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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR

BIGUAÇU
2010
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR

Monografia apresentada como requisito


parcial para obtenção do título de
Especialista em Gestão de Polícia
Comunitária, pela Universidade do Vale
do Itajaí, Centro de Educação Biguaçu.

Orientador: Prof. Dr. Sandro Sell.

BIGUAÇU
2010
ELIÉSER ANTONIO DURANTE FILHO

POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de Especialista em


Gestão de Polícia Comunitária e aprovada pelo Curso de Pós-Graduação da
Universidade do vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.

Área de Concentração: _______________________

Biguaçu, 21 de agosto de 2010.

Prof. Dr. Sandro Sell


UNIVALI – CE de Biguaçu
Orientador

Prof. _________________
UNIVALI – CE de _______
Membro

Prof. __________________
UNIVALI – CE de ________
Membro
Dedicatória

Ao meu bom Deus pela oportunidade e


constante iluminação.

À minha doce e amada Lilian pelo esforço


dispensado durante os milhares de
quilômetros viajados, sempre
demonstrando distinta paciência,
companheirismo e extrema alegria que
serviram de fonte de inspiração para que
este trabalho pudesse acontecer.

E à minha querida mãe pelo apoio e


especial atenção conferidos durante a
elaboração desta monografia.
Agradecimento

Ao amigo e Professor Dr. Sandro Sell,


pessoa excepcional que soube
compartilhar de modo inteligível do seu
conhecimento transcendente e visão
distinta em relação ao universo social
contemporâneo. Agradeço sinceramente
a este grande mentor que, ao abrilhantar
os momentos de orientação, lapidou as
idéias deste aluno, potencializando
produção de conhecimentos e
possibilitando compreender a importância
da inovação ideológica sobre a arte de se
pensar e fazer polícia.
RESUMO

O trabalho tem por finalidade demonstrar que a estratégia institucional de Polícia


Comunitária é uma alternativa possível aos métodos tradicionais de combate ao
crime (policiamento tradicional) e sugerir o Policiamento Comunitário Escolar como
intervenção policial especializada. Com base na percepção e experiência do autor
corroborada pelo levantamento bibliográfico e análise de conteúdos, os dados e a
discussão demonstram que a Polícia Comunitária é o modelo preventivo que está
em sintonia com os ideais de um Estado Democrático de Direito, que melhor
representa o novo paradigma da democracia participativa e possibilita restabelecer a
credibilidade da polícia. Apesar de não existir um consenso na doutrina em relação
aos resultados efetivos de diminuição da criminalidade por falta de análises
acuradas dos resultados e políticas públicas continuadas, conclui-se que o
Policiamento Comunitário Escolar é uma real possibilidade de reaproximação cidadã
entre polícia e comunidade. Prova ser uma estratégia inteligente de implementar o
policiamento comunitário para formar comunidades escolares autossustentáveis em
segurança, incluindo no seu repertório de êxitos a prevenção do crime, a redução do
medo e a construção de práticas legítimas de segurança.

Palavras-chave: Escola. Polícia Comunitária. Polícia Militar. Segurança Pública.


ABSTRACT

This study aims to demonstrate that the institutional strategy of a Community Police
is a possible alternative to the traditional methods of combating crime (traditional
policing) and to suggest the Scholastic Community Policing as a cop specialized
intervention. Based on perception and the author´s experience helped by literature
review study and content´s analysis, the data and discussion show us that
Community Policing is the preventing model that is in sintony with the ideals
Democratic State of Right, which better represents the new paradigm of participatory
democracy and allows restoration of police credibility. Although there is no
consensus on the doctrine in relation to actual results of reduced crime due to lack of
a accurate analysis of results and public policy continued, it is concluded that the
Scholastic Community Policing is a real possibility of rapprochement citizen between
police and community. It proves to be a smart strategy to implement community
policing as a form to achieve self-sustainable security in school communities,
including in their repertoire of successes: crime prevention, reduction of fear and
building legitimate security practices.

Keywords: School. Community Policing. Military Police. Public Safety.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................10
2 POLÍCIA MILITAR E A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988 ....................................................................................................................12
2.1 SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 .............................12

2.2 POLÍCIA MILITAR E SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS...................................14

2.3 ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR....................................................................17

2.3.1 Polícia Ostensiva Preventiva .................................................................17

2.3.2 Polícia Ostensiva Repressiva ................................................................18

2.4 SEGURANÇA PÚBLICA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA ........................20

2.4.1 Polícia Comunitária: Convergindo Para Uma Nova Ideologia ...............23

3 POLÍCIA COMUNITÁRIA: UMA FILOSOFIA EM ASCENSÃO...........................25


3.1 POLÍCIA, PODER DE POLÍCIA E COMUNIDADE ......................................25

3.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ...................30

3.3 MODELO TRADICIONAL VERSUS COMUNITÁRIO...................................35

3.3.1 Filosofia de Origem................................................................................36

3.3.2 Missão Policial e a Importação de Modelo ............................................37

3.3.3 O Mito policial e as ocorrências do cotidiano.........................................38

3.3.4 Origem da Informação ...........................................................................42

3.3.5 Atuação Policial .....................................................................................42

4 POLICIAMENTO COMUNITÁRIO ESCOLAR ....................................................44


4.1 COMUNIDADE ESCOLAR COMO FOCO DO POLICIAMENTO
COMUNITÁRIO.........................................................................................................44

4.1.1 Educação Social e o Papel Pedagógico do Policial...............................51


4.1.2 Possíveis Desvios por Parte da Polícia, da Escola e da Comunidade ..57

4.2 SUGESTÕES DE MACROINTERVENÇÕES ..............................................60

4.3 SUGESTÕES DE MICROINTERVENÇÕES................................................66

5 CONCLUSÃO .....................................................................................................68
6 REFERÊNCIAS ..................................................................................................71
10

1 INTRODUÇÃO

Não há dúvida de que se está vivenciando um importante momento de


intensas mudanças no cenário social contemporâneo. Um contexto de extrema
relevância no desenvolvimento da sociedade, que enseja superação de paradigmas,
especialmente nas questões de Segurança Pública.
Invariavelmente, uma ocasião deveras complexa para as organizações
policiais, particularmente para as Polícias Militares - talhadas dentro de uma lógica
digna de um Estado de Polícia - uma vez que se solidifica a idéia de democracia
participativa, fruto de um legítimo Estado de Direito.
Tradicionalmente as Polícias Militares de toda Federação adotam como
principal estratégia institucional de policiamento o combate profissional do crime.
Forças de combate tipicamente militares, disciplinadas e tecnicamente sofisticadas,
caracterizam-se por serem reativas e atuarem precipuamente sob o enfoque de
controle do crime enquanto missão exclusiva da polícia.
Operacionalmente sua principal tecnologia é o rádiopatrulhamento – patrulha
motorizada suplementada por rádio transmissor – que atua de modo a criar uma
sensação de onipresença, cuja eficiência é medida pelo tempo de resposta aos
chamados emergenciais.
Contudo, percebe-se que o modelo tradicional de polícia não tem respondido
às expectativas de uma sociedade genuinamente democrática, cuja dinâmica social
atual não permite mais a inércia dos segmentos policiais em insistirem na
manutenção de um ciclo vicioso de prestação de serviço com qualidade duvidosa.
Nesse aspecto, o policiamento tradicional vem mostrando-se bastante falho
na sua capacidade de controlar, prevenir e analisar as causas do crime, levando a
efeito o distanciamento entre polícia e comunidade.
Observando as diversas experiências das organizações policiais de países
modernos de tradição democrática, e mesmo nos países de cultura oriental, e seus
esforços no sentido de buscarem mecanismos alternativos ao policiamento
convencional, o presente trabalho busca permear o avanço em relação à mudança
de paradigma institucional das Polícias Militares, defender a Polícia Comunitária
como a filosofia de trabalho que melhor coaduna com os preceitos constitucionais de
segurança cidadã e, perante a forte tendência das forças policiais em se
11

especializarem cada vez mais, propor o Policiamento Comunitário Escolar como


forma de instrumentalização específica de intervenção policial nos moldes
comunitário.
12

2 POLÍCIA MILITAR E A SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO


FEDERAL DE 1988

2.1 SEGURANÇA PÚBLICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

Com a redemocratização do país, período pós-1985, e o surgimento de um


Estado Democrático de Direito, amplas conquistas ascenderam, dentre elas o
nascimento da Constituição da República de 1988, também batizada de
“Constituição Cidadã”. Assim chamada por Ulysses Guimarães1, a nova Carta
Magna, quantificou sobremaneira direitos e garantias fundamentais, priorizando o
cidadão brasileiro e revelando seu verdadeiro espírito democrático.
Não obstante, a Constituição de 1988 elevou a matéria “Segurança” ao
status de direito e garantia fundamental, conforme caput do art. 5º 2. Souza Neto,
(2008) assevera que o direito à segurança deve ser universalizado equitativamente,
ou seja, estar indistintamente ao alcance de todos. Esse entendimento se extrai da
leitura do caput do art. 144 da CF/88, que alude ser segurança pública dever do
estado, razão de ser direito e responsabilidade de todos, devendo ser exercida para
a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.
Sob essa ótica, pode-se afirmar que Segurança Pública, enquanto direito
inalienável do ser humano, é uma necessidade, uma aspiração básica de qualquer
pessoa e de fundamental importância na sensação de bem estar. Está intimamente
ligada ao processo de desenvolvimento de uma nação, a sua qualidade de vida e na
consecução do Bem Comum3.

1
Ulysses Silveira Guimarães (nascido em 6 de outubro de 1916, na cidade de Itirapina, São Paulo,
falecido em 12 de outubro de 1992, no litoral de Angra dos Reis, Rio de Janeiro) foi um político e
advogado brasileiro que teve grande papel na oposição à ditadura militar e na luta pela
redemocratização do Brasil. Exerceu a presidência da Câmara dos Deputados em três períodos
(1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988), presidindo a Assembléia Nacional Constituinte, em 1987 à
1988. A nova Constituição, na qual Ulysses teve papel fundamental, foi promulgada em 5 de Outubro
de 1988, tendo sido por ele chamada de Constituição Cidadã, pelos avanços sociais que incorporou
no texto.
2
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade [...] (Constituição Federal de 1988)
3
Os valores da preeminência da pessoa, da liberdade individual, da igualdade fundamental entre os
homens e da fraternidade foram, portanto, os inspiradores do conceito de Bem Comum,
materializando uma visão tomista que conduz ao seguinte entendimento: Ideal de convivência que,
transcendendo à busca do bem-estar, permite construir uma sociedade onde todos, e cada
um, tenham condições de plena realização de suas potencialidades como pessoa e de
13

De acordo com o Manual Básico da Escola Superior de Guerra, conceitua-se


Segurança Pública4 como sendo a garantia da manutenção da Ordem Pública,
mediante a aplicação do Poder de Polícia, prerrogativa do Estado.
Por sua vez, a expressão Ordem Pública5 é tida por muitos juristas como
sendo de definição etérea (vaga e ampla), que varia no tempo e no espaço, sendo
mais fácil a sua percepção na vida social.
De acordo com o Decreto nº 88.777/83, que aprova o Regulamento para as
Polícias Militares e Corpo de Bombeiros Militares, Ordem Pública define-se como
sendo o conjunto de regras formais, que emanam do ordenamento jurídico da
Nação, tendo por escopo regular as relações sociais de todos os níveis, do interesse
público, estabelecendo um clima de convivência harmoniosa e pacífica, fiscalizado
pelo poder de polícia, e constituindo uma situação ou condição que conduza ao bem
comum.6
Apesar da dificuldade de aferição dos conceitos de Ordem Pública e de
Segurança Pública, o constituinte soube inter-relacioná-los de maneira adequada.
Portanto, guardada a correta grandeza entre estes conceitos jurídicos imprecisos,
pode-se concluir que a atividade de Segurança Pública, associada à da
Tranquilidade Pública e da Salubridade Pública, compõe aspectos ou elementos
fundamentais da Ordem Pública.
Nota-se, ainda, que o constituinte passou a dispensar maior preocupação
com a Segurança Pública, quando no Título V da Carta Magna, que cuida “Da
Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”, dedicou o Capítulo III, “Da
Segurança Pública”, integralmente ao tema, conforme redação dada pelo art. 144.

conscientização e prática de valores éticos, morais e espirituais. (MANUAL BÁSICO DA ESG,


2009, p.12-13)
4
A Segurança Pública pressupõe, portanto, a participação direta do Estado, da Sociedade e de seus
membros, observadas as normas jurídicas que limitam e definem suas ações. Entende-se como
componentes do Estado o conjunto de todos os níveis de competência da Administração Pública –
Federal, Estadual e Municipal. (MANUAL BÁSICO DA ESG, 2009, p.60)
5
A garantia do exercício dos direitos individuais e a manutenção da estabilidade das instituições, bem
como o bom funcionamento dos serviços públicos e o impedimento de danos sociais, caracterizam a
Ordem Pública, objeto da Segurança Pública. Os serviços públicos incluem todas as atividades
exercidas pelo Estado, com ênfase nas administrativas, de polícia, de prestação de serviços,
judiciárias e legislativas. Ordem Pública é a situação de tranqüilidade e normalidade cuja
preservação cabe ao Estado, às Instituições e aos membros da Sociedade, consoante as
normas jurídicas legalmente estabelecidas. (MANUAL BÁSICO DA ESG, 2009, p.60)
6
Nº 21, do art. 2º, do Decreto nº 88.777, de 30 Set. 83.
14

Outrossim, “deu dignidade constitucional a órgãos policiais até então


inexistentes em termos constitucionais, como a Polícia Rodoviária Federal, a Polícia
Ferroviária Federal e as Polícias Civis.” (LAZZARINI, 1999, p. 70)
O aludido artigo 144 preceitua, ainda, que a Segurança Pública do país será
realizada pela Polícia Federal (inc. I), Polícia Rodoviária Federal (inc. II), Polícia
Ferroviária Federal (inc. III), Polícias Civis (inc. IV), Polícias Militares e Corpo de
Bombeiros Militares (inc. V) e, por assemelhação, as Guardas Municipais (§ 8º),
desta forma atendendo duplamente “aos reclames sociais e a redução da
possibilidade de intervenção das Forças Armadas na segurança interna”. (MORAES,
2000, p. 623)
A previsão constitucional dos órgãos policiais é taxativa, sendo vedada, em
qualquer esfera estatal, a criação de qualquer outro organismo policial encarregado
pela Segurança Pública, além dos existentes. Por outro lado, o escalonamento dos
segmentos policiais, previstos no texto legal, não indica, em absoluto, condição
hierárquica entre os órgãos policiais, não havendo qualquer relação de subordinação
entre eles. (LAZZARINI, 1999).
Dessa leitura dinâmica que se faz do art. 144 da CF/88 é que se pode
vislumbrar as diferentes competências dos órgãos policiais, que se encontram bem
definidas no aludido artigo, proporcionando aos seus respectivos membros a
correspondente autoridade na área de sua atuação.

2.2 POLÍCIA MILITAR E SUAS ATRIBUIÇÕES LEGAIS

A Polícia Militar, instituição permanente e regular, organizada com base na


hierarquia e disciplina militares, possui atribuições definidas na Constituição Federal
de 1988 e legislação infraconstitucional complementar.
Basicamente, as organizações Policiais Militares são estruturadas em
órgãos de Direção, de Execução e de Apoio, de acordo com as finalidades
essenciais do serviço policial e as necessidades de cada unidade da federação.7

7
Art. 5º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69.
15

Os órgãos de Direção realizam o comando e a administração da


Corporação, competindo-lhes, em regra, a organização da Polícia Militar, bem como,
a coordenação, controle e fiscalização dos demais órgãos estruturais. Os órgãos de
Apoio realizam as atividades-meio8 da Corporação, atendendo às necessidades de
pessoal, de animais e de material de toda Polícia Militar, enquanto que, os órgãos de
Execução são constituídos pelas unidades operacionais e realizam as atividades-
fim9 da Polícia Militar.10
Da combinação da leitura dos §§ 5º e 6º, do art. 144 do texto constitucional,
tanto a Polícia Militar quanto o Corpo de Bombeiro Militar são consideradas forças
auxiliares e reserva do Exército. E, junto com as Polícias Civis, subordinam-se aos
Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios. Ainda nesse
sentido, observa-se a dimensão da missão constitucional Policial Militar no contexto
da Segurança Pública do país, a qual cabe a polícia ostensiva e a preservação da
ordem pública.
Ao abordar a atribuição constitucional da Polícia Militar, Álvaro Lazzarini é
categórico ao afirmar que, da “exegese do art. 144 da Carta, na combinação do
caput com o seu § 5º, deixa claro que na preservação da ordem pública a
competência residual de exercício de toda atividade policial de segurança pública,
não atribuída aos demais órgãos, cabe à Polícia Militar”. (LAZZARINI, 1999, p. 104)
Permeando o universo jurídico, a função Policial Militar caracteriza-se, em
regra, pela atividade de polícia administrativa, agindo a priori, preventivamente. De
acordo com a legislação infraconstitucional, a Policial Militar foi instituída para a
manutenção da ordem pública e a segurança interna nos Estados, nos Territórios e
no Distrito Federal.11
Não obstante a competência constitucional da Polícia Militar, a legislação
específica definiu uma série de outras atribuições. Dentre elas, destaca-se a de
executar com exclusividade, ressalvadas as missões peculiares das Forças

8
São aquelas que, embora não constituindo a finalidade da Corporação, são indispensáveis como
apoio à consecução dos seus objetivos. Denominam-se ainda de institucionais, adjetivas ou
instrumentais. Exemplos: pessoal, logística, ensino, dentre outras. (VALLA, 1999, p. 205)
9
São aquelas que dizem respeito diretamente aos objetivos específicos da Corporação, e aos
propósitos que determinam a sua criação e que justificam a sua existência. Denominam-se ainda
funcionais e substantivas, como por exemplo: os órgãos intermediários de comando, as unidades
operacionais de policiamento ostensivo, de busca, salvamento e combate a incêndios. (VALLA, 1999,
p. 205)
10
Arts. 6º, 7º e 8º, da Lei Estadual nº 6.774, de 08 Jan. 76 (Lei de Organização Básica da PMPR)
11
Art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº 2.010/83).
16

Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela autoridade competente,


a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da ordem pública e o
exercício dos poderes constituídos.12
Compete ainda ao referido órgão policial, atuar de maneira preventiva, como
força de dissuasão, em locais ou áreas específicas, onde se presuma ser possível a
perturbação da ordem13 e atuar de maneira repressiva, em caso de perturbação da
ordem, precedendo o eventual emprego das Forças Armadas.14
Loureiro, (2004) em seu artigo “As Polícias Militares na Constituição Federal
de 1988: polícia de segurança pública ou forças auxiliares e reserva do Exército?”,
denomina a função de “força auxiliar e reserva do Exército” como sendo uma função
eventual e secundária. De acordo com esse entendimento, a Polícia Militar deverá
também atender à convocação, inclusive mobilização, do Governo Federal em caso
de guerra externa ou para prevenir ou reprimir grave perturbação da ordem ou
ameaça de sua irrupção, subordinando-se à Força Terrestre para emprego em suas
atribuições específicas de polícia militar e como participante da Defesa Interna e da
Defesa Territorial.15 Poderá, ainda, ser convocada, em seu conjunto, a fim de
assegurar à Corporação o nível necessário de adestramento16 e disciplina.
Dessa composição textual, observa-se que há um sistema de competências
da União e dos Estados-Membros em relação à ordem pública do país, ligado às
condições dos governos estaduais, ante situações de agravamento interno, de
manterem a ordem pública nos estados em nível desejável ao bem estar coletivo.
Tanto é a importância do papel das Polícias Militares, dentro do Sistema de
Segurança Pública Nacional, que nos casos de falência operacional dos demais
órgãos policiais, que os tornem inoperantes ou incapazes de dar conta de suas
atribuições, como nos casos de greve, paralisação, etc., a competência da Polícia
Militar, na preservação da ordem pública, será estendida, englobando a competência
dos demais órgãos. (LAZZARINI, 1999)

12
Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
13
Letra “b”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
14
Letra “c”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
15
Letra “d”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
16
Atividade destinada a exercitar o policial militar individualmente e em equipe, desenvolvendo-lhe a
habilidade para o desempenho das tarefas para as quais já recebeu a adequada instrução. (nº 2, do
art. 2º, do Decreto nº 88.777, de 30 Set. 83)
17

Assim, pode-se afirmar convictamente que a Polícia Militar possui valiosa


importância no contexto da Segurança Pública do país. Como assevera Lazzarini,
(1999) é verdadeira força pública da sociedade e constitui órgão de preservação da
ordem pública para todo o universo da atividade policial.

