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TURMA REGULAR - CURSO AMPERJ


AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Boa tarde gente! Tudo bem? Bom, meu nome é Renato Porto. Para quem não
me conhece, eu sou professor de Direito do Consumidor da casa. Eu sou um apaixonado por
esse tema. Eu espero que a gente, no curso da aula, consiga a sorte aí de ir direto para aquelas
questões que são as mais sensíveis, as mais importantes.

Eu vou dar uma aula, e fazendo sempre assim: eu jogo o resumo do que eu
irei abordar naquele momento no quadro para que você consiga visualizar. E depois, eu venho
falando de cada um daqueles tópicos, porque, às vezes, no comecinho da explanação, eu vou
falar um pouquinho devagar. E se você quiser anotar alguma coisa em relação ao tópico e
depois, aí eu entro na análise tanto jurídica quanto jurisprudencial.

Hoje em dia, se você quer estudar pra poder passar num concurso público,
não adianta só estudar a doutrina, você tem que estudar a jurisprudência. Na minha matéria,
porque na matéria dos outros eu não sei. Mas na minha matéria, eu já vou te dizer o caminho
de onde as questões estão. Se vocês entrarem no site do STJ, encima você tem as abas. Nas
abas, você tem a terceira aba, e da esquerda pra direita chama “jurisprudência”. Se você clicar
ali, vai abrir uma grande janela em que vai ter assim “informativos - jurisprudência”. Todo
mundo sabe o que é um informativo de jurisprudência. No entanto, essa janela vai se dividir em
duas partes. No seu canto esquerdo vai ter uma barra de rolagem pra você selecionar a
jurisprudência que você quer ou informativo que você quer pelo número. Se você olhar pelo
seu lado direito, ali tá a pergunta da prova de vocês. Por quê? Porque ali do lado direito, você
tem 3 livrinhos, no caso nós estamos em 2019, então vai estar lá 2018, 2017, 2016.
Geralmente, a jurisprudência, a questão de prova que cai em qualquer concurso... Eu não estou
falando só de vocês não. Eu estou falando em qualquer concurso, seja magistratura,
magistratura federal, defensoria pública e MP, assim desse nível. Normalmente, as questões
estão por ali nessa jurisprudência. Então o que eu vou fazer durante a aula, eu vou dar a
doutrina que eu antes vou ter jogado no quadro. E depois vou explicar ponto a ponto. E quando
a gente estiver abordando um tópico de uma jurisprudência extremamente sensível que eu
tenho certeza que aquilo pode virar questão de prova, ai , eu discuto a jurisprudência, dou o
número do acórdão, dou o número do julgado e falo com vocês. E a gente vai elaborando
assim.
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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
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PROFESSOR RENATO PORTO

Não pensem duas vezes em me interromper. Só levantar o braço, aí eu


concluo o raciocínio e a gente vai trocando durante a aula. O Direito do Consumidor é uma
matéria legal, bacana de estudar. É diferente de você acordar de manhã e falar “nossa, vou lá
pra ver a teoria tridimensional do Miguel Reale”. É diferente, sabe?

Então, vamos lá estudar a Lei 8.078 de 1990, conhecida como Código de


Defesa do Consumidor.

1.ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA RELAÇÃO DE CONSUMO

Renato, quando é que eu aplico o Código de Proteção e Defesa do


Consumidor? Você aplica o CDC quando você identifica uma coisa chamada relação de
consumo.

Somente através da identificação de uma relação de consumo que você pode


afirmar quanto à aplicação do CDC. Essa é a regra. Só que pra você identificar essa relação de
consumo é necessário que você conheça os elementos constitutivos dessa relação de consumo.

Quais são os elementos constitutivos?

Eu tenho um cara que se chama consumidor. E esse cara é o sujeito ativo da


relação. Ele é unido a um fornecedor. E esse aqui se chama sujeito passivo. Em função de duas
coisas: um consumidor só pode se unir a um fornecedor em razão de um produto ou em razão
de um serviço. Esse é o objeto da relação. Então, quais são os elementos constitutivos de uma
relação de consumo que, por consequência, eu vou ter aqui a aplicação do CDC? Eu tenho um
sujeito ativo, um sujeito passivo e um objeto.

