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Policiamento Comunitario Escolar
Policiamento Comunitario Escolar
BIGUAÇU
2010
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO
BIGUAÇU
2010
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO
Prof. _________________
UNIVALI – CE de _______
Membro
Prof. __________________
UNIVALI – CE de ________
Membro
Dedicatória
This study aims to demonstrate that the institutional strategy of a Community Police
is a possible alternative to the traditional methods of combating crime (traditional
policing) and to suggest the Scholastic Community Policing as a cop specialized
intervention. Based on perception and the author´s experience helped by literature
review study and content´s analysis, the data and discussion show us that
Community Policing is the preventing model that is in sintony with the ideals
Democratic State of Right, which better represents the new paradigm of participatory
democracy and allows restoration of police credibility. Although there is no
consensus on the doctrine in relation to actual results of reduced crime due to lack of
a accurate analysis of results and public policy continued, it is concluded that the
Scholastic Community Policing is a real possibility of rapprochement citizen between
police and community. It proves to be a smart strategy to implement community
policing as a form to achieve self-sustainable security in school communities,
including in their repertoire of successes: crime prevention, reduction of fear and
building legitimate security practices.
1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10
2 POLÍCIA MILITAR E A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988 ....................................................................................................................12
2.1 SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .............................12
5 CONCLUSÃO .....................................................................................................68
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................71
10
1 INTRODUÇÃO
1
Ulysses Silveira Guimarães (nascido em 6 de outubro de 1916, na cidade de Itirapina, São Paulo,
falecido em 12 de outubro de 1992, no litoral de Angra dos Reis, Rio de Janeiro) foi um político e
advogado brasileiro que teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela
redemocratização do Brasil. Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos
(1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988), presidindo a Assembléia Nacional Constituinte, em 1987 à
1988. A nova Constituição, na qual Ulysses teve papel fundamental, foi promulgada em 5 de Outubro
de 1988, tendo sido por ele chamada de Constituição Cidadã, pelos avanços sociais que incorporou
no texto.
2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (Constituição Federal de 1988)
3
Os valores da preeminência da pessoa, da liberdade individual, da igualdade fundamental entre os
homens e da fraternidade foram, portanto, os inspiradores do conceito de Bem Comum,
materializando uma visão tomista que conduz ao seguinte entendimento: Ideal de convivência que,
transcendendo à busca do bem-estar, permite construir uma sociedade onde todos, e cada
um, tenham condições de plena realização de suas potencialidades como pessoa e de
13
7
Art. 5º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69.
15
8
São aquelas que, embora não constituindo a finalidade da Corporação, são indispensáveis como
apoio à consecução dos seus objetivos. Denominam-se ainda de institucionais, adjetivas ou
instrumentais. Exemplos: pessoal, logística, ensino, dentre outras. (VALLA, 1999, p. 205)
9
São aquelas que dizem respeito diretamente aos objetivos específicos da Corporação, e aos
propósitos que determinam a sua criação e que justificam a sua existência. Denominam-se ainda
funcionais e substantivas, como por exemplo: os órgãos intermediários de comando, as unidades
operacionais de policiamento ostensivo, de busca, salvamento e combate a incêndios. (VALLA, 1999,
p. 205)
10
Arts. 6º, 7º e 8º, da Lei Estadual nº 6.774, de 08 Jan. 76 (Lei de Organização Básica da PMPR)
11
Art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 2.010/83).
16
12
Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
13
Letra “b”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
14
Letra “c”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
15
Letra “d”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
16
Atividade destinada a exercitar o policial militar individualmente e em equipe, desenvolvendo-lhe a
habilidade para o desempenho das tarefas para as quais já recebeu a adequada instrução. (nº 2, do
art. 2º, do Decreto nº 88.777, de 30 Set. 83)
17
17
Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
19
[...] é o de menor duração no ciclo, mas nem por isso menos importante,
pois é nele que tem início a persecução criminal [...] a quebra da ordem
ocorrerá quando um ou mais elementos – segurança, tranqüilidade e
salubridade – for prejudicado. [...] Em havendo infringência de dispositivo
tipificado nas leis penais, inicia-se a atividade de polícia judiciária, que pode
ser comum ou militar, estadual ou federal, dependendo da esfera de poder
e competência do órgão judicial que apreciará o fato [...] ocorrendo o ilícito
penal, os atos de polícia que incidirem sobre eles serão de polícia judiciária,
conhecida por polícia repressiva, que, na verdade auxilia a repressão
criminal, privativa do Poder Judiciário e feita através da imposição da pena.
