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VICE-REITORIA DE ENSINO DE GRADUAÇÃO E CORPO DISCENTE

CENTRO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

HISTÓRIA DA AMÉRICA I

Conteudista
Carlos de Faria Junior

Rio de Janeiro / 2010

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS À

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO


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Un3h Universidade Castelo Branco

História da América I / Universidade Castelo Branco. – Rio de Janeiro: UCB,


2010. - 44 p.: il.

ISBN 978-85-7880-079-6

1. Ensino a Distância. 2. Título.

CDD – 371.39

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Apresentação

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É com grande satisfação que o(a) recebemos como integrante do corpo discente de nossos cursos de gradu-
ação, na certeza de estarmos contribuindo para sua formação acadêmica e, consequentemente, propiciando
oportunidade para melhoria de seu desempenho profissional. Nossos funcionários e nosso corpo docente es-
peram retribuir a sua escolha, reafirmando o compromisso desta Instituição com a qualidade, por meio de uma
estrutura aberta e criativa, centrada nos princípios de melhoria contínua.

Esperamos que este instrucional seja-lhe de grande ajuda e contribua para ampliar o horizonte do seu conhe-
cimento teórico e para o aperfeiçoamento da sua prática pedagógica.

Seja bem-vindo(a)!
Paulo Alcantara Gomes
Reitor
Orientações para o Autoestudo

O presente instrucional está dividido em quatro unidades programáticas, cada uma com objetivos definidos e
conteúdos selecionados criteriosamente pelos Professores Conteudistas para que os referidos objetivos sejam
atingidos com êxito.

Os conteúdos programáticos das unidades são apresentados sob a forma de leituras, tarefas e atividades com-
plementares.

As Unidades 1 e 2 correspondem aos conteúdos que serão avaliados em A1.

Na A2 poderão ser objeto de avaliação os conteúdos das quatro unidades.

Havendo a necessidade de uma avaliação extra (A3 ou A4), esta obrigatoriamente será composta por todo o
conteúdo de todas as Unidades Programáticas.

A carga horária do material instrucional para o autoestudo que você está recebendo agora, juntamente com
os horários destinados aos encontros com o Professor Orientador da disciplina, equivale a 60 horas-aula, que
você administrará de acordo com a sua disponibilidade, respeitando-se, naturalmente, as datas dos encontros
presenciais programados pelo Professor Orientador e as datas das avaliações do seu curso.

Bons Estudos!
Dicas para o Autoestudo

1 - Você terá total autonomia para escolher a melhor hora para estudar. Porém, seja
disciplinado. Procure reservar sempre os mesmos horários para o estudo.

2 - Organize seu ambiente de estudo. Reserve todo o material necessário. Evite


interrupções.

3 - Não deixe para estudar na última hora.

4 - Não acumule dúvidas. Anote-as e entre em contato com seu monitor.

5 - Não pule etapas.

6 - Faça todas as tarefas propostas.

7 - Não falte aos encontros presenciais. Eles são importantes para o melhor aproveitamento
da disciplina.

8 - Não relegue a um segundo plano as atividades complementares e a autoavaliação.

9 - Não hesite em começar de novo.


SUMÁRIO

Quadro-síntese do conteúdo programático ................................................................................................. 09


Contextualização da disciplina ................................................................................................................... 11

UNIDADE I

AMÉRICA EM TEMPO DE CONQUISTA: CONFRONTOS E TRANSFORMAÇÕES

1.1 - Poder político e religiosidade entre astecas, maias e incas ................................................................ 13


1.2 - América barroca: antecedentes ibéricos e projeto colonial ................................................................ 15
1.3 - A conquista da América: crônica e ocupação ..................................................................................... 16
1.4 - A conquista da América: crônica, evangelização e lenda negra ......................................................... 17
1.5 - “Aculturação”, idolatrias e resistência indígena na América Ibérica ................................................. 18

UNIDADE II

A SOCIEDADE DA CONQUISTA: AMÉRICA IBÉRICA

2.1 - Poder e sociedade: peninsulares, criollos e mestizos ......................................................................... 21


2.2 - Poder e sociedade: formas de trabalho indígena e tensões coloniais ................................................. 21
2.3 - O sistema colonial em discussão: conceitos e historiografia .............................................................. 22

UNIDADE III

A CONSTRUÇÃO DO ESCRAVISMO NO NOVO MUNDO

3.1 - A construção do sistema colonial inglês ............................................................................................. 25


3.2 - A construção do sistema colonial francês ........................................................................................... 25
3.3 - O escravismo na América espanhola .................................................................................................. 26

UNIDADE IV

CONSOLIDAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO: A AMÉRICA NO CONTEXTO DA ILUSTRAÇÃO

4.1 - A América espanhola e o reformismo dos Bourbons .......................................................................... 34


4.2 - A América inglesa: religião, sociedade e contestação do domínio colonial ....................................... 34
4.3 - O Caribe no contexto da explosão econômica do século XVIII ......................................................... 35

Glossário ..................................................................................................................................................... 38
Comentário das atividades .......................................................................................................................... 40
Referências bibliográficas ........................................................................................................................... 42
Quadro-síntese do conteúdo 9
programático

UNIDADES DO PROGRAMA OBJETIVOS

I - AMÉRICA EM TEMPO DE CONQUISTA:


CONFRONTOS E TRANSFORMAÇÕES
1.1 - Poder político e religiosidade entre astecas,
maias e incas
1.2 - América barroca: antecedentes ibéricos e
projeto colonial
1.3 - A conquista da América: crônica e ocupação
1.4 - A conquista da América: crônica, evangeliza-
ção e lenda negra
1.5 - “Aculturação”, idolatrias e resistência indí-
gena na América Ibérica

II - A SOCIEDADE DA CONQUISTA: AMÉRICA • Abordar os temas propostos nas Unidades sob


IBÉRICA uma perspectiva social, econômica, política e
2.1 - Poder e sociedade: peninsulares, criollos cultural para analisar as transformações e perma-
e mestizos nências envolvidas nos processos históricos da
2.2 - Poder e sociedade: formas de trabalho indígena História da América Colonial;
e tensões coloniais
2.3 - O sistema colonial em discussão: conceitos e • Dar possibilidade ao aluno de praticar, numa
historiografia perspectiva acadêmica, os temas abordados nas
Unidades.

III - A CONSTRUÇÃO DO ESCRAVISMO NO


NOVO MUNDO
3.1 - A construção do sistema colonial inglês
3.2 - A construção do sistema colonial francês
3.3 - O escravismo na América espanhola

IV - CONSOLIDAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO:
A AMÉRICA NO CONTEXTO DA ILUSTRAÇÃO
4.1 - A América espanhola e o reformismo dos Bourbons
4.2 - A América inglesa: religião, sociedade e contestação
do domínio colonial
4.3 - O Caribe no contexto da explosão econômica
do século XVIII
Contextualização da Disciplina 11

A presente disciplina tem por objetivo proporcionar um conhecimento dos principais processos históricos que
envolvem o período colonial americano.

Na primeira unidade, abordaremos os seguintes assuntos:

- As principais sociedades pré-colombianas, consideradas tais as sociedades Asteca, Maia e Inca. Dentro deste
objetivo, procuraremos estudar as características principais de tais povos, bem como sua importância para o
contexto americano, antes e depois da chegada dos espanhóis;
- A presença de elementos da cultura barroca europeia na América, os objetivos desta presença e sua impor-
tância no contexto colonial. A presença de outros elementos da cultura europeia na América. As tentativas de
se recriar em solo americano um estilo de vida europeu e o processo de aculturação dos índios;
- A tomada brusca da América pelos espanhóis, o choque cultural e a forma violenta da conquista. Os primei-
ros passos da colonização espanhola na América;
- A Leyenda Negra e as formas de abordagem do cristianismo sobre as sociedades nativas da América. O
estereótipo da violência percebido pelas próprias sociedades da época;
- A estigmatização depreciativa das práticas religiosas das práticas nativas da América. As formas de resistên-
cia contidas nestas mesmas práticas.

Na segunda unidade, abordaremos os seguintes assuntos:

- As características de Mestiços e Criollos na América em relação aos peninsulares. Os tipos de trabalho e


atividades relacionadas a estes grupos; as qualificações jurídicas depreciativas dos mestiços e sua importância
para o desenvolvimento da empresa colonizadora espanhola;
- As principais formas de trabalho utilizadas pelos espanhóis no processo de colonização; o emprego de nati-
vos americanos e negros africanos neste processo;
- A atitude dos espanhóis com os nativos no sentido de melhor obter mão de obra para lograr os interesses de
sua colonização;
- Breve discussão historiográfica referente aos processos de colonização empreendidos pelas nações ibéricas.

Na terceira unidade, abordaremos os seguintes assuntos:

- As principais características do sistema colonial inglês, procurando-se enfatizar aquelas que o diferenciam
dos demais sistemas coloniais estabelecidos na América;
- Os primórdios da colonização inglesa na América e os passos dados neste processo;
- As principais características do sistema colonial francês, procurando-se enfatizar aquelas que o diferenciam
dos demais sistemas coloniais estabelecidos na América; os primórdios da colonização francesa na América e
os passos dados neste processo;
- As formas características do trabalho compulsório na América espanhola, bem como sua importância para a
dinâmica do sistema colonial empreendido;
- A importância do Tratado de Tordesilhas para as empresas coloniais ibéricas e sua contestação pelos pró-
prios empreendimentos de colonização realizados por ingleses e franceses.

Na quarta unidade, abordaremos os seguintes assuntos:

- A importância do reformismo no sentido de tentar resolver os problemas da sociedade colonial: o caso espe-
cífico dos Bourbons; as especificidades do reformismo espanhol em relação ao português no contexto ibérico,
sobretudo no que se refere à questão da cultura e da liberdade de ideias na América;
- A religiosidade presente nas formas de colonização inglesa, enfatizando-se o caso dos peregrinos e dos
puritanos; a importância das regras religiosas estabelecidas por estes grupos na efetivação do processo de
colonização inglês na América;
- A importância do Caribe no contexto econômico da colonização na América.
UNIDADE I 13

AMÉRICA EM TEMPO DE CONQUISTA:


CONFRONTOS E TRANSFORMAÇÕES

1.1 - Poder Político e Religiosidade entre Astecas,


Maias e Incas
Astecas

Pedra do Sol Asteca, onde se destaca ao centro a figura de Tonahtiuh (Sol), que mostra a língua.
Fonte: http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/civilizacao-asteca/pedra-do-sol-asteca.php

Os Astecas ou, como se denominavam, mexica, Segundo Aquino, a relação entre o pensamento reli-
vieram a se estabelecer no Vale do México depois de gioso e a sociedade era total:
1200. Entre este período e o século XVI os Astecas
habitavam a região onde hoje se encontra o México, O pensamento religioso era dominante. A complexa
onde fundaram a cidade de Tenochtitlán no século concepção de mundo sobrenatural obedecia à mesma
estruturação da sociedade: hierarquia de deuses, ten-
XVI. do entre as divindades importantes o deus da chuva,
Tlaloc, que compartilhava os grandes templos com
A sociedade era hierarquizada, havendo um im- Huitzilopochtli, o deus da guerra(...). A adoração do
perador e uma nobreza, composta por guerreiros e sol também era uma parte importante da religião. Os
sacerdotes. O imperador era o chefe dos guerreiros. sacerdotes guiavam e marcavam as cerimônias que
obedeciam as prescrições rituais dos calendários e das
Utilizando a conquista militar, formaram um grande estações. Os sacrifícios humanos tinham uma função
império, que tinha por limites o norte do México e a ritual, para conduzir as forças da natureza a ações fa-
Guatemala, e os oceanos Atlântico e Pacífico. voráveis aos homens1.

1
AQUINO, Rubim Santos Leão de; LEMOS, Nivaldo Freitas de Jesus; LOPES, Oscar Guilherme Pahl Campos. História das Sociedades
Americanas. Rio de Janeiro: Record, 2002, pp. 65 e 66.
Maias Como acreditavam que o destino dos homens era
14 moldado pelos deuses, toda a vida social e a produção
cultural estavam relacionadas à religiosidade.

Incas

Ruínas de Palenque, na Península de Yucatã, México.


Fonte: Wikipédia.

Uma das civilizações mais avançadas do México


pré-colombiano. Foram grandes artistas e intelectuais
que teriam dominado um complexo sistema matemá-
tico, além de serem capazes de efetivar cálculos as-
tronômicos. Sua estrutura social era fechada e articu-
lava-se em autonomias, governadas por sacerdotes.

Esta sociedade habitou a região onde se encontram as flo-


restas tropicais das atuais Guatemala, Honduras e Penínsu-
la de Yucatán (região sul do atual México). Nestas regiões
estiveram entre os séculos IV d.C e IX d.C. Entre os sécu-
Ruínas de Macchu Picchu.
los IX e X , os toltecas conquistaram a civilização maia.
Fonte: Wikipédia

Considerado o maior império da América pré-


colombiana. A Administração, Política e Centro de
Forças Armadas do Império eram todos localizados
em Cusco, onde atualmente se situa o Peru. A língua
oficial do império Inca era o quíchua, embora este
idioma se dividisse em dezenas de dialetos locais.

Os incas habitaram a região da Cordilheira dos An-


des, na América do Sul – atuais Peru, Bolívia, Chile
e Equador. Fundaram no século XIII a cidade sagrada
de Cuzco, a capital do império, e no ano de 1532 fo-
ram conquistados pelos espanhóis.

Observatório astronômico de Chichén Itzá.


Fonte: Baixaki, papel de parede, ou seja, de domínio público.

Os Maias não conseguiram desenvolver um império unifi-


cado, fato que favoreceu a invasão e a conquista por parte de
outros povos. As cidades formavam o núcleo político e reli-
gioso da sociedade e eram governadas por um estado essen-
cialmente teocrático. O imperador maia era considerado um
representante dos deuses. Essa teocracia era exercida pelo
Halach Uinic, tinha caráter hereditário e se ocupava das polí-
ticas interna e externa, bem como do recolhimento de impos-
tos. Cada cidade, com suas respectivas aldeias, formava um
Estado independente, fato que talvez tenha sugerido a muitos Ruínas de Ingapirca, Equador.
historiadores uma comparação com a civilização grega. Fonte: Wikipédia.
Denominado Sapa Inca, o imperador era considera- para o imperador, os quais eram pagos em gênero e
do um deus. A sociedade era fortemente hierarquiza- em trabalho compulsório. 15
da e composta por uma espécie de nobreza, da qual
faziam parte governantes, chefes militares, juízes e Os incas possuíam um exército muito bem treinado
sacerdotes; uma camada intermediária composta por e consideravelmente organizado. Quando conquista-
funcionários públicos e trabalhadores; e uma inferior, vam uma região, o povo da mesma era submetido à
da qual faziam parte os artesãos e os camponeses, tributação. Através desta prestavam também serviços
a qual era intensamente explorada em altos tributos aos conquistadores.

