimar o léxico.5
Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
Iniciemos pelos nossa análise nos dicionários ingleses e franceses, muito em função da Formatado: Forte, Fonte: (Padrão) +Corpo (Calibri), 11
pt
própria dimensão mundialuma abordagem que se justifica sobremodo devido à ampla
Formatado ...
circulação da língua inglesa, bem como a no contexto global, aliada à significativa relação
Formatado ...
histórica que tanto a Inglaterra equanto a França mantiveram com a região equatorial da América do Formatado ...
Sul e o consequente estabelecimento de suas Guianas. Outro fator importante a ser Formatado ...
considerado é o fato de , por extensão, à consolidação de seus enclaves na região das Guianas. Formatado ...
Formatado ...
É imperioso considerar, ademais, que tanto a Inglaterra equanto a França terem se constituído,
Formatado ...
ainda nos temposrecessos medievais nos primeiros , delinearam os primórdios dos estados
Formatado ...
europeus, constituindo, assim, as semeando os fundamentos das primeiras burocracias, e Formatado ...
chancelarias e lançado as bases daque deram sustentáculo à formação de das nações, o que Formatado ...
cada língua”.6 Ainda se justifica A incursão na dicionarística nos domínios da lexicografia Formatado ...
Formatado ...
inglesa e francesa otambém encontra sua justificativa no fato de que parteuma parcela da
Formatado ...
erudição filológica e lexicográfica desses países ter se esforçado por resgatar a civilização dessas
Formatado ...
nações empenhou-se na ressurreição da herança helênica atravéspor meio de livrosobras Formatado ...
literárias e materiaisrecursos diversos. Aparece, nesse movimento, Neste contexto, emerge a Formatado ...
Formatado ...
antiga ideia de que a concepção da Europa era descendente dos gregos e, portanto, aqui se
Formatado ...
5
KRIEGER, Maria da Graça et al. O século XX, cenário dos dicionários fundadores da lexicografia brasileira: Formatado ...
relações com a identidade do português do Brasil. Revista Alfa, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 173-187, 2006, p. 174.
6 Formatado ...
ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2008, p. 112. Formatado ...
vislumbra a ideia de perceber como herdeira da civilização grega, o que por sua vez suscita a
indagação sobre como a lexicografia apresentoucanalizou os termos "amazonas" e "Amazônia Formatado ...
ingleses não apresentavam mais contemplavam o termo "Amazônia,". Em seu lugar apresentavam,
emergiu a expressão “"amazon”" ou "amazona, grosso modo, com", capturando, de forma
sucinta, o significado que passaria a ser conhecidoposteriormente se difundiria mundialmente,
como se pode notaratestado em "An English Expositor, de", da autoria de John Bullokar, datado de
1616:
Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
Uma mulher do País Amazónico. As amazonas eram mulheres guerreiras da Cítia,
que mantinham uma região só para elas, sem homens, mas que, para terem filhos,
faziam companhia aos povos vizinhos. Destruíam os filhos ou mandavam-nos para
casa do pai, mas conservavam as filhas, que ajudavam na caça, no tiro, no tiro ao
alvo e nas lutas de armas. Queimavam o seio direito de seus filhos, para que não lhes
fosse prejudicada a sua arquitetura, daí o nome de amazonas, que (em grego)
significa mulheres que não têm seio (tradução nossa).7
de Joshua Poole, que apresentou a amazona como guerreira, resistente, robusta, cruel, feroz,
viril, masculina, ousada, valente, precipitada, inebriante, furiosa e que fazia uso de um
caracterizou as amazonas como guerreiras resilientes, robustas, cruéis, ferozes, viris,
masculinas, ousadas, valentes, impetuosas, inebriantes, furiosas e proficientes no uso do
machadoEsse perfil como arma.8 Fragmentos destes traços ressurgem, até certo ponto, em
partes, voltou a aparecer em Edward Phillips, "The New World of English Words" (1658), Formatado: Fonte: Não Itálico
7
BULLOKAR, John.. An English Expositor: teaching the interpretation of the hardest words in our language
(Um expositor de inglês: ensinando a interpretação das palavras mais difíceis da nossa língua). Londres: John
Legatt, 1616. Disponível em: https://leme.library.utoronto.ca/lexicon/entry/323/172em:. Acesso em: 31 ago.
2020. (tradução nossa).
8
Poole, Josué. O Parnaso inglês, 1657. Lingüística inglesa, 1500-1800, n. 359. Menston: Scolar Press, 1972. In:
https://leme.library.utoronto.ca/lexicons/494/details#fulltext Acesso em 31 ago. 2020. Joshua Poole, The
English Parnassus (1657). In: https://leme.library.utoronto.ca/search/quick Acesso em 31 ago. 2020.
no tratamento do termo “"amazona”. Tratamos dos". Analisamos os seguintes dicionários: "A Formatado: Fonte: Não Itálico
Dictionary of the English Language" (1755), de autoria de Samuel Johnson, e "A New Formatado: Fonte: Não Itálico
Universal Etymological English Dictionary" (1755), organizado por Joseph Nicol Scott. No
primeiro, as amazonas são mencionadas em outros verbetes, em alguns dos quais
notapercebe-se certa visãouma conotação negativa, acomo por exemplo de: “Para saltar –
amazona saltitante” (tradução nossa), “consorte – sua amazona guerreira invade seu anfitrião”
(tradução nossa), “duas mãos – Uma amazona, a grande prostituta de duas mãos” (tradução
nossa), “errado – Acho que você é uma amazona invencível, pois vai superar, embora em um
assunto errado” (tradução nossa).
O segundo dicionário acima citadosupramencionado, notadamente o "A New Formatado: Fonte: Não Itálico
Universal Etymological English Dictionary,", além de aludirretomar as alusões às amazonas a Formatado: Fonte: Não Itálico
Amazone - mulher de coragem masle & guerreira. Ela é uma amazona. Esse Formatado: Fonte: 12 pt, Itálico
significado vem do fato de que costumava haver um país inteiro dominado por
mulheres todas guerreiras, que eram chamadas de amazonas. Pentasilea Rainha das
Amazonas (tradução nossa).9
9
COIGNARD, Jean-Baptiste, 1693-1765, impressão. O Dicionário da Academia Francesa 1694. Em Paris: na
Viúva de Jean Baptiste Coignard, Impressor Ordinário do Rei, e da Académie Françoise, rue S. Jacques, na
Golden Bible: e em Jean Baptiste Coignard, Impressor e Livreiro Ordinário do Rei, e do Académie Françoise,
No século XVIII, as edições do Le Dictionnaire de l'Académie française, a partir de
1762, apesar de seguir o Dictionaire critique de la langue française (1787), ao postular que as
amazonas eram mulheres de coragem masculina e guerreiras, acrescenta, em relação ao
verbete “Amazone”:
Formatado: Fonte: 12 pt
[...] esse significado vem do que os Antigos escreveram que havia uma vez na Ásia Formatado: Espaçamento entre linhas: 1,5 linhas
um grande país habitado por mulheres todas guerreiras, chamadas Amazonas,
porque desde a infância eram queimadas um úbere para torná-las mais adequadas
para o tiro, o arco (tradução nossa).10
No século XIX, a sexta edição do "Le Dictionnaire de l'Académie française", em sua Formatado: Fonte: Não Itálico
sobre a surge uma indagação acerca da origem incerta do nometermo “amazone”, Formatado: Fonte: Não Itálico
rue S. Jacques, perto de S. Severin, no Livre d'Or, 1694, p. 33. Disponível em: https://purl.pt/37774/l-2715-
a_2_master/l-2715-a/l-2715-a_PDF/l-2715-a_0000.pdf Acesso em: 1 de set. 2020. O Dicionário da Academia
Francesa 1694, t. 1 (Coignard. Paris , 1694 ). In: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17 Acesso em: 1º set.
2020.
10
O Dicionário da Academia Francesa. Quarta edição. T.1 (Brunet, Paris, 1762). In: https://artfl-
project.uchicago.edu/node/17 Acesso em: 1º set. 2020.
mitológico de uma etimologia hoje irreconhecível”. Nesse dicionário, é feita uma
mençãoreferência à palavra "amazonas" como uma expressão que significa se refere a um rio
com o mesmo nome, o que nos apontouindicando assim um indício do uso geográfico do
termo. Foi no O ano de 1873 que a dicionarística francesa começou a utilizar a palavra marca
o início do emprego do termo "Amazônia" na lexicografia francesa para designar uma área do
região no norte da América do Sul, marcando, na dicionarística. Isso representa, na análise da
lexicografia europeia analisada nessecontemplada neste estudo, a designação de uma parte da
Américado continente como "Amazônia. Essa". Esse é uma épocaum período em que
váriosdiversos viajantes começavamcomeçaram a tratar referir-se a essa parteregião do Brasil
pelo nome de "Amazônia, numa época em que", notavelmente quando a França possuía
relaçãomantinha uma conexão direta com essa área, através da presença da Guiana Francesa.
No mesmo dicionário, observamos verbetes formados por unidadesobservam-se
entradas lexicais que fazem referência à fauna e à flora da América relacionandodas
Américas, associando-as com osaos termos "amazonas" e "amazônico, vejamos:". Por
exemplo, no verbete “Half amazona” refere-se a “Espécies”, há referência a uma “Espécie de
papagaio da Guiana”; mais adiante, no verbete “Ordem”, os papagaios da Guiana são
referenciados da seguinte maneira: “ele [o papagaio amazônico] pertencedescritos como
“pertencentes à ordem das amazonas pelodevido ao vermelho que tem no chicote daspresente
nas asas”11. Ao tratar de um gênero de macacos da América do Sul, o dicionário em tela faz
menção àsmenciona as “forêts des bords de l'Amazone””, ou seja, as florestas das às margens
da Amazônia. Na composição do No verbete “Pampa” aparece a”, é atribuído o seguinte
significação: “vastasignificado: “ampla planície da América do Sul, ao redor decircundante a
Buenos-Ayres e na bacia amazônica”12. É relevante notar que, nos dicionários mais antigos
que circulavam na Europa, os termos que se ligam ao Brasil e à América há uma inclinação
para unidades lexicais e referências à natureza, como percebeu Filomena Gonçalves em
relação ao Vocabulário de Bluteau, compreendendo que “[...] as unidades lexicais relativas ao
Brasil dizem respeito sobretudo à fauna, à flora, aos acidentes geográficos, aos utensílios, aos
gentios, ao tipo de propriedade ou exploração agrícola”.13
Na dicionarísticaesfera lexicográfica espanhola, registramos apenasencontramos
somente duas referências em relação ao vocábulo menções ao termo "amazonas e ", sem
11
ORDEM, Émile Littré. Dicionário da língua francesa (Littré). Volume 3. Paris: Machadinha, 1873.