1) Sujeito ativo;
2) Sujeito passivo;
3) Objeto.

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Eu denomino o sujeito ativo de consumidor. Eu denomino o sujeito passivo


de fornecedor e denomino o objeto de produto ou serviço.

2. CONCEITO DE CONSUMIDOR E ESPÉCIES

O que eu faço a partir de agora? Eu vou estudar com vocês quem é que pode
ser o consumidor. Se vocês estiverem bem dentro disso aqui, quem é que pode ser o
fornecedor, estando ok, produto ou serviço.

Eu fecho esse primeiro tópico e você fala “Olha, eu sei que posso aplicar essa
lei.” Uma vez sabendo que aplicamos essa lei, eu vou ensinar pra vocês quais são os direitos
desses consumidores. Aí fecha para o intervalo da gente. Quando terminar o intervalo, eu volto
colocando em prática o que na teoria vocês aprenderam. “Ah, eu comprei a televisão e ela
explodiu. O que eu posso fazer?” Ai eu vou dar o prazo que você vai entrar com uma ação,
contra quem você pode demandar e contra quem você não pode demandar, quais são os
aspectos processuais, como por exemplo, inversão do ônus da prova. A gente tem vários
detalhes, seja ela ope judicis, ou ope legis, e tudo mais. A jurisprudência está forte nesse
sentido.

Renato, quais são as principais apostas que você vai fazer aqui? Pra nossa
matéria, e ai eu vou colocar e a gente vai trabalhando, tá bom?

Então, vamos lá. Renato, consumidor. Vamos estudar esses elementos. Quem
pode ser o sujeito ativo da relação? Quem é esse consumidor? Qual é a palavra mais bonita do
direito, gente? Isso aí, “depende”. Por quê? Depende da espécie do consumidor. Consumidor
ele tem duas espécies:

A) A primeira espécie se chama “consumidor standard”.

Já viu aquele carro básico que quando você pega o cara fala “Olha, o carro é
standard”. Ele está em seu estado natural. É o mais simples de você identificar. Esse cara está
no artigo 2ª do CDC. Vamos falar sobre ele.
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Artigo 2º. - Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que


adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Escrevam:

“consumidor standard (artigo 2º) é toda pessoa física ou jurídica que


adquire produto ou serviço como destinatário final.”

Por quê? Por que o legislador consumerista, ele falou “pouco me importa a
sua personalidade jurídica. você pode ser pessoa física ou você pode ser pessoa jurídica. Para
você ser consumidor, eu quero saber o que é que você vai fazer com isso que você acabou de
comprar. Qual é a destinação que você vai dar ao bem”. Então, o que é que o CDC falou para eu
achar a figura do consumidor, eu tenho que achar a figura do destinatário final. Visando
encontrar a figura do destinatário final surgiram correntes:

A primeira corrente se chamava corrente maximalista que é aquela que


entende que o consumidor é o destinatário fático do bem. Só isso. Olhem pra mim! Renato
quem é o destinatário fático do bem? De uma forma bem tranquila, eu vou dizer o seguinte,
destinatário fático é aquele que os próprios fatos estão demonstrando que você está
consumindo.

Então, por exemplo, se você entrar numa padaria aqui e disser assim: “me dá
um pãozinho aí! Dá-me um café!”. E alguém for lá e perguntar para o dono da padaria “o que
ele é seu?” O cara vai falar: “meu consumidor, meu cliente”. Porque para ele o ato da compra
lhe torna consumidor. Então, de forma bem palatável, destinatário fático é aquele que compra.
Então, os maximalistas, eles diziam Então, peraí, pra eu lhe chamar de consumidor, para ser o
destinatário desse bem de consumo, é só você entrar numa loja e comprar um produto. Isso vai
lhe tornar um consumidor.

