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Santillana - P10 - Unidade 1 - Solucoes
Santillana - P10 - Unidade 1 - Solucoes
1. Leia a composição lírica de Joam Airas de Santiago que se apresenta. Em caso de necessidade, consulte as
notas.
NOTAS:
(1) Todalas cousas eu vejo partir / do mud’em como soíam seer: vejo todas as coisas do mundo deixar de ser
como costumavam.
(2) partir de fazer / bem: deixar de agradar; deixar de amar.
(3) soíam: costumavam.
(4) tal tempo vos vem: assim vão os tempos!
(5) mais nom se pod’o coraçom partir / do meu amigo de mi querer bem: mas não pode o coração do meu
amigo deixar de me querer bem.
(6) pero que: ainda que.
(7) parte-s’ome: afasta-se o homem.
(8) d’u gran[de] prol tem: de onde tem grande proveito.
(9) o al: o resto; todas as outras coisas.
(10) outra rem: outra coisa.
A. Identifique o género da cantiga trovadoresca, justificando a sua resposta.
Proposta de solução:Estamos perante uma cantiga de amigo, uma vez a composição é de temática amorosa
e o sujeito poético é feminino (referência a «meu amigo» no refrão da cantiga).
B. Esta cantiga evoca o tema da mudança, apresentando-se um contraste entre a mutabilidade do mundo e a
constância do amor do amigo. Comprove a veracidade da afirmação, fundamentando a sua resposta com
transcrições textuais.
Proposta de solução:Nesta cantiga, o sujeito poético reflete sobre o tema da mudança, sendo clara a
oposição entre a instabilidade do mundo e a segurança do amor que existe entre a donzela e o seu amigo:
tudo muda à exceção do amor que ele sente por si. Esta oposição entre o mundo e o seu amado está
presente em toda a cantiga. Nas estrofes, notamos que nos primeiros quatro versos a donzela regista a sua
impressão da mudança no mundo e nos últimos dois versos a donzela afirma, de forma otimista, que o
coração do seu amigo nunca deixa de a amar.
Na estrofe 1, da observação do mundo, conclui a donzela que tudo se modifica sem que nada se mantenha
igual («Todalas cousas eu vejo partir / do mud’em como coíam seer», vv. 1-2) e sem que as pessoas
continuem a amar com constância («vej’as gentes partir de fazer/bem que soíam», vv. 3-4). Esta
instabilidade (no mundo e nas pessoas) espanta-a («tal tempo vos vem!», v. 4). A exceção é o sentimento
que o seu amado sente por ela: ao contrário do mundo e das outras pessoas, o coração (a origem do
sentimento amoroso) do seu amigo não deixa de a amar («mais non se pod’o coraçom partir / do meu amigo
de mi querer bem», vv. 5-6). A oposição é marcada através da conjunção adversativa «mais» («mas»).
Na estrofe 2, o coração dos homens afasta-se «das cousas que ama» (v. 8), «da terra ond’é» (v. 9) e «d’u
grande prol tem» (v. 10) à exceção do coração do amigo que nunca deixa «de mi querer bem» (v. 12). Nesta
estrofe, a antítese é marcada pela locução concessiva «pero que» («ainda que»).
Na última estrofe, note-se a repetição do verso 1 no verso 13 apenas com a mudança do vocábulo «partir»
para o seu sinónimo «mudar», acentuando a ideia de mudança que rodeia o eu, mudança que é global
(«tempos», «o al», «a gente», «ventos» e «tod’outra rem») mas em que não se inclui o coração do seu
amigo, sendo a oposição novamente marcada através da conjunção adversativa «mais» («mas»).
Os últimos dois versos de cada estrofe demonstram o otimismo e a alegria da donzela, expressam uma
confiança no amor fiel do seu amigo.
C. Identifique a figura de estilo presente na última estrofe e comente a sua expressividade.
Proposta de solução:Repetição de formas verbais do verbo mudar (seis ocorrências: «mudar», «mudam-s’»,
«muda-s’») – Anáfora nos versos 14-16. A insistência nesta forma verbal na última estrofe acentua a ideia de
transformação e alteração da ordem que ocorre em todo o mundo que rodeia o sujeito poético: tudo é
transitório e, por esse motivo, é extraordinário que o coração do seu amigo não seja envolvido por toda a
mudança e permaneça fiel ao seu amor.
NOTAS:
(1) que hei alongado: que está longe de mim.
A. Identifique o estado de espírito do sujeito poético, referindo a causa que os origina e fundamentando a
sua resposta com citações do texto.
Proposta de solução:Nesta cantiga, o sujeito poético corresponde a uma donzela que está infeliz («coitada»,
vv. 1 e 5; aquela que sente coita, que está em sofrimento) por dois motivos: sente preocupação («gram
cuidado», v. 1) por estar fisicamente longe do seu amado («que hei alongado», v. 2) e está saudosa («gram
desejo», v. 5) porque o seu amigo se atrasa, impedindo-a de o ver («que tarda e não vejo», v. 6). O motivo da
ausência ou do atraso do amigo seria a sua retenção na Guarda.
B. Considere o refrão e comente a sua expressividade no contexto desta cantiga: «Muito me tarda / o meu
amigo na Guarda!» (vv. 3-4; vv. 7-8)
Proposta de solução:O refrão da cantiga insiste na ideia de afastamento temporal (tardar) e separação física
(na Guarda) entre o sujeito poético (a donzela) e o seu amigo. É esse afastamento que dá origem ao seu
sofrimento. O pronome «me» na expressão «me tarda» (vv. 3-7) indica que a consequência da demora do
amigo recai diretamente sobre a donzela, a afeta a ela diretamente. A demora do amigo não parece ser
normal, pois o advérbio «muito» (vv. 3-7) sugere que o tempo da demora é excessivo.
3. Leia a composição lírica de Pai Soares de Taveirós que se apresenta. Depois, apresente, de forma clara e
bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
NOTAS:
(1) rem: pessoa (o vocábulo rem significa coisa mas nesta cantiga pode adotar-se o significado apresentado).
(2) e quem viu quanto receou/ d’ela,: e quem viu acontecer aquilo que receou acerca dela.
(3) por ém: por isso.
(4) bem fazer: corresponder ao amor.
(5) e de quem lhe fez Deus veer / de que foi morto com pesar: e acerca de quem Deus lhe fez ver alguma
coisa que o fez morrer com desgosto.
(6) ensandeceu: enlouqueceu.
(7) ledo: alegre.
(8) quem a viu levar a quem/ a nom valia: quem a viu ficar com quem a não merecia.
Proposta de solução:Cantiga de amor. O sujeito poético é masculino e dirige-se à sua «senhor», isto é, à
dama que é alvo do seu amor mas que lhe é inacessível. Por não conseguir realizar esse amor, encontra-se
em sofrimento, em pleno processo de «coita» de amor.
B. Esta cantiga evoca o tema da coita de amor, apresentando-se um paralelismo entre alguém que morreu
de amor e a situação em que se encontra o sujeito poético. Explique de que forma este paralelismo estrutura
a cantiga, fundamentando a sua resposta com transcrições textuais.
Proposta de solução:Esta cantiga centra-se na descrição dos efeitos que a coita de amor tem no sujeito
poético, sendo que é feita uma comparação entre o eu do poema e «alguém» (indefinido, não identificado
no poema) que morreu infeliz porque nunca foi correspondido pela mulher que amou. Para além disso, a
amada ter-se-á envolvido com outra pessoa que não a merecia e terá sido isso causou a sua morte. O sujeito
lírico passa por uma situação idêntica e morre pelo mesmo motivo.
A construção comparativa «Como morreu quem […] assi moir’eu» repete-se em todas as estrofes (sendo as
comparações sempre muito semelhantes), mostrando que o sujeito poético coloca o seu sofrimento num
indivíduo indeterminado que morrera como consequência de um amor não correspondido.
Na primeira estrofe, ficamos a saber que esse homem morreu porque nunca foi amado — «nunca
bem/ouve» (vv. 1 e 2) — e porque viu a amada fazer algo de que ele tinha medo — «viu quanto
receou/d’ela» (vv. 3-4). Na segunda estrofe, há uma repetição dos tópicos anteriores: esse homem morreu
porque amou quem nunca o amou — «foi amar/quem lhe nunca quis bem fazer» (vv. 6-7) — e porque Deus
o fez ver algo que o entristeceu — «lhe fez Deus veer / de que foi morto com pesar» (vv. 8-9). Na terceira
estrofe, o sujeito poético lista os traços característicos da coita de amor: enlouqueceu — «ensandeceu» (v.
11) —, perdeu a alegria e o sono — «nom foi ledo nem dormiu» (v. 13) — porque viu algo que o fez sofrer —
«com gram pesar que viu» (v. 12). Na última estrofe, é divulgada a causa concreta da coita de amor: o
indivíduo amou uma dama que nunca o amou (v. 17) e viu-a com alguém que a não merecia (vv. 18-19). E tal
como este indivíduo morreu de amor, também o sujeito poético morre, pelas mesmas razões.
C. Refira-se ao campo semântico (relacionado com a morte e o lamento) e ao refrão da cantiga, explicando
como contribuem para concretizar a noção de coita de amor.
Proposta de solução:A coita de amor consiste no estado de sofrimento amoroso em que se encontra o
sujeito poético cuja paixão é correspondida. A morte e o lamento estão no centro da composição: repetição
das formas verbais «morreu»/«foi morto» (referentes ao sofredor) e «moir’eu» (referente ao sujeito
poético) acentua a tragicidade das consequências do sofrimento amoroso; a repetição do vocábulo «pesar»
(«com pesar»/«gram pesar») e as formulações «quem nunca bem ouve», «quem lhe nunca quis bem fazer»,
«dona que lhe nunca fez bem» realçam a paixão não correspondida e a queixa constante em relação à
amada. O refrão da cantiga, em que se inclui uma apóstrofe à «mia senhor», a interjeição expressiva de dor
«Ai» e o segundo termo da comparação «assi moir’eu» (a morte é um destino fatal), reforça a persistência
com que o eu se lamenta, como se se tratasse de um ser obcecado pela dor que sente, totalmente
consumido pelo sofrimento.
4. Leia a composição lírica de Pero Gomes Barroso (1). Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada,
as suas respostas aos itens que se seguem.
NOTAS:
1) Esta cantiga segue a transcrição feita por Graça Videira Lopes na obra Cantigas de Escárnio e Maldizer dos
Trovadores e Jograis Galego-Portugueses, Lisboa, Editorial Estampa, julho de 2002, p. 422.
(2) de dessoriam: de fraqueza, de esvaziamento (de fome).
(3) ca: que.
(4) gram sabor: ter vontade, ter gosto.
(5) al: outra coisa.
(6) Dom Poço de Baiam: fidalgo português, rico-homem das cortes de D. Sancho I, D. Afonso II e D. Sancho II;
possível referência irónica.
(7) m’est’a mi dirám: me dizem.
(8) end’eu hei: disso tenho eu.
(9) coita: sofrimento; ânsia.
Proposta de solução:Cantiga de escárnio e mal dizer. O sujeito poético satiriza uma situação através do uso
do humor e de trocadilhos linguísticos.
B. Explique de que forma se pode considerar esta cantiga como uma crítica à noção de coita de amor
presente na lírica trovadoresca.
Proposta de solução:Nas cantigas de amor, a coita de amor é uma consequência da paixão e leva a que o
enamorado enlouqueça e morra. Nesta cantiga de escárnio, o sujeito poético afirma que, apesar de não ter
dinheiro para comer e de saber que está fraco por causa disso, os que o rodeiam teimam em atribuir a sua
fraqueza à coita de amor, ou seja, a uma paixão que teria. Desta forma, o trovador ridiculariza os que
atribuem ao seu sofrimento uma causa irreal, distorcendo a realidade: ele não morre de amor, morre de
fome.
É curiosa a utilização que é feita das mesmas expressões que descrevem a coita de amor para se referir à
fome que sente «moir’eu de dessoriam» (v. 1) e «gram coita de comer» (v. 12).
5. Leia a composição lírica de Martim Codax. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Martim Codax, «Eno sagrado, em Vigo», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTAS:
(1) velido: lindo.