Detalhe da Porta do Sol, o Deus Viracocha.


Fonte: Wikipédia.

Os incas procuravam encorajar as pessoas a se jun- de corredores que entregavam mensagens entre as
tarem ao Império. Quando isto ocorria, tais pessoas maiores cidades. Notícias também eram veiculadas
eram sempre bem tratadas. Serviços postais eram por este sistema na velocidade de aproximadamente
estabelecidos por mensageiros (chasquis), espécie 125 milhas por dia.

1.2 - América Barroca: Antecedentes Ibéricos e


Projeto Colonial
As sociedades ibéricas procuraram recriar no Novo vante para a arquitetura foi o papel dos religiosos em
Mundo o ambiente cultural de suas respectivas rea- diversas localidades do Novo Mundo, sobretudo a
lidades na Europa. Desta forma, cultivaram estilos Companhia de Jesus.
artísticos como o gótico, o mudéjar, o plateresco,
o herreriano, o barroco e o neoclássico. Os religio-
sos foram importantes neste processo, uma vez que
conseguiram articular a mão de obra indígena para
esta recriação, considerando-se inclusive os exageros
decorativos. Mexico e Peru, por exemplo, assistiram
intensamente a esta recriação de estilos europeus,
como o Barroco. Este se afirmou também no Brasil,
e de forma bstante característica. No século XVI a
preocupação com a construção das igrejas era refe-
rente à defesa. Daí serem fortificadas e sóbrias. Sem
abrir mão das condições de defesa contra possíveis
invasores. Assistiu-se no século XVII ao desenvolvi-
mento de um estilo chamado por alguns autores de
Basílica de Ocotlan. México, Século XVIII.
heroico e majestoso, diríamos nós mais preocupado
Fonte: Wikipédia.
com a questão da representatividade artística. Rele-
O século XVIII pode ser considerado o período
16 mais característico do barroco e do lirismo em diver-
sas atividades artísticas. Procura-se atingir o máximo
de luxo e esplendor nas Igrejas; mas não somente a
arquitetura conheceu essa presença do barroco, mas
também a literatura, a música etc. As colonizações
portuguesa e a espanhola procuraram, desta forma,
transplantar para o outro lado do Atlântico as formas
de representação específicas do mundo ibérico. Servi-
ram, no desenrolar da colonização e na continuidade
das construções, para estabelecer a superioridade do
europeu na hierarquia das culturas, em relação às cul-
turas locais e às trazidas de outros continentes para Catedral Metropolitana da Cidade do México.
serem exploradas. Fonte: Wikipédia.

Em algumas das situações de confronto com culturas Em todas as regiões, procurava-se estabelecer certa uni-
locais, como Incas e Astecas, os espanhóis se viram for- formidade na arquitetura e na construção do espaço urba-
çados a destruir culturas bastante complexas e imponen- no, obedecendo estes elementos ao referencial europeu e
tes para estabelecer sua produção como superioridade. tentando criar uma identidade à partir deste referencial.

1.3 - A Conquista da América: Crônica e Ocupação


Ainda no período dos reis católicos, a Espanha em- dre VI, o Tratado de Tordesilhas para definir os territó-
preendeu uma política de financiamento de explora- rios do Novo Mundo que pertenceriam a cada país.
cões marítimas, rivalizando poder com Portugal. Entre
elas, a viagem de Cristóvão Colombo tornou a Améri- A Espanha trouxe do continente americano gigantes-
ca conhecida à Europa. A partir desse fato, a Espanha cas porções de prata e ouro. Entretanto esse modo de
colonizou as terras do Novo Mundo e através de seus exploração foi prejudicial ao país. Enquanto a econo-
conquistadores, diversos povos indígenas foram repri- mia era dependente das colônias na América, outras
midos, como as civilizações Inca, Asteca e Maia. atividades como o comércio não foram desenvolvidas
como em outros países, por exemplo a Inglaterra. Isso
Para evitar disputas com outras nações europeias, a provocou a desvalorização da moeda espanhola e di-
Espanha firmou com Portugal, através do Papa Alexan- versas crises econômicas.

Pirâmide Maia de Kukulcán.


Fonte: Wikipédia.
A ocupação se deu de maneira violenta, tendo os quistar. Procurou-se, desta forma, aniquilar os elemen-
espanhóis dizimado os Impérios Asteca e Inca, e sub- tos das culturas nativas da América e estigmatizá-los 17
metido o que restara dos Maias. O engendramento da sob o prisma da inferioridade, considerando-se aqui
submissão ocorreu pela força, e a imposição dos pa- os pressupostos do cristianismo católico de conversão,
drões europeus, pela coerção. No choque cultural en- que também atribuía às culturas nativas americanas,
tre espanhóis e americanos, o que se percebe é a total no plano espiritual, a condição de inferioridade, muitas
inferiorização do outro, e a ideia de destruir para con- das vezes identificada com caracteres demoníacos.

1.4 - A Conquista da América: Crônica, Evangelização


e Lenda Negra

Ilustração de Theodor de Bry, inspirada em texto de Bartolomeu de Las Casas, Século XVI.
Fonte: Wikipédia.

A Lenda Negra (Espanhol: La Leyenda Negra) é Felipe II dedicaram grandes recursos para o envio de
um termo cunhado por Julián Guetos em seu livro missionários e construção de igrejas na América e nas
de 1914 La leyenda negra y la verdad histórica (The Filipinas. A Lenda Negra é dito para representar a
Legend Black and Historical Truth), em referência à conversão dos povos nativos ao domínio espanhol de
Hispanofobia do mundo na Idade Moderna, resultan- uma maneira brutal e violenta.
do na representação da Espanha e do espanhol como
"cruel", "intolerante" e "fanático". Assim, é entendi- Tais exageros são contraditórios à medida em que
do como um exemplo de demonização nacional. percebemos esforços do governo Espanhol para reco-
nhecer os direitos dos nativos. Embora tais políticas
A lenda fabricada retrata a Inquisição espanhola não fossem executadas muitas das vezes, o reconhe-
como cruel e sanguinária. A imagem de fossos, cor- cimento dos direitos indígenas colocou a Espanha na
rentes, gritos e salas de tortura é geralmente ligadas a vanguarda histórica do direito natural e internacional
ele com a intenção de criar um senso de misticismo e moderno.
do mal. O mito de milhares de judeus, muçulmanos,
protestantes e católicos serem torturados e assassina- O dominicano Bartolomé de las Casas é considera-
dos nos porões da instituição por frades dominicanos do uma das figuras mais importantes no que se refere
faz parte dessa propaganda. à ideia de Leyenda Negra e, apesar de muitas de suas
conclusões serem questionadas por historiadores na
Um dos principais objetivos da Espanha durante a atualidade, ainda continua sendo extremamente re-
expansão colonial era trazer o cristianismo aos po- levante para a compreensão das formas de domínio
vos nativos, até para melhor dominá-los. Reis como espanhol na América.
1.5 - “Aculturação”, Idolatrias e Resistência Indígena
18
na América Ibérica
A colonização ibérica empreendeu intensa e violenta como um conflito de caráter religioso, mas princi-
luta contra a “idolatria indígena”, ou seja, contra os cultos palmente cultural. Sobretudo na América espanhola,
e religiosidades desenvolvidos pelos nativos americanos, as sociedades indígenas buscaram formas de manter
tendo sido consideradas tais relações com o sobrenatural suas tradições e evitar o processo de aculturação im-
como demoníacas. A Igreja colonial utilizou-se tanto da plementado pelo colonizador. Muitas destas práticas
persuasão dos missionários religiosos quanto da violência afirmaram-se com um discurso extremamente hostil
na tentativa de erradicar os cultos e práticas que eram por ao europeu e à cultura europeia, inclusa nesta a reli-
esta instituição considerados como diabólicos. Na verda- gião cristã. Algumas destas manifestações chegaram
de, o conceito de “idolatria” é uma atribuição do europeu ao extremo da luta armada, como foi o caso do Peru,
às práticas por ele consideradas perniciosas e anticristãs. com o novo império inca em meados do século XVI.

A prática da idolatria pelos indígenas permaneceu, Esta resistência ainda se percebe nos dias de hoje,
contudo, em caráter de resistência à violência do co- enxergando o nacionalista latino-americano a simila-
lonizador, tendo-se configurado, portanto, não apenas ridade entre o colonizador e o imperialista.

Exercícios de Fixação
1 - Faça uma análise comparativa entre as três principais civilizações pré-colombianas.

2 - Relacione a Leyenda Negra ao processo de colonização empreendido na América pelos espanhóis.

3 - Explique a importância de se tentar recriar uma estrutura cultural semelhante à peninsular nas Américas,
enfatizando a questão do barroco.

4 - Comente a relação entre as chamadas “idolatrias” e a resistência indígena ao processo de colonização.

Leitura Complementar

A DESTRUIÇÃO DAS ÍNDIAS OCIDENTAIS


Frei Bartolomé de Las Casas

As Índias foram descobertas no ano de mil quatrocentos e noventa e dois e povoadas pelos espanhóis no
ano seguinte. A primeira terra em que entraram para habitá-la foi a grande e mui fértil Ilha Espanhola (...).
Há ao redor dela e nos seus confins, outras grandes e infinitas ilhas que vimos povoadas e cheias de seus
habitantes naturais, o mais que o possa ser qualquer outro país no mundo. A terra firme, (...) (está) cheia de
gente como um formigueiro de formigas. De tal modo que Deus parece ter colocado nesse país o abismo
ou a maior quantidade de todo o gênero humano.

Deus criou todas essas gentes infinitas, de todas as espécies, mui simples, sem finura, sem astúcia, sem
malícia, mui obedientes e mui fiéis a seus Senhores naturais e aos espanhóis a que servem; mui humildes,
mui pacientes, mui pacíficas e amantes da paz. sem contendas, sem perturbações, sem querelas, sem ques-
tões, sem ira, sem ódio e de forma alguma desejosos de vingança. São também umas gentes mui delicadas
e ternas; sua compleição é pequena e não podem suportar trabalhos; e morrem logo de qualquer doença que
seja.(...) São gente pobre, que possui poucos bens temporais, nem mesmo são soberbos, nem ambiciosos,
nem invejosos. Seu trajo é estarem comumente nus e cobertas somente as partes vergonhosas e mesmo
quando se cobrem muito não usam mais que um manto de algodão(...). Dormem sobre uma rede trançada;
e mesmo os que têm mulher, dormem sobre uma rede presa pelos quatro cantos e que na língua da ilha Es-
panhola se chama Hamaças. Têm o entendimento mui nítido e vivo; são dóceis e capazes de toda boa dou- 19
trina. São muito aptos a receber nossa santa Fé Católica e a serem instruídos em bons e virtuosos costumes,
tendo para tanto menos empecilhos que qualquer outra gente do mundo. E tanto que começaram a apreciar
as cousas da Fé são inflamados e ardentes, por sabê-las entender; e são assim também no exercício dos
Sacramentos da Igreja e no serviço divino que verdadeiramente até os religiosos necessitam de singular
paciência para suportar. E, para terminar, ouvi dizer a diversos espanhóis que não podiam negar a bondade
natural que viam neles. Como essa gente seria feliz se tivesse o conhecimento do verdadeiro Deus!

Sobre esses cordeiros tão dóceis, tão qualificados e dotados pelo seu Criador como se disse, os espanhóis
se arremessaram no mesmo instante em que os conheceram; e como lobos, como leões e tigres cruéis, há
muito tempo esfaimados, de quarenta anos para cá, e ainda hoje em dia, outra cousa não fazem ali senão
despedaçar, matar, afligir, atormentar e destruir esse povo por estranhas crueldades (...); de tal sorte que de
três milhões de almas que havia na ilha Espanhola e que nós vimos, não há hoje de seus naturais habitantes
nem duzentas pessoas. A ilha de Cuba (...) está hoje como deserta. A ilha de São João e a de Jamaica, ambas
muito grandes e muito férteis, estão desoladas. As ilhas Lucaias, que são vizinhas à ilha Espanhola e à ilha
de Cuba pela parte do Norte, mais de sessenta ilhas, incluindo as que são chamadas as ilhas dos Gigantes
e outras ilhas, grandes e pequenas, das quais a pior é mais fértil que o Jardim do Rei em Sevilha, sofreram
mais crueldades do que se possam descrever; e de quinhentas mil pessoas que havia nessas ilhas, não há
hoje uma única criatura; a maior parte foi morta ou tirada dali para trabalhar nas minas da ilha Espanhola
onde não havia ficado nenhum dos naturais (...).

Quanto à grande terra firme, estamos certos de que nossos espanhóis, por suas crueldades e execráveis
ações, despovoaram e desolaram mais de dez Reinos, maiores que toda a Espanha, nela compreendidos
Portugal e Aragão (...).

Podemos dar conta boa e certa que em quarenta anos, pela tirania e diabólicas ações dos espanhóis, mor-
reram injustamente mais de doze milhões de pessoas, homens, mulheres e crianças; e verdadeiramente eu
creio, e penso não ser absolutamente exagerado, que morreram mais de quinze milhões.

Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se tem na conta de cristãos) usaram de duas maneiras
gerais e principais para extirpar da face da Terra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra injusta, cruel,
tirânica e sangrenta. Outra foi matar todos aqueles que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em re-
cobrar a liberdade ou subtrair-se aos tormentos que suportam, como fazem todos os Senhores naturais e os
homens valorosos e fortes; pois comumente na guerra não deixam viver senão as crianças e as mulheres:
e depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que jamais se tenham submetido homens
ou animais. (...)

A causa pela qual os espanhóis destruíram tal infinidade de almas foi unicamente não terem outra finali-
dade última senão o ouro, para enriquecer em pouco tempo, subindo de um salto a posições que absoluta-
mente não convinham a suas pessoas; enfim, não foi senão sua avareza que causou a perda desses povos,
que por serem tão dóceis e tão benignos foram tão fáceis de subjugar; e quando os índios acreditaram
encontrar algum acolhimento favorável entre esses bárbaros, viram-se tratados pior que animais e como
se fossem menos ainda que o excremento das ruas; e assim morreram, sem Fé e sem Sacramentos, tantos
milhões de pessoas. Isso eu posso afirmar como tendo visto e é cousa tão verdadeira que até os tiranos con-
fessam que jamais os índios causaram desprazer algum aos espanhóis, que os consideraram como descidos
do céu até o momento em que eles, ou seus vizinhos, provaram os efeitos da tirania.

(...)