2.3 ATUAÇÃO POLICIAL MILITAR

2.3.1 Polícia Ostensiva Preventiva

Compete exclusivamente à Polícia Militar, órgão de preservação da ordem


pública, desenvolver a atividade de polícia ostensiva, preventiva, fardada, portanto,
administrativa, ressalvadas exceções constitucionais expressas, como as referentes
às polícias rodoviárias e ferroviárias federais (art. 144, §§ 2º e 3º da CF/88).
“O adjetivo ostensivo refere-se à ação pública da dissuasão, característica
do policial fardado e armado, reforçado pelo aparato militar utilizado, que evoca o
poder de uma corporação eficientemente unificada pela hierarquia e disciplina”.
(LAZZARINI, 1999, p. 104)
“O policial-militar desenvolve sua missão de forma a ser identificado.
Observado, previne delitos, intimida a ação do marginal, que vendo sua presença e
a força que representa, não encontra condições de agir”. (ARDUIN, 2001, p. 2) “Para
o exercício da polícia preventiva, não resta dúvida, é conditio sine qua non a
ostensividade”. (LAZZARINI, 1999, p. 103)
Portanto, de modo invariável, é incongruente se falar em atividade
operacional da Policia Militar dissociada da idéia de ostensividade. Essa
característica é de importância tal que, além de inibir a atuação criminosa, propicia
uma rápida e fácil identificação deste aparato de Segurança Pública colocada à
disposição da sociedade.
É justamente através da ação de presença combinada com a identificação
do armamento, equipamento, viatura e aprestos, que são formas complementares
de reconhecimento (ostensividade), é que a Polícia Militar, quando da realização do
policiamento ostensivo preventivo, intenta transmitir à comunidade a tão almejada
18

sensação de segurança, pela certeza da cobertura policial-militar, buscando


resultados concretos de prevenção.
Nessa mesma linha de raciocínio, o legislador não discordou ao prever que
compete às Polícias Militares executar com exclusividade, ressalvadas as missões
peculiares das Forças Armadas, o policiamento ostensivo, fardado, planejado pela
autoridade competente, a fim de assegurar o cumprimento da lei, a manutenção da
ordem pública e o exercício dos poderes constituídos.17
Dentre as variáveis de policiamento ostensivo realizado pelas Polícias
Militares, também previstas em legislação específica, pode-se destacar: ostensivo
geral, urbano e rural; trânsito urbano e rodoviário, estes nas rodovias estaduais,
observadas as condições fixadas pelo Código de Trânsito Brasileiro, e portuárias;
florestal, de mananciais e de preservação ambiental; guarda das sedes dos poderes
estaduais; segurança externa dos estabelecimentos penais dos estados;
radiopatrulhamento terrestre, aéreo, lacustre e fluvial (a pé, montado, motorizado,
embarcado e aerotransportado); a polícia judiciária militar; prestação assistencial e
socorro em geral.
Isto explica o porquê da Polícia Militar estar presente em todos os Estados e
na maioria de seus municípios. É o órgão de Segurança Pública que se vê
diuturnamente. De todas as polícias, a militar é a que está mais próxima da
população, a qual, quer seja pelo seu caráter ostensivo ou pelo conhecido número
emergencial (o 190), torna-se referência de socorro à população diante do abalo de
sua segurança (VALLA, 1999).

2.3.2 Polícia Ostensiva Repressiva

Como bem salientado no tópico anterior, “a atuação policial militar, como


polícia administrativa, é eminentemente preventiva, objetivando dissuadir a quebra
da ordem pública”. (VALLA, 1999, p. 86)

17
Letra “a”, do art. 3º, do Decreto-Lei nº 667, de 02 Jul. 69. (Redação alterada pelo Decreto-Lei nº
2.010/83).
19

No entanto, haverá casos em que a Polícia Militar deverá restabelecer a


ordem pública, chamada também de repressão imediata, que pode também ser
considerada uma forma indireta de prevenção.
Tão logo haja a manifestação da ruptura da ordem pública, a Polícia Militar,
de imediato, deverá amparar o cidadão que teve seus direitos e garantias violados,
procedendo as diligências necessárias à captura dos delinquentes.
Para Álvaro Lazzarini, esta atuação repressiva por parte da Polícia Militar
situa-se no segundo segmento do Ciclo de Persecução Criminal, que ocorre entre o
instante da quebra da ordem pública e sua restauração:

[...] é o de menor duração no ciclo, mas nem por isso menos importante,
pois é nele que tem início a persecução criminal [...] a quebra da ordem
ocorrerá quando um ou mais elementos – segurança, tranqüilidade e
salubridade – for prejudicado. [...] Em havendo infringência de dispositivo
tipificado nas leis penais, inicia-se a atividade de polícia judiciária, que pode
ser comum ou militar, estadual ou federal, dependendo da esfera de poder
e competência do órgão judicial que apreciará o fato [...] ocorrendo o ilícito
penal, os atos de polícia que incidirem sobre eles serão de polícia judiciária,
conhecida por polícia repressiva, que, na verdade auxilia a repressão
criminal, privativa do Poder Judiciário e feita através da imposição da pena.
[...] neste caso o policial civil ou militar rege-se pelas normas do Direito
Processual Penal, estando ações sob a égide do Poder Judiciário,
destinatário final da ocorrência, além do controle externo pelo Ministério
Público, [...] A atitude policial é de repressão imediata. As medidas tomadas
pela Polícia são de ofício, pois independem de autorização superior e
visam, em qualquer hipótese, restabelecer a ordem pública, sendo
utilizadas, sempre, ações de contenção. (LAZZARINI, 1999, p. 94-95)

A Polícia Militar, além de atuar repressivamente no combate a


macrocriminalidade e ao crime organizado, na hipótese de agravamento do quadro
ou quebra da ordem, com ameaças à integridade física da sociedade, riscos sob as
propriedades públicas ou privadas, comprometendo o cumprimento das leis,
alterando o clima pacífico e harmonioso de convivência social, sob a direção do
Governo Estadual, compete também a adoção de medidas repressivas que visem o
restabelecimento da ordem, fazendo valer o seu caráter e sua condição de força
militar estadual (VALLA, 1999).
20

2.4 SEGURANÇA PÚBLICA E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Conforme inovação constitucional, o texto legal da Constituição Federal de


1988 deu uma nova dimensão à temática “Cidadania e Segurança Pública”.
Dimensão esta que nasceu em contrapartida ao antigo regime de governo ditatorial,
que se caracterizava, conforme Zaffaroni, (2003) pelo latente Estado de Polícia.
Época em que participação popular era secundária e prevalecia a submissão do
povo às imposições de um poder maior18.
Contudo, conforme enfatizado em 2.1, a Constituição da República
Federativa do Brasil, promulgada em 1988, inaugurou um novo cenário social,
intitulado Estado Democrático de Direito. Regime no qual se pretende prover a paz
social, na medida em que se resolvem melhor os conflitos sociais e a incidência do
Estado de Polícia é contida19.
Por consequência, um quadro relativamente mais complexo para as
instituições Policiais, em especial para as Polícias Militares dos Estados, pois
caracteriza-se justamente pelo antagonismo ao regime de governo anterior,
responsável pelos principais estigmas que assolam a imagem das corporações
militares20. Sobre este novo quadro, Marcineiro se posiciona:

[...] fruto das liberdades individuais, da livre manifestação da pluralidade


cultural e das garantias pessoais, entre outras, fazendo com que as
organizações encarregadas de preservar a ordem pública tenham que
desenvolver estratégias que incluam o cidadão no processo de construção
da ordem desejada, que respeitem os direitos e garantias individuais,
mesmo daqueles que tenham infringido o código de convivência social,
enfim, que seja garantida a condição de cidadão. (MARCINEIRO, 2009, p.
76-77)

Portanto, é crível que diante desta inovada conjuntura social, o grande


desafio das organizações policiais, seja pautar seu mister sobre a idéia da

18
O estado de direito é concebido como o que submete todos os habitantes à lei e opõe-se ao estado
de polícia, onde todos os habitantes estão subordinados ao poder daqueles que mandam.
(ZAFFARONI, 2003, p. 41)
19
O volume de conflitos suspensos por um estado será o indicador de sua vocação de provedor de
paz social e, por conseguinte, de sua força como estado de direito. (ZAFFARONI, 2003, p. 42)
20
No artigo “A Crise de Identidade das Policias Militares Brasileiras: Dilemas e Paradoxos da
Formação Educacional”, a autora, ao comentar sobre a mobilização das agencias policiais no
combate aos virtuais “inimigos do regime militar”, corrobora, em nota, sobre a conseqüente
fragilização da auto-imagem da corporação policial que foi, em boa medida, contaminada pela
memória ainda viva dos duros anos de repressão política. (MUNIZ, 2001)
21

Democratização da Segurança Pública. Estreitar laços de confiança com a


sociedade civil, com o escopo de garantir a participação popular através do livre
exercício da cidadania e da construção de um Estado efetivamente Democrático.
No preâmbulo constitucional, a Carta Magna institui o Estado Democrático
de Direito destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a
liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça
como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos,
fundada na harmonia social.
E em seu art. 1º e § único, além de estabelecer o fortalecimento da
Federação, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, declarar seus princípios fundamentais e ratificar a soberania popular,
instituiu a democracia participativa como um novo paradigma a ser quebrado.
Essa inovação constitucional pode ser considerada um avanço no processo
de alargamento da democracia, podendo ser observado, inclusive, nas questões
afetas à Segurança Pública. A constituição passou a tratar do assunto de maneira a
envolver os cidadãos na participação da construção de uma sociedade mais segura,
que viva em pleno equilíbrio e em busca do desenvolvimento e do bem comum.
(MARCINEIRO, 2009)
O art. 144 da CF/88 abarca essa idéia visionária ao expressar,
taxativamente, que a Segurança Pública, que sempre foi um dever do Estado e
direito de todo cidadão, seja também responsabilidade de todos. “Não é, portanto, só
o Estado que tem responsabilidade sobre a segurança pública”, mas “toda
comunidade de cidadãos tem tal responsabilidade nos limites constitucionais e
infraconstitucionais”. (LAZZARINI, 2003, p. 228)
Além de identificar a contribuição de cada segmento policial na preservação
da ordem pública, observa-se que o aludido artigo reafirma a idéia de exercício de
cidadania, de participação popular na construção da paz social, ratificando, assim, a
idéia de que exercício de cidadania e participação popular coexistem sobremaneira,
sendo indissociáveis uma da outra.
“O legislador, ao incluir no texto constitucional que todos, além de terem
direito à segurança pública, também têm responsabilidade, divide com a sociedade o
ônus do Estado de garantir que a ordem pública seja preservada.” (MARCINEIRO;
PACHECO, 2005, p. 45)
22

Ao esmiuçar o art. 144 da CF/88, percebe-se a importância da compreensão


de alguns termos transcritos no dispositivo legal. Dessa forma permite-se
contextualizar a base legal e a nova tendência de se fazer polícia, facilitando assim
seu correto direcionamento.
Assim, o primeiro a ser destacado é o termo preservação. Um termo que foi
incluído pelo legislador pela primeira vez na Constituição, em substituição ao termo
manutenção. Possui maior propriedade e amplitude, e abrange tanto os termos
manutenção, como os de prevenção e de restauração da ordem pública.
(LAZZARINI, 1999)
Adiante, é importante saber a que conceito preservação se refere, ou seja,
ao conceito de ordem pública. Na seção 2.1, a ordem pública pode ser também
compreendida pelo uso do termo sensação de segurança. Nesse enfoque, pode-se
afirmar que a pretensa ordem pública nada mais é do que a ausência de desordens
e, quando devidamente assegurada, garante também a tranqüilidade, a segurança e
a salubridade públicas.
Assim, de forma mais ampla e prática, Nazareno Marcineiro conceitua ordem
pública, considerando sua forma justa de construção, fruto da parceria existente
entre os agentes da preservação e membros da comunidade:

A ordem pública, portanto, não é algo que se impõe. Ela deve ser
construída numa parceria sinérgica de todos os atores sociais, onde os
agentes públicos de segurança participam como catalisadores do sistema,
valendo-se do conhecimento técnico-profissional que dispõe e das
informações do ambiente em que está inserido e onde deve agir.
(MARCINEIRO, 2009, p. 82)

Compreendida a composição do termo preservação da ordem pública, o


legislador inclui, ainda, no texto do art. 144, que além de direito, a Segurança
Pública é responsabilidade de todos, sugerindo ao cidadão uma co-responsabilidade
pela preservação da ordem pública.
Para Marcineiro, (2009) essa responsabilidade social mais abrangente,
sugerida pelo legislador, está ligada à visão de que a quebra da ordem pública é
decorrente do modelo social concebido em nossa sociedade, da qual todo cidadão
faz parte. Sendo indispensável a participação e o comprometimento coletivo em todo
e qualquer processo de transformação.
23

Neste caso, o cidadão é sutilmente responsabilizado pela Lex Major. Sem


imposição, o cidadão é incentivado a reconhecer na participação social e na
conjugação de esforços o verdadeiro caminho para se alcançar a qualidade de vida
da comunidade.

2.4.1 Polícia Comunitária: Convergindo Para Uma Nova Ideologia

Ao mesmo tempo em que a Constituição Federal de 1988 marca o início de


um novo cenário social, começa a se delinear a idéia de Democratização da
Segurança Pública, talvez o mais recente e maior desafio das organizações policiais,
onde a participação do cidadão na construção de uma sociedade mais segura
reafirma a idéia do exercício de cidadania.
Esta nova dimensão dada pela Carta Magna sobre “Cidadania e Segurança
Pública”, é uma idéia extraída da compreensão do caput do art. 144, que sugere ao
cidadão uma co-responsabilidade pela preservação da ordem pública. Este turbilhão
de idéias converge para uma nova forma de se fazer polícia. Uma tendência que tem
se firmado no Brasil e no mundo, embora ainda em processo de transformação.
Fica nítido que a busca deste despertar para se trabalhar o exercício de
cidadania e a consecução da Segurança Pública é mesmo atribuição dos órgãos de
segurança, através do incentivo desta nova ideologia, intitulada no Brasil e em
outros lugares do mundo como Polícia Comunitária.
Abordando a questão da mudança ou transformação da cultura dos
segmentos policiais brasileiros e apontando para a Polícia Comunitária como a nova
tendência da arte de se fazer polícia, Ricardo B. Balestreri, em sua obra “Direitos
Humanos: coisa de polícia”, assim assevera:

As forças de segurança pública no Brasil, muito mais do que mudanças (e


elas estão paulatinamente sendo realizadas e consistem em
encaminhamentos importantes), precisam de transformação, de construção
de uma cultura nova, que resgate profundamente significados e que aclare
aos seus operadores - e à sociedade – a missão singular que lhes foi
democraticamente reservada. [...] Um passo bastante intuitivo e feliz nessa
direção foi a eleição do modelo de polícia comunitária como o mais
desejável para a polícia brasileira [...] (BALESTRERI, 2003, p. 49)
24

A adoção desta nova filosofia de trabalho busca romper os antigos


paradigmas do policiamento tradicional – reativo e focado nos chamados
emergenciais – para um novo paradigma, onde comunidade, polícia e demais
segmentos da sociedade unem esforços na busca pela solução dos problemas de
Segurança Pública.
As evidências atuais demonstram que as organizações policiais de
excelência haverão de envidar todos os esforços na busca pelo estreitamento de
laços de confiança mútua com as comunidades, para que, através de parcerias
estabelecidas, respeitando-lhes as peculiaridades, percepção e características
sócio-econômicas e culturais, identifiquem, priorizem e ajam criativamente sobre os
problemas locais de segurança.
Explicitando seu entendimento sobre o papel da polícia no século XXI,
Marcineiro e Pacheco, (2005) afirmam que os tempos atuais impõem às instituições
policiais a necessidade de atuarem dentro de uma filosofia de trabalho baseada na
busca da garantia dos direitos e da dignidade da pessoa humana, capaz de
constituir parcerias para construção de uma comunidade mais segura e menos
violenta.
Portanto, falar em exercício de cidadania e em Democratização da
Segurança Pública implica em observar as entrelinhas constitucionais. A própria
CF/88, de forma subliminar, aponta para a direção da adoção do modelo de Polícia
Comunitária, justamente por apresentar-se como uma nova ideologia que entende
como essencial o respeito aos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos,
visando a construção de uma sociedade mais segura através da parceria sincera e
de confiança entre a polícia e a comunidade. (MARCINEIRO, 2009)
25