Disponível em: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17. Acesso em: 05 set. 2020)..
12
ORDEM , Émile Littré. Dicionário da língua francesa (Littré). Volume 3. Paris: Machadinha, 1873.
Disponível em: https://artfl-project.uchicago.edu/node/17. Acesso em: 05 set. 2020.).
13
GONÇALVES, Maria Filomena. A marca lexicográfica “termo do Brasil” no Vocabulario Portuguez e Latino
de Rafael Bluteau. Alfa, São Paulo, v. 50, n. 2, p. 205-228, 2006.
nenhuma faz referência ao termo "Amazônia entre os" nos séculos XVI e XVIII. Os registros
citados acima Essas referências estão em dois suportes semânticos: presentes em duas obras
semânticas: "Origen y etymología de todos los vocablos originales de la Lengua Castellana" Formatado: Fonte: Não Itálico
(1611), de autoria de Francisco de el Rosal, um médico natural de Córdova; "Vocabularium Formatado: Fonte: Não Itálico
latino" (1712-1728), escrito pelo padre de origem francesa Raphael Bluteau (1638-1734), que Formatado: Fonte: Não Itálico
Portuguez e latino foi" vai além da mera descrição das Amazonas da região dana Eurásia, Formatado: Fonte: Não Itálico
visto que se propôs a apresentar certopropondo um debate de autores que acreditavam na
sobre a presença de amazonasdessas figuras em várias regiões, a exemplo da Etiopiacomo a
Etiópia Oriental e na a China. O texto dicionarístico ainda incursiona pela também se aventura
na obra "Eneida", do autor romano Virgílio, para citar as expressões latinas como
“Amazonidum” e “Amazonius”. NessaEssa ampliação de abordagem, nota-seenfoque também
inclui a citaçãomenção ao rio das Amazonas, logo tratou acercaexplorando a história de
Francisco Orelhano, Tenente general de Gonçalo Pizarro, que, durante uma expedição em
1540, teria denominadonomeado o rio o qual que navegava por como "Orelanna" e logo
depois de posteriormente "Amazonas em função da", devido à presença, de mulheres
"belicosas" em suas margens, de mulheres “belicosas”, que pareciam exercer
mandoautoridade sobre os homens, assim “imaginou ter achado as verdadeiras Amazonas, &.
Essa informação foi divulgada na Europa se publicou esta nova de sorte, que lhe ficou ao Rio,
perpetuando o nome Continua do rio.14 O Vocabulario Portuguez e latino
explanandodicionário continua, explicando que “Este Rio chamase por outro nome o graõ Formatado: Fonte: Não Itálico
Pará, & pellos da terra Paraguassu, que soa na nossa lingoa Largo mar. Amazonum fluvius, ij.
Masc. Outros lhe chamaõ Orelliana, ae. alludindo ao nome do seu primeiro descobridor”.15
O Vocabulario Portuguez e latino deixava entrever possíveis desdobramentos
semânticos no horizonte do vocábulo Amazônia, posto que apresentava outro termo
semelhante a expressão amazonas, a saber: “amazónio”, como se observa nos significados
apresentados:
14
BLUTEAU, Raphael. (1638-1734). Vocabulario Portuguez e latino (Volume 01, Letra A). Coimbra: Collegio
das Artes da Companhia de Jesus, 1712. In: Corpus Lexicográfico do Português. S/P. Disponível em: http://clp.
dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Palavras&opcao=Textos
15
Idem.
16
Idem.
constituemrepresenta uma marca espacial, além do assim como o império das amazonas; por
outro lado, apareceocorre uma marca em alusãoassociada aos povos desse império, como ou
seja, os "amazonios. A derivação". Essas derivações do vocábulo termo "amazonas foi
registrada" também nos seguintes foram registradas em dicionários luso-castelhanos,
respectivamente: específicos: no "Thesouro da lingua portugueza." (1697) de Bento Pereira, a Formatado: Fonte: Não Itálico
partir do no verbete “"Amazonius”" com o significado relacionado às “Coisas das Formatado: Fonte: Não Itálico
Amazonas”17; e em no "Diccionario castellano y portuguez para facilitar a los curiosos la Formatado: Fonte: Não Itálico
noticia de la lengua latina, con el uso del vocabulario portuguez y latino" (1721), também de
autoria do mesmo de Raphael Bluteau, comapresentando a palavra “"amazônio”" apenas com
“"id”", sem conteúdo.detalhamento.
O "Diccionario da Lingoa Portugueza" publicado pela Academia Real das Sciencias de Formatado: Fonte: Não Itálico
17
PEREIRA, Bento. Thesouro da lingua portugueza. 1697. In: Corpus Lexicográfico do Português. Disponível
em: http://clp. dlc.ua.pt/DICIweb/default.asp?url=Palavras&opcao=Textos. Acesso em: 14 mar. 2021.
18
DICCIONARIO da Lingoa Portugueza publicado pela Academia Real das Sciencias de Lisboa. (Tomo
Primeiro). Officina da Academia Real das Sciencias de Lisboa, 1793. Disponível em:
https://bibdig.biblioteca.unesp. br/handle out. 26033 Acesso em: 15 set. 2020.
inexistianão existia na linguagem entre os séculos XV e XVIII; se tomarmos por base a. Se
nos basearmos na lexicografia, apenas existiam as condições semânticas. eram as únicas
presentes. Menos ainda a existência desse nome como denominaçãose referia a essa
designação espacial de alguma parte dos domíniosterritórios sob domínio hispânico-lusosluso
na América. Apenas aparecerem como referências espaciais mais conhecidas nas acepções
dicionarizadas o “em termos de espaço eram registradas, tais como o "Rio das Amazonas”" e
o Pará e/ou GramGrão-Pará. O dicionário de Raphael Bluteau (1712-1728) se reporta
aomenciona o Pará como:
Na transição do século XVIII para o século XIX, temos nos deparamos com o
Dicionário de Bluteau Revisto pelo brasileiro por Antônio de Moraes Silva, com a brasileiro, Formatado: Fonte: Não Itálico
cuja primeira edição data de 1789. AEsta obra marca a assinala o início da dicionarização
luso-brasileira, ou seja, uma caracterizada pela produção monolíngue do em português, com a
inserção de palavras brasileiras.que incorporou vocábulos brasileiros. Moraes resumiuSilva
condensou os oito volumes da obra de Bluteau em dois, provavelmente essa situação explique
a ausênciao que pode explicar a omissão dos verbetes "amazonas" e "amazonio.". No decorrer
do século XIX, o Dicionário de Moraes teve mais cinco edições adicionais (1813, 1823, 1831,
1844, 1858), sendo que, a partir de 1813, passou a ser intituladoadotou o título de Dicionário Formatado: Fonte: Não Itálico
19
BLUTEAU, Rafael. Vocabulario portuguez, e latino, aulico, anatomico, architectonico, bellico, botanico ... :
autorizado com exemplos dos melhores escritores portuguezes , e latinos; e offerecido a El Rey de Portugal D.
Joaõ V. Coimbra, Collegio das Artes da Companhia de Jesu : Lisboa, Officina de Pascoal da Sylva, 1712-1728. 8
v; 2 Suplementos. Disponível em: https://www.bbm.usp.br/pt-br/dicionarios/vocabulario-portuguez-latino-
aulico-anatomico-architectonico/?page_number=4699#dic-viewer Acesso em: 18 set. 2021
Além dos dicionários bilíngues português-tupi ainda da época colonial, o dicionário
monolíngue de Moraes foi o mais amplamente utilizado e criou as condiçõespavimentou o
caminho para a futura dicionarística brasileira. Foi A partir da década de 1830,
especialmenteparticularmente em 1832, que surgiu o primeiro dicionário elaborado concebido
no Brasil, o Dicionário da Língua Brasileira, de Luiz Maria da Silva Pinto. NesseNeste
dicionário, notadestaca-se a ausência dos verbetes "Amazonas" e "Amazônia", assim como
nenhuma unidade léxica do verbete Amazonas, bem como não existe nenhum registro ou
unidade do léxicoportuguês brasileiro com a trazia tal denominação de Amazônia. O
Dicionário da Língua Brasileira, diferentemente. Ao contrário do dicionário de Antonio
Moraes, pautava-se pela ideia de o Dicionário da Língua Brasileira buscava estabelecer a
fundação de uma da dicionarística brasileira, buscava procurando diferenciar-se distinguir
como representante da língua brasileira e não mais, em detrimento da língua portuguesa.
Dantielli Garcia consideraobserva que, ao versar sobre o tratar do Brasil “[...], o lexicógrafo
deixou de lado osoptou por omitir exemplos literários – literatura Nacional –, nacionais, assim
como o vocabulário indígena. Evitou, evitando, assim, que esses outros sentidosaspectos
ressoassem no dizer sobre o em sua descrição do Brasil”..
AindaContinuando no século XIX, registra-se o aparecimento dos testemunhamos o
surgimento de dicionários com a função de complementocomplementares aos dicionários
portugueses, a exemplo do "Vocabulário brasileiro para servir de complemento aos Formatado: Fonte: Não Itálico
Sul" (1852), e o "Diccionario topográfico, histórico e descriptivo da Comarca do Alto Formatado: Fonte: Não Itálico
Amazonas" (1852), de autoria do membro do IHGB e capitão-tenente da Marinha, Lourenço Formatado: Fonte: Não Itálico
Comarca do Alto Amazonas" foi praticamente, de maneira prática, o primeiro dicionário Formatado: Fonte: Não Itálico
20
AMAZONAS, Lourenço da Silva Araújo e. Diccionario topographico, historico, descriptivo da comarca do
Alto-Amazonas. Recife: Typ. commercial de Meira Henriques, 1852, p. 11. Disponível em:
https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3135
21
Ibidem, p. 100.
22
Ibidem, p. 105.
23
Ibidem, p. 332.
desta amostra através do . Isto é corroborado tanto pelo registro presente no dicionário em
tela, nos análise quanto por discursos políticos no Parlamento brasileiro e , bem como em
propostas de redivisão do território nacional, também observamos o uso da palavra
reorganização territorial do país, nos quais é perceptível o emprego do termo no contexto deda
criação da nova província brasileira.
EssaEsta situação acima converge para se pensar a nos remete à importância dos
apontamentos feitosdas observações feitas pelo sociólogo e teórico da culturacultural galês
Raymond Willians, ocasião emWilliams, que destaca que o autor considera que “"os
significados das palavras são interessantes. Muitas vezes, porém, o notáveis. Contudo,
frequentemente, o aspecto mais interessantenotável é a sua variaçãoevolução subsequente”.24
Em outras palavras, tal como se observaevidencia acima, o termo “vocábulo "Amazônia”
apareceu" inicialmente emergiu em dicionários estrangeiros como com um significado
ligadoassociado às rainhas das amazonas, logo falava-seremetendo à ideia de rainhas que
reinavamreinantes em um espaçocenário mítico e da Antiguidade: a Amazônia. Também
lembramos doMenciona-se também o uso do termo para se referir à própria mulher
amazonaàs próprias mulheres amazonas como uma "amazonia. Todavia". No entanto, a
dobramudança semântica visualizadaidentificada no "Dicionário topográfico aponta para " Formatado: Fonte: Não Itálico
direciona a noção de Amazônia como para uma região localizada no ao norte do Brasil.