[...] neste caso o policial civil ou militar rege-se pelas normas do Direito
Processual Penal, estando ações sob a égide do Poder Judiciário,
destinatário final da ocorrência, além do controle externo pelo Ministério
Público, [...] A atitude policial é de repressão imediata. As medidas tomadas
pela Polícia são de ofício, pois independem de autorização superior e
visam, em qualquer hipótese, restabelecer a ordem pública, sendo
utilizadas, sempre, ações de contenção. (LAZZARINI, 1999, p. 94-95)
18
O estado de direito é concebido como o que submete todos os habitantes à lei e opõe-se ao estado
de polícia, onde todos os habitantes estão subordinados ao poder daqueles que mandam.
(ZAFFARONI, 2003, p. 41)
19
O volume de conflitos suspensos por um estado será o indicador de sua vocação de provedor de
paz social e, por conseguinte, de sua força como estado de direito. (ZAFFARONI, 2003, p. 42)
20
No artigo “A Crise de Identidade das Policias Militares Brasileiras: Dilemas e Paradoxos da
Formação Educacional”, a autora, ao comentar sobre a mobilização das agencias policiais no
combate aos virtuais “inimigos do regime militar”, corrobora, em nota, sobre a conseqüente
fragilização da auto-imagem da corporação policial que foi, em boa medida, contaminada pela
memória ainda viva dos duros anos de repressão política. (MUNIZ, 2001)
21
A ordem pública, portanto, não é algo que se impõe. Ela deve ser
construída numa parceria sinérgica de todos os atores sociais, onde os
agentes públicos de segurança participam como catalisadores do sistema,
valendo-se do conhecimento técnico-profissional que dispõe e das
informações do ambiente em que está inserido e onde deve agir.
(MARCINEIRO, 2009, p. 82)
A Polícia, vista através da nova conjuntura social brasileira, vai muito além
do fiscalizar e do garantir o cumprimento da lei. Representação do braço forte do
Estado no controle legítimo das transgressões à ordem e instituída para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, a
Polícia tem um papel social primordial no desenvolvimento da qualidade de vida e na
busca pela corporização dos direitos e garantias consignadas na Constituição e em
leis que os materializam.
Numa sociedade policiada “há de estar garantida a convivência pacífica de
todos os cidadãos de tal modo que o exercício dos direitos de cada um não se
21
CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 24.
26
transforme em abuso e não ofenda (...) o exercício dos direitos alheios”. (CAETANO
apud LAZZARINI, 1999, p. 239)
Para que a Polícia possa então, definitivamente, exercer o papel social que
lhe compete, o Estado lhe confere o Poder de Polícia, fundamento básico para as
ações das polícias. Sobre o tema, Álvaro Lazzarini assim leciona:
Ou ainda:
22
Disponível em <http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_c.html#comunidade>. Acessado em: 28
mar. 2010.
23
Rocha, R. Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Ed. Universo Ltda. 1988, p. 1550.
28
24
CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 38.
29
25
O artigo “Modernidade Líquida: análise sobre o consumismo e seus impactos na Sociedade” busca,
reportando-se ao pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais especificamente do
Capítulo II (Individualidade), do livro “Modernidade Líquida”, investigar os impactos provocados nas
mais variadas esferas pessoais carreados pela passagem do “antigo mundo” para a pós-modernidade
e, de modo mais pontual, no que tange aos padrões comportamentais marcados pelo individualismo
e, sobretudo, pelo consumo.
