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PAISAGISMO E PAISAGEM

Sumário
NOSSA HISTÓRIA .................................................................................. 2

PAISAGISMO: CONCEITOS E APLICAÇÕES ........................................ 3

A NOÇÃO DE PAISAGEM - DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XX ......... 5

REPRESENTAÇÃO DA PAISAGEM ....................................................... 9

CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE PAISAGEM ................................... 9

CONCEITOS DE PAISAGEM ................................................................ 12

O CONCEITO DE PAISAGEM EM GEOGRAFIA .................................. 14

O CONCEITO DE PAISAGEM NA GEOGRAFIA BRASILEIRA ............ 17

PAISAGISMO COMO PRÁTICA SÓCIO-AMBIENTAL .......................... 20

CAOS, COSMOS, NATUREZA E A BUSCA DA CIDADE IDEAL .......... 22

VERTENTES DO PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO ......................... 25

PAISAGISMO COM ÊNFASE NA ARQUITETURA DA PAISAGEM ..... 26

PAISAGISMO COM ÊNFASE NA PERCEPÇÃO .................................. 29

PAISAGISMO AMBIENTAL ................................................................... 31

A TEMÁTICA AMBIENTAL NO URBANISMO MODERNO ................... 31

A TEMÁTICA AMBIENTAL NO PAISAGISMO MODERNO................... 34

IDEOLOGIA, VISÃO DE MUNDO E PRÁTICAS SOCIOAMBIENTAIS NO


PAISAGISMO ................................................................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................... 43

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NOSSA HISTÓRIA

A nossa história inicia com a realização do sonho de um grupo de


empresários, em atender à crescente demanda de alunos para cursos de
Graduação e Pós-Graduação. Com isso foi criado a nossa instituição, como
entidade oferecendo serviços educacionais em nível superior.

A instituição tem por objetivo formar diplomados nas diferentes áreas de


conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a
participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, e colaborar na sua
formação contínua. Além de promover a divulgação de conhecimentos culturais,
científicos e técnicos que constituem patrimônio da humanidade e comunicar o
saber através do ensino, de publicação ou outras normas de comunicação.

A nossa missão é oferecer qualidade em conhecimento e cultura de forma


confiável e eficiente para que o aluno tenha oportunidade de construir uma base
profissional e ética. Dessa forma, conquistando o espaço de uma das instituições
modelo no país na oferta de cursos, primando sempre pela inovação tecnológica,
excelência no atendimento e valor do serviço oferecido.

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PAISAGISMO: CONCEITOS E APLICAÇÕES
Como atividade profissional no Brasil, ainda não existe a profissão
regulamentada do paisagista como existe na França.

Mas o profissional francês (architecte paysagiste) não tem poder em


relação à paisagem, esse deve compreender como os usuários a percebem (ex.:
a malha do Bocage normando desestruturado pela destruição das sebes).

Em nosso país, todas as outras profissões podem aportar algum sentido


nessa leitura, visto ser primordial a função do geógrafo, de resgatar a noção do
espaço e do trabalho na escala do território.

A paisagem será sempre um grande coração de mãe, ao ter


continuamente espaço para mais um olhar.

Se resgatarmos a teoria de Tuan, em obra traduzida para o português em


1980, o qual designou esse apego e essa percepção de topofilia.

Por que não retomar com afinco essa análise apaixonante do espaço?

Consideradas atividades promissoras do século XXI, o paisagismo e o


estudo da paisagem exigem, fundamentalmente, o trabalho em equipes
multi/interdisciplinares com a percepção de todo o sistema (transversalidade).

Para Franco (1997, p. 220), qualquer projeto de intervenção no espaço


(urbanístico ou territorial) não prescinde do desenho ambiental como
instrumento de detecção da qualidade e encaixe do projeto ao locus,
sem que, todavia, as preocupações estético-funcionais, herdadas do
paisagismo, sejam eliminadas.

A teoria francesa, mais culturalista, é retomada por France (1994) no


Método de Atlas de paisagens ao dizer que a paisagem, pertence desde sua
origem a um domínio simbólico, estético e fenomenológico, marcado pela
subjetividade, enquanto que a ecologia é do domínio científico e objetivo, em que
os especialistas elaboram métodos de avaliações e de medida dos fenômenos,
como a evolução de uma população de fauna ou da flora, a poluição das águas,
etc.

Entretanto, as noções existem, pois, os processos ecológicos intervêm na


evolução das paisagens e essas permitem ler ou revelar esses processos. Com

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ideias inovadoras como essas, que integram a ecologia à paisagem, percebe-se
o enorme potencial que se tem ao cruzar conhecimentos de domínios diferentes.

Sobretudo, torna-se premente pensar o planejamento e o manejo dos


ecossistemas sob a égide do desenvolvimento sustentável, como única forma de
garantir a sobrevivência da vida na terra. Nos apêndices, inserimos dois
instrumentos usados para análise da paisagem, retirada do corpo administrativo
teórico francês.

O primeiro apresenta os principais critérios de julgamento do valor de uma


paisagem (atitudes e percepções da paisagem).

A noção de paisagem está presente na memória do ser humano antes


mesmo da elaboração do conceito. A ideia embrionária já existia, baseada na
observação do meio.

As expressões desta memória e da observação podem ser encontradas


nas artes e nas ciências das diversas culturas, que retratavam inicialmente
elementos particulares como animais selvagens, um conjunto de montanhas ou
um rio.

As pinturas rupestres são uma referência para esta percepção


direcionada a alguns componentes do ambiente. JELLYCOE y JELLYCOE
(1995), mencionam as pinturas rupestres da França (Lascaux) e norte da
Espanha, como as primeiras concepções conscientes do ser humano, a respeito
de paisagem.

As pinturas datam de período entre 30 mil e 10 mil anos a.C., e são os


registros mais antigos que se conhece da observação humana sobre a
paisagem. Mais tarde, em cada época, a compreensão deste tema foi
influenciada pela filosofia, busca da estética, política, religião, ciência, dentre
outros aspectos. Além destes fatores, é bem provável que as características
naturais, dominantes em cada paisagem, tenham estimulado, ou desencorajado,
a relação dos diferentes grupos humanos sobre a face da terra com o seu
entorno. Assim, sociedades como a oriental e a ocidental, bastante distintas em
termos geográficos e culturais, desenvolveram suas noções de paisagem sobre
fundamentos também diferentes.

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As diversas disciplinas científicas e mesmo o senso comum têm uma
explicação própria do que seja paisagem. Há variações do conceito, conforme a
disciplina que o elabora, mas também há parâmetros mais ou menos comuns
mantidos nas definições.

A NOÇÃO DE PAISAGEM - DA ANTIGUIDADE AO SÉCULO XX


No Egito, a IV dinastia egípcia (2500 a.C) organizava jardins ornados com
partes com água e varandas, que, em conjunto com pavilhões e celeiros,
formavam um complexo residencial rodeado por muros. Mais tarde, em 1500
a.C. aproximadamente, Tebas era um centro urbano rodeado por extensa área
verde (LEITE, 1994).

A relação dos povos da Mesopotâmia com a paisagem se evidencia, por


exemplo, no aproveitamento do regime de cheias dos rios, na observação do céu
e estrelas, na construção de jardins ou na elaboração de leis e conhecimento
agrícola.

Os jardins, em geral, eram como oásis trazidos para dentro das cidades
fortificadas. Os muros protegiam contra as ameaças externas que tanto podiam
vir de outros povos, como de forças naturais, ainda desconhecidas.

Portanto, percebe-se que a visão da paisagem original era de uma certa


precaução, delimitada pelo conhecimento da realidade circundante. Ainda hoje
o conhecimento da realidade define como se vê a paisagem, embora haja
valores diferentes, como o econômico, o estético e o religioso.

Na Antiguidade o aproveitamento de elementos na construção de


paisagem era seletivo, sendo os mesmos trazidos para o espaço onde havia
mais segurança física.

Atualmente a seleção e interesse em elementos da paisagem segue


tendência e valores econômicos, que representam a segurança moderna.

A organização de parques de caça assírios e a construção de pequenos


oásis com sombra, flores e água, são emblemas da concepção de paisagem há

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milhares de anos na região dos rios Tigre e Eufrates e foram percebidas mais
tarde nos jardins de influência moura em Granada, Córdoba e Toledo, na
Espanha. Unindo utilitarismo e estética ao reorganizar a paisagem, eram
escolhidos os elementos benéficos de um ambiente silvestre considerado hostil
na maioria das vezes (ROUGERIE e BEROUTCHATCHVILI, 1991).

Roma criou seus parques públicos com construções arquitetônicas postas


em maior evidência do que a vegetação ou animais, já que predominavam as
pérgolas, colunas, pórticos, grutas e santuários.

Esta característica marcou os jardins ocidentais até a Idade Média dos


feudos, onde jardins, hortas, pomares, áreas para fins medicinais, meditação ou
lazer eram destituídos do ambiente natural, quando constituídos nas cidadelas
de defesa.

Ao fim da Idade Média, já se abriam mais para o mundo exterior. Na


Antiguidade Ocidental a natureza selvagem não importava à arte, que
representava cenas sempre antropomórficas.

Aparentemente o ser humano e a natureza estavam sempre em oposição.


Diferentemente, as artes chinesa e japonesa foram marcadas por um
cosmocentrismo, com um certo senso da natureza como sistema vivo, do qual o
ser humano fazia parte (ROUGERIE e BEROUTCHATCHVILI, 1991).

