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Hylton pretende, através de Russell, mostrar que a ideia de analise de proposições não é

dada – ela só faz sentido quando são colocadas restrições sob a análise dentro de um
contexto filosófico, que logo, não pode pressupor uma noção neutra de análise. Pode-se
discutir se Russell é o melhor exemplo, pois apesar de fundador e de, nas palavras de
Ramsey, delimitar um paradigma filosófico através da analise de descrições, é um
filosofo que notavelmente refunda suas bases de tempo em tempo.
O primeiro argumento de Hylton é que não é claro o que é uma proposição – nem
mesmo é claro em Russell. Uma proposição para Russell teria função análoga ao
pensamento <Gedanken> para Frege, porém há contrastes em como cada um lida com
sua respectiva noção. Hylton afirma que a existência de tais contrastes sugere que a
noção de conteúdo de uma sentença declarativa não é direta e evidente.
Uma proposição é uma entidade abstrata que possui as propriedades de uma sentença
declarativa, porém enquanto nas sentenças essas propriedades são bagunçadas e pouco
claras, na proposição elas aparecem de forma purificada. Uma proposição é eternamente
verdadeira ou falsa – ela é uma portadora de valores de verdade que serve para os
teoremas da matemática. Em Russell, em um primeiro momento, fala-se em ter
familiaridade com uma proposição, depois, fala-se em ter familiaridade com os
constituintes de uma proposição e os unir através do ato mental de julgar (cf. teoria do
juízo).
Russell se depara com problemas ao lidar com as proposições. Primeiramente em
relação ao isomorfismo entre proposições e sentenças: se uma proposição pode ser
expressa por mais de uma sentença, como manter a ideia de que a estrutura de uma
proposição é similar de alguma forma a estrutura da sentença que a expressa? (p. 33).
Um segundo problema será em relação ao contexto de expressão de uma proposição –
ou melhor dizendo, a ausência de um contexto. Hylton (p. 33): “Uma sentença que
expressa uma dada proposição é dita ou escrita em um dado contexto, e pode expressar
a proposição que ela expressa somente por causa do contexto, mas nada análogo pode
ser dito das próprias proposições (...) Pouquíssimas sentenças que nos enunciamos
dizem o que dizem, e possuem o valor de verdade que possuem, independentemente do
contexto em que são enunciadas”. Os problemas que Russell enfrenta ao lidar com essa
entidade abstrata que é a proposição são evitados por Wittgenstein se tomamos que o
que ele está fazendo no TLP é indicar a distinção de vários tipos de sentenças <Satze>.
Por que Wittgenstein permitiu a tradução de Satze por proposition?
Hylton (p. 34): “Em particular, a questão costuma ser de encontrar uma
maneira sistemática de se representar sentenças dependentes de contextos
como independentes de contextos, i.e. encontrar regras sistemáticas que
indicam quais conteúdos independentes de contextos nossas sentenças
dependentes de contextos expressam de fato. A assunção aqui é que cada
uma de nossas sentenças podem ser pensadas como expressando um
conteúdo independente de contexto, e talvez também que nos só
compreendemos por completo o funcionamento de uma sentença quando
vemos como converte-la em uma equivalente que não é dependente de
contexto.” I

