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MÓDULO VI

RADIAÇÃO IONIZANTE E NÃO IONIZANTE

MATERIAL DO ALUNO
CURSO BÁSICO EM HIGIENE OCUPACIONAL: AGENTES
FÍSICO E QUÍMICO
MÓDULO VI RADIAÇÃO IONIZANTE E NÃO IONIZANTE
MATERIAL DO ALUNO

Autor: Rosemberg Silva Lopes da Rocha

Coordenação Técnica: Ana Paula Matsumoto

Revisão educacional: Elisabete Mercadante

Salvador
2019
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DA BAHIA

Antonio Ricardo Alvarez Alban


Presidente

SESI – DEPARTAMENTO REGIONAL DA BAHIA

Armando Alberto da Costa Neto


Superintendente

Amélio Miranda Júnior


Gerente de Segurança e Saúde na Indústria

Cléssia Lobo de Morais


Gerente de Educação

Ana Paula Pereira Alves Matsumoto


Maria Fernanda Torres Lins Faiçal
Gerência de Segurança e Saúde do Trabalho

Elisabete Mercadante Alves da Cunha


Renata Araújo Costa
Gerência de Educação Continuada

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8

CONCEITOS E DEFINIÇÕES ................................................................................. 9

MATERIAIS RADIATIVOS NO ORGANISMO E SEUS EFEITOS À SAÚDE ....... 22

DESENHO DOS POSTOS DE TRABALHO PARA A SEGURANÇA


RADIOLÓGICA ..................................................................................................... 29

VIGILÂNCIA E SINALIZAÇÃO DOS LOCAIS DE TRABALHO ............................. 31

INSTRUMENTOS DE MONITORAMENTO E CONTROLE .................................. 33

FATORES BÁSICOS DE PREVENÇÃO DE ACIDENTES .................................... 35

SINALIZAÇÃO....................................................................................................... 38

A RADIAÇÃO IONIZANTE VS A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ............................. 39

RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES .......................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................... 62

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APRESENTAÇÃO

A Gerência de Saúde e Segurança da Indústria e a Gerência de Educação


do Serviço Social da Indústria, por meio de suas gerências técnicas, tem promovido
ações no sentido do desenvolvimento da indústria através da qualificação de seus
trabalhadores em competências e habilidades.
As ações de Educação Continuada (EC) do SESI tem como propósito
promover a aprendizagem ao longo da vida, sendo organizada em três escolas:
Escola SESI de Gestão em SST; Escola SESI de Educação Corporativa e Escola
SESI de Conexões Criativas.
A Escola SESI de Gestão em SST tem como missão desenvolver pessoas
em competências gerenciais, técnicas e comportamentais, contribuindo para a
formação de uma cultura de segurança e saúde do trabalho nos indivíduos e
organizações.
Dessa maneira, o Curso Básico em Higiene Ocupacional visa desenvolver
profissionais da área de Segurança para uma melhor prática em sua atuação
profissional, tendo como foco os agentes químicos e físicos.
Enfatiza-se que o mesmo não tem como pretensão a limitação ou finalização
da temática de higiene ocupacional, mas compromete-se em atualizar e
compartilhar os saberes, assumindo assim, responsabilidade e ética. Bom curso!

Escola SESI de Gestão em SST - SESI DR-BA

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INTRODUÇÃO
Este módulo tem como objetivo específico apresentar uma abordagem
ampla acerca da radiação ionizante e não ionizante, dos quais o profissional de
saúde e segurança do trabalho deverão estar ciente ao longo de sua carreira
profissional.

Este Módulo está dividido em 09 capítulos.

O primeiro capítulo aborda os conceitos e definições acerca da radiação


ionizante e não ionizante.

O segundo capítulo apresenta os materiais radioativos e seus efeitos à


saúde.

O terceiro capítulo traz o desenho dos postos de trabalho para segurança


radiológica.

O quarto capítulo é sobre vigilância e sinalização nos locais de trabalho.

O quinto capítulo apresenta os instrumentos de monitoramento e controle,


seguido do sexto capítulo sobre fatores básicos de prevenção de acidentes e o
sétimo relativo a sinalização.

O oitavo e nono capítulos abordam sobre a radiação ionizante e não


ionizante, respectivamente

O conteúdo abordado neste módulo tem como ênfase a radiação ionizante


e não ionizante com uma abordagem relacionando teoria e prática.

Boa Leitura!

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CONCEITOS E DEFINIÇÕES
As radiações estão presentes em todas as partes, sendo aplicadas em
diversas atividades do dia a dia, e de acordo com o assunto que será estudado, as
radiações dividem-se em ionizantes e não ionizantes.

As radiações ionizantes incluem em seu grupo os raios alfa, beta, gama, os


raios X, nêutrons e prótons, por definição básica tem a capacidade de produzir íons¹
de forma direta ou indireta. Os raios X e gama são radiações eletromagnéticas,
sendo as demais radiações corpusculares, ou seja, geradas naturalmente pelo
próprio corpo de material radioativo.

¹ íon: é uma partícula eletricamente carregada, que resulta de um átomo ou


molécula que ganhou ou perdeu elétrons.

Conceito de Radiação Ionizante

As radiações ionizantes estão presentes em diversas fontes que produzem


radiação deste tipo, estão presentes desde o espaço exterior em forma de raios
cósmicos e estão presentes no ar na forma de emissões de radônio².

² https://www.tabelaperiodicacompleta.com/elemento-quimico/radonio/

A radiação ionizante consiste em partículas, incluindo os fótons,


responsáveis pela separação de elétrons de átomos e moléculas. Entretanto,
alguns tipos de radiações de energia relativamente baixa, como é o caso da luz
ultravioleta, somente podem originar ionização de partículas em determinados
casos, por exemplo, ultravioleta longínquo (FUV), uma das faixas mais energéticas
do ultravioleta, que se estende entre 122 nm e 200 nm (nanômetros) de
comprimento de onda.

Para distinguir estes tipos de radiações que sempre causam ionização, se


estabelece um limite energético para radiação ionizante.

9
De acordo com o FCC (Federal Communication Comission), órgão
responsável pela área de telecomunicações e radiodifusão dos Estados Unidos,
considera-se ionizante qualquer radiação eletromagnética que transporte energia
18
maior que 10 eV (elétron-volts), cerca de 1,6  10 Joules . Essa energia é
equivalente àquela transportada pelo ultravioleta longínquo.

Considera-se então, radiação ionizante como uma forma de energia capaz


de carregar consigo energias suficientes para arrancar elétrons que se encontram
ligados a átomos e moléculas. Este tipo de radiação interage com a matéria,
sobretudo mediante a força de Coulomb³, que os faz repelir ou atrair elétrons de
átomos e moléculas de acordo com suas cargas.

³ A Lei de Coulomb é uma lei da física que descreve a interação eletrostática


entre partículas eletricamente carregadas.

A segurança envolvendo atividades com radiações ionizantes devem fazer


parte de um amplo programa de prevenção ocupacional, gestão e controle de
acidentes de uma empresa. A introdução de dispositivos para radiação, bem como
a presença de fontes radiotivas no ambiente de trabalho, trará a necessidade de
atualização ou até mesmo a criação de procedimentos de prevenção de acidentes,
de engenharia e de modificações na rotina da planta industrial e dos processos nela
envolvidos. Pode ser que haja a necessidade de alteração ou restrição da rota de
deslocamento de pessoas ou acesso a equipamentos com o objetivo de reduzir ao
mínimo possível a disseminação dos materiais radioativos no raio de ação
envolvido.

Quando a empresa não possui um profissional especialista ou com um


técnico especializado no controle de fontes radioativas, o profissional de saúde e
segurança (engenheiro de segurança, técnico de segurança, profissional de saúde,
higiene ocupacional etc...) poderão ser considerados os responsáveis na condução
e direção dos esforços necessários para controlar os riscos das radiações
ionizantes no ambiente de trabalho, mas é sempre importante lembrar que o risco
envolvido com estes tipos de materiais e fontes é elevado, portanto, quanto mais
houver envolvimento de profissionais qualificados e habilitados por órgãos
competentes no assunto, melhor será quanto as camadas de segurança

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necessárias para o devido controle. Para isso, é fundamental que todos os
envolvidos com o tema tenham conhecimento geral sobre a natureza e formas de
detecção da radiação, os níveis permissiveis de exposição, seus efeitos biologicos
no organinsmo, as técnicas, procedimentos e medidas de controle.Poderá o
profissional de SMS e/ou Higiene Ocupacional, tendo a responsabilidade de
gerenciar fontes radiotivas dentro do processo, ter que possuir capacitação
suficiente para manusear e interpretar dados de equipamento de detecção de
radiação ionizante, devendo este ser devidamente aprovado por órgao competente
no assunto dentro do país de atuação. Também deverão estar vigilantes quanto
aos demais colaboradores da planta industrial ou do local de intervenção com fonte
radioativa de que estejam informados com a clareza ncessária sobre os perigos
envolvendo materiais radioativos e sobre todos os procedimentos de prevenção de
acidentes que deverão ser seguidos.

O profissional de SMS deverá ter a gestão e o controle de que em todas as


instalações onde sejam destinadas fontes radioativas hajam adequados controles
de forma a assegurar o cumprimento de padrões internos da empresa, assim como
atender as legislações nacionais e a protocolos internacionais que, eventualmente,
possam ser utilizados. É importante também que tenha conhecimento sobre os
programas de saúde ocupacional envolvendo os riscos da radiação ionizante, bem
como os protocolos de emergência e garantir que todas as salvaguardas envolvidas
nestes processos estejam em ordem.

O controle das exposições ocupacionais a radiações ionizantes requerem


técnicas efetivas para prevenir doenças e acidentes. Alguns dos perigos radioativos
podem ser controlados com medidas de controle comuns e fáceis de serem
executas, porém, em outros casos o profissional de SMS e/ou Higiene Ocupacional
deverá realizar o reconhecimento de riscos junto com um profissional especialista
em radioproteção para que se tenha o devido apoio especializado no assunto.

Vocabulários sobre termos utilizados para estudar radiações


ionizantes

A Comissão Internacional de Unidades e Medidas de Radiações (ICRU)


desenvolveu definições formais de quantidades e unidades de radiações e de
radioatividades que tem aceitação e reconhecimento internacional. A Comissão

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Internacional de Proteção Radiológica (CIPR) também estabelece normas para a
definição e utilização de diversas quantidades e unidades empregadas para fins de
segurança radiológica.

Para tratar de maneira clara e objetiva os distintos aspectos de segurança para


radiações ionizantes, é imprescindivel compreender as terminologias básicas,
dessa maneira, há de se apresentar alguns dos termos mais importantes.

Dose Absorvida: É a quantidade dosimétrica fundamental da radiação ionizante.


Em essência, é a energia que a radiação ionizante transmite para a matéria por
unidade de massa e se expressa por:

d
D
dm

Onde D é a dose absorvida, dε é a energia transmitida para a matéria de massa


dm. A unidade de dose absorvida é o joule por kilograma (J.kg), que também pode
ser denominada como gray (Gy).