Sobre a China, JELLYCOE y JELLYCOE (1995), consideram que a


generosidade da natureza, cujos bosques primitivos eram frondosos,
com inúmeras espécies e flores silvestres, além do solo fértil,
favoreceram uma percepção amena sobre a paisagem. Tal
entendimento entre pessoas e a paisagem, teria fundamentado, em
parte, o pensamento e filosofia chineses, que atribuíam um espírito à
natureza e a seus elementos. No extremo oriente, a construção do
conceito e da própria paisagem são vistos nos parques, tanques
artificiais e até viveiros de pássaros encontrados em alguns palácios
reais cerca de três séculos antes de Cristo.

Durante a dinastia I’ang, o paisagista Wang Wei, descreve o jardim como


uma miniatura do Universo, com elementos chave que são os montes e a água.
Esta forma de paisagem também aparece nos jardins japoneses, que
acompanham as residências.

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São concebidos para proporcionarem contato com a natureza, paz e
conforto espiritual. Aqui, também a natureza é trazida para um espaço seguro.

Além da religião, os jardins do Extremo Oriente foram, tradicionalmente,


bastante influenciados pelos pintores e poetas, revelando, com frequência, uma
associação da subjetividade com implicações emocionais da paisagem. E tanto
na França quanto na Inglaterra, a arte dos jardins e a concepção de paisagem
também têm suas raízes na pintura e na poesia.

Como no Extremo Oriente, possuem o vínculo do sentido subjetivo e


emocional do termo paisagem. Em praticamente todas as civilizações o conceito
mais elaborado de paisagem tanto nas artes como na aplicação em jardins, foi,
até quase o século XX, um assunto para poucos.

Na Europa, a noção coletiva de paisagem foi formada sob influência do


aumento e rapidez da circulação das pessoas, a instituição de colônias, a
imprensa e a fotografia, dentre outros.

No Ocidente, o primeiro termo para designar paisagem foi a palavra alemã


landschaft. Este termo existe desde a Idade Média, para designar uma região de
dimensões médias, em cujo território desenvolviam-se pequenas unidades de
ocupação humana.

Com o “século das luzes”, o termo assimilou também um senso


semântico, com a noção de quadro, arte e/ou natureza.

Na França, a partir da Renascença, falou-se de paysage com um sentido


próximo do original landschaft, que considera os arredores, com uma conotação
espacial delimitada e delimitante.

Na mesma época, metade do século XVI, também surgiu a associação do


termo paysage à estética, aliando aspectos naturais e representação artística da
paisagem.

Os jardins franceses da Idade Média expressavam uma nova concepção


de ordem, com marcas de unidade e grandeza, simetria e uma organização em
torno de um eixo principal.

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Do centro para o exterior, ficavam as naturezas civilizada, rústica e
selvagem. Assim eram os jardins “à francesa” (ROUGERIE e
BEROUTCHATCHVILI, 1991).

No século XVII, na perspectiva britânica de Young (apud ROUGERIE e


BEROUTCHACHVILI, 1991), a paisagem francesa era aberta, sem limitações
(muros), sem reunir os elementos de uma paisagem, enquanto as paisagens
inglesas campestres, eram delimitadas por muros e encerravam uma variedade
de componentes paisagísticos.

Esta ótica seria o primeiro passo ao futuro planejamento da paisagem -


landscape planning. Na metade do século XIX, Rosenkranz já indicava a visão
sistemática moderna: “landschaften são sistemas locais de fatores de todos os
reinos, integrados de estágio em estágio”. (apud ROUGERIE e
BEROUTCHATCHVILI, 1991, p. 14 ).

Na Europa, a intervenção humana para organizar a natureza era


conhecida como “arte dos jardins”, até aproximadamente o século XIX.

Esta atividade consistia principalmente em uma representação gráfica da


paisagem, posteriormente identificada como “paisagismo”, que significava uma
“certa visão paisagística do ambiente humano” (ROUGERIE e
BEROUTCHATCHVILI, 1991, p. 21), portanto, uma noção mais ampla do que
“jardim”.

A concepção ocidental de paisagem foi formulada na Europa, mas


também teve influências recebidas das experiências que povos do Mediterrâneo,
Oriente Médio e Extremo Oriente tiveram com seu próprio ambiente.

No Brasil do século XXI, o entendimento sobre paisagem é resultado das


relações históricas do Velho e Novo Mundo que compartilham raízes comuns de
História, cosmovisão e cultura.

As escolas francesa e alemã de Geografia influenciaram diretamente a


concepção de paisagem entre os geógrafos brasileiros.

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REPRESENTAÇÃO DA PAISAGEM
Dois fatos marcaram o início da observação e representação consciente
da paisagem a partir do concreto no mundo ocidental: escritos de Montaigne,
relatando sua viagem à Itália no século XVII, e aquarelas do holandês Albrecht
Dürer, produzidas em sua viagem aos Alpes austro-italianos, de 1495 a 1505.

Há importância nestes acontecimentos porque ocorreram em uma


sociedade ocidental até então culturalmente afastada da natureza.

O registro da paisagem ocorreu primeiro na pintura, sob o olhar mais


atento e minucioso de pintores tanto ocidentais como orientais.

No século XV, em pinturas de Fra Angelico, de Toscana, Jérôme Bosch,


da Holanda, e, ainda antes, nas aquarelas de Dürer, depois nos esboços de Da
Vinci, a paisagem daria lugar às figurações simbólicas, alegóricas, ou às
paisagens decorativas, apenas servindo de pano de fundo ao tema cultural
antropomórfico.

CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE PAISAGEM


Na Alemanha do século XVIII, Humboldt fez referência à paisagem
demonstrando seu interesse pela fisionomia e aspecto da vegetação, pelo clima,
sua influência sobre os seres e o aspecto geral da paisagem, variável conforme
a natureza do solo e sua cobertura vegetal (ROUGERIE e
BEROUTCHATCHVILI, 1991).

Em suas análises, Humboldt partiu da observação da vegetação para


caracterizar um espaço e das diferenças paisagísticas da vegetação para aplicar
o método ao mesmo tempo explicativo e comparativo.

Em fins do século XIX, Ratzel influenciou o conhecimento das paisagens,


com sua linha de pensamento sobre as relações causais existentes na natureza.

Na virada do século, suas ideias foram assimiladas pela


Landschaftskunde, uma ciência das paisagens, considerada sob ótica territorial,
ou seja, uma expressão espacial das estruturas da natureza, organizadas por
leis cientificamente observáveis.

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Aproximadamente nesta época, Dokoutchaev, na Rússia, definiu o
“Complexo Natural Territorial” (CNT), que era também uma forma de
identificar as estruturas da natureza.

A partir destas abordagens, surgiram outras variações, particularmente na


Alemanha e países do Leste Europeu.

A linha que mais conservou a vegetação como parâmetro de análise da


paisagem, conforme a ótica de Humboldt e Grisebach, resultou mais tarde nas
concepções da Ecologia da Paisagem e Geo-Ecologia, de Carl Troll.

Na metade do século XIX, estudos de vegetação para análise da


paisagem trabalhavam com tipologias de unidades de vegetação e eram
retomadas em uma tipologia maior de unidades paisagísticas.

Em níveis diferentes, as unidades paisagísticas foram assimilando


progressivamente componentes físicos até sociais.

Na ótica soviética, a análise da paisagem prendeu-se mais ao sistema


físico do que à vegetação, e reuniu os conceitos da landschaft alemã e do CNT
de Dokoutchaev.

A partir dos anos 30 até os anos 60 do século XX, as pesquisas sobre


paisagem como sistema físico-químico vinham da URSS, de publicações de A.A.
Grigoriev, L.S. Berg, V.B. Sotchava, N.A. Solncev e A.G. Isachenko. Dentre
outros, J. P. Gerasimov e J. A. Mescherikov desenvolveram uma taxonomia do
relevo terrestre, entre as décadas de 40 e 70 (ROSS, 1990). Neste processo, foi
elaborado o conceito de “geossistema”.

A ênfase da geografia corológica e determinista despertou uma nova ótica


entre alguns pesquisadores.

O Schlüter, no início do século XX, lançou o termo


naturlandschaftkulturlandschaft, propondo que a descrição fisionômica
associasse elementos tanto da natureza quanto elementos da cultura, que, em
sua totalidade corresponderiam à paisagem.

Em 1942, Schmitüssen escreveu que a Geografia deveria considerar e


estudar o fenômeno da paisagem como um todo.

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Para C. Sauer, autor do artigo “A morfologia da paisagem”, que em
1925 marcou a Escola de Berkeley, nos Estados Unidos, a paisagem
é como um organismo complexo, resultado da associação de formas
que podem ser analisadas.

Constitui-se de elementos materiais e de recursos naturais disponíveis em


um lugar, combinados às obras humanas resultantes do uso que aquele grupo
cultural fez da terra. Não se trata apenas de adição de elementos, mas de uma
interdependência, sujeita também à ação do tempo.

Em suas palavras, a paisagem “tem uma forma, uma estrutura, um


funcionamento e uma posição dentro de um sistema, e este sistema está sujeito
a desenvolvimento, transformação, aperfeiçoamento.”

Ciências e escolas da paisagem foram presença constante no


pensamento geográfico desde o início do século XX na Alemanha, Leste
Europeu e América do Norte, exceto na França.

Contudo, não se chegou a construir um corpo conceitual em torno do tema


paisagem.

Segundo ROUGERIE e BEROUTCHATCHVILI (1991), desde a


metade do século XIX, aproximadamente, geógrafos franceses,
pesquisadores de campo ou professores como V. Guérin e Paul Vidal
de La Blache, desenvolveram análises que permitiram a elaboração de
conhecimento sobre paisagens.

