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UNIVERSIDADE PAULISTA

JULIANA MARQUES SALLENAVE


ELIVÂNIA CARMEN DIAS DA SILVA

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO OBSTETRA NO PARTO DOMICILIAR


PLANEJADO: Uma análise por revisão sistemática de literatura

JOÃO PESSOA

2023
JULIANA MARQUES SALLENAVE
ELIVÂNIA CARMEN DIAS DA SILVA

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO OBSTETRA NO PARTO DOMICILIAR


PLANEJADO: Uma análise por revisão sistemática de literatura

Trabalho de conclusão de curso para obtenção


do título de graduação em Enfermagem
apresentado à Universidade Paulista – UNIP.

Orientadora: Prof.ª Ms. Rafaela Prima de


Lucena

JOÃO PESSOA
2023
JULIANA MARQUES SALLENAVE
ELIVÂNIA CARMEN DIAS DA SILVA

A ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO OBSTETRA NO PARTO DOMICILIAR


PLANEJADO: Uma análise por revisão sistemática de literatura

BANCA EXAMINADORA

______________________________/___/______
Ms. Rafaela Prima de Lucena
Orientadora

______________________________/___/______
Ms. Emmanuella Costa de Azevedo Mello

______________________________/___/______
Ms. Emmanoela de Almeida Paulino Lima
AGRADECIMENTOS

Agradecemos a Deus pela dádiva da vida, pela proteção e por nos ter dado forças nos
momentos difíceis.

Aos nossos familiares, pelo apoio ofertado, pelo carinho e incentivo, em especial para
essa realização de vida acadêmica.

Agradecemos a todos os que nos impulsionaram a continuar, a não renunciar, a ter


confiança, e nunca desistir dos nossos objetivos.

Às professoras, pela valiosa orientação, base e estímulo, os quais foram


indispensáveis para realização desse trabalho.
Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o
enquanto está perto. Isaías 55;6

Os cães ladram e a caravana passa.


RESUMO

Essa é uma revisão sistemática dedicada a identificar na literatura os estudos sobre o


parto domiciliar planejado (PDP) assistido por enfermeiras obstetras (EOs) no Brasil
e entender sua atuação. É um estudo de cunho quantitativo e qualitativo, descritivo.
Como recurso metodológico foi adotado o roteiro do PRISMA. A amostra foi composta
por 17 estudos devidamente categorizados e relatados a fim de atualizar e ampliar a
discussão sobre essa modalidade de parto. Verificou-se que as amostras estudadas,
descritas nos trabalhos analisados, foram relativamente pequenas. Há necessidade
de outras investigações, para melhor compreensão desse cenário em termos
quantitativos. De todo modo, esses estudos permitem uma maior visibilidade à
atuação autônoma das enfermeiras obstétricas e as reafirma como aliadas do
processo de humanização do parto.

Palavras-chave: Enfermeiras obstétricas; Parto Domiciliar; Humanização do parto.


SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS .................................................................................................. 4
RESUMO..................................................................................................................... 6
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8
2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 10
3 JUSTIFICATIVA..................................................................................................... 11
4 ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DESTE
TRABALHO .............................................................................................................. 12
4.1 Humanização do parto ................................................................................... 12
4.2 A Enfermeira obstétrica como assistente do PDP ...................................... 15
4.3 Local de parto................................................................................................. 16
5 PERCURSO METODOLÓGICO ............................................................................ 18
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 19
Desfechos Maternos e Neonatais de PDP ......................................................... 20
Sentimentos, motivação e perfis associados ao PDP ...................................... 24
Percepção dos profissionais que atendem PDP ............................................... 26
Abordagem teórica do PDP ................................................................................. 28
7 CONSIDERAÇÕES ................................................................................................ 30
8 REFERÊNCIAS...................................................................................................... 31
1 INTRODUÇÃO

Há tempos, parir em casa é um evento familiar de domínio feminino. No


passado, as mulheres pariam acompanhadas de outras mulheres que já haviam
parido, frequentemente apoiadas por suas mães e irmãs, cunhadas e comadres. As
parteiras, mulheres mais experientes e conhecedoras da evolução natural do parto,
das ervas e do rezo, repassariam seus saberes às suas sucessoras numa tradição de
oralidade. Sendo as parteiras referência de cuidado em suas comunidades. Por vezes,
começavam na necessidade, na urgência e na falta de uma outra parteira que as
iniciasse.

Em caráter excepcional, nos partos complicados, o papel dos médicos


(homens) era reservado à extração de fetos em partos obstruídos, ou cesarianas
realizadas post mortem. Na idade moderna, para o caminhar da ciência, era
necessária a documentação das práticas seguras de parto e essas foram ensinadas
pelas parteiras aos médicos. Segundo Thomas (2009), nesse período a obstetrícia
passou de um "mistério" para uma "ciência", uma mudança que promoveu a ascensão
da autoridade masculina sobre o parto. No século XVII, uma época em que poucas
mulheres tinham acesso à educação formal, Justine Siegemund foi a primeira mulher,
que na Alemanha, escreveu um livro de obstetrícia sob a perspectiva feminina. Em
1690, seu livro “A Parteira da Corte” foi certificado pela Universidade Europeia
Viadrina, na cidade de Frankfurt, como um livro didático oficial de medicina.

No Brasil, de acordo com Brennes (1991, p.135), a história da parturição


remonta à vinda da família real no começo do século XIX, e a urgente demanda em
formar médicos. A disciplina de Arte Obstétrica foi logo incluída nas escolas de
medicina e cirurgia, na Bahia e no Rio de Janeiro. À época, no Brasil, somente poucas
parturientes procuravam o serviço médico, e os partos seguiam em casa com as
parteiras. A primeira escola de enfermagem e obstetrícia surge em 1923, a Escola de
Enfermagem Anna Nery no Rio de Janeiro, em seguida incorporada à Universidade
do Brasil em 1937 e incluída como estabelecimento de ensino superior em 1945.
(EEAN, online). A partir desse momento, a institucionalização do parto começa a se
dar mais intensamente nos centros urbanos.
Atualmente no Brasil, os partos hospitalares representam a quase totalidade
dos partos. Além da mudança do local, na segunda metade do século XX
experimentamos uma medicalização crescente e excessiva desse evento, desde
intervenções rotineiras culminando com o aumento alarmante das taxas de cirurgias
cesarianas. Apesar da sensação de controle vivenciada na experiência do parto
programado, a banalização da cesárea eletiva vem colocando em risco aumentado as
parturientes e os neonatos. Com isso, apesar do acesso às tecnologias, a mortalidade
materna no Brasil estabilizou-se em níveis elevados frente aos países desenvolvidos.
Evidenciam-se, nesse contexto, as falhas no acesso, na cobertura e na qualidade do
pré-natal, da assistência ao parto e puerpério. Segundo Rattner (2009), “... nos países
em desenvolvimento, mais de 90% dessas mortes seriam evitáveis.”

Nas últimas décadas no Brasil, em várias esferas surgiram questionamentos


acerca da impessoalidade latente no atendimento ao parto nos hospitais e
maternidades. Essa discussão conclama uma assistência individualizada, centrada na
mulher e na família, que valoriza a fisiologia, ao tempo em que se pauta na ciência
para justificar protocolos e agregar segurança ao obstare. Esse movimento ganha
força com a Política Nacional de Humanização (PNH) e tem como um de seus pilares
o respeito ao protagonismo da mulher.

A PNH (BRASIL, 2010) considera uma visão abrangente de compreensão de


Humanização, integrando dimensões ético-estético-políticas. Primeiramente ética em
referência à atitude dedicada e corresponsável dos atores envolvidos (usuários –
trabalhadores de saúde – gestores). Em seguida estética, envolvendo processos
criativos e sensíveis de produção de saúde e de subjetividades autônomas e
protagonistas. E por fim política, relativa à organização social, práticas de atenção e
gestão da rede.

