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Em Pictures, logic, and the limits of sense in Wittgenstein’s Tractatus Ricketts pretende

esclarecer o conteúdo e a motivação da visão wittgensteniana de sentenças como


figurações, e relacionar essa concepção às visões de Wittgenstein sobre lógica.
Ricketts destaca: DISCREPANCIA EM COMO W. E R. TRATAM RELAÇÕES,
EM ESPECIAL RELAÇÕES ASSIMETRÍCAS – TEORIA DAS RELAÇÕES
MULTIPLAS EM R. / REGRAS DE PROJEÇÃO EM W. -
A argumentação de Ricketts parte de uma análise da velha lógica – em como essa é
fundada sob uma concepção universalista da lógica – e em como Wittgenstein a rejeita,
mas mantêm princípios guias dela: (1) a lógica estrutura todo o pensamento e (2) que é
possível dar uma expressão clara e não ambígua dos conteúdos julgados verdadeiros ou
falso. A visão universalista não há universos de discursos diferentes para os
quantificadores, e não se utiliza interpretações variantes da linguagem.
“Na visão universalista, então, lógica é uma ciência própria,
que se direciona à realidade do mesmo modo que a física,
mas às características mais gerais da realidade (...) a
máxima generalidade das leis lógicas assegura a
aplicabilidade universal delas (...) através da generalidade
de suas leis lógicas, a ciência da lógica .” (p. 60).
O método de Russell, então, sugere uma a prática de uma filosofia/lógica universalista.
Uma das maiores complicações dessa visão será que em algum momento o lógico
universalista será levado a falar sobre lógica, a falar sobre as noções fundamentais – e
para isso, será necessário pressupor e utilizar a lógica. Toda instrução fundacional, na
medida em que elas comunicam verdades, precisam ter um espaço na estrutura que a
lógica fornece para toda afirmação. Haverá, então, um vocabulário de variáveis que irão
generalizar sobre indivíduos, outro para propriedades de indivíduos, e ainda outro para
as propriedades de propriedades, mas não haverá variáveis que generalize da mesma
forma sobre todas entidades, indivíduos e propriedades (p. 61). Ricketts: Como
consequência, é impossível descrever essa hierarquia tipo-teorética dentro de uma
formulação tipo-teorética da lógica, por a descrição dessa hierarquia requer o uso de
variáveis que alcançam entidades de diferentes tipos. Assim, aparenta haver fatos –
fatos sobre distinções de tipo – que não podem ser capturados dentro de uma
formulação tipo-teorética da lógica.
Wittgenstein rejeitará a generalidade como uma marca do que é lógico. Ao justificar um
axioma, o lógico universalista só pode apelar a generalidade, acompanhada da auto-
evidência. Os princípios lógicos serão racionalmente inegáveis, porém, nada intrínseco
à eles explica seu caráter especial, e, de modo conflituoso, os princípios de inferência
não podem estar à par de outras verdades – como o universalista pretende. Lógica deve
ser um tipo TOTALMENTE diferente de qualquer outra ciência (Nota 6 – carta de W. a
R.). Não é desejado, nem necessário que as inferências lógicas sejam mediadas por
verdades gerais – não há, de acordo com Wittgenstein, leis gerais que justifiquem
inferências individuais.
A incapacidade do universalista lógico de explicar o caráter especial de seus axiomas, e
(em suma, mesmo problema apresentado de outra forma) de lidar com o conflito de
desejar que as verdades lógicas estejam a par da verdade das outras ciências, é um ponto
chave da argumentação de Ricketts – sua intenção é mostrar como essas falhas do
universalista levam Wittgenstein a concepção de sentenças como figurações –
relacionando essa concepção às visões deque W. tem dá lógica. Ricketts aponta que,
para Wittgenstein, a conectividade das sentenças deve estar, de alguma forma, enraizada
na natureza da sentença como uma representação da realidade. Como se dá esse
enraizamento? Isso levará Wittgenstein a negar que haja princípios lógicos como os que
Frege e Russell identificam, a negar que há qualquer corpo de teoria que estabelece a
conexão lógica das sentenças.
6.13: A lógica não é uma teoria, mas uma imagem especular do mundo.
A lógica é transcendental
Nessa visão (Ricketts, p. 64), a visão do lógicista é de tornar perspícuas as conexões
lógicas intrínsecas às afirmações através de uma expressão clara dessas afirmações.
II
O passo seguinte de Ricketts é identificar o que motiva a visão de Wittgenstein de que
as sentenças representam a realidade ao fazerem um modelo dela. Essa visão, ele dirá,
pode ser motivada como uma reação a concepção inadequada de representação que