(2) no sagrado: no adro da igreja.
(3) delgado: delicado.
(4) ei: tenho.
(5) ouver'amigo: tivera amigo.
(6) ergas: senão.
Proposta de solução:Trata-se de uma cantiga de amigo, pois a composição apresenta uma temática amorosa
e o sujeito poético é feminino (referência ao «amigo»/«amado» nas terceira, quarta, quinta e sexta coblas
da cantiga).
Proposta de solução:A donzela evoca o encontro que teve com o amigo no adro em Vigo.
D. Classifique a cantiga quanto ao subgénero a que pertence, tendo em conta o seu assunto. Comprove com
um verso do texto.
Proposta de solução:É uma cantiga de romaria, uma vez que a situação evocada está centrada num
santuário, que constitui o pretexto para o encontro com o amigo («Eno sagrad'en Vigo», v. 1).
E. Demonstre que, ao longo da cantiga, a ênfase no espaço é seguida de uma ênfase no corpo da donzela e
na ação e, por fim, de uma ênfase no sentimento.
Proposta de solução:Verifica-se uma progressão da ênfase do local para o corpo e ação e para o sentimento
em cada par de coblas: no primeiro par de estrofes, o primeiro verso alude ao espaço («Eno sagrado, em
Vigo,» / «Em Vigo, no sagrado,»); no segundo par, o primeiro verso foca o corpo da donzela e o baile
(«Bailava corpo velido,» / «Bailava corpo delgado,»; no terceiro par, o primeiro verso centra-se no
sentimento («Que nunca ouver'amigoo» / «Que nunca ouver'amado»).
G. Faça a escansão do primeiro verso da cantiga e do verso que constitui o refrão e classifique-os quanto ao
número de sílabas métricas.
Proposta de solução:A cantiga é constituída por um número par de estrofes seguidas de um refrão. As
coblas organizam-se em pares, e em cada par as estrofes repetem, com variações, o sentido, a estrutura da
frase e o léxico: o segundo verso da primeira estrofe é igual ao primeiro verso da terceira estrofe, o segundo
verso da segunda estrofe é igual ao primeiro verso da quarta estrofe, o segundo verso da terceira estrofe é
igual ao primeiro verso da quinta estrofe e o segundo verso da quarta estrofe é igual ao primeiro verso da
sexta estrofe (leixa-pren). A progressão do pensamento ocorre no segundo verso das estrofes ímpares e
culmina na penúltima estrofe.
6. Leia a composição lírica de Pero Gonçalvez de Porto Carreiro. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Pero Gonçalvez de Porto Carreiro, «O anel do meu amigo», in Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira
et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=927&pv=sim, consultado em 10 de abril de 2015.
NOTAS:
(1) sô: sob, debaixo de.
(2) pino: pinheiro.
(3) por en: por isso.
(4) dona virgo: mulher solteira, donzela.
(5) dona d'algo: fidalga.
A. Identifique o sujeito poético desta cantiga e transcreva as expressões com que este se caracteriza.
Proposta de solução:O sujeito poético é a donzela. Esta afirma ser «bela» (refrão), «dona virgo» (v. 8) e
«dona d'algo» (v. 11).
B. A perda do anel originou o estado de sofrimento da donzela. Explicite o significado da perda deste objeto
oferecido pelo amigo, tendo em conta a simbologia do anel.
Proposta de solução:O anel simboliza a união ou o compromisso, um estado de amor e de fidelidade entre a
donzela e o amigo. A perda do anel representa simbolicamente o fim deste estado (uma possível desavença
entre os dois).
C. Explicite o efeito expressivo do cenário natural em que a donzela perde o anel, tendo em conta a situação
evocada e o estado de espírito do sujeito poético.
Proposta de solução:A donzela perde o anel «sô lo verde pino» (v. 2), «sô lo verde ramo» (v. 5), local em que
poderá ter ocorrido a desavença entre os dois. A cor verde alude simbolicamente ao sentimento de
esperança, à juventude e à fertilidade. Por outro lado, o pinheiro é uma árvore de folha persistente. Assim,
este cenário natural contrasta com o fim da união entre a donzela e o amigo e salienta o sofrimento da
donzela, que permanece «bela» (refrão) e pura («dona virgo», v. 8).
Proposta de solução:A expressão «chor'eu» ocorre quatro vezes, em lugar de destaque (no início do verso
que constitui o refrão da cantiga), e surge ainda duas vezes nas duas últimas estrofes.
E. Mostre que há um crescendo nos sentimentos da donzela.
Proposta de solução:A ocorrência da expressão «chor'eu» em dois versos do último par de estrofes, além da
repetição da expressão no refrão, traduz a intensificação do desespero da donzela provocado pela perda do
amigo.
Proposta de solução:A cantiga é constituída por um número par de estrofes seguidas de um refrão. As
coblas organizam-se em pares, e em cada par as estrofes repetem, com variações, o sentido, a estrutura da
frase e o léxico: o segundo verso da primeira estrofe é igual ao primeiro verso da terceira estrofe, e o
segundo verso da segunda estrofe é igual ao primeiro verso da quarta estrofe (leixa-pren). A progressão do
pensamento ocorre no segundo verso das estrofes ímpares.
7. Leia a composição lírica de Martim Codax. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente,
de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Martim Codax, «Ai ondas, que eu vim veer», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTA:
(1) saberedes: sabereis.
B. Explicite o estado de espírito do sujeito poético e o facto que está na sua origem.
Proposta de solução:A donzela sente ansiedade porque o seu amado, que provavelmente terá viajado por
mar, tarda em chegar. (Recorde-se o contexto histórico da situação evocada: a ausência dos homens era
habitual, pois estes partiam para servir o rei e defender a pátria.)
Proposta de solução:A preocupação e a ansiedade da donzela são realçadas pela repetição da pergunta
dirigida às ondas do mar: nos versos «se me saberedes dizer» (v. 2) e «se me saberedes contar» (v. 5) e ainda
no verso que constitui o refrão, «porque tarda meu amigo sem mim?».
Proposta de solução:No primeiro verso existe uma apóstrofe. A jovem dirige-se às ondas do mar e espera
que estas, ao chegarem à costa, tragam notícias do seu amado (há uma personificação das ondas).
E. Identifique o tipo de frase presente nas duas estrofes da cantiga e comente o valor expressivo da sua
utilização.
Proposta de solução:As frases interrogativas expressam a ansiedade em que a jovem se encontra, o seu
estado de alma e o desejo de rever o amado.
F. Atente nas características formais da composição e comente a sua expressividade, tendo em conta a
melancolia que domina o estado de espírito da donzela.
Proposta de solução:O tom melancólico da cantiga é evidenciado pela estrutura paralelística da composição
(repetição e simetria dos versos). A predominância de sons nasais («ondas», «vim», «meu amigo», «sem
mim», ...) reforça o tom melancólico e triste.
G. Classifique a cantiga quanto ao subgénero a que pertence, tendo em conta o seu assunto.
Proposta de solução:É uma barcarola ou marinha, uma vez que a donzela pede às ondas do mar que lhe
tragam notícias do «amigo».
8. Leia a composição lírica de D. Dinis. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente, de
forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
D. Dinis, «Nom chegou, madre, o meu amigo», in Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al.,
Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=590&pv=sim, consultado em 10 de abril de 2015.
NOTAS:
(1) hoj'est' o prazo saído: hoje chegou o dia do encontro.
(2) desmentido: mentiroso.
(3) perjurado: mentiroso.
(4) per si é falido: mentiu porque quis.
(5) a seu grado: por sua vontade.
Proposta de solução:A donzela sofre («ai madre, moiro d'amor!» — refrão) porque o «amigo» faltou ao
encontro que tinham combinado («Nom chegou, madre, o meu amigo, / e hoj'est' o prazo saído», vv. 1-2),
mentiu («por que mentiu o desmentido?», v. 8).
Proposta de solução:Às queixas sobre o atraso do namorado («prazo saído», v. 2; «prazo passado», v. 5),
segue-se a ideia de que o amigo mentiu («desmentido», v. 8; «perjurado», v. 11) e, por fim, a consciência de
que este mentiu porque quis, voluntariamente («mentiu a seu grado», v. 17).
E. Faça a análise formal da cantiga (estrutura, esquema rimático, tipo de rima e métrica).
Proposta de solução:A cantiga é constituída por três pares de dísticos seguidos de um refrão. As estrofes
organizam-se segundo o processo do leixa-pren: o último verso de cada estrofe é retomado no primeiro
verso da estrofe correspondente no par de dísticos seguintes.
A composição apresenta o esquema rimático aab//ccb//aab//ccb//aab//ccb. A rima é emparelhada e
consoante em todas as coblas à exceção da primeira, em que a rima é toante («igo»/«ído»). No refrão há
verso branco.
Os versos das coblas são octossílabos e o do refrão é heptassílabo.
9. Leia a composição lírica de D. Dinis. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente, de
forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Quer'eu em maneira de proençal (1)
fazer agora um cantar d'amor
e querrei (2) muit'i loar (3) mia senhor (4)
a que prez (5) nem fremosura nom fal (6),
nem bondade; e mais vos direi ém (7):
tanto a fez Deus comprida de bem (8)
que mais que todas las do mundo val.
D. Dinis, «Quer'eu em maneira de proençal», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTAS:
(1) em maneira de proençal: à maneira dos poetas provençais.
(2) querrei: quererei.
(3) loar: louvar.
(4) mia senhor: a minha senhora.
(5) a que prez: à qual valor, mérito.
(6) fal: faltam.
(7) ém: a respeito dela.
(8) comprida de bem: cheia de qualidades.
(9) Ca: porque.
(10) quizo: quis.
(11) sabedor de todo bem: conhecedora de todo o bem.
(12) e com tod'est[o]: e não obstante tudo isto.
(13) é mui comunal ali u deve: é muito sociável, quando deve (sê-lo).
(14) er: também.
(15) sém: senso.
(16) e desi: e além disso.
(17) mais: mas.
(18) loor: mérito digno de louvor.
(19) compridamente: cabalmente.
(20) ca nom á, tra-lo seu bem, al: pois ninguém a ultrapassa nas qualidades.
Proposta de solução:Este pretende fazer uma cantiga de amor segundo o modelo provençal («em maneira
de proençal», v. 1): o elogio cortês da «senhor».
B. A composição aponta para um ambiente diferente do ambiente rural, típico das cantigas de amigo.
Transcreva do texto vocábulos e expressões que aludam ao universo característico das cantigas de amor.
Proposta de solução:São, por exemplo: «cantar d'amor» (v. 2), «loar» (v. 3), «mia senhor» (v. 3).
Proposta de solução:Existe, entre ambos, uma relação feudal (senhor/vassalo). A «senhor» é como um
suserano, e o sujeito poético serve-a numa atitude submissa de vassalo.
F. Identifique a palavra que inicia a segunda e a terceira estrofes e explique a sua importância no poema.
Proposta de solução:A conjunção «ca», sobretudo neste lugar de destaque no poema, é importante porque
estabelece uma relação de causalidade com o texto que se segue, introduzindo os argumentos que
comprovam as afirmações que concluem as coblas anteriores: no primeiro caso, a de que a «senhor» aqui
louvada é superior a todas as mulheres do mundo; no segundo caso, a de que Deus não quis que houvesse
outra mulher igualmente perfeita. É este processo argumentativo que permite a progressão do pensamento
na cantiga.
G. Embora esta seja uma cantiga de mestria, há versos que se assemelham a um refrão. Identifique-os,
justificando a sua resposta.
Proposta de solução:Os dois últimos versos de cada cobla equivalem a um refrão, quer porque o seu
conteúdo é quase idêntico, quer porque estes pares de versos concluem as três estrofes.
H. Analise a cantiga do ponto de vista formal (estrutura, esquema rimático, tipo de rima e métrica).
Proposta de solução:Trata-se de uma cantiga de mestria, constituída por três sétimas de versos
decassilábicos. As estrofes seguem o esquema rimático abbacca, portanto com rima emparelhada e rima
interpolada.