3 POLÍCIA COMUNITÁRIA: UMA FILOSOFIA EM ASCENSÃO

3.1 POLÍCIA, PODER DE POLÍCIA E COMUNIDADE

Da célebre frase de Honoré de Balzac, “os governos passam, as sociedades


morrem, a polícia é eterna”, pressupõe-se que sociedade e Estado são
indissociáveis da idéia de Polícia. Desde que se têm notícias, os grupos humanos
organizam alguma forma de instituição para limitarem os atos considerados avessos
a ordem. Podemos afirmar que o nascedouro da instituição comumente chamada de
Polícia foi originário dessa necessidade social de segurança. (MARCINEIRO;
PACHECO, 2005)
“Desde que o homem concebeu a idéia de Governo, ou de um poder que
suplantasse o dos indivíduos, para promover o bem-estar e a segurança dos grupos
sociais, a atividade de polícia surgiu como decorrência natural.”21 Para os autores
José Maria Rico e Luis Salas, a idéia de Polícia, dentro do contexto de sua evolução
histórica, pode ser assim definida:

A polícia é, [...] uma instituição social cujas origens remontam às primeiras


aglomerações urbanas, motivo pelo qual ela apresenta a dupla originalidade
de ser uma das formas mais antigas de proteção social, assim como a
principal forma de expressão da autoridade. Encontra-se, portanto,
intimamente ligada à sociedade pela qual foi criada, e seus objetivos, a sua
forma de organização e as suas funções devem adaptar-se às
características sócio-políticas e culturais da comunidade em que ela deverá
atuar. (apud MARCINEIRO; PACHECO, 2005, p. 22)

A Polícia, vista através da nova conjuntura social brasileira, vai muito além
do fiscalizar e do garantir o cumprimento da lei. Representação do braço forte do
Estado no controle legítimo das transgressões à ordem e instituída para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, a
Polícia tem um papel social primordial no desenvolvimento da qualidade de vida e na
busca pela corporização dos direitos e garantias consignadas na Constituição e em
leis que os materializam.
Numa sociedade policiada “há de estar garantida a convivência pacífica de
todos os cidadãos de tal modo que o exercício dos direitos de cada um não se

21
CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 24.
26

transforme em abuso e não ofenda (...) o exercício dos direitos alheios”. (CAETANO
apud LAZZARINI, 1999, p. 239)
Para que a Polícia possa então, definitivamente, exercer o papel social que
lhe compete, o Estado lhe confere o Poder de Polícia, fundamento básico para as
ações das polícias. Sobre o tema, Álvaro Lazzarini assim leciona:

Daí dizermos que o Poder de Polícia, que legitima o poder da polícia e a


própria razão desta existir, é um conjunto de atribuições da Administração
Pública, como poder público e indelegável aos particulares, tendentes ao
controle dos direitos e liberdades das pessoas, naturais ou jurídicas, a ser
inspirado nos ideais do bem comum, e incidentes não só sobre elas, como
também em seus bens e atividades. (LAZZARINI, 1999, p. 239)

Neste mesmo diapasão, Helly Lopes Meirelles conceitua Poder de Polícia


como sendo “a faculdade de que dispõe a Administração Pública para condicionar e
restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos individuais, em benefício da
coletividade ou do próprio Estado”. (MEIRELLES, 2003, p. 127)
De maneira mais simples, Di Pietro também assevera que poder de polícia é
“a atividade do Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em
benefício do interesse público”. (DI PIETRO, 2000, p. 110)
Percebe-se, portanto, que da necessidade de regular a vida do homem em
sociedade, nasce o Poder de Polícia. E por consequência, a Polícia, sob a forma de
organização, é a mais perfeita manifestação do poder público do Estado, atuando
com o fim de assegurar a estabilidade estatal e preservar a ordem social, prevenindo
e reprimindo delitos e suprindo a necessidade básica do direito a segurança.
Sob a nova perspectiva constitucional, tendo por base o Estado Democrático
de Direito, Lazzarini, (2002, p. 228) leciona que “voltou-se ao tempo em que Polícia
e a comunidade se integravam para, em conjunto, produzir segurança pública”.
Coadunando com a temática, MARCINEIRO, (2009) ao expressar sua
convicção pessoal sobre a evolução para a filosofia de Polícia Comunitária, afirma
que a essência deste trabalho está em perfeita sintonia com o exercício do poder de
polícia num Estado Democrático de Direito, onde as ações estão voltadas para a
preservação da ordem pública e engajada na construção de comunidades mais
seguras e solidárias.
Sob estas perspectivas, necessário se faz ter uma breve noção de
comunidade e como esta se inter-relaciona com a polícia, sob a ótica da
27

Democratização da Segurança Pública, apregoada no art. 144 da Constituição


Federal de 1988.
Embora muitos utilizem o termo comunidade como sinônimo de sociedade,
organização social, etc., não há efetivamente uma concordância quanto a sua
natureza. Veja a definição dada para comunidade, segundo o dicionário de
sociologia digital:

É essencialmente ligada ao solo, em virtude dos seus componentes viverem


de maneira permanente em determinada área, além da consciência de
pertencerem, ao mesmo tempo, ao grupo e ao lugar, e de partilharem o que
diz respeito aos principais assuntos das suas vidas. Têm consciência das
necessidades dos indivíduos, tanto dentro como fora do seu grupo imediato
22
e, por essa razão, apresentam tendência para cooperar estritamente .

Na Grande Enciclopédia Larousse Cultural, comunidade pode ser definida


de algumas formas, dentre as quais se destacam:

1. Estado do que é comum; paridade; comunhão, identidade: comunidade


de sentimentos. – 2. Conjunto de provas unidas por interesses, hábitos ou
opiniões comuns. - 3. Conjunto de cidadãos de um Estado, de habitantes de
uma cidade com afinidades socioeconômicas ou geográficas. [...] – Sociol.
Agrupamento social que se caracteriza por acentuada coesão baseada no
23
consenso espontâneo dos indivíduos que o constituem.

Ou ainda:

Uma coletividade pode ser definida como C. quando os seus membros


agem reciprocamente e em relação aos outros que não pertencem à
coletividade sobrepondo, mais ou menos conscientemente, os valores, as
normas, os costumes, os interesses da coletividade, considerada como um
todo, àqueles pessoais ou do próprio subgrupo ou de outras coletividades;
ou quando a consciência de interesses comuns, ainda que indeterminados,
o senso de pertencer a uma entidade sociocultural positivamente avaliada e
à qual se adere afetivamente, e a experiência de relações sociais que
envolvem a totalidade da pessoa, se tornam, de per si, fatores
desencadeantes de solidariedade. Isso não exclui a presença de conflitos
da coletividade considerada, nem de formas de poder ou de dominação.
(GALLINO, 2005, p. 139)

O que se observa é que alguns autores concordam que a comunidade tem


um locus territorial específico, geralmente limitado. Mas essa perspectiva geográfica,

22
Disponível em <http://www.prof2000.pt/users/dicsoc/soc_c.html#comunidade>. Acessado em: 28
mar. 2010.
23
Rocha, R. Grande Enciclopédia Larousse Cultural. Ed. Universo Ltda. 1988, p. 1550.
28

por si só, não é suficiente para compreender sua complexidade em termos de


Polícia Comunitária.
Arrisca-se, inclusive, a traçar algumas características comuns de
comunidade para que se possa compreendê-la na prática: forte solidariedade social,
aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais,
discussão e soluções de problemas comuns e sentido de organização possibilitando
uma vida social durável.24
Contudo, Marcineiro (2009), após algum tempo de militância na mobilização
de comunidades na implantação do policiamento comunitário, percebeu que os
critérios de definição de comunidade tradicionais não atendem às demandas da
construção da segurança com a participação de todos. Concluiu que, para que se
tenha êxito nas ações de Polícia Comunitária, as ações devem estar focadas no que
ele denomina de comunidade de interesse da segurança pública, que nada mais são
do que as pessoas que impactam e são impactadas pelas posturas e ações das
pessoas envolvidas nos problemas de segurança.
Objetivamente, a comunidade pode englobar “todo mundo, desde os líderes
comunitários formais e informais, tais como os presidentes de associações cívicas,
sacerdotes e educadores, até os organizadores de atividades comunitárias e até os
cidadãos comuns da rua”. (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 3) Contudo,
apesar de todas as variações que a noção de comunidade pode apresentar, é crível
que a criminalidade, a desordem e o medo do crime possam gerar uma comunidade
de interesses dentro de uma comunidade geográfica. Essa comunidade de
interesses, quando devidamente incentivada e enfatizada dentro daquele locus
territorial, pode servir de porta de entrada dos policiais comunitários naquela
geografia, na mesma medida em que contribui para que os moradores daquela
localidade trabalhem em forma de parceria com a polícia.
É a partir do estímulo dessa comunidade de interesses e do trabalho
conjunto com as autoridades cívicas eleitas, da comunidade de negócios, da mídia e
de outras instituições, que se encontra o caminho do êxito da Polícia Comunitária.
Através dessa reunião de esforços entre polícia, cidadãos e segmentos sociais, é
que se proporcionará uma melhoria da qualidade de vida social dos indivíduos que

24
CURSO NACIONAL DE PROMOTOR DE POLÍCIA COMUNITÁRIA, 2008, p. 38.
29

integram uma comunidade geográfica, criando um sentimento verdadeiro de


pertencimento.
Entretanto, sabe-se que a atual sociedade, essencialmente imediatista e
consumista, sob a influência do Sistema Capitalista, está cada vez mais egocêntrica
e de difícil mobilização na busca por melhorias sociais.25 E é, neste complexo
cenário social hostil que o policial se apresenta como articulador social, incumbido
da nobre tarefa de contribuir com a resolução dos problemas comunitários.
Mas, isoladamente, a Polícia não atinge resultados satisfatórios no
enfrentamento à criminalidade e no resgate da sensação de segurança, tanto quanto
se agisse em parceria com a comunidade.
Neste aspecto, Skolnick e Bayley, (2006) ensinam que a participação da
comunidade é indispensável para a redução da criminalidade e para o aumento da
sensação de segurança. O maior desafio era justamente tornar a polícia e as
comunidades por ela policiadas co-produtoras da prevenção do crime, uma vez que
os métodos tradicionais de policiamento não estavam sendo eficientes.
Os autores explicam, com base em pesquisas realizadas nos Estados
Unidos26, que algumas atitudes como o aumento de número de policiais, o
patrulhamento motorizado ao acaso, a composição de viaturas com dois policiais, a
diminuição do tempo de resposta das chamadas emergenciais, entre outros, não
eram medidas suficientes para atender às necessidades e aos anseios da
população. (SKOLNICK; BAYLEY, 2006)
Sobre o tema, James K. Stewart, nomeado em 1982, pelo então Presidente
Americano Ronald Reagan, para ser Diretor do Instituto Nacional de Justiça,
escreveu:

Não se pode esperar que a polícia controle sozinha o crime. Os cidadãos


são uma parte essencial da equação [...] o papel das pessoas na ajuda da
manutenção da paz é crucial. A não ser que a vítimas e as testemunhas
relatem os crimes, tragam informações, acompanhem o caso todo, e
participem ativamente dos esforços organizados para a prevenção do crime,
nosso sistema de justiça não pode funcionar como ele deveria. (STEWART
apud SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 69)

25
O artigo “Modernidade Líquida: análise sobre o consumismo e seus impactos na Sociedade” busca,
reportando-se ao pensamento do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, mais especificamente do
Capítulo II (Individualidade), do livro “Modernidade Líquida”, investigar os impactos provocados nas
mais variadas esferas pessoais carreados pela passagem do “antigo mundo” para a pós-modernidade
e, de modo mais pontual, no que tange aos padrões comportamentais marcados pelo individualismo
e, sobretudo, pelo consumo.
26
SKOLNICK, Jerome H.; Bayley, Davis H. Nova Polícia: Inovações na Polícia de Seis Cidades
Norte-Americanas. São Paulo: Edusp, 2006. (Série Polícia e Sociedade, nº 2)
30

Construir um elo de confiança com a comunidade não é tarefa fácil. Exige


uma abordagem especial. Lidar com a repressão da criminalidade é mais fácil para
Polícia do que saber ouvir as reclamações e sugestões da comunidade e se
posicionar diante da participação popular nas tomadas de decisões no processo de
democratização da segurança.
Mas é somente através desta efetiva participação social, através da
cooperação dos cidadãos integrantes da comunidade e da polícia, unidos por um
interesse comum, é que se tornará possível a construção de uma sociedade melhor
e mais segura.

3.2 POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO

Vivemos atualmente num quadro social de extrema complexidade, onde até


mesmo as necessidades básicas dos cidadãos são difíceis de serem atendidas
dignamente. De um lado, desigualdades latentes na distribuição de renda com a
consequente marginalização das economias emergentes. De outro, o ressurgimento
de ódios ideológicos, a segregação e o isolamento social dos indivíduos nos grandes
centros.
Toda essa conjuntura desequilibrada, de pobreza, má distribuição de renda,
desestrutura familiar, etc., desagregam as pessoas, aumentam as distâncias e o
individualismo, e acentuam as crises nas relações interpessoais, provocando cada
vez mais conflitos sociais, tensões, disputas e, por consequência, a aniquilação da
sociedade.
Esse teatro atual de desigualdade social, onde opulência convive lado a lado
com miséria, dando publicidade notória às injustiças sociais, faz com que a violência,
resultado lógico de tanta dissiparidade, ganhe intensidade e proporcione um
aumento da criminalidade, trazendo reflexos diretamente nas questões de
Segurança Pública. 27

27
Sociedades desiguais não são necessariamente criminógenas, assim como pobreza, sozinha, não
gera crime. Mas ambas são condicionantes que, somados a outros fatores criminógenos, influenciam
no crescimento da criminalidade e violência.
31

Diante desse delicado contexto social, as organizações policiais vêm


envidando esforços no sentido de buscarem mecanismos alternativos ao
policiamento convencional, com o escopo de fazer frente à criminalidade e melhor
atender às necessidades e os anseios sociais.
Neste momento, sob a égide do novo regime democrático, os diversos
segmentos policiais brasileiros avançam em relação à mudança de filosofia de
trabalho. Mudança esta intitulada mundialmente de Polícia Comunitária. Filosofia
praticada em diversos países do mundo, que acabou ganhando força no Brasil nos
anos 90.
Polícia Comunitária, portanto, é o novo paradigma a ser implementado pelas
instituições policiais. Isoladamente não se pode atingir resultados satisfatórios no
combate à criminalidade e no aumento da sensação de segurança dos cidadãos
apenas focando suas energias no policiamento reativo e sem a participação ativa da
própria comunidade policiada.
Para compreendermos a magnitude do tema, Skolnick e Bayley, fazendo
uma leitura global de suas experiências com o policiamento comunitário do cenário
mundial, assim concluem:

O policiamento comunitário é a nova filosofia do policiamento profissional


nas democracias industriais do mundo. De Londres a Perth [na Austrália],
de Detroit a Cingapura, os administradores da polícia estão falando nele.
Representa progresso e inovação. Onde quer que haja mudança, o
policiamento comunitário é a palavra de ordem. Segundo seus defensores,
o policiamento comunitário gera segurança pública e diminui as taxas de
criminalidade, reduz o medo do crime e faz o público se sentir menos
desamparado, refaz a conexão da polícia com públicos desinformados,
levanta o moral policial, e torna a polícia mais sujeita à prestação de contas.
O policiamento comunitário surgiu como a principal alternativa estratégica
para as práticas tradicionais, que, em toda parte, atualmente são
consideradas um fracasso. (SKOLNICK; BAYLEY, 2006, p. 119)

Neste diapasão, observa-se que a Constituição Federal de 1988, no caput


do art. 144, concebe a Polícia Comunitária como nova filosofia de trabalho e modelo
a ser adotado pelas instituições policiais brasileiras, ao expressar que Segurança
Pública, além de dever do Estado e direito de todo cidadão, também é
responsabilidade de todos.
Assim, observa-se a perfeita sintonia e conexão da filosofia de Polícia
Comunitária com o exercício de cidadania e a democratização da Segurança
32

Pública. O texto legal reafirma estes ideais e sugere a construção da paz social
através de esforços conjugados entre polícia e comunidade.
Observa-se, entretanto, que as expressões Polícia Comunitária (filosofia de
trabalho) e Policiamento Comunitário (ato de policiar junto à comunidade) são
usadas eventualmente na doutrina de forma indistinta, quando na prática
representam termos técnicos diferentes com definições próprias.
Para elucidar a confusão existente entre os termos, socorremo-nos dos
ensinamentos de Bondaruk e Souza, (2007), extraída da obra “Polícia Comunitária:
polícia cidadã para um povo cidadão”:

A atividade de Polícia Comunitária é um conceito mais amplo que abrange


todas as atividades voltadas para a solução dos problemas que afetam a
segurança de uma determinada comunidade, que devam ser praticadas por
órgão governamental ou não. A Polícia Comunitária envolve a participação
das seis grandes forças da sociedade, frequentemente chamadas de “os
seis grandes”. São eles a polícia, a comunidade, autoridades civis eleitas, a
comunidade de negócios, outras instituições e a mídia. Já o Policiamento
Comunitário é uma atividade específica da polícia, compreendendo todas
as ações policiais decorrentes desta estratégia. (BONDARUK; SOUZA,
2007, p. 48-49)