O parto domiciliar planejado (PDP) é uma construção entre a família e a


equipe que atenderá o parto. Os critérios de elegibilidade para que ele possa ocorrer
são: estratificação de risco adequada, um pré-natal bem acompanhado com os
exames previstos e recomendamos pelo Ministério da Saúde, a estrutura suficiente
da casa, e a corresponsabilidade dos envolvidos. A elegibilidade, o planejamento e o
respeito ao direito de escolha, autonomia e protagonismo da pessoa gestante.
Diante deste contexto, utilizamos como pergunta norteadora para o
desenvolvimento deste trabalho “Como aparece na literatura a atuação do
enfermeiro obstetra no parto domiciliar planejado?”.

2 OBJETIVOS

Com base na pergunta, tivemos como objetivo geral, identificar na base BVS
os artigos acadêmicos que abordam sobre o enfermeiro obstetra no PDP para analisar
sua atuação.

Os objetivos específicos foram:

a) Efetuar uma revisão sistemática com base no protocolo do PRISMA;


b) Descrever sobre os principais assuntos identificados nas referências
encontradas;
c) Discutir os aspectos relativos às peculiaridades do parto domiciliar;
d) Identificar nos artigos fragmentos da percepção dos atores envolvidos.

Este trabalho foi estruturado com 5 sessões, sendo a primeira de introdução,


que apresenta o contexto, a pergunta problema e indica os objetivos. A segunda traz
a justificativa embasada em dados, a pessoal e a relevância para área da
enfermagem. A terceira sessão apresenta os elementos necessários para o
desenvolvimento, com uma visão teórica sobre a humanização do parto, o profissional
enfermeiro na assistência ao parto bem como a legislação pertinente, e os locais de
parto. Em seguida é descrito detalhadamente o percurso metodológico da pesquisa,
para que seu caminho possa ser refeito. Na sequência, são apresentados os
resultados e, para um andamento mais fluido, as discussões. Nessa seção os estudos
estão divididos em 4 categorias, para um melhor entendimento das dimensões
alcançadas, como desfechos, sentimentos, percepção da assistência, abordagem
teórica. Para conclusão do trabalho, são colocadas as considerações, entendendo
que o tema está em contínua (re)construção.
3 JUSTIFICATIVA

Faz-se premente conhecer a inserção do profissional enfermeiro obstetra no


contexto do parto domiciliar planejado no Brasil; conhecer o perfil das famílias que
buscam esse local de parto; a disponibilidade de material acadêmico que detalhe as
singularidades dessa assistência; os indicadores de satisfação das mulheres e
famílias assistidas; os desfechos impremeditados; a segurança percebida no parto; o
reflexo na amamentação; no pós-parto e puerpério.

De acordo com a Fundação Panamericana de Saúde, a meta de redução da


mortalidade materna até 2030 é de até 30 a cada 100 mil nascimentos. A Razão da
Mortalidade Materna é calculada a partir do número de óbitos maternos sobre a
quantidade de nascidos vivos durante um período numa localidade, multiplicado por
100 mil. Os últimos dados de mortalidade disponíveis são preocupantes, pois havia
nos últimos anos estabilização numa média alta, de cerca de 57/100 mil, no entanto
os dados relativos aos anos de 2021 e 2022 ainda são preliminares e refletem
respectivamente a influência da pandemia sobre as mortes maternas, que mais que
dobraram em 2021, chegando a 107,53/100 mil, evidenciando um grupo de risco da
COVID-19, e em seguida esse indicador teve uma recuperação acentuada, no entanto
ainda não confirmada pelo Observatório Obstétrico Brasileiro – OOBr (2022).

Com base nos dados obtidos no Datasus (2022), os partos hospitalares têm
prevalência maior que 99,06% no Brasi, onde também é notória a alta prevalência de
cesarianas 58,16%. A pesquisa Lancet (2022) aponta que das 6,2 mi de cesáreas
desnecessárias a cada ano no mundo, metade delas é feita no Brasil e na China.
Dentre os potenciais complicações da cesárea para a mulher, estão as hemorragias,
as infecções puerperais, as lacerações acidentais, as reações indesejáveis à
anestesia, a embolia pulmonar, o íleo paralítico etc. Esses eventos podem influenciar
as futuras gestações. Ainda em ambiente hospitalar, é comum que os partos vaginais
ocorram sob um modelo intervencionista e raramente sejam eventos espontâneos,
com sua fisiologia respeitada.

Enfim, esse trabalho traz como contribuições para área de enfermagem, a


possibilidade de destacar um nicho de atuação; de identificar os métodos utilizados
nas pesquisas e descrever aspectos da prática presentes nos estudos sobre PDP.
4 ELEMENTOS NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO DESTE
TRABALHO

Alguns conceitos são fundamentais para o entendimento e o desenvolvimento


da pesquisa.

4.1 Humanização do parto

Acerca dos muitos sentidos que possam compor a palavra “humanização” no


parto, Diniz (2005) elencou alguns desses que ainda hoje são norteadoras nesse
diálogo. Sendo estes apresentados no quadro 1, com alguns avanços na literatura do
cenário atual até 2022, a saber:

Quadro 1. Diálogo ampliado e atualizado acerca da humanização do parto, 2005-2022.


Humanização como polissemia e como
Avanços no diálogo (2022)
convite ao diálogo Diniz (2005)
É ainda o carro chefe na condução do diálogo, e
a) Humanização como legitimidade novas evidências corroboram esse
científica da medicina, ou da assistência entendimento. As Diretrizes Nacionais de
baseada na evidência. Considerada o Assistência ao Parto Normal (2017), com versão
padrão-ouro; preliminar (2022) atualizam e aproximam as
recomendações da OMS (1996).
b) Humanização como a legitimidade O ativismo cibernético de mulheres mães deu
política da reivindicação e defesa dos voz e visibilidade aos excessos, e o termo
direitos das mulheres (e crianças, e “violência obstétrica” se perpetrou no cenário
famílias) na assistência ao nascimento. ampliando a discussão. (Sena e Tesser, 2016)
c) Humanização referida ao resultado de Esse sentido é o mais racional, no entanto o
tecnologia adequada na saúde da acesso desigual à saúde ainda define a alta
população. morbimortalidade materna e neonatal.
d) Humanização como legitimidade
profissional e corporativa de um É sensível o retorno do cuidado no parto normal
redimensionamento dos papéis e eutócico ao enfermeiro obstetra e obstetriz. No
poderes na cena do parto. Incluiria o entanto, o cirurgião-obstetra, profissional
deslocamento da função principal, ou altamente especializado no alto risco, ainda
pelo menos exclusiva, no parto normal, suplanta essa assistência. Em 2016, o
do cirurgião-obstetra para a enfermeira pagamento desse procedimento por parte das
obstetriz – legitimado pelo pagamento operadoras de saúde foi legitimado pela
desse procedimento pelo Ministério da Resolução Normativa ANS nº 398.
Saúde.
Essa discussão, apesar de sua relevância,
e) Humanização referida como legitimidade permanece incipiente. O setor privado se
financeira (sic) dos modelos de beneficia dos dois modelos de assistência, posto
assistência, da racionalidade no uso de que a humanização é uma tendência
recursos; disseminada principalmente nas camadas
médias urbanas.
f) Humanização referida à legitimidade da
O compartilhamento de decisões sobre saúde
participação da parturiente nas decisões
avançou com a ampliação do acesso à
sobre sua saúde, à melhora na relação
informação. Nesses anos, em contraponto ao
médico-paciente – ênfase na
plano de parto recomendado, difundiu-se
importância do diálogo com a paciente,
amplamente o TCE (termo de consentimento
inclusão do pai no parto, presença de
esclarecido) para realização de cesariana a
doulas (acompanhantes de parto),
pedido. Esse procedimento respalda o médico e
alguma negociação nos procedimentos
as instituições acerca de possíveis complicações
de rotina, a necessidade da gentileza e
advindas de cirurgias realizadas sem indicação
da “boa educação” na relação entre
clínica.
instituições e seus consumidores.