10. Leia a composição lírica de D. Dinis. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, apresente, de
forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
Que soidade de mia senhor hei (1)
quando me nembra (2) dela qual a vi
e que me nembra que ben'a oí (3)
falar; e por quanto bem dela sei,
rog'eu a Deus, que end'há (4) o poder,
que mi a leixe (5), se lhi prouguer (6), veer
D. Dinis, «Que soidade de mia senhor hei», in Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas
Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=540&pv=sim, consultado em 10 de abril de 2015.
NOTAS:
(1) hei: tenho.
(2) nembra: lembra.
(3) oí: ouvi.
(4) end'há: disso tem.
(5) leixe: deixe.
(6) prouguer: prouver, agradar.
(7) ca: porque.
(8) ensandecer: enlouquecer.
(9) tod': tudo.
(10) em: disso.
(11) a la minha fé: por Deus.
A. Identifique o tema da cantiga.
Proposta de solução:O eu poético exprime a saudade que sente pela mulher amada («Que soidade de mia
senhor hei», v. 1). Esta saudade é tanta que ele sente que enlouquecerá ou morrerá de amor («se a nom vir,
nom me posso guardar / d'ensandecer ou morrer com pesar», vv. 8-9). Por isso o sujeito poético se dirige a
Deus (no refrão), o responsável pela perfeição da amada, suplicando-lhe que lhe permita vê-la: «ca tal a
quiso Deus fazer, / que, se a nom vir, nom posso viver.» (vv. 19-20).
Proposta de solução:A amada é bela e fala bem («Que soidade de mia senhor hei / quando me nembra dela
qual a vi / e que me nembra que ben'a oí / falar», vv. 1-4). É de tal modo perfeita que o sujeito poético sente
que vai enlouquecer ou morrer de amor («porque ela tod' em poder tem», v. 10). Nenhuma mulher no
mundo se lhe equipara («ca tal a fez Nostro Senhor, / de quantas outras no mundo som / nom lhi fez par»,
vv. 13-15).
Proposta de solução:A amada revela altivez e indiferença em relação ao sujeito poético. Por saber que a
amada é inacessível e que o amor que sente nunca será correspondido, o eu poético sofre de coita de amor.
O sujeito poético presta vassalagem à «senhor», servindo-a com mesura, pois não revela a sua identidade.
E. O refrão é constituído por dois versos, mas a ideia nele contida termina no início da estrofe seguinte
(«Cedo», vv. 7, 13 e 19). Comente o efeito expressivo deste recurso.
Proposta de solução:O amor expresso pelo sujeito poético não é correspondido pela «senhor» e, como tal,
não é concretizado. A mulher amada é idealizada. O sujeito poético sofre de coita de amor.
Proposta de solução:Trata-se de uma cantiga de refrão constituída por três quadras e refrão em dístico, com
finda (dístico final que apresenta a conclusão). Apresenta rima interpolada e rima emparelhada.
11. Leia a composição lírica de D. Afonso Mendes de Besteiros. Em caso de necessidade, consulte as notas.
Depois, apresente, de forma clara e bem estruturada, as suas respostas aos itens que se seguem.
D. Afonso Mendes de Besteiros, «Dom Foão, que eu sei que há preço de livão», in Graça Videira Lopes e
Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos
Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1591, consultado em 10 de
abril de 2015.
NOTAS:
(1) Dom Foão: Dom Fulano.
(2) preço de livão: fama de leviano, cobarde.
(3) daquesto sõo certão: disto estou certo.
(4) sol que viu os genetes: assim que viu os cavaleiros muçulmanos (inimigos).
(5) fer tavão: picado por um moscardo.
(6) al-çou rab'e foi sa via: pôs o rabo entre as pernas e fugiu.
(7) preço de ligeiro: fama de leviano.
(8) tenreiro: novo; alcunha do fidalgo português D. João Pires de Vasconcelos, o Tenreiro.
(9) liveldade: ligeireza.
(10) come cam que sal de grade: como cão que sai da corrente.
A. Identifique o alvo da crítica desta cantiga e explique por que razão o seu comportamento é ridículo.
Proposta de solução:O alvo é D. Foão, ou D. Fulano. Este é cobarde, medroso e leviano; comportou-se com
leviandade e cobardia no campo de batalha, de onde fugiu assim que viu os cavaleiros muçulmanos.
B. D. Foão é comparado a três animais. Identifique estas comparações e comente o seu efeito expressivo.
Proposta de solução:D. Foão é comparado a um boi picado por um moscardo («boi que fer tavão», v. 3), a
um bezerro jovem («come bezerro tenreiro», v. 8) e a um cão que sai da corrente («come cam que sal de
grade», v. 13). Estas comparações tornam mais pitoresco, cómico e ridículo o retrato de D. Foão e realçam a
sua cobardia no campo de batalha.
C. Explicite a crítica moral e de costumes veiculada nesta composição.
Proposta de solução:A cantiga denuncia os nobres que fogem do campo de batalha, revelando um
comportamento irresponsável e sem patriotismo.
D. Repare que, no refrão, a forma verbal «alçou» se encontra partida. Procure explicar esta partição.
Proposta de solução:Trata-se de uma cantiga de escárnio, uma vez que aquele que é alvo de crítica não é
nomeado diretamente. Este é referido com recurso a uma designação genérica — «Dom Foão» — e de
forma indireta, pela sua alcunha — «tenreiro».
F. Faça a análise formal da cantiga, tendo em conta a sua estrutura e o esquema rimático.
Proposta de solução:É uma cantiga de refrão. É composta por três tercetos seguidos de refrão em dístico.
Segue o esquema rimático aaabb / cccbb / dddbb.
12. Considere o excerto seguinte.
«Os poetas conseguem dar com vivacidade os diversos estados da mulher namorada, no decorrer da intriga
sentimental. A saudade, o ciúme, o ressentimento, os amuos, as ansiedades, as desconfianças, a
reivindicação da liberdade de amar perante a intervenção materna, etc., exprimem-se de modo muito vivo.»
António José Saraiva, História da Literatura Portuguesa, 16.ª ed., Porto, Porto Editora (s.d.).
Com base na sua experiência de leitura da poesia trovadoresca, desenvolva uma exposição sobre o
tormento de amor nas cantigas de amigo. Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de cento e
vinte e um máximo de cento e cinquenta palavras.
13. A partir do seguinte texto de António José Saraiva, construa uma síntese bem estruturada do mesmo
texto, com um mínimo de cento e oitenta e um máximo de duzentas e dez palavras.
A poesia de corte compilada no Cancioneiro da Ajuda e nos que se lhe seguem é, naturalmente, muito
diversa da dos cantores rústicos, que correspondem aos gostos e interesses da gente rural, conquanto
fossem também cantados nas vilas e cidades.
Ao contrário da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes, sejam físicos, determinados por
referências ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de personagens interessadas no enredo
amoroso; não se refere à mãe, ao santo da romaria, às ondas do mar ou às árvores em flor. Isto resulta de,
ao contrário da poesia popular, esta não ser dramática. Só duas ou três vezes respigamos alusões ao mundo
ambiente: um poeta admirou uma dama por entre as ameias de um castelo; outro perdeu-se por uma
mulher que viu em cabelo entoando um cantar. Estar «em cabelo», nesta época, era uma antecipação de
estar nua.
Não há espaço à volta nos cantares de amor, se excetuarmos as pastorelas, que imitam de perto as
provençais, mas só a voz que canta na solidão: uma súplica do apaixonado para que a «senhor» reconheça e
premeie o seu «serviço»; ou um elogio abstrato da beleza dela; ou uma descrição dos tormentos do poeta
dirigida à piedade ou «mesura» (1) da «senhor».
O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um «serviço». O cavaleiro «servia» a dama pelo tempo
que fosse necessário para merecer o seu galardão. Consistia esse serviço em dedicar-lhe os pensamentos, os
versos e os atos; em estar presente em certas ocasiões; em não se ausentar sem licença, etc.
O servidor está para com a «senhor» como o vassalo feudal para com o suserano. A regra principal deste
«serviço» era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que ninguém sequer
suspeitasse do nome da sua senhora, indo até ao sacrifício de se privar do seu convívio, ou de se fingir
apaixonado por outra. O disfarce, que consistia em dedicar versos a uma dama para ocultar a verdadeira
amada, era frequente.
Na grande maioria das cantigas de amor, os requerimentos assíduos de «servidor» visam conseguir da
«senhor» uma coisa que se designa pela expressão «fazer bem». É fácil compreender o que significa este
eufemismo: um poeta, referindo-se a uma soldadeira venal (2), conta que ela não lhe quer «fazer bem» sem
que primeiro o pretendente lhe pague um maravedi (3). O rei D. Dinis, tendo conseguido da «senhor» dos
seus cantares de amor que ela fizesse todo o «ben» sem faltar nada, pede-lhe, no fim, segredo mútuo,
porque, diz, se este «preito» (4) for sabido, nem ele nem ela tirarão daí estima nem louvor.
Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante se coloca
em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto quase inacessível; a atitude é a de uma
espécie de ascese abstinente, seja qual for a realidade a que as palavras servem de cortina. A regra do
segredo não é só, porventura, uma precaução exigida por amores clandestinos, numa sociedade em que o
adultério era punido por lei constantemente transgredida, mas uma regra ascética que tornava o amor mais
intenso quanto mais solitário e à margem da sociedade. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por ideal,
secreto, clandestino e impossível.
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva Publicações Lda., s.d. (com
adaptações).
NOTAS:
(1) Mesura: reverência, cortesia.
(2) Soldadeira venal: mulher que atuava nas festas a troco de um pagamento em dinheiro.
(3) Maravedi: moeda antiga.
(4) Preito: pacto.
14. Leia a exposição que se segue subordinada ao tema do comportamento da mulher na Idade Média e
redija a sua síntese, construindo um texto entre cento e quarenta e cento e sessenta palavras.
O casal e a mulher
Muitas vezes estereotipada até ao século XIII, a representação do casal nas suas relações quotidianas
clarifica-se nos séculos xiv e xv, em particular nos textos normativos. As injunções (1) do cavaleiro de La Tour
Landry (2) dirigem-se às mulheres tentadas a não obedecer ao marido, «especialmente diante de terceiros»;
mas, acrescenta ele, «não digo nada, quando estiverdes privadamente face a face podeis bem alargar-vos a
dizer ou a fazer mais a vossa vontade, segundo o que pensardes ser conveniente». Assim se definem um
espaço privado e um tempo do privado em que as relações se tornam mais íntimas e mais livres, como se
diante dos outros habitantes da casa fosse conveniente manter uma fachada de correção e de respeito que
não deve desmentir-se, mas que pode permitir-se a liberdade de uma palavra menos controlada.
Os textos normativos em língua vernácula (3) dão uma boa medida do encerramento do indivíduo no
coletivo, em particular aqueles que, dirigindo-se às mulheres, têm por objetivo a constituição de seres
suscetíveis de cumprir, no seio da comunidade, uma função julgada conveniente. A mulher é assim
convidada a preparar no privado a imagem de si mesma proposta à coletividade e, em particular, a evitar a
intrusão abusiva da sua imagem nos olhares de outrem. Tendo o mau uso do privado (corpo, sono, palavra)
em efeito funesto sobre as engrenagens coletivas, a mulher é uma ferramenta que é necessário preparar
com uma regulamentação cuidadosa.
É assim às mulheres que se dirigem aqueles conselhos que, em Le Chastoiement des dames (4), dizem
respeito às conveniências e atos de sociabilidade, e, através das fronteiras daquilo a que se pode chamar o
privado, a zona de uma certa liberdade que implica sempre o olhar de uma comunidade alargada.
Fragilidade do estatuto feminino: Robert de Blois não hesita em sublinhar que é bem difícil para as mulheres
regularem a sua conduta em sociedade, já que, se se mostram acolhedoras e corteses correm o risco de uma
interpretação abusiva por parte dos homens; se, pelo contrário, faltam aos deveres da cortesia serão
classificadas como orgulhosas. A cada passo é conveniente que a mulher se mostre irrepreensível, que
manifeste constantemente o controlo do seu corpo, porque permanece continuamente exposta aos olhares,
e os olhos — sabe-se — são fonte do mal. Assim, ela deve avaliar as situações onde deve revelar-se, a menos
que tenha alguma fealdade a esconder. Mesmo na igreja ela deve saber revelar-se, ao mesmo tempo que
testemunha uma atitude de piedade: não rir, não falar e, sobretudo e sempre, vigiar a errância do seu olhar.