O núcleo existencial da Polícia Comunitária está na possibilidade de


estreitar laços mútuos de confiança entre os profissionais da segurança e a
comunidade como um todo, desde o profissional liberal, comerciantes, membros da
comunidade escolar, moradores do bairro, etc., para juntos trabalharem essa
parceria, de forma planejada, em prol da melhoria da qualidade de vida bairrista.
Já o Policiamento Comunitário, por sua vez, é uma forma de policiar junto
às comunidades, tendo por premissa a prevenção e a inibição de práticas delituosas
pela presença ostensiva do emprego policial e, quando necessário for, pelo emprego
de ações reativas.
Finalizando a questão sobre o eventual uso indistinto dos termos Polícia
Comunitária e Policiamento Comunitário, trazemos à baila o posicionamento
esclarecedor de Nazareno Marcineiro:

A expressão “Policia Comunitária” remete a um significado mais


abrangente, ou seja, contém todas as atividades relacionadas à resolução
dos problemas que comprometem a qualidade de vida de uma comunidade.
(...) O policiamento comunitário também pode ser chamado de
policiamento de proximidade e constitui-se de um primeiro estágio para
se evoluir para a filosofia da policia comunitária que, repito, busca engajar a
33

todos na construção de espaços de vida em sociedade mais tranqüilos e


pacíficos. (MARCINEIRO, 2009, p. 111-112)

Assim, entendemos que a utilização do termo Polícia Comunitária emprega-


se melhor tecnicamente para se referir de maneira mais abrangente à nova ideologia
de trabalho policial que está se formando.
A própria utilização da palavra comunitário acaba por despertar as atenções
das instituições policiais para com suas relações com as comunidades. Ao adicionar
a palavra comunitário ao policiamento, lembramos às polícias que a comunidade é
um importante recurso a ser atingido para se alcançar objetivos de redução da
criminalidade e do medo, restaurar a civilidade nos espaços públicos, garantir os
direitos individuais e coletivos dos cidadãos e criar comunidades realmente
democráticas. (TONRY; MORRIS, 2003)
Portanto, para dar uma real concepção da Polícia Comunitária, no Brasil e
no mundo, apresentamos alguns conceitos e definições que ajudam a elucidar o
tema e a contextualizá-lo.
Para os pioneiros Robert Trojanowicz e Bonnie Bucqueroux, autores do livro
“Policiamento Comunitário: como começar”, que serviram de fontes de estudos e
inspiraram aqueles que se propuseram a estudar a filosofia de Polícia Comunitária
no Brasil, assim consagram:

Policiamento Comunitário é uma filosofia e estratégia organizacional que


proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-se na
premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar
juntas para identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais
como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral
a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida da
comunidade. (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 2003, p. 4)

Na obra “O que faz a polícia: sociologia da força pública”, Dominique


Monjardet assim pontua:

A polícia comunitária é primeiro a vontade de renovar a relação entre polícia


e população fazendo das expectativas, demandas e necessidades
expressas por ela, localmente, no quarteirão, bloqueio ou no bairro, o
principio de hierarquização das prioridades policias. (MONJARDET, 2002, p.
260)

Doutrinariamente, na Polícia Militar do Paraná, a Polícia Comunitária pode


ser assim compreendida:
34

[...] como a conjugação de todas as forças vivas da comunidade (a própria


comunidade, a comunidade de negócios, as autoridades cívicas eleitas, as
polícias todas, as outras instituições e autoridades e a mídia), sob a
coordenação de policiais especialmente designados, no sentido de
preservar a segurança pública, prevenindo e inibindo os delitos ou adotando
as providências para a repressão imediata. Deve ser entendida também
como uma filosofia de atuação da Polícia Militar, marcada pela intensa
participação da comunidade na resolução dos problemas afetos à
Segurança Pública. (DIRETRIZ N.º 002/2004 - PM/3)

Para Ferreira, (1995) Polícia Comunitária resgata a essência da arte de


polícia, pois a recíproca de apoio entre polícia e comunidade se traduz verdadeira.
Acolhe as expectativas de uma sociedade democrática e pluralista, onde as
responsabilidades pela mais estreita observância das leis e da manutenção da paz
não incumbem apenas à polícia, mas, também a todos os cidadãos.
O próprio autor (FERREIRA, 1995, p. 56-57) apresenta outras definições
bastante esclarecedoras, que assim seguem:

Polícia Comunitária é uma atitude, na qual o policial, como cidadão, aparece


a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço público,
antes de ser uma força pública. (Chief Inspector MATHEW BOGGOT,
Metropolitan London Police Department)

Polícia Comunitária é uma filosofia organizacional assentada na idéia de


uma Polícia prestadora de serviços, agindo para o bem comum para, junto
da comunidade,criarem uma sociedade pacífica e ordeira. Não é um
programa e muito menos Relações Públicas. (Chief CORNELIUS J. BEHAN,
Baltimore County Police Department)

Polícia Comunitária é o policiamento mais sensível aos problemas de sua


área, identificando todos os problemas da comunidade, que não precisam
ser só os da criminalidade. Tudo o que se possa afetar as pessoas passa
pelo exame da Polícia. É uma grande parceria entre a Polícia e a
Comunidade. (Chief BOB KERR, Toronto Metropolitan Police)

Marcineiro (2009), sob a ótica das mais diversas obras por ele citada no livro
“Teoria de Polícia Comunitária”, faz uma síntese sobre o tema:

[...] polícia comunitária é um conceito amplo, compreendendo o emprego de


todos os meios possíveis para a solução de problemas, que de alguma
maneira afetam a segurança de uma comunidade, sendo que esses meios
podem ser de origem governamental ou não. Vemos, ainda, que a polícia
comunitária trabalha com o envolvimento de alguns segmentos da
sociedade, como a comunidade, comerciantes, mídias, outras instituições,
autoridades civis e a própria polícia. (MARCIENEIRO, 2009, p. 112)
35

À luz das concepções de Polícia Comunitária, até então citadas, é possível


vislumbrar a oportunidade de as instituições imbuídas da preservação da ordem
pública, estreitarem os laços com os diversos segmentos da sociedade e
convergirem suas energias na promoção da segurança.
Em perfeita harmonia com os princípios de uma sociedade democrática,
tendo por base o livre exercício da cidadania, a Polícia Comunitária se traduz numa
forma democrática de fazer segurança, visto que a responsabilidade pela
preservação da ordem pública e a rigorosa observância das leis não são
responsabilidades apenas dela, mas de todos os cidadãos.
Baseando-se no estreitamento honesto e duradouro do relacionamento entre
polícia e comunidades policiadas, proporcionando uma parceria para promoção e
resolução preventiva dos problemas de segurança, tornando as comunidades mais
seguras e atrativas para se viver, percebe-se Polícia Comunitária como uma nova
forma de se pensar e se fazer polícia. Uma estratégia organizacional alternativa e
inteligente para se formar comunidades autossustentáveis em segurança, cujo
resultado transpassa a capacidade da polícia de combate ao crime, incluindo no seu
repertório de êxitos a redução do medo e a efetiva preservação da ordem pública.

3.3 MODELO TRADICIONAL VERSUS COMUNITÁRIO

De acordo com o que se observa dos estudiosos em Polícia Comunitária,


fica cada vez mais claro de que não há um consenso muito grande sobre o que vem
a ser especificamente essa nova ideologia. No entanto, como a concepção de
Policia Comunitária é algo que ainda está sendo construído, observa-se que em
alguns pontos o Policiamento Comunitário rompe com o modelo tradicional de
policiamento.
Nesse processo construtivo da nova identidade policial, na busca por
aperfeiçoar a arte de policiar, não se pode perder de vista a pedra angular da Polícia
36

Comunitária, que dentro de um Estado Democrático de Direito, é formar a


comunidade autossustentável em segurança.28
Seguimos, portanto, traçando um paralelo entre Policiamento Tradicional e
Policiamento Comunitário, com o intuito de destacar os contrastes existentes entre
os dois modelos, possibilitando uma melhor visualização e compreensão das
nuances que os separam.

3.3.1 Filosofia de Origem

Dentro da abordagem da filosofia de origem do policiamento tradicional, o


modelo militar de organização profissional e de estruturação predominantemente
verticalizado, destaca-se como característica que serve até hoje como fonte de
inspiração das Polícias Militares.
Pode-se dizer que as Polícias Militares, ao longo de suas histórias
particulares, caracterizam-se muito mais como corporação militar do que uma
organização policial propriamente dita, sendo mais empregadas para os fins de
segurança interna e de defesa nacional, do que para as funções de preservação da
ordem pública. (MUNIZ, 2001)
Em contrapartida, a filosofia de origem do policiamento comunitário se
aproxima muito mais de uma polícia de defesa social, do que um órgão prestador de
segurança do Estado. É a polícia que transcende as questões de segurança e passa
a permear em outras áreas do campo social, em perfeita sintonia com a ideologia de
Estado de Direito.

28
A idéia de formar comunidades autossustentáveis em segurança (comunidades competentes para
solucionar seus próprios problemas) é uma possível interpretação dada ao art. 144 da CF/88, que
norteia o trabalho da Polícia Comunitária.
37

3.3.2 Missão Policial e a Importação de Modelo

A militarização das Polícias possui em suas raízes o modelo organizacional


importado do Exército. Conforme MUNIZ, (2001) a militarização foi muito além da
simples assimilação deste modelo, pois desde o Segundo Império é que as Policiais
Militares foram empregadas como forças auxiliares do exército regular tanto nos
esforços de guerra, quanto nos conflitos internos, além das operações no controle
de fronteiras da nação.
Neste sentido, as polícias foram se transformando gradativamente em forças
aquarteladas, deixando os serviços de proteção da sociedade e suas atividades
propriamente policiais em segundo plano, e focando cada vez mais sua missão nas
questões de defesa do Estado. 29
Claramente, observa-se que o modelo advindo do Exército é extremamente
autoritário e centralizador, que faz sentido dentro de um Estado de Polícia, onde
persiste a idéia do intervencionismo como solução para os problemas. Neste
contexto, a polícia anseia manter um controle social imposto de fora para dentro e
norteia e tutela a população ao invés de construir com ela alternativas de combate a
criminalidade e de construção de uma sociedade mais segura.
No modelo tradicional, pressupõe-se o antagonismo das idéias de controlar
ou servir a sociedade. Caso a sociedade se comporte como um ente estanque,
pacífica, que não se rebela, a idéia de servir à boa sociedade é latente. Contudo, se
a lógica partir do pressuposto de que a sociedade é “inimiga do Estado”,
comportando-se de forma a não mais se submeter a este poder autoritário, a idéia
de controlar vem à tona, como nos anos de chumbo da ditadura militar.30
O policiamento comunitário, no viés contrário, caracteriza-se como sendo um
modelo democrático de Segurança Pública, um modelo compartilhado entre polícia e
comunidade, típico de um Estado de Direito. Sua missão primordial é formar a
29
“As cartas constitucionais republicanas anteriores a 1988, não deixam dúvidas quanto à principal
função das PMs. Tratava-se, primeiro, de salvaguardar a “Segurança Nacional” mobilizando seus
esforços para a “segurança interna e manutenção da ordem” do Estado. (MUNIZ, 2001, p. 183)
30
“Não é difícil concluir que o que estava em jogo era, fundamentalmente, a sustentação de uma
lógica que pressupunha o “Estado contra a sociedade”, ou melhor, uma concepção autoritária da
ordem pública que excluía os cidadãos de sua produção, uma vez que eles eram percebidos como
“inimigos internos do regime” que “ameaçavam à tranqüilidade e a paz pública”. [...] cabia às PMs, ir
para as ruas “manter” a segurança do Estado através da disciplinarização de uma sociedade rebelde
à “normalidade” e a “boa ordem”. (MUNIZ, 2001, p. 183)
38

comunidade policiada para sua missão constitucional de segurança, repartindo e


gerenciando políticas de intervenção.
O modelo contingencial opõe-se a idéia de dirigismo estatal. Como
alternativa ao tradicional, a idéia de comunidade autossustentável de segurança,
onde persevera a co-responsabilidade social, induz ao ideal de uma sociedade
melhor, na medida em que o cidadão, através do efetivo exercício de cidadania,
contribui com sua cota parte constitucionalmente prevista no art. 144 da Carta
Magna.
Dentro da lógica de democratização da segurança e da formação da
comunidade autossustentável em segurança, o modelo comunitário, por ser bairrista
na sua essência, é descentralizado para que se tenha a flexibilidade indispensável
para amoldar as estratégias policiais nos diferentes locais de atuação.
Por ser um modelo de policiamento que exige adaptação à realidade de
cada comunidade individualmente, à medida que os laços de relacionamento entre
polícia e comunidade vão se estreitando e se fortalecendo, a descentralização de
comando passa a potencializar as atuações policiais, ao mesmo tempo em que
transforma as responsabilidades, aumentando a autogestão no nível dos
subordinados e encorajando as iniciativas disciplinadas por parte dos superiores.
(SKOLNICK; BAYLEY, 2006)

3.3.3 O Mito policial e as ocorrências do cotidiano

O modelo organizacional das Policiais Militares importado do Exército, cuja


origem filosófica é proveniente de um modelo essencialmente militar, esconde por
de trás um mito.31 O mito do policial individual herói, muitas vezes valorizado nos
filmes hollywoodianos.

31
“Um mito é uma história sobre experiência humana envolvendo o SAGRADO. Nos sistemas de
crenças religiosas, o mito é muitas vezes usado para explicar as origens de tradições religiosas, como
nas narrativas sobre o nascimento, vida e morte de Jesus, ou a difícil jornada espiritual de Buda. É
usado também para ilustrar as muitas maneiras como valores e crenças religiosas fundamentais se
aplicam às experiências da vida diária. Em suma, o mito serve freqüentemente como uma maneira
ritualística de afirmar um senso comum do “de onde viemos e como chegamos aqui”. Em sentido
relacionado e mais amplo, pode ser usado para legitimar sociedades inteiras. Mitos heróicos sobre
figuras decisivas na formação de nações-estado (tais como heróis revolucionário), por exemplo,
desempenham papel importante na glorificação e perpetuação de arranjos sociais correntes. O
39

O modelo militar, introjetado no policiamento tradicional, não raras vezes é


equivocadamente direcionado para esta idéia do mito do heroísmo policial. Pois
mesmo tendo como um dos mais importantes valores militares a premissa do
“espírito de corpo”, o modelo militarista acaba valorizando sobremaneira aqueles
que dentro do grupo se destacam individualmente pelos grandes feitos.
Como existe uma tendência natural dos policiais a identificarem-se com a
vida militar e o papel que desempenham perante a sociedade, acabam,
consequentemente, incorporando aos seus comportamentos as características da
instituição, passando a agir de acordo com este modelo.
Destarte, convém destacar que no modelo tradicional, o policial carrega em
seu âmago o peso da responsabilidade idealizada com base no heroísmo policial,
que é, pela sociedade e por sua instituição, exigida através do sacrifício da própria
vida em prol da comunidade, da dedicação exclusiva ao trabalho inclusive em
períodos de folga, do pleno controle emocional, etc., e até mesmo pela auto-
cobrança, pois muitas vezes o sujeito ingressa na corporação pela identificação
infantilizada com a figura do super-herói.
Parafraseando Lima, (2005) o arquétipo de herói por ele idealizado, na figura
do “guerreiro”, se assemelha muito ao policial comunitário. Pois é o sujeito que irá
pautar-se na Lex Major, assegurando ao cidadão todos os seus direitos, esteja ele
figurando na condição de vítima ou vilão. Não irá impor a sua verdade, mas irá
basear-se na prática do diálogo e no respeito às diferenças para encontrar soluções
mais adequadas para resolução dos problemas, envidando todos os seus esforços
no sentido de resgatar o delinquente para o convívio social. Contudo, ressalva que o
lado bom do arquétipo do “guerreiro”, lado que se assemelha ao perfil do
comunitário, pode ser transformado em exterminador, recaindo no direcionamento
do modelo tradicional. Neste caso, seja pelo medo mal trabalhado ou pelo peso do
mito carregado, o policial acreditando estar fazendo o melhor para a sociedade, verá
na pessoa do deliquente um inimigo a ser aniquilado.

antropólogo Claude LÉVI-STRAUSS argumentava que a função principal do mito pouco tem a ver
com a explicação ou justificação da realidade social, mas serve, sim, para corporificar categorias
lingüísticas básicas , que são fundamentais para qualquer compreensão cultural da realidades.
Dualidades como amor/ódio, homem/ mulher, bem /mal, alto/baixo situam-se no núcleo da ordem
cultural que usamos para extrair sentido da realidade. O mito, de acordo com Lévi-Strauss, aplica-se
a essas categorias de maneiras que as reafirmam como forma legítima de pensar sobre o mundo.”
(JOHNSON, 1997, p. 137)
40

Essa idéia do mito, do herói que se destaca individualmente, que direciona


suas energias para grandes ações (focado no destemido), que ilude o sujeito a
ponto de fazê-lo acreditar que têm que ser um Capitão Nascimento32, está
completamente obsoleto em relação à maior parte dos desafios que a polícia
enfrenta no seu dia-a-dia. Esses desafios, que na sua grande maioria, estão
intimamente ligados aos verdadeiros anseios da comunidade e às ocorrências
corriqueiras, são tratados pelo modelo tradicional como “policiamento de bagatela”,
de menor importância, pois o convencional é caracterizado pelas respostas rápidas
aos crimes sérios, priorizando, por exemplo, roubos a banco e assaltos à mão
armada, homicídios e sequestros, e todos aqueles delitos envolvendo violência.
De maneira paradoxal, no policiamento comunitário prevalece a idéia de
união de esforços, de coletividade trabalhando para um mesmo fim. Aqui reside a
idéia de que a polícia é o público e o público é a polícia: os policiais são aqueles
membros da população que são pagos para dar atenção em tempo integral às
obrigações dos cidadãos. Dentro dessa premissa, o policial comunitário se dilui
enquanto comunidade, fugindo à concepção do individualismo convencional, e
ambos, polícia e comunidade em forma de parceria, passam a fazer parte do
processo de transformação para uma sociedade de não-violência autossustentada.
Em sintonia com a filosofia de origem do policiamento comunitário, que se
caracteriza muito mais pelo papel assistencial do policial; no modelo alternativo o
trabalho da polícia é voltado para os anseios dos 98% da população de sua área de
atuação, que são os cidadãos que levam suas vidas em sintonia às exigências da
lei. As prioridades do policiamento comunitário estão voltadas para os problemas e
as preocupações que afligem a comunidade.
Reflexionando sobre o direcionamento do policiamento comunitário em
relação aos anseios e preocupações da comunidade, percebe-se que esta seria a
melhor forma de se criar uma cultura contra a violência, já que não há tecnologia
policial ainda constituída. Quando consideramos os pequenos delitos do dia-a-dia,
ditos “crimes de menor potencial ofensivo”, tratados no modelo tradicional como
sendo de “bagatela”, só podem ser assim considerados sob a ótica do conceito de
32
Protagonista do filme Tropa de Elite, dirigido por José Padilha e estreado em setembro de 2007,
que tem como tema a violência na cidade brasileira do Rio de Janeiro e a ações do Batalhão de
Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. O personagem ganhou
destaque por ser um policial considerado “incorruptível” e pelo uso de artifícios pouco ortodoxos como
tática investigativa (torturas e execuções), conquistando a opinião popular especialmente pela
postura obstinada de combate a corrupção corporativa e ao tráfico ilícito de drogas.
41

vítima individual. Pois quando redimensionamos a idéia em amplitude de Estado, de


sociedade como um todo, o problema é muito mais sentido.
O modelo comunitário coaduna com a concepção do herói idealizado por
Lima, (2005) na figura do “guerreiro”, quando afirma que o deliquente não é visto
como alguém que deva ser eliminado, mas como alguém que deva ser salvo,
resgatado para o convívio social. Da mesma forma, se espera do policial comunitário
o discernimento e a perspicácia necessárias para lidar com a tênue condição do
cidadão, para com os fatos de quase delito33, pois tradicionalmente, o policiamento
se faz com base precipuamente nos incidentes e de forma repressiva, transferindo o
momento de resolução do conflito. Ao contrário, o modelo comunitário busca a
mudança do modelo de herói e parte para o campo da ação proativa, almejando
formas para que se possa chegar até esse indivíduo antes que ele se torne
efetivamente um “inimigo do Estado”, pois ao mesmo tempo em que este quase
deliquente é o problema a ser tratado, também é o cidadão a ser educado e
protegido.