26
SKOLNICK, Jerome H.; Bayley, Davis H. Nova Polícia: Inovações na Polícia de Seis Cidades
Norte-Americanas. São Paulo: Edusp, 2006. (Série Polícia e Sociedade, nº 2)
30
27
Sociedades desiguais não são necessariamente criminógenas, assim como pobreza, sozinha, não
gera crime. Mas ambas são condicionantes que, somados a outros fatores criminógenos, influenciam
no crescimento da criminalidade e violência.
31
Pública. O texto legal reafirma estes ideais e sugere a construção da paz social
através de esforços conjugados entre polícia e comunidade.
Observa-se, entretanto, que as expressões Polícia Comunitária (filosofia de
trabalho) e Policiamento Comunitário (ato de policiar junto à comunidade) são
usadas eventualmente na doutrina de forma indistinta, quando na prática
representam termos técnicos diferentes com definições próprias.
Para elucidar a confusão existente entre os termos, socorremo-nos dos
ensinamentos de Bondaruk e Souza, (2007), extraída da obra “Polícia Comunitária:
polícia cidadã para um povo cidadão”:
Marcineiro (2009), sob a ótica das mais diversas obras por ele citada no livro
“Teoria de Polícia Comunitária”, faz uma síntese sobre o tema:
28
A idéia de formar comunidades autossustentáveis em segurança (comunidades competentes para
solucionar seus próprios problemas) é uma possível interpretação dada ao art. 144 da CF/88, que
norteia o trabalho da Polícia Comunitária.
37
31
“Um mito é uma história sobre experiência humana envolvendo o SAGRADO. Nos sistemas de
crenças religiosas, o mito é muitas vezes usado para explicar as origens de tradições religiosas, como
nas narrativas sobre o nascimento, vida e morte de Jesus, ou a difícil jornada espiritual de Buda. É
usado também para ilustrar as muitas maneiras como valores e crenças religiosas fundamentais se
aplicam às experiências da vida diária. Em suma, o mito serve freqüentemente como uma maneira
ritualística de afirmar um senso comum do “de onde viemos e como chegamos aqui”. Em sentido
relacionado e mais amplo, pode ser usado para legitimar sociedades inteiras. Mitos heróicos sobre
figuras decisivas na formação de nações-estado (tais como heróis revolucionário), por exemplo,
desempenham papel importante na glorificação e perpetuação de arranjos sociais correntes. O
39
antropólogo Claude LÉVI-STRAUSS argumentava que a função principal do mito pouco tem a ver
com a explicação ou justificação da realidade social, mas serve, sim, para corporificar categorias
lingüísticas básicas , que são fundamentais para qualquer compreensão cultural da realidades.
Dualidades como amor/ódio, homem/ mulher, bem /mal, alto/baixo situam-se no núcleo da ordem
cultural que usamos para extrair sentido da realidade. O mito, de acordo com Lévi-Strauss, aplica-se
a essas categorias de maneiras que as reafirmam como forma legítima de pensar sobre o mundo.”
(JOHNSON, 1997, p. 137)
40
33
Depois de um delito estar consumado existe uma seqüência delimitada pela lei que obriga a
adoção da postura policial tradicional de deliverer. Contudo, dentro da idéia de quase-delito, pode-se
dizer que este é o momento em que já é possível perceber o estado de emergência de um conflito
que tem relevância para a segurança pública, embora ainda não possa ser definido como um delito
propriamente dito, logo não enseja um ato de dever de oficio do policial. Os quase-delitos são
aquelas série de pequenos atos que até poderiam ser interpretados como crimes de menor potencial
ofensivo, mas como se trata de fase pré-delitual onde muitas vezes não sem tem claro os seus atores
e as competências ainda não estão muito bem definidas, possibilita ao policial entrar em cena de
modo a evitar que o conflito venha a emergir ou tenha uma margem maior de liberdade
(discricionariedade) para desmobilizar o conflito de outras formas, haja visto seu papel de polícia
preventiva nos moldes comunitário. Para uma polícia que se caracteriza por ser “cartorial” ou “de
transporte”, agir depois que o delito ocorreu é interessante porque segue a lógica do ciclo policial.