Esse não é um recurso totalmente disponível no


g) Humanização como direito ao alívio da SUS, também não o é na saúde suplementar. A
dor, da inclusão para pacientes do SUS disponibilidade de anestesistas para o
no consumo de procedimentos tidos procedimento de parto normal é lei em alguns
como humanitários, antes restritos às Estados e municípios. Cabe ressaltar que esse
pacientes privadas – como a analgesia recurso acrescenta riscos, e os métodos não
de parto. farmacológicos de alívio da dor devem ser
oferecidos previamente.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Diniz (2005).

O termo humanização, dentre tantos outros sentidos não excludentes entre


si, é segundo Rattner (2019), um contraponto à “mecanização” do parto, que seria
uma comparação do fluxo vivenciado nas maternidades com a organização
sistemática industrial do ambiente hospitalar, do corpo da parturiente com um
mecanismo, e do bebê com o produto. Essa visão corroborada com Sanfelice (2014),
e é originalmente exposta por Davis-Floyd (2001).

[...] para haver humanização deve haver: compromisso com a ambiência,


melhoria das condições de trabalho e de atendimento; respeito às questões
de gênero, etnia, raça, orientação sexual e às populações específicas (índios,
quilombolas, ribeirinhos, assentados, etc.); fortalecimento de trabalho em
equipe multiprofissional; apoio à construção de redes cooperativas, solidárias
e comprometidas com a produção da saúde e com a produção de sujeitos;
valorização dos profissionais de saúde, estimulando processos de educação
permanente (Brasil, 2004)

Nesse contexto, a escolha do local de parto pode ser definidora do desfecho


de uma gestação de risco habitual na qual a mulher busca um parto natural. Essa
autonomia pode ser alcançada com informação acessível, dentro do princípio de
equidade, compreendendo a realidade de cada mulher e sua rede de apoio, desde o
pré-natal e o planejamento familiar. O modelo de assistência por profissionais não-
médicos, em casas de parto ou em domicílio, são uma opção acessível nos países
que experimentam as menores taxas de mortalidade no mundo (citar alguns). Esse
modelo compõe, junto a outros indicadores de desenvolvimento humano, um
panorama de desfechos positivos.
No Brasil, o entendimento é o oposto, o parto primeiramente remete a um
momento institucionalizado, potencialmente carregado de riscos, necessitando de um
atendimento dentro do paradigma biomédico, distante do entendimento do parto como
um evento familiar que, no baixo-risco e em um pré-natal adequado, pode acontecer
em casa. Contudo este cenário tem apresentado pequenas mudanças, a assistência
ao parto domiciliar, por parte de uma instituição, é uma realidade-conceito unicamente
em Belo Horizonte (MG), onde o hospital Sofia Feldman proporciona, de forma
pioneira, desde 2013, a retaguarda do Hospital às famílias que escolhem o domicílio
como lugar desse evento. O serviço é custeado 100% pelo SUS. (COFEN, 2015,
Online)

Vários profissionais podem ser indutores dessa mudança, ou poderia ser


descrito de forma mais simbólica como um “retorno”. neste contexto o profissional de
Enfermagem contata esse público (pais, família, profissionais etc.) desde a atenção
primária e é um facilitador na transmissão de informação e conhecimento por meio da
educação em saúde. A escolha do local de parto perpassa esse lugar, já que o
planejamento do parto deve considerar critérios de elegibilidade, uma boa
estratificação de risco, mas também é reflexo de um sentimento de apropriação desse
momento como um evento familiar, que remete a um território de segurança,
conhecido e que convida a uma corresponsabilidade.

Quando se compara a morbimortalidade no Brasil e no mundo desenvolvido,


onde o enfermeiro é mais atuante, os resultados maternos e fetais são melhores.
Segundo Hatem at al (2008), a avaliação internacional dos modelos assistenciais
mostra que os países que mantêm um modelo de assistência ao parto que valoriza o
papel das obstetrizes (midwives ou enfermeira-parteiras) como os países nórdicos,
Reino Unido, Japão, Holanda, França, Alemanha e outros, apresentam baixa
morbimortalidade materna e neonatal, assim como taxas de intervenções. O parto
assistido nesses países é baseado no “respeito à fisiologia e à dignidade” das
mulheres e suas famílias. Por serem processos fisiológicos, a gravidez e o parto são
atendidos na atenção básica. O parto pode ocorrer em casa, em ambulatório e em
centros de parto normal (casas de parto), além de hospitais. Além disso, nesses
países, o parto sem complicações é apoiado por enfermeiras-parteiras, que
estabelecem vínculo com a maioria das famílias e desempenham um papel importante
nesses momentos importantes da vida - como o trabalho de parto e parto - são
cuidadoras e reconhecidas. além de serem uma referência para as famílias que
atendeu, numa relação que, em nosso país, é preconizada pela PNH. A escolha da
enfermeira-parteira para assistência ao parto eutócico é confirmada por uma
publicação da Cochrane Collaboration.

4.2 A Enfermeira obstétrica como assistente do PDP

Ao enfermeiro, de acordo com a lei do exercício profissional, como integrante


da equipe de saúde, cabe a assistência de enfermagem à gestante, parturiente e
puérpera; o acompanhamento da evolução e do trabalho de parto; e a execução do
parto sem distocia. A Lei nº 7.498/1986, que dispõe sobre a regulamentação do
exercício da enfermagem, prevê ao enfermeiro:

Art. 11 O Enfermeiro exerce todas as atividades de enfermagem, cabendo-lhe:


[...]
II – como integrante da equipe de saúde:
[...]
g) assistência de enfermagem à gestante, parturiente e puérpera;
h) acompanhamento da evolução e do trabalho de parto;
i) execução do parto sem distocia;
[...]
Parágrafo único. As profissionais referidas no inciso II do art. 6º desta lei incumbe,
ainda:
a) assistência à parturiente e ao parto normal;
b) identificação das distocias obstétricas e tomada de providências até a chegada do
médico;
c) realização de episiotomia e episiorrafia e aplicação de anestesia local, quando
necessária.

As enfermeiras obstetras são profissionais com especialização e autonomia


ampliada. O Decreto Nº 94.406/1987 regulamenta a lei do exercício profissional e trata
com mais acuidade dessas atribuições, em seus níveis. Em 2016, a Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC), lança a Diretriz
Nacional de Assistência ao Parto Normal, esclarecendo à luz das evidências, a
segurança do PDP. Neste mesmo documento, é fomentado em vários pontos o
fortalecimento da atuação das EOs e Obstetrizes. A Resolução COFEN nº 516/2016
normatiza a atuação e a responsabilidade das EOs nos Serviços de Obstetrícia,
Centros de Parto Normal (CPN) e/ou Casas de Parto e demais locais onde ocorra
essa assistência. E, por fim, no PARECER DE COMISSÃO Nº
003/2019/CNSM/COFEN, em suas conclusões, “ressalta-se a necessidade de edição
de uma Resolução Cofen que trate sobre a normatização do exercício profissional da
Enfermagem Obstétrica na assistência à mulher, recém-nascido e família no Parto
Domiciliar Planejado”.