Então, para os maximalistas, quem comprava algo já podia ser chamado de


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consumidor. Talvez os maximalistas não tenham participado pelo menos um dia do aniversário
do Guanabara. Porque se eles estivessem participado, talvez (...) Eu fui fazer um vídeo do
aniversário do Guanabara para poder trazer aqui para sala de aula um dos manuais fenômenos
de pobreza de espírito. E ai, eu filmando por dentro, eu fiquei atrás de uma pilastra. Da última
vez que eu vi uma dinâmica daquela parecia com o “The Walking Dead”. Sabe qual é? E aí os
zumbis entraram, aquele negócio todo, aquela confusão. Nisso vem minha mulher. Minha
mulher era um dos zumbis. Ela foi mordida. Minha mulher e minha sogra. E aí, as vi entrando, e
aí:

-“Porra, o que você tá fazendo aqui?”

- “ Eu estou filmando esse povo e você vai aparecer.”

Aí ela foi e estava na promoção do azeite.

-“Na promoção do azeite?”

- “Mas, quanto está?”

- “De 15 reais por doze.”

Eu falei: “Mas, vem cá, quantas horas tu estais para parar o carro?”

Ela falou: “1 hora e 20 minutos.”

-“Só de gasolina já pagou a promoção.”

Renato, por que você está dizendo isso? Porque ela comprou. Vocês já viram a
fila para pagar a compra do aniversário do Guanabara? Tinha um homem com 2 carrinhos de
azeite Borges. Fiquei olhando para aquele homem e pensei: “Se esse homem fosse ungir esse
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azeite de hoje até o último dia da sua existência vai sobrar azeite para próxima encarnação.”
Senhores, os maximalistas não estavam nessa fila, por quê? Porque seguramente aquele
homem, ele ia consumir? Ele era o destinatário fático porque ele estava comprando. Mas o que
ele iria fazer com aquilo que ele comprou?

Alunos: Vender.

Ele era o dono do restaurante, do hotel, da pousada, de outro mercado.


Então, o ato da compra não pode lhe tornar consumidor porque se o ato da compra lhe
tornasse consumidor, desculpe, mas para quê eu ia precisar da Lei Empresarial? Porque se toda
compra e venda você regulasse pelo Código de Defesa do Consumidor, as duras penas, gente,
eu sou um apaixonado pelo Direito do Consumidor. Eu dou aula desde 1999. Eu dou aula de
Direito do Consumidor. E cheguei à conclusão de que quando a gente protege em excesso, o
que a gente acaba fazendo? A gente desprotege. Para a gente proteger o consumidor, a gente
tem que proteger na medida correta, porque senão você pode causar um dano. Então, a
corrente maximalista, por óbvio, caiu. Então, os maximalistas diziam que consumidor é quem
compra, destinatário fático.

Aí, surgiram os finalistas. E aí, você já vai imaginando que eles ganharam essa
briga. Surge a corrente finalista.

A corrente finalista é aquela que entende que consumidor é o destinatário


fático e econômico do bem.

A única mudança foi a palavra “econômico”, e por quê? Porque os


consumidores para a visão maximalista falavam o seguinte: “entrou e comprou”. Olha,
finalistas, “não! Você pra ser o consumidor tem que ser o destinatário fático (comprar) e tem
que ser o destinatário econômico.” Um dos grandes nomes do Direito do Consumidor aqui no
Brasil é a professora Cláudia Lima Marques, de Porto Alegre. E ela diz o seguinte: “destinatário
econômico é aquele que retira o bem de consumo da cadeia lucrativa.” Como assim retirar o
produto da cadeia lucrativa? Gente, essa caneta aqui é da Pilot, pelo menos está escrito aqui
Pilot. A Pilot é a fabricante da caneta. A loja que me vendeu é o comerciante. A primeira
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pergunta que eu faço: por mais que ela seja a fabricante, foi a Pilot que fabricou essa caneta
aqui? Se eu olhar direitinho vou achar em algum lugar “Made in China”, logo foi algum chinês
que fez isso aqui. O chinês quando vendeu para Pilot ganhou algum dinheiro? Ganhou! A Pilot
quando vendeu para Kalunga ganhou dinheiro? Ganhou. A Kalunga quando vendeu para você
ganhou dinheiro? Ganhou. Você quando comprou aquilo ali ganhou dinheiro? Não, gastou.
Depois de você gera mais renda? Não. Isso é ser o destinatário fático e econômico. É quem
compra para uso próprio. Essa é a raiz preponderante. Então, consumidor é quem compra para
uso próprio. Eu que compro a minha camisa, eu que compro meu tênis, eu que compro minha
bicicleta, eu que compro minha televisão.