reside no coração da teoria russelliana do juízo de relações múltiplas.
A teoria das relações múltiplas surge em Russell a partir do momento em que ele
substitui uma metafisica de proposições (em que um fato é nada mais que uma
proposição verdadeira), por uma de fatos, em que uma proposição será verdadeira caso
houver um falto que corresponda a ela, e será falsa caso não houver um fato
correspondente.
Há duas partes, aponta Ricketts, da teoria das reações múltiplas: a análise de um juízo, e
a caracterização dos juízos então analisado com fatos que infligem verdades em alguns
deles (p. 65). Tal caracterização é o que dá conta da noção Russelliana de representação
– ela explica o que faz um dado juízo seja o juízo que tale tal é o caso. Nas versões da
análise de relações múltiplas de 1910 e 1912, a relação de julgar é uma relação múltipla
que ocorre entre uma mente e outros itens ontológicos. “Iago julga que Desdemona ama
Otelo” é uma relação tetraédrica entre Iago, Desdemona, a relação de amar, e Otelo.
Que pode ser rescrita como:
J (I, D, Ama, O).
Juízos serão, então, fatos formados pela relação julgar.
Russell deve apresentar uma análise do juízo múltiplo capaz de capturar a diferença
entre o juízo que aRb e o juízo que bRa, Em POP Russell nomeará tal diferença como o
“sentido” ou a “direção” de um juízo. A diferença entre s julgar que aRb e s julgar bRa
será a diferença entre J (s,a,R,b) e entre J (s,b,R,a). O que fará a diferença, então, será a
exploração da ordenação intrínseca das posições de argumento em relações para
caracteriza a correspondência que faça um julgamento verdadeiro (p. 66).
J (s,a,R,b) será verdadeiro, se a houver um fato em que y ocupa a primeira posição de
argumento de R, e b a segunda.
Rusell irá abandonar essa visão em 1913, ao ser persuadido que os espaços de
argumentos nas relações não serão ordenados intrinsicamente. Ricketts busca deixar
clara essa mudança de posição: Russell, nos Princípios da Matemática, se compromete
a tese de que se uma relação assimétrica R está entre os primitivos ontológicos, a sua
oposta também estará. No manuscrito de 1913 de Theory of Knowledge Russell volta
atrás, decidindo que as sentenças “a é filho de b” e “b é pai de a” são sinônimas, que
expressam o mesmo juízo, que são verdadeiras se elas corresponderem ao mesmo fato.
Entretanto, nenhuma será a abreviação definicional da outra, nenhuma será
primitivamente ontológica. Haverá, no lugar, somente uma relação – os predicados “é
filho de” e “é pai de” nomeiam a mesma relação assimétrica – entretanto, para manter
que as sentenças “a é filho de b” e “a é pai de b” expressem julgamentos diferentes,
Russell deve negar que o sentido de relação é intrínseco a ela.
Theory of Knowledge, p. 88: Sense is not in the relation alone, or in the complex alone,
but in the relations of the constituents to the complex which contitute “position” in the
complex.
A caracterização de verdade por correspondência dada em POP será bloqueada, já que
ela especificava o complexo correspondente ao coincidir os espaços de argumentos nos
fatos-juízos e outros fatos (p. 68). Russell precisa fornecer uma nova análise, que dê
conta de explicar como, entre aRb e bRa, um pode ser verdadeiro e outro falso. Ricketts
(p. 68):
Muito brevemente, Russell propõe que, quando R é assimétrico, o
julgamento de que aRb é uma generalização existencial complicada,
afirmando a existência de um complexo com características específicas.
Essa generalização existencial não envolve a relação R, mas, no entanto,
Russell argumenta, que ela é verdadeira somente no caso de ser um fato
que aRb. Não há então, nesta análise, nenhum julgamento atômico que
aRb, somente um substituto molecular. Por mais que Russell possa
estender a teoria das relações múltiplas para generalizações, um problema
parece insuperável. O raciocínio que Russell usa para partir da premissa
que o substituto existencialmente geral do julgamento de que aRb é
verdadeiro para a conclusão de que a realmente está em relação R com b,
é, pela própria teoria, inacessível. Pois de acordo com a teoria de Russell,
não há julgamento-fato com o qual se identifica a conclusão de Russell, já
que não há um julgamento atômico que aRb. A concepção revisada de
Russell das relações no contexto da teoria das relações múltiplas,
então, o leva a um expediente desesperado, que faz as relações
assimétricas inacessíveis como objetos de juízo aos conhecedores. (p.
68, destaque próprio).