Atividade: É o número de desintegrações nucleares que se produzem em uma


quantidade dada de materia por unidade de tempo, também pode ser definido pelo
número de transformações nucleares de um estado energético nuclear dada por
unidade de tempo e se expressa como:

dN
A
dt

Onde A é a Atividade, dN é o valor esperado do número de transições nucleares


espontâneas desde o estado de energia dado durante o intervalo de tempo dt. Está
relacionado com o número de núcleos radioativos N mediante a:

A  N

Onde  (lambda) é a constante de desitengração e a Atividade se expressa por


segundo e o nome especial para a unidade de Atividade é o Berquerel (Bq).

Constante de desintegração (  ): Representa a probabilidade por unidade de tempo


de que ocorroa uma transformação nuclear para um determinado radionuclídeo. A

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constante de desintegração se mede por segundo. Está relacionada com o período
t1 / 2
de semidesintegração de um radionuclídeo por:

ln 2 0,693
 
t1 / 2 t1 / 2

A constante de desintegração  está relacionada com a meia vida,  (tal), de um


determinado radionuclídeo.

Meia Vida: Esta quantidade é o tempo médio que um material (estado nuclear)
sobreviverá antes de experimentar uma transformação para um estado de energia
mais baixo através da emissão de radiação ionizante. Sua unidade fundamental é
o segundo (s), mas também pode ser expressa em horas, dias ou anos. Está
relacionado com a constante de desintegração por:

1


Onde  representa a meia vida e λ é a constante de desintegração de um


determinado material radioativo.

ln(2)
t1 / 2  t 
N 
ln 0 
A equação para calcular a meia vida é dada por  Nt  , onde
N0
éa
Nt
quantidade de substância no início e é a quantidade de substância depois de
um período de tempo de tempo e t é o tempo passado.

A tabela 1 demonstra a meia-vida de alguns elementos químicos e o tipo de


radiação emitida e o seu uso no dia a dia da sociedade.

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Tabela 1: Meia-vida de alguns elementos radioativos

Hidrogênio 3: Trítio (3H); Carbono 14 (14C); Plutônio 32 (32P); Potássio (40K); Cobalto 60 (60Co), Tecnécio 99 (99Tc), Iodo
123 (123I);Urânio 235 (235U)

Efeito biológico determinístico: É um efeito biológico causada pela radiação


ionizante e cuja probabilidade de ocorrência é zero com pequenas doses
absorvidas, mas que aumentará acelerado até um (100% de probabilidade) quando
a doseabsorvida excede um certo nível (o limiar). A indução da catarata é um
exemplo de um efeito biológico estocástico.

Dose efetiva: A dose efetiva é a soma das doses equivalentes ponderadas em


todos os tecidos e órgãos do corpo. É uma magnitude usada na segurança
radiológica, de modo que seu uso não é adequado para medir grandes doses
absorvidas fornecido em um período relativamente curto de tempo. A dose efetiva
é dada por :

E   WT H T
T

Onde WT é um fator de ponderação do tecido e H T é a dose equivalente do tecido


1
T. A dose efetiva se mede em J  kg e o nome especial dado para a unidade de
dose efetiva é sievert (Sv).

Dose equivalente: A dose equivalente H T é a dose absorvida média para um tecido


ou órgão (e não em um ponto). É uma magnitude utilizada em segurança
radiológica, de maneira que seu emprego não é adequado para medir grandes
doses absorvidas em um período de tempo relativamente curto.

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É dada por :

H T  WR DT  R
R

Área Controlada: Uma área específica onde a exposição de pessoas a materiais


radioativos está controlada. As áreas controladas devem ser supervisionadas por
um profissional que possua conhecimento suficiente e que tenha habilitação para
determinar as medidas de controle adequadas de proteção contra a radiação.

Barreira: Uma defesa que protege os trabalhadores das radiações perigosas


liberadas por materiais radioativos. Camadas de chumbo, concreto denso, água e
terra, são exemplos de materiais empregados como barreiras.

Câmara de ionização: Um dispositivo básico para medir radioatividade.

Contador: Dispositivo para conta as desintegrações nucleares e desta maneira


medir a quantidade de radioatividade emitida por um corpo.

Curie: Uma medida de velocidade de um material para emitir partículas, ou seja, 1

curie corresponde a 3,7 10 desintegrações por segundo.


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Elétron: Uma partícula elétrica muito pequena que possui a menor quantidade de
carga elétrica negativa. Os elétrons orbitais giram ao redor de um núcleo de um
1
átomo e a massa de um elétron é aproximadamente 1820 avos da massa de um
próton ou neutron.

Elétron volt (eV): Unidade de energia definida como o trabalho realizado ao se


mover um elétron através de uma diferença de potencial de 1 volt. Os materiais
radioativos emitem radiações que podem conter energias que chegam a vários
6
milhões de eletro-volts, MeV ( 10 V). As energias dos raios gama que provém de
isótopos pode ser de aproximadamente 4 MeV ou até maiores.

Fóton: Partícula elementar mediadora da força eletromagnética. O fóton também é


o quantum da radiação eletromagnética.

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Quantum: É o menor valor que certas grandezas físicas podem apresentar. São
exemplos de grandezas quantizadas a energia e o momento angular de
um elétron em um átomo.

Íon: Átomo ou grupo atômico eletricamente carregado. Componente químico que


resultam do processo de perda ou ganho de elétrons por meio de reações
eletricamente carregadas.

Isótopos: Átomos que possuem o mesmo número de prótons, ou seja, são espécies
distintas do mesmo elemento, diferindo apenas no número de massa e de nêutrons.
O urânio 238 (U-238), por exemplo, contém 92 prótons e 146 nêutrons, equanto
que, o urânio 235 (U-235)contém 92 prótons e 143 nêutrons. Portanto, o peso
atômico do urânio (U- 238) é superior em 3 unidades de nêutrons quando
comparado com o urânio (U-235).

Próton: Partícula elementar que é um dos constituintes essenciais de todos os


núcleos atômicos e, portanto, da matéria, de fundamental importância devido a sua
estabilidade; possui carga elétrica positiva e igual, em valor absoluto, à do elétron,
sua massa é de aproximadamente 938,27 MeV/c².

Nêutron: Pequena partícula que constitui o núcleo do átomo. Não tem carga e é
formada por partículas ainda menores, as quais recebem o nome de quarks.

Quarks: Na física de partículas subatômicas, é uma partícula elementar e um dos


dois elementos básicos que constituem a matéria. Quarks se combinam para formar
partículas compostas chamadas hádrons, e os mais estáveis desse tipo são os
prótons e os nêutrons, que são os principais componentes dos núcleos atômicos.

Núcleo Atômico: Parte central interna de um átomo, sendo formado por prótons e
nêutrons fortemente ligados entre si.

Átomo: Unidade básica de matéria que consiste num núcleo central de carga
elétrica positiva envolto por uma nuvem de elétrons de carga negativa. O núcleo
atômico é composto por prótons e nêutrons. Os elétrons de um átomo estão ligados
ao núcleo por força eletromagnética.

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Sievert (Sv): Unidade de dose de radiação absorvida que regulao fator de qualidade
da radiação em comparação com a radiação gama. É igual ao regulador de Gray,
do fator de qualidade, e equivalente a 100 rem.

Rem: Roentgen Equivalent Man (rem): é uma unidade de medida de radiação,


produto da dose absorvida em Rad e um fator ponderado WR que leva em conta a
efetividade da radiação que causa danos biológicos. Um rem é uma grande
quantidade de radiação, então o milirem (mrem), que é milésima parte do rem, é
utilizado para dosagens comumente encontradas tais como em equipamentos
médicos de raio-x. 700 Rem de radiação é o suficiente para matar um homem
adulto.

Roentgen: Quantidade de radiação X ou gama capaz de produzir ionização igual a


uma unidade eletrostática de carga em um centímetro cúbico de ar seco em
condições normais.

Tipos de radiações ionizantes

A radiação pode ser considerada como um tipo de energia cujas as formas


familiares ao ser humano incluem a luz (uma forma de radiação que podemos
enxergar) e o calor (uma forma de radiação que podemos sentir). As ondas de TV
e rádio são formas de radiação que não podemos enxergar e sequer sentir. Na
figura 1 é possível visualizar as várias categorias de radiações eletromagnéticas,
seus comprimentos de onda e frequência.

Figura 1 – Espectro Eletromagnético e comprimento de onda com emissão de energia.

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Os raios X e gama se sobrepõem e ocupam um âmbito comum dentro do espectro
eletromagnético. A radiação X é produzida em uma porção dos elétrons orbitais de
um átomo ou a partir de elétrons livres. Enquanto que a radiação gama se origina
no núcleo. Em geral, os raios X são produzidos artificialmente e os raios gama são
emitidos de maneira espontânea por materiais radioativos.

Toda matéria é composta por átomos e cada átomo possui duas partes básicas,
um centro e um núcleo pesado que contém partículas carregas positivamente,
denominadas de prótons, partículas neutras, denominadas de nêutrons e partículas
livres que possuem carga negativa, denominada de elétrons e estas giram ao redor
do núcleo conforme demonstra a figura 2.

Figura 2 – Modelo básico do átomo.

A ionização é um processo de transferência de energia que altera o balanço elétrico


nomal de um átomo. Se um átomo normal (elétricamente neutro) perder um de seus
elétrons orbitais (uma carga negativa), este deixaria de ser neutro. Teria, então,
mais cargas positivas que negativas, transformando-se em íon positivo e ao elétron
eliminado poderia dar o nome de elétron livre ou íons negativo. Os íons negativos
e positivos assim formados se denominam par iônico.

O termo radiação nuclear descreve todas as formas de energia radioativa que tem
em sua origem o núcleo de um átomo radioativo. Além da radiação gama, os
átomos podem emitir partículas que se movem em altas velocidades.

Alguns materiais são, naturalmente, radioativos e outros podem ser transformados


através de um reator ou acelerador nuclear. Alguns átomos não radioativos podem

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ser convertidos em radioativos quando o núcleo do mesmo captura um nêutron
extra. O átomo radioativo é instável devido a energia extra que o nêutron agrega
ao núcleo. Os átomos excitados a ponto de ficarem radioativos liberam seu excesso
de energia retornando a um estado estável mediante a emissão por um núcleo de
partículas subatômicas e de raios gama. As partículas mais importantes a serem
estudadas são as partículas alfa, beta e nêutron, além das radiações
eletromagnéticas gama e os raios X.

Partículas Alfa (α): A radiação gerada por partículas alfa são formadas por dois
nêutrons e dois prótons, dando lugar a uma unidade de carga positiva +2. É emitida
por núcleo de átomos radioativos e produzem uma ionização de alta densidade. As
partículas alfa transferem suas energias em uma curta distância e podem ser
“detidas” de maneira eficaz por uma folha de papel funcionando como uma barreira
protetora ou até mesmo pela camada de células mortas da pele .

Figura 3 – Emissão de partícula alfa.