Em 1859, foi publicado no Brasil o "Dicionário da Língua Portuguesa, em ", uma Formatado: Fonte: Não Itálico
homenagem ao Imperador D. Pedro II, de autoria de Eduardo de Faria, proposto como o. Este
dicionário foi promovido como o mais exatopreciso e mais completo de todos os dicionários à
sua época, vistouma vez que seu autor consideravaavaliou as produçõesobras de Bluteau e
Morais como inexatainexatas e incompletaincompletas, respectivamente. A obracontribuição
de Eduardo de Faria foi praticamente o primeiro dicionário voltado para o léxico luso-
brasileiro a conter um verbete dedicado aoinclusão do termo “"Amazonia”, todavia,", embora
este não aludiaesteja associado a um recorteuma delimitação regional, tendo apresentado
como significado sermas sim se refira a Amazonia uma planta herbácea da Índia. Trouxe
ainda osO dicionário também apresenta vocábulos correlatos, tais como “"amazonio”
significado como", que significa pertencente às amazonas, e “"amazônico”", definido como
monte da Capadócia,; ambos seguiramseguem a dicionarização proveniente da tradição
dicionarística ocidental.
24
WILLIAMS, Raymond. Palavras-chave: um Vocabulário de Cultura e Sociedade. Editora: Boitempo
Editorial, 2007.
O dicionário de Eduardo Faria foi produzido com fins de reforçar a unidade nacional
através da língua, logo sua missão voltava-se para a pátria, para o país, notadamente sob o
comando de um imperador. Essa situação permite perceber que não havia interesse sobre o
tema regional, visto a preocupação com o nacional. As referências geográficas do norte
amazônico foram feitas por vias dos termos rio Amazonas, Província do Pará e pelo verbete
“Eldorado”, momento em que se cita um país imaginário da América Meridional que teria
possivelmente se situado no Amazonas, sobretudo por ser visto como lugar de grande
quantidade de ouro cuja capital seria Manoa, tida como capital desta região.
O "Dicionário de Botânica Brasileira" (1873), coordenado e regidoorganizado por Formatado: Fonte: Não Itálico
Joaquim de Almeida Pinto, a partir dos manuscritos de Arruda Câmara, e revisado pela
Sociedade Velosiana e aprovado pela , com aprovação da Faculdade de Medicina da Corte,
apresenta inclui vários verbetes sobre vegetais que descritos como origináriosplantas nativas
ou que possuíam com presença nas “"regiões amazônicas”.". A referência geográfica regional
aparece emerge cerca de uma década depois do após o uso nos do termo em discursos
parlamentares, oportunidade em que a . Este emprego da ideia de região amazônica foi
utilizada pelos adotado por representantes políticos paraensesdo Pará para ampliarem o
espaço de atuaçãoampliar a sua influência no Norte do Brasil. Além do quedisso, é preciso
lembrarrelevante notar que no mundoâmbito botânico e nas discussões ligadasrelacionadas à
natureza, os vocábulos termos "Amazônia" e "região amazônica" já circulavam entreeram
utilizados por viajantes e homens de ciência dacientistas durante a segunda metade do século
XIX, especialmente por aqueles que realizavamconduziam expedições pelo rio Amazonas.
A análise com base nos dicionários foi realizadaconduzida até a década de 1870, haja
vistauma vez que a partir dessedeste período, especialmente a partir de após 1880, os
vocábulos termos "região amazônica" e "Amazônia já eram utilizados com maior frequência"
passaram a ser frequentemente empregados para denominardesignar um recorte regional
brasileiro.no Brasil. O percurso dessesdestes termos nos dicionários foi importanterevelou-se
significativo até esseeste ponto para evidenciar as variações, as torções semânticas e a
variedadea evolução, a transformação semântica e a diversidade de significados aplicados,
pois permite atribuídos, permitindo compreender essencialmente, sobretudo, que o uso dosa
utilização destes termos para nomearidentificar a região não foi desde sempre, a nomeação
regional temuma constante, tampouco emergiu espontaneamente. A concepção de região
amazônica possui a sua própria história, dada sua historicidade cheia de significados.
trajetória histórica, repleta de conotações.
Além do mais, interessa-nos evidenciar que a incursão na Adicionalmente, é pertinente
destacar que a exploração da dicionarística demonstra que o termo "Amazônia" não foi
utilizadoempregado até o século XIX comopara delinear uma delimitação geográfica regional
para uma de alguma parte da América, bem como não foi utilizado. Da mesma forma, não se
pode identificar a utilização deste termo como conceito político dentro de um projeto também
político das elites da região amazônica. PodeEvidencia-se notar que, antes do século XIX
praticamente não eram utilizados, os termos "região amazônica" e "Amazônia" eram
praticamente inexistentes como referências geográficas da para a área às margensao longo do
rio Amazonas. A cartografia e a literatura de viagem faziam uso deutilizavam outras
nomenclaturasdenominações para denominar esse recorte geográfico. Adescrever esta área
geográfica. Qualquer menção de algum modo à “"república amazônica”,", por exemplo,
apareceuestava relacionada apenas como referência a um possível espaço do associado ao
mito das mulheres guerreiras, as amazonas, de modo que não fazia nenhuma referência ao
amazonas, sem qualquer vínculo com o conceito moderno de Amazônia. EsseEste primeiro
capítulo possuidesempenha a função justamenteprimordial de demonstrardestacar que,
embora haja basesfundamentos para o conceitoa concepção de Amazônia, eleesta deve ser
concebidocompreendida a partir de uma dimensãoperspectiva política e identitária, haja vista
o fato de . Destaca-se que esta concepção não o é desde sempreintrínseca, não surgiu do nada,
nemde forma automática e não acompanhou o momento processo inicial de configuração da
região pelo agente externoregional levado a cabo por influência externa.
Por outro lado, os significados deassociados a uma terra opulenta, de terra pouca
escassamente habitada e a espera pelo progresso já passaram a ser com expectativas de
desenvolvimento foram construídos nos primeiros temposmomentos do domínio branco e
europeu sobre ana região. EssesEstes significados, reconfigurados, passaram a compor, de
forma ressignificada, o instrumental o arcabouço de significados do conceito moderno de
Amazônia, o qual pretendemos estudar nesse trabalho, visto que “é o foco deste estudo. É
crucial analisar esta transformação a partir de uma perspectiva política e identitária, uma vez
que "todo conceito fundamental contémcarrega, em diferentes graus de profundidade,
parcelasvariados, traços de significados passados, assimbem como expectativas de
futurofuturas com pesos diversos”.diferentes níveis de importância". Além disso, a análise do
que, o campo lexical é importanteemerge como um aliado essencial para a compreensão do
processo de invenção da ideia de Amazônia, permitindo rastrear os significados
pretéritosanteriores das palavras “"amazônica”" e “"Amazônia”, o que colabora". Tal
abordagem contribui diretamente para o entendimentoa compreensão de que tais
denominações pouco tinham a verestas designações possuíam pouca relação com a concepção
política das citadasdessas palavras no contexto do século XIX, como veremos adiante. Para
rastrearmosconforme será detalhado a seguir. A fim de investigar a construção regional a
partir da concepçãoideia de Amazônia, é imprescindível estudarmostorna-se imperativo
examinar a formação política dessa parteparcela da América do Sul, passando em
revistarevisitar desde a formação doda região Norte até o Grão-Pará, bem como a formatação
da dimensãoalém de analisar a configuração territorial dessa área, incluindo as formas de
nomeação, por parte das adotadas pelas entidades estatais no durante o processo de ocupação
e domínio sobre essa áreacontrole do território.
25
O’GORMAN, E. A Invenção da América. Reflexão a respeito da estrutura histórica do Novo Mundo e do seu
devir. São Paulo: Ed. da UNESP, 1992, p. 39.
amazonas americanas “, que eram interpretadas como "devoradoras de homens”. Para". Azuar Formatado: Português (Brasil)
Todo eso tiene una sencilla explicación, relacionada tanto con la economía
representativa de la alteridad (en femenino) como con la reactivación moderna-
colonial del mito clássico de la amazona, para la que la antropofagia, además de ser
el signo máximo del salvajismo y el extremo imaginario del miedo masculino al
poder ‘absorbente’ de lo femenino, lo es también del temor al Otro en el espacio de
su dominio: representa la contingencia de que esa absoluta otredad desnuda y
disponible que se asoció alegóricamente con América fuera a su vez deseante y
devoradora26.
Formatado: Português (Brasil)
A projeção da imagem selvagem projetada sobre a América possuíaencontra suas Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
Heródoto tem-se a ideia, há uma concepção de um ser seres meio humano, humanos e meio
animal. Foi justamente na animais. A Cítia que as narrativas gregas localizaram o
estabelecimento das amazonas , mais especificamente às margens do rio Termondonte,
advindasfoi o local no qual as narrativas gregas situaram as amazonas, alegadamente oriundas
da região do Cáucaso, na Ásia Ocidental. Em Heródoto, No Livro IV de suas "Histórias, é Formatado: Fonte: Não Itálico
exposta a visão", Heródoto expressa a perspectiva grega de alteridade sobre as em relação às Formatado: Fonte: Não Itálico
mazós,", que pode ser interpretado como “sem seio”, preferindo o termo oiórpata. É
perceptível, assim, o interesse”. Esse enfoque grego em classificar certa visão sobre asna
nomenclatura das amazonas. é evidente e significativo.
Além do maisAdemais, Hartog ressaltaenfatiza que o ato de nomear não é
neutrodesprovido de intenções e está intrinsecamente ligado à retórica da alteridade, vistouma
vez que impor oum nome revelacarrega consigo certo poder e que tal. Esse ato é muito mais
26
AZUAR, Remedios Mataix. Androcentrismo, Eurocentrismo, Retórica Colonial: Amazonas en América.
