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A Mão Do Pastel - Conto
A Mão Do Pastel - Conto
Pastel era um cara desgrenhado, de roupas sujas e rasgadas e de pés livres. A pele escurecida
nesse sol carioca e por a poeira das ruas. Pois sim, as ruas, aonde mora. Sua casa ao céu
aberto. Aberto ao povo também, mas esses não o notam. E Pastel não ligava, e ainda os
acusava de serem escravos da monotomia. E sendo sincero era justo, já que ele era também
incriminado por a mesma conduta, sendo vítima do pó branco.
- Minha mão, alguém me ajuda. Tem que colocar de volta! – O povo espantado com aquilo, o
rodearam enquanto alguns falavam: “Meu Deus! De quem é essa mão menino?!”, “Que
nojento! Sai daqui com isso doido!”, “ Cara, larga isso!”, Rapaz! Aonde você achou isso?”. Até
que uma sirene toca alto, era uma viatura mobilizada por aquele tumulto. Pastel sabia que
tinha que sair dali, lidar com os homens de farda não era bom. Então empurrando um e outro
ele conseguiu escapar daquela roda com dificuldades e correu. A viatura o perseguiu junto
com alguns policiais que faziam o mesmo a pé e gritavam: PARA! PARA! Até que ouviu o
estouro, era um tiro! Mas Pastel foi sortudo, duas vezes. Já que nada pegou nele e tinha
conseguido se esgueirar por uma viela. E quando foi perceber estava no meio da favela
encarando os caras da boca. O cheiro da erva empestava tudo ali.
- Alguém arrancou a minha mão – falou enquanto apontava com a mão falecida.
- Tá maluco Pastel! Tu não tá vendo que tu tá com as duas mãos inteira, não?! – Pastel
negativava com a cabeça em reposta – Mermão, é melhor tu sair com essa merda daqui! –
Mas outro cara interviu; - Não, é melhor ele deixar a mão, e meter o pé! – Mas Pastel
continuava a contrariar com a cabeça, – Oh Pastel, ou tu deixa a mão ai ou... – fogos
estrondaram seguido de tiros. Era a polícia atrás dele! A boca se desmanchou rápido e Pastel
correu aproveitando o alvoroço daquilo tudo. Se embaralhando com os becos molhados e
cheios de fio que raspavam sua cabeça, Pastel chegou aonde tudo tinha começado.
Sim, novamente Pastel estava no matagal. Chorava muito, acreditava mesmo que aquilo era
uma de suas mãos. Com uma natureza excêntrica devido aos anos de servidão ao pó, fazia
sentido ele entrar em tal fantasia. Mas após umas horas ritualística, olhando aquela mão a
putrefazer. Decidiu então se despedir, cavou um buraco, colocou aquele resto mortal em volto
de um saco e o enterrou com muita tristeza. Estava cansado pelo dia, deitou-se ao lado da
cova e antes de dormir pensou alto: “Será que os caras da boca aceitariam uma troca?”.