“As parteiras se encarregam do fundamental - elas garantem a temperatura da


sala, a luminosidade e o silêncio, e que cada mulher sinta-se livre para mudar
de posição à vontade. Elas oferecem água, sucos de frutas, mel e açúcar, o
que provém às parturientes fluidos e calorias que elas necessitam durante o
duro trabalho de parto. É fácil o bastante ensinar a outras pessoas como seguir
esses passos da nossa rotina. Contudo, auxiliar uma mulher em trabalho de
parto envolve muito mais do que essas simples tarefas. Envolve empatia,
intuição e inspiração... É uma arte.” (ODENT, 2002, p.45)

Considerando como modelo as práticas obstétricas nos países onde são


observados resultados maternos e neonatais melhores, é importante refletir
estratégias de uma inclusão maior dessa profissional na assistência.

4.3 Local de parto

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 1996) coloca a escolha do local


de parto como uma das Práticas demonstradamente úteis e que devem ser
estimuladas, e em seguida o “Fornecimento de assistência obstétrica no nível mais
periférico onde o parto for viável e seguro e onde a mulher se sentir segura e
confiante”.

Atualmente, os hospitais e maternidades se ocupam (ou deveriam) se


ocupar das boas práticas de gestão de alta performance, da padronização, da rotina,
das regras para conter infecções hospitalares. Esse ambiente serve ao modelo
tecnocrático de assistência.

As casas de parto ou centros de parto normal (CPN) são uma alternativa


intermediária para a mulher que busca uma maior ambiência e práticas assistenciais
mais flexíveis, de acordo com suas possíveis demandas. A Portaria GM/MS nº
11/2015 prevê as CPNs intra-hospitalares e peri-hospitalares, a uma distância de até
20 minutos do respectivo estabelecimento e as transferências devem ocorrer em
unidades de transporte adequadas. As enfermeiras têm autonomia para proceder a
admissão, atender ao parto e dar alta do serviço.
“O verdadeiro sentido do nascimento foi se perdendo pouco a pouco nos
meandros das regras e condutas institucionais.
A liberdade que a casa proporciona ao casal durante o trabalho de parto
permite a ele se reencontrar com o verdadeiro sentido desse acontecimento
e realizá-lo da forma que mais lhe convém.” (LARGURA, 2006, p.30)

O parto domiciliar planejado é pensado para uma casa com estrutura mínima:
água potável, despensa abastecida, refeições programadas. Saneamento, limpeza
adequada do ambiente, roupa de cama limpa e passada a ferro. A área de serviço e
a cozinha podem dar o suporte suficiente a esse evento. O papel da equipe é apoiar
a fisiologia, dentro dos parâmetros de segurança, com todo seu conhecimento técnico
e simplicidade. A equipe deve estar preparada, treinada para promover os primeiros
cuidados de urgências e emergências, realizando periodicamente atualização. Em
casa, havendo necessidade de intervenções próprias do ambiente hospitalar, aos
primeiros sinais deve-se avaliar a necessidade de transferência, para que ocorra em
tempo hábil, de acordo com o planejamento acordado.
5 PERCURSO METODOLÓGICO

Esse trabalho é de cunho quantitativo e qualitativo, descritivo. Foi aplicado,


para melhor seguir as premissas de uma revisão sistemática, o roteiro do PRISMA
(Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-analyses, Principais
Itens para Relatar Revisões sistemáticas e Meta-análises), esse modelo consiste num
checklist a ser seguido pelo pesquisador, nele constam as seções e tópicos referentes
ao Título, Resumo, Introdução, Métodos, Resultados, Discussão, Financiamento e em
cada uma dessas sessões a descrição do que se espera naquele excerto do texto
acadêmico. O PRISMA é resultado de avaliação da confiabilidade das publicações e
consagrou-se como método confiável sendo amplamente adotado para validar a
seleção de estudos evitando vieses de conteúdo. Pode ser adotado em sua totalidade
ou em itens aplicáveis, os quais foram usados neste caso.

A busca de artigos indexados à Biblioteca Virtual em Saúde - BVS se deu em


03/04/2023. Foram escolhidos os seguintes descritores DeCS/MeSH: “Enfermeiras
Obstétricas” e “Parto Domiciliar” em espanhol e português com a utilização do
operador booleano “AND”. O recorte temporal dos últimos 10 anos (2013 a 2023).
Texto completo. Todas as bases de dados disponíveis: MEDLINE, BDENF –
Enfermagem, LILACS, IBECS, CUMED, SciELO Preprints. Como assunto principal
foram escolhidos os próprios descritores.

O Detalhe da Pesquisa (string de busca) é: “enfermeiras obstétricas” AND


“parto domiciliar” AND ( fulltext:("1" OR "1" OR "1" OR "1") AND
mj:("Enfermeiras Obstétricas" OR "Parto Domiciliar") AND la:("pt" OR "es"))
AND (year_cluster:[2013 TO 2023]).
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Inicialmente, foram apontados 30 resultados, com um estudo repetido. Por


não abordarem o parto em casa, 11 registros foram excluídos. O terceiro critério de
exclusão geográfico, sendo excluído um estudo desenvolvido fora do Brasil.
Finalmente, restaram 17 estudos elegíveis, listados no Quadro 2.

Quadro 2: Amostra - Estudos elegíveis (17) disponíveis na BVS, amostra do presente estudo.
Título em português Revista Ano
1. Parto domiciliar planejado assistido por
Ciência, cuidado e saúde
enfermeira obstétrica: significados, experiências 2022
(Impresso)
e motivação para essa escolha
2. Desejando parir naturalmente: perspectiva de
mulheres sobre o parto domiciliar planejado com Revista enfermagem UERJ 2021
uma enfermeira obstétrica
3. Parir e nascer em casa: vivências de enfermeiras
Enfermagem em foco
obstétricas na assistência ao parto domiciliar 2020
(Brasília)
planejado
4. Desafios enfrentados por enfermeiros obstetras
para a promoção do parto domiciliar na Nursing (São Paulo) 2020
contemporaneidade
5. Dificuldades da assistência ao parto domiciliar Revista baiana de
2020
na ótica de enfermeiras obstetras enfermagem (Impresso)
6. Atuação do enfermeiro obstetra no parto Ciência, cuidado e saúde
2019
domiciliar planejado (Impresso)
7. A experiência de mulheres, acompanhantes e
Tese - Larissa de Oliveira
enfermeiras obstétricas no parto domiciliar 2019
Peripolli
planejado
8. Experiência da autonomia profissional na
Revista baiana de
assistência ao parto domiciliar por enfermeiras 2019
enfermagem (Impresso)
obstétricas
9. A participação do pai no parto domiciliar
Revista enfermagem UERJ 2018
planejado: um ato significativo para a mulher
Revista de enfermagem
10. Métodos não farmacológicos no parto domiciliar 2018
UFPE on line
11. Resultados de partos domiciliares planejados Revista de enfermagem da
2018
assistidos por enfermeiras obstétricas UFSM
12. Confiando na experiência: perspectiva de
Tese - Alexandra Celento
mulheres que pariram em domicílio 2018
Vasconcellos da Silva
acompanhadas por enfermeira obstétrica
13. O enfermeiro obstetra no parto domiciliar Revista de enfermagem
2016
planejado UFPE on line
14. Comparação de resultados obstétricos e
neonatais entre primíparas e multíparas Ciencia y enfermeira 2015
assistidas no domicílio
15. Do parto institucionalizado ao parto domiciliar Rev RENE (Impresso) 2014
16. Perfil de casais que optam pelo parto domiciliar
Escola Anna Nery (Impresso) 2013
assistido por enfermeiras obstétricas
17. Partos domiciliares planejados assistidos por Revista da Escola de
enfermeiras obstétricas: transferências maternas Enfermagem da USP 2013
e neonatais (Impresso)
Esses artigos encontram-se nas bases BDENF - Enfermagem (14),
LILACS (13) e MEDLINE (1). Os principais assuntos incidentes são: Parto Domiciliar
(17), Enfermeiras Obstétricas (11), Enfermagem Obstétrica (8), Parto Humanizado (6),
Parto Normal (4), Trabalho de Parto (2), Saúde Materno-Infantil (2), Transferência de
Pacientes (2), Enfermagem Materno-Infantil (2), Hospitalização (2).