América Sin Nombre, nº 15, p. 118-136, 2010. ISSN: 1577-3442 / e ISSN: 1989-9831 P. 126.
do que vai além de uma simples fala, por isso, consideraarticulação verbal, sendo que,
conforme coloca Hartog que “sabe-se que, , “desde a narrativa do Gênesis, sabemos que a
nomeação supõesimplica domínio: renomeandoao renomear as criaturas de Deus, Adão
proclama, ao mesmo tempo, sua preeminênciasuperioridade sobre elas”. Outra questão
importante levantada Outro aspecto relevante levantado por Hartog diz respeito à relação
doentre o nome come a produçãoconstrução de imagem, pois utilizando como exemplo a
questão dos imagens. Tomando os nomes dos deuses gregos como exemplo, ele esclarece que
o nome do deus expressa a um nome de uma divindade não apenas transmite uma
representação sonora e, mas também encapsula uma imagem daquilo que representa. O termo
"amazona" atesta o poder daqueles que conferiram esse nome, encapsula o domínio daqueles
que os nomes eram, na verdade, imagens das coisas. O nome “amazonas” revela o poder do
que as nomeou, traduz o poder de quem se interessou em escolheram nomeá-las.
SobreConsiderando a nomeação e o conceito de "Amazonas no mundo grego" na Grécia
Antiga, segue a definição do presente no "Dicionário de Mitologia Grega e Romana:". Formatado: Fonte: Não Itálico
27
HACQUARD, Georges. Dicionário de Mitologia Grega e Romana. [S.l.]: Divisão Gráfica das Edições ASA.
1 .@ edição: 1996.
indígena, uma figura feminina estendida, nua, desprovida de vestes, uma presença não
nomeadareconhecida da diferença, um corpo que desperta numemerge em meio a um espaço
repleto de vegetaçõesvegetação e animais exóticos”.. Segundo Certeau, nestenesse momento,
o conquistador irá operarempreenderá a escrita do sobre o corpo do Outro e, inscrevendo nele
marcar a sua própria história. Esse narrativa histórica. Tal perspectiva do historiador francês
está referindo-se remete à escritaprática da história conquistadora que passou a funcionar na
escritacolonização ocidental colonizando corpos, pois “utilizará, que utilizou o Novo Mundo
como uma páginaum "papel em branco" (selvagem) para nela escrever o querer ocidental”
registrar a vontade do Ocidente. 28
Um dos mais antigosprimeiros textos sobre a ideiatratar da noção de descoberta da
América, por exemplo, foi intitulado de o "Sumário de La Natural História de Las Índias, de Formatado: Fonte: Não Itálico
Por outro lado, a mulher e a ilha, estão unidas em laços simbólicos. Ambos são
concebidos como espaços a conquistar, onde os mistérios, recompensas espirituais,
tesouros, em suma, o inesperado são recompensas espirituais, tesouros, em suma, o
inesperado. Algumas ilhas de diferentes tradições mitológicas são também habitadas
por mulheres.29
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
28
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982, p. 9.
29
No original: “Por otra parte, la mujer y la isla se unen en lazos simbólicos. Ambas se conciben como espacios
susceptibles de ser conquistados, donde se guardan misterios, recompensas espirituales, tesoros , en fin, lo
inesperado. Algunas islas de diferentes tradiciones mitológicas también están habitadas por mujeres. Cf.:
GOZALEZ, Vanessa Fonseca. (1). América es nombre de mujer. Revista Reflexiones, 58(1), p. 7. Disponível
em: de https://revistas.ucr.ac.cr/index.php/reflexiones/article/view/10965 Acesso em: 15 maio 2021.
área, vistoregião. Nota-se que, em uma alusão ao seu descobridor, a América
significava,ganhava a conotação de "terra de Américo", e esse significado prevalecia para
muitos naqueles tempos de conquistana era das conquistas. Nesse contexto, a “terra de
Américo”. Foi nessa terra que muitosdenominada América servia como palco para a
reatualização de diversos mitos oriundos do mundo antigo e medieval foram reatualizados e .
Esses mitos desempenharam considerávelum papel para significativo ao atrair a atenção do
mundo europeu para essa parte do globo o mundo europeu, a exemplo, exemplificado no caso
do Eldorado e asdas amazonas.
Em outra análise realizada por Fonseca, em outro estudo, desta feita sobre aque se
volta à erotização do continente americano, destaca justamenteé salientada a presença
proeminente das amazonas nesse campono âmbito imaginário e mitológico que sustentava.
Tais figuras sustentavam a ideia de uma América virgem e que aguçava as, evocando uma
aura de exotismo que despertava o interesse das expedições eeuropeias e estimulava a
curiosidade pelo exotismo daem relação à região:
Aqui nos deram notícia das amazonas e das riquezas que há mais abaixo, e quem o
fez foi um índio chamado Apária (3), velho que dizia ter estado naquela terra, e
também nos deu notícia de outro senhor que estava apartado do rio, metido terra a
dentro, e que ele dizia possuir enorme riqueza de ouro. Este senhor se chama Ica;
nunca o vimos porque, conforme disse, ficou desviado do rio ...31.
31
CARVAJAL, Gaspar de. Descobrimento del rio de Orellana. In: Descobrimentos do rio das Amazonas. Trad.
C. de Melo Leitão. 5º. São Paulo: Ed. Brasiliana, 1941, p. 24.
32
PIZARRO, Ana. Amazônia: as vozes do rio: imaginário e modernização. Trad. Rômulo Monte Alto. Belo
Horizonte: Editora da UFMG, 2012, p. 43-44.
delineia um cenário de fomeprivações e de batalhasconflitos com selvagensas populações
nativas, em plenameio a uma densa floresta densa; ao mesmo tempo, descreve;
simultaneamente, delineia-se um espaçoterritório de riquezasopulência, fertilidade e
promissão.perspectivas auspiciosas. A partir da primeira viagemexpedição oficial sob o
domínio espanhol em busca do a égide espanhola rumo ao Eldorado, outras expediçõesnovas
empreitadas foram direcionadas para esta áreaa essa região, a exemplo da missão deliderada
por Pedro Urzúa, em 1559.
A parteconstrução discursiva e imagética da porção norte da América do Sul
continuou sendo construída discursivamente e imageticamente a partir das expediçõestambém
foi fortemente influenciada pelas explorações portuguesas. NoAo final da década de 1630, por
oportunidadeem decorrência da expedição de Pedro Teixeira aopelo rio das Amazonas,
Alonso de Rojas escreveu sobre a parte da viagem entre o Grão-Pará e Quitoredigiu o texto
intitulado "Relação do Descobrimento do Rio das Amazonas" (1639), ocasião em que Formatado: Fonte: Não Itálico
condiciona o espaço em voltao qual descreve o trecho da jornada entre o Grão-Pará e Quito.
Nesse relato, o autor retrata os arredores do rio como um jardim doautêntico Éden, lugar
comparadoum recanto comparável ao paraíso, terrestre, repleto de muitasopulentas riquezas:
“. Nas palavras de Alonso de Rojas: "Do Rio das Amazonas se pode afirmar que as suas
margens são em fertilidade Paraísos, e se a arte ajudar à fecundidade do solo, será todo ele
uma série de aprazíveis jardins”.". E continua o cronista:
[...] O rio das Amazonas rega mais extensos Reinos, fecunda mais veigas, sustenta
mais homens e aumenta com as suas águas mais caudaloso Oceano; só lhe falta, para
vencê-los em felicidade, ter sua origem no Paraíso, como daqueles rios nos afirmam
graves Autores.33
Formatado: Recuo: À esquerda: 0 cm, Primeira linha:
1,25 cm
Além do maisAdemais, em outra crônica importantede significativa relevância para a
compreensão sobre osdos primeiros atos de nomeação da área na região que posteriormente
veio a ser chamada de conhecida como Amazônia, o jesuíta Cristóbal de Acuña escreveu
elaborou "Novo descobrimento do Grande Rio das Amazonas," em 1641, narrando. Nesta Formatado: Fonte: Não Itálico
33
ROJAS, Alonso de. Relação do Descobrimento do Rio das Amazonas. In: Descobrimentos do rio das
Amazonas. Trad. C. de Melo Leitão. 5º. São Paulo: Ed. Brasiliana, 1941, n° XVIII.
comparaçõestraça paralelos entre o rio Amazonas e outros rios docursos d'água pelo mundo,
bem como reativarevivificando a perspectiva do Eldorado e das riquezas da terra,
reafirmandoterritoriais. Ele reitera que “"neste grande Rio tudo se encontra: aqui o Lago
Dourado, aqui as Amazonas, aqui os Tocantíns e aqui os ricos Omaguas, como adiante, se
dirá”.".
A imagem da terra de riquezas ganhou representação na cartografiada terra abundante
em riquezas foi também capturada nas representações cartográficas da época, a
chamadanotadamente na denominada cartografia moderna, momento em que os . Esse período
testemunhou um comprometimento dos Estados modernos passaram a investir recursos em
pesquisas relacionados ao conhecimentocom a pesquisa geográfica, englobando a
compreensão dos fenômenos terrestres e a realização de cálculos da terra, bem como
passaram a considerar, e concebendo a cartografia como uma aliada nas questões geopolíticas
de ferramenta geopolítica vital para as disputas por territórios.territoriais. Chambouleyron
acrescentaacresce que a “[...] "cartografia moderna (marcadaque se caracteriza pela
matematização da linguagem) está ligada à intrinsicamente vinculada à formação dos Estados
modernos e também a formação dos à criação de impérios regionais e ultramarinos”. Nestes
termos". Nesse contexto, a produçãoelaboração cartográfica esteve fortemente perpassada
pelos grandes poderesfoi largamente influenciada pelas maiores potências estatais e
colaborou, contribuindo para a geração de um construção do imaginário em torno da parte
norteregião setentrional da América.
Para além do Eldorado, é possível pensar, em linhas geraisplausível contemplar, em
termos abrangentes, a configuração inicialinaugural do espaço nortesetentrional da América
do Sul. São notóriasNotáveis são as váriasdiversas denominações que atribuídas a esse rio
recebeu e, por extensão, o próprio espaço em sua volta.à região circundante. Francisco de
Orellana o chamou de batizou como rio de Orellana, enquanto outros textos chamaram-no de
registros o identificam como rio Marañón, devido a sua forma cheias de curvasem virtude de
sua sinuosidade e bifurcações. Teria sidoramificações. O navegador espanhol Vicente Pizón,
por sua vez, foi possivelmente o primeiro a comunicar as às autoridades reaisrégias a
existência do “"rio de Mar doce”, o que posteriormente passou a ser chamado de “", que mais
tarde foi denominado "Santa Maria do Mar Doce”, depois ganhando definitivamente o nome
de", e finalmente consolidado como Amazonas. É perceptível oEvidencia-se assim que o mito
das amazonas gregasda mitologia grega foi utilizadoempregado para nomear um espaço
americano, pois antes esse rio possuía várias denominações,uma localidade americana, uma
vez que o rio em questão anteriormente ostentava múltiplos epítetos, tais como Paranaguazú,
Solimões e Guyerme.