Mas para uma polícia preventiva isso não parece ser uma idéia muito inteligente. Os casos de quase-
delitos merecem soluções inteligentes e menos de última ratio, fugindo da lógica do modelo
tradicional de resposta. No ambiente escolar, por exemplo, haverá uma série de situações e conflitos,
fruto do relacionamento interpessoal dos atores escolares, que se encontram numa zona cinzenta
onde as competências não estão muito bem definidas. Teoricamente não chega a ser um delito (é
menos que um caso de crime ou de contravenção penal), mas ultrapassa a esfera da (in)disciplina (é
maior do que somente um problema educacional). Pode-se dizer que é a situação que está no limbo
entre o delito e a (in)disciplina, proporcionando um excelente locus de atuação para o policial
comunitário escolar gerenciar em parceria com a comunidade escolar, contrapondo-se a idéia
tradicional do deliverer. As situações de quase-delito no ambiente escolar abrem portas para que o
policial comunitário navegue no universo das infinitas possibilidades de soluções inteligentes. São
casos que ensejam uma análise apurada e individual (caso a caso) pelo profissional da área de
segurança, de forma que ele perceba o locus de entrada do preventivo policial, o que exige
naturalmente deste profissional um conhecimento intelectual mais apurado e um traquejo diferenciado
do modelo tradicional para o qual ele foi tradicionalmente talhado.
42
Sob esta ótica, o policial comunitário é um agente da lei que atua em zonas
de incerteza, que ao contrário do policial tradicional, não possui um modelo
predeterminado de intervenção. Neste viés, o policial comunitário navega no campo
das infinitas possibilidades, ora atuando como policial na sua essência, ora como
assistente social; ora como negociador, mediador, educador e às vezes até mesmo
no papel de psicólogo.
Observa-se, sobretudo, o papel pedagógico do policial comunitário na
comunidade, no sentido de compartilhar responsabilidades, informações e soluções
diante dos problemas detectados. E ao contrário do tradicional, que é focado
essencialmente em intervenções pontuais, no policiamento comunitário o trabalho é
de construção em forma de parceria com a comunidade e todos os seus segmentos,
adotando medidas de curto, médio e longo prazo.
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Maria Aparecida Perez, como a grande maioria dos autores, não define
comunidade escolar, mas parte do pressuposto de que esta, dentro da égide de
democratização, está sub-entendida:
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Dentre os vários significados na língua inglesa, deliverer significa entregador. Palavra originária de
delivery, comumente conhecido no Brasil pelo amplo sistema de disk pizza e entrega a domicílio. O
termo é utilizado como metáfora ao sistema tradicional de policia (Sistema Delivery de Polícia), cujo
funcionamento resumidamente se restringe à solicitação de prestação do serviço policial junto ao
número emergencial do 190, cujo desfecho, na grande maioria das vezes, contempla o
encaminhamento das partes envolvidas em um conflito para uma delegacia de área. É a polícia que
chega ao evento e transfere o momento de resolução do conflito. Dentro do ciclo de polícia é a que se
tornou na prática uma polícia dita “cartorial” ou “de transporte”.
52
Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em outras
profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua
especialidade. Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos
obriga a repensar o agente educacional de forma mais includente. No
passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, professores e
especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com primazia, no rol
pedagógico, também outras profissões irrecusavelmente formadoras de
consciência e opinião: médicos, advogados, jornalistas e policias, por
exemplo. O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais
abrangentes, é um exemplo de legítimo educador. Essa dimensão é
inabdicável e reveste de profunda nobreza a missão policial, quando
conscientemente explicitada através de comportamentos e atitudes. É por
esses comportamentos e atitudes, mais do que por suas palavras, que o
policial educa. (BALESTRERI, 2003, p. 24)
53
35
“Para ser respeitada como um lugar de paz, antinômico à qualquer forma de violência, a escola
deve fazer reconhecer sua especificidade: ela não funciona dentro da mesma lógica e segundo as
mesmas leis que a família, o grupo de amigos, a rua, a comunidade. Quando se entra na escola,
entra-se em um outro mundo, no qual as normas e as regras são diferentes. A primeira regra é que a
escola é um local da palavra, de uma palavra que pode ser posta em dúvida, que deve apresentar
seus argumentos e suas provas, ao invés de ordens que devem ser obedecidas em nome da
autoridade única que as ordena”. (CHARLOT, 2006, não paginado)
36
Os educadores sociais são uma família muito politizada. Costumam ser formadas por pessoas
comprometidas e com uma clara tendência para as opções progressistas, de esquerda. Essa lógica
não é casual, pois boa parte dos educadores sociais atuam em setores sociais mais desfavorecidos,
o que naturalmente requer ou gera uma especial sensibilidade social. Uma sensibilidade que faz ver a
necessidade da mudança social, nutrida de um pensamento progressista e igualitário da
modernidade. (ROMANS, 2003)
54
Problemas em nível estratégico por parte dos Comandos podem ser um dos
principais desvios em sede policial. Não deixar claro aos policiais comunitários qual
a sua principal incumbência pode fazer com que este profissional da segurança
cidadã seja mera figura decorativa dentro da geografia escolar ou mesmo ensejar
situações complicadoras.