Partículas Beta (β): A radiação gerada por partículas beta são formadas por
partículas negativas com carga – 1. São mais penetrantes e menos energéticas
que as partículas alfa, conseguem atravessar lâminas de chumbo de até 2 mm ou
de alumínio de até 5 mm no ar, mas são barradas por uma placa de madeira de 2,5
cm de espessura. São emitidas com diferentes energias cinéticas, possuem uma
penetração suficiente para causar queimaduras na pele.

Figura 4 - Emissão de partículas beta

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Partículas Gama (γ): A radiação gerada por partículas gama são ondas
eletromagnéticas, e possuem carga e massa nulas, emitem continuamente calor e
têm a capacidade de ionizar o ar e torná-lo condutor de corrente elétrica. As
partículas gama percorrem milhares de metros no ar, são mais perigosas, quando
emitidas por muito tempo podem causar má formação nas células. Os raios gama
conseguem atravessar chapas de aço de até 15 cm de espessura, mas são
barradas por grossas placas de chumbo ou paredes de concreto. A radiação gama
possui alta energia e comprimento de onda curto, ou seja, é capaz de penetrar
profundamente na matéria. Em razão dessa propriedade, os raios gamas são
usados em larga escala pela indústria para esterilizar equipamentos e produtos
alimentícios. A emissão gama revela uma grande importância na medicina. O
Cobalto-60, por exemplo, é um emissor de radiação gama e por isso usado no
tratamento do câncer. O tratamento consiste em direcionar os raios gama para o
tumor, causando sua destruição.

Figura 5 - Emissão de partículas gama

Partículas de Nêutrons: São partículas atômicas, ou seja, fazem parte da


composição dos átomos. Os nêutrons foram identificados pela primeira vez em
1932, pelo físico inglês James Chadwick (1891-1974). Esse cientista realizava
experimentos com radioatividade quando constatou a presença de uma partícula
que não possuía carga elétrica, ele a batizou de Nêutron (carga nula). O nome não
podia ser mais apropriado, uma vez que a falta de carga elétrica torna essa partícula
neutra. Ela se faz presente no núcleo do átomo juntamente com os prótons (que
possuem carga positiva). Os nêutrons possuem valores de massa próximos aos da
massa de prótons.

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Figura 6 - Emissão de partículas de nêutron

Raio X: Radiação eletromagnética altamente penentrante, similar aos raios gama.


São radiações eletromagnéticas de alta frequência, produzidas a partir da colisão
de feixes de elétrons com metais e essa radiação não pode ser percebida pelo olho
humano, pois está além da frequência máxima distinguida pela visão humana. Os
olhos são capazes de captar apenas um pequeno intervalo de frequência
das ondas eletromagnéticas que varia entre 750 nanômetros (
7,5  10 2  10 9  7,5  10 7 m 4  10 2  10 9  4  10 7 m
) e 400 nanômetros ( ),
referentes ao vermelho e ao violeta, ao qual damos o nome de espectro visível. A
maioria dos raios X possuem comprimentos de onda entre 0,01 a 10 nanometros,
correspondendo a frequências na faixa de 30 petahertz a 30 exahertz (
3  1016 H z a 3  1019 H z
) e energias entre 100 eV até 100 keV.

As principais propriedades dos raios X úteis para o radiodiagnóstico:

 Propagam-se em todas as direções e em linha reta;


 Provocam luminescência em determinados materiais metálicos;
 Enegrecem o filme fotográfico;
 São mais penetrantes quando têm energia mais alta, comprimento de onda
curto e frequência alta;
 Tornam-se mais penetrantes ao passarem por materiais absorvedores;
 Quanto maior for a voltagem do tubo gerador do raios X, melhor eles
atravessam um corpo;
 Produzem radiação espalhada ao atravessarem um corpo;
 Obedecem a lei do inverso do quadrado da distância (= 1/d2), ou seja, sua
intensidade é reduzida a medida que a distância aumenta nesta proporção;

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 Podem provocam mudanças biológicas, benignas ou malignas, ao interagir
com um corpo;
 Controle médico através de exames periódicos de acordo com o PCMSO e
PCA;
 Elaboração de planejamento para a escolha adequada dos protetores
auriculares.

Materiais radiativos no organismo e seus efeitos à saúde


A acumulação de radionuclídeos naturais no corpo humano é sobre todo resultado
da inalação e ingestão dos materiais radioativos presentes no ar, nos alimentos e
na água que possam ter sido contaminados. Podem ser destacados, a nível de
conhecimento, os os nuclídeos de Pb, Po, Bi, Ra, K, C, H, U e Th.

De acordo com a reportagem da revista VEJA, publicada pelo jornalista Marco Túlio
Pires em 18 de março de 2011, em pequenas doses, a exposição à radiação não
oferece riscos à saúde: o corpo tem tempo suficiente para substituir as células que
eventualmente tenham sido alteradas ou destruídas. Em doses extremas, é fatal: o
desastre nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, o mais grave da história,
matou 30 pessoas em apenas um mês e foi associado a 1.800 notificações de
câncer de tireoide. O Japão atravessa agora a pior crise nuclear desde o acidente
na usina soviética. O governo divulgou que pelo menos 20 pessoas foram expostas
à radiação que escapou da usina Fukushima, mas não detalhou as circunstâncias
ou a gravidade dos casos.

Chamada ionizante, a radiação emitida pelo combustível das usinas nucleares (em
geral urânio ou plutônio) tem a propriedade de alterar a carga elétrica dos
elementos das células humanas. A extensão dos danos à saúde depende da dose
e do tempo de exposição e até da região do corpo atingida. Os pulsos, por exemplo,
são mais resistentes à radiação. A medula óssea, ao contrário, é o órgão mais
sensível.

Na literatura médica, o câncer é um dos problemas mais associados à radiação.


Isso porque a radioatividade pode alterar o ‘relógio biológico’ das células, fazendo
com que cresçam desordenadamente, formando tumores. Os tumores induzidos

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pela radiação não aparecem antes de 10 anos a contar das doses recebidas. Em
caso de leucemia, o intervalo cai para dois anos. Esse período entre a exposição e
o aparecimento do câncer é chamado ‘período latente’.

Os cientistas ainda não têm dados precisos para determinar o risco de câncer
associado a uma dada exposição à radiação, mas existem estimativas. Sabe-se
que baixas dosagens não estão relacionadas ao câncer, daí por que são
normalmente seguros exames médicos como tomografia, raio-X e mamografia,
segundo a Health Physics Society (HPS), uma organização americana
especializada nos efeitos da radiação no corpo humano. Mas a partir de uma certa
dosagem, a associação entre radiação e câncer aparece.

De acordo com estimativa da Sociedade Americana do Câncer, em um grupo de


100 pessoas, 42 irão desenvolver câncer ao longo da vida. Se o grupo for exposto
a uma dose acumulada de 10 milisieverts (entenda o que é o Sievert), durante uma
tomografia computadorizada, por exemplo, as mesmas 42 desenvolverão a doença.
Mas, para uma dose acumulada de 50 milisieverts, 43 pessoas teriam câncer. A
partir deste patamar, o risco aumenta 0,17% a cada 10 milisieverts de radiação.

O que é Sievert?

Sievert (Sv) é uma unidade que mede os efeitos biológicos da radiação – os efeitos
físicos são mensurados por outra unidade, chamada gray (Gy). A dose de radiação
no tecido humano, em Sv, é encontrada pela multiplicação da dose medida
em gray por outros fatores que dependem do tipo de radiação, parte do corpo
atingida, tempo e intensidade de exposição.

Radioterapia – Muito do que se sabe sobre os efeitos da radiação ionizante na


saúde humana se deve à radioterapia, técnica aplicada no combate ao câncer que
submete o paciente a doses controladas de radiação. “Na radioterapia, dividimos
uma grande dose em várias sessões”, explica Artur Malzyner, oncologista do
Hospital Albert Einstein. Pacientes com câncer de pulmão, por exemplo, recebem
doses que se acumulam entre 2.000 e 3.000 milisieverts. Depois de 18 a 20
aplicações em regiões específicas do pulmão, a dose se completa em 50.000
milisieverts. Um ser humano pode morrer em poucas horas se seu corpo inteiro for
exposto à 50.000 milisieverts. Mas, Melzyner esclarece, como as doses são

23
localizadas, “apenas a região onde está o tumor é atingida”. De acordo com
Malzyner, o primeiro sintoma causado pelo envenenamento por radiação é a
náusea. “É o efeito clínico mais comum”, diz Malzyner. Se a dose aumentar, a
radiação começa a atingir outros tecidos humanos, em particular a medula óssea,
responsável pela formação das células sanguíneas. “Em 30 dias a pessoa se torna
anêmica e incapaz de se defender contra doenças”, diz o oncologista.

https://veja.abril.com.br/saude/os-efeitos-da-radioatividade-no-corpo-humano/

Uma outra reportagem, essa publicada pela BBC em 12 de abril de 2011, relata
sobre os efeitos da radiação no corpo humano e responde a algumas perguntas:

Quais são os efeitos imediatos da exposição à radioatividade?

Exposição a níveis moderados de radiação - acima de um gray (a medida padrão


da dose absorvida pelo corpo) - podem resultar em náusea e vômitos, seguidos de
diarreia, dores de cabeça e febre.

Depois da primeira série de sintomas, pode haver breve período sem qualquer
problema aparente, mas algumas semanas depois, os sintomas podem voltar ainda
mais fortes.

Com níveis mais altos de radiação, todos esses sintomas podem ser imediatamente
aparentes, assim como lesões - possivelmente fatais - aos órgãos internos.

Normalmente, a exposição a uma dose de quatro grays mataria cerca de metade


dos adultos saudáveis.

Em comparação, o tratamento com radiação contra câncer geralmente utiliza várias


doses entre um e sete grays de cada vez, mas as doses são altamente controladas
e normalmente dirigidas a uma área específica do corpo.

E os efeitos de longo prazo?

Câncer é o maior risco de longo prazo. Normalmente quando as células do corpo


atingem sua "data de validade", elas cometem suicídio. O câncer aparece quando
as células perdem esta habilidade e efetivamente se tornam imortais, continuando
a se dividir e se multiplicar de forma descontrolada.

24
O corpo tem vários processos para garantir que as células não se tornem
cancerosas, mas os danos causados por exposição à radiação podem atrapalhar
esses processos de controle, fazendo com que o câncer se torne muito mais
provável.

O fracasso em consertar de forma efetiva os danos causados pela radiação


também podem gerar mutações genéticas não apenas associadas ao câncer, mas
que também podem ser passadas para os filhos, levando a deformidades em
futuras gerações. Entre os problemas que podem surgir daí estão mudanças no
tamanho da cabeça e do cérebro, má formação dos olhos, problemas de
crescimento e de aprendizado.

As crianças são mais vulneráveis a problemas causados pela radioatividade?

Potencialmente sim, porque como elas estão crescendo mais rapidamente, mais
células estão se dividindo, e as chances de mais coisas darem errado se torna
maior.

