Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
o aluno – e o professor – se deixem vencer pelo cansaço e sigam em frente, para lado
nenhum.
2
negociada, tinha evitado reincidir, denegrindo gratuitamente a imagem de milhares e
milhares de professores que, à semelhança do que acontece com outras actividades, são
profissionais competentes, dedicados e merecedores de respeito.
Hoje sabemos, até pela desinibição dos responsáveis do ME, que a avaliação dos
professores há-de ter uns tantos efeitos mas, aquele que se deseja que tenha, será de
carácter económico-financeiro: travar tanto quanto possível e necessário a progressão
nas carreiras e, por essa via, poupar verbas significativas. Mas é com isto que o
Primeiro-Ministro não se conforma? Mas é por aqui que passa a defesa e a qualidade da
escola pública? Aqueles que se interessam pelo ensino, os que consideram a educação
como um dos pilares estruturantes da sociedade, cedo perceberam – desde logo com a
divisão da carreira e com o concurso para professores titulares – que não era a qualidade
nem a dignificação da profissão, muito menos a qualidade da escola pública, que
estavam em causa. A analogia com os militares e o exemplo com a sua mais alta
patente, o general, foi um argumento infeliz, de mau gosto, falacioso (não se deve
comparar o que não é comparável) e mais uma estratégia para denegrir a imagem da
classe. Teríamos agora, por comparação espúria, uma classe vertical com soldados-
professores, sargentos-professores, tenentes-professores e um ou outro general-
professor. Será que, mesmo sem gráfico, é difícil compreender que se começa professor
e que se termina na mesma função? E o que se exige a um professor no início, não é
substancialmente idêntico ao que se lhe exige no fim da carreira?
Hoje percebemos que os critérios estabelecidos para aceder à figura de professor
titular provocaram injustiças insuportáveis e insanáveis. Sabemos também que essas
injustiças são exponenciais, tendo efeito directo no processo de avaliação, com
disparidades de experiência, formação e graduação, inversamente repartidas por
avaliadores e avaliados.
Bem podem argumentar que uma das nossas práticas mais comum, é avaliar.
Concedemos. Contudo, professor e aluno têm estatutos diferentes. A autoridade do
professor quando avalia, seguindo os normativos ético-legais, sai reforçada e não será
afectada. Em contrapartida, uma avaliação por pares não deve ir além do carácter
formativo; qualquer outra avaliação requer formação adequada, de nível superior,
fundamentalmente em supervisão pedagógica. O que o Ministério está a
disponibilizar/sugerir/impor, com elevados gastos financeiros e o sacrifício de muitos
professores, graduados em avaliadores, salvaguardando uma ou outra situação em que
alguma qualidade pontua, são acções que não passam de uma cosmética intensiva e de
um arregimentar de consciências no sentido de eliminar resistências subjacentes a um
modelo que, só por teimosia, continua a delapidar recursos, tempo e a pouca
disponibilidade que existe para preparar as lições e dar atenção aos alunos.
Mas, a engrenagem comporta vícios de vária ordem que se atravessam neste
modelo. Imagine-se que a formação, disponibilizada para avaliadores e para avaliadores
por delegação de competência, se houver disposição para cumprir o CPA, e espaço no
DR para publicar tanto nome, o ME, as DRE’s e tutti quanti, até os próprios
avaliadores, ainda não se interrogaram sobre a questão de que sendo a avaliação
universal e sendo eles opositores às quotas estabelecidas, para dois dos níveis de
avaliação, pelo menos os avaliadores delegados, pelo facto de frequentarem acções de
formação, restritas, por selecção restrita, seja qual for a qualidade das mesmas, isso não
lhes dá vantagens no processo? Um outro vício assenta claramente no insustentável
facto que coloca o avaliador e o avaliado na mesma situação, com funções diferentes: O
avaliador concorre para as mesmas quotas do avaliado, sendo opositor e parte
interessada no resultado do acto e, nessa circunstância, não há garantia nem de isenção,
nem de imparcialidade. O artigo 44º do CPA (alíneas a. e d.) regula esta incidência. A
3
manter-se a indefinição sobre esta matéria, é óbvio que a pergunta é inevitável: não há
vergonha, não há moralidade, ou ambas?