33
Depois de um delito estar consumado existe uma seqüência delimitada pela lei que obriga a
adoção da postura policial tradicional de deliverer. Contudo, dentro da idéia de quase-delito, pode-se
dizer que este é o momento em que já é possível perceber o estado de emergência de um conflito
que tem relevância para a segurança pública, embora ainda não possa ser definido como um delito
propriamente dito, logo não enseja um ato de dever de oficio do policial. Os quase-delitos são
aquelas série de pequenos atos que até poderiam ser interpretados como crimes de menor potencial
ofensivo, mas como se trata de fase pré-delitual onde muitas vezes não sem tem claro os seus atores
e as competências ainda não estão muito bem definidas, possibilita ao policial entrar em cena de
modo a evitar que o conflito venha a emergir ou tenha uma margem maior de liberdade
(discricionariedade) para desmobilizar o conflito de outras formas, haja visto seu papel de polícia
preventiva nos moldes comunitário. Para uma polícia que se caracteriza por ser “cartorial” ou “de
transporte”, agir depois que o delito ocorreu é interessante porque segue a lógica do ciclo policial.
Mas para uma polícia preventiva isso não parece ser uma idéia muito inteligente. Os casos de quase-
delitos merecem soluções inteligentes e menos de última ratio, fugindo da lógica do modelo
tradicional de resposta. No ambiente escolar, por exemplo, haverá uma série de situações e conflitos,
fruto do relacionamento interpessoal dos atores escolares, que se encontram numa zona cinzenta
onde as competências não estão muito bem definidas. Teoricamente não chega a ser um delito (é
menos que um caso de crime ou de contravenção penal), mas ultrapassa a esfera da (in)disciplina (é
maior do que somente um problema educacional). Pode-se dizer que é a situação que está no limbo
entre o delito e a (in)disciplina, proporcionando um excelente locus de atuação para o policial
comunitário escolar gerenciar em parceria com a comunidade escolar, contrapondo-se a idéia
tradicional do deliverer. As situações de quase-delito no ambiente escolar abrem portas para que o
policial comunitário navegue no universo das infinitas possibilidades de soluções inteligentes. São
casos que ensejam uma análise apurada e individual (caso a caso) pelo profissional da área de
segurança, de forma que ele perceba o locus de entrada do preventivo policial, o que exige
naturalmente deste profissional um conhecimento intelectual mais apurado e um traquejo diferenciado
do modelo tradicional para o qual ele foi tradicionalmente talhado.
42

3.3.4 Origem da Informação

Quanto à origem da informação, o modelo tradicional caracteriza-se pela


extrema confiança na técnica e nas informações vindas do submundo do crime.
Convencionalmente, acredita-se que as informações advindas dos alcaguetes tanto
quanto a idéia do uso da tecnologia seriam suficientes para suprir o problema da
comunicação e coleta de informações. Neste modelo, para se definir prioridades,
descarta-se por completo a participação da comunidade.
Ao contrário, no modelo comunitário prioriza-se a comunidade enquanto
fonte confiável de informação. A idéia de democratização da segurança aliada ao
exercício de cidadania redireciona para um trabalho de coleta de informações
realizado através de uma abordagem adequada, originária do conhecimento e
anseio do cidadão engajado na própria comunidade.

3.3.5 Atuação Policial

A polícia, no modelo tradicional, caracteriza-se por ser uma agência


governamental responsável, principalmente, pelo cumprimento da lei. O policiamento
tradicional atua em vários bairros, é preponderantemente reativo e distribuído
conforme o pico de ocorrências e atua, na maior parte do tempo, após o evento
delituoso, o que descaracteriza, na prática, sua vocação preventiva.
Percebe-se, portanto, que o policial tradicional é formado para atuar como
agente da lei em zonas de clareza, ou seja, em situações facilmente definidas como
delituosas. É desempenhar um papel de intervenção pré-formatado que não lhe
deixa margem de possibilidades de atuação. Neste caso, as intervenções são feitas
pontualmente nos incidentes e focadas no sintoma delituoso apresentado.
Por sua vez, no modelo comunitário, o policial é da área e trabalha sempre
no mesmo bairro. O policiamento caracteriza-se por ser eminentemente proativo e
busca solucionar os problemas do bairro através da integração ativa com seus
membros.
43

Sob esta ótica, o policial comunitário é um agente da lei que atua em zonas
de incerteza, que ao contrário do policial tradicional, não possui um modelo
predeterminado de intervenção. Neste viés, o policial comunitário navega no campo
das infinitas possibilidades, ora atuando como policial na sua essência, ora como
assistente social; ora como negociador, mediador, educador e às vezes até mesmo
no papel de psicólogo.
Observa-se, sobretudo, o papel pedagógico do policial comunitário na
comunidade, no sentido de compartilhar responsabilidades, informações e soluções
diante dos problemas detectados. E ao contrário do tradicional, que é focado
essencialmente em intervenções pontuais, no policiamento comunitário o trabalho é
de construção em forma de parceria com a comunidade e todos os seus segmentos,
adotando medidas de curto, médio e longo prazo.
44

4 POLICIAMENTO ESCOLAR COMUNITÁRIO

4.1 COMUNIDADE ESCOLAR COMO FOCO DO POLICIAMENTO


COMUNITÁRIO

Pensar no trabalho de policiamento comunitário, tendo por locus de atuação


a comunidade escolar, é transcender as questões de segurança e permear no
complexo campo da prática sócio-educacional. Ao pontuarmos a comunidade
escolar enquanto foco para o trabalho de policiamento comunitário, constatamos
uma tendência contemporânea - a de especialização dos grupos de polícia. Talvez
seja esta uma das grandes interrogações que, ainda nos dias de hoje, careçam de
resposta aprimorada: “como instrumentalizar especificamente cada tipo de
intervenção policial nos moldes do policiamento comunitário?” Justamente por estar
se tratando de uma abordagem que está em fase de construção, é que a temática
não se esgota e nem tão pouco oferece garantias de sucesso. Contudo, a idéia do
policiamento comunitário é acreditar que existam diferentes alternativas na
construção de uma sociedade sem violência. É acreditar na construção de práticas
legítimas envolvendo os diversos grupos que compõe o segmento escolar e
possibilitar, dentro do ideal de Polícia Comunitária, que esses diferentes grupos
estabeleçam o diálogo e tornem esse processo de construção num todo legítimo.
Mais do que delimitar a escola ou a comunidade escolar enquanto foco do trabalho,
é apresentar uma alternativa de prática legítima para as questões de segurança, a
fim de materializar o preceito constitucional do art. 144.
Outra variável bastante importante que infere pela escola enquanto alvo do
policiamento comunitário é o fato do estabelecimento de ensino ser um dos nichos
sociais mais suscetíveis à introdução de mudanças, pois trata-se de um espaço
capaz de produzir conhecimento. Todo trabalha de Polícia Comunitária focado para
educação preventiva e para resolução pacífica de conflitos, desenvolvido neste rico
cenário social em parceria com os atores que atuam na comunidade escolar,
potencializa as possibilidades de sucesso em relação à mudança de comportamento
voltada para uma cultura de segurança, para uma cultura de Polícia Comunitária e
uma cultura de paz.
45

Altivir Cieslak e Éveron César Puchetti Ferreira, ao tratarem da atuação da


Patrulha Escolar Comunitária e a segurança nas escolas do Estado do Paraná,
assim corroboram:

Entende-se que polícia comunitária afora participação, também é


aprendizado, e o ambiente escolar é próprio para a disseminação da cultura
de polícia comunitária. Enquanto há muitas dificuldades para a
conscientização dos adultos sobre os temas relacionados à segurança
pública, sempre houve boa vontade do público mais jovem em recepcionar
novas idéias e conceitos e repassá-los aos mais velhos. (CIESLAK;
FERREIRA, 2008, p. 108)

Nesta simbiose “polícia-escola”, amplia-se o alcance das práticas


preventivas, possibilita a transformação do comportamento de toda comunidade
escolar adulta enquanto colaboradores co-produtores da segurança e complementa-
se a formação do aluno-cidadão enquanto ser humano em condição especial de
desenvolvimento biopsicossocial.
As instituições de ensino, por tratar-se de um espaço público com especial
potencial sócio-educativo, deveriam ser uma referência sócio-comunitária dentro do
bairro em que se situam. As escolas públicas possuem uma estrutura privilegiada
como salas de aula, quadra poliesportivas, pátios, auditórios, banheiros,
equipamentos diversos, que poderiam ser usados como espaços de participação
comunitária, proporcionando melhorias na qualidade de vida dos cidadãos
integrantes dessas comunidades. Ao abordar a relação entre a escola e a
comunidade, Maria Aparecida Perez assim assevera:

Ressignificar a escola pública passa por reconhecer esse espaço como um


espaço coletivo privilegiado para a construção do conhecimento
promovendo o diálogo entre a cultura local vinda do cotidiano do educando
com a cultura elaborada relacionada aos conhecimentos universais; novos
espaços de participação comunitária e de gestão como forma de acesso ao
conhecimento; igualdade de oportunidade para todos que a freqüentem.
(PEREZ, 2005, não paginado)

Definitivamente, é o local mais adequado para se combater a exclusão


social, integrar as minorias, promover ações multiculturais, como teatro, pintura,
dança, línguas, informática, etc., e construir o sentimento de pertencimento da
comunidade escolar. A supracitada autora, ao tratar da “escola-comunidade”, sugere
o desenvolvimento de ações complementares às ações escolares, por meio da
abertura da escola nos fins de semana, feriados, recessos e férias, para atividades
46

que promova a valorização do bem público, o protagonismo juvenil e a relação com


a comunidade a que pertence, oferecendo outros espaços que não a rua. Desta
forma, a escola se tornaria um espaço público que estaria sendo utilizado em
benefício do interesse popular, propiciando a experiência da convivência coletiva,
com base nos princípios do diálogo, da solidariedade, da convivência comunitária,
da cooperação, de justiça social, ao mesmo tempo em que se redesenha o mapa da
exclusão. (PEREZ, 2005) Neste moldes, o ambiente escolar ganha vida e começa a
se integrar verdadeiramente à comunidade da qual faz parte. Na idéia da sua
utilização como privilégio do bem estar coletivo, o espaço escolar potencializa
benefícios e solidifica a ideia de cidadania através da participação comunitária.
Outro aspecto ainda não abordado, mas de suma importância na escolha
das comunidades escolares como local de implementação para o policiamento
comunitário, é o fenômeno da violência escolar que muito tem despertado a atenção
dos governos e da sociedade para o problema.
Dentre os diversos autores que militam sobre o tema, nos chama a atenção
a ênfase dada por Miriam Abramovay, quando aborda a questão da democratização
da educação no Brasil, que segundo o Plano Nacional de Educação – PNE, tem
entre suas prioridades e objetivos: “garantir o ensino fundamental obrigatório de oito
anos a todas as crianças de 7 a 14 anos, assegurando o seu ingresso e
permanência na escola e a conclusão desse ensino; e ampliar o atendimento aos
demais níveis de ensino.” (PNE, 2001, p. 20-21)

O processo de “democratização” da educação consiste na abertura da


escola para uma população que, até então, não usufruía o direito básico à
educação, seja por motivos como o trabalho infantil, a pobreza absoluta, a
falta de transporte, a falta de um estabelecimento de ensino próximo de
casa ou a falta de interesse pela escola. Empreendeu-se uma investida no
sentido de popularizar a escola, fundamentada no discurso de inclusão.
(Abramovay, 2005, não paginado)

É razoável, portanto, que a escola por congregar em seu interior um público


demasiado heterogêneo, com diferenças culturais, étnicas, sociais, etc., composto
por uma clientela que em boa parte não havia sido alvo anterior da educação formal,
passe a ser um palco de conflitos naturais provenientes das relações interpessoais;
passe a ser um campo de diferentes tensões, de práticas de incivilidades e,
consequentemente, contemple a presença de alguma forma de violência no
cotidiano da vida escolar.
47

Parte-se, portanto, do pressuposto que o conflito é inerente à estrutura


social, como resultado de antagonismos sociais existentes e dos quais
depende o processo social. Sufocar o conflito é próprio de atitudes
autoritárias que visam impor um único ponto de vista. O conflito pode
implicar violência ou ameaça de violência. Pessoas em conflitos umas com
as outras estão conscientes de suas divergências, mas não sabem como
enfrentá-las. (STIVAL, 2007, p. 99-100)

E mais adiante segue:

Compreender e solucionar as contradições, que se encontram na origem


dos conflitos que permeiam a vida escolar, constitui-se em fator prioritário
na discussão e construção de uma escola igualitária, justa e democrática.
Construir um caminho de análise e reflexão das referidas contradições,
reforçar o caráter formador da escola, concebida como um dos instrumentos
de formação cultural e de construção do pensamento autônomo, político e
social é, com certeza, um grande desafio para a sociedade. (STIVAL, 2007,
p. 100)

Sob a perspectiva de que a violência é também parte intrínseca da


instituição escolar e que permeia o “estar e ser escola”, Dirk Oesselmann faz a
seguinte reflexão:

A violência não é apenas um problema das diferenças sociais, externas à


escola, e das predisposições pessoais, ambas invadindo e ocupando a
escola. A violência é um problema também da própria escola como sistema
educacional excludente e precário. Portanto, a violência é da escola.
(OESSELMANN, 2005, não paginado)

Portanto, se observa que diversas são as formas de violência que se


apresentam no contexto escolar. Seja a violência manifestada através de atos
contendo a agressividade como modus operandi ou seja através da violência sutil
dos comportamentos que quebram as regras da boa convivência social, ambos os
casos contribuem para a promoção da insegurança nos ambientes escolares.
O que observamos de fato é que a problemática de violência nas escolas,
enquanto fenômeno social, não é privilégio brasileiro, conforme abordou o
conferencista francês Bernard Charlot, durante sua participação no II Congresso
Ibero-Americano sobre violência nas escolas, realizado em outubro de 2005, em
Belém:

A França coloca o problema em termos de serviço público, o que


corresponde a sua tradição republicana estatal. [...] Como serviço público, a
escola deve receber o apoio de outros serviços públicos. Assim, pois, há
48

muitos anos na França a questão da violência nas escolas concerne as


relações entre os serviços de educação, polícia e justiça. Em uma
perspectiva mais ampla, esta colaboração se estende aos trabalhadores
sociais e aos trabalhadores da saúde. [...] Nos Estados Unidos, a questão
da violência na escola e, em geral, a questão da violência que tem os
jovens como vítimas e autores, é considerada como uma questão de
prevenção policial, de saúde pública, de equipamentos de lazer e como uma
questão comunitária. [...] Na Alemanha, a questão da violência é
frequentemente abordada através das questões do racismo e da xenofobia,
dos quais, historicamente, os alemães tiveram experiências dos perigos
extremos. Na Inglaterra e nos países da Europa do norte (Noruega,
Suécia), a questão central é a do bullying, quer dizer, dos maus tratos
físicos e morais, que alguns alunos, tomados como alvos, sofrem por parte
de outros alunos. Trata-se de uma questão “comunitária”, do tipo norte-
americano, enquanto que a perspectiva alemã é mais “política”, como na
França. [...] a especificidade do Brasil decorre da importância atribuída, no
debate e nas pesquisas, à questão do tráfico de drogas e das pressões,
diretas e indiretamente, exercidas sobre a escola por organizações
criminosas. Trata-se de uma especificidade compartilhada com outros
países da América latina (Colômbia, El Salvador, Venezuela, Equador),
que igualmente sofrem da amplitude da circulação de armas de fogo, do
tráfico de drogas e da corrupção, que atinge também a polícia.” (CHARLOT,
2005, não paginado) (sem grifo no original)