Georges Duby, História da Vida Privada — da Europa Feudal ao Renascimento, Porto, Círculo de Leitores —
Edições Afrontamento, 1990 (com supressões).
NOTAS:
(1) injunções: imposições; obrigações.
(2) cavaleiro de La Tour Landry: (c. 1320-1391) nobre francês que escreveu um tratado educacional dirigido
às suas filhas.
(3) língua vernácula: línguas nacionais, próprias dos países, que começaram a ser utilizadas em vez do Latim.
(4) Le Chastoiement des Dames: (c. 1260) escrito por Robert de Blois, consiste num longo poema dividido em
vários capítulos sobre a conduta social das damas.
15. Com base na sua experiência de leitura das cantigas de amigo e partindo do excerto seguinte, desenvolva
uma exposição sobre a importância dos elementos simbólicos nas cantigas de amigo, referindo exemplos das
composições poéticas analisadas. Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de oitenta e um
máximo de cento e trinta palavras.
«Ao contrário do poeta da cantiga de amor, cuja relação verbal — monólogo, por vezes diálogo — é
instaurada exclusivamente com a "senhor", a mulher da cantiga de amigo entra direta ou indiretamente em
contacto
não só com o amigo mas também com outras personagens — elementos da natureza (o mar, as árvores, a
fonte, o cervo, o papagaio) ou seres humanos (a mãe, as amigas confidentes) — frequentemente simples
figurantes ou figuras simbólicas privadas de autonomia de ação, mas às vezes verdadeiros e próprios
deuteragonistas (1) que condicionam, positiva ou negativamente, a atitude da protagonista.»
Giulia Lanciani, «Cantiga de amigo», in Giulia Lanciani e Giuseppe Tavani (coord.), Dicionário da Literatura
Medieval Galega e Portuguesa, Lisboa, Caminho, 1993, p. 135 (negrito nosso).
(1) deuteragonista: aquele que representa um papel secundário.
17. Partindo do excerto seguinte, desenvolva uma exposição sobre a poesia satírica trovadoresca e o valor
documental das cantigas de escárnio e maldizer. Construa um texto bem estruturado, com um mínimo de
oitenta e um máximo de cento e trinta palavras.
«Do lirismo mais profundo à sátira mais violenta e desbragada, trovadores e jograis afinam a lira com o
mesmo à vontade, quer se trate de figuras reais, quer de nobres, quer de jograis. A sátira forma um grande
grupo nos nossos cancioneiros, abrangendo as cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer [...].»
Aida Fernanda Dias, História Crítica da Literatura Portuguesa, vol. I, Lisboa, Verbo, 2007, p. 106.
As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular.
Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a
meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nas alvores das nacionalidades
ibéricas, sendo, em grande parte contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás,
numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, que se caracterizava pela
existência de entidades políticas diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta
entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em
língua galego-portuguesa) corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de Portugal, e ao
reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão).
Nas origens da arte trovadoresca galego-portuguesa está, indiscutivelmente, a arte dos trovadores
provençais, movimento artístico nascido no sul de França em inícios do século XII, e que rapidamente se
estende pela Europa cristã. Compondo e cantando já em língua falada (no caso, o occitânico) e não mais em
Latim, os trovadores provençais, através da arte da canso, mas também do fin’amor que lhe está associado,
definiram os modelos e padrões artísticos, mas também genericamente culturais, que se irão tornar
dominantes nas cortes e casas aristocráticas europeias durante os séculos seguintes. Acompanhando, pois,
sem dúvida, um movimento europeu mais vasto de adoção dos modelos occitânicos, a arte trovadoresca
galego-portuguesa assume, no entanto, características muito próprias, como explicitaremos mais abaixo, e
que a distinguem de forma assinalável da sua congénere provençal, desde logo pela criação de um género
próprio, a cantiga de amigo.
No total, e recolhidas em três grandes cancioneiros (o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca
Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana), chegaram até nós cerca de 1680 cantigas profanas ou de
corte, pertencentes a três géneros maiores (cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escárnio e
maldizer), e da autoria de cerca de 187 trovadores e jograis. Da mesma época e ainda em língua galego-
portuguesa, são também as Cantigas de Santa Maria, um vasto conjunto de 420 cantigas religiosas, de
louvor à Virgem e de narração dos seus milagres, atribuíveis a Afonso X. Tendo em comum com as cantigas
profanas a língua e eventualmente espaços semelhantes de produção, as Cantigas de Santa Maria
pertencem, no entanto, a um tradição cultural bem distinta, motivo pelo qual não integram a presente base
de dados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015.
NOTAS:
(1) occitânico: conjunto de línguas faladas no sul de França.
(2) canso: composição poética sobre o amor cortês.
Proposta de solução:Construção de texto que reduza a extensão do texto original, respeitando o limite de
palavras imposto.
19. Construa uma síntese bem estruturada do texto que se segue, com um mínimo de cento e noventa e um
máximo de duzentas e vinte palavras.
O galego-português era a língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica até meados do XIV. Derivado
do latim, surgiu progressivamente como uma língua distinta anteriormente ao século IX, no noroeste
peninsular. Neste sentido, poderemos dizer que, mais do que designar uma língua, a expressão «galego-
português» designa concretamente uma fase dessa evolução, cujo posterior desenvolvimento irá conduzir à
diferenciação entre o galego e o português atuais. Entre os séculos IX e XIV, no entanto, e com algumas
pequenas diferenças entre modos de falar locais, a língua falada ao norte e ao sul do rio Minho era
sensivelmente a mesma. E nem mesmo as fronteiras políticas que por meados do século XII se foram
desenhando, e que conduziram à formação de um reino português independente ao sul, parecem ter
afetado imediatamente esta unidade linguística e cultural, cujas origens remontam à antiga Galiza romano-
gótica. Da mesma forma, a extensão do novo reino português até ao extremo sudoeste da Península (que se
desenrola, até 1250, ainda no movimento da chamada Reconquista cristã), é um processo que pode ser
entendido, nesta primeira fase, como um alargamento natural desse espaço linguístico e cultural único.
Assim, como escreve Carolina Michaëlis de Vasconcelos, comentando este sentido alargado que dá ao termo
«galego-português»: «Tal extensão de sentido justifica-se pela uniformidade da língua desde o extremo da
Galiza até ao extremo do Algarve, apenas com algumas variantes provinciais, dentro de um tipo comum; e
também pela grande semelhança de modos de viver, sentir, pensar, poetar — uniformidade e semelhança
que falam eloquentemente a favor da afinidade primitiva de Lusitanos e Galaicos»[Vasconcelos: 1904, II,
780].
Na verdade, pode dizer-se que, paralelamente à independência do reino de Portugal, é a progressiva e lenta
deslocação do centro político da Hispânia cristã do noroeste galego-leonês para Castela (nomeadamente
após a conquista de Toledo em 1085 e, posteriormente, a conquista de Sevilha em 1248) que conduzirá
gradualmente à rutura desta unidade, ao potenciar o desenvolvimento das duas línguas que mais
imediatamente correspondiam a entidades políticas autónomas, o português e o castelhano. A partir desse
momento, que poderemos situar, de forma genérica, em meados do século XIV, o galego-português deixa de
ser uma designação operacional: de facto, e ao mesmo tempo que a Galiza entra culturalmente no período
que habitualmente se designa por «séculos escuros», com um castelhanismo acelerado das suas elites e sem
verdadeira produção cultural em língua própria, o português assume a sua identidade linguística e cultural
autónoma, partilhando a partir de então com o castelhano (e, até certa altura, com o catalão) o espaço
cultural ibérico.
O período que medeia entre os séculos X e XIV constitui, pois, a época por excelência do galego-português.
É, no entanto, a partir de finais do século XII que a língua falada se afirma e desenvolve como língua literária
por excelência, num processo que se estende até cerca de 1350, e que, muito embora inclua também
manifestações em prosa, alcança a sua mais notável expressão na poesia que um conjunto alargado de
trovadores e jograis, galegos, portugueses, mas também castelhanos e leoneses, nos legou.
Convém, pois, ter presente, que, quando falamos de poesia medieval galego-portuguesa, falamos menos em
termos espaciais do que em termos linguísticos, ou seja, trata-se essencialmente de uma poesia feita em
galego-português por um conjunto de autores ibéricos, num espaço geográfico alargado e que não coincide
exatamente com a área mais restrita onde a língua era efetivamente falada.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
Proposta de solução:Construção de texto que reduza a extensão do texto original, respeitando o limite de
palavras imposto.
20. Construa uma síntese bem estruturada do texto que se segue, com um mínimo de cem e um máximo de
cento e vinte palavras.
As cantigas galego-portuguesas são obra de um conjunto relativamente vasto e diversificado de autores, que
encontram nas cortes régias de Leão, de Castela (ou de Castela-Leão) e de Portugal, mas também
eventualmente nas cortes de alguns grandes senhores, o interesse e o apoio que possibilita a sua arte. Não
se trata, no entanto, de um mero patrocínio externo: na verdade, e de uma forma que não mais terá
paralelo nos séculos posteriores, os grandes senhores medievais ibéricos não se limitam ao mero papel de
protegerem e incentivarem a arte trovadoresca, mas são eles próprios, por vezes, os seus maiores, ou
mesmo mais brilhantes, produtores. Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se
entre os maiores poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que
inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras principais. Ao lado deste
conjunto de senhores, designados especificamente por trovadores, e para quem a arte de trovar era
entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como uma atividade desinteressada, encontramos
um não menos notável conjunto de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao
papel de músicos e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e
para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o
reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito.
Se bem que o percurso de alguns trovadores, até pelo seu estatuto de figuras públicas, seja bem conhecido,
em relação a muitos outros, e também em relação à maioria dos jograis, os dados biográficos de que
dispomos são escassos ou mesmo nulos. Na base de dados o leitor encontrará, no entanto, uma curta
biografia de cada um, com os dados que a investigação conseguiu apurar até ao momento. Caso surjam
novos dados decorrentes dessa investigação, de resto atualmente bastante ativa, eles irão sendo
gradualmente disponibilizados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
Proposta de solução:Construção de texto que reduza a extensão do texto original, respeitando o limite de
palavras imposto.
21. Construa uma síntese bem estruturada do texto que se segue, com um mínimo de duzentas e vinte e um
máximo de duzentas e sessenta palavras.
Cantiga ou cantar, implica que o texto poético se cantava. A forma como o texto era publicamente
apresentado, pressupondo uma emissão melódica e uma audiência, tinha consequências quer na conceção
do poema quer na sua receção. A intermediação musical impõe que o texto se desvele e se saboreie pouco a
pouco, a sua continuação reservando uma e outra surpresa, sugerindo uma ou outra associação; e
simultaneamente carrega-o de sinais retóricos e tonalidades afetivas, que preparam, enquadram e
condicionam a reação do ouvinte. A eficácia da atuação trovadoresca dependia, pois, quer da bondade do
casamento entre poesia e música, quer de uma recetividade educada, socialmente diferenciada e
diferenciadora.
A cantiga trovadoresca como um todo dependia, para a sua circulação, sobretudo da memória e do bom
ouvido, quer dos autores quer dos jograis que os serviam e, na invenção, os imitavam. Com a vinda de
França e entronização de D. Afonso III, é provável que se tenha introduzido a ideia de que, em recolhas de
cantigas exemplares, a música, à imagem do texto, podia ser escrita recorrendo a uma notação o mais
moderna possível, permitindo a sua visualização e fácil reprodução. Foi neste espírito que se copiaram as
cantigas de Martim Codax no Pergaminho Vindel (folha volante ou bifólio central de um caderno, encontrada
pelo livreiro madrileno Pedro Vindel em 1913 e posteriormente por ele vendida) e as de Dom Dinis no
Cancioneiro perdido de que sobra somente um fragmento, o Pergaminho Sharrer (nome do seu descobridor,
o académico Harvey Sharrer, que o localizou na Torre do Tombo em 1990). O mesmo deve ter sucedido a
centenas de cantigas; o Cancioneiro da Ajuda foi preparado para receber pautas, mas ficou incompleto, e até
hoje não se encontraram outras fontes medievais.
