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INTRODUÇÃO
A Laudato Si convida-nos a perceber o que nos rodeia (ver), que muitas das vezes está à
vista de todos, mas o ruido de tudo o que nos rodeia, impede que possamos ver o
essencial. Leva-nos a pensar se este é ou não o caminho certo a seguir e quais as
consequências do que está feito e da continuidade desse caminho (julgar), assim como,
convida todo e cada um de nós a mudar de atitude, ou a melhorar a nossa atitude, não
apenas perante nós próprios, mas também perante o mundo que a todos nos alberga
(agir).
No ver, vamos olhar e perceber ao ponto onde chegámos, e como batemos bem fundo,
verificando que em alguns casos, já se tornaram irreversíveis os estragos causados. No
julgar, somos levados a perceber se estamos no caminho certo ou errado, quais as
alternativas e de que forma podemos começar a mudar, para contribuir para um maior
respeito pelo mundo, pela criação de Deus. No agir, há forçosamente uma necessidade
de descruzar os braços e arregaçar mangas – pela simples razão de que é da
responsabilidade de todos cuidar da casa comum, assim como, não podemos ficar à
espera que existam resultados diferentes se continuarmos a fazer os mesmos erros ou
agarrados à inercia.
Para não correr o risco de fazer uma abordagem apenas generalista da encíclica, e com o
propósito de promover uma mudança de comportamento social em jovens e adultos,
vamos tentar perceber como a Laudato Si pode ajudar a contribuir para melhores
catequeses e consequentemente, ajudar os catequisados a serem melhores pessoas, com
atitudes respeitosas para com o planeta, e consequentemente para com todos – tentando
formar não apenas pessoas respeitadoras, como agentes ativos na promoção de um
maior respeito para com a casa comum.
Tentaremos ver os principais capítulos a abordar aos alunos, assim como as diferentes
abordagens a ter em aula, com o propósito de lhes estimular não apenas o interesse pelas
questões climáticas, mas também pelo amor ao próximo e pela criação.
A leitura da encíclica Laudato Si, aquando do presente semestre, não foi novidade para
mim por várias razões. Já tinha lido esta obra à algum tempo e soube bem recordar a
mesma – faz sempre bem reler aquilo que é bom. As preocupações com a casa comum,
não são propriamente novidade na minha vida familiar, ainda que nem sempre sejam
olhadas aos olhos de crente, mas simplesmente aos olhos de quem considera importante
e emergente todo o cuidado com a natureza que nos rodeia.
A QUEM SE DESTINA
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Laudato Si’, 66
A presente obra, aborda um assunto atual e emergente. É nela analisada um assunto que
diz respeito a todos nós. Neste contexto, somos todos chamados a sentirmo-nos como
destinatários da encíclica.
Nesta encíclica, pretendo especialmente entrar em diálogo com todos acerca da nossa
casa comum2
- Os pobres: Por norma, são aqueles que menos contribuíram para as alterações
climáticas e que menor pegada carbónicas deixam, no entanto, sofrem as consequências
na mesma proporção e às vezes até mais. Alguns simplesmente não têm acesso a água
potável, passam fome e por vezes vêm os seus recursos naturais explorados em demasia.
- Convite à solidariedade entre humanos: Numa leitura crente, somos todos irmãos em
Cristo. Neste sentido e se o mandamento de Cristo for observado, somos todos
chamados a ser solidários com quem sofre.
O simples fato de alguém nascer num país rico, não faz dessa pessoa mais digna do que
alguém que nasceu num país pobre – isto na prática, infelizmente, não se verifica.
Somos convidados a mudar esse paradigma. Não só porque por vezes os países mais
ricos são corresponsáveis pela pobreza dos países em vias de desenvolvimento, como
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Laudato Si’, 3
têm uma obrigação moral de não explorar em demasia os recursos não renováveis dos
países pobres.
-Apoiar a vida: O cuidado com a natureza é importante, mas não faz sentido cuidar da
natureza de forma a preservar a criação e depois não preservar a vida dos mais frágeis,
das pessoas com deficiência e das vítimas de trafico humano.
- Ver, Julgar e Agir: Somos convidados a ver os problemas que nos rodeiam e que
colocam em causa o futuro da criação, assim como devemos pensar onde estamos e para
onde queremos ir e por fim, somos convidados a agir. Cada um de nós é convidado a
promover e fazer uso da mudança, seja ela a nível pessoal, seja a nível coletivo em
associações, família, como líderes políticos, etc. Todos nós podemos e devemos dar o
nosso contributo para um mundo melhor.