Sob esta perspectiva, passamos a compreender que em todos os países, os


conflitos entre alunos ou entre alunos e professores são comuns e correntes.
Ameaças, insultos, agressões, danos ao patrimônio escolar, às vezes facadas e
mais raramente tiros, são problemas compartilhados por todas as nações. De fato,
diferentes são as soluções adotadas para a resolução dos problemas de violência. É
importante, portanto, conhecer as diversas experiências tentadas em outros lugares
para que se possa adaptar as possibilidades de resposta às especificidades sociais,
multiculturais, de cada comunidade escolar.
Sedimentando uma ideologia de enfrentamento à criminalidade, a proposta
da Lex Major (Art. 205, da CF/88) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Art. 1º
e § 2º, e art. 2º, da Lei 9.394/96) é a de que a escola deve exercer um papel
humanizador e socializador, além de desenvolver habilidades que possibilitem a
construção do conhecimento e dos valores necessários à conquista da cidadania
plena. Neste ambiente, onde a mera instrução se torna incapaz de solucionar os
conflitos naturais da convivência humana, o policiamento escolar comunitário,
visando o aprender a conviver coletivamente e possibilitando introduzir mudanças
significativas nas comunidades escolares, é uma ferramenta pedagógica de
múltiplas possibilidades na promoção de segurança, pois pode contribuir demasiado
na disseminação da cultura da paz, na promoção de uma cultura de resolução
pacífica dos problemas de segurança e para a criação de um ambiente em que a
49

sociedade possa perseguir seus valores legítimos, fora da criminalidade. É uma


ferramenta que coaduna com os ideais de um Estado Democrático de Direito,
colaborando na transformação de um locus não criminógeno, ao mesmo tempo em
que abre as portas para a formação de comunidades autossustentáveis em
segurança.
Ao vislumbrar-se o policiamento escolar enquanto especialização da Policia
Comunitária, como uma alternativa pedagógica de segurança no enfrentamento à
violência escolar, como um meio de integração dos diversos atores que estão
inseridos neste universo e como uma possibilidade de melhoria na qualidade de vida
destas pessoas, necessita-se compreender o que vem a ser realmente uma
comunidade escolar para que o trabalho de Polícia Comunitária possa ser
corretamente direcionado.
Ao abordar a questão da violência nas escolas e apontar a postura
comunitário-preventiva como uma das formas para se lidar com este tipo de
problema, Tulio Kahn dimensiona comunidade escolar da seguinte maneira:

Comunidade é entendida aqui de forma ampla, englobando desde alunos,


professores, funcionários, grêmio estudantil, policiais, familiares dos
estudantes, associações de pais e mestres até moradores do bairro onde a
escola se localiza. (Kahn, 2002, p. 98)

Nelson Piletti, (1997) defende a idéia do intercâmbio da escola com a


comunidade da qual faz parte. Ao destacar que o conhecimento da própria
comunidade por parte da escola é o primeiro passo para uma interação verdadeira e
positiva, na medida em que contribua para seu crescimento global e do de sua
população escolar, o autor elenca quem são os protagonistas deste trabalho:

Na medida do possível, é aconselhável que tal serviço tenha a participação


de, pelo menos, representantes de cinco grupos envolvidos no trabalho
escolar: dos administradores da escola; dos professores; dos alunos; dos
pais dos alunos; das lideranças comunitárias (sociedade amigos de bairro,
clubes e outras organizações comunitárias). (PILETTI, 1997, p. 97)

Maria Aparecida Perez, como a grande maioria dos autores, não define
comunidade escolar, mas parte do pressuposto de que esta, dentro da égide de
democratização, está sub-entendida:
50

Fortalecer os vínculos entre escolas e comunidades, por meio de ações


envolvendo alunos, professores, funcionários das unidades escolares, pais
e mães, a comunidade do entorno, têm sido uma proposta para melhorar as
condições de ensino e combater a violência dentro das escolas. (PEREZ,
2006, não paginado)

O que se observa de modo geral é que não há uma discriminação pontual


por parte dos autores do que realmente vem a ser uma comunidade escolar e quem
são, de fato, os seus integrantes, especialmente no que diz respeito à comunidade
do entorno das escolas. Nesta linha de raciocínio o objetivo é abrir o leque de
possibilidades de forma subjetiva para não estancar os diversos atores sociais que
possam ser encontrados em uma ou outra comunidade escolar, de acordo suas
peculiaridades.
Não resta dúvida, contudo, que cada vez mais ganha força a idéia de que a
educação não pode ficar limitada aos muros escolares, mas deve sim, interagir e se
estender ao bairro, envolvendo a comunidade de pertença. Dentro da perspectiva
legal e principiológica de um ambiente escolar ético, inspirada nos ideais da
solidariedade humana, tendo por finalidade o preparo do aluno-cidadão para o
exercício da cidadania e o convívio em sociedade, a escola deve estar integrada ao
meio que a circunda, de forma que a comunidade como um todo participe, dentro
das suas condições e responsabilidades, do processo educativo.
Sob a ótica do Policiamento Comunitário Escolar e agregando à idéia de
comunidade de interesses como foco do trabalho preventivo, pode-se dizer que uma
comunidade escolar é composta de pessoas que influenciam e são influenciadas por
um vórtice educativo, podendo dela fazer parte: de maneira direta, os alunos, ex-
alunos e Grêmio Estudantil; professores, funcionários, gestores escolares e
Conselho Estudantil; a família, através dos pais ou responsáveis legais, e
Associação de Pais e Mestres; e de maneira indireta, mas não menos importante, os
moradores do bairro, dentre os quais se destacam os vizinhos dos primeiros
perímetros da escola e as lideranças comunitárias; as autoridades cívicas eleitas, a
comunidade de negócios local, a mídia e outras instituições (Setores da Prefeitura
Municipal – secretaria de urbanismo, do meio ambiente, da saúde – Ministério
Público, Poder Judiciário, Conselho Tutelar, Corpo de Bombeiros, etc.). Dentro de
uma concepção moderna de gestão democrática, a comunidade escolar, de um
modo geral, abrange as pessoas que podem estar envolvidas no processo educativo
de uma escola, construindo com ela uma postura comunitário-preventiva, na medida
51

em que se solidifica uma cultura de sustentabilidade em segurança e proporcione


um ambiente livre da criminalidade.

4.1.1 Educação Social e o Papel Pedagógico do Policial

Dentro da perspectiva do policiamento comunitário e a comunidade escolar


enquanto nicho específico de atuação, o trabalho do policial ultrapassa as questões
de segurança e avança no campo da prática sócio-educacional. Reduzir o papel do
policial comunitário a mero deliverer34 de fatos envolvendo o público infanto-juvenil
em situações de conflito com a lei é tão pobre e desprovido de cabimento quanto
insinuar que o papel do professor, na condição de educador, se limita apenas a
transmissão de conteúdos formais e nada mais.
A idéia do Policiamento Comunitário Escolar é acreditar que existam
diferentes alternativas na construção de uma sociedade sem violência. É
potencializar o papel de articulador social que o policial comunitário intrinsecamente
possui e a partir daí construir práticas legítimas de segurança em conjunto com os
segmentos das comunidades escolares. Ao focar seu trabalho na educação
preventiva e na resolução pacífica de conflitos, o policial comunitário estará
potencializando a transformação social, através da mudança de comportamento
voltado para uma cultura de prevenção, oportunizando melhorias na qualidade de
vida da comunidade.
Essa ideologia de Policiamento Escolar Comunitário vai de encontro com a
idéia dos teóricos contemporâneos que, supostamente baseados no caráter
repressivo das instituições policiais e ainda arraigados à visão do latente “Estado de
Polícia”, comumente observado na época do regime de ditadura militar, são
enfáticos em afirmar que a escola não é lugar de polícia. Contudo, sonhar uma

34
Dentre os vários significados na língua inglesa, deliverer significa entregador. Palavra originária de
delivery, comumente conhecido no Brasil pelo amplo sistema de disk pizza e entrega a domicílio. O
termo é utilizado como metáfora ao sistema tradicional de policia (Sistema Delivery de Polícia), cujo
funcionamento resumidamente se restringe à solicitação de prestação do serviço policial junto ao
número emergencial do 190, cujo desfecho, na grande maioria das vezes, contempla o
encaminhamento das partes envolvidas em um conflito para uma delegacia de área. É a polícia que
chega ao evento e transfere o momento de resolução do conflito. Dentro do ciclo de polícia é a que se
tornou na prática uma polícia dita “cartorial” ou “de transporte”.
52

sociedade perfeita, livre das mazelas da criminalidade, dissociando a idéia de


sociedade e polícia, é utopia.
Segundo a Constituição Federal (art. 205), o Estatuto da Criança e do
Adolescente (art. 53) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (art. 2º), a
educação, como dever do estado e da família, será exercida em parceria com a
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, ao seu preparo para o
exercício da cidadania e à sua qualificação para o trabalho.
Neste tocante, percebe-se que o trabalho do policial termina por representar
papel fundamental e referencial junto à sociedade na qual se insere. Rosinei Silveira
entende que é nesta representação que se revela a ação pedagógica do policial,
pois necessariamente a superação da insegurança passa pelo estabelecimento de
fundamentos apropriados para as relações interpessoais. Naturalmente, as pessoas,
necessitam de mediações para que possam sustentar suas relações e criarem
meios eficazes de superação dos problemas relacionados com segurança.
(SILVEIRA, 2009)
A partir daqui, identifica-se os primeiros subsídios da dimensão pedagógica
do policial comunitário: orientar e construir com a comunidade uma polícia que
satisfaça ao modelo de sociedade democrática e autossustentável em segurança. A
construção de uma gestão democrática de segurança, idealizada e sugerida pelos
preceitos constitucionais, extraídos da interpretação do art. 144 da CF/88, reforçam
ainda mais o papel pedagógico da Polícia Comunitária no preparo da comunidade,
no sentido de compartilhar responsabilidades, informações e propor soluções. Neste
sentido, Ricardo Brizola Balestreri é catedrático:

Há, assim, uma dimensão pedagógica no agir policial que, como em outras
profissões de suporte público, antecede as próprias especificidades de sua
especialidade. Os paradigmas contemporâneos na área da educação nos
obriga a repensar o agente educacional de forma mais includente. No
passado, esse papel estava reservado unicamente aos pais, professores e
especialistas em educação. Hoje é preciso incluir com primazia, no rol
pedagógico, também outras profissões irrecusavelmente formadoras de
consciência e opinião: médicos, advogados, jornalistas e policias, por
exemplo. O policial, assim, à luz desses paradigmas educacionais mais
abrangentes, é um exemplo de legítimo educador. Essa dimensão é
inabdicável e reveste de profunda nobreza a missão policial, quando
conscientemente explicitada através de comportamentos e atitudes. É por
esses comportamentos e atitudes, mais do que por suas palavras, que o
policial educa. (BALESTRERI, 2003, p. 24)
53

Dentro dessa perspectiva do policial comunitário pedagogo, é possível


identificar através dos mandamentos da Carta Magna um nexo entre gestão
democrática da educação e da segurança. A primeira visa expressar a co-
responsabilidade de todos os segmentos escolares na consecução da tarefa
educativa. Paralelamente, a segunda objetiva formar a comunidade e seus diversos
segmentos co-responsáveis e co-produtores pela segurança da comunidade escolar
junto com a polícia.
Quando se fala no papel do policial escolar comunitário dentro do ambiente
escolar, não se pode perder de vista que se está falando de um nicho de atuação
bastante específico. Um local com características próprias e que enseja um
tratamento diferenciado em relação aos demais locais comuns, como o bairro, a rua
ou a família.35 Um local de produção de conhecimento e de formação dos futuros
cidadãos, especialmente no que diz respeito à aprendizagem do convívio em
sociedade. Por tratar-se de um nicho que contempla uma clientela - crianças e
adolescentes - em peculiar fase de desenvolvimento e tutelada por legislação
própria, é que a atuação policial comunitária deve ser conduzida de maneira sóbria,
delicada e com um trato diferenciado, exigindo do policial comunitário escolar, um
perfil36 e comprometimento diferenciados, conhecimentos diversos, preparo
específico e constante atualização.
Tulio Kahn, ao abordar as questões do policiamento escolar, enquanto
especialidade do policiamento comunitário, assevera sobre as questões policiais
preventivas dentro da escola:

Os problemas das gangues, das pichações e depredações, do uso de


drogas entre os estudantes, são todos problemas de complexa erradicação
e que não se resolvem simplesmente punindo os contraventores. Para tratar
o problema de forma holística é preciso, entre outras coisas, colher
informações prévias para analisá-lo e propor soluções e o policiamento

35
“Para ser respeitada como um lugar de paz, antinômico à qualquer forma de violência, a escola
deve fazer reconhecer sua especificidade: ela não funciona dentro da mesma lógica e segundo as
mesmas leis que a família, o grupo de amigos, a rua, a comunidade. Quando se entra na escola,
entra-se em um outro mundo, no qual as normas e as regras são diferentes. A primeira regra é que a
escola é um local da palavra, de uma palavra que pode ser posta em dúvida, que deve apresentar
seus argumentos e suas provas, ao invés de ordens que devem ser obedecidas em nome da
autoridade única que as ordena”. (CHARLOT, 2006, não paginado)
36
Os educadores sociais são uma família muito politizada. Costumam ser formadas por pessoas
comprometidas e com uma clara tendência para as opções progressistas, de esquerda. Essa lógica
não é casual, pois boa parte dos educadores sociais atuam em setores sociais mais desfavorecidos,
o que naturalmente requer ou gera uma especial sensibilidade social. Uma sensibilidade que faz ver a
necessidade da mudança social, nutrida de um pensamento progressista e igualitário da
modernidade. (ROMANS, 2003)
54

comunitário, em tese, deve preparar os policiais para esta tarefa. Parece


consensual entre policiais e educadores que a aplicação da lei – no caso, o
Estatuto da Criança e do Adolescente – precisa ser feita, no caso da
violência escolar – com especial bom senso. (KAHN, 2001, p. 34)

O referido autor tem a acertada concepção de que a polícia, dentro do


ambiente escolar, deve intervir de forma eminentemente preventiva, inclusive na
formação do estudante em questões como drogas ou gangues, e de forma
repressiva, apenas nos casos de delitos penais mais sérios. Enfatiza, inclusive, que
o papel da polícia na disciplina escolar é complementar, cabendo à própria escola o
papel principal. (KAHN, 2002)
Percebe-se nitidamente que ao propor um policiamento especializado no
ambiente escolar, se estará talhando uma tarefa demasiado complicada, porque
tradicionalmente pensar em polícia dentro da escola é associar a um “Estado de
Polícia”. Dentro desse novo contexto social de atuação, o policial comunitário pode
vir a ser uma excelente ferramenta de apoio à comunidade escolar na construção de
um ambiente livre da violência. Contudo, ao permear nessa área, o policial terá que
se desfazer daquele estereótipo tradicional que o liga a uma imagem estranha e
autoritária no ambiente escolar e de pouca função naquilo em que ele deve ter como
foco, que é o estado pré-delitual.
Não há como se desvencilhar da árdua tarefa de construir uma metodologia
própria de atuação, pois um dos grandes obstáculos a serem transpostos é o fato de
que a polícia, enquanto órgão técnico, não estará lidando com bandidos. Mas sim,
com uma comunidade que tem práticas de violência, o que enseja do policial
comunitário estar efetivamente inserido naquele locus e dar uma resposta
diferentemente do que seria dado dentro do modelo tradicional, e ainda assim
conquistar sua legitimidade.
Por outro lado, esse profissional da segurança terá que desenvolver a
sensibilidade de se perceber enquanto permanente social e socializador. Pois neste
ambiente inusitado da atuação policial comunitária, agir na composição da paz
social, através da resolução pacífica de conflitos e na neutralização das
manifestações de comportamentos anti-sociais, será um dos seus principais
misteres enquanto agente transformador.

Nessa perspectiva, a formação do profissional de segurança do cidadão


deve desenvolver neste a capacidade analítica (reflexiva) sobre a sua
função social e a capacidade teórica prática para atuar de forma
55

competente. Para a ação cidadã no estabelecimento da democracia, o


policial militar põe-se na condição de aprendiz, pressupõe mudanças na
articulação entre o velho e o novo, na capacidade de romper limites no
exercício da cooperação, e da interação na construção de novas hipóteses
sobre os problemas apresentados, na capacidade de expressar esse
conhecimento e de agir sobre o mundo a partir de uma interpretação ampla
do mesmo. (PEROVANO, 2006, p. 24)

Ao agregar práticas preventivas de segurança e desenvolvimento


comunitário dentro da comunidade escolar, difundir valores fundamentais ao
interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à
ordem democrática, o policial estará fazendo muito mais do que agindo na condição
de mediador e articulador, mas estará penetrando no importantíssimo âmbito da
educação social.
De acordo com TRILLA citada por ROMANS (2003, p. 39) “não há
desenvolvimento comunitário sem desenvolvimento pessoal e vice-versa; as
pessoas se desenvolvem na medida e ao mesmo tempo em que se desenvolve a
comunidade da qual fazem parte.” Portanto, não há como se dissociar a idéia de
Policiamento Comunitário Escolar da intervenção educativo-social, pois esta incide
simultaneamente sobre as pessoas e sobre a comunidade.
Antoni Petrus afirma que, frente a situações de inadaptação e à
marginalização, a educação social deveria educar para a participação social. Neste
sentido, complementa:

O desafio atual da educação social é incidir no repertório de condutas dos


cidadãos, o qual supõe introduzir mudanças no seio da família, nas relações
como os colegas da mesma idade e nas instituições escolares e sociais.
Sem esquecer, entretanto, de transmitir as habilidades sociais necessárias
nas relações profissionais, de gerar atitudes positivas frente à cultura e às
subculturas. (ROMANS, 2003, p. 56)

A educação social “trata da educação do homem integral, em todas as suas


relações com a sociedade, inclui a diversidade individual e social, abrange as
transformações e os avanços do conhecimento e se dirige a todas as faixas etárias e
a todas as etapas da vida.” (SILVA; NETO; MOURA, 2009, p. 133) Ela incide de
forma a preencher as lacunas da educação formal subsidiada pela escola e da
educação moral trabalhada pela família, atuando concomitantemente com outros
agentes sociais de maneira interdisciplinar na proteção e promoção sociais
(PEROVANO, 2006)
56

Em perfeita sintonia com os ideais da educação preventiva, foco de trabalho


dos policiais comunitários dentro do ambiente escolar, a educação social contribui
para a formação integral do individuo, envolvendo seu crescimento pessoal,
estimulando sua consciência para o exercício da cidadania e a possibilidade de sua
inserção na sociedade. (SILVA; NETO; MOURA, 2009)