Após o acidente nuclear em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, a Organização


Mundial de Saúde notou um aumento significativo na incidência de câncer de
tireoide em crianças das redondezas.

Isso aconteceu porque materiais radioativos liberados no acidente continham altos


níveis de iodo radioativo, uma substância que se acumula na tireoide.

Diferentes tipos de radiação emitem partículas e raios tão fortes que


podem atravessar o corpo humano e alterá-lo a nível celular. A figura 7 demonstra
a capacidade de penetração e passagem de barreiras de cada tipo de radiação
ionizante.

https://radioprotecaonapratica.com.br/efeitos-da-radiacao-no-corpo-humano/

25
Figura 7 – Capacidade de penetração de cada tipo de radiação por tipo de barreira.

Sabe-se que a radiação pode produzir efeitos em nível celular, causando sua morte
ou modificação, devido aos danos causados nas fitas do ácido desoxirribonucleico
(DNA) em um cromossomo.

Quando o número de células afetadas ou até mesmo mortas for grande o suficiente,
a radiação poderá resultar na disfunção e morte dos órgãos atingidos.

Outra influência da radiação sobre o DNA são os danos que não causam a morte
celular. Esses tipos de dano são normalmente reparados por inteiro, mas caso isso
não ocorra, a modificação resultante – conhecida como mutação celular – causará
reflexo nas divisões celulares subsequentes.

Se as células modificadas forem aquelas que transmitem a informação hereditária


aos descendentes, desordens genéticas podem surgir.

Com base na observação de sua ocorrência, efeitos na saúde advindos da


exposição à radiação são definidos aqui tanto como efeitos imediatos à saúde,
quanto tardios.

Geralmente, efeitos imediatos à saúde são evidentes através do diagnóstico de


síndromes clinicamente verificadas nos indivíduos, e os efeitos tardios são
verificados através de estudos epidemiológicos feitos pela observação do aumento
da incidência da doença em uma população.

26
A figura 8 demonstra as consequências das radiações ionizantes na estrutura do
DNA.

Figura 8 - Efeitos da radiação no DNA.

A exposição a radiações pode trazer, em linhas gerais, dois tipos de danos ao


organismo, sendo um deles a deteriorização celular devido ao calor gerado pela
emissão de energia radioativa, e o outro consiste na ionização e divisão
desordenada das células.

O calor emitido pela radiação é tão forte que pode queimar bem mais do que a
exposição prolongada ao Sol. Portanto, um contato com partículas radioativas pode
deixar a pele do indivíduo totalmente danificada, uma vez que as células não
resistem ao calor emitido pela reação.

A ionização e fragmentação celular implicam em problemas de mutação genética


durante a gestação de fetos, que nascem prematuramente ou, quando dentro do
período de nove meses, nascem com graves problemas de má formação.

As partículas radioativas têm alta energia cinética, ou seja, se movimentam


rapidamente. Quando tais partículas atingem as células dentro do corpo, elas
provocam a ionização celular. Células transformadas em íons podem remover
elétrons, portanto, a ionização enfraquece as ligações. E o resultado? Células
modificadas e, consequentemente, mutações genéticas.

27
Doses agudas maiores que 50 Gy danificam o sistema nervoso central de tal forma
que a morte ocorre em poucos dias. Mesmo para doses inferiores a 8 Gy, as
pessoas apresentam sintomas de doença causada por radiação, também
conhecida como síndrome aguda da radiação, que podem incluir náusea, vômitos,
diarréia, cólicas intestinais, salivação, desidratação, fadiga, apatia, letargia,
sudorese, febre, dor de cabeça e pressão baixa. O termo aguda refere-se a
problemas médicos que ocorrem imediatamente após a exposição, em vez
daqueles que se desenvolvem após um período prolongado. Ainda assim, as
vítimas podem sobreviver no início, chegando a óbito por um problema
gastrointestinal, uma ou duas semanas depois. Doses menores podem não causar
danos gastrointestinais, mas ainda causam a morte após alguns meses,
principalmente devido a danos na medula óssea. Mesmo doses menores irão
retardar o início de doenças e produzirão menos sintomas severos. Cerca de
metade daqueles que recebem doses de 2 Gy sofrem com vômitos cerca de três
horas após a exposição, mas isso é raro com doses abaixo de 1 Gy.

O processo de ionização, ao alterar os átomos, também pode modificar a estrutura


das moléculas que os contêm. Se a energia de excitação ultrapassar a energia de
ligação entre os átomos, pode ocorrer quebra das ligações químicas e
consequentes mudanças moleculares. De toda a energia transferida pela radiação
ao tecido, metade dela induz excitações, cujas consequências são menores que as
de ionização. Se as moléculas alteradas compõem uma célula, esta pode sofrer as
consequências de suas alterações, direta ou indiretamente, com a produção de
radicais livres, íons e elétrons. Os efeitos da radiação dependem da dose, taxa de
dose, do fracionamento, do tipo de radiação, do tipo de célula ou tecido e do
indicador (endpoint) considerado.

Tais alterações nem sempre são nocivas ao organismo humano. Se a substância


alterada possui um papel crítico para o funcionamento da célula, pode resultar na
alteração ou na morte da célula. Em muitos órgãos e tecidos o processo de perda
e reposição celular, faz parte de sua operação normal. Quando a mudança tem
caráter deletério, ela significa um dano.

https://radioprotecaonapratica.com.br/efeitos-da-radiacao-no-corpo-humano/

28
Desenho dos postos de trabalho para a segurança
radiológica
Os perigos que compreendem a manipulação e uso de fontes de radiação exigem
características especiais de desenho e projeto de postos de trabalho. Estas
características especiais de desenho são para assegurar que os trabalhadores que
vierem a realizar quaisquer atividades com alguma fonte radioativa, as façam com
o maior grau de segurança possível de forma a buscar evitar o risco de exposições
inadvertidas.

O acesso a todas as áreas que possam produzir exposições a fontes radioativas


deverá ser rigorosamente controlada, não somente ao que tange a entrada e saída
de pessoas permitidas a acessar o local, mas também no que diz respeito a tipos
de vestimentas e equipamentos de proteção individual e coletiva e procedimentos
a serem cumpridos. A gestão destas medidas de controle são de grande valia para
realizar a classificação das zonas de trabalho onde possa ou não existir a
possibilidade de exposição a emissão de radiações e a determinação destes
conceitos de classificação das zonas de trabalho logo na fase de planejamento e
antecipação dos riscos, permitirá que as instalações de trabalho com esse tipo de
risco possuam, depois, todas as características necessárias para se ter operações
com fontes radioativas com menor grau de perigo possível.

De acordo com a International Atomic Energy Agency – IAEA, a base de


classificação de zona de trabalho é a agrupação dos radionuclídeos segundo as
suas toxicidades relativas por unidade de atividade. No grupo 1 deverão entrar os
radionuclídeos de toxicidade muito elevada, no grupo 2 os de toxicidade elevada,
no grupo 3 os de toxicidade moderada e no grupo 4 os de toxicidade baixa. A tabela
2 demonstra a classificação de alguns radionuclídeos por grupo de toxicidade.

Grupo 1: Toxicidade muito elevada


210 210 232
Pb Po U
Grupo 2: Toxicidade elevada
22 36 224
Na Cl Ra
Grupo 3: Toxicidade elevada
14 18 203
C F Hg
Grupo 4: Toxicidade baixa
3 15 59
H O Ni

Tabela 2 – Classificação dos radionuclídeos pela radiotoxicidade relativa de uma unidade de atividade.

29
Ainda segundo a IAEA, cada grupo deverá direcionar a classificação das zonas de
trabalho conforme descrito na tabela 3.

Tipo Definição Controle de Acesso Operações Típicas

1 Zonas em que os Acesso controlado Laboratórios de


níveis de dose somente para fontes radioativas e
absorvidos da trabalhadores zonas muito
radiação externa ou expostos e com contaminadas.
de contaminação condições
radiotiva poderão adequadas de
ser altos, trabalho com
controle restrito.

2 Zonas em que Acesso limitado a Fábricas de


podem existir apenas lâmpadas e
níveis de radiação trabalhadores luminárias, outras
externa e a expostos e com instalações
possibilidade de vestimenta e equivalentes.
contaminação exige calçado apropriado
instruções de para o risco.
operação.

Tipo Definição Controle de Acesso Operações Típicas

3 Zonas em que os Acesso limitado Zona de trabalho no


níveis de radiação apenas a raio de ação da
externa são trabalhadores vizinhança mais
menores que 1 expostos, sem próxima da área de
mGyxsem-1 e a necessidade de operação
possibildade de roupas protetoras. radiológica.
contaminação

30
radioativa exige Exemplo: Salas de
instruções de controle.
operações
especiais.

4 Zonas dentro da Sem necessidade de Zonas de


fronteira de uma controle de acesso e administração e
instalação de restrição de entrada sala de espera de
irradiação onde os e saída de pessoas. pacientes, por
níveis de radiações exemplo.
externas são
inferiores a 0,1
mGyxsem-1 e não
existe a
possibilidade de
contaminação
radioativa.

Vigilância e sinalização dos locais de trabalho


A vigilância do entorno do local de trabalho com fontes radioativas é necessária de
forma a evitar que haja exposições inadvertidas por pessoas que não conheçam
dos riscos inerentes a exposições a emissões radioativas. Faz-se necessário,
então, adotar medidas de controle de vigilância, controle de acesso, procedimentos
escritos, etc; com o objetivo de restringir ao máximo a possibilidade de algum desvio
dessa natureza.

Uma medida importante que deve ser adotada é de, quando for adotada uma nova
fonte radioativa dentro de um processo de trabalho, faz-se necessário o
estabelecimento de uma política rígida de vigilância, realizando um estudo
detalhado sobre as características da fonte de emissão radioativa e estabelecer,
com isso, um procedimento claro e objetivo com as diretrizes mínimas necessárias
para controle, manuseio, isolamento de área, fichas de preenchimento, medições
ambientais, protocolos de controle médico dos expostos, etc.

31
O planejamento de controle de vigilância das operações com materiais radioativos
depende, em grande parte, se as operações a serem realizadas influenciam nos
campos de radiação ou se estes permanceram constantes durante todas as
operações normais. O planejamento detalhado de controle depende, sobretudo, da
forma de operação e das condições locais.

Os principais objetivos de um programa de vigilância de contaminação superficial,


por exemplo, são:

 Ajudar a prevenir a difusão da contaminação radioativa;


 Detectar falhas de contenção ou de desvios sobre os procedimentos
operacionais estabelecidos;
 Limitar a contaminação superficial a níveis aceitáveis perante os
estabelecidos em normas e protocolos de controle nacional e internacional;
 Ter e manter o controle biologico através de monitoramento individual
através de dosímetro.

A vigilância dos materiais radioativos transportados pelo ar é importante porque a


inalação são a principal via de captação destes materiais pelos trabalhadores
expostos. É necessário, com isso, estabelecer uma vigilância sistemática dos
postos de trabalho em relação com as contaminações aéreas em virtude de:

 Quando se manipular grande quantidade de materiais voláteis ou gasosos;


 Quando a manipulação de qualquer material radioativo nestas operações
der lugar a contaminação frequente e substancial;
 Durante o processamento e manipulação de materiais de toxicidade
moderada a alta, muito alta;
 Durante a manipulação de radionuclídeos terapêuticos não selados em
hospitais.