Nos dias de hoje, os seculares como indivíduos que querem viver a atualidade,
preocupam-se com o ambiente. Nem sempre por uma questão ética, mas simplesmente
porque é uma preocupação ensinada e assimilada com naturalidade, sem que
necessariamente se esteja a pensar no próximo ou bem comum de todos.
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https://casavelhadotorg.wordpress.com/
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Amai-vos uns aos outros como eu vos amei
A potencialidade de utilização dos ensinamentos da Laudato Si na catequese é enorme.
Não apenas porque existe público para absorver a mensagem mas porque esse mesmo
público, por ser jovem, será o futuro do nosso planeta: os futuros construtores da
sociedade.
Devemos acima de tudo, abordar a encíclica de forma suave, e justificada. Por “forma
justificada” pode entender-se como forma natural, ou seja, deve criar-se o diálogo
necessário para que surja uma conversa natural sobre ecologia ou questões sociais. Criar
a curiosidade para que o interesse possa surgir da parte dos jovens e ai se possa
trabalhar as questões que se pretendem abordar – se não se criar um interesse prévio aos
jovens, corremos o risco de despejar informação que dificilmente será assimilada.
De há 4 anos para cá, aceitei o desafio do meu pároco de dar catequese familiar, mas em
conjunto, ou seja, a catequese é destinada aos adolescentes e segue o programa previsto
para o ano catequético em questão, mas contará com a presença de pelo menos um
pai/mãe/tio/avô/avó/irmão/etc por cada aluno adolescente. Se no início estava
apreensivo, com o passar do tempo, fiquei fã deste conceito. Não só os pais aderiram
porque queriam acompanhar os filhos (alguns contrariados, mas acabaram por
participar), como muitos deles ganharam entusiasmo pelos temas e formas de
abordagem dos temas.
Existe toda uma necessidade de ajustar a linguagem usada, no sentido de ser transversal
às várias gerações. Os vídeos, as musicas, as dinâmicas e jogos entre familiares são uma
constante que ajuda a quebrar barreiras. A grande vantagem desta catequese, para além
de promover um crescimento conjunto em família, passa pelo simples fato de pais e
filhos terem uma casa comum. Pais e filhos têm um micro-ecossistema que deve
funcionar em harmonia.
Quando abordamos o respeito pela casa comum, nem sempre os jovens têm maturidade
suficiente para perceber a gravidade em que nos encontramos e a emergência de
mudança. Por outro lado, se abordarmos apenas os pais, nem sempre estão sensíveis
para questões ambientais ou mesmo sociais, devido a formatações que possuem e que
limitam a sua capacidade de estar abertos a outros prismas.
Se abordarmos os pais em simultâneo com os filhos, é natural que os filhos estejam com
muito mais atenção e não se distraiam com os colegas, podendo assim assimilar e
discutir o tema; com os pais a atenção aumenta na presença dos filhos, visto que querem
o melhor para os seus filhos, logo, há uma especial atenção às novas gerações e aos
riscos de os mesmos não terem um planeta cuidado o suficiente para que possam viver
bem. Há também um redobrar de atenção por parte dos pais, quando notam que se estão
a transmitir valores e não apenas questões doutrinais.
Desta forma, de forma natural, tanto os pais continuam o trabalho do catequista em casa
e no dia-a-dia, como os filhos com os pais. Há uma continuidade da catequese que vai
para além da catequese. Nas abordagens às questões climáticas e necessidade de
respeito pela casa comum, esta transversalidade tem uma utilidade majorada, pois
colocará pais a ajudar filhos e filhos e ajudar pais, tanto na assimilação das ideias da
Laudato Si, como nas questões praticas que se pretendem.
TEMAS DA LAUDATO SI A ABORDAR NO CONTEXTO DE
CATEQUESE FAMILIAR
Vários são os temas que podem ser abordados na catequese, tanto aos alunos, como aos
pais. Em boa verdade, todos os temas são bons e podem ser abordados de forma
generalista, seja por meio de diálogo, audiovisuais ou mesmo leituras. Como é de
calcular, para os jovens, alguns temas podem ser mais interessantes do que outros. A
proposta a desenvolver, passa pela abordagem dos seguintes temas:
2 - Humanidade como responsável por cuidar da criação – Deus criou para o homem
usar, e o uso responsável passa por cuidar;
Várias são as músicas que abordam o ambiente e questões sociais. Se conseguir juntar
as varias abordagens referentes ao respeito pela casa comum, tanto melhor. Penso que
iniciar uma catequese com um vídeo de uma música dos Queen com o tema: Is this the
word we created6, vai servir de pontapé de saída para iniciar a discussão dos temas,
assim como aborda a criação do mundo por Deus na parte final da música e a
responsabilidade que temos perante tudo o que está errado a nível ecológico/social.