Ricketts crê que Wittgenstein seja a fonte do argumento da sinonímia contra a


caracterização de verdade como correspondência de 1912. Ricketts também vê fora de
seus propósitos entrar em maiores complicações da versão da teoria da relação múltipla
de 1913.
III
Wittgenstein não dedicou esforços a uma teoria do juízo, mas há uma teoria do
simbolismo, das representações linguísticas que nós usamos para expressar
pensamentos. O problema exposto para a teoria das relações múltiplas também infecta a
visão de linguagem russelliana, em que sentenças atômicas no nível mais inferior da
analise são combinações de nomes de atômicos ontológicos de diferentes tipos. Nomes
são meramente rótulos ontológicos em que estamos em acquaintance. (...) Se
predicados não são nada além de rótulos para relações em que o espaço de argumento
não está ordenado, é difícil explicar como “a é filho de b” e “b é filho de a”
corresponderiam verdadeiramente à diferentes fatos, enquanto “a é filho de b” e “b é pai
de a” corresponderiam ao mesmo fato. (p. 70)
A visão crua Russelliana de linguagem trata sentenças como coleções ou misturas de
nomes. Wittgenstein rejeita essa concepção:
3.141: A proposição não é uma mistura de palavras. – (Como o tema
musical não é uma mistura de sons).
A proposição é articulada
Ao contrário de nomes, sentenças são verdadeiras ou falsas porque elas concordam ou
discordam com os fatos, por que elas possuem sentido.
Uma sentença é ela mesma um fato, e uma sentença da forma “x inveja y” é um fato em
que um nome na posição-x INVEJA-pelocantoesquerdo um nome na posição-y.
Os problemas que as relações apresentam na visão russelliana da linguagem somem. (p.
72): Considere as formas xRy e xSy. Suponha as duas seguintes regras:
(1) Que xR-pelaesquerda y diz que x é um filho de y
(2) Que xS-pelaesquerda y diz que y é um filho de x, i.e., diz que x é um pai de y.
Com isso, uma sentença da forma “xRy” não diz o que a sentença correspondente da
forma “xSy” diz. Além disso, qualquer sentença da forma “xRy” diz o que a sentença
correspondente da forma “ySx” diz. Não há nada que pode ser dito usando uma forma
que não possa ser dito usando a outra. Não há proposito ter sentenças de ambas formas
na linguagem assim como não há em ter múltiplos nomes para os mesmos objetos.
The Russellian view of language assimilates the correlation of relational predicates
to relations to the use of proper names to label individuals. On Wittgenstein's
alternative view, forms of sentences symbolize via a general rule setting forth when
sentences of that form agree and disagree with the facts.
Se “filho de” ou “pai de” designam a mesma relação é uma pergunta mal concebida
para Wittgenstein. Wittgenstein não toma, como Russell faz, as relações como um tipo
de coisa – elas não são entidades, ele rejeita a realidade das relações.
3.1432
O apelo textual de Ricketts é preciso.
4.22
4.0311
Wittgenstein irá explorar a bipolaridade essencial de sentenças atômicas para alcançar
uma compreensão da conectividade lógica. (p. 73)
Wittgenstein chama o modo em que os elementos estão arranjados em uma figuração é a
estrutura da figuração, e a possibilidade do arranjo desses elementos é a forma de
modelar <depiction or modeling> da figuração. 2.15’s elabora essa ideia de figuração.
As correlações de 2.15’s não são meras correlações. (p. 74): Regras de designação e
regras de concordância pressupõe uma a outra da seguinte maneira. Regras de
concordância pressupõem a possibilidade de correlacionar nomes com objetos: que um
nome INVEJA-pelocantoesquerdo outro diz que o portador do primeiro nome inveja o