Por falta de clareza, este policial, por ser um estranho tentando conquistar
seu espaço na comunidade escolar, pode perder o foco de sua atuação e, por boa
vontade, se submeter a outros tipos de papéis que os integrantes da comunidade
acham que seja sua atribuição, banalizando por completo o serviço de Policiamento
Comunitária Escolar.
Um dos desdobramentos muito comum causado pela indefinição da atuação
policial comunitária dentro da escola seria a terceirização das questões disciplinares
para a polícia. O policial passaria a ser fagocitado pelo sistema escolar, onde a
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37
Muitas atrocidades cometidas pelos policiais são reflexo de uma sociedade que exige esse tipo de
comportamento. Tem de moralizar a polícia, mas moralizar antes a sociedade que exige o
comportamento agressivo. (MV Bil. In: SANCHES, 2010, p.115)
38
Neste sentido, fomentar uma campanha de parceria entre polícia e comunidade é sedimentar uma
Cultura de Segurança e de Polícia Comunitária que possibilitará alcançar sucesso nas ações
preventivas que se pretenda construir com a comunidade. É aceitar e assumir perante a comunidade
os erros da própria corporação e, dentro do papel pedagógico do policial comunitário, desconstruir a
idéia de que a polícia ou é permissiva demais ou quando age, o faz num viés de inimigo da
sociedade. Sob esta ótica, é saber trabalhar com os extremos sem ser extremista. É encontrar o
equilíbrio dentro da legalidade.
39
Nota-se, então, que a resposta agressiva é função tanto da tendência que possuem certos sujeitos
de enxergar motivações maléficas nos outros, quanto da pobreza de seu repertório cognitivo para
equacionar tais situações. Para combater a agressividade do sujeito em questão seria necessário,
então, agir em duas frentes. Eliminar sua tendência a interpretar aborrecimentos da vida cotidiana
como provocações pessoais. O que se faria mostrando-lhe a irrealidade de seu modelo de
pensamento. E, ao mesmo tempo, ajudando-o a desenvolver modelos de reação socialmente
adequados ao encaminhamento de situações provocativas. Como essa abordagem acredita que a
agressividade é uma distorção cognitiva pessoal, é no próprio sujeito – e não na sociedade – que se
deve processar a cura. (SELL, 2006, p. 219-220)
62
40
Jovens Construindo a Cidadania do Brasil (JCC Brasil) – o programa de origem ao JCC, o
Youth Crime Watch (Jovens Contra o Crime), foi criado nos Estados Unidos da América do Norte em
1979 como conseqüência direta de uma comunidade inconformada, que se uniu contra a injustiça
após o caso de violência sexual contra uma jovem de 12 anos. O programa experimental Youth Crime
Watch, inicialmente criado na Flórida, foi um sucesso total. No seu primeiro ano de implantação, o
programa ajudou a reduzir os problemas de drogas e crimes nas escolas nas quais o projeto foi
implantado. As reduções foram em níveis superiores a cinqüenta por cento (50%). Igualmente
importante foi a mudança nas atitudes dos estudantes. Eles estavam aprendendo que tinham o poder
de fazer a diferença. Estudantes estavam notificando crimes, puderam-se notar resultados positivos e
um significante aumento na moral dos jovens. O Youth Crime Watch se tornou uma entidade nacional
em 1986 com a criação do “Youth Crime Watch of América – YCWA”, uma organização sem fins
lucrativos visando apoiar e dar seguimento ao sucesso do Youth Crime Watch, ajudando a difundir os
ideais por todos os Estados Unidos da América do Norte. No Brasil, o programa “Jovens Construindo
a Cidadania do Brasil” atrai jovens de todas as classes sociais com a finalidade de identificar e corrigir
problemas em comum às suas escolas e comunidades. O programa cria dispositivos que incentivam
a participação dos próprios jovens na resolução dos problemas que os cercam. Os jovens assumem a