Na ilha Espanhola que foi a primeira, como se disse, a que chegaram os espanhóis, começaram as grandes
matanças e perdas de gente, tendo os espanhóis começado a tomar as mulheres e filhos dos índios para
deles servir-se e usar mal e a comer seus víveres adquiridos por seus suores e trabalhos, não se contentando
com o que os índios de bom grado lhes davam, cada qual segundo sua faculdade, a qual é sempre pequena
porque estão acostumados a não ter de provisão mais do que necessitam e que obtêm com pouco trabalho.
E o que pode bastar durante um mês para três lares de dez pessoas, um espanhol o come ou destrói num
só dia. Depois de muitos outros abusos, violências e tormentos a que os submetiam, os índios começaram
a perceber que esses homens não podiam ter descido do céu. Alguns escondiam suas carnes, outros suas
20 mulheres e seus filhos e outros fugiam para as montanhas a fim de se afastar dessa Nação. Os espanhóis
lhes davam bofetadas, socos e bastonadas e se ingeriam em sua vida até deitar a mão sobre os senhores
das cidades. E tudo chegou a tão grande temeridade e dissolução que um capitão espanhol teve a ousadia
de violar pela força a mulher do maior rei e senhor de toda esta ilha. Cousa essa que desde esse tempo
deu motivo a que os índios procurassem meios para lançar os espanhóis fora de suas terras e se pusessem
em armas: mas que armas? São tão fracos e de tão poucos expedientes que suas guerras não são mais que
brinquedos de crianças que jogassem com canas ou instrumentos frágeis. Os espanhóis, com seus cavalos,
suas espadas e lanças começaram a praticar crueldades estranhas; entravam nas vilas, burgos e aldeias,
não poupando nem as crianças e os homens velhos, nem as mulheres grávidas e parturientes e lhes abriam
o ventre e as faziam em pedaços como se estivessem golpeando cordeiros fechados em seu redil. Faziam
apostas sobre quem, de um só golpe de espada, fenderia e abriria um homem pela metade, ou quem, mais
habilmente e mais destramente, de um só golpe lhe cortaria a cabeça, ou ainda sobre quem abriria melhor
as entranhas de um homem de um só golpe. Arrancavam os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a ca-
beça contra os rochedos enquanto que outros os lançavam à água dos córregos rindo e caçoando, e quando
estavam na água gritavam: move-te, corpo de tal?! Outros, mais furiosos, passavam mães e filhos a fio de
espada. Faziam certas forcas longas e baixas, de modo que os pés tocavam quase a terra, um para cada tre-
ze, em honra e reverência de Nosso Senhor e de seus doze Apóstolos (como diziam) e deitando-lhes fogo,
queimavam vivos todos os que ali estavam presos. Outros, a quem quiseram deixar vivos, cortaram-lhes
as duas mãos e assim os deixavam; diziam: Ide com essas cartas levar as notícias aos que fugiram para as
montanhas. Dessa maneira procediam comumente com os nobres e os senhores; faziam certos gradis sobre
garfos com um pequeno fogo por baixo a fim de que, lentamente, dando gritos e em tormentos infinitos,
rendessem o espírito ao Criador.

Eu vi uma vez quatro ou cinco dos principais senhores torrando-se e queimando-se sobre esses gradis e
penso que havia ainda mais dois ou três gradis assim aparelhados; e pois que essas almas expirantes davam
grandes gritos que impediam o capitão de dormir, este último ordenou que os estrangulassem; mas o sar-
gento, que era pior que o carrasco que os queimava (...), não quis que fossem estrangulados e ele mesmo
lhes atuchou pelotas na boca a fim de que não gritassem, e atiçava o fogo em pessoa até que ficassem
torrados inteiramente e a seu bel prazer. Eu vi as cousas acima referidas e um número infinito de outras;
e pois que os que podiam fugir ocultavam-se nas montanhas a fim de escapar a esses homens desumanos,
despojados de qualquer piedade, ensinavam cães a fazer em pedaços um índio à primeira vista. Esses cães
faziam grandes matanças e como por vezes os índios matavam algum, os espanhóis fizeram uma lei entre
eles, segundo a qual por um espanhol morto faziam morrer cem índios.

Fonte: LAS CASAS, Frei Bartolomé de. O Paraíso Destruído: a sangrenta história da conquista da América. Porto Alegre: L&PM, 2001, p. 33-35.
UNIDADE II 21

A SOCIEDADE DA CONQUISTA: AMÉRICA IBÉRICA

2.1 - Poder e Sociedade: Peninsulares, Criollos e Mestizos


Criollos eram filhos de espanhóis nascidos na Europeu e três quartos ameríndios), estava em uso
América. Em meados do século XVIII controlavam para designar os outros indivíduos relacionados ao
boa parte do comércio e também da propriedade processo de mestiçagem.
agrária, tendo desta forma angariado um grande po-
der econômico e também prestígio social. Contudo, Mestiços formam a maioria da população, na maio-
estavam descartados dos principias cargos adminis- ria da América Latina, no entanto, seria difícil saber
trativos na América em favor daqueles que haviam com qualquer razoável "precisão" biológica como o
nacido na Espanha. Por controlarem boa parte do extensivo a população é mestiça, exceto através de
comércio e da propriedade de terras, tinham grande estudos genéticos. Vários censos desde os tempos
consideração social, mas estavam alijados dos prin- coloniais seguiram a raça dos habitantes dos países da
cipias cargos políticos. América espanhola, mas estas estatísticas só são ge-
ralmente indicativos de que poderia ser considerado
Mestiço é um termo que foi usado no Império espa- raça biológica, uma vez que eles realmente captaram
nhol e no Império português na América Latina para o "social" raça de uma pessoa. Qualificação jurídica
se referir aos povos latinos de ascendência mista (eu- de uma pessoa racial na América espanhola colonial
ropeus e ameríndios). estava intimamente ligado ao status social, riqueza,
cultura e uso da língua. As pessoas ricas pagavam
Sob o sistema de casta da América espanhola e para alterar ou obscurecer sua ascendência real. Mui-
Espanha, o termo foi aplicado originalmente para tos povos indígenas deixaram suas aldeias tradicionais
os filhos resultantes da união de um europeu e uma e procuraram ser contados como mestiços para evitar
mãe indígena ou para os filhos de dois pais mestiços. pagamentos de tributos para o espanhol. Muitos po-
Durante esta época, uma miríade de outros termos, vos indígenas, e às vezes as pessoas com ascendência
incluindo castizo (três quartos europeu e um quarto Africano parcial, foram classificados como mestiços,
ameríndios), cuarteron de indio e cholo (um quarto se falavam espanhol, e viviam como mestiços.

2.2 - Poder e Sociedade: Formas de Trabalho Indígena


e Tensões Coloniais
A Mita e a Encomienda foram as formas de trabalho rias outras viagens através do Oceano Atlântico. En-
mais características da América Espanhola, estando riqueceu às custas do trabalho de nativos, que obrigou
as mesmas discriminadas no glossário deste instru- a trabalhar nas minas de ouro, e também tentou nego-
cional. A América portuguesa – bem como a inglesa ciar escravos na Europa. Apesar de ser considerado
– se utilizou da mão de obra escrava, a princípio – no pela historiografia como um excelente navegador, é
caso do Brasil – com os “negros da terra”, e posterior- visto também como péssimo administrador, tendo
mente com escravos africanos. Ingleses e portugueses sido destituído do governo em 1500.
mantinham intensa atividade no que se refere ao tráfi-
co de escravos africanos. A Conquista da América pelos espanhóis ocorreu
sob o desígnio da exploração: as pessoas não vinham
A colonização espanhola na América iniciou-se para a América em busca de terras para povoar, mas
com a chegada de Cristóvão Colombo às Américas sim de explorar ao máximo o espaço, apropriando-se
em 1492. Este procurava um novo caminho para as de suas riquezas e suas mulheres. Os espanhóis arran-
Índias e estava convencido de que o encontrara. Foi cavam violentamente quaisquer obstáculos, diziman-
nomeado governador dos novos territórios e fez vá- do populações indígenas se necessário e impondo sua
cultura, língua e religião. A colonização portuguesa Os espanhóis procuravam articular alianças com
22 também apresentou caráter de exploração. diversas comunidades indígenas, as quais não eram
homogêneas: cada uma tinha seus próprios interes-
Com o objetivo de consolidar sua conquista na Améri- ses e sua própria cultura. Os conquistadores pro-
ca, os espanhóis travaram muitas batalhas contra os na- curaram explorar as rivalidades existentes entre os
tivos do continente. Talvez os principais obstáculos para povos nativos, de modos a favorecer o seu controle
a conquista espanhola tenham sido os impérios Inca e e o seu domínio.
Asteca. Também os Maias, mesmo já em condição de
declínio quando da chegada dos espanhóis e de não Nas batalhas, o número de aliados nativos mui-
constituirem um Estado, um Império com poder centra- tas das vezes, inclusive, a superar o número de es-
lizado, representaram resistência relevante em cada uma panhóis. Também deve-se considerar o número de
de suas cidades que, como já vimos, eram autônomas. africanos.

2.3 - O Sistema Colonial em Discussão: Conceitos e


Historiografia

É justamente este arcabouço teórico e historiográfi- duas últimas décadas do século XVIII e as primeiras
co que permitirá ao historiador se tornar passivo dian- do século XIX tem como importante característica
te de seu objeto de análise, levando-o a questioná-lo o desenvolvimento de esforços por parte da política
e procurar compreende-lo em suas mais variadas ma- ilustrada das monarquias ibéricas com vistas a um re-
nifestações, tanto quanto seja possível. Como afirma ajustamento do sistema colonial em face da crise do
Antigo Regime – esforços estes que se expressavam
José Jobson de A. Arruda,
através de reformas, que por sua vez objetivavam
(...) o historiador tenta compreender as ações práticas “dinamizar a exploração e aliviar as tensões”2.
dos homens, os móveis que os animam, os fins que os
norteiam, o seu universo simbólico e as significações Novais desenvolve a teoria da crise do Antigo Siste-
que para estes homens tinham seus comportamentos e ma Colonial, que teria ocorrido apesar do reformismo
ações. O historiador opera diante de ações realizadas, ilustrado e que teria sido fruto, por sua vez, do caráter
cuja significação procura desvendar 1. frágil das colonizações ibéricas, enfatizando o con-
ceito de pacto colonial e a submissão da Colônia à
Portanto, é bastante razoável considerar o con- Metrópole.
texto histórico do processo ao qual se direciona
uma análise, cruzar as informações referentes a Em contraposição, João Fragoso e Manolo Flo-
este contexto com os dados referentes ao perso- rentino, seguindo a linha estabelecida por Ciro
nagem, sejam de caráter historiográfico ou docu- Flamarion Cardoso, defendem um processo de acu-
mental. E como as fontes não falam por si só, pro- mulação endógena nas colônias americanas e uma
curamos nos adentrar o mais densamente possível autonomia em relação às Metrópoles3. As elites des-
neste complexo contextual. te período, vinculadas por alguns historiadores a
um processo de acumulação endógena que subverte
Um destes fatores, de extrema relevância para o en- a ideia de pacto colonial são, enquanto o Brasil não
tendimento deste período de transição, foi a Ilustra- passar à categoria de Reino Unido a Portugal e Al-
ção. Para Novais, o período compreendido entre as garve, o colonizador.

1
ARRUDA, José Jobson de Andrade, “Linhagens historiográficas contemporâneas: por uma nova síntese histórica”, in: Separata da
Revista População e Sociedade, n.º 4, Centro de Estudos da População e Família, 1998.
2
NOVAIS, Frnando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. São Paulo: Hucitec, 1988.
3
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil em uma
economia colonial tardia, c. 1790- c. 1840. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 18.
Exercícios de Fixação
23
1 - Utilizando o glossário, conceitue “criollos” e explique sua importância no contexto da colonização espanhola.
2 - Conceitue as principais formas de trabalho da América espanhola e contextualize-as em relação ao respectivo
sistema de colonização.
3 - Explique o caráter de exploração da colonização espanhola.
4 - Caracterize as semelhanças e diferenças entre as colonizações espanhola e portuguesa.

Leitura Complementar

A IMIGRAÇÃO E O POVOAMENTO
por Nicolás Sánchez-Albornoz

As viagens de exploração e as primeiras conquistas trouxeram para a América um punhado de marinhei-


ros, soldados, funcionários públicos e clérigos. Poucos deles, quando desembarcaram pela primeira vez,
tinham o propósito de estabelecer-se no novo mundo. No entanto, mortos ou vivos, muitos ali ficaram para
sempre. Estes homens constituíram a primeira onda de uma grande procissão que durante os séculos traria
milhões de europeus para a América, do Norte e do Sul.

No início, o fluxo foi espontâneo, mas logo passou a ser controlado. A Coroa de Castela, com a finalidade
de manter a pureza ideológica das terras recém-conquistadas, proibiu a entrada de certas categorias de
pessoas nas Índias. Assim foi barrada a migração aos mouros, aos judeus, aos ciganos e a todo aquele que
já tivesse sido condenado pela Inquisição. A Lei restringiu a entrada no Novo Mundo de estrangeiros e,
inicialmente, até de nativos dos reinos de Aragão. O princípio era que a emigração para a América fosse
limitada aqueles que pertenciam à Coroa de Castela.

Legalmente, a migração para as Índias requeria autorização oficial. A partir das licenças originais que
estão preservadas em grande quantidade no Arquivo das Índias em Sevilha, é possível calcular o número
dos que imigraram para a América e delinear de modo grosseiro suas principais características. Até a
época de sua publicação, o Catálogo de pasajeros a Índias se refere apenas ao período de 1509 a 15591.
Em seus três volumes aparecem quinze mil nomes – cifra bastante insuficiente no que se refere ao total da
emigração no período. Estão faltando alguns maços de documentos; e, mais significativamente ainda, era
muito comum pessoas embarcarem sem papéis e marinheiros desertarem seus navios ao chegar ao porto
na América (...).

Interessada em consolidar sua hegemonia na Colõnia, a Coroa desejava que na América se desenvolvesse
uma população espanhola mais estável e equilibrada. Por isso, encorajou as mulheres, e mesmo famílias
inteiras, a emigrar. Os funcionários reais e os encomenderos foram forçados a se casar ainda na Espanha,
ou a mandar buscar suas esposas e parentes para que se lhes juntassem no Novo Mundo. A alta proporção
de homens jovens, a maioria deles solteiros, que cruzavam continuamente o Oceano frustrou esse objetivo
político, pois significou que a crônica escassez de mulheres na América nunca foi preenchida. Pela mes-
ma razão, iam-se consolidando relacionamentos mais ou menos permanentes de homens espanhóis com
mulheres nativas americanas. O resultado foi a formação, dentro da população, de um estrato de mestiços,
nem sempre diferenciados como tais. De fato, especialmente no início, muitos mestiços foram absorvidos
pelo estrato social ocupado por seus pais, desfrutaram de seus privilégios e passaram por europeus (...).