A redescoberta, no século XIX, da tradição lírica galego-portuguesa baseou-se, como antes se disse, em
cópias italianas do início do século XVI (Cancioneiros da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Apostólica
Vaticana), que não reproduziram a música presumivelmente preexistente. Só com a edição de fotografias do
Pergaminho Vindel, em 1915, se tornou clara a dimensão da perda. A partir de então, o crescendo
nacionalista em Portugal, primeiro em plena época republicana, depois durante o Estado Novo, levou à
revalorização da herança literária mais antiga, que habitualmente se apresentava misturando trovadores
medievais com autores quatrocentistas recolhidos no Cancioneiro de Resende e até com a obra lírica de
Camões. Este interesse levou vários compositores (Tomás Borba, Ruy Coelho, Frederico de Freitas, Cláudio
Carneyro, Croner de Vasconcelos, Filipe Pires, Victor Macedo Pinto, ...) a propor novas versões musicais de
textos galego-portugueses medievais [...].
A partir da década de 1950, o declínio da motivação nacionalista em Portugal deixou o campo livre para a
afirmação, em diálogo com os autores medievais, de poéticas sonoras individuais (Lopes-Graça, ou, mais
recentemente, Eurico Carrapatoso, entre outros), enquanto as edições de Rodrigues Lapa e as
modernizações textuais de Natália Correia abriam espaço para a composição de versões em idiomas
musicais mais populares (como as protagonizadas por Amália, Zeca Afonso e José Mário Branco). Entretanto,
o desenvolvimento da musicologia aplicada às fontes mais antigas e a gradual emergência de um movimento
de interpretação de música medieval com instrumentos antigos fizeram surgir quer propostas de
reconstrução musical de cantigas profanas a partir da reutilização de melodias medievais de outra
proveniência (contrafacta) quer múltiplas gravações tentando recriar um ambiente sonoro trovadoresco, a
partir das melodias originais, de contrafacta ou de recriações «ao estilo medieval». A par destes
desenvolvimentos, o moderno nacionalismo galego apropriou-se, por sua vez, da tradição lírica do século
XIII, produzindo a partir dela múltiplas expressões musicais, de caráter mais historicista, mais erudito, ou
mais popular (Amancio Prada, Uxía, Xurxo Romani). Este complexo panorama está a partir de agora refletido
na riqueza e variedade dos conteúdos musicais que aqui acolhemos e divulgamos, e que estão abertos a
novas atualizações.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
Proposta de solução:Construção de texto que reduza a extensão do texto original, respeitando o limite de
palavras imposto.
Na batalha de Uclés (1108), em que foi derrotado pelos mouros Afonso VI, o conquistador de Toledo, rei de
Leão e Castela, perdeu um filho querido. A crónica latina em que é narrado este acontecimento interrompe o
texto latino para reproduzir a lamentação do rei na sua própria língua materna: «Ay meu fillo! Ay meu fillo,
alegria do meu coraçon e lume de meus ollos, solaz de mia velhece! Ay meu espello en que me soía veer e
com que tomaba gran prazer! Ay meu herdeiro mor. Cavaleiros u me lo leixastes? Dade-me o meu filho,
Condes!»
Qualquer leitor entende que o rei de Leão e Castela se estava queixando em galego, que era a sua língua
afetiva, a sua língua de criação. Este rei era avô de Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.
O galego falava-se nas montanhas do Noroeste da Península e também na capital do reino leonês. No outro
lado da cordilheira cantábrica, a oriente, nas proximidades do país basco, estava-se formando outro dialeto,
o castelhano. Entre um e outro havia falares de transição.
O galego-português e o castelhano nasceram, portanto, como dois dialetos da mesma língua neolatina e
foram-se diversificando ao longo do tempo. À medida que se foram estendendo para sul, foram sofrendo a
influência dos falares moçárabes (que eram também românicos). Ainda hoje um fundo primitivo distingue o
português e o castelhano das restantes línguas românicas: o mesmo vocabulário essencial, formas
gramaticais análogas, o mesmo sistema de conjugações verbais. É de assinalar que o português-galego e o
castelhano se contam entre as raras línguas românicas (e entre várias indo-europeias) que têm dois
vocábulos diferentes para os dois conceitos de ser e estar (confundidos na única palavra ser em catalão,
francês, inglês, alemão, etc.).
As principais diferenças entre o português e o castelhano estão na entoação, articulação e ritmo, o que
sugere que na sua origem estão diferentes substratos, isto é, diferentes populações pré-romanas, que
pronunciavam diferentemente o mesmo latim.
De qualquer modo, como o mostra a lamentação citada de D. Afonso VI, quando se formou o reino de
Portugal, já o Noroeste da Península constituía um espaço linguístico, o domínio do galego-português como
língua materna. Como língua oficial ainda se usava uma espécie de latim, que já pouco tinha a ver com o
latim clássico. Os reis de Portugal, Afonso Henriques, Sancho I, Afonso III , escrevem (eles ou os seus
escribas) os seus testamentos em latim. Mas já antes deste último, Afonso II , neto de Afonso Henriques,
deixou um testamento em português, datado de 1214, que é um dos primeiros documentos escritos na
nossa língua.
António José Saraiva, Iniciação na Literatura Portuguesa, Lisboa, Gradiva Publicações Lda., s.d. (com
supressões).
«É de assinalar que o português-galego e o castelhano se contam entre as raras línguas românicas que têm
dois vocábulos diferentes para os dois conceitos de ser e estar […]» (linhas 16-18)
A poesia de corte compilada no Cancioneiro da Ajuda e nos que se lhe seguem é, naturalmente, muito
diversa da dos cantores rústicos, que correspondem aos gostos e interesses da gente rural, conquanto
fossem também cantados nas vilas e cidades.
Ao contrário da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes, sejam físicos, determinados por
referências ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de personagens interessadas no enredo
amoroso; não se refere à mãe, ao santo da romaria, às ondas do mar ou às árvores em flor. Isto resulta de,
ao contrário da poesia popular, esta não ser dramática. Só duas ou três vezes respigamos alusões ao mundo
ambiente: um poeta admirou uma dama por entre as ameias de um castelo; outro perdeu-se por uma
mulher que viu em cabelo entoando um cantar. Estar «em cabelo», nesta época, era uma antecipação de
estar nua.
Não há espaço à volta nos cantares de amor, se excetuarmos as pastorelas, que imitam de perto as
provençais, mas só a voz que canta na solidão: uma súplica do apaixonado para que a «senhor» reconheça e
premeie o seu «serviço»; ou um elogio abstrato da beleza dela; ou uma descrição dos tormentos do poeta
dirigida à piedade ou «mesura» (1) da «senhor».
O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um «serviço». O cavaleiro «servia» a dama pelo tempo
que fosse necessário para merecer o seu galardão. Consistia esse serviço em dedicar-lhe os pensamentos, os
versos e os atos; em estar presente em certas ocasiões; em não se ausentar sem licença, etc.
O servidor está para com a «senhor» como o vassalo feudal para com o suserano. A regra principal deste
«serviço» era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que ninguém sequer
suspeitasse do nome da sua senhora, indo até ao sacrifício de se privar do seu convívio, ou de se fingir
apaixonado por outra. O disfarce, que consistia em dedicar versos a uma dama para ocultar a verdadeira
amada, era frequente.
Na grande maioria das cantigas de amor, os requerimentos assíduos de «servidor» visam conseguir da
«senhor» uma coisa que se designa pela expressão «fazer bem». É fácil compreender o que significa este
eufemismo: um poeta, referindo-se a uma soldadeira venal (2), conta que ela não lhe quer «fazer bem» sem
que primeiro o pretendente lhe pague um maravedi (3). O rei D. Dinis, tendo conseguido da «senhor» dos
seus cantares de amor que ela fizesse todo o «ben» sem faltar nada, pede-lhe, no fim, segredo mútuo,
porque, diz, se este «preito» (4) for sabido, nem ele nem ela tirarão daí estima nem louvor.
Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante se coloca
em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto quase inacessível; a atitude é a de uma
espécie de ascese abstinente, seja qual for a realidade a que as palavras servem de cortina. A regra do
segredo não é só, porventura, uma precaução exigida por amores clandestinos, numa sociedade em que o
adultério era punido por lei constantemente transgredida, mas uma regra ascética que tornava o amor mais
intenso quanto mais solitário e à margem da sociedade. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por ideal,
secreto, clandestino e impossível.
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva Publicações Lda., s.d. (com
adaptações).
NOTAS:
(1) Mesura: reverência, cortesia.
(2) Soldadeira venal: mulher que atuava nas festas a troco de um pagamento em dinheiro.
(3) Maravedi: moeda antiga.
(4) Preito: pacto.
B. Identifique os processos fonológicos envolvidos na evolução dos seguintes termos do latim para o
português contemporâneo.
As cantigas trovadorescas galego-portuguesas são um dos patrimónios mais ricos da Idade Média peninsular.
Produzidas durante o período, de cerca de 150 anos, que vai, genericamente, de finais do século XII a
meados do século XIV, as cantigas medievais situam-se, historicamente, nos alvores das nacionalidades
ibéricas, sendo, em grande parte contemporâneas da chamada Reconquista cristã, que nelas deixa, aliás,
numerosas marcas. Tendo em conta a geografia política peninsular da época, que se caracterizava pela
existência de entidades políticas diversas, muitas vezes com fronteiras voláteis e frequentemente em luta
entre si, a área geográfica e cultural onde se desenvolve a arte trovadoresca galego-portuguesa (ou seja, em
língua galego-portuguesa) corresponde, latamente, aos reinos de Leão e Galiza, ao reino de Portugal, e ao
reino de Castela (a partir de 1230 unificado com Leão).
Nas origens da arte trovadoresca galego-portuguesa está, indiscutivelmente, a arte dos trovadores
provençais, movimento artístico nascido no sul de França em inícios do século XII, e que rapidamente se
estende pela Europa cristã. Compondo e cantando já em língua falada (no caso, o occitânico) e não mais em
latim, os trovadores provençais, através da arte da canso, mas também do fin’amor que lhe está associado,
definiram os modelos e padrões artísticos, mas também genericamente culturais, que se irão tornar
dominantes nas cortes e casas aristocráticas europeias durante os séculos seguintes. Acompanhando, pois,
sem dúvida, um movimento europeu mais vasto de adoção dos modelos occitânicos, a arte trovadoresca
galego-portuguesa assume, no entanto, características muito próprias, como explicitaremos mais abaixo, e
que a distinguem de forma assinalável da sua congénere provençal, desde logo pela criação de um género
próprio, a cantiga de amigo.
No total, e recolhidas em três grandes cancioneiros (o Cancioneiro da Ajuda, o Cancioneiro da Biblioteca
Nacional e o Cancioneiro da Biblioteca Vaticana), chegaram até nós cerca de 1680 cantigas profanas ou de
corte, pertencentes a três géneros maiores (cantiga de amor, cantiga de amigo e cantiga de escárnio e
maldizer), e da autoria de cerca de 187 trovadores e jograis. Da mesma época e ainda em língua galego-
portuguesa, são também as Cantigas de Santa Maria, um vasto conjunto de 420 cantigas religiosas, de
louvor à Virgem e de narração dos seus milagres, atribuíveis a Afonso X. Tendo em comum com as cantigas
profanas a língua e eventualmente espaços semelhantes de produção, as Cantigas de Santa Maria
pertencem, no entanto, a um tradição cultural bem distinta, motivo pelo qual não integram a presente base
de dados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015.
a) «que vai, genericamente, de finais do século XII a meados do século XIV» (linhas 2-3)
b) «que nelas deixa, aliás, numerosas marcas» (linhas 4-5)
c) «que se caracterizava pela existência de entidades políticas diversas» (linhas 5-6)
Proposta de solução:a) Oração subordinada adjetiva relativa restritiva. b) Oração subordinada adjetiva
relativa explicativa. c) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa.