Até ai foi? Pois é. Então, vocês falam “aprendi.” Toda vez na vida que a gente
fala dentro do Direito “aprendi”, o professor explicou de um jeito simples. Vem o STJ. Acho que
o ministro acorda de manhã, troca o alpiste do passarinho, coloca um jornal novo por ali, vê o
Vasco no final da tabela, e aí, ele fala: “disseram que o jogador Pikachu bateu no torcedor, né?
E o torcedor ganhou 1 ponto e já ultrapassou o Vasco, e aí, o que acontece? O ministro fala
assim: “tá fácil demais. Será que não irão existir situações em que alguém que compre para
revender que não possa valer o CDC e que eu não possa utilizar o CDC?” Que tipos de situações
são essas? Imagine uma costureira em relação ao fabricante da máquina de costura. Imagine o
taxista em relação ao fabricante do veículo. O caso paradigmático foi o de um caminhoneiro.
Um caminhoneiro quando compra um caminhão, compra pra quê, gente? Ganhar dinheiro com
um caminhão. Então, tecnicamente, você não se valeria do CDC. Você precisaria se valer do
Código Civil. Só que o que o STJ falou que nessas hipóteses de vulnerabilidade econômica se o
fornecedor… olha aqui, o vendedor de picolé da praia e a Kibon, o taxista e o fabricante do
veículo, e nesse caso do STJ do caminhoneiro e a Scania, a Volvo, essas empresas que fazem os
caminhões. O motor bateu e a empresa falava “não tem falha”. E o consumidor dizia: “tem
falha”. Bom, isso tem que virar um processo para dizer se tinha ou se não tinha essa falha. Será
que é mais fácil pra quem fazer essa demonstração? Para Scania ou para um caminhoneiro que
só estava ali dirigindo o caminhão? A máquina de costura parou. O dono do botequim, a
Ambev vira pra ele e fala: “Vem cá, a Brahma está vendendo muito?”

Ele fala: “Está.”

-“E aquela cerveja que também é da Ambev e que não vende muito?”
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-“Ah, essa não está vendendo tanto.”

-“Então, tem que levar. Toda vez que comprar uma caixa de Brahma tem que
levar duas daquela outra empresa.”

Gente, como é o nome disso? Venda casada. E esse pequeno fornecedor vai
poder brigar com esse fornecedor maior? Não. Então, o que o STJ falou? Nessas hipóteses de
vulnerabilidade, sobretudo econômica estampada, você excepcionalmente poderia se valer do
CDC. Então, “ah, o Barra D’or está brigando com a GE por causa do tomógrafo. Relação civil
comum; relação empresarial não se aplica o CDC. Agora, o vendedor do biscoito Globo e o
fabricante do biscoito, eles estão brigando porque o cara do biscoito Globo quer levar só o de
sal. Análise empírica, gente! Todo mundo aqui conhece o biscoito Globo? Senão você não é
carioca. Na boa, só tem dois sabores: sal ou doce. Normalmente, qual que vende mais? Sal. Aí,
o cara chega e fala:

-“Me dá um pacote de sal e meio pacote de doce”

- “Não pode! Tem que levar um de sal e um de doce.”