Buscando ampliar e atualizar revisões anteriores, os artigos elegíveis para


esse estudo foram divididos de acordo com as categorias propostas por Cursino e
Benincasa (2018), tais sejam: Desfechos Maternos e Neonatais de PDP; Sentimentos,
motivação e perfis associados ao PDP; Percepção dos profissionais que atendem
PDP; Abordagem teórica do PDP. Esses dados estão consolidados no Quadro 3.

Desfechos Maternos e Neonatais de PDP

Nesta categoria foram revisados 3 artigos de caráter quantitativo. Os mais


antigos, produzidos em 2013 e 2015 por Koettker et al., utilizaram-se do mesmo
universo/população, entretanto com amostras distintas – transferências do PD e
mulheres que pariram em domicílio. A fonte documental foram os prontuários de 100
mulheres atendidas por uma equipe de parto domiciliar planejado que atendeu em
Santa Catarina entre 2005 e 2009. Essa Equipe essa composta por 7 enfermeiras
obstétricas e 2 médicos obstetras, os quais revezavam as consultas de pré-natal e
seriam a retaguarda numa eventual transferência, caso fosse esse o acordo firmado
com essas mulheres. O estudo mais recente, de 2018, reúne prontuários de 3 equipes
de atendimento ao parto domiciliar, que atenderam no Distrito Federal no ano de 2015,
e se vale de uma amostra de 99 prontuários. Para melhor comparação e discussão,
alguns aspectos foram observados.

Nesses estudos, a idade predominantemente observada nas mulheres que


optaram pelo PDP é de aproximadamente 30 anos. Nos artigos de Koettker, pouco
mais da metade dessas mulheres possuía ensino superior, e no de Santos (2018),
mais recente, 87,9%. Ou seja, são pessoas majoritariamente escolarizadas, que em
sua maioria (63,3-78,8%) exerciam atividade remunerada. Cerca de 90% delas eram
casadas ou viviam em união estável.
Quadro 3. Publicações sobre o PDP no Brasil entre 2013-2023.
Categoria Objetivo(s) e amostra Tipo de estudo Ano Autores

Descrever os resultados maternos e neonatais de PDPs Santos SS, Boeckmann LMM, Baraldi ACP,
Análise estatística descritiva. 2018
Desfechos assistidos por EOs (99 prontuários) Melo MC
Maternos e Avaliar os resultados obstétricos e neonatais entre primíparas e Estudo de corte transversal retrospectivo Koettker JG, Brüggemann OM, Dufloth
2015
Neonatais de multíparas assistidas no domicílio por EOs (100 mulheres) quantitativo. RM, Monticelli M, Knobel R
PDP Descrever a taxa e as causas de transferências intraparto e, PDP
Estudo exploratório-descritivo, quantitativo. 2013 Koettker JG, Brüggemann OM, Dufloth RM
e os desfechos (11 mulheres)
Compreender os significados e experiências de mulheres que
Estudo descritivo e exploratório, de abordagem Baggio MA, Girardi C, Schapko TR, Cheffer
vivenciaram o PDP e a motivação para essa escolha (16 2022
qualitativa MH
mulheres)
Descrever a escolha do PDP em um centro urbano de grande
Estudo qualitativo guiado pela Grounded Theory 2021 Vargens OMC, Alehagen S, Silva ACV
porte, na perspectiva das mulheres (10 mulheres)
Sentimentos,
motivação e Conhecer a experiência das mulheres, acompanhantes e EOs no
Pesquisa exploratória de abordagem qualitativa 2019 Peripolli LO
perfis PDP (8 mulheres, 6 acompanhantes e 8 EOs)
associados ao Discutir a participação do pai durante o trabalho de parto e parto Pesquisa descritiva com abordagem qualitativa e de
2018 Quitete JB, Monteiro JAMB
PDP sob a ótica da mulher (8 mulheres) campo
Analisar a concepção de segurança do parto, a partir do processo Pesquisa descritiva, qualitativa, com a utilização da
2018 Silva ACV
de interação social de mulheres que pariram (10 mulheres) Grounded Theory
Identificar características sociodemográficas de casais que Quantiqualitativo, Pesquisa exploratório-descritiva,
2013 Feyer ISS, Monticelli M, Knobel Roxana
optam por PDP (25 casais) Análise de Conteúdo
Discutir a vivência de EOs que atuam no PDP, evidenciando Estudo descritivo e exploratório, de caráter
2020 Almeida AIS, Araújo CLF
práticas obstétricas, desafios e obstáculos (9 enfermeiras) qualitativo
Souza NR, Lacerda GSC, Ariana Silva M,
Investigar as dificuldades vivenciadas pelos EOs na promoção do
Estudo descritivo, de abordagem qualitativa 2020 Carneiro ALM, Almeida CS, Cecilio SG,
PD, confrontar com os dados na literatura (7 enfermeiros)
Souza DAS
Investigar as dificuldades encontradas pelas EOs que estão Pesquisa exploratória, descritiva e de abordagem Pascoto GS, Tanaka EZ, Fernandes LCR,
Percepção dos 2020
atuando na assistência ao PD (9 enfermeiras) qualitativa. Análise de Conteúdo Shimo AKK, Sanfelice CFO
profissionais Compreender a percepção que o EO que atende ao PDP tem de Bochnia ER, Maneira N, Trigueiro TH,
que atendem Estudo exploratório de abordagem qualitativa. 2019
sua atuação (7 enfermeiros) Favero L, Kochla KRA, Oliveira FAM
PDP
Identificar a experiência da autonomia na assistência ao PD por Silva EO, Sanches METL, Santos AAP,
Estudo descritivo, com abordagem qualitativa. 2019
EOs (10 enfermeiras) Barros LA
Descrever os desafios e obstáculos na atuação do enfermeiro e Estudo descritivo-exploratório com abordagem
2016 Mattos DV, Vandenberghe L, Martins CA
refletir sobre o contexto social e profissional (22 enfermeiros) qualitativa.
Descrever transição da assistência hospitalar para domiciliar (5 Qualitativa, Tempestade de Ideias, Análise de Sanfelice CFO, Abbud FSF, Pregnolatto
2014
enfermeiras) Conteúdo OS, Silva MG, Shimo AKK
Abordagem Discutir acerca dos métodos não farmacológicos para alívio da Araújo ASC, Correia AM, Rodrigues DP,
Estudo qualitativo tipo análise reflexiva 2018
teórica do PDP dor no PDP Lima LM, Gonçalves SS, Viana APS
Fonte: Elaborado pela autora baseado em Cursino e Benincasa (2018)
A taxa de cesarianas relatada foi de 9,0-17,2%. Nas transferências a
indicação de cesariana superou os 80%. Nos estudos avaliados, houve apenas duas
transferências de recém-nascidos (RNs) por causas não associadas à assistência,
decorrentes de condições não detectadas no pré-natal. Vale ressaltar que a
elegibilidade para o parto domiciliar é ser gestante de risco habitual, o esperado
portanto é que nessa amostra os resultados sejam melhores que os hospitalares.
Ocorreu uma episiotomia em todo espaço amostral. Para os praticantes da medicina
baseada em evidências (MBE), "definitivamente é hora de abandonar o uso da
episiotomia" (AMORIM et al, 2020). Essa conduta já é a práxis das parteiras, o que
colabora com a incidência de períneo íntegro ou sem sutura, que ocorreram em 50,6-
73,8% dessas amostras. Não houve lacerações de 3º e 4º graus. A taxa de
amniotomia observada foi menor que 10% em todos os estudos.