Entre os emigrantes estavam muitos hidalgos, alguns dos quais alçados talvez, pela primeira vez, a essa
categoria na América. Além dos comerciantes e funcionários, membros das classes mais baixas, como
camponeses e artesãos, atravessaram o oceano em grande número. O que é digno de nota também é que o
número de emigrantes oriundos das cidades e vilas era muito maior do que o proveniente das áreas rurais.
Os emigrantes retornariam com muita frequência à Península – com fortunas, títulos e cicatrizes – mas

1
Catálogo de pasajeros a Índias durante los siglos XVI, XVII y XVIII, Sevilla, 1940-1946, 3 vols.
24 a maioria criou raízes no Novo Mundo. Três quartos de século após as primeiras viagens de descoberta,
havia nas Índias cerca de 150 mil pessoas de ascendência espanhola, embora, evidentemente, nem todas
tivessem nascido na Europa.

Os europeus não foram os únicos colonizadores novos no continente americano. Desde o início, os afri-
canos, no papel de auxiliares, fizeram parte das forças expedicionárias, e em pouco tempo seu contingente
aumentou. Sua transferência para o Novo Mundo, porém, foi involuntária e teve um propósito econômico.
Com o desaparecimento dos nativos nas Antilhas e o início das grandes lavouras, Lãs Casas propôs que
se trouxesssem escravos africanos para substituí-los no trabalho. Os africanos adaptaram-se muito bem às
condições nas Antilhas e acabaram por substituir os americanos nativos nas ilhas e na tierra caliente do
continente. No entanto, nas regiões de mineração das sierras, a necessidade de africanos foi menor, embora
alguns também tenham sido trazidos para desempenhar tarefas especiais. Os negros foram introduzidos
em todo o continente, - inclusive nas grandes haciendas de criação de gado –, pois inerentemente tinham
muito maior mobilidade que os índios. Grande número deles ingressou no serviço doméstico, elevando
dessa maneira a posição social de seus amos. Os escravos africanos constituíam um bem de raiz, e sua im-
portação era regulamentada por lei comercial. Assim como fazia em outras atividades mercantis, o Estado
desempenhou no comércio escravo uma função regulamentadora (...).

As civilizações avançadas da mesoamérica e dos Andes haviam construído metrópoles, como Tenóchti-
tlán e Cuzco, equivalentes em tamanho e em função às grandes cidades da Europa e da Ásia do mesmo
período. Abaixo delas espalhava-se uma intrincada rede de cidades menores e vilas. Na região dos grandes
impérios, os espanhóis ocuparam esses centros de cultura e poder nativos, dominaram os grupos dirigentes
e se ocuparam de imediato na sua reorganização. De modo geral, preferiram conquistar as regiões mais
populosas e mais urbanizadas. Algumas cidades nativas desapareceram totalmente; às vezes os espanhóis
fundavam novos centros urbanos. No conjunto, porém, a rede urbana original persistiu. Nos locais onde os
espanhóis encontraram uma população dispersa – seja de caçadores, seja de agricultores menos intensivos
– fundaram centros autônomos capazes de satisfazer as necessidades administrativas ou econômicas ou
cumprir as exigências do sistema imperial de comunicações. Zacatecas, Santiago do Chile e Buenos Aires
foram todas fundadas com tais propósitos (...).

Por lei, os espanhóis e os índios viviam em lugares diferentes. Os espanhóis eram proibidos de estabele-
cer-se em distritos índios e vice-versa, com exceção daqueles índios que prestavam serviços nas cidades.
Mesmo estes – artesãos, por exemplo – viviam em paróquias separadas. A multidão de trabalhadores e de
mascates que iam à cidade diariamente viviam fora de seus limites em distritos-satélite. Os nativos ame-
ricanos deixaram assim de dominar os centros urbanos, mas nem por isso se tornaram mais dispersos. O
Estado e a Igreja concordavam: era conveniente a ambos que os índios permanecessem congregados. O
governo e a evangelização seriam desse modo facilitados, sem mencionar o fato de que o reassentamento
deixava grandes extensões de terra desocupadas e livres, que a Coroa poderia usar para recompensar os
colonos. A política de congregar os índios data das leis de Burgos de 1512, antes da invasão espanhola
do continente. Apesar da persistência dos monarcas espanhóis, levou muito tempo para se completar o
processo. Na Guatemala, os padres conseguiram reagrupar os índios de modo rápido e bem sucedido. Por
volta de 1550, a maioria deles estava vivendo em distritos recém-fundados. No México central, o Velasco
pai promoveu uma intensa campanha de reassentamento durante o período de seu vice-reinado de 1550
a 1564. Coube ao Vice-Rei Montesclaros, entre 1603 e 1605, completar sua obra. Foi estimado que o se-
gundo programa afetou um quarto de milhão de pessoas, uma proporção considerável da população índia
remanescente que estava dispersa (...).

Os espanhóis, em sua maioria, viviam nas cidades principais; os índios, nas vilas menores. Apesar da lei,
porém, a segregação em duas “repúblicas” nunca foi posta em prática com rigor. Nunca houve falta de ín-
dios nas cidades, que na verdade precisavam deles se quisesssem funcionar com eficiência. Por ouro lado,
os espanhóis se introduziram pouco a pouco nas vilas índias mais prósperas. E nos distritos que criaram em
suas próprias fazendas o estrato de fundo era constituído de trabalhadores índios ou mestiços.

Fonte: BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina: América Latina Colonial. Vol. II. Tradução: Mary Amazonas Leite de Barros
e Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre de Gusmão, 1999. pp. 35 a 43.
UNIDADE III 25

A CONSTRUÇÃO DO ESCRAVISMO NO NOVO MUNDO

3.1 - A Construção do Sistema Colonial Inglês


Foi no reinado de Henrique VII (1485–1509) que os seja pelos encontros hostis com tribos indígenas do
ingleses iniciaram o processo de colonização do novo continente. Somente no século seguinte – no reinado
mundo, promovendo a indústria naval como forma de de Jaime I da Inglaterra e após a derrota da Armada
expandir o comércio para além do espaço das Ilhas espanhola – foi assinado o Tratado de Londres, que
Britânicas. Contudo, as primeiras colónias britânicas permitiu o estabelecimento da colónia da Virginia em
só foram existir durante o reinado de Isabel I, quando 1607. Nos três séculos posteriores, os ingleses inten-
Sir Francis Drake realizou a circunavegação da Terra sificaram suas atividades comerciais e expandiram o
nos anos 1577 a 1580 (Fernão de Magalhães já a tinha seu império por todo o mundo: grande parte de Áfri-
feito em 1522). Em 1579, Drake chegou à Califórnia ca, da América do Norte, da Índia e várias regiões vi-
e proclamando aquela região “colónia da Coroa”, e zinhas, bem como diversas ilhas ao redor do mundo.
chamando-lhe “Nova Albion” ("Nova Inglaterra"),
mas não estabeleceu nela nenhum tipo de ocupação. Em 1670 já funcionavam plenamente colónias in-
Humphrey Gilbert teria chegado à Terra Nova em glesas na América do Norte (Nova Inglaterra, Vir-
1583, declarando-a colónia inglesa, ao passo que Sir gínia, Carolina) e em Antígua, Barbados, Belize e
Walter Raleigh estabeleceu a colónia da Virginia no Jamaica, bem como a intensa atividade comercial na
ano de 1587. Ambas estas colónias tiveram pouca du- Índia, esta em grande articulação com a Companhia
ração e foram abandonadas, seja por falta de comida, das Índias Orientais.

3.2 - A Construção do Sistema Colonial Francês


A colonização francesa da América iniciou-se Os franceses conquistaram algumas ilhas do Caribe
no século XVI, e insere-se no contexto das grandes (Hispaniola (República Dominicana e Haiti), Gua-
navegações, estabelecido pela historiografia como dalupe, Martinica, Santa Lucia e Tobago) e também
importante marco de transformações e rupturas no uma parte da América do Sul, a qual ficou conhecida
Ocidente europeu. como Guiana Francesa. As colônias desenvolveram
basicamente o comércio de açúcar, peixe e frutas.
Seguindo o caminho do colonialismo estabeleci-
do pelos espanhóis e pelos portugueses, não apenas Para manter o controle das colônias, a Coroa fran-
franceses, mas também ingleses e holandeses, pro- cesa utilizou-se de autoridades locais. O povoamento
curaram se fixar em regiões nas quais os primeiros foi pequeno, e as colônias acabaram servindo apenas
colonizadores ainda não se estivessem estabelecido. como postos comerciais e estratégicos.
Muitos conflitos e guerras se desenvolveram entre os
países colonizadores, em vista desta busca de novos Da mesma forma que portugueses e espanhóis, os
territórios e do próprio colonialismo em si. primeiros exploradores franceses que chegaram na
região buscavam rotas paras as Índias, bem como
Os franceses se fixaram na América do Norte, nas espaços locais para exploração de jazidas de metais
regiões do Rio São Lourenço e dos Grandes Lagos. preciosos. Em 1524, o rei da França enviou o explo-
A partir do ano de 1603, estabeleceram as colônias rador italiano Giovanni da Verrazano para a região
de Terra Nova, Nova Escócia (Acádia) e Nova Fran- compreendida entre a Flórida e Terra Nova, com o
ça (Canadá). Em 1608 fundaram Québec e, em 1643, objetivo de encontrar um caminho para o Oceano Pa-
Montreal. Em 1682 foi estabelecida a cidade de Nova cífico, o qual não foi alcançado. Contudo, Verrazano
Orleans no vale no Rio Mississippi, no atual Estado é o primeiro europeu considerado pela historiografia
da Louisiana. a ter explorado a costa americana do Atlântico Nor-
te (EUA e Canadá), mas alguns apontamentos histo- cesas do Fort Caroline. Menéndez saqueou o Fort
26 riográficos afirmam hipoteticamente ter sido a Terra Caroline em 20 de setembro de 1565, assassinando
Nova descoberta em 1472 pelo navegador português muitos colonos e obrigando a França a abandonar
João Vaz Corte Real, ou seja, 20 anos antes de Cristó- definitivamente a área.
vão Colombo aportar na América.
Entre 1555 e 1567, um grupo de huguenotes france-
Em 1541, Cartier, em busca do lendário Reino de ses liderados pelo vice-almirante Nicolas Durand de
Saguenay, fundou um povoado permanente no Rio Villegagnon, instalaram-se na América do Sul com a
São Lourenço. Em agosto de 1541 foi construído colônia denominada França Antártica. Tentaram con-
uma fortificação chamada Charlesbourg-Royal, onde quistar, desta forma, a baía da Guanabara, mas foram
hoje fica Quebec. Cartier permaneceu na busca do expulsos por uma aliança entre nativos e portugueses
lugar lendário e chegou ao rio Ottawa, retornando à – apesar de muitos nativos terem extrema simpatia
França em 1542. pelo colonizador francês em vista do português. Entre
1612 e 1615, empreenderam nova tentativa de colo-
Em 1562, Carlos IX enviou Jean Ribault juntamente nização na América do Sul, desta vez em São Luís
a um grupo de huguenotes franceses para estabelecer no Maranhão, com a chamada “França Equinocial”.
uma colônia no norte da América. Eles exploraram Também não lograram sucesso.
o Rio St. Johns onde atualmente fica Jacksonville,
Florida. René Goulaine de Laudonnière funda o Fort A Guiana Francesa foi primeiramente colonizada
Caroline em 22 de junho de 1564. Em 1565 a Espa- pelos franceses no ano de 1604. Entre 1851 e 1951,
nha, através de Pedro Menéndez de Avilés, cria pro- foi o local em que se construiu a instância penal da
blemas para os franceses fundando a colonia de St. Ilha do Diabo (Île du Diable). Atualmente a Guiana
Augustine a 60km ao sul, ameaçando as forças fran- continua sob o domínio da França.

3.3 - O Escravismo na América Espanhola


A América espanhola empregou variados tipos da O Tratado de Tordesilhas designava o continente afri-
trabalho indígena, nas formas de semisservidão e tra- cano ao Império Português, o que incentivará o uso de
balho compulsório. Podemos discriminar basicamen- negros como mão de obra pelos lusitanos e dificultará
te três formas de utilização da mão de obra indígena: o uso de negros pela Espanha. O próprio Estado portu-
guês irá administrar o tráfico negreiro, atividade inten-
• Trabalho livre: assalariado e parceria (meieiro); samente lucrativa, e que, em si, foi a grande responsável
• Trabalho compulsório: Mita e Encomienda; pela predominância da mão de obra africana no Brasil,
• Escravidão (em menor escala). ao contrário do que dizem as lendas documentais e his-
toriográficas sobre o índio rebelde e o negro dócil.
As complexas sociedades pré-colombianas já co-
nheciam sistemas de trabalho compulsório (Ex: mita No que se refere à Espanha, é importante salientar a con-
ou cuatequil). Na América Espanhola, o elemento in- cessão feita à Nova Granada, pois, como os antigos Maias
dígena estava concentrado em centros urbanos de alta não tinham civilizações tão complexas quanto às dos As-
densidade demográfica, o que facilitava sobremaneira tecas e Incas – fator que dificultava o processo escraviza-
o seu aproveitamento. tório – optar-se-á pela utilização do escravo africano.

Exercícios de Fixação
1 - Que características podemos identificar no sistema colonial inglês diferentes das colonizações ibéricas?

2 - Caracterize as formas de colonização francesas na América em relação aos sistemas coloniais ibéricos.

3 - Explique os mecanismos de trabalho na América espanhola.