É importante destacar que Importante ressaltar que, naquele contexto, toda a referência
espacial que fazia naquele momento era em relação à estava intrinsecamente associada à
presença das amazonas, logo a conferindo à região amazônica era apenas uma área cujo
conteúdo se restringiauma identidade restrita ao mito das mulheres guerreiras e era
difusamente compreendida à , naquela época., de compreensão difusa. No século XVIII, mais
precisamente em 1774, o ouvidor e intendente geral da Capitania do Rio Negro, Francisco
Xavier Ribeiro Sampaio, escreveuregistrou um diário em relação a durante sua viagem à
mencionada Capitania, nesse diário também discutiu acerca da . Nesse registro, ele abordou a
denominação do rio Amazonas através de uma parte do texto intitulada breve “em um trecho
intitulado brevemente "dissertação sobre o rio Amazonas, e sobre a existência das mulheres
amazonas”.".
Ribeiro Sampaio discorre emconduz sua argumentação com discordância das
denominações espanholas do rio e da existência própria presença do mito das mulheres
guerreiras, iniciando por apresentar amazonas. Inicialmente, ele apresenta versões que
confirmavamcorroboram tal existência, mascontudo, logo adianteem seguida, esclarece que
não acreditava sua descrença na presença ocorrência das amazonas na América e . Ele ressalta
que tal ideia somente se sustentava subsistia com base em argumentos do maravilhoso
maravilhosos e nas preocupaçõesinquietações populares. Segundo eleDe acordo com Ribeiro
Sampaio, por muito tempo acredita-se acreditou que existisse um tipona existência de “uma
suposta "república amazônica”, correspondente ao", localizada no interior da Guiana,
masembora sem nenhumaqualquer comprovação por parte dosde portugueses, espanhóis,
franceses ou holandeses. Essa mençãoA alusão de Ribeiro Sampaio à “"república amazônica”
dizia respeito a nomeação do espaço, localizado" está intrinsicamente ligada à nomenclatura
do território situado na Guiana, que era essencialmente relacionada à pretensaa qual estava
intimamente associada à suposta presença das amazonas nanessa área em tela.particular.
O ouvidor e intendente geral da Capitania do Rio Negro deixa entreverevidencia em
seu texto o posicionamento português contra a ideia de “a postura portuguesa em relação à
denominação do "rio das Amazonas” em favor de “", preferindo o termo "rio Amazonas”,
partindo do cronista". Baseando-se na crônica da viagem do português Pedro Teixeira, o pelo
jesuíta Cristóbal de Acuña, de quem extraiuRibeiro Sampaio, extrai trechos da obra, se dizia
acreditar, à e indica que, àquela época, acreditava nas amazonas, mas ao mesmo tempo
levantava suspeiçãotambém lançava dúvidas sobre a questão, principalmente pelo que ouviu
em uma audiênciaespecialmente após ouvir relatos em Quito. Ribeiro Sampaio
consideravaEle sustentava que a existência concepção das amazonas na América foi obra
derivou da narrativa de Francisco de Orellana, pois o mesmo que desertouum desertor do
exército espanhol precisava construirque necessitava forjar uma narrativa heroica sobre si,
utilizando uma históriarecorrendo a um enredo universal para lhe engrandecer, notadamente
realçar sua proeza, notavelmente o caso das amazonas. O ouvidor esclarece que o perfil
guerreiro dea representação das mulheres indígenas daguerreiras na América teria
fornecidoofereceu o argumento para que Orellana tivesse associado essas mulheres as
associasse às amazonas asiáticas. Ele ainda elencou que as mentirasAlém disso, Ribeiro
Sampaio lista que falsidades e ficções embasaramfundamentaram a pretensa ideia de das
amazonas americanas, logo “favorecendo-a o gosto da nação Hespanhola, porque tem sido
transmitida, e apoiada para o maravilhoso. alimentando a inclinação pelo maravilhoso na
nação espanhola, e conclui: "Basta de amazonas, e prossigamos a em nossa viagem”.".
Também No século XVIII, o padre jesuíta português João Daniel, empor meio de seus
manuscritos que deram origem à obra "Tesouro Descoberto no Máximo Rio Amazonas, Formatado: Fonte: Não Itálico
publicado", publicada em 1776, e resultado de sua viagem a essa parte da América, à região
entre 1741 e 1757, debruçouempenhou-se sobreem abordar a questão do nomeda
nomenclatura do rio Amazonas. Daniel produziucompôs um volumoso manuscrito que
mesclava uma visão perspectiva utilitária da árearegião do rio Amazonas com uma
perspectiva visão divina e de riquezas da parte da na América do Sul. João Daniel,
descrevendoAo abordar as causas origináriasorigens do nome do maior rio dessanaquela parte
da América, argumentavado continente, João Daniel argumenta que as tropas do comandante
Pizarro, em determinada alturaum ponto específico do rio Trombetas, se confrontaram as
tropas lideradas por Pizarro enfrentaram os indígenas da região, especialmenteárea,
notadamente um exércitogrupo de mulheres guerreiras, daí mediante o poder de fogo espanhol
fugiram, mas foram nomeadas de amazonas. Sob a supremacia bélica espanhola, essas
mulheres recuaram e, segundo Daniel, foram apelidadaspassaram a ser denominadas
amazonas pelos espanhóis pelo modo semelhante, devido a seus modos de vida semelhantes
às amazonas gregas. Nesse pontocontexto, o jesuíta português já se afastava –
mesmodistanciava - ainda sem muita clareza –que não de forma totalmente esclarecida - do
tomaspecto mítico em torno dasassociado às amazonas, pois compreendeao perceber o
processoato de nomeação como uma ação deliberada pelos intencional dos espanhóis. .
Além do maisdisso, o jesuíta esclareceressalta que naquele momento –, na época de
sua escrita – no que concerne à parte, a área do rio acima do rio Negro, o nome do
comandante espanhol Orelhana já não mais era utilizado para denominar o rioreferida pelo
nome do comandante espanhol Orellana, mas sim o nome como Solimões, utilizadoconforme
a denominação dada pelos portugueses. Em síntese, esse o padre jesuíta chamavachama a
atenção para o fato de que o rio recebeu dois nomesduas denominações mais conhecidos dos
conhecidas entre os espanhóis, a saber: Orelhana: Orellana e Maranhão, todavia,
denominações queentretanto, esses termos não prosperaram.prevaleceram. A discussão, sobre
a origem e o nome do rio Amazonas passou a apareceremerge em váriosdiversos escritos do
século XVIII, muito em função das em grande medida devido às disputas geopolíticas e deaos
interesses da Coroa portuguesa com vistas em relação ao domínio dessadaquela área
geográfica.
Diante do problema da desafio relacionado à forma esferoide e da grandeza da
terraesferoidal da Terra e à sua magnitude, a França envioupromoveu duas expedições à
América, uma das quaisdelas contou com a presença participação do escritor e viajante
Charles Marie La Condamine (1701-1774)), que, em seu relatório de viagem,
resultadoresultante da expedição espanohispano-francesa à América Meridional, entre 1735 e
1745, apresenta uma série de situações em que demonstra como, até aquele momento, ocorria
um constatecenários que ilustram o constante processo de nomeação de povos, lugares e rios
por parte do homem europeu na América, a exemplo dos momentos em que se reporta à
nomeação do caucho, de povos indígenas e do rio Amazonas. Na publicação oficial do citado
relatório, com o título de dos europeus no continente americano. No contexto de sua obra
intitulada "Viagem na América Meridional descendo o rio das Amazonas,", La Condamine Formatado: Fonte: Não Itálico
mencionavadestaca a velha disputa pelo nomeantiga contenda sobre a designação do rio entre,
envolvendo os espanhóis que o chamavam de Maranhão e Orellana, e os portugueses, que o
denominavam o citado rio de Amazonas ou Solimões. 34
Os recortes espaciais citadosmencionados por La Condamine em relação a essaesta
parte asda América não faziam menção à Amazônia, emas sim à América Meridional, ao
Pará, ao rio das Amazonas e aà bacia hidrográfica amazônica, como na parteno trecho em que
ele esclarece que o rio Negro não eraé um braçoafluente do rio Amazonas, dizendo queao
afirmar: “Em todo este intervalo oesse trecho, as margens do terreno das margens é
elevado,são elevadas e nunca se vê inundado: o mato aíestão inundadas; a vegetação é menos
bravo,densa e o paísa paisagem é completamente diferentedistinta das margens amazônicas”
34
LA CONDAMINE, Charles-Marie de, 1701-1774. Viagem na América Meridional descendo o rio das
Amazonas / Ch. -M. de La Condamine. – Brasília: Senado Federal, 2000.
35
Duas questões estão postas neste do Amazonas.” Este ponto, primeiro envolve duas
questões: a derivação do vocábulo “termo "amazônica”" da bacia do rio Amazonas; segundo,
quee o vocábulo “uso do termo "país” aparece " como sinônimo de localidade ou região, uma
discussão que faremos adiante.abordaremos a seguir. O termo “"amazônica”" também
apareceuaparece em uma carta do Sr. Godin de Odonais ao Sr. de La Condamine, vistoonde
se menciona que um dos trechos da carta cita que “"a viarota amazônica está proibida pelo rei
da Espanha”,36 notadamente ocorre evidenciando uma referência ao rio Amazonas. A
referência “utilização do termo "amazônica” em" por La Condamine remete-se muitoestá
mais associada à ideia de uma região às nas margens do rio Amazonas, estabelece uma
proximidaderelacionando-se com a ideiao conceito de região natural muitoque estava em voga
àna época, logo, não há nenhuma menção no uso do termo paraapresentando conotações
políticas.
A percepção espacial a partirresultante da palavra “"amazônica”" em La Condamine
aponta paraproporciona efeitos de análise nesse analíticos neste estudo, paradirecionando a
utilizaçãoexploração e denominação dessadesta parte da América do Sul a partir de pelos
representantes do mundo europeu, ou seja, oeuropeus. O uso do léxico "amazônico" nas
Américas foi uma operaçãoação territorial inicial europeiados europeus para efeitos de
localização deidentificar uma área hídricageográfica que perpassavaabrangia um território
muito mais amplovasto do que a divisão administrativa e política referente aodo Estado do
Maranhão e Grão-Pará, e a referência geográfica Pará, esta última muito presenteamplamente
mencionada nos relatos de viagens. É importante frisarrelevante destacar que a palavra “o
termo "amazônica”" aparece apenassomente em duas oportunidadesocasiões na obra, o que
denota ainda pouca frequência dessa palavraindica que sua utilização para designar uma área
na América. era ainda pouco frequente. De todo modoqualquer forma, a presença desse termo
dessa palavra na obra citada de autoria de La Condamine já se constituiu em mais uma
contribuição àcontribuiu para a formação conceitual que resultouculminaria no conceito de
Amazônia em tempos depois. Todavia, talposteriores. No entanto, essa denominação era
desprovidacarecia de conteúdoum significado político e identitário capaz de representar um
movimento regional, como passou ocorrerverificado um século depois, oportunidade em
quemais tarde, quando surgiram as ideias de região amazônica, Vale do Amazonas e
Amazônia foram produzidas. Logo. Portanto, os discursos dos europeus contribuíram para a
35
Ibidem, p. 89.