C. Classifique a palavra «canso» (linha 13), sabendo que esta já não é usada nos nossos dias.
Martim Codax, «Eno sagrado, em Vigo», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTAS:
(1) velido: lindo.
(2) no sagrado: no adro da igreja.
(3) delgado: delicado.
(4) ei: tenho.
(5) ouver'amigo: tivera amigo.
(6) ergas: senão.
Proposta de solução:São: «Eno» (v. 1); «velido» (v. 2); «ergas» (v. 14).
B. Identifique o processo fonológico que ocorreu na evolução de «eno» (v. 14) para «no».
Proposta de solução:Aférese.
C. Identifique a função sintática desempenhada pelos constituintes destacados.
D. Classifique a oração subordinada presente na passagem seguinte: «que nunca ouver'amigo» (v. 8).
Proposta de solução:a) «bailava» (v. 2) — pretérito imperfeito do indicativo. b) «ei» (v. 3) — presente do
indicativo. c) «ouvera» (v. 8) — presente do indicativo.
NOTAS:
(1) sô: sob, debaixo de.
(2) pino: pinheiro.
(3) por en: por isso.
(4) dona virgo: mulher solteira, donzela.
(5) dona d'algo: fidalga.
B. Identifique os processos fonológicos que ocorreram na evolução seguinte: pinu- > pĩ-o > pinho.
Proposta de solução:Síncope do -n- intervocálico (com nasalização da vogal i) e epêntese de uma consoante
palatal (grafada nh).
Martim Codax, «Ai ondas, que eu vim veer», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTA:
(1) saberedes: sabereis.
a) «ondas» (v. 1)
b) «que eu vim veer» (v. 1)
Proposta de solução:a) Oração subordinada adjetiva relativa explicativa. b) Oração subordinada adverbial
condicional.
D. Dinis, «Quer'eu em maneira de proençal», in A Lírica Galego-Portuguesa, ed. Elsa Gonçalves e Maria Ana
Ramos, 3.ª ed., Lisboa, Ed. Comunicação, 1991.
NOTAS:
(1) em maneira de proençal: à maneira dos poetas provençais.
(2) querrei: quererei.
(3) loar: louvar.
(4) mia senhor: a minha senhora.
(5) a que prez: à qual valor, mérito.
(6) fal: faltam.
(7) ém: a respeito dela.
(8) comprida de bem: cheia de qualidades.
(9) Ca: porque.
(10) quizo: quis.
(11) sabedor de todo bem: conhecedora de todo o bem.
(12) e com tod'est[o]: e não obstante tudo isto.
(13) é mui comunal ali u deve: é muito sociável, quando deve (sê-lo).
(14) er: também.
(15) sém: senso.
(16) e desi: e além disso.
(17) mais: mas.
(18) loor: mérito digno de louvor.
(19) compridamente: cabalmente.
(20) ca nom á, tra-lo seu bem, al: pois ninguém a ultrapassa nas qualidades.
A. Identifique os processos fonológicos que ocorreram nas evoluções seguintes.
Proposta de solução:a) Dissimilação e metátese. b) Epêntese. c) Paragoge de [e]. d) Crase. e) Prótese de [a].
B. Identifique o referente dos pronomes destacados nos versos seguintes: «e desi nom lhi fez pouco de
bem / quando nom quis que lh'outra foss'igual» (vv. 13-14).
D. Dinis, «Que soidade de mia senhor hei», in Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas
Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in
http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=540&pv=sim, consultado em 10 de abril de 2015.
NOTAS:
(1) hei: tenho.
(2) nembra: lembra.
(3) oí: ouvi.
(4) end'há: disso tem.
(5) leixe: deixe.
(6) prouguer: prouver, agradar.
(7) ca: porque.
(8) ensandecer: enlouquecer.
(9) tod': tudo.
(10) em: disso.
(11) a la minha fé: por Deus.
A. Identifique o referente do pronome destacado no segundo verso do refrão: «que mi a leixe, se lhi
prouguer, veer».
«rog'eu a Deus, que end'há o poder, / que mi a leixe, se lhi prouguer, veer» (vv. 5-6).
D. Afonso Mendes de Besteiros, «Dom Foão, que eu sei que há preço de livão», in Graça Videira Lopes e
Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto de Estudos
Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/cantiga.asp?cdcant=1591, consultado em 10 de
abril de 2015.
NOTAS:
(1) Dom Foão: Dom Fulano.
(2) preço de livão: fama de leviano, cobarde.
(3) daquesto sõo certão: disto estou certo.
(4) sol que viu os genetes: assim que viu os cavaleiros (inimigos).
(5) fer tavão: picado por um moscardo.
(6) al-çou rab'e foi sa via: pôs o rabo entre as pernas e fugiu.
(7) preço de ligeiro: fama de leviano.
(8) tenreiro: novo; alcunha do fidalgo português D. João Pires de Vasconcelos, o Tenreiro.
(9) liveldade: ligeireza.
(10) come cam que sal de grade: como cão que sai da corrente.
«Dom Foão, que eu sei que há preço de livão, / vedes que fez ena guerra — daquesto sõo certão» (vv. 1-2).
«vedes que fez ena guerra — daquesto sõo certão» (v. 2).
31. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
As cantigas galego-portuguesas são obra de um conjunto relativamente vasto e diversificado de autores, que
encontram nas cortes régias de Leão, de Castela (ou de Castela-Leão) e de Portugal, mas também
eventualmente nas cortes de alguns grandes senhores, o interesse e o apoio que possibilita a sua arte. Não
se trata, no entanto, de um mero patrocínio externo: na verdade, e de uma forma que não mais terá
paralelo nos séculos posteriores, os grandes senhores medievais ibéricos não se limitam ao mero papel de
protegerem e incentivarem a arte trovadoresca, mas são eles próprios, por vezes, os seus maiores, ou
mesmo mais brilhantes, produtores. Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se
entre os maiores poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que
inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras principais. Ao lado deste
conjunto de senhores, designados especificamente por trovadores, e para quem a arte de trovar era
entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como uma atividade desinteressada, encontramos
um não menos notável conjunto de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao
papel de músicos e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e
para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o
reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito.
Se bem que o percurso de alguns trovadores, até pelo seu estatuto de figuras públicas, seja bem conhecido,
em relação a muitos outros, e também em relação à maioria dos jograis, os dados biográficos de que
dispomos são escassos ou mesmo nulos. Na base de dados o leitor encontrará, no entanto, uma curta
biografia de cada um, com os dados que a investigação conseguiu apurar até ao momento. Caso surjam
novos dados decorrentes dessa investigação, de resto atualmente bastante ativa, eles irão sendo
gradualmente disponibilizados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
B. A expressão «os seus maiores, ou mesmo mais brilhantes, produtores» (linhas 6-7) desempenha a função
sintática de
32. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
Na batalha de Uclés (1108), em que foi derrotado pelos mouros Afonso VI, o conquistador de Toledo, rei de
Leão e Castela, perdeu um filho querido. A crónica latina em que é narrado este acontecimento interrompe o
texto latino para reproduzir a lamentação do rei na sua própria língua materna: «Ay meu fillo! Ay meu fillo,
alegria do meu coraçon e lume de meus ollos, solaz de mia velhece! Ay meu espello en que me soía veer e
com que tomaba gran prazer! Ay meu herdeiro mor. Cavaleiros u me lo leixastes? Dade-me o meu filho,
Condes!»
Qualquer leitor entende que o rei de Leão e Castela se estava queixando em galego, que era a sua língua
afetiva, a sua língua de criação. Este rei era avô de Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal.
O galego falava-se nas montanhas do Noroeste da Península e também na capital do reino leonês. No outro
lado da cordilheira cantábrica, a oriente, nas proximidades do país basco, estava-se formando outro dialeto,
o castelhano. Entre um e outro havia falares de transição.
O galego-português e o castelhano nasceram, portanto, como dois dialetos da mesma língua neolatina e
foram-se diversificando ao longo do tempo. À medida que se foram estendendo para sul, foram sofrendo a
influência dos falares moçárabes (que eram também românicos). Ainda hoje um fundo primitivo distingue o
português e o castelhano das restantes línguas românicas: o mesmo vocabulário essencial, formas
gramaticais análogas, o mesmo sistema de conjugações verbais. É de assinalar que o português-galego e o
castelhano se contam entre as raras línguas românicas (e entre várias indo-europeias) que têm dois
vocábulos diferentes para os dois conceitos de ser e estar (confundidos na única palavra ser em catalão,
francês, inglês, alemão, etc.).
As principais diferenças entre o português e o castelhano estão na entoação, articulação e ritmo, o que
sugere que na sua origem estão diferentes substratos, isto é, diferentes populações pré-romanas, que
pronunciavam diferentemente o mesmo latim.
De qualquer modo, como o mostra a lamentação citada de D. Afonso VI, quando se formou o reino de
Portugal, já o Noroeste da Península constituía um espaço linguístico, o domínio do galego-português como
língua materna. Como língua oficial ainda se usava uma espécie de latim, que já pouco tinha a ver com o
latim clássico. Os reis de Portugal, Afonso Henriques, Sancho I, Afonso III , escrevem (eles ou os seus
escribas) os seus testamentos em latim. Mas já antes deste último, Afonso II , neto de Afonso Henriques,
deixou um testamento em português, datado de 1214, que é um dos primeiros documentos escritos na
nossa língua.
António José Saraiva, Iniciação na Literatura Portuguesa, Lisboa, Gradiva Publicações Lda., s.d. (com
supressões).
A. O excerto apresentado centra-se na aceção de que o galego-português é a língua que
___ - (A) enfatizar a dor que o rei sente por ter perdido o seu herdeiro.
X - (B) comprovar que o galego-português era a língua falada na região da Galiza e no reino de Leão.
___ - (D) mostrar que Afonso VI de Leão e Castela não domina o castelhano.
C. No trecho «Qualquer leitor entende que o rei de Leão e Castela se estava queixando em galego» (linha 7),
enfatiza-se
X - (B) personificação.
X - (D) probabilidade.
X - (D) expositivo.
33. Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, para cada item, selecione a
opção correta.
A poesia de corte compilada no Cancioneiro da Ajuda e nos que se lhe seguem é, naturalmente, muito
diversa da dos cantores rústicos, que correspondem aos gostos e interesses da gente rural, conquanto
fossem também cantados nas vilas e cidades.
Ao contrário da cantiga de amigo, o cantar de amor não sugere ambientes, sejam físicos, determinados por
referências ao mundo exterior, ou sociais, resultantes da presença de personagens interessadas no enredo
amoroso; não se refere à mãe, ao santo da romaria, às ondas do mar ou às árvores em flor. Isto resulta de,
ao contrário da poesia popular, esta não ser dramática. Só duas ou três vezes respigamos alusões ao mundo
ambiente: um poeta admirou uma dama por entre as ameias de um castelo; outro perdeu-se por uma
mulher que viu em cabelo entoando um cantar. Estar «em cabelo», nesta época, era uma antecipação de
estar nua.
Não há espaço à volta nos cantares de amor, se excetuarmos as pastorelas, que imitam de perto as
provençais, mas só a voz que canta na solidão: uma súplica do apaixonado para que a «senhor» reconheça e
premeie o seu «serviço»; ou um elogio abstrato da beleza dela; ou uma descrição dos tormentos do poeta
dirigida à piedade ou «mesura» (1) da «senhor».
O amor era concebido à maneira cavaleiresca, como um «serviço». O cavaleiro «servia» a dama pelo tempo
que fosse necessário para merecer o seu galardão. Consistia esse serviço em dedicar-lhe os pensamentos, os
versos e os atos; em estar presente em certas ocasiões; em não se ausentar sem licença, etc.
O servidor está para com a «senhor» como o vassalo feudal para com o suserano. A regra principal deste
«serviço» era, além da fidelidade, o segredo. O cavaleiro devia fazer os possíveis para que ninguém sequer
suspeitasse do nome da sua senhora, indo até ao sacrifício de se privar do seu convívio, ou de se fingir
apaixonado por outra. O disfarce, que consistia em dedicar versos a uma dama para ocultar a verdadeira
amada, era frequente.