4 - Utilizando o glossário, defina o conceito de escravidão e comente sua utilização pelos colonizadores da América.
Leitura Complementar
27

TRATADO DE TORDESILHAS
7 de Junho de 1494

Dom Fernando e d. Isabel, por graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, da Sicília, de
Granada, de Toledo, de Valência, de Galiza, de Maiorca, de Sevilha, da Sardenha, de Córdova, da Córse-
ga, de Múrcia, de Jaém, do Algarve, de Algeciras, de Gibraltar, das ilhas de Canária, conde e condessa de
Barcelona, senhores de Biscaia e de Molina, duques de Atenas e de Neopatria, condes de Roussilhão e da
Sardenha, marqueses de Oristán e de Gociano, juntamente com o príncipe d. João, nosso mui caro e mui
amado filho primogênito, herdeiro dos nossos ditos reinos e senhorios. Em fé do qual, por d. Henrique
Henriques, nosso mordomo-mor e d. Gutierre de Cárdenas, comissário-mor de Leão, nosso contador-mor e
o doutor Rodrigo Maldonado, todos do nosso Conselho, foi tratado, assentado e aceito por nós e em nosso
nome e em virtude do nosso poder, com o sereníssimo d. João, pela graça de Deus rei de Portugal e dos
Algarves d’Aquém e d’Além-mar, em África, senhor da Guiné, nosso mui caro e mui amado irmão, e com
Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel e d. João de Sousa, seu filho, almotacel-mor do dito sereníssimo
rei nosso irmão, e Arias de Almadana, corretor dos feitos civis de sua corte e de seu foro, todos do Conse-
lho do dito sereníssimo rei nosso irmão, em seu e em virtude de seu poder, seus embaixadores que a nós
vieram, sobre a demanda que nós e ao dito sereníssimo rei nosso irmão pertence, do que até sete dias deste
mês de junho, em que estamos, da assinatura desta escritura está por descobrir no mar Oceano, na qual dito
acordo dos nossos ditos procuradores, entre outras coisas, prometeram que dentro de certo prazo nela es-
tabelecido, nós outorgaríamos, confirmaríamos, juraríamos, ratificaríamos e aprovaríamos a dita aceitação
por nossas pessoas; e nós, desejando cumprir e cumprindo tudo o que assim em nosso nome foi assentado,
e aceito, e outorgado acerca do supradito, mandamos trazer diante de nós a dita escritura da dita convenção
e assento para vê-la e examiná-la, e o teor dela de verbo ad verbum é este que se segue:

Em nome de Deus Todo-Poderoso, Padre, Filho e Espírito Santo, três pessoas realmente distintas e sepa-
radas, e uma só essência divina. Manifesto e notório seja a todos quantos este público instrumento virem,
dado na vila de Tordesillas, aos sete dias do mês de junho, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo de mil quatrocentos e noventa e quatro anos, em presença de nós os secretários e escribas e notários
públicos dos abaixo assinados, estando presentes os honrados d. Henrique Henriques, mordomo-mor dos
mui altos e mui poderosos príncipes senhores d. Fernando e d. Isabel, por graça de Deus, rei e rainha de
Castela, de Leão, de Aragão, da Sicília, de Granada etc., e d. Gutierre de Cárdenas, comendador-mor dos
ditos senhores rei e rainha, e o doutor Rodrigo Maldonado, todos do Conselho dos ditos senhores rei e
rainha de Castela, de Leão, de Aragão, da Sicília e de Granada etc., seus procuradores bastantes de uma
parte, e os honrados Rui de Sousa, senhor de Sagres e Beringel, e d. João de Sousa, seu filho, almotacél-
mor do mui alto e mui excelente senhor d. João, pela graça de Deus rei de Portugal e Algarves, d’Aquém
e d’Além-mar, em África, e senhor da Guiné; e Arias de Almadana, corregedor dos feitos cíveis em sua
corte, e do seu Desembargo, todos do Conselho do dito rei de Portugal, e seus embaixadores e procuradores
bastantes, como ambas as ditas partes o mostraram pelas cartas e poderes e procurações dos ditos senhores
seus constituintes, o teor das quais, de verbo ad verbum é este que se segue: D. Fernando e d. Isabel, por
graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, da Sicília, de Granada, de Toledo, de Valência,
da Galiza, da Maiorca, de Sevilha, de Sardenha, de Córdova, da Córsega, de Múrcia, de Jaém, de Algarve,
de Algeciras, de Gibraltar, das ilhas de Canária, conde e condessa de Barcelona, e senhores de Biscaia e de
Molina, duques de Atenas e de Neopatria, condes de Roussilhão e da Sardenha, marqueses de Oristán e de
Gociano etc. Em fé do que, o sereníssimo rei de Portugal, nosso mui caro mui amado irmão, nos enviou
como seus embaixadores e procuradores a Rui de Sousa, do qual são as vilas de Sagres e Beringel, e a d.
João de Sousa, seu almotacél-mor, e Arias de Almadana, seu corregedor dos feitos cíveis em sua corte, e
de seu Desembargo, todos do seu Conselho, para entabolar e tomar assento e concórdia conosco ou com
nossos embaixadores e procuradores, em nosso nome, sobre a divergência que entre nós e o sereníssimo rei
de Portugal, nosso irmão, há sobre o que a nós e a ele pertence do que até agora está por descobrir no mar
Oceano; em razão do que, confiando de vós d. Henrique Henriques, nosso mordomo-mor e d. Gutierre de
Cárdenas, comendador-mor de Leão, nosso contador-mor, e o doutor Rodrigo Maldonado, todos de nosso
Conselho, que sois tais pessoas, que zelareis nosso serviço e que bem fielmente fareis o que por nós vos
for mandado e encomendado; por esta presente carta vos damos todos nossos poderes completos naquela
28 maneira e forma que podemos e em tal caso se requer, especialmente para que por nós e em nosso nome
e de nossos herdeiros e sucessores, e de todos nossos reinos e senhorios, súditos e naturais deles, possais
tratar, ajustar e assentar e fazer contrato e concórdia com os ditos embaixadores do sereníssimo rei de
Portugal, nosso irmão, em seu nome, qualquer concerto, assento, limitação, demarcação e concórdia sobre
o que dito é, pelos ventos em graus de Norte e de Sul e por aquelas partes, divisões e lugares do céu, do
mar e da terra, que a vós bem visto forem e assim vos damos o dito poder para que possais deixar ao dito
rei de Portugal e a seus reinos e sucessores todos os mares, e ilhas, e terras que forem e estiverem dentro
de qualquer limitação e demarcação que com ele assentarem e deixarem. E outrossim vos damos o dito
poder, para que em nosso nome e no de nossos herdeiros e sucessores, e de nossos reinos e senhorios,
e súditos e naturais deles, possais concordar a assentar e receber, e acabar com o dito rei de Portugal, e
com seus ditos embaixadores e procuradores em seu nome, que todos os mares, ilhas e terras que forem
ou estiverem dentro da demarcação e limitação de costas, mares e ilhas e terras que ficarem por vós e por
nossos sucessores, e de nosso senhorio e conquista, sejam de nossos reinos e sucessores deles, com aquelas
limitações e isenções e com todas as outras divisões e declarações que a vós bem visto for, e para que sobre
tudo que está dito, e para cada coisa e parte disso, e sobre o que a isso é tocante, ou disso dependente, ou
a isso anexo ou conexo de qualquer maneira, possais fazer e outorgar, concordar, tratar e receber, e aceitar
em nosso nome e dos ditos nossos herdeiros e sucessores de todos os nossos reinos e senhorios, súditos e
naturais deles, quaisquer tratados, contratos e escrituras, como quaisquer vínculos, atos, modos, condições
e obrigações e estipulações, penas, sujeições e renúncias, que vós quiserdes, e bem outorgueis todas as coi-
sas e cada uma delas, de qualquer natureza ou qualidade, gravidade ou importância que tenham ou possam
ter, ainda que sejam tais que pela sua condição requeiram outro nosso especificado e especial mandado e
que delas se devesse de fato e de direito fazer singular e expressa menção e, que nós, estando presentes
poderíamos fazer e outorgar e receber. E outrossim vos damos poder suficiente para que possais jurar e
jureis por nossas almas, que nós e nossos herdeiros e sucessores, súditos, naturais e vassalos, adquiridos e
por adquirir, teremos, guardaremos e cumpriremos, e terão, guardarão e cumprirão realmente e com efeito,
tudo o que vós assim assentardes, capitulardes, jurardes, outorgardes e firmardes, livre de toda a cautela,
fraude, engano, ficção e simulação e assim possais em nosso nome capitular, assegurar e prometer que nós
em pessoa seguramente juraremos, prometeremos, outorgaremos e firmaremos tudo o que vós em nosso
nome, acerca do que dito é assegurardes, prometerdes e acordardes, dentro daquele lapso de tempo que
vos bem parecer, e que o guardaremos e cumpriremos realmente, e com efeito, sob as condições, penas e
obrigações contidas no contrato das bases entre nós e o dito sereníssimo rei nosso irmão feito e concorda-
do, e sobre todas as outras que vós prometerdes e assentardes, as quais desde agora prometemos pagar, se
nelas incorrermos, para tudo o que e cada coisa ou parte disso, vos damos o dito poder com livre e geral
administração, e prometemos e asseguramos por nossa fé e palavra real de ter, guardar e cumprir, nós e
nossos herdeiros e sucessores, tudo o que por vós, acerca do que dito é, em qualquer forma e maneira for
feito e capitulado, jurado e prometido, e prometemos de o ter por firme, bom e sancionado, grato, estável
e válido, e verdadeiro agora e em todo tempo, e que não iremos nem viremos contra isso nem contra parte
alguma disso, nem nós nem herdeiros e sucessores, por nós, nem por outras pessoas intermediárias, direta
nem indiretamente, sob qualquer pretexto ou causa, em juízo, nem fora dele, sob obrigação expressa que
para isso fazemos de todos os nossos bens patrimoniais e fiscais, e outros quaisquer de nossos vassalos e
súditos e naturais, móveis e de raiz, havidos e por haver. Em testemunho do que mandamos dar esta nossa
carta de poder, a qual firmamos com os nossos nomes, mandamos selar com o nosso selo. Dada na vila de
Tordesillas aos cinco dias do mês de junho, ano de nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de mil qua-
trocentos e noventa e quatro. Eu, el-rei. Eu, a rainha. Eu, Fernando Álvarez de Toledo, secretário do Rei e
da Rainha, nossos senhores, a fiz escrever a seu mandado. D. João, por graça de Deus rei de Portugal e dos
Algarves, d’Aquém e d’Além-mar em África, e senhor de Guiné etc.

A quantos esta nossa carta de poderes e procuração virem, fazemos saber que em virtude do mandado
dos mui altos e mui excelentes e poderosos príncipes, o rei d. Fernando e a rainha d. Isabel, rei e a rai-
nha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada etc., nossos mui amados e prezados irmãos,
foram descobertas e achadas novamente algumas ilhas, e poderiam adiante descobrir e achar outras ilhas
e terras sobre as quais tanto umas como outras, achadas e por achar, pelo direito e pela razão que nisso
temos, poderiam sobrevir entre nós todos e nossos reinos e senhorios, súditos e naturais deles, que Nosso
Senhor não consinta; a nós apraz pelo grande amor e amizade que entre todos nós existe, e para se buscar,
procurar e conservar maior paz e mais firme concórdia e sossego, que o mar em que as ditas ilhas estão e
forem achadas, se parte e demarque entre nós todos de alguma boa, certa e limitada maneira; e porque nós
no presente não podemos entender nisto pessoalmente, confiante a vós Rui de Sousa, senhor de Sagres e
Beringel, e d. João de Sousa, nosso almotacél-mor, e Arias de Almadana, corregedor dos feitos cíveis em 29
nossa corte e do nosso Desembargo, todos do nosso Conselho, pela presente carta vos damos todo nosso
poder, completo, autoridade e especial mandado, e vos fazemos e constituímos a todos em conjunto, e a
dois de vós e a cada um de vós (in solidum) se os outros por qualquer modo estiverem impedidos, nossos
embaixadores e procuradores, na mais ampla forma que podemos e em tal podemos e em tal caso se requer
e geral especialmente; e de tal modo que a generalidade não derrogue a especialidade, nem a especialidade,
a generalidade, para que, por nós, e em nosso nome e de nossos herdeiros e sucessores, e de todos os nossos
reinos e senhorios, súditos e naturais deles possais tratar, concordar e concluir e fazer, trateis, concordeis e
assenteis, e façais com os ditos rei e rainha de Castela, nossos irmãos, ou com quem para isso tenha os seus
poderes, qualquer concerto e assento, limitação, demarcação e concórdia sobre o mar Oceano, ilhas e terra
firme, que nele houver por aqueles rumos de ventos e graus de Norte e Sul, e por aquelas partes, divisões
e lugares de seco e do mar e da terra, que bem vos parecer.