posição de fundadores dos seus próprios programas JCC para suas escolas ou comunidade. JCC
provê aos jovens toda a assistência necessária para o desenvolvimento de programas liderados por
jovens cuja missão inclua qualquer um dos nove componentes do JCC. Estes componentes são
partes da filosofia “Observe – Ajude” do JCC. Os principais atores do programa são os jovens, seus
pais ou responsáveis, os educadores, policiais e agentes da lei e voluntários, e seus objetivos são:
criar um ambiente livre de crimes e drogas, através de um movimento liderado pelos próprios jovens;
ressaltar a importância de boas atitudes, promover o valor cívico e estimular autoconfiança nos
jovens e fazer com que os próprios jovens sejam os instrumentos de prevenção de crimes, uso de
drogas e violência nas escolas e comunidades. (Disponível em:
<http://www.ycwa.org/world/port/index.html>. Acesso: 09 jul. 10.)
63
41
A idéia de formação de uma Cultura de Educação Preventiva sobre Drogas com a comunidade alvo
do policiamento comunitário escolar, deve ser trabalhada de forma adaptada à cultura local. O
modelo proposto deve estar adequado à realidade e às necessidades de cada comunidade, levando
em consideração as características daquele locus, como aspectos sócio-culturais, faixa etária do
público alvo, condições sanitárias, os mitos que se encontram por trás das drogas, etc, amoldando o
discurso dos policiais com base no contexto social pré-existente.
42
Quando falamos aqui em situação de risco, estamos nos referindo aos fatores de risco sociais em
que estão expostos os indivíduos sociais, e que podem estar presentes no próprio indivíduo, na
família, na escola, nos grupos e nas comunidades. (PEROVANO, 2006, p. 37)
64
43
A criança e o adolescente são considerados população de risco para o uso experimental das
drogas. Os efeitos são potencializados em função da imaturidade do organismo e da indefinição dos
padrões de comportamento adaptativos e definidores da estrutura da personalidade. A substância
psicotrópica não atua apenas no sistema nervoso central, mas em todo o organismo. (PEROVANO,
2006, p. 50)
44
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à violência (PROERD) - após diagnosticar
falhas nos organismos de repressão ao tráfico e aos usuários de drogas, o Departamento de Polícia
de Los Angeles, nos Estados Unidos da América, desde 1983, vem aplicando um programa
educacional que visa prevenir estudantes em idade escolar dos males causado pelo uso das drogas e
conseqüências advindas, como a violência. Denominado “Drug Abuse Resistance Education - DARE”,
o programa, que foi criado pela Professora Ruth Rich e equipe de educadores e desenvolvido em
conjunto com o Departamento de Polícia daquela localidade, vai além dos tradicionais projetos sobre
prevenção ao uso das drogas, pois ensina as crianças a reconhecerem e a resistirem às classes
dessas substâncias psicotrópicas, e principalmente identificarem pressões pessoais e de grupos, da
mídia e outros canais. O “Programa Educacional de Resistência às Drogas e à violência – PROERD”,
que corresponde a uma adaptação da sigla Norte Americana DARE/AMERICA, está presente
atualmente nos 50 Estados Americanos e em 58 países nos cinco continentes, e já beneficiou ao
redor do mundo aproximadamente 40 milhões de crianças. Presente no Brasil, desde 1992, o
programa está sendo aplicado pelas Polícias Militares em todos os Estados. O PROERD possui a
meta de educar as crianças no ambiente da educação formal, na escola. Reúne esforços para o
trabalho conjugado com a família, a escola e a polícia e tem por principais objetivos: atuar como
multiplicador de informações preventivas sobre drogas e violência, com foco na valorização da vida;
estabelecer uma estratégia preventiva para reforçar os fatores de proteção, em especial referentes à