Essa seria, portanto, uma função da análise. Porém, não é claro se é possível
individuarmos uma sentença de contexto e ainda termos capacidade de acessar seu
conteúdo.
Russell, nos Principles of Mathematics, passa a assumir uma noção de proposição em
que a proposição contém nela mesma as entidades que fazem parte dela – no caso de
‘Sócrates é mortal’, o próprio Sócrates está contido na proposição, por exemplo.
Proposições então, serão entidades hibridas, ao mesmo tempo abstratas, representando o
conteúdo de uma sentença declarativa, e possuindo entidades concretas. Não há, como
em Frege, uma relação de designação. Proposições terão a mesma estrutura das
sentenças que as expressam.
O problema será em sentenças falsas. Para lidar com elas, Russell introduz a teoria de
conceitos denotativos. Sentenças com termos denotativos também são problemas, tendo
em vista que, como precisamos ter acquaintance para entender as proposições, é
necessário que elas possuam uma complexidade finita. Eu tenho acquaintance, portanto,
com um conceito denotativo. Essa teoria traz para dentro a relação de designação que
Russell buscava evitar.
A noção de designação será completamente abandonada por Russell em On Denoting.
Princípio de acquaintance: ‘É necessário para a compreensão de uma proposição, ter
acquaintance com o significado de todo constituinte do significado, e do todo; não é
necessário ter acquaintance com tais constituintes da denotação que não são
constituintes do significado’. (p. 39)
Russell passa adicionar restrições epistemológicas à análise de proposições: se torna um
critério explicito e autoconsciente que uma análise aceitável mostre que a proposição é
composta de constituintes com os quais nós temos acquaintace. A noção de
acquaintance por sua vez não é nada mais claro do que a noção de análise de
proposições.
A noção de acquaintance não pode ser o resultado da análise – ela é uma restrição
epistemológica, um requerimento imposto de fora. “Once imposed they drastically
affect what counts as a satisfactory analysis, and hence what propositions are like, ie.
They function as constraints upon the notion of a proposition and of analysis” (Hylton,
p. 40). A análise, porém, se se pretende uma análise lógica não poderá se importar com
restrições epistemológicas (TLP 4.1121).
Em On Denoting outra restrição é posta à análise: that it ought, as far as possibile, to
assimilate obviously correct inferences to valid inference patterns of logic (p. 41). Não
há aqui mais isomorfismo entre as sentenças e as proposições, i.e., a estrutura da
sentença não é mais tomada como um guia para a estrutura da proposição. Há uma
pressuposição dá ideia de análise que é revelada disso, segundo Hylton (p. 42), de que
as proposições não somente são articuladas e que possuem uma certa estrutura, mas que
essa estrutura pode ser refletida, mais ou menos acuradamente, pelas sentenças que
expressam tal proposição. Uma sentença com uma expressão definida, portanto, terá
uma estrutura que será melhor expressada pela versão reescrita – “essa versão reescrita
é, ela mesma, claro, uma sentença, e uma sentença que faz uso dos recursos (do que
nos chamaríamos) de lógica de primeira ordem com identidade” (p. 42). Aqui mais um
ponto em que há uma vantagem em ler que, parte da discordância entre W. e R. é que
Wittgenstein está apresentando uma diferenciação de sentenças, enquanto Russell não
está completamente ciente de tal distinção, a ponto de se comprometer com a ideia de
proposições.
(1) Se, como Hylton coloca, o objetivo da análise filosófica, em tais moldes, é de
encontrar a sentença que reflete mais acuradamente a estrutura real da proposição que
estamos interessados, qual é o objetivo da análise wittgensteiniana? Mostrar a distinção
entre as sentenças? Entre a sentença da linguagem ordinária e a sentença da lógica, que
serve de estrutura para a da linguagem ordinária?
E (2) o progresso filosófico da análise russelliana consistirá de “passar de uma sentença
que não reflete, ou não reflete bem, a estrutura da proposição subjacente, para uma
sentença que se aproxima mais de refletir tal estrutura, ou até mesmo para uma que é
completamente isomórfica a tal (p. 43). Isso é um progresso piecemeal, como Russell
deseja que seja. Qual o progresso da análise wittgensteiniana? Há como se falar em um?
O principal argumento de Hylton é que a ideia de análise filosófica (que para ele, é o
processo de tentar encontrar a estrutura da proposição que subjaz uma dada sentença) é
vazio até que certas restrições sejam impostas a ele. Russell impõe duas restrições/
critérios de sucesso: (1) que a análise final de uma sentença deve nos permitir a
assimilar seu comportamento em inferências para procedimentos estabelecidos de
lógico, e (2) que a análise deve mostrar que uma dada proposição é composta somente
de constituintes com os quais temos acquaintance (p. 44). “Thus the epistemic
constraints which give contente to the notion of analysis, as Russel employs it, also
threaten to undermine the intuitive foundation of the ideia of a proposition” (p. 45).
Quais restrições Wittgenstein está impondo?
A mudança de Russell para uma visão que toma uma metafisica de proposições para
uma metafisica de fatos é importante para mim? Como indicar a relevância dessa
mudança dentro da discussão do método? Um sinal de sua possível importância é que
Russell tenta executa-la em TOK, obra que caracteriza o ápice da disputa W/R.

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