E assim vos damos o dito poder para que possais deixar, e deixeis aos ditos rei e rainha e a seus reinos
e sucessores todos os mares, ilhas e terras que estiverem dentro de qualquer limitação e demarcação que
com os ditos rei e rainha ficarem: e assim vos damos os ditos poderes para em nosso nome e no dos nossos
herdeiros e sucessores e de todos os nossos reinos e senhorios, súditos e naturais deles, possais com os
ditos rei e rainha, ou com seus procuradores, assentar e receber e acabar que todos os mares, ilhas e terras
que forem situados e estiverem dentro da limitação e demarcação das costas, mares, ilhas e terras que por
nós e nossos sucessores ficarem, sejam nossos e de nossos senhorios e conquista, e assim de nossos reinos
e sucessores deles, com aquelas limitações e isenções de nossas ilhas e com todas as outras cláusulas e
declarações que vos bem parecerem. Os quais ditos poderes damos a vós os ditos Rui de Sousa e d. João de
Sousa e o licenciado Arias da Almadana, para que sobre tudo o que dito é, e sobre cada coisa e parte disso
e sobre o que a isso é tocante, e disso dependente, e a isso anexo, e conexo de qualquer maneira, possais
fazer, e outorgar, concordar, tratar e distratar, receber e aceitar em nosso nome e dos ditos nossos herdeiros
e sucessores e todos nossos reinos e senhorios, súditos e naturais deles em quaisquer capítulos, contratos e
escrituras, com quaisquer vínculos, pactos, modos, condições, penas, sujeições e renúncias que vós quiser-
des e a vós bem visto for e sobre isso possais fazer e outorgar e façais e outorgueis todas as coisas, e cada
uma delas, de qualquer natureza e qualidade, gravidade e importância que sejam ou possam ser posto que
sejam tais que por sua condição requeiram outro nosso especial e singular mandado, e se devesse de fato e
de direito fazer singular e expressa menção e que nós presentes, poderíamos fazer e outorgar, e receber. E
outrossim vos damos poderes completos para que possais jurar, e jureis por nossa alma, que nós e nossos
herdeiros e sucessores, súditos e naturais, e vassalos, adquiridos e por adquirir, teremos, guardaremos e
cumpriremos, terão, guardarão e cumprirão realmente, e com efeito, tudo o que vós assim assentardes e
capitulardes e jurardes, outorgardes e firmardes, livre de toda cautela, fraude e engano e fingimento, e
assim possais em nosso nome capitular, assegurar e prometer que nós em pessoa asseguraremos, jurare-
mos, prometeremos, e firmaremos tudo o que vós no sobredito nome, acerca do que dito é assegurardes,
prometerdes e capitulardes, dentro daquele prazo e tempo que vos parecer bem, e que o guardaremos e
cumpriremos realmente e com efeito sob as condições, penas e obrigações contidas no contrato das pazes
entre nós feitas e concordadas, e sob todas as outras que vós prometerdes e assentardes no nosso sobredito
nome, os quais desde agora prometemos pagar e pagaremos realmente e com efeito, se nelas incorrermos.
Para tudo o que e cada uma coisa e parte disso, vos damos os ditos poderes com livre e geral administração,
e prometemos e asseguramos com a nossa fé real, ter e guardar e cumprir, e assim os nossos herdeiros e
sucessores, tudo o que por vós, acerca do que dito é em qualquer maneira e forma for feito, capitulado e
jurado e prometido; e prometemos de o haver por firme, sancionado e grato, estável e valedouro, desde
agora para todo tempo e que não iremos, nem viremos, nem irão contra isso, nem contra parte alguma
disso, em tempo algum; nem por alguma maneira, por nós, nem por si, nem por intermediários, direta nem
indiretamente, e sob pretexto algum ou causa em juízo nem fora dele, sob obrigação expressa que para isso
fazemos dos ditos nossos reinos e senhorios e de todos os nossos bens patrimoniais, fiscais e outros quais-
quer de nossos vassalos e súditos e naturais, móveis e de raiz, havidos e por haver. Em testemunho e fé do
que vos mandamos dar esta nossa carta por nós firmada e selada com o nosso selo, dada em nossa cidade
de Lisboa aos oito dias de março. Rui de Pina a fez no ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo
de mil quatrocentos e noventa e quatro. El rei. E logo os ditos procuradores dos ditos senhores rei e rainha
de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada etc., e do dito senhor rei de Portugal e dos Algarves
etc., disseram: que visto como entre os ditos senhores seus constituintes há certa divergência sobre o que
a cada uma das ditas partes pertence do que até hoje, dia da conclusão deste tratado, está por descobrir no
mar Oceano; que eles, portanto, para o bem da paz e da concórdia e pela conservação da afinidade e amor
30 que o dito senhor rei de Portugal tem pelos ditos senhores rei e rainha de Castela, de Aragão etc., praz a
suas altezas, e os seus ditos procuradores em seu nome, e em virtude dos ditos seus poderes, outorgaram e
consentiram que se trace e assinale pelo dito mar Oceano uma raia ou linha direta de pólo a pólo; convém
a saber, do pólo Ártico ao pólo Antártico, que é de norte a sul, a qual raia ou linha e sinal se tenha de dar e
dê direita, como dito é, a trezentas e setenta léguas das ilhas de Cabo Verde em direção à parte do poente,
por graus ou por outra maneira, que melhor e mais rapidamente se possa efetuar contanto que não seja
dado mais. E que tudo o que até aqui tenha achado e descoberto, e daqui em diante se achar e descobrir
pelo dito senhor rei de Portugal e por seus navios, tanto ilhas como terra firme desde a dita raia e linha
dada na forma supracitada indo pela dita parte do levante dentro da dita raia para a parte do levante ou do
norte ou do sul dele, contanto que não seja atravessando a dita raia, que tudo seja, e fique e pertença ao
dito senhor rei de Portugal e aos seus sucessores, para sempre. E que todo o mais, assim ilhas como terra
firme, conhecidas e por conhecer, descobertas e por descobrir, que estão ou forem encontrados pelos ditos
senhores rei e rainha de Castela, de Aragão etc., e por seus navios, desde a dita raia dada na forma supra
indicada indo pela dita parte de poente, depois de passada a dita raia em direção ao poente ou ao norte-sul
dela, que tudo seja e fique, e pertença, aos ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão etc. e aos seus
sucessores, para sempre.

Item: os ditos procuradores prometem e asseguram, em virtude dos ditos poderes, que de hoje em diante
não enviarão navios alguns, convém a saber, os ditos senhores rei e rainha de Castela, e de Leão, e de Ara-
gão etc., por esta parte da raia para as partes de levante, aquém da dita raia, que fica para o dito senhor rei
de Portugal e dos Algarves etc., nem o dito senhor rei de Portugal à outra parte da dita raia, que fica para
os ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão etc., a descobrir e achar terra nem ilhas algumas, nem
a contratar, nem resgatar, nem conquistar de maneira alguma; porém que se acontecesse que caminhando
assim aquém da dita raia os ditos navios dos ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão etc., achassem
quaisquer ilhas ou terras dentro do que assim fica para o dito senhor rei de Portugal e dos Algarves, que
assim seja e fique para o dito senhor rei de Portugal e para seus herdeiros para todo o sempre, que suas
altezas o hajam de mandar logo dar e entregar. E se os navios do dito senhor de Portugal acharem quaisquer
ilhas e terras na parte dos ditos senhores rei e rainha de Castela, e de Leão, e de Aragão etc., que tudo tal
seja e fique para os ditos senhores rei e rainha de Castela, e de Leão etc., e para seus herdeiros para todo o
sempre, e que o dito senhor rei de Portugal o haja logo de mandar, dar e entregar.

Item: para que a dita linha ou raia da dita partilha se haja de traçar e trace direita e a mais certa que possa
ser pelas ditas trezentas e setenta léguas das ditas ilhas de Cabo Verde em direção à parte do poente, como
dito é, fica assentado e concordado pelos ditos procuradores de ambas as ditas partes, que dentro dos dez
primeiros meses seguintes, a contar do dia da conclusão deste tratado, hajam os ditos senhores seus cons-
tituintes de enviar duas ou quatro caravelas, isto é, uma ou duas de cada parte, mais ou menos, segundo
acordarem as ditas partes serem necessárias, as quais para o dito tempo se achem juntas na ilha da grande
Canária; e enviem nelas, cada uma das ditas partes, pessoas, tanto pilotos como astrólogos, e marinheiros
e quaisquer outras pessoas que convenham, mas que sejam tantas de uma parte como de outra e que algu-
mas pessoas dos ditos pilotos, e astrólogos, e marinheiros, e pessoas que sejam dos que enviarem os ditos
senhores rei e rainha de Castela, e de Aragão etc., vão no navio ou navios que enviar o dito senhor rei de
Portugal e dos Algarves etc., e da mesma forma algumas das ditas pessoas que enviar o referido senhor rei
de Portugal vão no navio ou navios que mandarem os ditos senhores rei e rainha de Castela, e de Aragão,
tanto de uma parte como de outra, para que juntamente possam melhor ver e reconhecer o mar e os rumos
e ventos e graus de sul e norte, e assinalar as léguas supraditas; tanto que para fazer a demarcação e limites
concorrerão todos juntos os que forem nos ditos navios, que enviarem ambas as ditas partes, e levarem os
seus poderes, que os ditos navios, todos juntamente, constituem seu caminho para as ditas ilhas de Cabo
Verde e daí tomarão sua rota direita ao poente até às ditas trezentas e setenta léguas, medidas pelas ditas
pessoas que assim forem, acordarem que devem ser medidas sem prejuízo das ditas partes e ali onde se
acabarem se marque o ponto, e sinal que convenha por graus de sul e de norte, ou por singradura de lé-
guas, ou como melhor puderem concordar: a qual dita raia assinalem desde o dito pólo Ártico ao dito pólo
Antártico, isto é, de norte a sul, como fica dito: e aquilo que demarcarem o escrevam e firmem como os
próprios as ditas pessoas que assim forem enviadas por ambas as ditas partes, as quais hão de levar facul-
dades e poderes das respectivas partes, cada um da sua, para fazer o referido sinal e delimitação feita por
eles, estando todos conformes, que seja tida por sinal e limitação perpetuamente para todo o sempre para
que nem as ditas partes, nem algumas delas, nem seus sucessores jamais a possam contradizer, nem tirá-
la, nem removê-la em tempo algum, por qualquer maneira que seja possível ou que possível possa ser. E
se por acaso acontecer que a dita raia e limite de pólo a pólo, como está declarado, topar em alguma ilha 31
ou terra firme, que no começo de tal ilha ou terra que assim for encontrada onde tocar a dita linha se faça
alguma marca ou torre: e que a direito do dito sinal ou torre se sigam daí para diante outros sinais pela tal
ilha ou terra na direção da citada raia os quais partam o que a cada umas das partes pertencer dela e que os
súditos das ditas partes não ousem passar uns à porção dos outros, nem estes à daqueles, passando o dito
sinal ou limite na tal ilha e terra.

Item: porquanto para irem os ditos navios dos ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão, de Ara-
gão etc., dos reinos e senhorios até sua dita porção além da dita raia, na maneira que ficou dito, é forçoso
que tenham de passar pelos mares desta banda da raia que fica para o dito senhor rei de Portugal, fica por
isso concordado e assentado que os ditos navios dos ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão, de
Aragão etc., possam ir e vir e vão e venham livre, segura e pacificamente sem contratempo algum pelos
ditos mares que ficam para o dito senhor rei de Portugal, dentro da dita raia em todo o tempo e cada vez e
quando suas altezas e seus sucessores quiserem, e por bem tiverem, os quais vão por seus caminhos direitos
e rotas, desde seus reinos para qualquer parte do que esteja dentro da raia e limite, onde quiserem enviar
para descobrir, e conquistar e contratar, e que sigam seus caminhos direito por onde eles acordarem de ir
para qualquer ponto da sua dita parte, e daqueles não se possam apartar, salvo se o tempo adverso os fizer
afastar, contanto que não tomem nem ocupem, antes de passar a dita raia, coisa alguma do que for achado
pelo dito senhor rei de Portugal na sua dita porção e que, se alguma coisa acharem os seus ditos navios
antes de passarem a dita raia, conforme está dito, que isso seja para o dito senhor rei de Portugal, e suas
altezas o hajam de mandar logo dar e entregar. E porque poderia suceder que os navios e gentes dos ditos
senhores rei e rainha de Castela, de Leão etc., ou por sua parte, terão achado até aos vinte dias deste mês
de junho em que estamos da conclusão deste tratado, algumas ilhas e terra firme dentro da dita raia, que
se há de traçar de pólo a pólo por linha reta ao final das ditas trezentas e setenta léguas contadas desde as
ditas ilhas de Cabo Verde para o poente, como dito está, fica acordado e assentado, para desfazer qualquer
dúvida, que todas as ilhas e terra firme, que forem achadas e descobertas de qualquer maneira até aos ditos
vinte dias deste dito mês de junho, ainda que sejam encontradas por navios e gentes dos ditos senhores rei e
rainha de Castela, de Leão, de Aragão etc., contanto que estejam dentro das primeiras duzentas e cinquenta
léguas das ditas trezentas e setenta léguas, contadas desde as ditas ilhas de Cabo Verde ao poente em dire-
ção à dita raia, em qualquer parte delas para os ditos pólos, que forem achadas dentro das ditas duzentas e
cinquenta léguas, traçando-se uma raia, ou linha reta de pólo a pólo, onde se acabarem as ditas duzentas e
cinquenta léguas, seja e fique para o dito senhor rei de Portugal e dos Algarves etc., e para os seus suces-
sores e reinos para sempre, e que todas as ilhas e terra firme, que até os ditos vinte dias deste mês de junho
em que estamos, forem encontradas e descobertas por navios dos ditos senhores rei e rainha de Castela, e
de Aragão etc., e por suas gentes ou de outra qualquer maneira dentro das outras cento e vinte léguas que
ficam para complemento das ditas trezentas e setenta léguas, em que há de acabar a dita raia, que se há de
traçar de pólo a pólo, como ficou dito, em qualquer parte das ditas cento e vinte léguas para os ditos pólos,
que sejam achadas até o dito dia, sejam e fiquem para os ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão, de
Aragão etc., e para os seus sucessores e seus reinos para todo sempre, conforme é e há de ser seu tudo o que
descobrirem além da dita raia das ditas trezentas e setenta léguas, que ficam para suas altezas, como ficou
dito, ainda que as indicadas cento e vinte léguas estejam dentro da dita raia das ditas trezentas e setenta
léguas, que ficam para o dito senhor rei de Portugal e dos Algarves etc., como dito está.

E se até os ditos vinte dias deste dito mês de junho não for encontrada pelos ditos navios de suas altezas
coisa alguma dentro das ditas cento e vinte léguas, e dali para diante o acharem, que seja para o dito senhor
rei de Portugal, como no supra capítulo escrito está contido. E que tudo o que ficou dito e cada coisa e parte
dele, os ditos d. Henrique Henriques, mordomo-mor, e d. Gutierre de Cárdenas, contador-mor, e do doutor
Rodrigo Maldonado, procuradores dos ditos mui altos e mui poderosos príncipes senhores o rei e a rainha
de Castela, de Leão, de Aragão, da Sicília, de Granada etc., e em virtude dos seus ditos poderes que vão
incorporados, e os ditos Rui de Sousa, e d. João de Sousa, seu filho e Arias de Almadana, procuradores e
embaixadores do dito mui alto e mui excelente príncipe o senhor rei de Portugal e dos Algarves,d’Aquém
e d’Além em África e senhor de Guiné, e em virtude dos seus ditos poderes que vão supra-incorporados,
prometerem e assegurarem em nome dos seus ditos constituintes, que eles e seus sucessores e reinos, e
senhorios, para todo o sempre, terão, guardarão e cumprirão realmente, e com efeito, livre de toda fraude
e penhor, engano, ficção e simulação, todo o contido nesta capitulação, e cada uma coisa, e parte dele,
quiseram e outorgaram que todo o contido neste convênio e cada uma coisa, e parte disso será guardada e
cumprida e executada como se há de guardar, cumprir e executar todo o contido na capitulação das pazes
32 feitas e assentadas entre os ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão etc., e o senhor d.
Afonso rei de Portugal, que em santa glória esteja, e o dito senhor rei que agora é de Portugal, seu filho,
sendo príncipe o ano que passou de mil quatrocentos e setenta e nove anos, e sob aquelas mesmas penas,
vínculos, seguranças e obrigações, segundo e de maneira que na dita capitulação das ditas pazes está con-
tida. E se obrigaram a que nem as ditas pazes, nem algumas delas, nem seus sucessores para todo o sempre
irão mais nem se voltarão contra o que acima está dito e especificado, nem contra coisa alguma nem parte
disso direta nem indiretamente, nem por outra maneira alguma, em tempo algum, nem por maneira alguma
pensada ou não pensada que seja ou possa ser, sob as penas contidas na dita capitulação das ditas pazes, e
a pena cumprida ou não cumprida ou graciosamente remida; que esta obrigação, e capitulação, e assento,
deixe e fique firme, estável e válida para todo o sempre, para assim terem, e guardarem, e cumprirem, e pa-
garem em tudo o supradito aos ditos procuradores em nome dos seus ditos constituintes, obrigaram os bens
cada um de sua dita parte, móveis, e de raiz, patrimoniais e fiscais e de seus súditos e vassalos havidos e por
haver, e renunciar a quaisquer leis e direitos de que se possam valer as ditas partes e cada uma delas para ir
e vir contra o supradito, e cada uma coisa, e parte disso realmente, e com efeito, livre toda a fraude, penhor,
e engano, ficção e simulação, e não o contradirão em tempo algum, nem por alguma maneira sob a qual o
dito juramento juraram não pedir absolvição nem relaxamento disso ao nosso santíssimo padre, nem a outro
qualquer legado ou prelado que a possa dar, e ainda que de motu proprio a dêem não usarão dela, antes por
esta presente capitulação suplicam no dito nome ao nosso santíssimo padre que haja sua santidade por bem
confiar e aprovar esta dita capitulação, conforme nela se contém, e mandando expedir sobre isto suas bulas
às partes, ou a quaisquer delas, que as pedir e mandam incorporar nelas o teor desta capitulação, pondo suas
censuras aos que contra ela forem ou procederem em qualquer tempo que seja ou possa ser.