A forma mais ampla e rápida de vigilância de possíveis contaminações do ar é com


a utilização de amostradores, sejam os de ambientes, sejam os de uso pessoal.

32
Instrumentos de monitoramento e controle
Existem diversos tipos de detectores associados com dispositivos de medição que
se empregam para controlar ou para medir as radiações. Nenhum deles se podem
utilizar de maneira universal e para cada medição (ou tipo de medição) de radiação
é de primordial importância selecionar adequadamente o detector mais adequado
para cada situação.

O controle da radiação inclui as medições dos campos de radiação no raio de ação


de onde se encontra a fonte radioativa, medições em superfícies contaminadas e a
radioatividade emitida presente no ar. Estes procedimentos de controle são, por
vezes, conhecidos como “inspeções de processos radioativos”.

Dosímetro Fotográfico

O dosímetro fotográfico usado sobre a roupa, é um exemplo de um controle pessoal


de radiação. A radiação interage com os átomos que se encontram na película
fotográfica, modificando (exposição) a película da mesma maneira que os raios
luminosos. Logo, se compara o grau de escurecimento da película com uma outra
película de controle que não foi exposta a radiação, com isso se estabelece a
quantidade de exposição recebida.

Neste tipo de dosímetro as dosimétricas são indiretas. Após a interação da


radiação no filme, utiliza-se a densidade ótica produzida na emulsão
fotográfica, após processo de revelação em químicos para determinar a medida
dosimétrica. Eles se constituem em uma chapa fotográfica sensível à radiação beta,
raio x, gama e nêutrons; protegida da luz e colocada em um chassis. Consta de
uma base de acetato de celulose ou de algum plástico, revestido por ambos os
lados com uma chapa fotosensível.

Este tipo de sensor permite avaliação de doses no intervalo de 10 mR a


1800 mR, para fótons e possibilita dosimetria beta com energia superior a
400kVe, num intervalo entre 0,5 mGy (50mrad) e 10 Gy (1000mrad). Para isto é
necessário a calibração do sistema em função dos tipos de filmes utilizados e das
condições de processamento dos filmes.

33
A figura 9 demonstra um modelo de dosímetro fotográfico para controle de
exposições pessoais, onde a placa interna permite um registro permanente de dose
enquanto houver exposições a fontes radioativas no ambiente.

Figura 9 – Modelo de dosímetro do tipo fotográfico.

Dosímetro de Bolso

O dosímetro de bolso é uma unidade portátil de leitura direta que possui a forma de
uma caneta com um clip para ser afixado ao bolso da camisa ou do uniforme. Em
geral, são empregadas para medir radiações X e gama. A principal vantagem deste
tipo de dosímetro é que permite a cada indivíduo estabelecer sua dose de radiação
enquanto estiver trabalhando, enquanto que no modelo fotográfico é necessário
realizar o procedimento de comparação de filmes para saber o nível de radiação
recebido.

A figura 10 demonstra um esquema detalhado deste tipo de dosímetro que indica


a quantidade de radiação X e/ou gama.

Figura 10 – Modelo de dosímetro de bolso.

Contadores de Geiger-Mueller

Um contador de Geiger-Mueller se emprega para situações de inspeções em geral,


já que tem a possibilidade de detectar pequenos níveis de radiação presentes no
ambiente. Este tipo de medidor é constituído de uma câmara de ionização que

34
contém um gás especial e possui uma voltagem maior entre seus eletrodos, de
maneira que para provocar uma descarga são necessários um número muito
pequeno de íons. Os elétrons são liberados por um processo de ionização inicial e
adquirem energia suficiente através da voltagem para criar ainda mais íons. Este
instrumento não possui resposta uniforme para diferentes níveis de radiação e
somente tem resposta assertiva quando são calibrados para o tipo de energia iônica
que irão monitorar.

A figura 11 demonstra um modelo de um contador de Geiger-Mueller e a interação


da radiação ionizante com o dispositivo.

Figura 11 – Modelo de contador de Geiger-Mueller.

Fatores básicos de prevenção de acidentes

Para os perigos de exposição a radiação externa, as medidas básicas de proteção


estão associadas a: 1) tempo; 2) distância; 3) blindagens.

Tempo

Quanto mais prolongada for a exposição, maior será a possibilidade de dano


causados pela radiação. Como existe uma relação direta entre a magnitude da dose
e a duração da exposição, a redução do tempo a metade também reduzirá a metade
a dose recebida.

35
Para realizar uma tarefa é necessário planejar e calcular o tempo de necessidade
de utilização de uma fonte radioativa e o grau de exposição pode ser conhecido
através de medições de leitura direta como é o caso de utilização de um dosímetro,
ou também através de aparelhos que emitam sinais sonoros “chiantes”, como é o
caso do contador Geiger-Mueller quando deparados com níveis de exposições a
radiações.

Distância

Para estabelecer a variação da exposição a radiação penetrante externa em


respeito a variação da distância de uma fonte de radiação, se pode aplicar o
conceito da lei do inverso do quadrado da distância.

Uma fonte de radiação emite radiação em todas as direções. Isso implica


necessariamente que nem toda a radiação que uma fonte emite é capaz de atingir
um indivíduo. A radiação emitida na direção oposta à do indivíduo, por exemplo,
não o atinge. A uma dada distância de uma fonte, apenas uma determinada parcela
das emissões, atinge um indivíduo. À medida que nos afastamos da fonte, como o
feixe de radiação é divergente, uma parcela menor deste feixe atinge o indivíduo.
Quando as dimensões da fonte são significativamente menores do que o indivíduo
irradiado, esta relação geométrica é conhecida como “lei do inverso do quadrado
da distância”. Neste caso, ao dobrar a distância, diminuímos a dose para um quarto
do valor inicial.

A figura 12 demonstra esse fator geométrico de diminuição da dose. Pode ser visto
que que parte do feixe que atingiria o indivíduo no ponto A, mais perto da fonte,
não o atinge se ele se afastar para o ponto B, logo, a essa distância, a dose é menor
que no ponto A.

Figura 12 – Demonstração da Lei do Inverso do Quadrado da Distância.

36
Blindagem

É muito comum a utilização de blindagem para proteger-se contra fontes


radioativas. Quanto maior for a massa que se coloca entre uma fonte e a pessoa,
menor será a radiação que esta pessoa receberá.

Inicialmente, é importante lembrar que a radiação ionizante interage com qualquer


meio material, provocando ionizações nos átomos do meio e depositando energia
em seu percurso. Assim, qualquer material pode servir como blindagem. Como os
diferentes tipos de radiação interagem de maneira diferente com a matéria, é de se
esperar que os materiais adequados como blindagem também variem conforme o
tipo de radiação. Assim, os diferentes materiais podem ter maior ou menor
eficiência como blindagem, dependendo do tipo de radiação.

Serão destacados a seguir alguns exemplos de materiais adequados para


blindagem, conforme o tipo de radiação.

 Para a radiação gama ou os raios X, o chumbo é uma escolha adequada.


Há outros materiais bastante utilizados como o concreto, em salas de
radioterapia, e argamassas baritadas, utilizadas em salas de raios X-
diagnóstico. Há algumas aplicações em que o tungstênio pode ser a escolha
mais adequada;
 Para a radiação beta, é conveniente fazer uso de materiais de número
atômico baixo, tais como acrílico, plásticos, madeira e até mesmo água;
 Para a radiação alfa, uma simples folha de papel é suficiente como
blindagem, bem como alguns centímetros de ar;
 Para nêutrons, conforme sua energia, materiais hidrogenados como parafina
ou água são escolhas adequadas. Cádmio também pode ser um material
adequado.

A escolha de um material como blindagem, deve levar em consideração diversos


fatores, tais como: sua eficiência, custo, facilidade de instalação, capacidade
estrutural e até mesmo aspectos estéticos.

37
A figura 13 demonstra um biombo de alvenaria com massa baritada e vidro
plumbífero em sala de raios X diagnóstico, como um exemplo de barreira.

Figura 13 – Biombo de alvenaria com massa baritada e vidro plumbífero em sala de raios X diagnóstico

Sinalização

Uma área considerada como sendo de risco de exposição a radiações ionizantes


devem ser controladas e devem ter informações claras e objetivas, bem como
sinalização que demonstre que há uma preocupação com o risco de exposição
radiológica e o controle efetivo. Para isso, é necessário que haja sinalização e
frases chamativas que demonstrem o seguinte: “CUIDADO, ÁREA COM RISCO
DE RADIAÇÃO”, “PERIGO, FONTE RADIOATIVA””, ÁREA COM ALTOS NÍVEIS
DE RADIAÇÃO, NÃO ENTRE”, são alguns exemplos.

A figura 14 demonstra alguns modelos de placas de sinalização de perigo e da


atenção que se deve ter em caso de atividades que envolvam radiações ionizantes.

38
Figura 14 – Placas de sinalização de perigo de radiação ionizante.

A radiação ionizante VS a legislação brasileira

O risco físico denominado radiações ionizantes está presente em diversos itens das
normas brasileiras que tratam de saúde e segurança do trabalho, tendo destaque
as NR-7, NR-15 e NR-32, além dos textos descritos pela previdência social.

A NR-7 (Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional - PCMSO), em seu


quadro 2, determina que os exames médicos para uma pessoa exposta a radiação
ionizante deverá ser: Hemograma completo e contagem de plaquetas e a
periodicidade deverá ser semestral, começando a ser feito já no exame
admissional.

Já a NR-15 (Atividades e operações insalubres), em seu Anexo nº 5 informa que


nas atividades ou operações onde trabalhadores possam ser expostos a radiações
ionizantes, os limites de tolerância, os princípios, as obrigações e controles básicos
para a proteção do homem e do seu meio ambiente contra possíveis efeitos
indevidos causados pela radiação ionizante, são os constantes da Norma CNEN-
NN-3.01:

Diretrizes Básicas de Proteção Radiológica", de março de 2014, aprovada pela


Resolução CNEN nº 164/2014, ou daquela que venha a substituí-la. (Redação dada
pela Portaria MTB 1.084/2018). Anexo 5, NR 15.

E no caso da NR-32 (Segurança e Saúde no Trabalho em Serviços de Saúde), no


item 32.4 informa o seguinte:

32.4 Das Radiações Ionizantes

32.4.1 O atendimento das exigências desta NR, com relação às radiações


ionizantes, não desobriga o empregador de observar as disposições estabelecidas

39
pelas normas específicas da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN e da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA, do Ministério da Saúde.

32.4.2 É obrigatório manter no local de trabalho e à disposição da inspeção do


trabalho o Plano de Proteção Radiológica - PPR, aprovado pela CNEN, e para os
serviços de radiodiagnóstico aprovado pela Vigilância Sanitária.