Além do bem-estar que as atividades da educação não-formal proporcionam


aos seus educandos, têm como objetivo chegar a toda família, além de
contribuir para a formação do indivíduo e oferecer condições de se inserir
no mercado de trabalho. A Educação não-formal forma o indivíduo para a
vida, retirando-os das ruas, das drogas, dos furtos e roubos, da prostituição
e do próprio ócio e, ainda, resgata a autoestima, munindo-o de condições
para desenvolver sentimentos de autovalorização. (CARO in SILVA; NETO;
MOURA, 2009, p. 152)

Conforme orientações da União Européia, o pilar da educação do século XXI


deve ser “aprender a viver juntos”. Isso demonstra o quão comum tem se tornado
ocorrerem na escola situações de violência, provenientes dos conflitos de
convivência e conflitos emocionais que a mera instrução formal é incapaz de
solucionar. Assim, seria pedagogicamente incorreto reduzir a educação à instituição
escolar, o que reforça ainda mais a importância da atuação sócio-educativa do
policial comunitário dentro da comunidade escolar. (ROMANS, 2003)
Denota-se, de maneira muito clara, que o “educador social é um profissional
que pode agir e interagir na prevenção e resolução dos problemas sociais de
maneira criativa”. (PEROVANO, 2006, p. 38) E, nesta perspectiva, observa-se
latente fusão entre o papel policial comunitário e o papel educativo-social.
Diante deste vasto campo de atuação em que o profissional da segurança
do cidadão está inserido, é evidente que ele passe a ser uma figura híbrida dentro
da comunidade escolar. Pois o policial comunitário não é um educador, na sua
concepção formal, nem um policial stricto sensu.
Ao mesmo tempo em que incide na seara da educação sócio-preventiva,
construindo com a comunidade facetas multiculturais, lida com situações de pessoas
em conflito com a lei, sem necessariamente abandonar o processo educativo,
construindo com a comunidade escolar pontes de possibilidades para mudança de
comportamento. Neste diapasão, o policial comunitário será a manifestação do
poder que legitima seu espaço através do saber e do conhecimento.
57

4.1.2 Possíveis Desvios por Parte da Polícia, da Escola e da Comunidade

Em sendo o Policiamento Comunitário Escolar uma modalidade de


policiamento especializado, a ser implementado em um locus social com múltiplas
característica, contemplando atores sociais diversificados, em um universo não
contumaz policial, que exigirá do profissional uma postura diferenciada do cotidiano
policial tradicional, inclusive agregando práticas preventivas sócio-educativas à sua
atuação, se pode dizer que está frente a um inusitado desafio da prática de
Segurança Pública.
Contudo, tal prática não está isenta de insucessos, pois não depende
exclusivamente da ação de um dos atores que compõe o todo, mas sim da união de
esforços e do trabalho em conjunto envolvendo todos os segmentos da comunidade
escolar.
Em razão disso, faz-se necessário pensar nas possibilidades de desvios que
podem ocorrer durante a implantação do Policiamento Comunitário Escolar, vindo
assim, a comprometer seriamente os papéis e o desenvolvimento do trabalho, sob
pena de retrocesso ao modelo tradicional.

1) Por parte da Polícia:

Problemas em nível estratégico por parte dos Comandos podem ser um dos
principais desvios em sede policial. Não deixar claro aos policiais comunitários qual
a sua principal incumbência pode fazer com que este profissional da segurança
cidadã seja mera figura decorativa dentro da geografia escolar ou mesmo ensejar
situações complicadoras.
Por falta de clareza, este policial, por ser um estranho tentando conquistar
seu espaço na comunidade escolar, pode perder o foco de sua atuação e, por boa
vontade, se submeter a outros tipos de papéis que os integrantes da comunidade
acham que seja sua atribuição, banalizando por completo o serviço de Policiamento
Comunitária Escolar.
Um dos desdobramentos muito comum causado pela indefinição da atuação
policial comunitária dentro da escola seria a terceirização das questões disciplinares
para a polícia. O policial passaria a ser fagocitado pelo sistema escolar, onde a
58

escola o subutilizaria nas pendengas de indisciplina. Isso seria um erro crasso e


demasiado perigoso para o sistema educacional, pois o professor, o pedagogo ou o
diretor escolar estaria abrindo mão da sua autoridade naquele ambiente e
transferindo sua responsabilidade inata ao profissional da segurança. Isso pode
apresentar-se como fator obstacularizador na retomada da disciplina da escola e da
reconquista de sua autoridade e, ainda, corroborar para o desgaste da autoridade do
policial.
Ainda dentro deste raciocínio, outro desvio vislumbrado é a possibilidade do
policial comunitário ser cooptado pela comunidade ao invés de construir soluções
conjuntas. A polícia não se tornará a comunidade e nem a comunidade vai virar
polícia, mas ambos devem interagir estreitando laços de confiança para definir
pautas de atuação das questões de segurança. É trabalhar para construir a
comunidade para atuar em parceria com a polícia, no sentido de formar a
comunidade autossustentável em segurança. O equívoco a ser evitado é a polícia
jamais se tornar submissa aos anseios individuais e particulares dos membros da
comunidade em detrimento do interesse social e do Bem Comum.
Observa-se também que, ao deparar-se com situações de quase delito, mas
que comumente abalam a estrutura personificada da escola, o policial comunitário
pode sucumbir aos anseios dessa comunidade. Uma comunidade que
invariavelmente não está ainda preparada para recepcionar um modelo diferenciado
de polícia e que ainda coaduna com aquela idéia de polícia enquanto ente
repressivo. Desta forma, o policial que poderia agir com uma margem de liberdade
mais abrangente, pode acabar retrocedendo à postura do policial delivered, por
acreditar ser esta a melhor solução, e abrir mão do universo de possibilidades de
soluções inteligentes e de um agir com maior flexibilidade, permitidos no permear da
zona cinzenta de quase-delito.
Diante das dificuldades que o trabalho de Polícia Comunitária enfrenta, uma
das armadilhas a serem prevenidas é como trabalhar a frustração do policial em
relação à obtenção de resultados de médio e longo prazo. É muito comum o policial
comunitário desistir de sua atuação por não ver resultados palpáveis de imediato ou
novamente socorrer-se da posição tradicionalista em substituição ao modelo
comunitário.
Outro desvio possível é o fato do policial acabar se tornando um “sociólogo”.
Ao invés de agir como profissional de Polícia Comunitária e manter um discurso
59

positivo sobre o que se está fazendo para melhorar a situação da comunidade,


apontar quais os resultados que foram obtidos e insistir na idéia de construção, o
policial passe a apresentar uma explicação do porquê ele está de mãos atadas para
desenvolver o trabalho, reafirmando a idéia de que não pode fazer nada,
disseminando que a criminalidade não tem solução e as coisas só tendem a piorar,
argumentando que as drogas já tomaram conta de tudo e de que as questões
sociais como a pobreza e a desigualdade agravam cada vez mais o quadro de
violência social.

2) Por parte da escola:

Os desvios por parte da escola estão intimamente ligados à premissa de que


quando o policial comunitário entra na escola, embora ele entre como polícia, ela vai
ser inserida num espaço em que a educação tem que ser pensada no inverso
daquele modelo de repressão.
Por isso um dos problemas mais sérios detectados nessa simbiose “polícia-
escola” é exatamente o uso do policial como agente disciplinador escolar,
transferindo para ele a resolução dos conflitos escolares. A isso se denomina
inversão de papéis, o que pode colocar em xeque toda a legitimidade da autoridade
da gestão escolar.
Outro desvio a ser pontuado é a falta de clareza sobre o correto uso do
Policiamento Comunitário Escolar, o que pode insurgir em práticas abusivas por
parte dos gestores escolares na tentativa de retomar o controle da disciplina na
escola disseminando a idéia do policial como um ente repressor que agora invade o
nicho escolar.
Neste aspecto STIVAL, (2007, p. 129) ao evidenciar o autoritarismo como
prática das gestões escolares, dificultando o desenvolvimento de uma cultura de
colaboração, afirma que “a escola apresenta características de esvaziamento do seu
verdadeiro compromisso social e compromete a atuação educativa, porque não
educa para convivência e a confiança, mas reforça as situações de violência”.
Isso pode ser plenamente observado quando, os gestores escolares utilizam
a imagem estigmatizada de repressividade do policial militar como forma de
reafirmação da sua autoridade perante os alunos, com o escopo de manter o
controle através da cultura equivocada do medo.
60

3) Por parte da comunidade

Dentre os possíveis desvios por parte da comunidade, destaca-se suas


fantasias pela falta de clareza das atribuições do policial comunitário, uma vez que a
própria comunidade já tem um modelo pré-concebido de polícia. Nesta idéia pré-
concebida, a comunidade pode alimentar desejos de que a polícia exerça uma
função que não é dela, inclusive para casos em que sua formação seja
completamente descartável, como exigir socorros a partos, serviços de condução de
doentes para hospitais e postos de saúde, vigilância particular em determinados
estabelecimentos comerciais do bairro, atuar na condição de “carrocinha”, entre
outras atribuições afetas a outras instituições do Estado.
Outro ponto a ser considerado é uma possível falta de compreensão da
comunidade em relação à cultura de Polícia Comunitária que se pretende construir.
Essa proximidade do policial comunitário com a comunidade pode torná-la ainda
mais dependente do Estado, por acreditar que a segurança é responsabilidade
exclusiva da polícia. Esta é uma visão distorcida e contrária ao preceito
constitucional, pois representa uma verdadeira dissintonia entre o papel que o
policial acredita estar representando e o que a população percebe de sua atuação,
evidenciando que não estão falando a mesma linguagem.

4.2 SUGESTÕES DE MACROINTERVENÇÕES

A democracia enquanto tecnologia social de participação é um excelente


sistema que possibilita ao policiamento comunitário trabalhar a transformação dos
cidadãos nas questões atinentes à Segurança Pública. Contudo, para que a
democracia seja de fato um bom sistema, ela necessariamente precisa que este
cidadão, que agora estará fazendo parte do processo de mudança na condição de
protagonista co-responsável e co-produtor pela segurança do espaço social em que
61

está inserido, esteja devidamente educado, moralizado e consciente do seu papel


dentro deste Estado de Direito.37
É dentro do foco constitucional da missão policial, numa idéia de órgão de
Segurança Pública essencialmente preventivo, que parece ser atribuição por
excelência de uma policia comunitária preparar esta sociedade para compartilhar
deste novo modelo de Estado e, por consequência, deste novo modelo de polícia.38
É neste viés sócio-educativo que o Policiamento Comunitário Escolar busca
construir práticas legítimas com os diferentes grupos da comunidade escolar com os
quais se relaciona, objetivando construir uma sociedade livre da violência, das
drogas e autossustentável em termos de segurança.
O dever de uma Polícia Comunitária é também atribuir deveres. E se o dever
da comunidade é também cuidar da segurança do seu próprio espaço social, dentro
da premissa de que a Segurança Pública funciona melhor quando os cidadãos
também querem viver em um ambiente de paz, é fundamental que a polícia
enquanto órgão estatal de segurança se diferencie primeiramente e principalmente
pela metodologia inteligente neste processo de transformação ao invés de
sedimentar cada vez mais uma cultura de órgão reativo, que conquista seu espaço
pela possibilidade do uso da força.
Neste sentido, formar uma Cultura de Resolução Inteligente de Conflitos
com a comunidade escolar é trabalhar preventivamente as questões de violência e
estimular a propagação do conhecimento cognitivo39 como alternativa a estas
práticas anti-sociais. A idéia é exatamente criar mecanismos para que as pessoas

37
Muitas atrocidades cometidas pelos policiais são reflexo de uma sociedade que exige esse tipo de
comportamento. Tem de moralizar a polícia, mas moralizar antes a sociedade que exige o
comportamento agressivo. (MV Bil. In: SANCHES, 2010, p.115)
38
Neste sentido, fomentar uma campanha de parceria entre polícia e comunidade é sedimentar uma
Cultura de Segurança e de Polícia Comunitária que possibilitará alcançar sucesso nas ações
preventivas que se pretenda construir com a comunidade. É aceitar e assumir perante a comunidade
os erros da própria corporação e, dentro do papel pedagógico do policial comunitário, desconstruir a
idéia de que a polícia ou é permissiva demais ou quando age, o faz num viés de inimigo da
sociedade. Sob esta ótica, é saber trabalhar com os extremos sem ser extremista. É encontrar o
equilíbrio dentro da legalidade.
39
Nota-se, então, que a resposta agressiva é função tanto da tendência que possuem certos sujeitos
de enxergar motivações maléficas nos outros, quanto da pobreza de seu repertório cognitivo para
equacionar tais situações. Para combater a agressividade do sujeito em questão seria necessário,
então, agir em duas frentes. Eliminar sua tendência a interpretar aborrecimentos da vida cotidiana
como provocações pessoais. O que se faria mostrando-lhe a irrealidade de seu modelo de
pensamento. E, ao mesmo tempo, ajudando-o a desenvolver modelos de reação socialmente
adequados ao encaminhamento de situações provocativas. Como essa abordagem acredita que a
agressividade é uma distorção cognitiva pessoal, é no próprio sujeito – e não na sociedade – que se
deve processar a cura. (SELL, 2006, p. 219-220)
62

não precisem chegar a ponto de utilizarem a violência para resolverem seus


problemas. É fazê-los compreender que empregar a força para solucionar os
conflitos segue a mesma lógica do paradigma policial que se esta tentando superar
quando se constrói com a comunidade uma cultura de Estado de Direito e não de
Estado de Polícia. É deixar claro para os sujeitos, especialmente os alunos-cidadãos
que estão em peculiar fase de formação, que optar pela violência, como regra, é
uma opção não inteligente, uma saída ruim e que em geral acaba potencializando
ainda mais o conflito, o deixando maior do que os envolvidos pretendiam.
Sob esta ótica, parece estar em perfeita sintonia com a atribuição
constitucional de uma polícia preventiva no estilo comunitária escolar a criação de
um Programa de Resolução Não-Violento de Conflitos40, onde o policial
comunitário escolar teria o papel de facilitador, estimulando cognitivamente os
sujeitos daquela comunidade a buscarem alternativas não violentas para os
problemas de relações interpessoais, criando uma cultura de possibilidades
alternativas em substituição à violência.
Ainda sob o enfoque constitucional de uma polícia preventiva, abordar a
problemática sobre drogas dentro da comunidade escolar constitui-se de uma tarefa
complexa, pois a proposta de trabalho deve superar os mecanismos repressivos

40
Jovens Construindo a Cidadania do Brasil (JCC Brasil) – o programa de origem ao JCC, o
Youth Crime Watch (Jovens Contra o Crime), foi criado nos Estados Unidos da América do Norte em
1979 como conseqüência direta de uma comunidade inconformada, que se uniu contra a injustiça
após o caso de violência sexual contra uma jovem de 12 anos. O programa experimental Youth Crime
Watch, inicialmente criado na Flórida, foi um sucesso total. No seu primeiro ano de implantação, o
programa ajudou a reduzir os problemas de drogas e crimes nas escolas nas quais o projeto foi
implantado. As reduções foram em níveis superiores a cinqüenta por cento (50%). Igualmente
importante foi a mudança nas atitudes dos estudantes. Eles estavam aprendendo que tinham o poder
de fazer a diferença. Estudantes estavam notificando crimes, puderam-se notar resultados positivos e
um significante aumento na moral dos jovens. O Youth Crime Watch se tornou uma entidade nacional
em 1986 com a criação do “Youth Crime Watch of América – YCWA”, uma organização sem fins
lucrativos visando apoiar e dar seguimento ao sucesso do Youth Crime Watch, ajudando a difundir os
ideais por todos os Estados Unidos da América do Norte. No Brasil, o programa “Jovens Construindo
a Cidadania do Brasil” atrai jovens de todas as classes sociais com a finalidade de identificar e corrigir
problemas em comum às suas escolas e comunidades. O programa cria dispositivos que incentivam
a participação dos próprios jovens na resolução dos problemas que os cercam. Os jovens assumem a
posição de fundadores dos seus próprios programas JCC para suas escolas ou comunidade. JCC
provê aos jovens toda a assistência necessária para o desenvolvimento de programas liderados por
jovens cuja missão inclua qualquer um dos nove componentes do JCC. Estes componentes são
partes da filosofia “Observe – Ajude” do JCC. Os principais atores do programa são os jovens, seus
pais ou responsáveis, os educadores, policiais e agentes da lei e voluntários, e seus objetivos são:
criar um ambiente livre de crimes e drogas, através de um movimento liderado pelos próprios jovens;
ressaltar a importância de boas atitudes, promover o valor cívico e estimular autoconfiança nos
jovens e fazer com que os próprios jovens sejam os instrumentos de prevenção de crimes, uso de
drogas e violência nas escolas e comunidades. (Disponível em:
<http://www.ycwa.org/world/port/index.html>. Acesso: 09 jul. 10.)
63

intimidatório policial - como forma de abordagem estanque - e deve permear pelo


campo da educação social dentro de uma linguagem não policial propriamente dita,
mas culturalmente situada41.
Optar pelo nicho escolar como locus de atuação é ampliar as possibilidades
de ações preventivas, correlacionando questões de segurança e defesa social com
educação e saúde pública. Este direcionamento se dá em razão da comunidade
escolar ser um ambiente caracteristicamente heterogêneo que, invariavelmente,
apresenta situações de risco42, potencializando a probabilidade de uso indevido de
drogas.
Dentre os multifatores de risco associados ao uso de drogas existentes no
seio da comunidade escolar, PEROVANO, (2006) aponta que na escola, por
exemplo, atitudes e comportamentos favoráveis ao uso de substâncias pelos
funcionários e pelos estudantes, regras e sanções ambíguas ou inconsistentes em
relação ao uso de drogas e às demais condutas dos alunos, a falta de senso
comunitário e as condições pedagógicas que não atendam as dificuldades de
aprendizagem, são situações favoráveis ao uso de drogas. Na comunidade, assim
como na sociedade em geral, a disponibilidade de álcool, cigarros e outras drogas
em locais próximo da escola também devem ser considerados como fatores de risco.
Cita, ainda, as posturas favoráveis para o uso e abuso de drogas, a falta de
conhecimento ou consciência da problemática, a falta de oportunidade para o
envolvimento social, o empobrecimento, desemprego, subemprego, entre outros. Na
família, pode ser levada em consideração a interação dos aspectos genéticos e
ambientais. Neste tocante, cita o consentimento ou estimulo da família em relação
ao uso de drogas lícitas ou ilícitas, a violência doméstica, a manifestação de
expectativas irreais de desenvolvimento para a criança ou o adolescente, a falta de
supervisão e disciplina familiar, entre outros fatores de risco que podem ser
acrescentados.