Na França, o termo paisagem foi substituído por “região” e “gênero de


vida”, que são mais ligados à história do que aos elementos naturais. Entre os
geógrafos franceses, as referências à paisagem seriam mais alusivas do que
fundamentais.

Até a década de 60, a paisagem em si não chegava a ser alvo de pesquisa


na França. Na Alemanha, a paisagem era enfocada pela corrente naturalista,
bem como o era o geossistema na URSS e Leste Europeu.

Fica evidente a dificuldade de aplicar conceitos de paisagem à prática ou


à uma finalidade concreta, com tal amplitude de concepções. Por esta razão, o
Congresso da União Geográfica Internacional – UGI, em Amsterdã, em 1938,
reconheceu a necessidade de uma definição clara do que fosse paisagem, para

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tratar do conflito de abordagens objetiva e subjetiva (ROUGERIE e
BEROUTCHATCHVILI, 1991).

Embora Humboldt já tivesse definido a paisagem como a totalidade de


uma região, Carl Troll, biogeógrafo alemão, forjou o termo ecologia da paisagem,
no final dos anos 30.

Sua expectativa era de combinar a dimensão espacial, horizontal, da


abordagem geográfica, com a dimensão funcional, vertical, da abordagem
ecológica.

Como conceito e como método de pesquisa, a ecologia da paisagem


continua sendo desenvolvida, envolvendo conhecimentos diversos, dos campos
da ecologia, geografia, botânica, zoologia, comportamento animal, arquitetura e
sociologia, dentre outros (FARINA, 1998).

CONCEITOS DE PAISAGEM
Os significados do termo paisagem se diversificam a cada definição de
dicionário e tornam-se mais complexos, conforme os usuários.

Editora UFPR 87 1971, a Organização para Educação, Ciência e Cultura


das Nações Unidas – Unesco, declarou considerar que a paisagem é
simplesmente a “estrutura do ecossistema”, e o Conselho Europeu, diz que “o
meio natural, moldado pelos fatores sociais e econômicos, torna-se paisagem,
sob o olhar humano”.

Já a paysage francesa refere-se principalmente aos aspectos visuais. O


termo holandês, com o mesmo sentido é visueel landschap.

Para os alemães, landschaft envolve a noção de território, semelhante ao


landscape inglês. Ambos também referem-se ao aspecto visual.

A geografia soviética tem seus próprios termos: mesnost e ourotchitche,


que possuem valor territorial, ao qual os russos acrescentam landschaft,
emprestado dos alemães (ROUGERIE e BEROUTCHATCHVILI, 1991). Além
disso, as diversas ciências também desenvolveram noções mais ou menos
específicas ao seu campo de estudo, quando se referem a paisagem.

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LEMOS (1989), em sua dissertação de Mestrado sobre uso e manejo
de cambissolos, considera a paisagem como o resultado da interação
entre os fatores de formação do solo, e que, portanto, deve ser
considerada a posição do solo na paisagem.

Da mesma maneira, PASSOS (1987) em sua dissertação de Mestrado


em Agronomia, utiliza o conceito de paisagem de Norton e Smith como
sendo a expressão da relação entre vertentes e propriedades dos
solos, onde ocorre uma relação inversa entre os ângulos de inclinação
das vertentes e a espessura do horizonte A dos solos.

O conjunto destas variações formaria uma paisagem. Em trabalho


apresentado em Congresso sobre Unidades de Conservação, LIMA et
al (1989), citam Turner, para quem a paisagem pode ser identificada
como um conjunto de formas e habitats ligados por corredores naturais.

O arquiteto KOTLER (1976, p.18), em artigo sobre paisagem, faz


referência a definições de outros campos de trabalho: Para o sociólogo
ou o economista, a paisagem é a base do meio físico, onde o homem
em coletividade a utiliza, ou não, e a transforma segundo diferentes
critérios.

Para o botânico ou ecólogo, a paisagem significa, antes de mais nada, um


conjunto de organismos num meio físico, cujas propriedades podem ser
explicadas segundo leis ou modelos, com ajuda das ciências físicas e ou
biológicas.

BURLE MARX (1981), paisagista, considera o papel das plantas


importante como expressão de paisagem.

O uso do termo plantas, e não vegetação, indica que sua escala de


trabalho é de detalhe. Não ignora que há relações entre plantas e destas com o
meio, revelando, assim, que seu conceito de paisagem pressupõe aspectos
ecológicos, biogeográficos e culturais, além das qualidades estéticas e
funcionais consideradas pela arquitetura.

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O CONCEITO DE PAISAGEM EM GEOGRAFIA
Entre os geógrafos há um consenso de que a paisagem, embora tenha
sido estudada sob ênfases diferenciadas, resulta da relação dinâmica de
elementos físicos, biológicos e antrópicos. E que ela não é apenas um fato
natural, mas inclui a existência humana. Tanto a escola alemã, como a francesa,
que influenciaram a geografia brasileira, dão ênfase a aspectos diferentes da
paisagem.

A geografia alemã tem herança naturalista, desde Humboldt; a francesa


desenvolveu observações quanto à região, formada pelas culturas e sociedades
em cada espaço natural.

SAUER (1998) considera que região e área são, em certo sentido,


termos equivalentes a paisagem. Esta, seria um conceito de unidade
da geografia, ou, uma associação de formas diversas, tanto físicas
como culturais.

O conteúdo cultural da paisagem, para este autor, é a marca da existência


humana em uma área.

Em outras palavras, a cultura seria o elemento que, agindo sobre o meio


natural, resulta na paisagem cultural.

Em 1946, Dansereau, geógrafo francocanadense, ministrou curso de


Biogeografia na Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, atual
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, e posteriormente, publicou
Introdução à biogeografia, em 1949.

Neste trabalho são apresentados vários níveis possíveis nos estudos


biogeográficos, variando de acordo com o tempo, espaço, objetivos e método de
abordagem do mesmo.

O primeiro nível seria o paleontológico, passando pelo bioclimatológico,


autoecológico, sinecológico, chegando ao último: o industrial, onde são
consideradas as intervenções humanas.

Para cada um é apresentado um objetivo, método, material a ser estudado


e conclusões.

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No nível industrial, Dansereau considera como objeto da pesquisa a
influência exercida pelo homem sobre a natureza, comunidades
vegetais e animais. O material a ser estudado é a paisagem.

O método de estudo é a documentação histórica. Assim, há, em primeiro


lugar, uma noção de paisagem natural, que existe sem o ser humano, mas que
passa a ser alterada por ele.

Por outro lado, DANSEREAU (1949) só utiliza o termo paisagem a


partir do momento em que a atividade humana passa a ser
considerada. De qualquer maneira, para entender a influência do ser
humano sobre flora e fauna, o autor propõe estudar a paisagem por
meio de ciências como a agricultura, silvicultura, geografia humana,
sociologia e história.

As conclusões de cada ciência indicariam a natureza, importância e


duração das alterações provocadas pelo ser humano na paisagem.

BERTRAND (1972, p. 1), geógrafo francês, considerou que paisagem


seria “um termo pouco usado e impreciso” e, por isso mesmo, utilizado
às vezes sem critério.

Para este autor, não seria a simples junção de elementos geográficos que
resultaria em uma paisagem, mas a combinação dinâmica, instável, dos
elementos físicos, biológicos e antrópicos, porque a paisagem não é apenas
natural, mas é total, com todas as implicações da participação humana.

Para este autor, as diferenças de abordagem podem ser questão de


método, envolvendo a análise e classificação das paisagens.

Dependendo ainda do interesse, formação e objetivos do observador, a


análise poderá enfatizar a vegetação, clima, relevo, produção econômica,
arquitetura, história ou fauna. Quanto ao método, a análise poderá privilegiar a
fisionomia, a dinâmica, as relações internas, a ecologia, ou, ainda, um conjunto
delas.

A escala utilizada permitirá detalhes ou imporá limites, tanto para análise


quanto para mapeamento. Embora a participação humana na paisagem seja
admitida praticamente como consenso, paisagens têm sido estudadas sob
ênfases diferenciadas, onde nem sempre as sociedades humanas são
consideradas no mesmo nível que outras variáveis.

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As próprias escolas alemã e francesa, que tanto influenciaram a geografia
brasileira, são enfáticas em aspectos diferentes.

A geografia alemã tem ênfase naturalista, herdada de Humboldt e a


francesa enfoca a região, incluindo culturas e sociedades em cada espaço
natural. Os geógrafos ingleses desenvolveram uma concepção pragmática de
paisagem com a ideia de mosaico, cuja formação se dá pela repetição similar de
ecossistemas locais ou usos da terra.

Ou seja, um conjunto integrado e repetido de elementos espaciais,


caracteriza uma paisagem. Desta forma, pode-se descer à escala de detalhe que
desejar, identificando padrões de similaridade da organização do espaço em
escalas menores ou maiores (FORMAN, 1995).

A necessidade de operacionalizar o conceito de paisagem com fins de


gestão territorial levou os geógrafos russos a desenvolverem o conceito de
geossistema.

Para SOTCHAVA (1978), o geossistema consiste em classes


hierarquizadas do meio natural. Possui três escalas de grandeza:
planetária, regional e topológica.

A sua identificação parte de dois princípios: de homogeneidade e de


diferenciação. Os geossistemas com estrutura homogênea são geômeros e os
de estrutura diferenciada são os geócoros.

A perspectiva sistêmica permite a identificação da diversidade de


interações dos níveis internos de uma paisagem, sua funcionalidade, seu estado
e suas relações com o meio.

Embora o conceito de paisagem esteja bastante assimilado pela


geografia, a construção da ideia não está de todo acabada. Alguns aspectos são
comuns à maioria dos conceitos, mas ainda há dúvidas e discussões.