Com este modelo as escolas vão entrar em estágio conflitual permanente e, à
semelhança das OPTE, os professores vão repartir as suas preocupações entre o
essencial: os seus alunos, e o acessório: a sua avaliação. Olhando o mundo à volta, até
para desmistificar algumas informações, superiormente veiculadas, é preciso deixar
claro que nenhum país da Europa tem algum modelo de avaliação que se aproxime
sequer do que este governo tem em vigor (experimental). Nem o temível modelo do
País de Gales! É preciso atravessar o Atlântico e, apenas na América Latina,
especificamente no Chile, para encontramos algo semelhante, com periodicidade de 4
anos, carácter formativo e apenas três menções avaliativas. Mas sobre este modelo, não
é tudo. A maior parte das escolas tem quatro super-coordenadores. Entre eles, como de
resto entre todo o corpo docente, existem quotas de excelente e muito bom. Por agora,
imagine-se apenas a mais que provável situação do avaliador receber menção de bom e
atribuir a de excelente, tudo no mesmo departamento e até, na sua área disciplinar. Toda
a gente imagina como vai ser o clima e como vai ser fácil e profícuo continuar a
trabalhar no departamento e, não sendo nada connosco, a auto-estima do contemplado
vai exercitar o sistema nervoso até à convulsão. Exagero? Talvez. O mesmo exercício
pode viajar para uma qualquer turma, e como a avaliação é pública (e punitiva!), os
vários intervenientes na comunidade educativa, por delicadeza, não retirarão daí
qualquer incidência; o clima das escolas, se o modelo avançar, tem todos os
ingredientes para propiciar algumas tempestades, sem que isso signifique qualquer
melhoria das condições que permitem ensinar e aprender, bem pelo contrário. Aliás os
estágios pedagógicos, com outra configuração, é certo, foram e são, à sua escala,
pequenos laboratórios sociológicos, de onde se podem recolher antevisões para o que se
avizinha. Olhando o processo, pelo que ele já permite vislumbrar, não admira que, sem
critérios plausíveis (cada escola faz o que entende), sem defesa (as reclamações valem o
que valem), sem formação adequada, sem bom-senso, tantas vezes sem vergonha, a
aquilatar pelo que se vai conhecendo, muitos professores, excelentes professores, diga-
se, não estão disponíveis para mais este exercício de humilhação, talvez programado
para os empurrar do sistema, e aqui, parafraseando José Gil (Visão, 2. Out. 2008), antes
que comece a interiorização da obediência (e, um dia, do amor á servidão), despedem-
se do que mais gostam, em nome do que mais prezam: a dignidade.
4
facilmente se depreende da avaliação externa das escolas, tutelada pela IGE, no
essencial, as lideranças democráticas das escolas mereceram avaliação de Bom ou
Muito Bom, não sendo de reportar qualquer circunstância que aconselhasse a alterações
do modelo revogado. Assim sendo, obviamente, pode perguntar-se: o que levou à
alteração do modelo? Ou ainda, porque razão o projecto inicial não previa sequer uma
maioria de professores no C. Geral, ou até -chegava-se ao ponto de considerar que o
PCG não deveria ser professor, de modo a evitar conflitos com o futuro director.
Esclarecedor? Antes de tecer considerações sobre as próprias questões levantadas, vale
a pena teorizar sobre a democracia e sobre as relações democracia-escola. A democracia
não é senão o poder do povo que o exerce através de eleições livres. Numa sociedade
democrática, a escola deve inscrever-se dentro dos pressupostos da democracia,
contribuindo para o respeito pelos direitos fundamentais do indivíduo. A escola é,
essencialmente, por isso o lugar privilegiado para o desenvolvimento das práticas
democráticas; mas, como, se, desde logo, a propósito das malfadadas lideranças fortes e
do pressuposto da necessidade de um responsável nominal, perante a tutela, se procede
a uma escolha por um órgão restrito, entre candidatos que se propõem? Várias são as
disciplinas e, dentro delas, diferentes conteúdos curriculares que apontam e apostam na
educação para a cidadania, nos direitos, liberdades e garantias, seja em cursos de
prosseguimento de estudos, profissionais, efas, cefs ou outros. Como compatibilizar
práticas desavindas? Como abdicar do direito de escolher o órgão executivo,
concedamos, eventualmente apenas o seu presidente, em troca de um director que,
apenas segundo o seu restrito critério escolhe os restantes órgãos intermédios, pelo
tempo e com as orientações que muito bem entender? Não será, por certo, o caminho
que melhor se coaduna com um exercício que se quer livre e representativo das
vontades em plebiscito regulado pelos valores democráticos. Muitas foram as escolas
que se recusaram a participar na formação do coveiro da democracia nas escolas, o
Conselho Geral Transitório. Outras haverão de descobrir, a seu tempo, que, pela sua
própria vontade, caucionaram o director e tudo aquilo que ele significa de retrocesso em
relação aos fundamentos democráticos e ao ensino, também através da prática, do seu
exercício. Os professores que recorreram à aposentação e a conseguiram, apesar de
penalizações várias, ao menos escaparam ao estigma do regresso a um passado de mais
de trinta e três anos, carregado de memórias em que a democracia era uma prática
perigosa e desavinda.
As escolas que têm por estes dias uma safra de colheitas sob suspeita e gente
empolgada com a solidão volátil do poder, que não passa de breve ilusão, deveriam ver
nos que partem, muitos por falta de condições, o desenho do seu futuro próximo em que
a tendência – e bem desejo que se não cumpra – será, cruzando os braços, ou dando-os
colaborantes, para piorar o espaço onde ainda (?) sonhamos e ajudamos a realizar
sonhos.
Mas o que é isso?