41
A idéia de formação de uma Cultura de Educação Preventiva sobre Drogas com a comunidade alvo
do policiamento comunitário escolar, deve ser trabalhada de forma adaptada à cultura local. O
modelo proposto deve estar adequado à realidade e às necessidades de cada comunidade, levando
em consideração as características daquele locus, como aspectos sócio-culturais, faixa etária do
público alvo, condições sanitárias, os mitos que se encontram por trás das drogas, etc, amoldando o
discurso dos policiais com base no contexto social pré-existente.
42
Quando falamos aqui em situação de risco, estamos nos referindo aos fatores de risco sociais em
que estão expostos os indivíduos sociais, e que podem estar presentes no próprio indivíduo, na
família, na escola, nos grupos e nas comunidades. (PEROVANO, 2006, p. 37)
64

Assim, levando em conta a especial condição da criança e do adolescente,


enquanto sujeitos em fase de formação e desenvolvimento biopsicossocial e sua
susceptibilidade e vulnerabilidade em relação ao uso experimental das drogas43,
vislumbrar um Programa Educacional de Prevenção e Resistência às Drogas44
como foco do trabalho de uma Polícia Comunitária Escolar, dando ênfase ao
trinômio cooperativo Polícia, Escola e Família, e formando com a comunidade uma
Cultura de Educação Preventiva sobre Drogas, é agir de acordo com a atribuição
constitucional de uma polícia preventiva, em perfeita consonância com a doutrina da
proteção integral prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente.45
Reforçando os objetivos de uma polícia preventiva que almeja formar com a
comunidade escolar uma Cultura de Prevenção às Drogas, não se pode afastar a
importância que o papel da comunidade do entorno possui no sentido de solidificar
também uma Cultura de Segurança naquele locus. Neste diapasão, é
absolutamente necessário trabalhar as questões das drogas lícitas e ilícitas no
sentido de sensibilizar os vizinhos da escola a tornarem-se participes em relação às
práticas de segurança, por exemplo, criando o hábito de informar os segmentos
policiais, seja pessoalmente ao policial comunitário da área ou através da

43
A criança e o adolescente são considerados população de risco para o uso experimental das
drogas. Os efeitos são potencializados em função da imaturidade do organismo e da indefinição dos
padrões de comportamento adaptativos e definidores da estrutura da personalidade. A substância
psicotrópica não atua apenas no sistema nervoso central, mas em todo o organismo. (PEROVANO,
2006, p. 50)
44
Programa Educacional de Resistência às Drogas e à violência (PROERD) - após diagnosticar
falhas nos organismos de repressão ao tráfico e aos usuários de drogas, o Departamento de Polícia
de Los Angeles, nos Estados Unidos da América, desde 1983, vem aplicando um programa
educacional que visa prevenir estudantes em idade escolar dos males causado pelo uso das drogas e
conseqüências advindas, como a violência. Denominado “Drug Abuse Resistance Education - DARE”,
o programa, que foi criado pela Professora Ruth Rich e equipe de educadores e desenvolvido em
conjunto com o Departamento de Polícia daquela localidade, vai além dos tradicionais projetos sobre
prevenção ao uso das drogas, pois ensina as crianças a reconhecerem e a resistirem às classes
dessas substâncias psicotrópicas, e principalmente identificarem pressões pessoais e de grupos, da
mídia e outros canais. O “Programa Educacional de Resistência às Drogas e à violência – PROERD”,
que corresponde a uma adaptação da sigla Norte Americana DARE/AMERICA, está presente
atualmente nos 50 Estados Americanos e em 58 países nos cinco continentes, e já beneficiou ao
redor do mundo aproximadamente 40 milhões de crianças. Presente no Brasil, desde 1992, o
programa está sendo aplicado pelas Polícias Militares em todos os Estados. O PROERD possui a
meta de educar as crianças no ambiente da educação formal, na escola. Reúne esforços para o
trabalho conjugado com a família, a escola e a polícia e tem por principais objetivos: atuar como
multiplicador de informações preventivas sobre drogas e violência, com foco na valorização da vida;
estabelecer uma estratégia preventiva para reforçar os fatores de proteção, em especial referentes à
família, escola e comunidade; favorecer o desenvolvimento da resistência em jovens que podem
correr o risco de envolverem-se com drogas e/ou apresentarem comportamento violento e concentrar
esforços no desenvolvimento de competência social, liberdades de comunicação, auto-estima,
empatia, tomada de decisões e resolução de conflitos. (PEROVANO, 2006)
45
Lei nº 8.069, de 13 Jul. 1990. (Estatuto da Criança e do Adolescente)
65

comunicação sigilosa, de fatos ou atitudes suspeitas relacionados ao tráfico e uso de


drogas ilícitas e quanto à comercialização indevida de drogas lícitas para o público
infanto-juvenil do bairro. Da mesma forma, se faz necessário uma abordagem inicial
junto aos comerciantes do entorno escolar no sentido de convocá-los à
responsabilidade, orientado-os quanto à importância da não comercialização de
bebidas alcoólicas e cigarros, artefatos explosivos ou qualquer outro produto cujo
conteúdo seja proibido a crianças e adolescentes, sob pena de intervenção policial
tradicional.
As propostas preventivas, de uma Polícia Comunitária Escolar, não devem
se esgotar nas problemáticas da violência e do uso indevido de drogas. Desde que
baseado nas peculiaridades e necessidades da comunidade, o trabalho de uma
Polícia Comunitária, do tipo escolar, pode resgatar, toda uma dimensão humana
desrespeitada, possibilitando trabalhar outras temáticas multiculturais com os
diversos públicos, como respeito às pessoas e às suas diferenças, cidadania
combinada com trânsito e segurança, a formação de gangues, o uso de armas de
fogo, segurança pessoal, bullying, etc.
Toda sugestão de macrointervenção, que ora não se esgota, somente
possibilita almejar resultados satisfatórios de transformação no seio da comunidade,
que naturalmente ocorrem a médio e longo prazo, se o profissional da área de
segurança for preparado adequadamente para este mister. Atuar dentro da sua
especificidade constitucional, com enfoque nas ações preventivas, exige deste
profissional, que historicamente é talhado para agir de maneira tradicional, romper
com os antigos paradigmas e preparar-se adequadamente para o desafio de um
novo modelo de polícia.
Para que o policial comunitário escolar possa permear pela área da
educação preventiva, na condição de figura híbrida, ora atuando como policial na
essência, ora como articulador pela própria natureza de ser comunitário, ora como
facilitador, pedagogo e educador, ora como agente desmobilizador de conflitos, é
necessário que este profissional seja alvo acurado de um processo de formação
técnico e de um processo cíclico de formação continuada. Identificar a necessidade
de macrointervenção com o público interno da polícia vem ao encontro do ideal de
se ter uma Polícia Comunitária preparada para preparar a comunidade a recepcionar
uma nova filosofia de polícia.
66

4.3 SUGESTÕES DE MICROINTERVENÇÕES

Pode-se afirmar que uma das ideias do Policiamento Comunitário Escolar é


parar de dar tratamento genérico para problemas específicos. Neste sentido, as
microintervenções estão relacionadas às demandas de cada espaço escolar que
possibilitam ao policial comunitário atuar, utilizando-se da sabedoria construída em
conjunto com aquela comunidade, dentro de uma linha de intervenção específica e
pontual. Isso coaduna com a proposta de se firmar uma parceria inteligente com a
comunidade para instrumentalizar essa idéia de “segurança para todos”, fruto de
uma nova concepção de polícia. Obviamente uma tarefa mais difícil de fazer, mas
talvez uma das poucas formas de se diferenciar dos grupos tradicionais de ronda
escolar que se destacam apenas pela ostensividade (pseudo-patrulhamento
diferenciado).
Para que os aspectos preventivos possam ser trabalhados inteligentemente
entre comunidade e Estado, é preciso, antes de tudo, desmistificar a equivocada
percepção da comunidade de que a única saída para os conflitos está diretamente
relacionada à intervenção de polícia e consequente solução cartorial, processual e
judicial.
Neste contexto, caberá ao policial comunitário escolar situar-se
culturalmente dentro da comunidade e, dentro de uma visão tipicamente de polícia
preventiva, aproximar-se da educação de forma a legitimar com a comunidade
escolar Práticas de Resolução Inteligente de Conflitos, especialmente em
situações de quase delito envolvendo alunos-cidadãos, possibilitando propor
compartilhadamente soluções alternativas e não-violentas que mais coadunem com
as exigências constitucionais.
Como possibilidade de resolução inteligente de conflitos interpessoais,
sugere-se o estímulo do exercício do diálogo entre os envolvidos, com o propósito
de identificar o problema e resolvê-lo por meio de discussão aberta. Dentre as
técnicas pacíficas de gerenciamento de conflitos que mais se harmonizam a esta
proposta é a Mediação de Conflitos46, pois além de contribuir no processo de

46
A Mediação de Conflitos é um método autocompositivo também dedicado à restauração da relação
social, o que a diferencia de outros métodos autocompositivos como a negociação e a conciliação. É
um processo de diálogo que inclui a desconstrução do conflito, o restauro da relação social e a
67

construção da cidadania, serve de ponte de possibilidades com os diferentes atores


escolares na consecução de uma Cultura de Paz.
Nos conflitos envolvendo grupos de rivalidade violenta dentro da escola,
parece ser bastante apropriado ao policial comunitário, em conjunto com o gestor
escolar e corpo pedagógico da escola, trabalhar com Metas Superordenadas47, de
forma a possibilitar com que aqueles sujeitos, que estão polarizados no conflito,
atuem cooperativamente na resolução de um problema de interesse comum, maior
do que o motivo daquela rivalidade. A lógica do processo está em fazer com que os
grupos rivais percebam que o motivo da rivalidade é tão insignificante que pode ser
superado quando outros objetivos maiores estão em jogo. Essa mudança de
percepção por parte dos grupos conduz a uma mudança de comportamentos nas
relações sociais e fortalece a tão almejada Cultura de Paz na Escola.
Outra possibilidade de microintervenção possível de ser construída entre a
polícia, escola e família, é montar comitês com representantes de todos os
segmentos da comunidade escolar para juntos definirem espaços de resolução
inteligente de conflitos e formas padronizadas e sustentável pela comunidade para
lidar com comportamentos especificamente violentos48.
Evidentemente que o Policial Comunitário Escolar não pode se fazer
presente em todos os momentos do cotidiano escolar e integrar todas as práticas
legítimas de resolução de conflitos construídas com esta comunidade. Entretanto,
dentro deste universo de possibilidades sugeridas, é plenamente possível em
algumas situações ter o comprometimento com a solução do conflito quebrando
radicalmente com o foco de intervenção do modelo tradicional.

construção de soluções em co-autoria. Sua operacionalização foi assim pensada porque acredita-se
que a co-autoria, e a resultante co-responsabilidade necessária para o cumprimento do acordado,
somente podem advir daqueles que puderam tratar o conflito existente entre eles. (Disponível em:
<http://www.mediare.com.br/08artigos_12mediacaodeconflitos.html>. Acessado em: 10 jul. 10)
47
Metas Superordenadas podem ser definidas como objetivos compartilhados que não podem ser
alcançados sem que haja a cooperação mútua entre partes conflitantes.
48
Quando um aluno é expulso da escola ou lhe é concedido uma transferência compulsória em razão
de uma falta disciplinar grave, este aluno simplesmente vai migrar com todos os seus problemas de
comunidade escolar para comunidade escolar e assim sucessivamente, mas continuará, de fato,
sendo um problema para as escolas. E, se em algum momento este aluno desistir de estudar e
abandonar o contexto educacional formal, sob o ponto de vista do Estado não muda nada. Para evitar
que este aluno-cidadão seja definitivamente perdido pelo sistema escolar, o que é que se pode fazer
antes da ultima ratio da escola? A proposta de criação de um comitê de segurança escolar seria
justamente trabalhar com as questões escolares de quase-delitos como um mecanismo intermediário
antes da expulsão ou da concessão compulsória de transferência, de modo que se obtenha uma
espécie de moratória para se tentar alternativas ainda não utilizadas a fim de resgatar este aluno-
cidadão e evitar sua expulsão, impedindo, desta forma, que a falência do modelo educacional
proposto seja chancelada.
68

5 CONCLUSÃO

Após longa discussão, análise e reflexão sobre as questões de Segurança


Pública e o modelo de polícia que se pretende nesse importante momento de
transformação social, conclui-se que após 1985, superado o regime ditatorial, como
símbolo mor do surgimento de uma nova conjuntura social, a Carta Magna de 1988
que materializa os ideais de um legítimo Estado de Direito, além de quantificar os
direitos e garantias fundamentais dos indivíduos e priorizar sobremaneira o cidadão
brasileiro, instituiu a democracia participativa como um novo paradigma.
Diante desse enfoque constitucional, a Segurança Pública atinge o status de
direito inalienável do ser humano, pois passa a integrar o rol de necessidades e
aspirações básicas de qualquer cidadão. Ao estar intimamente conectada à idéia de
defesa social e ao processo de desenvolvimento de uma nação, a Segurança
Pública torna-se indispensável para o fortalecimento da sensação de bem estar e
consecução do bem comum.
A idéia de participação democrática é sutilmente ratificada pelo art. 144 da
Constituição Federal de 1988, ao declarar que Segurança Pública, além de dever do
Estado e direito de todo cidadão, é também responsabilidade de todos. Sob esta
ótica, percebe-se que o texto legal habilmente atribui uma responsabilidade
compartilhada entre Estado e toda sociedade para com as questões de segurança.
As polícias e os cidadãos são convocados a reconhecerem na participação
social e na conjugação de esforços o verdadeiro caminho para se construir uma
sociedade mais segura e livre da violência, reafirmando a idéia de que exercício de
cidadania e participação popular são indissociáveis uma da outra.
À medida que se sedimenta a idéia de democratização da Segurança
Pública, para as Polícias Militares, consideradas órgãos de preservação da ordem
pública para todo universo da atividade policial, que ainda carregam os estigmas dos
anos de chumbo da ditadura militar, o rompimento com o tradicional é tarefa
sensivelmente árdua exigindo a adoção de uma nova filosofia.
Nesse contexto, exsurge a Polícia Comunitária como alternativa ao modelo
tradicional de polícia. Uma das principais estratégias do policiamento moderno
adotado pelas forças policiais nos últimos 50 anos, que mais se amolda aos ideais
de um Estado de Direito. É o modelo contemporâneo sugerido pela própria
69

constituição, que baseia-se no respeito aos direitos e garantias fundamentais da


pessoa humana e persegue a construção de uma sociedade não criminógena
através da união de esforços entre polícia e comunidade.
É definitivamente uma arte inovadora de se pensar e fazer polícia com
qualidade. O êxito da polícia não está apenas na sua capacidade de combate ao
crime, mas na possibilidade de resgatar a sensação de segurança através da
redução do medo, de preservar a ordem pública e na sua habilidade de formar
comunidades autossutentáveis em segurança. Assim, vislumbra-se no modelo
comunitário o que melhor representa a missão constitucional de uma polícia
essencialmente preventiva.
Trazendo à baila a experiência de Polícia Comunitária, com ênfase na seara
da educação preventiva sobre drogas e violência, infere-se pelas comunidades
escolares como foco do policiamento comunitário. Sugestão que enseja a atuação
de policiais especializados em Policiamento Comunitário Escolar.
A escola é um dos nichos sociais mais suscetíveis à introdução de
mudanças. É local onde se produz conhecimento e o mais adequado para se
combater a exclusão social, integrar as minorias, promover ações multiculturais e
construir o sentimento de pertencimento da comunidade. E como tal, não está isenta
de sofrer com as ondas de violência que paulatinamente assolam a sociedade.
Da simbiose entre polícia e escola (Segurança e Educação) nasce a
possibilidade de se ampliar o alcance das práticas preventivas de segurança e
transformar o comportamento de toda comunidade escolar, em especial do aluno-
cidadão, que é o individuo em especial condição de desenvolvimento biopsicossocial
e apresenta maior susceptibilidade para recepcionar e multiplicar novas idéias.
No ambiente escolar, onde a mera instrução se torna incapaz de solucionar
os conflitos naturais da convivência humana, o Policiamento Comunitário Escolar
fomenta participação e aprendizado. É uma ferramenta pedagógica multifuncional na
promoção de segurança preventiva, que pode contribuir no desenvolvimento sócio-
cultural daquele locus, à medida que dissemina uma cultura de paz e de Polícia
Comunitária e promove uma cultura de resolução pacífica de conflitos e de
educação preventiva sobre drogas, cooperando com a criação de um ambiente em
que a sociedade possa perseguir seus valores legítimos, fora da criminalidade.
Nessa perspectiva, o papel pedagógico do policial comunitário perante a
comunidade escolar ganha importância, relevante destaque e passa ter uma
70

dimensão ainda não vista nos moldes tradicionais, quando se constrói com a
comunidade uma polícia que satisfaça ao modelo de sociedade democrática. Ao
mesmo tempo em que permeia a seara da educação sócio-preventiva, o policial
comunitário escolar constrói com a comunidade facetas multiculturais. Ao lidar com
situações de pessoas em conflito com a lei, sem necessariamente abandonar o
processo educativo, constrói com a escola pontes de possibilidades para concretizar
as transformações sociais almejadas, legitimando seu espaço através do saber e do
conhecimento.
Na medida em que as Polícias Militares vão gradativamente aceitando e
adotando a Polícia Comunitária como principal estratégia institucional de
policiamento e os governos, da mesma forma, a elevando ao status de política
pública de Estado, em contraposição à idéia de programa de governo, o
Policiamento Comunitário Escolar, dentro de um viés sócio-educativo, apresenta-se
como uma real possibilidade de reaproximação cidadã entre polícia e comunidade,
provando ser uma estratégia alternativa e inteligente para formar comunidades
escolares autossustentáveis em segurança, introduzindo no seu repertório de êxitos
a prevenção ao crime, a redução do medo e a construção conjunta de práticas
legítimas de segurança.
71

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