Just look at all those hungry mouths we Apenas olhe aquelas bocas famintas que
have to feed temos que alimentar
Take a look at all the suffering we breed Dê uma olhada em todo o sofrimento que
originamos
So many lonely faces scattered all around
Tantos rostos solitários espalhados por
Searching for what they need
todo lado
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https://youtu.be/LUIyjxa8HCw
Is this the world we created? Procurando o que precisam
Is this what we're all living for today? Então, parece que no final
The world that we created É isso que nós estamos a viver hoje?
You know that every day a helpless child O mundo que criamos
is born
Tu sabes que todos os dias nasce uma
Who needs some loving care inside a criança indefesa
happy home
Que precisa de um pouco de carinho
Somewhere a wealthy man is sitting on dentro de um lar feliz
his throne
Algures um homem rico está sentado em
Waiting for life to go by seu trono
If there's a God in the sky looking down Até não poder mais?
Como foi demonstrado, muito há a falar e aprender com a encíclica, no entanto, não
podemos ficar pelas palavras, pela teoria. Para além de tentar desafiar os jovens para
propostas práticas, há que ir para o terreno. Desde campanhas de plantio de árvores, à
simples recolha de lixo na praia, visita de estudo ou retiro na Casa Velha7 (Ourém) tudo
é valido, desde que permita demonstrar que podemos contribuir para um mundo melhor,
a cada vez que pratiquemos o respeito pela criação e pelo próximo.
CONCLUSÃO
Por vezes, temos a ideia de que mudar o mundo é algo utópico. É uma ideia que nos
permite mostrar que estamos conscientes da realidade e da insignificância de cada um
de nós como ser individual. Esta ideia, também nos ajuda a justificar uma eventual
alienação perante a responsabilidade que temos perante o mundo. Torna-se tão fácil
dizer que somos um grão numa imensa praia e que nada podemos devemos à nossa
insignificância.
Se nos focarmos na palavra utopia, corremos o risco de encolher ombros e deixar estar
tudo como está. Em alguns casos, até procuramos argumentos que possam justificar a
inercia pessoal perante o mundo ou os outros. Se focarmos na utopia, podemos dizer
que o mandamento do Cristo é apenas algo bonito, e que na realidade não passa de uma
ideia utópica. O mandamento de Cristo não é uma ideia utópica, mas sim um ideal a
tentar concretizar. Sim, a tentar concretizar, pois não é fácil. É simples de perceber e
difícil de executar. Se transformarmos a utopia em ideal, em meta, encontramos o
combustível que nos vai permitir arregaçar as mangas e partir para a luta que é cuidar da
casa comum, fazer do mundo um lugar melhor, fazer dos nossos jovens, pessoas
melhores e com bons ideais.
Certo que por vezes parece que a sociedade está contra a ideia de querer um mundo
melhor e até pode parecer mais fácil ir com a corrente. Aqui entra a esperança, a
esperança de quem quer um amanhã melhor e que tem noção de que para tal, tem que
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https://casavelhadotorg.wordpress.com/
agir hoje. A esperança de quem ainda acredita que vale a pena acreditar nos jovens,
senão nem vale a pena perder tempo a tentar ajuda-los a obter formação. Esta esperança,
aliada ao agir, leva ao alimento da fé. Pode ser dura a caminhada, mas mesmo assim, há
que continuar a andar, sempre com o foco em fazer por respeitar a criação e procurar
que o dia de amanhã possa ser melhor do que o de hoje. A cada vitória, uma conquista e
em cada derrota, uma aprendizagem.
Quem não quer ver a Ladato Si como algo utópico, é porque quer acreditar num melhor
futuro. Olhar com ambição de um melhor futuro é também depositar a confiança nos
jovens de hoje (que logicamente vão ser os homens de amanhã). Acreditar em melhores
dias, é conseguir olhar para as bem-aventuranças e perceber que por maior que sejam as
injustiças, o mal não tem a ultima palavra a dizer e Deus irá providenciar o consolo que
possa ser necessário.
A encíclica Laudato Si, para além de ser considerada ambientalista, social e política, é
também um alimento de fé e esperança como alicerces para o objetivo que é um mundo
melhor para todos.
Indicações relativas à forma de apresentação e entrega do trabalho
- Cada trabalho final deverá ser entregue na plataforma até ao final do mês de junho;
- Cada trabalho deverá ter entre 7 e 11 páginas A4, escritos a 1,5 espaços, letra Times
New
- Na capa, o estudante deverá indicar o nome completo, número, ano e curso; mas
também o
na Faculdade de Teologia.