Um dos pontos comuns é a afirmação de que a existência humana deve


ser incluída no conceito de paisagem. Mas a frequência com que é repetida
parece evidenciar a luta da geografia em não fragmentar estudos de paisagem
em ciências específicas, que excluem de suas pesquisas a dimensão social,
econômica e cultural, assim como as relações horizontais entre elementos.

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Outro aspecto sólido na concepção geográfica de paisagem diz respeito
ao aspecto visual, como cenário, ou resultado, dos eventos naturais e sociais.
São as fisionomia e morfologia, de interesse da geografia e que ocupam
determinado espaço.

Esta é uma característica que dá à paisagem, como objeto geográfico, a


possibilidade de ser cartografada.

A questão da escala também é importante na pesquisa geográfica de


paisagem, pois permite a hierarquização de classes de paisagem. Por exemplo,
a vegetação, que pode ser abordada nas escalas planetária, regional e/ou local.
Por fim, a noção de taxonomia, presente na concepção de paisagem geográfica,
permite identificar as unidades de paisagem, em escalas maiores ou menores,
conforme cada caso, e classificá-las de acordo com os parâmetros adotados.

Portanto, embora haja diversidade de enfoques sobre a paisagem em


geografia, os elementos comuns permitem definir um método geográfico para o
seu estudo. Alguns trabalhos terão na vegetação o seu tema central, e assim, as
classificações serão conforme esta variável, embora sejam considerados,
naturalmente, os outros elementos presentes.

Em outros casos, o parâmetro taxonômico será a morfologia do terreno,


relevo, clima, cultura ou outro qualquer, porém levando sempre em conta os
princípios do método.

O CONCEITO DE PAISAGEM NA GEOGRAFIA BRASILEIRA


A construção do conceito de paisagem na geografia brasileira foi
influenciada pela escola francesa, inspirada especialmente nos trabalhos de
Tricart.

Só mais recentemente, com as técnicas de geoprocessamento, é que a


influência anglo-saxônica se faz presente no conceito de paisagem como
produto de estudos integrados, e em parte, na metodologia para o zoneamento
ecológico-econômico - ZEE.

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Durante muitos anos foi utilizada uma compartimentação do relevo
brasileiro, elaborada pelo geógrafo e professor Aroldo de Azevedo, em 1940
(apud ROSS, 1985).

Ab’Saber, em 1969, propôs os Domínios Morfoclimáticos Brasileiros,


considerando a “relação cobertura vegetal, tipo de clima e modelado
predominante do relevo” (apud ROSS, 1985, p. 27)

Em 1985, ROSS, geógrafo, professor da Universidade de São Paulo -


USP, propõe uma nova classificação do relevo brasileiro, dividida em Unidades
de Planaltos, de Planícies e Depressões, formando no total, vinte e oito macro
unidades geomorfológicas, consideradas quanto à estrutura e morfoescultura.
Outros de seus trabalhos abordaram a vulnerabilidade do relevo, e foram
produzidos a partir do cruzamento de informações geomorfológicas e
pedológicas, aplicados em unidades ambientais definidas pelo padrão
morfológico observado previamente por meio de sensores.

Na construção teórica, Ross baseia-se no conceito de estrato


geográfico da terra elaborado pelo russo Grigoriev (apud ROSS, 1990,
p. 10), que seria o conjunto de componentes do ambiente natural -
“crosta terrestre e marinha, a hidrosfera, solos, cobertura vegetal, o
reino animal e a baixa atmosfera”. Neste ambiente dinâmico, sistêmico,
com trocas de energia e matéria, é que se desenvolve o ser humano
como ser social.

As possibilidades infinitas de combinações e arranjos dos componentes


do ambiente natural formam a diversidade de paisagens identificadas como
Unidades de Paisagens Naturais.

Como geomorfólogo, ROSS (1990) naturalmente enfatiza o uso de sua


especialidade na classificação e estudo de paisagens.

Entretanto, a presença humana não é excluída de seu conceito, mas


considerada como ações antrópicas, identificadas pelo uso do solo e
frequentemente responsáveis pela fragilização de ambientes.

DANTAS e COELHO NETTO (1995), professores da Universidade


Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, pesquisaram a influência do ciclo cafeeiro

18
sobre a evolução da paisagem geomorfológica do médio vale do Paraíba do Sul,
sob um enfoque geohidroecológico.

O termo é definido pelos autores como o “estudo integrado do meio


geobiofísico (relevo-rocha-solovegetação-fauna-uso), que regula a distribuição
das águas pluviais no domínio das encostas e, consequentemente, a dinâmica
dos processos geomorfológicos (intemperismo, erosão e deposição), em
diferentes escalas espaço-temporais” (DANTAS e COELHO NETTO, 1995, p.
66).

Consultas a anais de encontros e congressos de geografia e temas


ambientais brasileiros, evidenciam a pequena proporção de estudos sobre
paisagem ou sua classificação.

Em geral, paisagem aparece como variação de termos como: meio


ambiente, ambiente natural, unidade espacial, visual.

Seus contornos podem ser definidos a partir de feições do uso do solo,


tendo como produtos paisagem urbana, paisagem rural, degradada ou natural,
ou podem ser unidades territoriais e/ou espaciais, como municípios, parques e
bacias hidrográficas.

São comuns pesquisas sobre um componente da paisagem, vindo depois


a consideração dos efeitos de outras variáveis, como a ação humana, sobre o
elemento principal ou sobre o todo.

A dimensão humana, em geral, é representada por um empreendimento


ou evento pontual que afete diretamente o meio natural. Daí, fica a impressão de
que a integração dos aspectos socioeconômico e cultural nos trabalhos sobre
paisagem, e não só a soma de aspectos, conforme enunciado nos conceitos
teóricos, é de difícil aplicação na prática.

CASTILLO (2002) adverte sobre o engano de uma redução da


geografia a análises de produtos de sensores remotos e consequente
confusão entre paisagem e espaço geográfico. Para o autor, paisagem
é a “materialidade congelada e parcial do espaço geográfico”; sendo
sua manifestação.

CASTILLO (2002) menciona que Fel, em 1978, considerou a paisagem


como ponto de partida para análise de compartimentos - políticos,

19
econômicos e orgânicos - do espaço geográfico. Este, possui caráter
mais abstrato, de totalidade, enquanto a paisagem lembra parcela e
fração.

PAISAGISMO COMO PRÁTICA SÓCIO-AMBIENTAL


O paisagismo, como prática socioambiental, reveste-se de caráter cultural
e histórico. Enquanto linguagem, expressa símbolos e valores da sociedade. Na
medida em que adota elementos naturais.

A versão original deste artigo está incluída na tese de doutorado Visões


de mundo e modelos de paisagismo: ecossistemas urbanos e utilização de
espaços livres em Brasília.

A combinação dessas características faz com que diferentes formas de


interpretação, apropriação e recriação da paisagem expressem, em variados
graus, relações entre sociedade e natureza.

As formas da sociedade se relacionar com a natureza, por sua vez, além


de depender do sistema produtivo e do aparato tecnológico disponível, tendem
a refletir visões de mundo prevalecentes.

Quando se incluem aspectos de dominação, as relações sociedade-


natureza adquirem cunho ideológico.

O tema ideologia tem sido objeto de debates entre diferentes correntes


teóricas e mesmo entre diferentes linhas de uma mesma corrente, como é o caso
dos marxistas.

Em revisão do tema, John B. Thompson além de sumarizar os


principais debates, destaca as relações entre ideologia e cultura na
sociedade moderna. Reconhece a disseminação generalizada de
valores do capitalismo avançado pela comunicação de massa. Assim,
considera a ideologia “em termos das maneiras como o sentido,
mobilizado pelas formas simbólicas, serve para estabelecer e sustentar
relações de dominação” (Thompson, 1995, p. 79).

20
De diferentes formas, a ideologia tende a condicionar um conjunto de
características culturais partilhadas por segmentos da sociedade, as visões de
mundo.

Embora o termo visões de mundo seja comumente utilizado sem


conceituação explícita, pode-se tomar, como referência geral, o que Kuhn
denominou de sentido sociológico do conceito de paradigma, embora sem as
aplicações ao mundo da ciência, privilegiadas pelo autor (Kuhn, 1970, p. 175).

Dessa forma, pode-se considerar visões de mundo como um conjunto de


crenças e valores partilhados por determinados grupos sociais. As visões de
mundo tendem a articular-se com visões de natureza e com práticas
socioambientais. Em estudos que buscam compreender essas relações, Lúcia
Cony Cidade argumenta que a ideologia, sob a forma de visões de mundo, tem
sido considerada um condicionante de diferentes visões da natureza e de linhas
de interpretação do espaço (Cidade, 2001a; Cidade, 2001b).

Relações Ideologia, visão de mundo e práticas socioambientais no


paisagismo semelhantes também se aplicam aos modelos e à prática histórica
do paisagismo (César, 2003).

Pode-se considerar que, ao longo do tempo, a própria produção social do


espaço, além de expressar processos e econômicos dominantes, tende a refletir
práticas e valores da esfera ideológica.

A discussão leva a algumas questões: qual o papel das construções


culturais na produção do espaço de assentamento?

Em que medida a esfera ideológica atua no paisagismo em suas


diferentes formas?

Qual o papel do paisagismo na construção de um modelo de cidade


sustentável?

A discussão que segue procura identificar relações entre processos


materiais e processos ideológicos no contexto de práticas socioambientais.

A partir daí, estabelece um pano de fundo para explorar o papel das visões
de mundo na busca da cidade ideal e no paisagismo.