Na amostra de Koettker (2013), todas as transferências se deram na


primeira fase clínica do parto. No entanto, as transferências no segundo estágio do
parto são estimadas, segundo o mesmo trabalho, em cerca de 12,5-15,9% e no pós-
parto os índices variaram entre 1,8 e 9,3%. A autora reforça que “esse fato pode ser
decorrente da inexistência de um sistema formal de referência contrarreferência” para
o PDP no Brasil. Esses estudos já indicavam a possível relação entre a solicitação de
atendimento na fase latente com uma influência negativa sobre a evolução do parto e
alterações no partograma. Novos estudos (TERTO, 2021) têm confirmado essa
associação entre internação precoce e o uso de intervenções obstétricas nas
instituições, sobretudo a cesariana. Outro achado significativo com relação às
transferências, foi o perímetro cefálico observado nos bebês que nasceram por
cirurgia. Mais da metade deles apresentaram perímetro cefálico maior ou igual a 35
cm. Apesar disso, nem todas as transferências resultaram em cesárea. Nenhum
recém-nascido desse estudo foi internado na unidade de terapia intensiva neonatal.

Segundo Koettker (2013), “As mulheres que optam pelo parto domiciliar
participam mais ativamente do trabalho de parto e do parto, são menos ansiosas e
confiam mais na fisiologia do próprio corpo”. No geral, os resultados maternos e
neonatais deste estudo são positivos e semelhantes a países onde os partos
domiciliares são atendidos por midwives integradas ao sistema de saúde. Esses
achados podem ajudar a tornar essa prática mais acessível às mulheres, como uma
opção para o parto, e poderão ser apreciados pelos profissionais de saúde que podem
não estar cientes dos resultados desse modelo de atenção. Em 2015, Kottker coloca
que o parto domiciliar é, internacionalmente, escolha mais frequente entre as
multíparas. No Brasil, é possível que essa vontade de parir pela primeira vez já em
casa, seja reflexo do medo da violência obstétrica, do desejo de ser respeitada em
suas crenças e uma proteção diante das intervenções de rotina. A autora sugere que,
entre as mulheres que solicitaram o acompanhamento da equipe ainda na fase
latente, o tempo de parto possa ter sido mais frequentemente superior a 10 horas.
Apenas entre as primiparturientes houve acompanhamentos maiores do que 15 horas.
Em contraponto, o estudo de Santos (2018) apontou que o tempo levado pelas
primíparas da amostra (63,6%) para parir foi menor que 10 horas. Em seguida, atribui
esse resultado às “condições ideais para o relaxamento da mulher e o nascimento
fisiológico” que ocorrem em domicílio.

De acordo com Koettker (2015), a bradissistolia e hipossistolia observada


em algumas amostras podem ter contribuído para o cruzamento da curva de alerta
(36,0%) no partograma. As primíparas utilizaram mais que as multíparas os métodos
não-farmacológicos de alívio da dor, em todos os estudos eles foram amplamente
disponibilizados pelas enfermeiras. Em Santos (2018) os três métodos mais usados
foram “banho de imersão em 68 mulheres (72,3%), banho terapêutico de chuveiro em
34 (36,2%) e uso da bola suíça em 14 (14,9%)”.

Não foi possível discutir as variáveis com indicadores nacionais, isso se


deve ao fato de que há poucas pesquisas sobre esse tipo de assistência no Brasil. As
amostras são relativamente pequenas, e há necessidade de outras investigações para
melhor compreensão desse cenário em termos quantitativos. Os critérios de
elegibilidade para o parto domiciliar e a assistência de qualidade selecionam para
bons resultados, o que implica num viés. De todo modo, de acordo com as autoras,
esses estudos permitem uma maior visibilidade à atuação autônoma das enfermeiras
obstétricas.
Sentimentos, motivação e perfis associados ao PDP

Nesta categoria, foram revisados 6 estudos qualitativos, todos baseados


em entrevistas. Sendo 4 artigos respondidos exclusivamente pelas mulheres
assistidas. Um estudo 360°, dissertação de Peripolli (2019), que entrevistou, além das
mulheres, seus acompanhantes e as enfermeiras obstétricas que atenderam os
partos. E um estudo quantiqualitativo de Feyer (2013), respondido por 25 casais.
Vimos que os estudos traçam o perfil de idade das participantes, que ficou entre os
19 a 41 anos, exceto Quitete (2018) que não detalha essa informação.

No estudo de Quitete (2018), é trazida a temática da participação do pai


durante o trabalho de parto e o significado dessa presença para as 8 mulheres
entrevistadas, foi observada a importância do apoio paterno para a mulher,
favorecendo o momento do parto natural, trazendo segurança e amparo.
Acrescentando uma tecnologia leve, onde a presença do pai se somou como método
não farmacológico de conforto em relação à dor. Os benefícios do apoio do pai no
parto domiciliar são comparáveis/relacionados com o acompanhante de livre escolha
da mulher no hospital, cuja presença é amparada na Lei do Acompanhante (Lei nº
11.108/2005), pois na hora do parto a mulher compartilha o seu momento com uma
pessoa de sua confiança, “favorecendo a corresponsabilização do homem e da mulher
no processo parturitivo e no nascimento do filho, que por sua vez fará nascer um novo
homem, um novo pai”, além de facilitar o vínculo precoce.

No presente estudo a palavra medo consta em 10 artigos dos 17 elegíveis


para essa revisão, em 153 instâncias. Mas além do medo, o desejo de incluir a família,
os filhos (mais velhos) e manter a privacidade do lar no processo foi bastante
frequente nos relatos em vários outros estudos dessa revisão. Baggio (2022) expõe
em seu artigo que a participação em grupos de apoio, o acesso a informações, os
relatos de parto, assim como filmes e vídeos foram motivadores para o PDP. Para as
multíparas, a violência obstétrica sofrida anteriormente em ambiente hospitalar
também motivou a opção pelo PDP. A participação da família e a experiência de do
trabalho de parto foram relatadas com bastante ênfase nas falas trazidas para o leitor.
A experiência “inesquecível, fantástica, intensa e protagonizada pela mulher”.

No artigo de Vargens (2021), ele traz a descrição da escolha do PDP


acompanhado por EO na perspectiva das mulheres. As 2 categorias que emergiram,
parecem conflituosas entre si, na primeira a mulher percebe a grande probabilidade
de não alcançar um parto natural na maternidade, e na segunda categoria ela se vê
considerando a segurança do parto domiciliar e, por fim, encontra no PDP com
enfermeira obstétrica um lugar seguro e acolhedor. Neste estudo, as gestantes não
viram o hospital como lugar seguro para o parto natural, o PDP tornou-se “uma forma
de lidar com o medo da dor, manter os filhos em casa e, para quem estava parindo
pela primeira vez, fazer a transição para a maternidade”. Baggio (2022), Silva (2018)
e Peripolli (2019) corroboram a importância da presença do filho mais velho para as
mulheres.

Ao se ocupar do perfil dos casais, Feyer (2013) traça as características


sociodemográficas de quem escolheu pelo domicílio para o processo de parto. A maior
parte dessas pessoas têm formação superior, estão em relacionamento estável e
profissionalmente bem estabelecidos, retratando a classe média alta brasileira. A
opção pelo parto em casa, nesse caso, não estaria ligada a um resgate do passado,
mas à revalorização do ambiente doméstico. De acordo com a autora, esses casais
“mostram interesse particular por práticas diferenciadas, muitas vezes relacionadas à
saúde e ao autoconhecimento, além de tendência à prática de neorreligiões,
valorizando uma espiritualidade de práticas difusas”.