32.4.2.1 O Plano de Proteção Radiológica deve:

a) estar dentro do prazo de vigência;

b) identificar o profissional responsável e seu substituto eventual como membros


efetivos da equipe de trabalho do serviço;

c) fazer parte do PPRA do estabelecimento;

d) ser considerado na elaboração e implementação do PCMSO;

e) ser apresentado na CIPA, quando existente na empresa, sendo sua cópia


anexada às atas desta comissão.

32.4.3 O trabalhador que realize atividades em áreas onde existam fontes de


radiações ionizantes deve:

a) permanecer nestas áreas o menor tempo possível para a realização do


procedimento;

b) ter conhecimento dos riscos radiológicos associados ao seu trabalho;

c) estar capacitado inicialmente e de forma continuada em proteção radiológica;

d) usar os EPI adequados para a minimização dos riscos;

e) estar sob monitoração individual de dose de radiação ionizante, nos casos em


que a exposição seja ocupacional.

32.4.4 Toda trabalhadora com gravidez confirmada deve ser afastada das
atividades com radiações ionizantes, devendo ser remanejada para atividade
compatível com seu nível de formação.

40
32.4.5 Toda instalação radiativa deve dispor de monitoração individual e de áreas.

32.4.5.1 Os dosímetros individuais devem ser obtidos, calibrados e avaliados


exclusivamente em laboratórios de monitoração individual acreditados pela CNEN.

32.4.5.2 A monitoração individual externa, de corpo inteiro ou de extremidades,


deve ser feita através de dosimetria com periodicidade mensal e levando-se em
conta a natureza e a intensidade das exposições normais e potenciais previstas.

32.4.5.3 Na ocorrência ou suspeita de exposição acidental, os dosímetros devem


ser encaminhados para leitura no prazo máximo de 24 horas.

32.4.5.4 Após ocorrência ou suspeita de exposição acidental a fontes seladas,


devem ser adotados procedimentos adicionais de monitoração individual, avaliação
clínica e a realização de exames complementares, incluindo a dosimetria cito
genética, a critério médico.

32.4.5.5 Após ocorrência ou suspeita de acidentes com fontes não seladas, sujeitas
a exposição externa ou com contaminação interna, devem ser adotados
procedimentos adicionais de monitoração individual, avaliação clínica e a
realização de exames complementares, incluindo a dosimetria cito genética, a
análise in vivo e in vitro, a critério médico.

32.4.5.6 Deve ser elaborado e implementado um programa de monitoração


periódica de áreas, constante do Plano de Proteção Radiológica, para todas as
áreas da instalação radiativa.

32.4.6 Cabe ao empregador:

a) implementar medidas de proteção coletiva relacionadas aos riscos radiológicos;

b) manter profissional habilitado, responsável pela proteção radiológica em cada


área específica, com vinculação formal com o estabelecimento;

c) promover capacitação em proteção radiológica, inicialmente e de forma


continuada, para os trabalhadores ocupacionalmente e para-ocupacionalmente
expostos às radiações ionizantes;

41
d) manter no registro individual do trabalhador as capacitações ministradas;

e) fornecer ao trabalhador, por escrito e mediante recibo, instruções relativas aos


riscos radiológicos e procedimentos de proteção radiológica adotados na instalação
radiativa;

f) dar ciência dos resultados das doses referentes às exposições de rotina,


acidentais e de emergências, por escrito e mediante recibo, a cada trabalhador e
ao médico coordenador do PCMSO ou médico encarregado dos exames médicos
previstos na NR- 07.

32.4.7 Cada trabalhador da instalação radiativa deve ter um registro individual


atualizado, o qual deve ser conservado por 30 (trinta) anos após o término de sua
ocupação, contendo as seguintes informações:

a) identificação (Nome, DN, Registro, CPF), endereço e nível de instrução;

b) datas de admissão e de saída do emprego;

c) nome e endereço do responsável pela proteção radiológica de cada período


trabalhado;

d) funções associadas às fontes de radiação com as respectivas áreas de trabalho,


os riscos radiológicos a que está ou esteve exposto, data de início e término da
atividade com radiação, horários e períodos de ocupação;

e) tipos de dosímetros individuais utilizados;

f) registro de doses mensais e anuais (doze meses consecutivos) recebidas e


relatórios de investigação de doses;

g) capacitações realizadas;

h) estimativas de incorporações;

i) relatórios sobre exposições de emergência e de acidente;

j) exposições ocupacionais anteriores a fonte de radiação.

42
32.4.7.1 O registro individual dos trabalhadores deve ser mantido no local de
trabalho e à disposição da inspeção do trabalho.

32.4.8 O prontuário clínico individual previsto pela NR-07 deve ser mantido
atualizado e ser conservado por 30 (trinta) anos após o término de sua ocupação.

32.4.9 Toda instalação radiativa deve possuir um serviço de proteção radiológica.

32.4.9.1 O serviço de proteção radiológica deve estar localizado no mesmo


ambiente da instalação radiativa e serem garantidas as condições de trabalho
compatíveis com as atividades desenvolvidas, observando as normas da CNEN e
da ANVISA.

32.4.9.2 O serviço de proteção radiológica deve possuir, de acordo com o


especificado no PPR, equipamentos para:

a) monitoração individual dos trabalhadores e de área;

b) proteção individual;

c) medições ambientais de radiações ionizantes específicas para práticas de


trabalho.

32.4.9.3 O serviço de proteção radiológica deve estar diretamente subordinado ao


Titular da instalação radiativa.

32.4.9.4 Quando o estabelecimento possuir mais de um serviço, deve ser indicado


um responsável técnico para promover a integração das atividades de proteção
radiológica destes serviços.

32.4.10 O médico coordenador do PCMSO ou o encarregado pelos exames


médicos, previstos na NR-07, deve estar familiarizado com os efeitos e a
terapêutica associados à exposição decorrente das atividades de rotina ou de
acidentes com radiações ionizantes.

32.4.11 As áreas da instalação radiativa devem ser classificadas e ter controle de


acesso definido pelo responsável pela proteção radiológica.

43
32.4.12 As áreas da instalação radiativa devem estar devidamente sinalizadas em
conformidade com a legislação em vigor, em especial quanto aos seguintes
aspectos:

a) utilização do símbolo internacional de presença de radiação nos acessos


controlados;

b) as fontes presentes nestas áreas e seus rejeitos devem ter as suas embalagens,
recipientes ou blindagens identificadas em relação ao tipo de elemento radioativo,
atividade e tipo de emissão;

c) valores das taxas de dose e datas de medição em pontos de referência


significativos, próximos às fontes de radiação, nos locais de permanência e de
trânsito dos trabalhadores, em conformidade com o disposto no PPR;

d) identificação de vias de circulação, entrada e saída para condições normais de


trabalho e para situações de emergência;

e) localização dos equipamentos de segurança;

f) procedimentos a serem obedecidos em situações de acidentes ou de


emergência;

g) sistemas de alarme.

32.4.13 Do Serviço de Medicina Nuclear

32.4.13.1 As áreas supervisionadas e controladas de Serviço de Medicina Nuclear


devem ter pisos e paredes impermeáveis que permitam sua descontaminação.

32.4.13.2 A sala de manipulação e armazenamento de fontes radioativas em uso


deve:

a) ser revestida com material impermeável que possibilite sua descontaminação,


devendo os pisos e paredes ser providos de cantos arredondados;

b) possuir bancadas constituídas de material liso, de fácil descontaminação,


recobertas com plástico e papel absorvente;

44
c) dispor de pia com cuba de, no mínimo, 40 cm de profundidade, e acionamento
para abertura das torneiras sem controle manual.

32.4.13.2.1 É obrigatória a instalação de sistemas exclusivos de exaustão:

a) local, para manipulação de fontes não seladas voláteis;

b) de área, para os serviços que realizem estudos de ventilação pulmonar.

32.4.13.2.2 Nos locais onde são manipulados e armazenados materiais radioativos


ou rejeitos, não é permitido:

a) aplicar cosméticos, alimentar-se, beber, fumar e repousar;

b) guardar alimentos, bebidas e bens pessoais.

32.4.13.3 Os trabalhadores envolvidos na manipulação de materiais radioativos e


marcação de fármacos devem usar os equipamentos de proteção recomendados
no PPRA e PPR.

32.4.13.4 Ao término da jornada de trabalho, deve ser realizada a monitoração das


superfícies de acordo com o PPR, utilizando- se monitor de contaminação.

32.4.13.5 Sempre que for interrompida a atividade de trabalho, deve ser feita a
monitoração das extremidades e de corpo inteiro dos trabalhadores que manipulam
radiofármacos.

32.4.13.6 O local destinado ao decaimento de rejeitos radioativos deve:

a) ser localizado em área de acesso controlado;

b) ser sinalizado;

c) possuir blindagem adequada;

d) ser constituído de compartimentos que possibilitem a segregação dos rejeitos


por grupo de radionuclídeos com meia-vida física próxima e por estado físico.

32.4.13.7 O quarto destinado à internação de paciente, para administração de


radiofármacos, deve possuir:

45
a) blindagem;

b) paredes e pisos com cantos arredondados, revestidos de materiais


impermeáveis, que permitam sua descontaminação;

c) sanitário privativo;

d) biombo blindado junto ao leito;

e) sinalização externa da presença de radiação ionizante;

f) acesso controlado.

32.4.14 Dos Serviços de Radioterapia 32.4.14.1 Os Serviços de Radioterapia


devem adotar, no mínimo, os seguintes dispositivos de segurança:

a) salas de tratamento possuindo portas com sistema de intertravamento, que


previnam o acesso indevido de pessoas durante a operação do equipamento;

b) indicadores luminosos de equipamento em operação, localizados na sala de


tratamento e em seu acesso externo, em posição visível.

32.4.14.2 Da Braquiterapia

32.4.14.2.1 Na sala de preparo e armazenamento de fontes é vedada a prática de


qualquer atividade não relacionada com a preparação das fontes seladas.

32.4.14.2.2 Os recipientes utilizados para o transporte de fontes devem estar


identificados com o símbolo de presença de radiação e a atividade do radionuclídeo
a ser deslocado.

32.4.14.2.3 No deslocamento de fontes para utilização em braquiterapia deve ser


observado o princípio da otimização, de modo a expor o menor número possível de
pessoas.

32.4.14.2.4 Na capacitação dos trabalhadores para manipulação de fontes seladas


utilizadas em braquiterapia devem ser empregados simuladores de fontes.

46
32.4.14.2.5 O preparo manual de fontes utilizadas em braquiterapia de baixa taxa
de dose deve ser realizado em sala específica com acesso controlado, somente
sendo permitida a presença de pessoas diretamente envolvidas com esta atividade.

32.4.14.2.6 O manuseio de fontes de baixa taxa de dose deve ser realizado


exclusivamente com a utilização de instrumentos e com a proteção de anteparo
plumbífero.

32.4.14.2.7 Após cada aplicação, as vestimentas de pacientes e as roupas de cama


devem ser monitoradas para verificação da presença de fontes seladas.