21
Argumenta que diferentes modelos de paisagismo valorizam dimensões
diferenciadas da realidade.

CAOS, COSMOS, NATUREZA E A BUSCA DA CIDADE IDEAL


As tendências a leituras particulares da realidade podem ser observadas
desde o início da história humana.

Desde as origens dos agrupamentos, explicações transcendentais, são


utilizadas na elaboração de mitos da criação do mundo. Nos mitos de origem é
recorrente a ideia de uma lógica cósmica para justificar e dar parâmetros para a
existência.

Diferentes composições de crenças, signos e imagens constituiriam


visões de mundo individuais e coletivas. Com base no pressuposto de que as
visões de mundo condicionam o modus vivendi humano, Mircea Eliade acredita
na existência de sentimentos atávicos, que tentam resgatar explicações da
criação do mundo (Eliade, 1992, p. 39).

Nesse processo, o autor identifica uma relação bilateral entre o homem e


a natureza, que consiste na negação de uma ordem caótica em contraposição a
um ideal de ordem absoluta. Nesta evolução, o mundo natural corresponderia ao
caos.

Na busca de entender e explicar a realidade, Gordon Childe avalia que a


evolução cultural da sociedade é baseada em valores éticos e estéticos, cujas
explicações estão na esfera divina, que sustentaria uma ordem sobrenatural
(Childe, 1978, p. 63-67).

Essa construção corresponde à explicação do cosmos como sujeito a leis


que obedecem a uma ordem universal. Tais explicações estavam
particularmente presentes nas etapas de organização do espaço dos grupos
primitivos.

22
Posteriormente, a ordem universal apareceria também como referência
na criação das cidades, no desenvolvimento de atividades produtivas e nas
relações entre populações de diferentes regiões.

Na questão urbanística em particular, é possível traçar um


desenvolvimento de visões de mundo dentro de parâmetros cosmológicos.

Nesse contexto, o conjunto de valores da sociedade direcionava a forma


da cidade. Essa expressava uma razão mítica que consistia em sacralizar o
mundo por meio da tentativa de organizá-lo (Eliade 1992, p. 135).

Não é por acaso que isto ocorre: a questão da ordem se confunde


frequentemente com a questão do ideal – e esse era o alvo maior das
inquietações humanas. A busca do ideal e da razão na constituição das cidades
remonta à Antiguidade.

Filósofos como Platão já mostravam suas insatisfações a respeito das


cidades, que cresciam de maneira espontânea. Na busca de um mundo ideal,
os pensadores dedicavam-se também à procura de modelos de cidades. Essas
seriam erguidas sobre o mito do ideal, pela defesa do intelecto e pelo exercício
da razão.

No mesmo sentido, Michel Ragon (1968), ao estudar o urbanismo e o


discurso da ordem, concluiu que construímos nossas cidades em
“oferenda à deusa Razão”.

Os conceitos de ordem, racionalidade e controle impregnaram a cultura


ocidental. Essas referências têm servido de base para atividades ligadas ao
processo de urbanização e também para o urbanismo, como disciplina
interventora do espaço.

Assim, pode-se considerar o urbanismo, em essência, como instrumento


da ordem que busca a cidade ideal. A busca de explicações sobre a realidade,
com atenção ao papel do ideal e do material, apresenta-se de forma diferenciada
na filosofia.

Ideologia, visão de mundo e práticas socioambientais no paisagismo de


mundo, idealismo e materialismo Duas correntes filosóficas estruturam maneiras
diferentes de explicar e analisar a realidade: o idealismo e o materialismo.

23
Em termos sintéticos, a compreensão idealista considera que as ideias
preponderam como fatores de conformação de fenômenos sociais. Esta visão se
baseia na filosofia clássica grega que utiliza conceitos de Demócrito, Sócrates,
Platão e Aristóteles. A visão estética das proposições do idealismo, referência
para o urbanismo e para o paisagismo, foi resgatada e desenvolvida por
Baumgarten, em obra intitulada Aesthetica, publicada originalmente em 1750
(Baumgarten, 1953).

Segundo Frank Svensson, o tema da estética clássica foi abordado


pela escola filosófica alemã, com Berkeley (1685-1753), e
posteriormente com Kant (1724-1804) e March (1838-1916). Para o
autor, “as teorias a isso ligadas relacionaram o objeto real aos
interesses do sujeito que o considera, dando preferência cognitiva à
experiência subjetiva do objeto considerado” (Svensson, 1995, p. 10).

A compreensão materialista considera que as relações materiais são


determinantes da dinâmica social e da sua apreensão. Essa corrente suscitou a
questão da “realidade” e consolidou-se na dialética materialista de Marx e
Engels.

Segundo Gunnarson, a atividade científica desses autores “consistiu


em desmascarar o ilusionismo ideológico e chegar à essência, ao real,
enfim, às verdadeiras leis da evolução da sociedade” (Gunnarson,
1991, p. 13).

A estética, em uma visão materialista, “oferece uma relação


sistemática entre os ideais artísticos e a realidade exterior, sob forma
de coisas, homens e atos” (Svensson, 1995, p. 10).

Tais visões são em si complexas e profundas e tentam explicar a realidade


humana sob perspectivas opostas. No entanto, podemos pressupor que, embora
os processos materiais estejam na base das grandes definições da estrutura e
da dinâmica da sociedade, a esfera ideológica representa um vetor importante
na reprodução dessas relações.

Em análise histórica, Luiz Pedro de Melo Cesar mostra o papel do


contexto material e também o das visões de mundo na definição de
modelos de paisagismo em diferentes países (Cesar, 2003).

Assim, os modelos de urbanismo e paisagismo revelam-se como


resultante de um dado contexto social, político e econômico.

24
No entanto, como práticas socioambientais, o paisagismo e o urbanismo
expressam também visões de mundo – os valores sociais e culturais vigentes.

VERTENTES DO PAISAGISMO CONTEMPORÂNEO


O crescimento da indústria e os ciclos de acumulação de capital, que
caracterizaram os países centrais após as primeiras décadas do século XX,
realimentaram a crença moderna no progresso.

A continuada criação de riquezas e as demandas sociais urbanas


refletiram-se na busca de qualificação dos espaços das cidades naqueles
países. Esse contexto propiciou uma evolução do paisagismo, em sintonia com
as visões de mundo emergentes.

Entre os resultados dessa mudança está uma nítida preocupação com a


oferta de qualidade espacial. A transição está clara nas vertentes do paisagismo
predominantes até a década de setenta.

Ao lado de tendências ao resgate de signos e valores ligados aos grandes


jardins do passado e à nostalgia da vida bucólica, coexistem claros movimentos
no sentido de valorizar o novo, o progresso e o conforto propiciado pelas
conquistas da tecnologia.

A partir da década de setenta, diante do agravamento da crise do modelo


de acumulação intensiva e da emergência da questão ambiental, surgiram novas
vertentes no paisagismo.

Assim, o desenvolvimento do paisagismo, como campo disciplinar e como


profissão, expressa mudanças no cenário social e político internacional. Seus
desdobramentos teóricos e práticos revelam, embora dentro da matriz ideológica
da acumulação capitalista contemporânea, visões de mundo distintas.

A primeira dessas vertentes é o paisagismo com ênfase na arquitetura da


paisagem; a segunda é o paisagismo com ênfase na percepção; a terceira é o
paisagismo ambiental.

25
PAISAGISMO COM ÊNFASE NA ARQUITETURA DA PAISAGEM
O paisagismo de ênfase na arquitetura da paisagem baseia-se em visões
de mundo que valorizam a organização do espaço.

Embora Ideologia, visão de mundo e práticas socioambientais no


paisagismo a vegetação constitua elemento fundamental de composição, essa
linha tende a ver todos os espaços como arquitetura, adotando várias escalas
de intervenção, desde a rural até a urbana.

Distancia-se da tradicional visão do paisagismo como jardinagem ou


como campo complementar do desenho urbano. Essa vertente apresenta o
paisagismo como campo disciplinar, que trabalha com elementos construídos e
com elementos vegetais. Busca dotar o espaço do jardim de arquétipos típicos
da arquitetura, tais como paredes, pisos e tetos que, no entanto, podem ser
configurados pela própria vegetação.

O paisagismo de ênfase na arquitetura da paisagem privilegia a questão


espacial, por meio da busca do belo e da estética ligada à arquitetura.

Adota elementos simbólicos que exprimem aspectos tradicionais. Utiliza


parâmetros de composição como a simetria, o ritmo, a harmonia e o equilíbrio,
que salientam a “representação do objeto”. Esta prática suscita valores ligados
principalmente à estética dos espaços.

Por outro lado, também salienta a questão da funcionalidade, que trabalha


com aspectos mais pragmáticos. Muito do desenvolvimento do paisagismo se
deve à influência da arquitetura da paisagem, cujos representantes históricos
aparecem após o século XVIII.

Apesar das influências, como a arquitetura, a agronomia, a botânica e as


artes plásticas, esse quadro configurou uma área própria do paisagismo, que se
tornou independente.

O maior desenvolvimento do paisagismo como campo disciplinar ocorreu


na Inglaterra e, posteriormente, nos Estados Unidos.

26
A arquitetura da paisagem serviu também de base para o
desenvolvimento de muitos dos conceitos e da teoria existentes no paisagismo.

Entre os autores que contribuíram para a configuração do paisagismo


contemporâneo, podemos salientar Hubbard e Kimball (1917), que
definiram um conceito inicial de paisagismo como: “Primeiramente uma
bela arte, cuja mais importante função era criar e preservar beleza (...)
promovendo conforto, conveniência e saúde para as populações
urbanas (...)”.