O parto enquanto evento familiar emerge como categoria na dissertação de


Peripolli (2019), sendo de relevância subjetiva que incide em vários artigos da revisão.
A enfermeira obstetra é peça-chave para o parto domiciliar planejado, transmitindo
conforto e segurança para a gestante no processo da parturição. Os partos relatados
pelas entrevistadas nesses estudos se deram da forma mais natural possível e com o
mínimo de intervenções, visibilizando assim a atuação dessa profissional que adentra
com respeito a intimidade do lar.
Percepção dos profissionais que atendem PDP

Acerca dos artigos desta categoria, os 7 são de cunho qualitativo, baseados


em entrevistas feitas aos enfermeiros obstetras que atendem o PDP, e em um relato
de experiência. Ao todo foram 69 profissionais participantes, compreendidos na faixa
etária de 24 aos 56 anos, sendo que em 2 estudos esses dados da amostra não foram
compartilhados. O tempo de atuação no PDP foi de 11 meses a 33 anos de
experiência.

Alguns desses estudos falam das mulheres que escolheram o PDP na ótica
dos profissionais da assistência. Em Almeida (2020), as participantes são 9
enfermeiras, com a idade entre 26 e 51 anos e de 3 a 12 anos de experiência. Elas
denotam incômodo com a seletividade desse modelo de assistência, que define o
perfil das mulheres: a cor da pele branca e o poder aquisitivo maior, com maior acesso
à informação. De fato, a falta de articulação do parto domiciliar com sistema público
de saúde é um fator excludente e bastante definidor de quem poderá acessar o PDP.
Para contornar minimamente essa situação, alguns profissionais buscam facilitar o
acesso abrindo sua agenda para alguns atendimentos com valores sociais e
permutas. O pré-natal com a enfermagem ajuda a estabelecer o vínculo e pode ser
capaz de facilitar o entendimento com a família no momento das decisões
compartilhadas.

Na maioria dos artigos, o conflito com a classe médica aparece como um


dos maiores desafios enfrentados pelas enfermeiras obstétricas. Isso não apenas
enquanto “paradigma curativista” (Souza, 2020), mas aparentemente uma disputa de
mercado delineada pelos valores praticados. Sanfelice (2014) ressalta que o modelo
tecnocrático exclui a mulher e coloca o médico como sujeito do parto, “cabendo a ele
a autoridade e responsabilidade, a condução ativa do processo”. Diante disso, “as
situações nas quais o ambiente externo e o estado emocional da mulher atuam
dificultando ou facilitando o trabalho de parto e o parto”, são desconsideradas. A
autora relata ainda, que atuando nos hospitais, as enfermeiras obstetras se sujeitam
às rotinas que estão em desacordo com as evidências, além de frequentemente
presenciarem a violência obstétrica em suas várias formas (expressões de ironia,
procedimentos invasivos, condutas inadequadas, coerção).
No artigo de Bochnia (2019), as entrevistas revelaram 7 temas que deram
origem a 2 categorias. A primeira categoria foi uma autorreflexão, remetendo à
autonomia e à responsabilidade profissional, onde o enfermeiro se dá conta de que
não haverá a instituição à frente, diante das adversidades. Portanto, sua conduta deve
estar respaldada pelas evidências e melhores práticas, atualizando-se
periodicamente. Torna-se, segundo a autora, “imprescindível um elevado nível de
conhecimento técnico e científico” para atuar com rapidez, identificando precocemente
uma emergência e atuando com segurança e eficiência. Outro aspecto é a satisfação
profissional de atuar de acordo com a ciência, num modelo individualizado, centrado
na mulher, entre outros aspectos da atuação autônoma do enfermeiro no PDP. Na
segunda categoria, o enfermeiro está diante da parturiente e da família no domicílio,
e surgem aspectos próprios desse cuidado, como as longas consultas desde o
período pré-natal e a formação do vínculo, que aguça a sensibilidade para afinar os
envolvidos. Nos estudos de Almeida (2020) e Souza (2020) também é relatado esse
vínculo estabelecido entre a parturiente e o profissional.

As mulheres que optam pelo parto domiciliar rompem com o modelo de


assistência predominante. Da mesma forma a enfermeira obstetra que atende
o parto domiciliar rompe com o modelo de trabalho predominante. Ambos os
rompimentos são permeados por preconceitos, medos, questionamentos e
grandes desafios. (SANFELICE, 2014)

De acordo com Pascoto (2020), um outro conflito frequente é a dificuldade


de se firmar uma referência e contrarreferência em casos de transferência, essa visão
é corroborada por Almeida (2020). A mudança de paradigma no atendimento, pode
revelar preconceitos que permeiam o senso comum e acabam por extrapolar os limites
éticos, fazendo com que as mulheres se sintam constrangidas ao recorrer ao serviço
hospitalar. A assistência do PDP também frequentemente passa por ameaças e
retaliações. Contudo, não há evidências de que o parto hospitalar de risco habitual
seja mais seguro que o parto domiciliar. Em domicílio a assistência é um para um.
Duas enfermeiras no cuidado, uma atendendo à mulher e outra atenta ao bebê. Esse
olhar integral, pode ser percebido como acolhimento e segurança, pois garante os
princípios científicos ao tempo em que permite a liberdade, o respeito e a autonomia
feminina. Pascoto (2020) acrescenta pontos importantes, relativos à escassez de
informações sobre o PDP, que levam à culpabilização do PDP em desfechos
desfavoráveis e inevitáveis. Sobre as lacunas do processo de trabalho, há serviços
que não realizam exames laboratoriais próprios do pré-natal ou do puerpério por
profissionais não-médicos; assim como a ausência de locais que permitam a compra
de medicações básicas a serem levadas pelas EOs para o PDP. Apesar da Resolução
ANS nº 398/2016, a rede de saúde suplementar não aceita pedidos de exames feitos
por enfermeiros obstetras.

Segundo Almeida (2020), o que leva mulheres e casais a escolherem o


parto em casa, segundo o olhar das enfermeiras entrevistadas, é frequentemente o
medo das intervenções rotineiras. Os autores ainda afirmam que “O ponto de partida
para as mulheres optarem pelo parto domiciliar não é o desejo pelo local em si, mas
a rejeição às rotinas hospitalares.” Sobre essa afirmação, é importante ressaltar que
ela exprime uma opinião do autor. Porque as motivações das mulheres podem ser
muitas, são subjetivas e nem sempre passíveis de categorização, são
individualíssimas e devem ser ouvidas, pois, um revés pode mudar os planos. E assim
será possível trabalhar com essa mulher a adaptação e estratégias para suavizar a
“linha de produção” institucional, para melhor atender a mulher que desejou o parto
domiciliar que não se tornou possível. O plano de parto é um dispositivo útil nesse
sentido de visualização de cenários, e a sua utilização deve ser encorajada, de acordo
com a OMS (1996).

A experiência de 2 grupos de atendimento ao parto domiciliar é relatada


por Silva (2019), que expõe uma prática comum aos grupos: a utilização de
dispositivos legais como o contrato de prestação de serviço e o termo de
consentimento livre e esclarecido. Os registros de enfermagem também são
valorizados, para a segurança da mulher, do bebê e da equipe. Neste estudo, além
dos instrumentos de respaldo legal e do conhecimento científico, destaca-se a
menção aos materiais e tecnologias que dão segurança ao exercício da autonomia
das EOs.