32.4.15 Dos serviços de radiodiagnóstico médico

32.4.15.1 É obrigatório manter no local de trabalho e à disposição da inspeção do


trabalho o Alvará de Funcionamento vigente concedido pela autoridade sanitária
local e o Programa de Garantia da Qualidade.

32.4.15.2 A cabine de comando deve ser posicionada de forma a:

a) permitir ao operador, na posição de disparo, eficaz comunicação e observação


visual do paciente;

b) permitir que o operador visualize a entrada de qualquer pessoa durante o


procedimento radiológico.

32.4.15.3 A sala de raios X deve dispor de:

a) sinalização visível na face exterior das portas de acesso, contendo o símbolo


internacional de radiação ionizante, acompanhado das inscrições: "raios X, entrada
restrita" ou "raios X, entrada proibida a pessoas não autorizadas".

b) sinalização luminosa vermelha acima da face externa da porta de acesso,


acompanhada do seguinte aviso de advertência:

"Quando a luz vermelha estiver acesa, a entrada é proibida". A sinalização luminosa


deve ser acionada durante os procedimentos radiológicos.

32.4.15.3.1 As portas de acesso das salas com equipamentos de raios X fixos


devem ser mantidas fechadas durante as exposições.

47
32.4.15.3.2 Não é permitida a instalação de mais de um equipamento de raios X
por sala.

32.4.15.4 A câmara escura deve dispor de:

a) sistema de exaustão de ar localizado;

b) pia com torneira.

32.4.15.5 Todo equipamento de radiodiagnóstico médico deve possuir diafragma e


colimador em condições de funcionamento para tomada radiográfica.

32.4.15.6 Os equipamentos móveis devem ter um cabo disparador com um


comprimento mínimo de 2 metros.

32.4.15.7 Deverão permanecer no local do procedimento radiológico somente o


paciente e a equipe necessária.

32.4.15.8 Os equipamentos de fluoroscopia devem possuir:

a) sistema de intensificação de imagem com monitor de vídeo acoplado;

b) cortina ou saiote plumbífero inferior e lateral para proteção do operador contra


radiação espalhada;

c) sistema para garantir que o feixe de radiação seja completamente restrito à área
do receptor de imagem;

d) sistema de alarme indicador de um determinado nível de dose ou exposição.

32.4.15.8.1 Caso o equipamento de fluoroscopia não possua o sistema de alarme


citado, o mesmo deve ser instalado no ambiente.

32.4.16 Dos Serviços de Radiodiagnóstico Odontológico 3

2.4.16.1 Na radiologia intra-oral:

a) todos os trabalhadores devem manter-se afastados do cabeçote e do paciente a


uma distância mínima de 2 metros;

48
b) nenhum trabalhador deve segurar o filme durante a exposição;

c) caso seja necessária a presença de trabalhador para assistir ao paciente, esse


deve utilizar os EPIs.

32.4.16.2 Para os procedimentos com equipamentos de radiografia extraoral


deverão ser seguidos os mesmos requisitos do radiodiagnóstico médico.

O regulamento do decreto 3048 de 06 de maio de 1999, no Anexo IV, classificação


dos agentes nocivos, no código 2.0.3, determina que exposições ocupacionais a
radiações ionizantes darão ensejo de direito de aposentadoria especial após 25
anos de contribuição.

REGULAMENTO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

ANEXO IV

CLASSIFICAÇÃO DOS AGENTES NOCIVOS

2.0.3
RADIAÇÕES IONIZANTES
25
a) extração e beneficiamento de minerais radioativos; ANOS

b) atividades em minerações com exposição ao radônio;

c) realização de manutenção e supervisão em unidades de extração, tratamento


e beneficiamento de minerais radioativos com exposição às radiações ionizantes;

d) operações com reatores nucleares ou com fontes radioativas;

e) trabalhos realizados com exposição aos raios Alfa, Beta, Gama e X, aos
nêutrons e às substâncias radioativas para fins industriais, terapêuticos e
diagnósticos;

f) fabricação e manipulação de produtos radioativos;

g) pesquisas e estudos com radiações ionizantes em laboratórios.

49
Radiações Não Ionizantes
As radiações não ionizantes são as radiações cuja energia é insuficiente para
ionizar átomos ou moléculas, ou seja, possuem energia inferior a 10 ou
12 eV. Portanto, a radiação não ionizante refere-se à radiação eletromagnética que
possui comprimento de onda maior que 100 nm (ou ainda,

com frequências menores que 31015 Hz), abrangendo o todo o espectro


eletromagnético com frequências iguais ou inferiores às do ultravioleta próximo,
vide a figura 15.

Porém, para fins práticos de proteção radiológica, também podem ser considerados
radiações não ionizantes os campos elétricos e magnéticos estáticos, bem como o
transporte de energia através da matéria sob a forma de vibrações mecânicas,
como ultrassom e infrassom.

Figura 15 - Espectro eletromagnético apresentando as regiões de radiações ionizantes e não ionizantes

As radiações não ionizantes estão divididas em famílias dentro do seu espectro,


que é mostrado a seguir:

50
Figura 16 – Espectro de Radiações Não Ionizantes

Radiofrequência e Microondas

A primeira família em termos de comprimentos de onda decrescentes é a que se


denomina radiofrequência e microondas, tomando a faixa de comprimentos de
onda que vai de muitos quilômetros a alguns milímetros. As ondas nessa região
são utilizadas em muitas formas de telecomunicação, de pesquisa e prospecção
espacial, bem como para usos militares, mas também possuem usos industriais e
médicos. Os processos industriais incluem aquecimento e têmpera por indução
eletromagnética na faixa de radiofreqüência, o uso de microondas para
aquecimento, a solda de plásticos por radiofreqüência. Nem todos esses
equipamentos são bem isolados ou blindados, podendo haver fuga da radiação. A
figura 17 demonstra algumas aplicações de radiofreqüência e microondas.

Figura 17 – Algumas aplicações de radiofreqüência e microondas.

51
Efeitos à saúde

Os efeitos são predominantemente térmicos, ou seja, aquecimento por absorção


da radiação pelos tecidos. A intensidade do aquecimento depende da potência da
fonte, da distância da fonte ao indivíduo, do tempo de exposição e das
características dielétricas e de dissipação térmica dos tecidos expostos. Depende
também da freqüência da radiação, como sumarizado abaixo para o corpo inteiro
de uma pessoa.

 Frequência em MHz Região de Aquecimento


 Acima de 3.000 Superficial ( pele )
 Entre 1.000 e 3.000 Intermediária ( camadas de gordura )
 Abaixo de 1.000 Interna ( aquecimento profundo )

Há riscos especiais a serem considerados, principalmente para o cristalino do olho


na região de 2 GHz a 3 GHz.

A faixa de máxima absorção de corpo inteiro para o homem se situa entre os 30


MHz a 300 MHz.Existem limites de exposição definidos pela ACGIH, os quais
deverão ser consultados.

Os limites definem valores permissíveis por freqüência e cobrem todo o espectro


por faixas.

Esses limites pretendem limitar o aquecimento por absorção para as exposições


ocupacionais, mas não eliminá-lo. Deve-se atentar para o fato de que pode haver
efeito sinergético com exposições ocupacionais ao calor ( ambientes quentes e com
cargas radiantes ).

A avaliação dessas radiações é bastante complexa e requer instrumentação


específica. Deve-se reportar à ACGIH para uma orientação sobre a avaliação.
Existe também um manual NIOSH para essas avaliações, que pode ser obtido no
site da instituição.

Deve ser lembrado também que pode ocorrer uma série de fenômenos e efeitos
não térmicos cuja natureza e importância ainda carecem de consolidação quanto

52
ao risco e à prevenção. Existem muitas pesquisas correntes sobre o tema, que vão
desde a questão das linhas de alta tensão até os telefones celulares.

As mais recentes informações sobre a situação geral das radiações não ionizantes
podem ser obtidas no site da organização Mundial da Saúde ( OMS ). O site a ser
visitado é www.who.int/emf.

Pode-se visitar também o site do Prof. John Moulder, do Medical College de


Wisconsin, www.mcw.edu. Neste local, existe um conjunto extremamente útil de
perguntas e de respostas sobre todas as questões de RNI e sobre as pesquisas
atuais nos temas controversos.

Elementos de controle das exposições

Lembrar-se sempre de que as exposições mais severas podem existir quando a


fonte é muito potente ou quando está muito perto da fonte ou antena ou quando o
indivíduo permanece exposto por longos períodos ou quando a região de
freqüências é de máxima absorção pelo corpo.

Portanto, as medidas básicas de controle devem incluir:

 Enclausuramento eletromagnético da fonte


 Intertravamento de proteção no caso de fontes de alto risco
 Uso de barreiras (chapas ou telas metálicas, devidamente aterradas)
 Distanciamento da fonte (equipamentos, transmissores, antenas)
 Automação dos processos, afastando o operador
 Redução das atividades nas proximidades da fonte
 Controle médico

Radiação Infravermelha

A radiação infravermelha é o chamado calor radiante e se situa na faixa de


comprimentos de onda que vai de alguns milímetros a 0,78 micrometro. A radiação
é muito pouco penetrante (alguns milímetros) e sua absorção causa basicamente
o aquecimento superficial (pele). Está considerada nos problemas de calor
industrial, pois a carga radiante das fontes é medida pelo termômetro de globo no

53
índice IBUTG. Todavia, a radiação também pode causar efeitos oculares,
independentemente da questão do aquecimento do corpo inteiro nos estudos de
calor. As fontes infravermelhas são os corpos aquecidos e incandescentes,
chamas, arcos, material em fusão. A quantidade irradiada será tão maior quanto
mais alta a temperatura da fonte e sua área de emissão. Existem também lâmpadas
especiais nessa região. Devemos ainda nos lembrar do sol, que é a fonte
infravermelha que garante a vida na terra.

O efeito de uma exposição não protegida à radiação infravermelha é uma das


doenças ocupacionais mais antigas, relacionando uma ocupação a uma moléstia.
Trata-se da “catarata do vidreiro”, reconhecida há milênios como parte do destino
dessa ocupação, se houver exposição excessiva e sem a devida proteção. Deve-
se ressaltar que esse é um efeito crônico, que pode levar muitos anos para se
desenvolver. Evidentemente, toda exposição não protegida a fontes infravermelhas
significativas, por tempo prolongado, poderá produzir o mesmo efeito que nos
vidreiros.

Normalmente essas fontes não são muito brilhantes (parte visível) e, portanto, não
produzem aversão visual por ofuscamento. Dessa forma, as pessoas se expõem
inadvertidamente em muitas atividades industriais, como na regulagem de chamas,
fornos, maçaricos, soldagem, secagem de tintas com lâmpadas infravermelhas. Em
todas as radiações não ionizantes, com exceção do LASER, afastar-se das fontes
sempre será benéfico.

De acordo com a figura 18, quando se necessita de proteção ocular, pode-se


observar a tonalidade da lente para o tipo de processo que envolva radiação não
ionizante.