E assim mesmo os ditos procuradores no dito nome se obrigaram sob a dita pena e juramento, dentro
dos cem primeiros dias seguintes, contados desde o dia da conclusão deste tratado, darão uma parte a esta
primeira aprovação, e ratificação desta dita capitulação, escritas em pergaminho, e firmadas nos nomes
dos ditos senhores seus constituintes, e seladas, com os seus selos de cunho pendentes; e na escritura que
tiverem de dar os ditos senhores rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão etc., tenha de firmar e con-
sentir e autorizar o mui esclarecido e ilustríssimo senhor o príncipe d. João seu filho: de tudo o que dito
é, outorgaram duas escrituras de um mesmo teor uma tal qual a outra, as quais firmaram com seus nomes
e as outorgaram perante os secretários e testemunhas abaixo assinadas para cada uma das partes a sua e a
qualquer que se apresentar, vale como se ambas as duas se apresentassem, as quais foram feitas e outorga-
das na dita vila de Tordesillas no dita, mês e ano supraditos. D. Henrique, comendador-mor. Rui de Sousa.
d. João de Sousa. Doutor Rodrigo Maldonado. Licenciado Arias. Testemunhas que foram presentes, que
vieram aqui firmar seus nomes ante os ditos procuradores e embaixadores e outorgar o supradito, e fazer
o dito juramento, o comendador Pedro de Leon, o comendador Fernando de Torres, vizinhos da vila de
Valladolid, o comendador Fernando de Gamarra, comendador de Lagra e Cenate, contínuos da casa dos
ditos rei e rainha nossos senhores, e João Soares de Siqueira e Rui Leme, e Duarte Pacheco, contínuos da
casa do senhor rei de Portugal para isso chamados. E eu, Fernando Dalvares de Toledo, secretário do rei e
da rainha nossos senhores e de seu Conselho, e seu escrivão de Câmara, e notário público em sua corte, e
em todos os seus reinos e senhorios, estive presente a tudo que dito está declarado em um com as ditas tes-
temunhas, e com Estevam Baez secretário do dito senhor rei de Portugal, que pela autoridade que os ditos
rei e a rainha nossos senhores lhe deram para fazer dar sua fé neste auto em seus reinos, que esteve também
presente ao que dito está, e a rogo e outorgamento de todos os procuradores e embaixadores que em minha
presença e na sua aqui firmaram seus nomes, este instrumento público de capitulação fiz escrever, o qual
vai escrito nestas seis folhas de papel de formato inteiro escritas de ambos os lados e mais esta em que vão
os nomes dos supraditos e o meu sinal; e no fim de cada página vai rubricado o sinal do meu nome e o do
dito Estevam Baez, e em fé disso pus aqui este meu sinal, que é tal. Em testemunho de verdade, Fernão
Dalvares. E eu, dito Estevam Baez, que por autoridade que os ditos senhores rei e rainha de Castela, de
Leão etc., me deram para fazer público em todos os seus reinos e senhorios, juntamente com o dito Fernão
Dalvares, a rogo e requerimento dos ditos embaixadores e procuradores a tudo presente estive, e em fé a
certificação disso aqui com o meu público sinal assinei, que é tal.

A qual dita escritura de assento, e capitulação e concórdia supra incorporada, vista e entendida por nós e
pelo dito príncipe d. João, nosso filho, nós a aprovamos, louvamos, e confirmamos, e outorgamos, ratifi-
camos, e prometemos ter, guardar e cumprir todo o supradito nela contido, e cada uma coisa, e parte disso
realmente e com efeito, livre de toda a fraude, cautela e simulação, e de não ir, nem vir contra isso, nem
contra parte disso em tempo algum, nem por alguma maneira, que seja, ou possa ser; e para maior firmeza,
nós, e o dito príncipe d. João nosso filho, juramos por Deus, pela Santa Maria e pelas palavras do Santo 33
Evangelho, onde quer que mais amplamente estejam impressas, e pelo sinal da cruz, na qual corporalmente
colocamos nossas mãos direitas em presença dos ditos Rui de Sousa e d. João de Sousa, e o licenciado
Arias de Almadana, embaixadores e procuradores do dito e sereníssimo rei de Portugal, nosso irmão, de o
assim ter e guardar e cumprir, e a cada uma coisa, e parte do que a nós incumbe realmente, e com efeito,
como está dito, por nós e por nossos herdeiros e sucessores, e pelos nossos ditos reinos e senhorios, e
súditos e naturais deles, sob as penas e obrigações, vínculos e renúncias no dito contrato de capitulação
e concórdia supra-escrito contidas: por certificação e corroboração do qual, firmamos nesta nossa carta
nossos nomes e a mandamos selar com o nosso selo de cunho pendentes em fios de seda em cores. Dada
na vila de Arévalo, aos dois dias do mês de julho, ano do nascimento de nosso senhor Jesus Cristo de mil
quatrocentos e noventa e quatro. Eu, el-rei. Eu, a rainha. Eu, o príncipe. E eu, Fernão Dalvares de Toledo,
secretário d’el-rei e da rainha, nossos senhores, a fiz escrever por sua ordem.
34 UNIDADE IV

CONSOLIDAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO:
A AMÉRICA NO CONTEXTO DA ILUSTRAÇÃO

4.1 - A América Espanhola e o Reformismo dos Bourbons


A atitude cultural na América espanhola não teve do aparelho ideológico eclesiástico nos Estados ibé-
o caráter de repressão, como foi o caso de Portugal ricos é total, mas as formas de manifestação – no que
para com suas colônias. Ao contrário, esta atitude, se refere às políticas de desenvolvimento cultural –
característica do reformismo ilustrado, foi altamente como pudemos observar, são distintas, demonstrando
estimuladora e criativa, tendo no século XVIII seu assim a extrema maleabilidade da Igreja para com as
momento máximo. políticas de Estado. A América espanhola assistiu à
formação de universidades e colégios superiores, o
O objetivo primeiro de tal política era a assimila- que não foi o caso da América portuguesa.
ção cultural por parte dos nativos, num espaço onde
o catolicismo era o alicerce filosófico e espiritual A casa de Bourbon reina na Espanha a partir de
da América espanhola, e onde os membros do clero 1700, e o século XVIII foi o século do reformismo
católico monopolizavam a formação e a educação ilustrado para as duas monarquias ibéricas. No plano
dos nativos. político-econômico, ambas as monarquias procura-
vam resgatar os espaços perdidos através de novas
É interessante observar, neste aspecto específico, a medidas e criar assim, condições para a continuidade
vinculação do clero às políticas de Estado. Como bem do sistema colonial. Nenhuma delas conseguiu êxito
salienta Francisco Falcon em A Época Pombalina, ao e, no século XIX, em conjunturas distintas, assistiram
tratar das relações entre Igreja e Estado, a influência à independência de suas colônias.

4.2 - A América Inglesa: Religião, Sociedade e


Contestação do Domínio Colonial
O primeiro e menor dos dois grupos religiosos, prios grandes poderes de autogoverno. Em 21 de de-
os peregrinos, originou-se de uma pequena congre- zembro de 1620, os peregrinos estabeleceram um as-
gação protestante na região de Scrooby Manor, na sentamento permanente, onde atualmente encontra-se
Inglaterra, de onde os membros partiram rumo aos a cidade de Plymouth.
Países Baixos. Neste espaço também sofreram per-
seguições, motivadas pelo fato de que o governo ne- Um segundo grupo de colonos, o dos Puritanos,
erlandês realizara uma aliança com o Rei James I de estabeleceu a Colônia da Baía de Massachusetts em
Inglaterra. Como resultado, uma parte juntou-se ao 1629. Este grupo buscava reformar a Igreja Anglica-
grupo maior de separatistas que ainda viviam na In- na através da renovação desta igreja no Novo Mun-
glaterra e, juntos, navegaram rumo ao Novo Mundo, do, em uma nova instituição religiosa. Esta primeira
autodenominando-se "peregrinos". expedição contou 400 puritanos. Em dois anos, ou-
tros dois mil puritanos desembarcaram na América.
Este grupo embarcou no Mayflower com o objetivo Sucessivas imigrações ficaram conhecidas como a
de desembarcar no litoral norte da região que era então "Grande Migração". No Novo Mundo, os puritanos
conhecida como Virgínia. Contudo, o Mayflower foi estabeleceram uma sociedade profundamente religio-
obrigado a mudar de curso durante a viagem devido a sa, mas também politicamente inovadora.
uma tempestade. Então eles desembarcaram no atual
Massachusetts, no litoral oeste do Cabo Rod. Antes Acredita-se que os puritanos teriam procurado a
do desembarque, escreveram o Mayflower Compact, América em busca de liberdade religiosa. Acredi-
um documento na qual estes colonos davam a si pró- tavam que o Novo Mundo fosse uma "nação de re-
denção". Contudo, embora os puritanos fugissem da moral de toda a sociedade puritana. O casamento ge-
repressão religiosa inglesa, não pretendiam estabele- ralmente ocorria dentro da localização geográfica da 35
cer tolerância religiosa no Novo Mundo. A sociedade família, dentro de várias gerações diversas "cidades”
ideal dos puritanos era o de "uma nação de santos", ou pareciam mais clãs, compostos por várias grandes fa-
de "uma cidade acima de uma colina", uma sociedade mílias intercasadas. A força da sociedade puritana re-
profundamente religiosa que serviria como exemplo fletia-se em suas instituições – mais especificamente
para a Europa no sentido de estimular a conversão em em suas igrejas, sedes de município e força militante.
massa para o puritanismo. O teólogo Roger Willia- Esperava-se de cada membro participação nestas três
ms, por exemplo, foi para Massachusetts para pregar organizações, visando garantir a segurança moral,
tolerância religiosa, separação da Igreja e Estado, e política e militar de sua comunidade. Embora alguns
uma completa ruptura com a Igreja Anglicana. Por es- caracterizem a força da sociedade puritana como re-
tas ações, Williams foi banido de Massachusetts. Ele pressiva, outros creem que a sociedade puritana é a
saiu de Massachusetts e fundou a Colônia de Rhode base dos valores americanos, em virtude cívica, e uma
Island, que tornar-se-ía um grande centro de conver- base essencial ao desenvolvimento da democracia.
gência para pessoas que buscavam completa tolerân-
cia religiosa, inclusive aqueles que fugiam do purita- Economicamente, os puritanos foram bem-sucedi-
nismo de Massachusetts. Outro exemplo relevante é dos. A economia puritana baseava-se na agricultura
o de Anne Hutchinson, que praticava o antinomianis- de subsistência, através dos esforços de fazendeiros,
mo, no qual as interpretações pessoais das palavras de que cultivavam suficientes colheitas para gerar o ali-
Deus eram iguais. Como Williams, ela acreditava em mento necessário para abastecer a família, além de
tolerância religiosa e liberdade de pensamento. Por um excedente que seria trocado por outros produtos
ações, ela foi obrigada a exilar-se em Rhode Island. que estes fazendeiros não produzissem.

A estrutura política das colônias puritanas era fre- Num outro aspecto, líderes de cidades da Nova In-
quentemente mal entendida. Oficiais eram eleitos glaterra poderiam literalmente alugar famílias pobres
pela comunidade, onde apenas pessoas brancas, do da cidade para qualquer pessoa que podia arcar com os
sexo masculino e pertencentes a uma igreja congre- custos de aluguel e alimentação destas famílias, numa
gacionalista podiam votar. forma barata de mão de obra. Além de se tornar impor-
tante centro agrário, a Nova Inglaterra também se afir-
Socialmente, a sociedade puritana era extremamen- mou como um centro mercantil e fabricador de navios,
te conservadora. Ninguém podia viver sozinho, te- o qual frequentemente servia de centro operacional
mendo que suas tentações levassem a uma corrupção para o comércio realizado entre o Sul e a Europa.

4.3 - O Caribe no Contexto da Explosão Econômica


do Século XVIII
A exploração do Caribe remonta aos conquistadores escravizaram nativos indígenas para trabalhar em mi-
espanhóis do século XVII, que procuravam minas de nas de ouro. No século XVII, um novo conjunto de
ouro. É significativo o texto enviado por Cristovão opressores – os holandeses, os ingleses e franceses –
Colombo à Espanha afirmando que as ilhas eram pro- também intentaram explorar a região. Em meados do
pícias à exploração do açúcar. século XVIII a importação britânica de açúcar tornou
muito mais importante o Caribe como uma colônia.
A dependência agrícola do Caribe está intima- O sistema escravista foi amplamente adotado, o que
mente relacionada com o colonialismo europeu, o permitiu aos colonizadores abundante força de traba-
qual alterou o potencial econômico da região com a lho com pouca preocupação referente à diminuição
introdução de um sistema de plantio. Os espanhóis da demanda de açúcar.
Exercícios de Fixação
36
1 - Explique as principais características do reformismo dos Bourbons e as semelhanças e diferenças, no
contexto ibérico, entre o reformismo cultural espanhol e o português.

2 - Comente sobre a importância do Caribe no contexto econômico do século XVIII.

3 - Explique o surgimento dos “peregrinos” e sua inserção na América inglesa.

4 - Explique a importância dos “puritanos” no contexto da colonização inglesa na América, procurando enfa-
tizar a questão da religiosidade e os embates da mesma com a sociedade que se formava na América.

Leitura Complementar

O MAYFLOWER COMPACT

Em nome de Deus, amém. Nós, cujos nomes estão sob-escrito, os súditos leais de nosso pavor soberano
Senhor, o Rei James, pela graça de Deus, da Grã-Bretanha, França, eo rei da Irlanda, Defensor da Fé, etc.

Tendo realizado, para a glória de Deus, eo avanço da fé cristã e honra de nosso rei e país, uma viagem para
plantar a primeira colônia nas regiões setentrionais da Virgínia, que por estes presentes solene e mutuamente, na
presença de Deus, e um de outro, a aliança e combinar nossos egos juntos em um corpo político civil, para nossa
melhor ordem e preservação ea prossecução dos fins acima referido, e em virtude disto a promulgar, constituem,
e enquadrar tais leis justas e iguais, portarias , atos, constituições e escritórios, de vez em quando, como deve ser
o pensamento mais atender e conveniente para o bem geral da colônia, até que nós prometemos todos devida
submissão e obediência. Em testemunho do que temos adiante subscrito nossos nomes em Cape Cod, o décimo
primeiro de novembro [New Style, 21 de novembro], no ano do reinado de nosso Senhor soberano, o rei James,
da Inglaterra, França e Irlanda, do século XVIII, e da Escócia, o quinquagésimo quarto. Anno Domini. 1620.