família, escola e comunidade; favorecer o desenvolvimento da resistência em jovens que podem
correr o risco de envolverem-se com drogas e/ou apresentarem comportamento violento e concentrar
esforços no desenvolvimento de competência social, liberdades de comunicação, auto-estima,
empatia, tomada de decisões e resolução de conflitos. (PEROVANO, 2006)
45
Lei nº 8.069, de 13 Jul. 1990. (Estatuto da Criança e do Adolescente)
65
46
A Mediação de Conflitos é um método autocompositivo também dedicado à restauração da relação
social, o que a diferencia de outros métodos autocompositivos como a negociação e a conciliação. É
um processo de diálogo que inclui a desconstrução do conflito, o restauro da relação social e a
67
construção de soluções em co-autoria. Sua operacionalização foi assim pensada porque acredita-se
que a co-autoria, e a resultante co-responsabilidade necessária para o cumprimento do acordado,
somente podem advir daqueles que puderam tratar o conflito existente entre eles. (Disponível em:
<http://www.mediare.com.br/08artigos_12mediacaodeconflitos.html>. Acessado em: 10 jul. 10)
47
Metas Superordenadas podem ser definidas como objetivos compartilhados que não podem ser
alcançados sem que haja a cooperação mútua entre partes conflitantes.
48
Quando um aluno é expulso da escola ou lhe é concedido uma transferência compulsória em razão
de uma falta disciplinar grave, este aluno simplesmente vai migrar com todos os seus problemas de
comunidade escolar para comunidade escolar e assim sucessivamente, mas continuará, de fato,
sendo um problema para as escolas. E, se em algum momento este aluno desistir de estudar e
abandonar o contexto educacional formal, sob o ponto de vista do Estado não muda nada. Para evitar
que este aluno-cidadão seja definitivamente perdido pelo sistema escolar, o que é que se pode fazer
antes da ultima ratio da escola? A proposta de criação de um comitê de segurança escolar seria
justamente trabalhar com as questões escolares de quase-delitos como um mecanismo intermediário
antes da expulsão ou da concessão compulsória de transferência, de modo que se obtenha uma
espécie de moratória para se tentar alternativas ainda não utilizadas a fim de resgatar este aluno-
cidadão e evitar sua expulsão, impedindo, desta forma, que a falência do modelo educacional
proposto seja chancelada.
68
5 CONCLUSÃO
dimensão ainda não vista nos moldes tradicionais, quando se constrói com a
comunidade uma polícia que satisfaça ao modelo de sociedade democrática. Ao
mesmo tempo em que permeia a seara da educação sócio-preventiva, o policial
comunitário escolar constrói com a comunidade facetas multiculturais. Ao lidar com
situações de pessoas em conflito com a lei, sem necessariamente abandonar o
processo educativo, constrói com a escola pontes de possibilidades para concretizar
as transformações sociais almejadas, legitimando seu espaço através do saber e do
conhecimento.
Na medida em que as Polícias Militares vão gradativamente aceitando e
adotando a Polícia Comunitária como principal estratégia institucional de
policiamento e os governos, da mesma forma, a elevando ao status de política
pública de Estado, em contraposição à idéia de programa de governo, o
Policiamento Comunitário Escolar, dentro de um viés sócio-educativo, apresenta-se
como uma real possibilidade de reaproximação cidadã entre polícia e comunidade,
provando ser uma estratégia alternativa e inteligente para formar comunidades
escolares autossustentáveis em segurança, introduzindo no seu repertório de êxitos
a prevenção ao crime, a redução do medo e a construção conjunta de práticas
legítimas de segurança.
71
6 REFERÊNCIAS
CHARLOT, Bernard. A violência na escola: o que a escola pode fazer e como? In:
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