54
Figura 18 – Tipo de lente em função do processo que envolva RNI.

O controle da exposição de pele e olhos deve ser tratado dentro dos mesmos
princípios já expostos anteriormente, com as seguintes peculiaridades:

• Blindar as fontes incandescentes, munindo fornos e estufas de portas e


fechamento adequado. • Reduzir a área exposta das fontes.

• Promover o uso de barreiras, feitas de material metálico polido (o melhor em


termos práticos e de eficiência será o alumínio polido).

• Afastar-se das fontes. • Reduzir o tempo de exposição às áreas com radiação


intensa.

• Prover-se de proteção ocular, seguindo a orientação da tabela apresentada.

Luz

A luz visível também é uma radiação não ionizante, a qual tem a peculiaridade de
impressionar a visão. Em outras palavras, nossos olhos são capazes de perceber
a radiação não ionizante (ondas eletromagnéticas) na região de 400 nanômetros a
780 nanômetros. Existem limites de exposição para luz muito intensa (ACGIH), mas
esse não é o caso ocupacional geral, em que a iluminação é apenas suficiente e
muitas vezes deficiente.

55
Radiação Ultravioleta

A radiação ultravioleta ocupa o espectro na região que vai de 400 nanômetros a


aproximadamente 100 nanômetros. Está subdividida em bandas conforme
demonstra a figura 19:

Figura 19 – Subdivisão das Faixas Ultravioletas

Ocorrência e Fontes de Radiação Ultravioleta

• Sol, fonte natural, ao nível do mar, em que recebemos radiação que vai até os
290 nm aproximadamente.

• Todos os tipos de arcos elétricos, com especial atenção a todos os tipos de solda.
As modalidades de maior emissão UV são as protegidas com o gás Argônio (MIG,
TIG, MAG).

• Lâmpadas especiais, em que destacamos:

• Lâmpadas de luz negra.

• Lâmpadas germicidas.

• Lâmpadas de vapor de mercúrio, sendo as de maior risco aquelas de maior


pressão e bulbo transparente.

• Lâmpadas na indústria gráfica, heliografia, cura de resinas.

• Corpos incandescentes a temperaturas acima dos dois mil graus Celsius.

56
Efeitos da Radiação Ultravioleta

A radiação ultravioleta é muito pouco penetrante; dessa forma, seus efeitos serão
sempre superficiais, envolvendo a pele e os olhos. Os efeitos agudos são, em geral,
retardados de 6 a 12 horas, e essa é uma característica típica da radiação. Não
existe sensação no momento da exposição e por isso doses elevadas podem ser
recebidas sem qualquer advertência sensorial.

Na pele, a radiação produz o eritema ou “queimadura solar”, sendo bem conhecida


por experiência própria das pessoas. A pele exposta tende a se pigmentar, e o
aumento da pigmentação protegerá a pessoa de novos eritemas.

Evidentemente, aqui existe um papel importante representado pelo tipo de pele, ou


seja, uma maior ou menor facilidade de pigmentação. Nos olhos, produz-se uma
querato-conjuntivite (inflamação fotoquímica da córnea e da conjuntiva ocular)
muito dolorosa e granulosa (os atingidos têm a sensação de areia nos olhos).

Esse efeito é incapacitante, cedendo em um ou dois dias e não produzindo, em


regra, nenhuma seqüela.

Os limites de exposição da ACGIH definem valores permissíveis para a prevenção


desses efeitos.

Um efeito importante e reconhecido da radiação ultravioleta é o câncer de pele,


para o qual não está vinculado um limite de exposição. Esse efeito é mais
reconhecido nas profissões “ao tempo”, como agricultura, pesca, salinas, offshore.

Parece não existir ainda vínculo causal com as atividades industriais em interiores.

Os TLVs da ACGIH não prevêem a proteção contra o câncer de pele.

Para a pesquisa de qualquer tipo de carcinogênico, recomenda-se consultar a


IARC, que é a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS (
www.who.org/iarc).

Considerações sobre a carcinogenicidade da Radiação UV (vide IARC):

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• Há evidência suficiente de carcinogenicidade da radiação solar para o homem
(câncer de pele e melanoma).

• Há evidência limitada para lâmpadas de bronzeamento artificial.

• Não há evidência adequada para lâmpadas fluorescentes e outras fontes


artificiais.

• Há evidência suficiente de carcinogenicidade para UVA, UVB e UVC em relação


a animais.

A figura 20 demonstra a tabela da ACGIH com os limites de tolerância permissíveis


para RNI na faixa ultravioleta.

Figura 20 – Limites de Tolerância a exposição a RNI na faixa ultravioleta

Barreiras de Proteção contra a Radiação Ultravioleta

A radiação UV tem baixa penetração, sendo relativamente fácil produzir barreiras


relativamente eficientes, é a opinião de Fantazzini, M. (2007). No processo de
colocação de barreiras de proteção contra radiações e, nesse caso, sendo estas
não ionizantes, é fundamental conhecer as características dos materiais.

Os materiais rígidos e opacos servem como uma boa barreira de atenuação das
RNI, tendo como exemplo os polímeros nas faixas de policarbonato e acrílico,

58
sendo que para soldadores, a proteção dos olhos torna-se mais eficiente quando
se utilizam tonalidades mais escuras, mas isso dependerá do tipo de solda a ser
realizado, portanto, consultar o fabricante da proteção coletiva e individual faz-se
necessário e importante.

Para a proteção da pele é importante observar o nível de irradiação que


determinado processo ou ambiente pode emitir, seja por exposição a raios solares,
seja por um arco elétrico, por exemplo. Nesses casos, é necessário buscar
vestimentas que sejam consideradas RF (Resistente ao Fogo), bem como possuam
Valor de Proteção para Arco Elétrico - ATPV (Arc Thermal Perfomance Value). Os
valores de grau ATPV deverão atender a NFPA 70E (National Fire Protection
Association).

O ATPV - Arc Thermal Performance Value (valor em calorias por centímetro


quadrado da proteção conferida pelo tecido ao efeito térmico proveniente de um
arco elétrico) está diretamente relacionado às características do tecido que compõe
a vestimenta e sua tecnologia de fabricação. Representa o valor máximo de energia
incidente sobre o tecido que resulta numa energia no lado protegido que poderia
com 50% de probabilidade causar queimaduras de segundo grau. O valor do ATPV
é uma estimativa da barreira conferida pelo tecido e, conseqüentemente, da
vestimenta com ele confeccionada. Assim, com base nos cálculos da energia
incidente (cal/cm² ) determina-se o nível de proteção necessário.

Radiação laser
O termo raio laser (Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation), em
português seria denominado como Luz Amplificada por Estimulação de Radiação,
foi criado pelo físico americano Theodore Maiman.

A aplicação do laser hoje faz parte do dia a dia e pode estar presente em aperelhos
musicais, ponteiras eletrônicas utilizadas em palestra, computadores, comunicação
por fibra ótica, consultórios médicos e odontológicos, etc.

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Efeitos Nocivos causados pelos raios lasers
Uma exposição a raios lasers sem o devido conhecimento, controle e critério podem
gerar problemas para o indivíduo que se expõe. Basicamente, o maior risco de
exposição ao raio laser é a queimadura e possível destruição da pele, tecido e
órgãos dependendo da intensidade. Por exemplo, em uma exposição direta dos
olhos ao raio laser poderá gerar queimaduras da retina e isso pode ocorrer com
uma exposição curta quando o local for diretamente atingido. Mesmo com baixa
intensidade, na faixa de miliwatts (mW), já pode gerar sequelas para quem se expõe
indevidamente. Em apontadores para palestras, bem como em brinquedos,
vendidos sem nenhuma fiscalização e regulamentação podem ser fontes de risco
de exposição indevida por quem utiliza sem conhecer os possíveis riscos do laser
ou por algum tipo de brincadeira sem critério e de mau gosto.

Medidas de controle para exposições aos raios laser


A figura 21 demonstra algumas medidas de controle para a prevenção de
acidentes e exposição indevida aos raios laser.

Figura 21 – Limites de Tolerância a exposição a RNI na faixa ultravioleta

A Radiação Não Ionizante e a Legislação Brasileira

A NR – 15, Anexo VII, determina que são consideradas como RNI as microondas,
ultravioletas e laser. Diz ainda que as operações ou atividades que exponham os
trabalhadores às radiações não ionizantes, sem a proteção adequada, serão
consideradas insalubres, em decorrência de laudo de inspeção realizada no local
de trabalho e que atividades ou operações que exponham os trabalhadores às

60
radiações da luz negra (ultravioleta na faixa - 400- 320 nanômetros) não serão
consideradas insalubres.

Portanto, pode ser observado pelo texto legal que as exposições a RNI são
determinadas de maneira qualitativa através de laudo pericial realizado no campo
de trabalho.

De acordo com o Decreto n° 3048 de 06 de maio de 1999, no artigo 68 demonstra


que a relação de agentes nocivos, sejam eles: químicos, físicos, biológicos ou a
associação de agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados
para fins de concessão de aposentadoria especial, constam no Anexo IV do
referido Decreto. Para exposições ocupacionais a radiações não ionizantes (RNI),
esta forma de energia não consta neste anexo, sendo então considerada fora do
“hall” de agentes que podem gerar concessão a aposentadoria especial. Porém,
no entendimento jurídico de alguns especialistas há entedimento na concessão do
benefício de aposentadoria especial por exposições a forma de energia
caracterizadas como RNI, é o caso da exposição solar excessiva em atividades
ao céu aberto que, mesmo não havendo isso descrito nos itens do hall de agentes
do Anexo IV, ainda assim, há por parte dos magistrados o entendimento, após
análise de laudos periciais que apontam para o risco iminente de possíveis
doenças de pele por exposições à este tipo de RNI, de que devem haver
concessões ao benefício por exposição a este tipo de risco.

61
Bibliografia
 PORTARIA MTB Nº 3.214, DE 08 DE JUNHO DE 1978 - DOU DE 06/07/1978
 PREVIDÊNCIA SOCIAL DO BRASIL, DECRETO Nº 3.048, DE 6 DE MAIO DE 1999.
 NORMAS REGULAMENTADORAS, Nº 06, 07, 09, 15, 32;
 ENCICLOPEDIA DE SALUD Y SEGURIDAD EN EL TRABAJO, CAP.48, RADIACIONES
IONIZANTES, JR. CHERRY, N.R, 1998, OIT, INSHT, ESPANHA.
 MANUAL DE FUNDAMENTOS DE HIGIENE INDUSTRIAL, CAP 10, CHEEVER, L.C, 1981,
CONSEJO INTERAMERICANO DE SEGURIDAD.
 TÉCNICAS DE AVALIAÇÃO DE AGENTES AMBIENTAIS : MANUAL SESI. BRASÍLIA :
SESI/DN, 2007.
 https://radioprotecaonapratica.com.br/efeitos-da-radiacao-no-corpo-humano/
 https://brasilescola.uol.com.br/quimica/
 https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/quimica/emissao-gama.htm
 https://pt.wikihow.com/Calcular-Meia-Vida

62

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