Outros autores dessa linha são Eckbo (1950, 1964), Benoist-Méchin


(1976), Cadena (1982), Lyall (1991), Laurie (1993), e Beveridge e Rocheleau
(1995).

Ao procurar ir além da busca da estética natural, o paisagismo com ênfase


na arquitetura da paisagem passou a prever a utilização dos espaços livres,
adequando-os à conveniência dos grupos de usuários.

Além desses fatores, Garret Eckbo (1950) ressaltou a importância e


influência do tempo e do clima na configuração e percepção da
paisagem.

Eckbo (1964) inclui ainda as dimensões social e afetiva. Michael Laurie


sintetiza essas preocupações ao definir o paisagismo como: a porção
da paisagem que é desenvolvida ou conformada pelo homem, entre os
edifícios, estradas, ou utilitários acima da vida selvagem natural,
desenhada primariamente como espaço para a vivência humana (não
incluindo agricultura, florestamento).

É o estabelecimento de relações entre os edifícios, superfícies e outras


construções a céu aberto, terra, formas rochosas, corpos d’água, plantas e
espaço aberto, além de outras formas gerais características da paisagem; mas
com ênfase primeira na satisfação humana, a relação entre as pessoas e a
paisagem, entre os seres humanos e o espaço externo tridimensional
quantitativa e qualitativamente. (Laurie, 1985, p. 28).

A expressão moderna da vertente salienta a herança da escola inglesa e


americana. Isso ocorre, principalmente, na versão consolidada do paisagismo
presente nas cidades-jardim inglesas e em subúrbios de cidades americanas ao
longo do século XX.

27
Esta versão enfatiza a arborização, como elemento bucólico disposto de
maneira naturalística, e gramados, que integram edificações sem barreiras
visuais.

Em linhas gerais, o paisagismo de ênfase na arquitetura da paisagem


valoriza a dimensão da organização do espaço.

Caracteriza-se pela exploração de elementos diversos, com a clara


intenção de organizar os espaços livres de edificação. Esses são pensados de
maneira a conter qualidades ou atributos voltados para atender determinadas
expectativas funcionais e estéticas.

Esta vertente engloba duas tendências distintas que repercutem na


organização do espaço: o paisagismo ligado ao desenho urbano e o paisagismo
ligado à expressão artística.

A primeira tendência, o paisagismo ligado ao desenho urbano, baseia-se


em visões de mundo que valorizam a esfera material: o Ideologia, visão de
mundo e práticas socioambientais no paisagismo progresso, a industrialização e
os aspectos construtivos.

Esta abordagem desenvolveu-se, principalmente, a partir da década de


1960 e teve como um de seus precursores Camillo Sitte (1993). Entre seus
expoentes estão Gordon Cullen (1971) e John L. Motloch (1991).

A segunda tendência, o paisagismo ligado à expressão artística, baseia-


se em visões de mundo que privilegiam a esfera das ideias, por meio da criação
cultural.

São exemplos, as propostas de Thomas Church, Sylvia Crowne, Ernst


Cramer, Garret Eckbo e seu discípulo Laurence Halprin e, ainda, Burle Marx
(1987), que obteve reconhecimento não apenas nacional, mas também mundial.

A discussão mostra que há uma pluralidade de intervenções na vertente


do paisagismo com ênfase na arquitetura da paisagem.

As visões de mundo compartilhadas se refletem, principalmente, nas


preocupações com a ordem e a racionalidade e com seu rebatimento na
organização do espaço.

28
A ênfase prática desta vertente permite pontes com outras de cunho mais
teórico, como o paisagismo com ênfase na percepção ou mesmo o paisagismo
ambiental.

PAISAGISMO COM ÊNFASE NA PERCEPÇÃO


A segunda vertente contemporânea é o paisagismo com ênfase na
percepção. Apoia-se em visões de mundo que valorizam as relações do espaço
com o atendimento de expectativas sociais. Tal como no caso do paisagismo
com ênfase na arquitetura da paisagem, a vertente do paisagismo com ênfase
na percepção sofre a influência de várias disciplinas.

Esta vertente valoriza aspectos sensoriais e psicológicos; ela foi


influenciada por linhas das ciências sociais e humanas, que colaboraram para
entender o espaço urbano como fonte de expectativas sociais. Ainda nos anos
sessenta, estudiosos tentavam uma aproximação da análise da paisagem
tradicional com aspectos psicossociais, considerando o meio ambiente, como o
contexto físico em que o observador está inserido.

Outras análises se aproximaram de estudos geográficos, com base na


percepção e suas relações com o comportamento. Algumas propostas
especulavam sobre expectativas psicossociais universais e possíveis
consequências comportamentais ligadas à configuração espacial.

Essa postura consiste, segundo Maria Elaine Kohlsdorf (1993), na


concepção das relações entre a forma e sua percepção. Para a autora,
a vertente perceptiva se consolidou ligada à psicologia ambiental.

O campo da psicologia ambiental teve especial participação no


entendimento das expectativas sociais, consideradas inicialmente como
necessidades dos usuários.

Nesse contexto, busca compreender as expectativas sociais e sugerir


uma grande diversidade de aspectos que, por sua vez, convergem para a
tipificação de padrões comportamentais, ligados à configuração do espaço.

Esse amplo universo de expectativas e relações, promove


desdobramentos que vão além dos aspectos de configuração e da própria

29
percepção. Parece existir uma grande interação de elementos que confirmam
significados e expectativas sociais complexas.

O tema das expectativas sociais, em uma perspectiva ampla, foi abordado


por vários autores, entre eles Piaget (1971; 1972). Ele coloca que a realidade
revela vários níveis de expectativas, algumas conscientes, outras inconscientes.

As expectativas podem ser ideológicas ou não, uma vez que a percepção


da realidade revela aspectos universais e individuais.

Sob o ponto de vista dos aspectos universais, a percepção é ligada à


ideologia que, por seu turno, serve de contexto cultural. Em um sentido mais
restrito, a apreensão da realidade que envolve o ser humano é entendida, na
psicologia ambiental, como apreensão do meio ambiente.

Essa apreensão torna-se uma expectativa social básica para a


avaliação dos lugares e adaptação ao próprio ambiente. Na
perspectiva do urbanismo, os avanços mais específicos na
compreensão das relações entre ambiente e comportamento foram
Ideologia, visão de mundo e práticas socioambientais no paisagismo
reflexos de pesquisas desenvolvidas no campo da percepção urbana.
M. Trieb (1974) tratou da análise da forma das cidades, enquanto Kevin
Lynch (1960) descreveu a experiência perceptiva e emocional da
paisagem no estudo de percursos.

Donald Appleyard (1962) escreveu sobre a experiência de perceber e


sentir prazer por meio da visão da paisagem.

Gordon Cullen (1971), que desenvolveu um método para trabalhar com


seqüências de percursos, descreveu arquétipos urbanos, fazendo uma
interface direta com o desenho urbano.

O paisagismo de ênfase na percepção busca identificar o papel do espaço


em processos psicossociais.

Recentemente esta vertente agregou elementos lúdicos e transcendentais


como parte de um contexto sinestésico.

Segundo Lyall (1991, p. 12) o novo paisagismo da vertente perceptiva,


traz uma concepção de paisagem baseada na filosofia zen. Essa
postura tende a refletir uma influência oriental e mística no tratamento
da paisagem.

30
É evidente o alinhamento dessa vertente na corrente idealista, pois
enfatiza a forma urbana sem considerar aspectos das contradições sociais que
a produziram.

Para alguns autores da filosofia estética com abordagem dialética,


como Svensson (1991), a vertente perceptiva é fenomenológica. Uma
vertente que busca ir além do formalismo do paisagismo com ênfase
na arquitetura da paisagem e, também, da supervalorização do
cotidiano da vertente perceptiva é o paisagismo ambiental.

A proposta, ao reconhecer os aspectos contraditórios do modelo


hegemônico e seus impactos, procura caminhos de integração dos processos
sociais com os naturais.

PAISAGISMO AMBIENTAL
A terceira vertente abordada é o paisagismo de cunho ambiental, que
guarda relações com visões de mundo que valorizam a relação sociedade-
natureza e aspectos ecossistêmicos.

Essa linha engloba práticas voltadas para a preservação da natureza,


como pré-requisito à construção da sustentabilidade ambiental no meio urbano.

A evolução da temática ambiental nas práticas de paisagismo constitui


uma espécie de rebatimento do desenvolvimento da abordagem ambiental no
urbanismo.

A TEMÁTICA AMBIENTAL NO URBANISMO MODERNO


A origem das mudanças no urbanismo, em direção a uma temática
ambiental explícita, remonta às preocupações sanitaristas que caracterizaram o
urbanismo até o final do século XIX.

A organização do espaço das cidades industriais, ao contribuir para


controlar as ameaças ambientais nos bairros populares, protegia também as
classes dominantes. A partir daí, o processo de evolução do urbanismo passou

31
a englobar também conceitos e práticas voltadas para o atendimento de
expectativas de grupos sociais emergentes.

Entre as novas demandas, estava a inclusão da temática da qualidade de


vida e do lazer nos planos urbanísticos. Ainda nas primeiras décadas do século
XX, o urbanismo moderno manteve a preocupação higienista, sob uma
perspectiva que tangenciava a ideia de um maior contato com a natureza.

Choay (1979, p. 20) identifica, como principais modelos, o progressista,


o culturalista e o naturalista. Embora com visões de mundo
diferenciadas e com soluções diversificadas, essas propostas
incorporavam a relação entre o ambiente natural e o ambiente
construído.