36
Ibidem, p. 187.
formação conceitual amazônicado conceito amazônico, mas não explicam a invenção regional
da Amazônia a partir das relações de forçaspoder e demandas internas a estadessa área.
Os resultados da expedição de 1735 à América, a qual possuíaque contou com a
presença de La Condamine, também evidenciaram o discurso colonial sobre as riquezas da
área em torno doregião circundante ao rio Amazonas, especialmente quando esse viajante
tratou sobreabordou a “"fertilidade da região e as das plantas úteis”, entre elas", incluindo a
goma elástica. La Condamine contribuiu para ampliar a concepção de riqueza natural dana
região àsdas margens do Amazonas, pois informou sobre ao relatar plantas e árvores paraque
iam além das chamadas “"drogas do sertão”", já conhecidas pelo mundo. Segundo esse
viajante: “[...]Conforme suas palavras: "[...] a ‘quinina’'quinina', a
‘ipecacuanha’'ipecacuanha', a ‘simaruba’'simaruba', a ‘salsaparrilha’'salsaparrilha', o
‘guaiaco’'guaiaco', o ‘cacau’'cacau', a ‘baunilha’'baunilha', etc. seriamsão as únicas plantas
úteis que aencontradas na América encerra, e a sua grande utilidade conhecidaamplamente
reconhecida e comprovada não é de molde a encorajar a seria incentivo suficiente para novas
rebuscas?”.descobertas?".
Pra Além das especiarias já conhecidas, La Condamine trouxe ao conhecimento do
mundo europeu a goma elástica, à época conhecida também comoentão denominada caucho.
A cada nova revelação e descoberta das expedições estrangeiras àsnas margens do Amazonas
despertava-se ainda mais , aumentava o exotismo e a cobiça exploradoraânsia exploratória
sobre essa parte do mundo, pois, segundouma vez que, nas palavras de Maria Cristina Bohn
Martins “de todas as vastas terras a serem exploradas pelos naturalistas europeus, nenhuma
era mais desconhecida e exótica para o público do Velho Mundo do que as selvas e as
montanhas da América do Sul.”37 Essa é uma época em que muitas das “[...] ." Esse período
foi marcado por várias "expedições científicas financiadas pelo Estado buscavam
alvosobjetivos específicos. Por vezesEm alguns casos, ciência e colonização atuavam de
forma integradaestavam interligadas; em outros momentos, o naturalista abandonava aabria
mão da ciência em nomefavor de interesses administrativos e econômicos.”."38
No final do século XVIII e início do século XIX foi a vez do, o viajante alemão
Alexander von Humboldt (1769-1859) se dirigirempreendeu uma jornada à América do Sul,
viagem autorizada pela Corte espanhola e que durouse estendeu de 1799 a 1804. De acordo
37
MARTINS, Maria Cristina Bohn. Uma jornada pela América Meridional e de volta à Europa: Charles Marie
de La Condamine e o relato de sua expedição pelo Amazonas. Estudos Ibero-Americanos, PUCRS, v. 38, n. 2,
p. 303-324, jul./dez. 2012, p. 313.
38
RAMINELLI, Ronald. Ciência e colonização – Viagem Filosófica de Alexandre Rodrigues Ferreira. Tempo
[on line], v. 3, n. 6, p. 157-182, dez. 1998. Disponível em: Acessado em: dez. 2007.
com Pratt, a viagem de Humboldt esteve inseridaocorreu em um contexto em que a Europa
vivia a estava imersa na expansão capitalista com a decorrente da industrialização e ana busca
por novos mercados consumidores, além do bem como pelo interesse pelo conhecimento das
em explorar as zonas interiores. Rompendo com os Distinguido dos relatos de viagem
tradicionalmente considerados como uma “"literatura de sobreviventes”, marcada pelas
sobrevivência", que frequentemente se caracterizavam por histórias de naufrágios, guerras,
entre outras e conflitos, Humboldt buscou apoiar, na procurou sustentar suas observações na
autoridade científica, os resultados das observações que fez na América, logo sua
considerável. Sua extensa produção de , composta por cerca de trinta livros como resultantes
da de sua expedição às pelas terras americanas foram marcadas por , estava notavelmente
centrada em tratados de taxonomia botânica e zoológica, elevando o modo deevidenciando
uma ciência abordagem mais descritiva da ciência em detrimento de estilos narrativos. A
escrita de Humboldt caminhava parabuscava ecoar o desejo europeu de promover a realização
de “lugares"espaços não realizados”, pois, conforme". Segundo Pratt, esseo viajante e
cientista buscou tinha a intenção de apresentar a América como um mundo natural primitivo
da natureza, um espaçoterritório ainda por ser organizado, logo um espaço cuja história estaria
por iniciar, dadas suas estava prestes a se desdobrar, dado seu potencial e suas maravilhas e
potencialidades. .
Cabe registrarCumpre ressaltar que duas nomenclaturas sobre o espaço geográfico
incursionado pelo viajante ganharam destaque em sua escrita: “para a região explorada por
Humboldt se destacam em seus escritos: "regiões equinocialequinociais da América”" e
Hileia, o primeiro nome . A primeira denominação servia como demarcaçãodelimitação das
antigas colônias americanas que visitadas por ele passou;. Por outro lado, a segunda
denominação como sinônimo dedesignação equivalia a uma área marcadamentenotavelmente
marcada por uma natureza ímpar, tida como singular, sendo considerada o ponto mais alto do
território. O termo Hileia advém do tem raízes no mundo grego e em Heródoto pode ser
rastreado a partir da até Heródoto, sendo associado à história do território da região original
das amazonas, notadamenteparticularmente a Cítia, que os gregos consideravam como uma
terra deserta, nos confins, tida como terra de desolada e distante, habitada por povos do norte
com certas de características selvagens, que estariam e localizada nos confins do mundo. Em
comparaçãocontraste com as cidades gregas, apareceriaa Hileia era percebida como uma
zonaregião situada além das culturas.fronteiras culturais. Os povos citas, para os gregos,
teriamde acordo com a perspectiva grega, tinham suas origens ligadas à chegada de Héracles
ao território desérticoà terra desértica, conduzindo um rebanho de cavalos que teria
desaparecido quandodesapareceu enquanto ele descansava,. Ao buscar osseus cavalos
perdidos, Héracles encontrou deparou-se com uma virgem-serpente que propôs concordou em
devolver-lhe o rebanho casose ele se unisse a ela, o que foi feito. Importa dizerele fez. É
relevante notar que a região que onde Héracles encontrou uma essa virgem-serpente era
justamenteexatamente a região da HílaiaHileia ou Hiléia, que significava para a época floresta Formatado: Fonte: Não Itálico
39
HARTOG, François. O Espelho de Heródoto: Ensaio sobre a representação do outro. Trad. Jacyntho Lins
Brandão. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 2014.
preocupação do expressa pelo frei franciscano Vicente do Salvador, no livro em sua obra
"História do Brasil, escrito", escrita entre 1619 e 1630, em que se ocupa, logo no . Desde o
início de sua escrita, comseu relato, ele se dedica a abordar a história da descoberta e o
próprio nome do Brasil, ocasião em que sobre este último descrevia que o primeiro nome
destas. Nesse contexto, Salvador observa que as terras foiforam inicialmente denominadas
Santa Cruz, em alusãoreferência à morte de Cristo,. No entanto, segundo Salvador, “"o
Demônio, com o sinal-da-cruz, perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando
perder também o muito que tinha emsobre os destahabitantes dessa terra, trabalhou. Assim,
tramou para que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficassefosse esquecido, permanecendo o
de nome Brasil [...]”.[...]". O frei franciscano alertava que preferiramalerta para a escolha de
trocar o nome do lugar proveniente deoriginado de um elemento divino, a cruz, por um termo
ligado a uma madeira divina por um tipo de madeira comercial de cor vermelha que
tingiausada para tingir tecidos. Nota-se aíNesse ponto, já se delineia uma primeira disputa
inicial em torno darelação à nomeação das novas terras americanas,. Essa disputa essa
apontada, como destacado por Laura de Mello e Souza como, configura uma tradição, levada
adiante que foi posteriormente perpetuada por humanistas portugueses, onde a luta. Essa
tradição de conflito entre Deus e o Diabo aparece ligada aose conecta com o surgimento da
colônia luso-brasileira, e que fez ecoreverbera nos relatos de missionários, como o frei
Vicente do Salvador, que, embora reproduzisse talincorporasse essa tradição, estava muito
mais sobretudo preocupado com a natureza da ocupação da nova terra.do novo território.
Além do maisdisso, Souza elenca que existia nos séculos iniciais da colonização da
América certaaponta para a flutuação e a indefinição de nomenclatura em relação às terras nos
primeiros séculos da colonização da América portuguesa, de modoressaltando que pelo menos
três denominações foram colocadasempregadas em circulação nos mapas e nos escritos, a
exemplo de: Terra dos Papagaios, Terra de Santa Cruz, e e, por fim, Brasil – a última que se
tornou consolidando como vencedora, notadamente, Brasil.. José Murilo de Carvalho
acrescenta váriosdiversos outros nomes que foram dadosatribuídos às terras que receberam
posteriormenteeventualmente receberiam o nome de Brasil, a saber:como Pindorama (1500),
Ilha de Vera Cruz (1500), Terra de Santa Cruz (1501), Terra Papagalli (1502), Mundos Novus
(1503), América (1507), Terra do Brasil (1507), Índia Ocidental (1578), Brazil (século XIX),)
e, finalmente, Brasil (século XX). Carvalho entendeinterpreta a diversidademultiplicidade de
nomes como resultado de uma disputacontenda pela grafia do nome destasdessas terras e que
envolvia, envolvendo diversos interesses e momentoscontextos históricos,. Por exemplo, a
mudança de nome da Terra dos Papagaios, uma referênciaque fazia alusão ao exotismo da
flora e fauna e flora do lugarlocal, para Brazil, cujo refletia o predomínio do interesse
comercial em torno dorelacionado ao pau-brasil se impunha..