Na grande maioria das cantigas de amor, os requerimentos assíduos de «servidor» visam conseguir da
«senhor» uma coisa que se designa pela expressão «fazer bem». É fácil compreender o que significa este
eufemismo: um poeta, referindo-se a uma soldadeira venal (2), conta que ela não lhe quer «fazer bem» sem
que primeiro o pretendente lhe pague um maravedi (3). O rei D. Dinis, tendo conseguido da «senhor» dos
seus cantares de amor que ela fizesse todo o «ben» sem faltar nada, pede-lhe, no fim, segredo mútuo,
porque, diz, se este «preito» (4) for sabido, nem ele nem ela tirarão daí estima nem louvor.
Mas o que é próprio das cantigas de amor e do seu modelo provençal é a distância a que o amante se coloca
em relação à sua amada, a que chama senhor, tornando-a um objeto quase inacessível; a atitude é a de uma
espécie de ascese abstinente, seja qual for a realidade a que as palavras servem de cortina. A regra do
segredo não é só, porventura, uma precaução exigida por amores clandestinos, numa sociedade em que o
adultério era punido por lei constantemente transgredida, mas uma regra ascética que tornava o amor mais
intenso quanto mais solitário e à margem da sociedade. O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por ideal,
secreto, clandestino e impossível.
António José Saraiva, O Crepúsculo da Idade Média em Portugal, Lisboa, Gradiva Publicações Lda., s.d. (com
adaptações).
NOTAS:
(1) Mesura: reverência, cortesia.
(2) Soldadeira venal: mulher que atuava nas festas a troco de um pagamento em dinheiro.
(3) Maravedi: moeda antiga.
(4) Preito: pacto.
A. O excerto apresentado centra-se na aceção de que o amor cortês é
___ - (A) as cantigas de amor serem sem exceção, reflexões do eu sobre o amor.
___ - (C) as cantigas de amor serem, sem exceção, reflexões do eu sobre a sua «senhor».
C. No trecho «o servidor está para com a “senhor” como o vassalo feudal para com o suserano» (linha 16),
compara-se
___ - (A) o trovador com um cavaleiro que presta um serviço essencial ao seu senhor feudal.
X - (B) a «senhor» amada a um senhor feudal a quem se deve vassalagem e a quem se prestam
serviços.
___ - (C) a «senhor» a uma dama que tem o direito de governar e atribuir sentenças.
___ - (D) o trovador a um vassalo que cumpre as tarefas para ser recompensado.
F. O valor aspetual presente na última frase do texto: «O amor trovadoresco e cavaleiresco é, por ideal,
secreto, clandestino e impossível.»
X - (A) genérico.
X - (D) expositivo.
34. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
A. Ao afirmar «A velha guarda parece estar a tomar conta dos ecrãs» (linha 1), o autor
X - (B) refere-se a realizadores com uma carreira muito longa e que alcançaram o sucesso no passado.
___ - (D) refere-se a realizadores especializados em construir novas versões de filmes antigos.
B. No contexto em que ocorrem, os nomes próprios «Martin Scorcese» e «Roman Polanski» (linhas 1-2)
referem-se
___ - (A) equivale a uma versão do que teria sido a juventude de Robin Hood.
X - (B) equivale a uma versão do que teriam sido as origens da lenda de Robin Hood.
___ - (C) traça o retrato verídico da figura histórica de Robin Hood.(C) traça o retrato verídico da figura
histórica de Robin Hood.
X - (C) uma crítica à semelhança de Robin Hood com outro filme do realizador.
E. Nas linhas 10 a 20 o crítico apresenta os atores que protagonizam o filme com o objetivo de
X - (B) caracterizar as personagens desempenhadas por cada um, fornecendo dados sobre a ação.
___ - (C) relatar o argumento do filme através da referência aos atores que o protagonizam.
___ - (B) devido à clara divisão entre «bem e mal» nas personagens do filme.
___ - (C) aos fatores relacionados com as personagens pouco exploradas (linhas 25-29).
___ - (D) aos aspetos que confundem o espectador comum (linhas 30-34).
35. Leia o texto seguinte. Em caso de necessidade, consulte as notas. Depois, para cada item, selecione a
opção correta.
As cantigas galego-portuguesas são obra de um conjunto relativamente vasto e diversificado de autores, que
encontram nas cortes régias de Leão, de Castela (ou de Castela-Leão) e de Portugal, mas também
eventualmente nas cortes de alguns grandes senhores, o interesse e o apoio que possibilita a sua arte. Não
se trata, no entanto, de um mero patrocínio externo: na verdade, e de uma forma que não mais terá
paralelo nos séculos posteriores, os grandes senhores medievais ibéricos não se limitam ao mero papel de
protegerem e incentivarem a arte trovadoresca, mas são eles próprios, por vezes, os seus maiores, ou
mesmo mais brilhantes, produtores. Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se
entre os maiores poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que
inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras principais. Ao lado deste
conjunto de senhores, designados especificamente por trovadores, e para quem a arte de trovar era
entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como uma atividade desinteressada, encontramos
um não menos notável conjunto de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao
papel de músicos e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e
para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o
reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito.
Se bem que o percurso de alguns trovadores, até pelo seu estatuto de figuras públicas, seja bem conhecido,
em relação a muitos outros, e também em relação à maioria dos jograis, os dados biográficos de que
dispomos são escassos ou mesmo nulos. Na base de dados o leitor encontrará, no entanto, uma curta
biografia de cada um, com os dados que a investigação conseguiu apurar até ao momento. Caso surjam
novos dados decorrentes dessa investigação, de resto atualmente bastante ativa, eles irão sendo
gradualmente disponibilizados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
A. Segundo o texto, a produção das cantigas trovadorescas galego-portuguesas
X - (B) abrangentemente.
X - (B) em occitânico.
___ - (C) são contemporâneas das cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer mas compostas
em occitânico.
X - (D) são contemporâneas das cantigas de amigo, de amor e de escárnio e maldizer e compostas em
galego-português.
X - (C) expositivo.
36. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
O galego-português era a língua falada na faixa ocidental da Península Ibérica até meados do XIV. Derivado
do latim, surgiu progressivamente como uma língua distinta anteriormente ao século IX, no noroeste
peninsular. Neste sentido, poderemos dizer que, mais do que designar uma língua, a expressão «galego-
português» designa concretamente uma fase dessa evolução, cujo posterior desenvolvimento irá conduzir à
diferenciação entre o galego e o português atuais. Entre os séculos IX e XIV, no entanto, e com algumas
pequenas diferenças entre modos de falar locais, a língua falada ao norte e ao sul do rio Minho era
sensivelmente a mesma. E nem mesmo as fronteiras políticas que por meados do século XII se foram
desenhando, e que conduziram à formação de um reino português independente ao sul, parecem ter
afetado imediatamente esta unidade linguística e cultural, cujas origens remontam à antiga Galiza romano-
gótica. Da mesma forma, a extensão do novo reino português até ao extremo sudoeste da Península (que se
desenrola, até 1250, ainda no movimento da chamada Reconquista cristã), é um processo que pode ser
entendido, nesta primeira fase, como um alargamento natural desse espaço linguístico e cultural único.
Assim, como escreve Carolina Michaëlis de Vasconcelos, comentando este sentido alargado que dá ao termo
«galego-português»: «Tal extensão de sentido justifica-se pela uniformidade da língua desde o extremo da
Galiza até ao extremo do Algarve, apenas com algumas variantes provinciais, dentro de um tipo comum; e
também pela grande semelhança de modos de viver, sentir, pensar, poetar — uniformidade e semelhança
que falam eloquentemente a favor da afinidade primitiva de Lusitanos e Galaicos»[Vasconcelos: 1904, II,
780].
Na verdade, pode dizer-se que, paralelamente à independência do reino de Portugal, é a progressiva e lenta
deslocação do centro político da Hispânia cristã do noroeste galego-leonês para Castela (nomeadamente
após a conquista de Toledo em 1085 e, posteriormente, a conquista de Sevilha em 1248) que conduzirá
gradualmente à rutura desta unidade, ao potenciar o desenvolvimento das duas línguas que mais
imediatamente correspondiam a entidades políticas autónomas, o português e o castelhano. A partir desse
momento, que poderemos situar, de forma genérica, em meados do século XIV, o galego-português deixa de
ser uma designação operacional: de facto, e ao mesmo tempo que a Galiza entra culturalmente no período
que habitualmente se designa por «séculos escuros», com um castelhanismo acelerado das suas elites e sem
verdadeira produção cultural em língua própria, o português assume a sua identidade linguística e cultural
autónoma, partilhando a partir de então com o castelhano (e, até certa altura, com o catalão) o espaço
cultural ibérico.
O período que medeia entre os séculos X e XIV constitui, pois, a época por excelência do galego-português.
É, no entanto, a partir de finais do século XII que a língua falada se afirma e desenvolve como língua literária
por excelência, num processo que se estende até cerca de 1350, e que, muito embora inclua também
manifestações em prosa, alcança a sua mais notável expressão na poesia que um conjunto alargado de
trovadores e jograis, galegos, portugueses, mas também castelhanos e leoneses, nos legou.
Convém, pois, ter presente, que, quando falamos de poesia medieval galego-portuguesa, falamos menos em
termos espaciais do que em termos linguísticos, ou seja, trata-se essencialmente de uma poesia feita em
galego-português por um conjunto de autores ibéricos, num espaço geográfico alargado e que não coincide
exatamente com a área mais restrita onde a língua era efetivamente falada.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
___ - (A) começou a tornar-se uma língua independente a partir do século IX.
___ - (B) designa não uma língua mas uma fase de evolução dessa língua.
X - (C) constituiu, entre os séculos IX e XIV, um espaço linguístico e cultural relativamente uniforme.
___ - (D) perdeu a sua unidade linguística e cultural assim que Portugal se constituiu como reino
independente.
B. A língua falada da Galiza ao Algarve
___ - (C) correspondia a modos diferentes de viver, sentir e pensar, mas a uma produção poética
semelhante.
X - (B) precisão.
___ - (A) a conquista de Toledo e de Sevilha conduz à rutura da unidade linguística e cultural do galego-
português.
37. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
As cantigas galego-portuguesas são obra de um conjunto relativamente vasto e diversificado de autores, que
encontram nas cortes régias de Leão, de Castela (ou de Castela-Leão) e de Portugal, mas também
eventualmente nas cortes de alguns grandes senhores, o interesse e o apoio que possibilita a sua arte. Não
se trata, no entanto, de um mero patrocínio externo: na verdade, e de uma forma que não mais terá
paralelo nos séculos posteriores, os grandes senhores medievais ibéricos não se limitam ao mero papel de
protegerem e incentivarem a arte trovadoresca, mas são eles próprios, por vezes, os seus maiores, ou
mesmo mais brilhantes, produtores. Como é sabido, dois reis, Afonso X e o seu neto D. Dinis, contam-se
entre os maiores poetas peninsulares em língua galego-portuguesa, num notável conjunto de autores que
inclui uma parte significativa da nobreza da época, de simples cavaleiros a figuras principais. Ao lado deste
conjunto de senhores, designados especificamente por trovadores, e para quem a arte de trovar era
entendida, pelo menos ao nível dos grandes princípios, como uma atividade desinteressada, encontramos
um não menos notável conjunto de jograis, autores oriundos das classes populares, que não se limitam ao
papel de músicos e instrumentistas que seria socialmente o seu, mas que compõem igualmente cantigas, e
para quem a arte de trovar constituía uma atividade da qual esperavam retirar não apenas o
reconhecimento do seu talento mas igualmente o respetivo proveito.
Embora o percurso de alguns trovadores, até pelo seu estatuto de figuras públicas, seja bem conhecido, em
relação a muitos outros, e também em relação à maioria dos jograis, os dados biográficos de que dispomos
são escassos ou mesmo nulos. Na base de dados o leitor encontrará, no entanto, uma curta biografia de
cada um, com os dados que a investigação conseguiu apurar até ao momento. Caso surjam novos dados
decorrentes dessa investigação, de resto atualmente bastante ativa, eles irão sendo gradualmente
disponibilizados.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
B. A expressão «no entanto» (linha 4), relativamente à ideia apresentada na frase anterior, introduz uma
X - (B) oposição.