Sobre o estudo de Mattos (2016), é abordada a temática do preconceito


cultural como algo marcante sobre a atuação das EOs. Segundo o autor, há uma
resistência da sociedade decorrente do processo cultural, onde a tecnologia é
valorizada. Sobre a atitude profissional, as observações são parecidas com as de
Pascoto (2020), no que diz respeito ao conflito entre categorias profissionais. Sobre a
falta de apoio logístico ao PDP, surge ainda a dificuldade de acesso à Declaração de
Nascido Vivo (DNV), em várias localidades. A resistência dos cartórios exigindo
garantias especiais para proceder o registro do recém-nascido está presente na fala
de muitos entrevistados. Em algumas localidades, as enfermeiras se cadastraram na
Secretaria de Saúde para ter acesso à DNV. Isso tudo permeia ainda, o aspecto do
preconceito cultural. A mudança de cultura é algo que leva tempo e direção. Como
estratégia, é possível a divulgação de estatísticas, benefícios e evidências. As redes
sociais poderão ser aliadas, de acordo com Souza (2020), “reforçando a construção
de um novo saber coletivo”. Uma assistência de qualidade é frequentemente
divulgada nas redes pelas mulheres satisfeitas com seus partos, que recomendam
essa prática às outras mulheres.

Abordagem teórica do PDP

Nessa categoria, a pesquisa retornou apenas um estudo, cujo objetivo é


discutir acerca dos métodos não-farmacológicos para o alívio da dor no parto
domiciliar. Esse estudo qualitativo, tipo análise reflexiva, não traz entre os métodos
elencados uma abordagem exclusiva do local de parto. São colocados o banho de
aspersão/imersão, a bola suíça, o método cavalinho, o “banquinho U” (banqueta de
parto), a musicoterapia, a aromaterapia, as massagens, a acupressão e a
deambulação, práticas que contribuem para a inibição dos estímulos dolorosos,
promovendo conforto no processo de parturição. A conclusão desse artigo é de que o
PD “surge com o propósito de trazer de volta a autonomia da mulher sobre o seu
corpo, protagonismo, resguardando seu direito a um parto respeitoso e práticas não
farmacológicas permitem à mulher vivenciar o parto de forma humanizada e
respeitosa.”. Ou seja, a importância desses recursos não-farmacológicos na
construção do cenário tem em vista dar força. Entretanto, vimos esclarecer que esses
métodos não são exclusivos do parto domiciliar, podendo ser utilizados nas
instituições que os liberem. Com simples adequações e ambiência, preservando a
intimidade da parturiente e reproduzindo um lugar sereno, seguro, familiar com a
presença do acompanhante de escolha da mulher, propício para a consecução do
trabalho de parto, resguardando seus direitos, a mulher se sentirá mais acolhida.
Inclusive, os métodos desse estudo são disponibilizados em muitas maternidades.
7 CONSIDERAÇÕES

Diante dos resultados obtidos, foi possível traçar um perfil de atuação das
enfermeiras obstetras nos partos domiciliares planejados referenciado na literatura.
Desta forma, foi atingido o objetivo geral de identificar os artigos acadêmicos que
abordam sobre o enfermeiro obstetra no PDP para analisar sua atuação. Em relação
aos objetivos específicos, artigos identificados na Biblioteca Virtual de Saúde
permitiram uma análise inicial da atuação do enfermeiro obstetra no parto domiciliar
planejado. O protocolo PRISMA se mostrou uma ferramenta adequada para efetuar
essa revisão sistemática de literatura. Foram descritos os principais assuntos
identificados nas referências, assim como os resultados devidamente discutidos no
que tange à atuação do enfermeiro obstetra no parto domiciliar planejado. Os
fragmentos da percepção dos atores também foram devidamente identificados.

Durante o desenvolvimento do trabalho, foram identificados artigos com


relatos de estudos, o que é pouco conteúdo para promover evidências. Contudo,
esses estudos corroboram com diversos outros internacionais, onde a população e a
amostra são mais expressivas. Não foi possível portanto, discutir as variáveis com
indicadores nacionais. Verificou-se que as amostras estudadas, descritas nos
trabalhos analisados, foram relativamente pequenas. Há necessidade de outras
investigações, para melhor compreensão desse cenário em termos quantitativos.

O total de artigos analisados foi 17, de autores 56 e o descritor mais


recorrente foi “Parto Domiciliar”.

Os critérios de seleção dos estudos atenderam ao propósito de identificar


textos que abordassem temas sobre o parto domiciliar, contudo alerta-se que ao se
optar por analisar as narrativas sobre uma assistência de qualidade, induz-se a bons
resultados. O que pode implicar num viés devido a forma de se abordar o tema. De
todo modo, esses estudos permitem uma maior visibilidade à atuação autônoma das
enfermeiras obstétricas e as reafirma como aliadas do processo de humanização do
parto.

O trabalho atingiu ao proposto, contudo, vale ressaltar algumas limitações


deste tipo de pesquisa. Uma revisão sistemática é uma fotografia do que foi publicado
e está disponível na base consultada. Portanto se este mesmo protocolo de revisão
for aplicado em uma data futura é provável que os resultados sejam diferentes.
8 REFERÊNCIAS

1. A importância do consentimento livre e esclarecido para a gestante. Site


CFM – Conselho Federal de Medicina. Disponível em
<https://portal.cfm.org.br/artigos/a-importancia-do-consentimento-livre-e-
esclarecido-para-a-gestante/>.

2. ALMEIDA, A. I. S.; ARAÚJO, C. L. F. Parir e nascer em casa: vivências de


enfermeiras obstétricas na assistência ao parto domiciliar planejado.
Enfermagem em Foco, v. 11, n. 6, 3 maio 2021.

3. AMORIM, M. M., DELGADO, A. & KATZ, L. Carta ao editor: É hora de


abandonar o uso da episiotomia? Um estudo randomizado controlado
(EPITRIAL). Int. Urogynecol J 31, 2451 (2020). https://doi.org/10.1007/s00192-
020-04421-2

4. ARAÚJO, A. DA S. C. et al. Métodos não farmacológicos no parto


domiciliar. Revista de Enfermagem UFPE on line, v. 12, n. 4, p. 1091, 4 abr.
2018.

5. ASCOM – COFEN. Hospital público mineiro comemora um ano de parto


domiciliar. Disponível em: <http://www.cofen.gov.br/hospital-publico-mineiro-
comemora-um-ano-de-parto-domiciliar_29578.html>. Acesso em 14/04/2023.

6. BAGGIO, M. A. et al. Parto domiciliar planejado assistido por enfermeira


obstétrica: significados, experiências e motivação para essa escolha.
Ciência, Cuidado e Saúde; 21: e57364, 2022.

7. BELTRAN, A. P., YE, J., MOLLER, A., et al. Tendências e projeções das
taxas de cesariana: estimativas globais e regionais. BMJ Global
Health 2021; 6: e005671.

8. BOCHNIA, E. R. et al. Atuação do enfermeiro obstetra no parto domiciliar


planejado. Ciência, Cuidado e Saúde, v. 18, n. 2, 24 jun. 2019.

9. BRASIL. Lei nº 7.498, de 25 de junho de 1986. Lei do Exercício Profissional


da Enfermagem.

10. BRASIL. Ministério da Saúde. Banco de dados do Sistema Único de Saúde


– DATASUS. Disponível em: https://svs.aids.gov.br/daent/centrais-de-
conteudos/paineis-de-monitoramento/natalidade/grupos-de-robson/. Acesso
em 14/04/2023.

11. BRASIL. Ministério da Saúde. Gabinete do Ministro. Portaria nº 11, de 7 de


janeiro de 2015.
12. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico
da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Documento base
para gestores e trabalhadores do SUS / Ministério da Saúde, Secretaria de
Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – 4.
ed. 4. reimp. – Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2010. 72 p.: il. color.
(Série B. Textos Básicos de Saúde).
13. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos. Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em
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