Também é importante notarÉ igualmente relevante observar que o nome termo Brazil
foi transpostotransferido da Ásia, pois uma vez que desde o século XII essa designação era
conhecida daquele no continente asiático para se referir a uma árvore semelhante com essa
nomenclatura. Não é trivial que os nomes . Assim como o nome Amazonas e Amazônia, que
também foram transpostos do cenáriocontexto asiático, visto que as . Essas designações se
referiam originalmente a terras originárias as quais se atribuíam a existências das onde se
acreditava existirem as amazonas que se localizava, localizadas entre as extremidades do
mundo helênico e a Ásia Central. As nomeações dos espaços americanos, em partescerta
medida, passaram a carregarincorporar referências geográficas, econômicas ou culturais do
mundo antigo, e quetais conceitos circulavam na Europa à época durante a era das
explorações e das expansões e expedições marítimas.
Além Adicionalmente, tal como no caso do que, assim como o Brasil, como já
ressaltamos nesseenfatizado anteriormente neste texto, a área região geográfica às margens do
rio Amazonas possuiu vários nomes no início do processo de apresentou diversas
denominações nos primeiros estágios da colonização europeia, tanto espanhola, quanto
portuguesa. Segundo por parte dos espanhóis como dos portugueses. De acordo com Alírio
Cardoso “, "entre o final do século XVI e o início do século XVII, as cartas, crônicas e
memoriais costumam identificarfrequentemente identificavam essas terras a partir das por
meio de comparações com as Índias espanholas”.". Cardoso apontadestaca que, no século
XVI, por exemplo, todo o território toda a área que hoje corresponde aocompreende o Norte
do Brasil e uma parte do Mato Grosso era chamado por referida como Maranhão, e que a
palavra. O termo Amazônia, como recorteuma delimitação regional, não existiaestava
presente no vocabulário político do século XVII. Para Segundo esse historiador, até a criação
do Estado do Maranhão e Grão-Pará, em 1621, essa região foi era reconhecida por vários
vocábulos: “diversas designações: "Terra do rio das Amazonas”, “", "terra dos tupinambás, “",
"País das Amazonas”" e “"Terra dos Caraíbas”.".
Como se pode observar,É evidente que a maioria dosdesses nomes dessa área eram
atribuições com tinha conotações indígenas, haja vista que geralmente era uma prática
recorrente dos . Era comum que os colonizadores hispânico-lusos denominarem os
espaçoshispânicos e lusos atribuíssem nomes aos territórios conquistados com base em busca
de sua territorialização a partir de perspectivas mítico-imaginárias e/ou adaptarem o termo
usado. Além disso, frequentemente adaptavam os termos usados pelos indígenas para
nomearemnomear os lugares, como ocorreu em váriasdiversas outras regiões americanasdas
Américas, como na áreano caso da bacia do rio da Prata, a exemplo do onde o nome Paraguai
derivado do emprego, por parte dos deriva do uso pelos índios cariós ou guaranis, do nome
termo "rio Paraguay. Logo". Portanto, não é de se estranharsurpreende a adoção da alcunhado
termo Grão-Pará para compor a denominação do Estado do Maranhão a partir de 1621, época
em que . Nessa época, durante o domínio espanhol sobre as coroas de Espanha e Portugal
estavam sobre o comando espanhol, tendo em vista que tal , a expressão já era antes
utilizadaempregada pelos indígenas da região para nomearemreferir-se a parte do rio
Amazonas como rio Gram-Pará, tido como “significando "pai das águas”" ou "rio mar.".
Ainda No que concernediz respeito a outra forma de nomeação dessa área, a saber:
"Paysou seja, "País das Amazonas", notaobserva-se que seela remete ao a um território
feminino, estranhomisterioso aos olhos dos homens, um espaço a ser conquistado, colonizado
e explorado, como era assim percebido pelo mundo europeu.a perspectiva europeia da época.
No século XVIII, a cartografia aindafrequentemente utilizava francamente a
mençãoreferências às amazonas para denominar o espaçodesignar a região ao norte da
América do Sul, em detrimento doda designação Brasil, como o fez oexemplificado no Mapa
Geográfico do Brasil (1740), de autoria do italiano Giovanni Battista Albrizzi (1698-1777),
que estabelecia dedividia o espaço em um lado o denominado Brasil ou a Terra de Santa Cruz,
e, de no outro, o "PaysPaís das Amazonas".
O "Paystermo "País das Amazonas" para a América éreflete também uma versão
atualizada do pensamento ocidental sobre outros territórios, a exemplo do como o Oriente,
pois. Além da ideianoção de uma ilha feminina, cogitada aventada por Marco Polo, existiria
em mares orientais, a própria ideia de existia também a concepção da Índia, como um mundo
fantástico e de especiarias e fantasia que alimentou o imaginário conquistador dos
conquistadores sobre a América. A utilizaçãoO uso da alteridade para a demarcação de
lugaresdemarcar territórios, em detrimento do mundo grego na Antiguidade, revela uma
prática ocidental de produção deestabelecer fronteiras a partir de aspectoselementos
etnográficos, culturais e políticos. Heródoto foi consideradoé visto como um
agrimensormediador de lugares, aquelealguém que usa deemprega medidas, um autor daque
se dedica à métrica em relação ao outro, pois já que os limites e as medidas de um espaço
passam a ser de ordemuma prerrogativa do narrador. Os viajantes e conquistadores de espaços
foraterritórios além da Europa herdaram o princípio do périplo grego, ou seja,que envolve a
forma como se narram as instruçõesnarrativa de viagemtrajetos e suas distâncias, um tipo de
percursospercurso orientado e ordenado com preocupações de ênfase em topônimos. Como
apontaConforme ressalta Hartog, o périplo é o discurso de um percursoa manifestação Formatado: Fonte: Não Itálico
"pays significava" denotava tanto o indivíduo habitante, quanto o território que por ele
habitava. No que diz respeito ao cenário francêsocupado. Em relação à esfera francesa, João
Paulo Jeannine Andrade Carneiro resume o percursodesenvolvimento histórico do referido
termo:
ciencias y artes y sus correspondientes en las tres lenguas francesa, latina e italiana," de 1767, Formatado: Fonte: Não Itálico
oportunidade em que “onde "país” significa as diversas " se refere a várias regiões, províncias
e locais do no universo. Refere-se ainda a reino, terra, pátria. Além dos significados espaciais,
40
CARNEIRO, João Paulo Jeannine Andrade. O conceito de Pays e sua discussão na geografia francesa do XIX.
Revista Geográfica de América Central. Número Especial EGAL, 2011- Costa Rica II Semestre 2011 p. 2.
Disponível em: https://www.revistas.una.ac.cr Acesso em: 18 jun. 2021.
O termo “país” também possuía o sentido de pode denotar reino, terra ou pátria, além de
possuir conotações relacionadas à paisagem. Percebe-se que a dicionarística espanhola esteve
mais habituada É perceptível que a significar o termo pays mediante concepções de espaço,
já no caso da dicionarística portuguesa, há certalexicografia espanhola tende a tratar "pays"
predominantemente como um conceito espacial, enquanto a lexicografia portuguesa mostra
alguma oscilação entre os significados de "pais" em termos de relação à paternidade e país no
que concerne a um recorte geográfico"país" como delimitação geográfica.
Em resumo, o termo "Pays das Amazonas"correspondia era usado para se referir, nos
relatos e na cartografiamapas da época, à terra dashabitada pelas Amazonas na América, dizia
respeito. Esse conceito estava relacionado à pátria, à região ou à província das mulheres
guerreiras. O termo "pays remetia a" fornecia uma forma de localização, de e localidade,
praticamente nada tinha a significar enquantoembora não carregasse significados
contemporâneos de um recorte político nacional, conforme o conceito moderno.. O sentido de
terra e província era o que mais ecoava, por exemplo, nas predominante, especialmente em
crônicas e relatos da tomada de posse que narravam a conquista dessa parte da América, como
podemos verexemplificado em Gaspar de Carvajal, na obra "Descobrimento del rio de Formatado: Fonte: Não Itálico
Orellana. In: Descobrimentos do rio das Amazonas, em", que se aluderefere à expedição de Formatado: Fonte: Não Itálico
também discorreu sobre aborda a possível presença das Amazonas nessa área, evidenciando Formatado: Padrão: Transparente
Formatado: Padrão: Transparente
que existia um na região, indicando que o território das amazonas que habitado pelas
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Amazonas coincidia com a região área às margens do rio, pois, ao fazer menção ao. O termo
Formatado: Padrão: Transparente
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"Pays das Amazonas, também citava"41 tornou-se o “pays des-Amazones le territ. ue ce Formatado ...
fleuve arrose” (Território das Amazonas que este rio rega).
O nome de "Pays das Amazonas"ficou bastante conhecidoamplamente reconhecido na Formatado ...
Europa, de modo que, sendo usado ainda no século XIX, ainda se usava o referido termo para
nomear a árearegião geográfica que veio a ser conhecidoposteriormente ficou conhecida como
região amazônica, como podemos observar a partir dos cronistas. Isso é evidenciado nos
relatos do Império brasileiro no Pará, a exemplo do que podemos constatarcomo é ilustrado na
obra "Corografia Paraense, ou Descrição Física, Histórica e Política da Província do Grão-
Pará, em " (1833, de ), escrita por Ignacio Accioli de Cerqueira e Silva (1808 – -1865), um
português que morouviveu no Pará e que vivencioutestemunhou os
movimentosacontecimentos políticos da década de 1820, sendo ainda militar da Guarda
Nacional na província da Bahia.. Embora Cerqueira e Silva, apesar de tratar em seu livro por
se refira à região como "Província do “Gram-Pará”, acaba por também denominar", ele
também utiliza a designação "Paiz das Amazonas" para descrever essa parte do Brasil de
“Paiz das Amazonas”, informando, oferecendo informações sobre asua geografia e vários
outros aspectos pertinentes ao “paiz”, a exemplo das questões políticas.relevantes.
Outro cronista que deixou sua marca no contexto do Império no Pará, foi o militar Formatado ...
português Antônio Ladislau Monteiro Baena, que na . Durante a década de 1830 esteve à
frente do trabalho , ele liderou os esforços de levantamento estatístico da Província do Pará,
organizouresultando na elaboração de duas obras que ficaram muito
conhecidasdesempenharam um papel significativo na historiografia amazônica: "Compêndio
das eras da província do Pará,", de 1838, e "Ensaio corograficocorográfico sobre a província
do Pará" (1839).
Na sua primeira obra, Baena também tratouabordou a província na condiçãosob a Formatado ...
perspectiva de um país, especialmente na apresentação, momento em que principalmente na
introdução, onde enfatizava quea importância do seu trabalho preenchiaao preencher uma
lacuna, visto histórica, uma vez que o Pará carecia de uma histórianarrativa própria. Ainda
que Baena, embora oscilasse tenha oscilado entre os termos Pará, província e país,
sobressaísseo uso predominante foi o primeiro, pois. Isso é notável na primeira metade do
século XIX transparece, período em que parece ter havido uma demanda nadentro da
província por alavancarpara promover um sentimento de identidade paraense, umaampliar a
divulgação das características da provínciaregião e estabelecer um corpuscorpo narrativo,
41
Nouveau dictionnaire géographique universel: accompagné de quatorze cartes géographiques conformes aux
divisions établies par les derniers traités. Partie 1 / . Par J. Mac Carthy. l'auteur-éditeur (Paris), 1824, p. 53.