___ - (D) esperando algum proveito, mas sabendo que não poderiam obter reconhecimento do seu
talento.
38. Leia o texto seguinte. Depois, para cada item, selecione a opção correta.
Cantiga ou cantar, implica que o texto poético se cantava. A forma como o texto era publicamente
apresentado, pressupondo uma emissão melódica e uma audiência, tinha consequências quer na conceção
do poema quer na sua receção. A intermediação musical impõe que o texto se desvele e se saboreie pouco a
pouco, a sua continuação reservando uma e outra surpresa, sugerindo uma ou outra associação; e
simultaneamente carrega-o de sinais retóricos e tonalidades afetivas, que preparam, enquadram e
condicionam a reação do ouvinte. A eficácia da atuação trovadoresca dependia, pois, quer da bondade do
casamento entre poesia e música, quer de uma recetividade educada, socialmente diferenciada e
diferenciadora.
A cantiga trovadoresca como um todo dependia, para a sua circulação, sobretudo da memória e do bom
ouvido, quer dos autores quer dos jograis que os serviam e, na invenção, os imitavam. Com a vinda de
França e entronização de D. Afonso III, é provável que se tenha introduzido a ideia de que, em recolhas de
cantigas exemplares, a música, à imagem do texto, podia ser escrita recorrendo a uma notação o mais
moderna possível, permitindo a sua visualização e fácil reprodução. Foi neste espírito que se copiaram as
cantigas de Martim Codax no Pergaminho Vindel (folha volante ou bifólio central de um caderno, encontrada
pelo livreiro madrileno Pedro Vindel em 1913 e posteriormente por ele vendida) e as de Dom Dinis no
Cancioneiro perdido de que sobra somente um fragmento, o Pergaminho Sharrer (nome do seu descobridor,
o académico Harvey Sharrer, que o localizou na Torre do Tombo em 1990). O mesmo deve ter sucedido a
centenas de cantigas; o Cancioneiro da Ajuda foi preparado para receber pautas, mas ficou incompleto, e até
hoje não se encontraram outras fontes medievais.
A redescoberta, no século XIX, da tradição lírica galego-portuguesa baseou-se, como antes se disse, em
cópias italianas do início do século XVI (Cancioneiros da Biblioteca Nacional e da Biblioteca Apostólica
Vaticana), que não reproduziram a música presumivelmente preexistente. Só com a edição de fotografias do
Pergaminho Vindel, em 1915, se tornou clara a dimensão da perda. A partir de então, o crescendo
nacionalista em Portugal, primeiro em plena época republicana, depois durante o Estado Novo, levou à
revalorização da herança literária mais antiga, que habitualmente se apresentava misturando trovadores
medievais com autores quatrocentistas recolhidos no Cancioneiro de Resende e até com a obra lírica de
Camões. Este interesse levou vários compositores (Tomás Borba, Ruy Coelho, Frederico de Freitas, Cláudio
Carneyro, Croner de Vasconcelos, Filipe Pires, Victor Macedo Pinto, ...) a propor novas versões musicais de
textos galego-portugueses medievais [...].
A partir da década de 1950, o declínio da motivação nacionalista em Portugal deixou o campo livre para a
afirmação, em diálogo com os autores medievais, de poéticas sonoras individuais (Lopes-Graça, ou, mais
recentemente, Eurico Carrapatoso, entre outros), enquanto as edições de Rodrigues Lapa e as
modernizações textuais de Natália Correia abriam espaço para a composição de versões em idiomas
musicais mais populares (como as protagonizadas por Amália, Zeca Afonso e José Mário Branco). Entretanto,
o desenvolvimento da musicologia aplicada às fontes mais antigas e a gradual emergência de um movimento
de interpretação de música medieval com instrumentos antigos fizeram surgir quer propostas de
reconstrução musical de cantigas profanas a partir da reutilização de melodias medievais de outra
proveniência (contrafacta) quer múltiplas gravações tentando recriar um ambiente sonoro trovadoresco, a
partir das melodias originais, de contrafacta ou de recriações «ao estilo medieval». A par destes
desenvolvimentos, o moderno nacionalismo galego apropriou-se, por sua vez, da tradição lírica do século
XIII, produzindo a partir dela múltiplas expressões musicais, de caráter mais historicista, mais erudito, ou
mais popular (Amancio Prada, Uxía, Xurxo Romani). Este complexo panorama está a partir de agora refletido
na riqueza e variedade dos conteúdos musicais que aqui acolhemos e divulgamos, e que estão abertos a
novas atualizações.
Graça Videira Lopes e Manuel Pedro Ferreira et al., Cantigas Medievais Galego Portuguesas, Lisboa, Instituto
de Estudos Medievais, FCSH/NOVA, 2011, in http://cantigas.fcsh.unl.pt/sobreascantigas.asp, consultado em
25 de maio de 2015 (adaptado).
___ - (C) eram apresentados a um público heterogéneo, com elementos que iam do povo à corte.
X - (A) «autores».
___ - (A) foi encontrado pelo compositor madrileno Pedro Vindel no século XIX.
___ - (B) foi encontrado pelo livreiro madrileno Pedro Vindel no século XIX.
___ - (D) assim como o «Cancioneiro da Biblioteca Nacional» e o «Cancioneiro da Biblioteca Apostólica
Vaticana», reproduz a música das cantigas.
39. Proceda ao visionamento do anúncio publicitário «O mestre», sobre um conhecido produto de origem
portuguesa, que pode encontrar aqui: http://gallooliveoil.com/pt/gallo-legado/historia.aspx. Depois,
responda às perguntas que se seguem.
A. Indique se as seguintes frases são verdadeiras ou falsas.
F - (B) O produto publicitado é o hábito de utilizar azeite nas refeições da dieta mediterrânica.
F - (C) Este anúncio corresponde ao tipo de publicidade institucional (ou não comercial), que tenta
divulgar uma ideia ou promover um hábito (neste caso, a saudável utilização do azeite na dieta
mediterrânica).
V - (D) O anúncio utiliza texto icónico (as imagens do filme) e texto linguístico (as frases que separam
cada clip, o slogan e o poema popular «Ó rama, ó que linda rama», cantado por Vitorino).
V - (E) A utilização do poema popular «Ó rama, ó que linda rama» alia a memória visual do produto à
memória sonora da canção.
V - (F) As imagens são intercaladas por três frases-chave sobre a produção daquele tipo de azeite
específico, durante uma pausa da canção.
V - (G) O espaço privilegiado pelo anúncio é o espaço rural, pois remete imediatamente para o
imaginário relacionado com as tradições e os rituais relacionados com a cultura da azeitona.
V - (J) Segundo o anúncio, o ritual ancestral de produção do azeite organiza-se da seguinte forma:
colheita manual, receção da azeitona no lagar, limpeza e pesagem da azeitona, extração do azeite,
armazenamento em cântaros e rotulagem das garrafas.
F - (K) O texto icónico não tem encadeamento lógico, pois as várias imagens não seguem uma estrutura
cronológica.
V - (L) O sotaque com que o poema é cantado realça a ideia da origem popular e tradicional do produto
publicitado.
F - (A) As personagens que integram o filme do anúncio pertencem apenas a uma geração, de forma a
enfatizar a que a produção manual do azeite congrega os vários elementos de uma comunidade.
F - (C) O «slogan» do anúncio, «Azeite Gallo — A cantar desde 1919» evidencia que a marca a que o
produto pertence é moderna e sem tradição.
F - (D) A forma verbal «cantar» não fortalece a ligação do produto à canção que acompanha o anúncio
e ao ato de cantar durante o trabalho no campo.
V - (E) O vocábulo «Mestre», na primeira frase-chave «Este é o Mestre», mostra que a marca do
produto valoriza o saber e o conhecimento transmitidos de geração em geração.
V - (F) A imagem da família reunida à hora da refeição no fim do «clip» pretende provar que o culminar
do processo de produção do azeite se orienta para a criação do bem-estar familiar.
V - (G) A imagem da família em torno da mesa da refeição veicula valores relacionados com a
importância da união familiar.
V - (H) A refeição apresentada (bacalhau cozido) é uma refeição tradicional portuguesa e permite fazer
a identificação entre o produto e a gastronomia portuguesa.
F - (I) A canção e as imagens não criam um ambiente emocional que reforçam a identificação do azeite
com as paisagens e rituais tradicionais do país.
Proposta de solução:(A) As personagens que integram o filme do anúncio pertencem a três gerações (avó,
pai, neto), de forma a enfatizar que a produção manual do azeite congrega os vários elementos de uma
comunidade.
(B) A personagem masculina é acompanhada uma criança durante o processo de produção do azeite, sendo
que os gestos e os olhares trocados demonstram carinho e ternura (outros termos semelhantes).
(C) O slogan do anúncio, «Azeite Gallo – A cantar desde 1919», evidencia que a marca a que o produto
pertence é antiga e com tradição.
(D) A forma verbal «cantar» faz a ligação do produto à canção que acompanha o anúncio e ao ato de cantar
durante o trabalho no campo.
(I) A canção e as imagens criam um ambiente emocional que reforçam a identificação do azeite com as
paisagens e rituais tradicionais do país.
40. Proceda ao visionamento da reportagem «Caminho galego de Penalva na rota de Santiago de
Compostela», que pode encontrar aqui: http://videos.sapo.pt/F7qFdf7j4ozORdgYPm8y. Depois, responda às
perguntas que se seguem.
Proposta de solução:A peça refere-se à recriação, pelo Agrupamento de Escolas e pela Câmara Municipal de
Penalva do Castelo, dos hábitos ancestrais dos peregrinos no Caminho dos Galegos, com destino a Santiago
de Compostela.
Proposta de solução:Era aí que os peregrinos se alojavam, com o objetivo de retemperar as forças e para se
protegerem de assaltos.
E. Refira a extensão do Caminho dos Galegos.
Proposta de solução:O Hospital do Caminho, uma casa rural que noutros tempos dava apoio aos viandantes
e que agora oferece produtos regionais.
G. O concelho tem quatro rotas turísticas. Identifique aquela que vai ser criada a curto prazo e dois
importantes locais que a integram.
Proposta de solução:É a rota religiosa ligada à Ordem do Santo Sepulcro, com a Ponte Medieval de
Trancozelos e o Mosteiro da Ordem do Santo Sepulcro.
I. Por que razão, este ano, o Caminho dos Galegos excedeu todas as expectativas?
Proposta de solução:Este é dar a conhecer uma base de dados da FCSH/NOVA que disponibiliza, na Internet,
aos investigadores e ao público em geral, uma edição integral das cantigas medievais presentes nos
cancioneiros galego-portugueses, acompanhadas de músicas e de imagens dos manuscritos.
Proposta de solução:É Graça Videira Lopes, a investigadora principal deste projeto do Instituto de Estudos
Medievais.
Proposta de solução:Podem ser execuções das músicas originais ou ainda adaptações contemporâneas de
diversos géneros musicais e feitas por diferentes tipos de músicos.
D. Além da leitura simples das cantigas e do acesso às respetivas músicas (versões originais e adaptações
contemporâneas), a base de dados oferece outros recursos. Refira dois destes recursos.
Proposta de solução:O internauta pode consultar as notas que explicitam aspetos relativos ao português
arcaico ou de ordem histórica e pode também comparar versões dos textos nos diferentes manuscritos.
E. A segunda entrevistada tem uma importante função na peça. Explicite-a.
Proposta de solução:Ana Roque, bolseira de investigação do projeto, fala sobre os passos dados pela equipa
para conseguirem disponibilizar os diversos tipos de versões musicais que acompanham as cantigas —quer
adaptações das melodias originais quer versões modernas das cantigas.
F. O projeto disponibiliza cerca de trezentas versões musicais. Mencione alguns dos nomes que deram corpo
a estas versões musicais.
Proposta de solução:Amália, Zeca Afonso, Lopes Graça, Tomás Borba, Frederico de Freitas, o grupo brasileiro
Legião Urbana, ...
G. A base de dados foi lançada em outubro de 2011, por ocasião de uma comemoração. Mencione-a.