portador do segundo. Uma pressuposição menos obvia vai na direção contrária. É
somente através de sentenças após o estabelecimento de regras de concordância que um
nome simboliza, designa, ou significa objetos. Não há fornecimento de nomes separado
do estabelecimento dessas regras. É, de acordo com Ricketts, o significado da evocação
do contexto do princípio de Frege feita por Wittgenstein em 3.3: “Somente a proposição
tem sentido, somente no contexto de uma proposição um nome tem significado.”
Há duas noções entrelaçadas de representação que o Tractatus utiliza: vertreten
e darstellen. Nomes representam (vretreten) objetos de modo que nomes são
substitutos (proxy) para objetos em sentenças (2.131; 3.203; 3.22). Sentenças em
que os nomes substituem objetos representam (darstellen) situações no espaço
lógico, a posse ou não (holding) de fatos atômicos (2.201-202). Para nomes
serem substitutos de objetos em sentenças, deve ser fixadas quais possibilidades
de combinações de nomes em sentenças apresentam quais possibilidades de
combinações de objetos e estados de coisas. Nenhuma mera correlação de
nomes com objetos fará desses nomes representantes dos objetos nas
sentenças na ausência de tal coordenação de possibilidades de combinação.
Não há regras de designação separadas das regras de concordância. Há, para uma
linguagem, somente uma única regre que projeta as sentenças de tal linguagem
para a realidade, para o estado de coisas (4.0141). A regra faz isso ao coordenar
nomes e os modos que os objetos podem formar estados de coisas. (...)
Relações não estão entre os objetos simples de 2.0’s. Sentenças elementares
representam (darstellen) fatos atômicos. Um fato atômico é uma combinação de
objetos na qual os objetos estão relacionados de uma maneira definida, na qual
os objetos “agarram-se uns aos outros como os elos de uma corrente” (2.03). Na
analogia entre fatos atômicos e correntes, Wittgenstein rejeita a visão de
Russell de relações como átomos ontológicos que têm a função de unir
outros átomos ontológicos em complexos. (...) Nada une objetos em estados de
coisas (...) eles possuem suas possibilidades intrínsecas de combinação um com
os outros em estado de coisas. (p. 75 -76 )
Para compreender uma sentença, é necessário ter conhecimento tanto dos
constituintes quanto de uma instância particular da forma, já que ela nos
conta que certos objetos conhecimentos são relacionados de acordo com
certa forma conhecida. Então algum tipo de conhecimento da formas
lógicas, mesmo que com a maioria das pessoas ele não seja explícito, está
envolvido em toda compreensão do discurso. (OKEW, p. 35)

2.5 Reações aos outros aspectos do método

i) A posição de Russell que as proposições da filosofia devem se ocupar com o


descobrimento da forma lógica dos fatos que será viabilizado pela análise, será posta em
dúvida no TLP, o cerne dessa dúvida reside no fato de que, sem recorrer à experiência,
somos incapazes de definir o número de objetos que participam da relação formal. Para
podermos especificar as formas lógicas seria necessário que fôssemos capazes de
especificar a priori o número de nomes que participam da composição de uma
proposição. No entanto, essa especificação seria completamente arbitrária (TLP 5.55 –
5.555). As proposições, ao tratarem de um determinado objeto, mostram toda a
possibilidade de como esse objeto pode ocorrer, ou seja, a sua forma lógica (TLP 2.012
– 2.0122). Mostra-se a forma lógica das proposições mostrando quais proposições são
possíveis de serem feitas com significado, ou seja, através da própria notação lógica, e
não, como diz a posição de Russell, através de proposições que visam dizer tais formas.