Na realidade, o contexto modernista agregava a ideia de um sistema de


parques e áreas verdes como complemento do tecido urbano. Em certa medida,
pode-se considerar que os desdobramentos dessas propostas foram
influenciados pelo bucolismo das cidades-jardim, ao mesmo tempo em que
buscavam a eficiência do conceito de cidade-máquina.

Na metade do século XX, surgiram debates sobre uma relação


sociedade/natureza que respeitaria o meio ambiente. Mas é somente a partir da
década de setenta que estudiosos, principalmente nos Estados Unidos,
começaram a testar modelagens de espaços urbanos para esse fim. Esses
modelos serviram de base para novas tendências Ideologia, visão de mundo e
práticas socioambientais no paisagismo de planejamento urbano e regional e,
posteriormente, para o desenho urbano e para o paisagismo. Nas últimas
décadas, definições de desenvolvimento sustentável, embora tenham sido
objeto de inúmeros debates, contribuíram para o avanço da abordagem
ambiental no urbanismo.

Sachs (1993, p. 30) define desenvolvimento sustentável como “a


atitude de promover um desenvolvimento socioeconômico equitativo,
através de estratégias ambientalmente adequadas e suportáveis no
âmbito ecológico.”

Sachs adota a premissa de que a promoção de um meio de vida


sustentável deve tornar-se parte da linha mestra de desenvolvimento; considera

32
que este não pode ter sucesso sem a participação dos grupos e das
comunidades locais.

Os debates atuais sobre a temática ambiental urbana têm procurado


construir um consenso em torno do termo “cidades sustentáveis”.

Para alguns, como Heloísa Costa, a concepção envolve contradições


de fundo, embora aponte caminhos para uma reflexão (Costa, 2000).

Para outros, a proposta seria compatível com os ideais de um


desenvolvimento humano que respeite os limites da natureza. Embora não haja
uma definição exata, em países periféricos, o tema da sustentabilidade urbana
implica considerar prioritário o tema da pobreza.

Buscar-se-ia um desenvolvimento mais equitativo, com vistas a equilibrar


a dimensão econômica, as demandas sociais e as ambientais.

Segundo Otto Ribas, a associação da noção de sustentabilidade ao


debate sobre desenvolvimento das cidades tem origem nas
rearticulações políticas, pelas quais um certo número de atores
envolvidos na produção do espaço urbano procura dar legitimidade a
suas perspectivas, evidenciando a compatibilidade das mesmas com
os propósitos de dar durabilidade ao desenvolvimento. (Ribas, 2003, p.
23).

Tais intenções, para Ribas, tentam coadunar-se com os princípios da


Agenda 21, que parece conter a versão predominante do conceito de
cidades sustentáveis.

A discussão é mais especifica em seus desdobramentos, como a Agenda


Habitat, particularmente nos temas que se referem à promoção do
desenvolvimento sustentável dos assentamentos humanos.

Os temas da sustentabilidade em meios urbanos ficaram conhecidos


como Agenda Marrom.

A proposta ressalta a relação direta entre a infraestrutura de uma cidade,


a saúde de sua população, e o contexto regional no qual ela se insere.

O desenvolvimento da vertente ambiental e das visões de mundo que a


acompanham modificou as formas pelas quais o urbanismo e o planejamento
urbano e regional tratavam o tema.

33
De um dentre vários quadros referenciais, a temática ambiental passou a
ocupar lugar central na construção de modelos de cidade ideal, como se revela
claramente no caso das propostas de cidades sustentáveis.

Esse mesmo desenvolvimento tem se refletido no paisagismo, cuja


tradição metodológica tem acompanhado a evolução histórica das práticas de
gestão urbana.

A TEMÁTICA AMBIENTAL NO PAISAGISMO MODERNO


Desde o século XIX, aparecem, no paisagismo, práticas reveladoras de
visões de mundo voltadas para uma compreensão do ambiente. Sem que o
discurso as identificasse como tal, algumas práticas consideravam aspectos
indicativos de uma visão primária da temática ambiental, como no caso da
apreensão do sítio de intervenção. Esta preocupação não era exclusiva do
paisagismo ambiental.

Estava também presente nas demais vertentes do paisagismo, embora


sempre relacionada à compreensão da realidade e como condicionante de
projeto. Não era, portanto, considerada prioridade na argumentação ou na
definição de uma dada prática ambiental.

Logo, essa visão era superficial e encerrava seus conhecimentos sem


aprofundar as relações entre as expectativas sociais de uso e a necessidade de
conservação da natureza.

O surgimento de uma prática de paisagismo entendida como ambiental


aprofunda o entendimento das dinâmicas naturais. No entanto, podemos
considerar o paisagismo ambiental como comprometido com práticas do
urbanismo e do planejamento que buscam a qualidade do espaço urbano.
Incluem-se aí práticas que amenizam os efeitos do clima e criam um cenário
aprazível e uma observância da paisagem.

Alguns autores apontam a vertente ambiental no paisagismo como


resultado da evolução do pensamento conservacionista.

34
IDEOLOGIA, VISÃO DE MUNDO E PRÁTICAS
SOCIOAMBIENTAIS NO PAISAGISMO
Seguindo a linha da evolução do conservacionismo, Laurie (1985)
observa que essa vertente se iniciou a partir da valorização da estética
natural, ainda no final do século XIX.

Essa tendência era baseada em autores ingleses, como William Gilpin,


que já compreendia a questão ambiental como algo importante. Essa
compreensão, no entanto, era mais pictórica do que sistêmica.

A preocupação da época era preservar a natureza para manter cenários


dignos para contemplação e inspiração artística. O fomento do pensamento
conservacionista influenciou posteriormente práticas ecológicas no paisagismo
dos Estados Unidos, principalmente da Califórnia.

Uma abordagem específica da temática ambiental é a que guarda


relações estreitas com o desenvolvimento da ecologia. No século XX, essas
ideias foram difundidas principalmente com a escola filosófica da “ecologia
profunda,” fundada pelo filósofo norueguês Arne Naess no início dos anos 70.

A ecologia profunda não separa seres humanos ou qualquer outra coisa


do meio ambiente natural. Ela vê o mundo como uma rede de fenômenos que
estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.

A ecologia profunda reconhece o valor inerente de seres vivos e concebe


os seres humanos apenas como um fio particular na teia da vida. Os dois termos,
“ambiental” e “ecológico” são muito difundidos e diferem em seus significados.

No paisagismo, no entanto, as duas linhas tendem para uma


compreensão única, a da consolidação de práticas comprometidas não apenas
com seu significado social, mas também com a natureza, identificadas como o
paisagismo ambiental.

O desenvolvimento da vertente ambiental no paisagismo foi influenciado


por estudos de ecologia urbana, disseminados em países centrais na segunda
metade do século XX.

35
A participação de autores de diversas áreas, cujas obras incorporavam a
temática ambiental, contribuiu na inserção de visões de mundo da ecologia
urbana na construção do paisagismo ambiental.

Ian McHarg (1969) influenciou toda uma geração de arquitetos,


urbanistas e arquitetos paisagistas nos Estados Unidos.

Entre outros autores que enfocaram a ecologia urbana, estão Holling e


Oriens 130 Luiz Pedro de Melo Cesar / Lúcia Cony Faria Cidade Sociedade e
Estado, Brasília, v. 18, n. 1/2, p. 115-136, jan./dez. 2003 (1971), Cooper e Vlasen
(1973), Brady et al (1979) e Anne W. Spirn (1995).

Por outro lado, outras ciências que tratam das dinâmicas naturais
ajudaram a sedimentar e consolidar o paisagismo ambiental, pois trouxeram
subsídios para o desenvolvimento do planejamento ambiental.

Maria A. R. Franco (1997) salienta a importância desse tipo de


conhecimento como referência para o planejamento. Teresa C. Silva
(1992) cita a Lei Orgânica da Venezuela, que implementou o uso de
parâmetros ecológicos na gestão ambiental.

No mesmo sentido, Maria Augusta Bursztyn (1994) aponta a relevância


da “ambientalização”, ou incorporação dos temas ambientais nas
práticas e processos cotidianos.

Dentro desse contexto amplo, surgiram autores que trouxeram a noção


de ecossistemas e de complexidade integrada, que têm um rebatimento direto
com o paisagismo.

Anne Spirn é precursora de uma compreensão da cidade como


ecossistema e não como antítese da natureza (Spirn, 1995, p. 9-26). Seu
enfoque vê a natureza como um continuum e a cidade como parte deste.

O conceito de ecossistema urbano adotado por Spirn exprime a ideia de


que o conjunto da cidade, concebido pela sociedade, concentra possibilidades,
refúgios e relações complexas. Neste sistema, salienta-se a identidade da flora
e da fauna urbana e, também, as relações de equilíbrio e desequilíbrio
estabelecidas.

Esse pensamento destaca o fato de que a cidade altera a sucessão


ecológica natural, indo muito além dos seus limites urbanos. Outra contribuição

36
importante, para a compreensão das práticas ecológicas que influenciaram o
paisagismo, foi dada pelo biólogo Eugene Odum (1988).

Segundo Odum, o desenvolvimento dos ecossistemas baseia-se na


sucessão ecológica e envolve mudanças na estrutura das espécies e
dos processos da comunidade, ao longo do tempo.

O desenvolvimento resulta da modificação do ambiente físico pela


comunidade e, ainda, das interações de competição e coexistência no contexto
das populações. Esses processos são importantes na compreensão da atividade
paisagística pois, a partir das definições de composição, pode-se ajudar ou
bloquear processos naturais em curso, além de alterar a sanidade do sistema
como um todo.