Formatado ...
Formatado ...
Formatado ...
como se pode notar. Esse contexto fica evidente no ofício do Presidente do Pará
Formatado ...
dirigidodirecionado a Baena comunicando-lhe sobre, no qual é comunicada a impressão da Formatado ...
segunda obra citada, dizendo:mencionada, e no qual se pode perceber o seguinte trecho: Formatado ...
Formatado ...
São estas obras as que mais interessam a qualquer país, pondo patentes os seus Formatado ...
meios de riqueza, e comunicação interior, e consignando aos presentes e vindouros Formatado ...
um número de fatos reais de que as ciências se podem aproveitar em prol do mesmo,
e eu me congratulo com V. Sª pela honra, que lhe cabe da publicação desta Formatado ...
interessante obra, assim como da outra – Eras do Pará – com que ainda este ano Formatado ...
enriqueceu a nossa literatura provincial.42
Formatado ...
Formatado ...
Na década de 1850, no âmbitocontexto do acalorado debate sobre as
Formatado ...
pretensõesaspirações norte-americanas em relação aà área às margens do rio Amazonas,
Formatado ...
sobretudo a partir da campanha particularmente impulsionado pela persistente campanha do Formatado ...
tenente da marinha americana, Matthew Maury, visando deslocarpara realocar seus Formatado ...
compatriotasconterrâneos do sul dos Estados Unidos para o no Amazonas, com vistas a Formatado ...
Formatado ...
efetuar um processoa fim de promover a imigração e a navegação na região, a imprensa
Formatado ...
regional concedia desempenhou um papel de destaque a talnesse debate, de modo que o. O
Formatado ...
periódico regional Jornal do Amazonas chamado, intitulado Estrella do Amazonas, em 4 de Formatado ...
maio de 1854, em uma matériaum artigo que respondiase posicionava contrariamente às Formatado ...
pretensões americanas na região, cita no trecho que se reportautilizou o termo "país Formatado ...
Formatado ...
amazonio" ao fato da abordar a possibilidade dos de os americanos ampliaremexpandirem a
Formatado ...
escravidão no Amazonas o termo “país amazonio” Também no âmbito das.43 Além disso, nas
Formatado ...
discussões sobre as intenções americanasdos Estados Unidos nessa parte da América, registra- Formatado ...
se é registrado que o tenente da armada estadunidensemarinha americana Matthew Fontaine Formatado ...
Maury, na obra intitulada "Amazonas: as costas atlânticas da América meridional" (1853), Formatado ...
Formatado ...
chegou a chamar se referir a esse mesmo território de “como "País do Amazonas“. A
Formatado ...
utilização desse termo só demonstra". O uso sequencial de termos como "pays das
Formatado ...
Amazonas", "país amazônio" e "país do Amazonas" ilustra o entendimento de Koselleck de Formatado ...
que, na a formação dos conceitos, existem extratosconceitual envolve camadas de significados Formatado ...
do passado, assim como e possibilidades futuras, dada a sequência semântica de nomes, Formatado ...
como: pays das Amazonas, país amazônio e país do Amazonas. . Formatado ...
Formatado ...
Tempos depoisPosteriormente, nas décadas de 1880, o brasileiro radicado na França,
Formatado ...
representante da região e do Brasil na Europa, o jornalista e escritor Frederico José de Santa
Formatado ...
Formatado ...
42
BAENA, Antônio Ladislau Monteiro. Ensaio Corografico sobre a Provincia do Pará. Brasília: Senado
Formatado ...
Federal, Conselho Editoria, 2014.
43
Estrela do Amazonas. JornalCorrespondência do jornal do Commercio. Nº 88, 4 de maio de 1854. Formatado ...
Anna Nery (1848-1900), publicou, na década de 1880, um o livro intitulado "Le pays des Formatado: Padrão: Transparente
amazones: l’Eldorado, les terres aà caoutchouc" (título original em francês) destinado a ), Formatado: Fonte: Não Itálico, Padrão: Transparente
Formatado: Fonte: Não Itálico, Padrão: Transparente
com o propósito de apresentar e propagandearpromover a região na Europa. A obra de Nery
Formatado: Padrão: Transparente
fez parte de um conjunto de produções que construíramcontribuíram para construir a ideia de
Formatado: Padrão: Transparente
da região amazônica, pois embora teor do. Embora o título o conteúdo da obra remetiasugira, Formatado: Padrão: Transparente
na verdade, àuma abordagem a respeito das terras da Amazônia. Essa produção, a obra de Formatado: Padrão: Transparente
Nery ainda será melhor debatida neste trabalhodemandará uma análise mais detalhada. Formatado: Padrão: Transparente
Formatado: Cor da fonte: Automática, Padrão:
É possível compreenderevidente que, até o século XIX, a área às margens do rio
Transparente
Amazonas recebeu vários nomesuma variedade de denominações, e que nenhum deles Formatado: Cor da fonte: Automática, Padrão:
Transparente
denominava nenhuma delas se referia a essa parte da América de como Amazônia.
Formatado: Cor da fonte: Automática, Padrão:
Apareceram menções pulverizadasMenções esparsas e espaçadasisoladas surgiram, com Transparente
alguma referência, como "bacia amazônica.". O quadro abaixo permite visualizara seguir Formatado: Padrão: Transparente
proporciona uma visualização e sintetizar asíntese da formação conceitual a partir das Formatado: Padrão: Transparente
Formatado: Padrão: Transparente
váriasdiversas nomenclaturas atribuídas ao que veio a ser chamado deposteriormente seria
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conhecido como Amazônia:
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Quadro 02: nomes atribuídos a área geográfica às margens do rio Amazonas entre os séculos XVI e XIX. Formatado: Padrão: Transparente
Nome da região Século(s)
Formatado: Padrão: Transparente
Rio de Orellana, rio Marañón, Santa Maria do
Mar Doce, Rio das Amazonas, Terra dos Século XVI Formatado: Padrão: Transparente
Caraíbas, Eldorado, Maranhão.
Formatado: Padrão: Transparente
Maranhão, Pays des Amazones, Reino das
Século XVII
Amazonas, Estado do Maranhão. Formatado: Padrão: Transparente
Rio Amazonas, terra Paraguassu; Pará, América
Formatado: Padrão: Transparente
Meridional, Gram-Pará, Estado do Grão-Pará e Século XVIII
Maranhão; bacia amazônica. Formatado: Padrão: Transparente
Regiões equinociais da América, Hileia, Estado
Formatado: Padrão: Transparente
do Grão-Pará e Maranhão, Província do Grão- Século XIX
Pará; Amazônia.
Fonte: Dados da pesquisa (2022). Formatado: Espaço Depois de: 0 pt, Não adicionar
espaço entre parágrafos do mesmo estilo
Formatado: Padrão: Transparente
É notório que nos séculos XVI e XVII a dimensão mítica possuía bastante
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm
forçaexercia significativa influência no imaginário coletivo e na denominação da
Formatado: Recuo: Primeira linha: 1,25 cm, Espaço
nomenclatura atribuída à região. Nos séculos XVIII e XIX, ganham espaçodestaque as Depois de: 0 pt, Não adicionar espaço entre parágrafos
do mesmo estilo
nomenclaturas de caráter mais oficiais ligadasoficial, relacionadas à divisão administrativa do
território, tais como Pará, Estado do Maranhão e Grão-Pará, Estado do Grão-Pará e
Maranhão, e Província do Grão-Pará; por outro lado, apareceram os nomes mais ligados.
Paralelamente, emergem termos voltados à dimensão geográfica e científica, como Rio
Amazonas, América Meridional, e bacia amazônica, Regiões Equinociais da América, e
Hileia;. Por fim, e não menos importante,igualmente relevante, surge a nomenclatura
Amazônia, como uma expressão da busca pelo statuspor um reconhecimento político e
regional, como veremos adianteconforme será abordado posteriormente.
Se no relatoEmbora o imaginário europeu e os relatos de viagem e na imaginação
europeia existiam um forte imaginário tenham contribuído para a construção de uma imagem
vívida de um "Pays das Amazonas" ou de um eldorado, naquilo que diz respeito aoao
considerar o território às margens do rio Amazonas na América do Sul, do ponto de vista
político e administrativo foi criada a noção é fundamental examinar a perspectiva política e
administrativa que culminou na concepção espacial denominada de Grão-Pará, situada no
grande Norte. Essa entidade territorial situava-se na vasta região nortenha dessa parte da
América.do continente americano. Inicialmente cabe perguntar, é pertinente indagar o que era
se entendia por "Norte? E" e como se inseria o lugar do Grão-Pará no Norte danesse contexto
na América Portuguesa, e depois do posteriormente, no Brasil?. Como se
organizouconfigurou esse território em tempos da formaçãono período de uma geografia
bináriaconsolidação de uma dicotomia geográfica entre o Norte e o Sul, e como de que forma
as tensõescomplexas dinâmicas políticas entre o Grão-Pará e a nascente Nação brasileira
criam as condições históricas de emergência daforneceram o terreno histórico para o
surgimento da noção de Amazônia? São algumas questões importantes com vistas a
melhorTais indagações constituem elementos cruciais para situar de maneira mais abrangente
o leitor na compreensão da invenção daapreciação da construção do conceito de Amazônia
noao longo do século XIX.
No desfecho deste capítulo, emerge uma constatação eloquente: o intricado processo
de nomeação e conceituação da Amazônia revela-se como um reflexo multifacetado da
história e das percepções humanas. Desde as raízes mitológicas de um "Pays das Amazonas"
até a cristalização do termo “Amazônia” como expressão de identidade regional, traça-se uma
jornada que transcende a mera demarcação geográfica.
O fluxo semântico que percorre essa narrativa denota a constante negociação entre
perspectivas locais e influências externas, entre imaginação e realidade, entre poder político e
anseios culturais. À medida que exploradores, cronistas, dicionaristas e pensadores moldaram
os contornos linguísticos e mentais da região, um painel complexo de significados emergiu,
conferindo à Amazônia uma aura de encanto e mistério.
Esse capítulo lança luz sobre a extraordinária evolução da nomenclatura e
conceituação amazônicas, destacando como o entendimento da região ecoou nas esferas
geográfica, política e simbólica. Nesse emaranhado de termos e ideias, encontramos não
apenas o reflexo de um passado riquíssimo, mas também os alicerces para compreendermos o
presente e forjarmos o futuro desta vasta e diversificada terra. Formatado: Fonte: (Padrão) Times New Roman, 12 pt