ii) JUIZO MULTIPLO: Veremos que esse não é o caso se nos debruçarmos em como
Russell lida com um problema que ele menciona em SMP (p. 91) como um dos que mais
necessita da descoberta das formas lógicas envolvidas (descoberta essa que é viabilizada
pela aplicação da analise), o problema da teoria do juízo. ESSE É UM PROBLEMA
CENTRAL RICKETTS Uma exposição de uma teoria do juízo é feita nos Problems
of Philosophy. Russell (POP) inicia a exposição de tal teoria por vias de defender uma
teoria da verdade correspondentista. A primeira preocupação de Russell acerca de uma
teoria da verdade não é como podemos saber se uma crença é verdadeira ou falsa, mas o
que significa questionar sobre verdade ou falsidade. Ao contrário do nosso
conhecimento de coisas, nosso conhecimento de verdade tem um contrário, o erro.
Desse modo, um julgamento não pode ser meramente uma relação direta de uma
proposição a um fato, pois um julgamento falso, sendo também um julgamento, não
teria um fato a se relacionar. “A necessidade de admitir a falsidade torna impossível
considerar a crença como uma relação da mente com um objeto simples, do qual se
pode dizer que é o que se acredita” (POP, p. 67). Isso leva Russell a afirmar que uma
teoria que busca contemplar a natureza da verdade deve satisfazer aos três seguintes
requisitos:

1. Uma teoria da verdade deve ser capaz de admitir seu oposto, a falsidade.
2. A verdade e a falsidade não são propriedades de fatos, mas de crenças e de
enunciados.
3. Ainda assim, mesmo que a verdade e a falsidade sejam propriedades de crenças,
elas são propriedades que dependem de relações de crenças com outra coisa, e
não de alguma propriedade interna das crenças. A verdade ou a falsidade sempre
dependem de alguma coisa externa à própria crença.

Esse terceiro requisito é o que levará Russell a adotar que a verdade consiste em
alguma forma de correspondência entre a crença e o fato. Mas, como já afirmado, a
crença não pode ser uma relação da mente com um objeto simples, devido a necessidade
de admitir falsidades. Há, novamente, por de trás – fundando a epistemologia em que
essa teoria se baseia – a distinção russelliana entre conhecimento direto, ou
conhecimento por familiaridade, e conhecimento por descrições, baseada em uma
ontologia fundada por dados sensoriais, que por serem indubitáveis, forneceriam o
ponto de partida para o conhecimento.

Russell prossegue apresentando uma teoria do juízo que o toma como uma
relação entre a mente e vários objetos relacionados que ocorrem separadamente. Ele
afirma: “Um ato de uma crença ou de juízo é a ocorrência entre certos termos em um
tempo determinado da relação de acreditar ou julgar” (RUSSELL, 2005, p. 67) e dá
prosseguimento: “Quando ocorre um ato de acreditar, existe um complexo no qual
“acreditar” é a relação unitiva, e o sujeito e os objetos são colocados numa certa ordem
por meio do “sentido” da relação de acreditar” (Ibid. p. 69). Desse modo, uma crença é
verdadeira quando ela corresponde a um determinado complexo, e é falsa quando não
corresponde. Isso permite Russell a chegar em uma definição de verdade e de falsidade:

Admitamos, para maior clareza, que os objetos da crença sejam dois


termos e uma relação e que os termos sejam colocados numa certa ordem
pelo “sentido” de acreditar. Então, se os dois termos naquela ordem são
unidos num complexo pela relação, a crença é verdadeira; se não, ela é
falsa. Esta é a definição da verdade e da falsidade que estávamos
buscando. Julgar ou acreditar é uma determinada unidade complexa da
qual a mente é um elemento constitutivo; se os demais elementos,
tomados na ordem em que aparecem na crença, formam uma unidade
complexa, então a crença é verdadeira; se não, é falsa. (RUSSELL, 2005,
p. 69)