A adoção de princípios oriundos da ecologia, que recebeu contribuições


diversas, influenciou o paisagismo e permitiu uma compreensão mais ampla da
questão ambiental. Esse novo paisagismo enfatiza a valorização dos
ecossistemas nativos e locais.

Enquanto possibilidade prática, o paisagismo ambiental procura, por meio


do uso racional da vegetação e dos sistemas de espaços livres, integrar
fisionomias naturais à ocupação urbana. Suas propostas valorizam os grandes
e pequenos ecossistemas ameaçados pela urbanização. Essa prática busca
preservar a diversidade das espécies nos biomas, com vistas a constituir
corredores ecológicos que possam integrar a área urbana ao ambiente regional.

Em um aspecto mais restrito, ela busca adaptar a estética e a


funcionalidade, expectativas tradicionais do paisagismo, à inserção de arranjos
e associações nativas. Por se tratar de uma proposta que visa integrar o espaço
urbano sob uma perspectiva social com práticas ecológicas, a vertente ambiental
do paisagismo revela visões de mundo que valorizam a ética da sustentabilidade,
em suas diferentes dimensões.

Embora o conceito de ética da sustentabilidade esteja ainda em


construção, é possível distinguir, como referência básica, o reconhecimento do
papel essencial das relações entre práticas materiais e práticas ideológicas.

37
Ao mesmo tempo em que o futuro da sociedade depende das relações
materiais, depende também de um ideário que supere o conteúdo de dominação
presente na ideologia capitalista. Essa superação refere-se não apenas às
relações sociais, mas também às relações sociedade natureza.

Diferentes visões de mundo propiciaram, ao longo dos séculos, posturas


que se refletem em distintas maneiras de intervir na natureza.

A discussão, em particular a abordagem das diferentes vertentes do


paisagismo contemporâneo, mostrou que visões de mundo também
condicionam práticas socioambientais, entre elas o próprio paisagismo. Mais
recentemente, valores apoiados no desenvolvimentismo e avanços ligados à
tecnologia alteraram as visões de mundo na fase contemporânea, ainda
influenciada pelo modernismo. O paisagismo não escaparia dessa realidade,
manifestada de forma diferenciada em suas proposições. A vertente do
paisagismo com ênfase na arquitetura da paisagem, assim como as vertentes
com ênfase na percepção e o paisagismo ambiental expressam diferentes visões
de mundo e valorizam dimensões distintas da prática do paisagismo. Uma das
diferenças práticas seriam valores de culturas locais, que expressam signos e
arquétipos espaciais específicos; outra, seria o peso relativo entre as prioridades
sociais e as ecológicas. Essas prioridades expressam-se principalmente por
meio das três dimensões privilegiadas em cada uma das vertentes mencionadas:
a organização do espaço, as expectativas sociais de uso e a integração
ecossistêmica.

A vertente do paisagismo de ênfase na arquitetura da paisagem valoriza


aspectos estéticos e funcionais, em uma abordagem ainda tradicional, na qual
se misturou e consolidou uma versão arquitetônica do paisagismo.

A vertente do paisagismo de ênfase na percepção, embora tenha


avançado ao incluir os grupos de usuários como sujeitos das definições do
paisagismo, desconsidera condicionantes econômicos e tem uma visão limitada
de processos ambientais.

A vertente do paisagismo ambiental pretende superar as limitações das


outras, ao incluir preocupações de sustentabilidade em uma perspectiva ampla.

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Inova, ao enfatizar a ótica ecológica e a buscar sua integração ao planejamento
de espaços dentro do meio urbano.

Apesar dos avanços, o paisagismo ambiental, ainda não se qualifica, tanto


em sua proposta conceitual como na prática efetiva, como parte da construção
de uma sustentabilidade urbana que Ideologia, visão de mundo e práticas
socioambientais no paisagismo incorpore de fato as contradições sociais. Se,
por um lado, o paisagismo ambiental que hoje floresce expressa uma ruptura
parcial com visões de mundo de controle da natureza, levadas a extremos na
fase contemporânea do capitalismo, por outro lado, o quadro ainda está em
aberto.

A arquitetura paisagística ou o planejamento paisagístico, segundo a


Comissão de Planejamento do Meio Ambiente da UICN, é o processo contínuo
que se empenha em fazer o melhor uso para a humanidade de uma área limitada
da superfície terrestre, conservando sua produtividade e beleza.

É sua meta reconciliar as necessidades dos usos competitivos da terra e


incorporá-los em uma paisagem, na qual as civilizações humanas possam
prosperar sem a destruição dos recursos naturais e culturais, em que as
sociedades estão fundadas. Baseado na compreensão da natureza, o projeto
busca conservar e criar a maior diversidade, implicando em uma paisagem capaz
de múltiplos usos.

Em outras palavras, é a conservação criativa, pois pode envolver a


modificação deliberada das paisagens existentes (Demattê, 1997; Mazzilli,
Geiser, 1997).

Segundo a American Society of Landscape Architects (Asla), a


arquitetura paisagística é a arte do desenho, do planejamento e do
manejo da terra, arranjo dos elementos naturais e feitos pelo homem
por meio da aplicação de conhecimentos científicos e culturais, com
objetivos de conservação e administração dos recursos naturais, com
fins que resultem em um ambiente com propósitos úteis e saudáveis.

Em relação à profissão do arquiteto paisagista, a Associação Brasileira de


Arquitetos Paisagistas (Abap) diz que o seu trabalho contém elementos que se

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referem a valores artísticos, funcionais e ambientais, cuja produção envolve
planos e projetos.

Dependendo da complexidade e da escala, o trabalho é exercido em


equipes interdisciplinares constituídas principalmente de arquitetos, urbanistas,
geógrafos, agrônomos, biólogos, cientistas sociais e juristas, dentre outros, visto
envolver conhecimentos de todas as áreas, e como já foi informado, não existe
um curso específico com essa formação no Brasil, a qual ocorre em nível
internacional, tanto em cursos de graduação como de pós-graduação.

A profissão arquiteto paisagista não é regularmente reconhecida no país


(arquitetos paisagistas yearbook, 1997).

A visão da paisagem sempre teve um aspecto utilitarista para


praticamente todos os povos e em todas as épocas.

Se na Antiguidade da região mesopotâmica a paisagem era trazida para


dentro dos muros e só então parecia existir e ser aceita na consciência humana,
na atualidade a paisagem é composta por praticamente tudo o que é possível
trazer para dentro do conhecimento e tecnologia humanos, que são os domínios
modernos.

Assim, o conceito de paisagem foi sendo construído e ampliado, sempre


com base no que existiu e existe de útil e mais ou menos compreensível no
entorno da existência humana. Neste caso, poder-se-ia incluir aspectos
astronômicos na paisagem do Oriente Médio, já que a investigação dos caldeus
na Mesopotâmia incluía corpos celestes.

Quem sabe a paisagem terrestre desértica e um tanto monótona tenha


ajudado a desviar o olhar “para cima”, levando a observações de um céu noturno
com pouca nebulosidade... Os elementos celestes fariam então, parte de sua
paisagem.

Como ambiente vivido e/ou captado pela consciência humana, a


paisagem, de alguma maneira, sempre existiu junto com os seres humanos,
levando ora à utilização prática de seus recursos, ora à contemplação e
encantamento.

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Como aspecto visual, frequentemente estético, captado e representado
de maneira objetiva e subjetiva por artistas, a paisagem surgiu no século XV,
com pintores holandeses e italianos.

Já a concepção de paisagem como método de abordagem de um espaço


geográfico, teve início em fins do século XIX.

Como raízes deste pensamento pode-se mencionar as ideias de Ratzel


sobre relações causais existentes na natureza, vindo depois o russo
Dokoutchaev, com o modelo Complexo Natural Territorial - CNT, identificando as
estruturas da natureza. No século XX, Carl Sauer apresentou suas ideias sobre
estruturas da paisagem, em 1925; Carl Troll elaborou a ecologia da paisagem,
que associava a perspectiva horizontal geográfica com a perspectiva vertical da
ecologia, em 1930. S

Sintetizando os conceitos das diversas épocas e áreas de conhecimento,


há aspectos que merecem ser mencionados quando de uma abordagem do
ponto de vista da paisagem, seja como objeto de interesse de pesquisa, seja
como método de estudo.

Seriam eles: o aspecto visual; a complexidade de inter-relações entre os


elementos físicos e destes com os elementos culturais; a possibilidade de
cartografar a paisagem, já que a mesma ocupa um lugar; a diversidade da escala
da paisagem - do local ao planetário; a possibilidade de classificar paisagens em
unidades diferenciadas ou homogêneas; a possibilidade de classificar paisagens
com ênfase em um elemento de sua composição - vegetação, clima ou cultura;
o caráter dinâmico das paisagens; a possibilidade de análise por meio dos
elementos, estrutura e/ou funcionamento da paisagem.

Assim, como objeto do interesse da pesquisa, a paisagem pode ser


entendida como o produto das interações entre elementos de origem natural e
humana, em um determinado espaço.

Estes elementos de paisagem organizam-se de maneira dinâmica, ao


longo do tempo e do espaço.

41
Resultam daí feições e condições também dinâmicas, diferenciadas ou
repetidas, o que permite uma classificação, ao agrupar-se os arranjos similares,
separando-os dos diferentes. No todo, forma-se um mosaico articulado.

Este processo poderá ser tão detalhado ou amplo, quanto interesse ao


observador.

Paisagem não é o mesmo que espaço geográfico, mas pode ser


compreendida como uma manifestação deste.

O espaço é o objeto de estudo da geografia, enquanto a paisagem poderia


ser entendida como uma medida multidimensional de compreensão de um lugar
(MAXIMIANO, 2002).

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