SOBRE O CONCEITO DE ILUSTRAÇÃO


por Carlos de Faria Júnior

Ao investirmos no termo ilustração, estamos nos referindo a determinadas disposições mentais assumidas por
diversas sociedades do ocidente europeu e da América numa determinada época, tais como a ideia de progresso
e o primado da razão. Estamos nos referindo também ao direcionamento que cada uma destas sociedades forne-
ce a estas disposições, direcionamento este que irá determinar as diferenças tanto em nível individual quanto co-
letivo. Quando Francisco Falcon utiliza o termo “ilustrações”, não está se referindo a um movimento particular
oriundo de uma determinada sociedade específica, mas em como as características da ilustração são capazes de
tomar rumos distintos e mesmo assim configurar uma atitude de pensamento capaz de configurar um fenômeno
histórico1. Tudo isto possibilitou, por exemplo, a coexistência de verdadeiros dualismos que representavam o
choque entre as novas ideias e o pensamento tradicional: crítica e religião e presença da Igreja, escravidão e tra-
balho assalariado, liberalismo e colonialismo etc. Falcon procura, então, dentro desta diversidade, caracterizar o
fato de que em determinadas sociedades a ilustração teria um estabelecimento mais pleno do que em outras, ou
menos adaptados às realidades específicas e à presença forte de um intenso tradicionalismo.

Fonte: FARIA JUNIOR, Carlos de. O Pensamento Econômico de José da Silva Lisboa, Visconde de Cairú. Tese de Doutorado. São Paulo,
Universidade de São Paulo, 2008.

1
FALCON, Francisco José Calazans, A Época Pombalina: política econômica e monarquia ilustrada. São Paulo: Ática,
1982, p. 96: “Agora (...), prestando menos atenção ao discurso ilustrado sobre essa Europa aparentemente una, é possível
perceber que se trata, na realidade, de pelo menos duas Europas: uma central, cujo pólo principal, embora não exclusivo, é
Paris, e outra periférica, abrangendo a orla meridional e oriental do continente (...). Uma é o centro originário de irradiação
da ilustração enquanto movimento de transformação cultural e mental; a outra é o imenso território pelo qual se deu a sua
propagação e o seu desenvolvimento defasado, lento e limitado”.
37

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Glossário
38
Chapetones: espanhóis que habitam a América; têm em mãos os altos cargos públicos e dominam a política.
Colônia: chama-se colónia a um território ocupado e administrado por um grupo de indivíduos com poder
militar, ou por representantes do governo de um país a que esse território não pertencia (metrópole), contra a
vontade dos seus habitantes, os quais muitas vezes são desapropriados de parte dos seus bens e dos direitos
políticos. As terras colonizadas podem, também, estar desabitadas e povoadas pelo colonizador, como foi o
caso de Cabo Verde, de Barbados e de outras ilhas do Caribe.
Criollos: filhos de espanhóis nascidos na América, que cuidavam da economia (terras e minas) e ocupavam os
baixos cargos públicos da administração local, os cabildos;
Cuzco: capital e sede de governo do Reino dos incas e seguiu sendo ao iniciar-se a época imperial, tornando-se
a cidade mais importante dos Andes.
Encomienda: sistema no qual os europeus adquiriam índios nas tribos para recrutá-los ao trabalho, oferecendo
em troca a suposta garantia de sua subsistência e o comprometimento com a catequese. Contudo, não raramente
submetia-o ao trabalho compulsório nas minas. O recrutamento por meio da encomenda serviu de recurso aces-
sório às necessidades de mão de obra não satisfeitas no sistema de Mita. Como cota de mão de obra, dever-se-ia
dar uma quantidade de produto estipulada dentro de um maior prazo de entrega – em relação à mita.
Escravidão: ou escravismo, configura-se na prática social em que um ser humano considera possuir direitos de
propriedade sobre outro legalmente designado por escravo, o qual, por sua vez, não possui legalmente proprie-
dade sobre si mesmo. Dentro desta perpectiva, o escravo pode – de acordo com a sociedade que adota o sistema
escravista – ser definido também como mercadoria e/ou coisa; de qualquer forma, sempre pode ser comercializa-
do. Do ponto de vista humanitário, a escravidão pode ser entendida como a pior forma de degradação do ser hu-
mano, considerando-se não haver nada mais degradante do que não se possuir a propriedade sobre sí próprio.

OBSERVAÇÃO
Nas civilizações pré-colombianas os escravos não eram obrigados a permanecer nesta condição por toda a
vida, ou seja, havia a possibilidade de mobilidade social; Nestas sociedades, como também no mundo antigo,
muitos indivíduos tornavam-se escravos por endividamento e permaneciam nesta condição até quitarem dí-
vidas que não podiam pagar. Diversos foram empregados na agricultura e no exército. Entre os incas, havia o
caso de escravos que recebiam uma propriedade rural onde poderiam plantar para a subsistência, reservando
ao imperador uma parcela da produção – o mesmo acontecia com os cidadãos livres, só que a parcela destinada
ao imperador por parte dos escravos era maior.

Etnocentrismo: conceito antropológico segundo o qual a avaliação que um indivíduo ou grupo de indivíduos faz
de um grupo social diferente do seu é apenas baseada nos valores do primeiro, para o qual as referências e padrões
adotados são considerados, dentro de uma hierarquia sociocultural, superiores. Trata-se de uma abordagem pre-
conceituosa, produzida a partir de um ponto de vista parcial e específico. Em tal posicionamento, um grupo étnico
identifica-se como superior aos demais. Do ponto de vista intelectual, pode ser percebido como a dificuldade de
pensar a diferença e de compreender outras culturas à partir dos valores destas respectivas culturas.
Francisco Pizarro González: conquistador e explorador espanhol. Entrou para a história como o “conquista-
dor do Peru”, tendo o exército espanhol, sob seu comando, subjugado o Império Inca.
Huacas: lugares sagrados dos Incas, espalhados por todo o império. Huacas eram também entidades divinas que
habitavam objetos naturais como montanhas, rochas e riachos. Os líderes espirituais de uma comunidade faziam
cerimônias e oferendas para se comunicarem com um huaca, geralmente para pedir conselho ou ajuda.
Indígena: aqueles que viviam numa área geográfica antes da sua colonização por outro povo ou que, após a
colonização, não se identificam com o povo que os coloniza.
Mestiços: Considerados bastardos, elementos nascidos da miscigenação racial entre o europeu e outras raças –
nativos ou africanos. É o elo entre os chapetones e os índios, o elemento intermediário; muito comum serem
os assalariados dos espanhóis, que recrutavam índios para a Mita.
Mita (Peru) ou Cuatequil (México): sistema que teve origem na prática de Incas e Astecas de escravizar outras
tribos de índios, forçando-os a trabalhar e pagar impostos. É uma criação americana e o predomínio deste tipo de
trabalho foi na mineração. Baseava-se no sorteio de tribos para retirar os trabalhadores, que trabalhavam de 4 a 6
meses, nos quais geralmente morriam ou adoeciam. Recebiam um pequeno salário, mas constantemente endivi-
davam-se e, para pagar estas dívidas, alugavam mulheres e filhos e acabavam como semiescravos. Neste sistema
havia uma cota de produção, isto é, uma quantidade de produto estipulada para se retirar em certo tempo.
Mixtecas ou zapotecas: segundo os estudiosos, seu surgimento remonta ao ano 900 a.C., no vale de Oaxaca.
Teriam sido grandes artesãos e construtores, que construiram importantes cidades e câmaras mortuárias. Tam-
bém desenharam e criaram uma preciosa cerâmica e ourivesaria.
Pré-colombiano: período da história anterior à chegada de Cristóvão Colombo na América. Dentro do espaço
exclusivamente cronológico, a referida descoberta não é o marco fixo delimitador deste período, já que vastas 39
extensões de terra e muitas populações só vieram a ser atingidas posteriormente. Assim, a expressão “período
pré-colombiano” pode perfeitamente designar a condição cultural de muitos grupos de habitantes da América,
antes de seu encontro com os europeus.
Quíchua/quechua ou quéchua: importante idioma indígena da América do Sul, ainda hoje falada por aproxi-
madamente dez milhões de pessoas, dentre diversos grupos étnicos pertencentes a várias nações latino-ameri-
canas, como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador e Peru ao longo dos Andes. Possui vários dialetos,
que sãoi inteligíveis entre si. Na Bolívia, no Peru e no Equador, é uma das línduas oficiais.
Sapa Inca: Imperador inca, inka Qhapaq ou “governante dos incas”, em quechua. Trata-se da expressão utilizada
para referir-se aos governantes do Império. É costume também referir-se a eles simplesmente como o Inca.
Comentários das Atividades
40
Unidade I
1 - Indicar as principais características das civilizações Asteca, Maia e Inca, procurando enfatizar a existência
de um Império no caso dos Maias e dos Incas, e a condição de Estados independentes da civilização Maia.

2 - Especificar o caráter violento da colonização espanhola, em seu choque com as culturas nativas da América;
a reação da Igreja e da sociedade na criação do conceito de Leyenda Negra relacionado a aspectos violentos da
colonização espanhola.

3 - Explicar a necessidade de se recriar, na América, espaços ou nichos culturais similares ao contexto europeu,
especificamente o caso Ibérico, bem como as formas como se deu, no continente americano, tal recriação.

4 - Indicar a estigmatização das religiosidades nativas, sobretudo sob a incidência do discurso no conceito de
idolatria, e as formas como os povos americanos reagiram, com a própria religiosidade, ao processo de acultu-
ração implementado pela colonização espanhola.

Unidade II
1 - Definir o conceito de “criollos” em torno da ideia de “filhos e descendentes de espanhóis nascidos na
América” e citar suas qualificações no processo de colonização, sobretudo os cargos administrativos à eles
destinados.

Demonstrar as diferenças entre estes e os nascidos na Espanha, enfatizando também aqui o sistema adminis-
trativo colonial.

2 - Explicar as formas de trabalho enfatizando a MITA e a ENCOMIENDA, sem deixar de lado outras tipolo-
gias de trabalho compulsório empregadas neste processo de colonização.

3 - Explicar, em linhas gerais, as características que definem o sistema de colonização espanhola na América
como de caráter exploratório, enfatizando a dependência da Metrópole e a não existência de um povoamento
de caráter social propriamente dito.

4 - Especificar o caráter exploratório na condição de semelhança e, no caso das diferenças, enfatizar a questão
administrativas, procurando definir os espaços dos criollos – no caso da administração espanhola na América
– e dos Senhores de engenho – no caso da portuguesa – considerando-se estas as classes administrativas locais
mais relevantes dos respectivos sistemas de colonização.

Unidade III
1 - Destacar, no conjunto do processo de colonização inglesa na América, a questão do caráter de povoamento, em
contraponto ao caráter exploratório das colonizações ibéricas, e também relacionar todas estas respectivas condi-
ções de colonização aos sistemas econômicos especificos adotados por cada uma das metrópoles colonizadoras.

2 - Caracterizar as dimensões de exploração e povoamento inerentes ao sistema de colonização francês na


América, bem como as tentativas de romper as demarcações estabelecidas para as sociedades ibéricas no do-
mínio do continente americano pelo tratado de tordesilhas.

3 - Especificando os tipos de trabalho utilizados pelos espanhóis na América, enfatizar as formas de apropria-
ção da população nativa para os mesmos, bem como indicar o trabalho livre – seja na condição do colono ou
do colonizador – e a tipologia de indivíduos articulados a esta forma específica de trabalho.

4 - Explicar as definições de escravidão dos diversos pontos de vista apresentados na unidade – inclusive o humanitário – e
indicar os aspectos relevantes da utilização, pela colonização espanhola, desta forma específica de trabalho compulsório.
Unidade IV
41
1 - Na especificação do reformismo espanhol, explicar sua relação com a Ilustração e suas formas de aplicação
no contexto americano. As diferenças devem se direcionar mais para a preocupação com a relação entre a dinâ-
mica cultural e o processo de aculturação, no caso da América espanhola, que se contrapões à portuguesa pela
anulação, no ambiente colonial, de toda e aualquer possibilidade de desenvolvimento cultural.

2 - Enfatizar, na dinâmica da exploração da região do caribe e de sua população, o papel que esta desenvolveu
sobretudo à partir do século XVII, e especificamente no XVIII, com a decadência da produção de açúcar na
América portuguesa.

3 - Identificar quem são os “Peregrinos”, sua origem e sua fixação na América, bem como sua importância
no contexto da colonização inglesa, procurando enfatizar o caráter de povoamento específico da colonização
inglesa através da criação desta comunidade no espaço americano.

4 - Identificar quem são os “Puritanos”, sua origem e sua fixação na América, bem como sua importância no
contexto da colonização inglesa, procurando enfatizar o caráter de povoamento específico da colonização in-
glesa através da criação desta comunidade no espaço americano. Explicar os embates religiosos internos dos
puritanos em sua fixação na América inglesa e indicar a importância maior, em relação ao grupo da questão
anterior, nos processos de colonização e povoamento da América.
Referências Bibliográficas
42
AQUINO, Rubim Santos Leão de; LEMOS, Nivaldo Freitas de Jesus; LOPES, Oscar Guilherme Pahl Campos.
História das Sociedades Americanas. Rio de Janeiro: Record, 2002.
ARRUDA, José Jobson de Andrade, “Linhagens historiográficas contemporâneas: por uma nova síntese histórica”,
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BETHELL, Leslie. História da América Latina, volume I: América Latina colonial. São Paulo, Edusp, 1998.
______ (org.). História da América Latina: América Latina Colonial. Vol. II. Tradução: Mary Amazonas Leite de
Barros e Magda Lopes. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; Brasília, DF: Fundação Alexandre
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LAS CASAS, Frei Bartolomé de. O Paraíso Destruído: a sangrenta história da conquista da América. Porto Alegre:
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NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial. São Paulo: Hucitec, 1988.
FRAGOSO, João & FLORENTINO, Manolo. O Arcaísmo como Projeto: mercado atlântico, sociedade agrária e
elite mercantil em uma economia colonial tardia, c. 1790- c. 1840. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001.
SCHWARTZ, S. & LOCKHART, J. A América Latina na época colonial. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
SELLERS, et alii. Uma reavaliação da História dos Estados Unidos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1990.
TODOROV, T. A conquista da América. Rio de Janeiro: Martins Fontes, 2000.

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