Russell, antes, se propõe a esclarecer o que entendemos por conhecimento,


chegando na seguinte definição: “Assim, devemos reformular nossa definição dizendo
que o conhecimento é o que validamente deduzido de premissas conhecidas”. (Ibid., p.
71). Há nessa definição um problema de circularidade, Russell adianta, pois ela supõe
que já conhecemos o que entendemos por ‘premissas conhecidas’. Isso o leva a
distinguir duas espécies de distintas, primeiro, o conhecimento derivado: aquele que é
deduzido de forma válida de premissas conhecidas intuitivamente. “Se os jornais
anunciam a morte do Rei, estamos absolutamente bem justificados em acreditar que o
rei está morto, dado que este é o tipo de notícia que não seria publicada se fosse falsa”.
Não há, portanto, nesse tipo de conhecimento uma inferência lógica. Admitimos então
como conhecimento derivado tudo o que resulta do segundo tipo, o conhecimento
intuitivo. O conhecimento intuitivo, por sua vez, só pode apelar ao nosso conhecimento
sobre os fatos. Todo fato complexo pode ser conhecido de duas maneiras, afirmará
Russell: através de um juízo e através do conhecimento direto do próprio fato
complexo. Todo juízo estará sujeito ao erro, mas por via do conhecimento direto é
possível incorrer em verdades evidentes, no absoluto sentido. Isso leva Russell a
distinguir duas espécies de evidências: (1) A obtida através do conhecimento direto do
fato, que ocorre especialmente sobre fatos de caráter privado e em relações entre
universais; e (2) uma espécie de evidência pertencente aos juízos, que não é derivada da
percepção direta do fato de um todo complexo singular. Essa espécie de evidência será
dada em graus, que irão variar do mais alto, até o menor. Russell exemplifica:

Tomemos, por exemplo, o caso de um cavalo que marcha se


afastando de nós ao longo de uma estrada. Inicialmente nossa certeza de
que ouvimos seu trote é completa; gradualmente, se prestarmos atenção,
chega um momento em que pensamos que talvez é a nossa imaginação ou
a persiana de nosso quarto superior, ou as batidas de nosso próprio
coração; finalmente, chegamos a duvidar se havia algum barulho; então
pensamos que não ouvimos mais nada, e, finalmente, sabemos que já não
ouvimos mais nada. Neste processo, há uma gradação contínua de
evidência, desde o mais alto grau até o menor, não nos próprios dados dos
sentidos, mas nos juízos baseados nele. (RUSSELL, 2005, p. 74)
Russell afirmará, portanto, que parece claro que devemos confiar mais nos graus mais
elevados do que nos mais baixos. Destaca-se que os graus de evidência não variam nos
próprios dados dos sentidos, mas nos juízos baseados neles:

O que cremos firmemente, se é verdadeiro, é denominado de


conhecimento, uma vez que é intuitivo ou inferido (lógica ou
psicologicamente) de conhecimentos intuitivos dos quais se segue
logicamente. O que cremos firmemente, se não é verdadeiro, é
denominado de erro. O que cremos firmemente, se não é conhecimento
nem erro, e também o que cremos de forma hesitante, porque não tem o
mais alto grau de evidência nem deriva de algo que o tenha, pode ser
denominado de opinião provável. Assim, a maior parte do que
comumente se considera como conhecimento constitui uma opinião mais
ou menos provável (Ibid., p. 75)

PODE-SE DIZER Russell está, novamente, apresentado uma distinção do duro e do


mole.

Ricketts pretende clarificar o conteúdo a motivação da visão de Wittgenstein de


sentenças como figurações <pictures> e de relacionar essa concepção as visões de
Wittgenstein sobre lógica. Ricketts faz isso a partir da sugestão de que o Tractatus é, em
grande medida, uma resposta e crítica as visões de Frege e Russell.

My strategy then, is to examine how aspects of the Tractatus emerge


against the backdrop of problems that Frege’s and Russell’s views posed
to Wittgenstein. (p. 59)

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