Como é que é o nome disso? Venda casada.

E esse cara: “ah, qual é sua vida?”

- “eu vendo biscoito Globo”.

Aí, cheguei lá pra comprar.

-“Não amigo, se não quiser levar os dois não leva.”

Você pode ver na praia que sempre o cara está carregando um saco cheio do
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sabor doce e outro menorzinho do salgado. Aí você fala: poxa, Renato, o que é isso? Venda
casada. Aliás, imposição de limites quantitativos é pior. Eu vou estar estudando isso com vocês.

Ah, Renato, então o que a corrente finalista mitigada diz? Agora chegou a
hora de anotar.

Corrente finalista mitigada é aquela que admite que, em hipóteses pontuais,


destinatários fáticos (ou seja, pessoas que compram para revender) possam se valer das regras
do CDC.

Dá uma paradinha e deixa-me explicar uma coisa. A gente está em uma turma
de tiro direto, logo, não dá pra teorizar muito. A vulnerabilidade, essa daqui, ela pode ser
técnica, fática, econômica, informacional, etc. Depois de eu analisar toda a jurisprudência, eu
notei que para se aplicar essa corrente finalista mitigada, o STJ escolhia situações de
vulnerabilidade econômica. Tinha que ser o pobrezinho e o ricão. Claro que esse tema, ele é
muito mais rico. A gente poderia falar muito sobre ele, só que essa aula já é “pá, pum”. Eu vou
estar apontando direto para onde é que tem que seguir. Tá legal? É muito mais fácil ensinar pra
concurso do que para mestrado ou doutorado, porque no concurso… O que o STJ está dizendo?
Aprende depois, porque aqui você está sendo treinado. Existirão situações que eu vou colocar:
“ tem gente que pensa assim. Tem gente que pensa assado. O cara da banca pensa assim e eu
se fosse você colocava isso.” Porque aí também, dependendo do concurso que você vai prestar
é importante você estar em sintonia com a banca. Tem que estudar não é o tema da banca,
mas sim é estudar quem é a banca.

-“Ah, o cara é professor de quê da banca?”

- “Direito Civil.”

- “Poxa, o cara é foda em Direito de Família.”

Legal! Aí, você pega o livro do cara e têm uns três tópicos que ele pensa
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diferente do mundo. Na prova? Olha, o STJ diz isso, no entanto, pensadores de vanguarda (...) é
a hora que (...), entendeu? Fica mais leve o negócio.

Renato, quando é que eu vou aplicar a corrente finalista mitigada? Da forma


que eu ditei ai pra vocês. Só coloquem uma observação: a jurisprudência vem indicando que a
vulnerabilidade econômica deve ser considerada como a pedra de toque, o elemento essencial,
para a aplicação da corrente finalista mitigada.

Renato Porto, então quem é consumidor? Quem compra para uso próprio.
Tem alguma exceção à regra? Tem, a corrente finalista mitigada. Se cair na minha prova quais
as correntes maximalista? Afastada. Finalista? Preponderante. Qual é excepcionalmente
utilizada? Finalista mitigada. Até aqui está tranquilo gente? Beleza, esse é o consumidor
standard. Mas eu falei que os consumidores possuem duas espécies. Eu tenho o consumidor
standard e eu tenho o consumidor por equiparação.

B) CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO:

O consumidor por equiparação vai aparecer em alguns momentos na norma.


Então, eu vou explicar cada um desses momentos. O primeiro momento em que ele vai
aparecer é no artigo 17.

Artigo 17. -Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos


consumidores todas as vítimas do evento

Então, vamos colocar a definição do consumidor por equiparação:

“o consumidor por equiparação (artigo 17) são as vítimas do evento.”

Bom, só isso mesmo! Precisa escrever mais não, só bater papo agora. Olha só
gente, quando eu comprei uma garrafa de azeite, aquilo era um evento de consumo. Eu era
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consumidor standard, a Borges. Eu escolhi a Borges pela pobreza e era esse que minha esposa
estava comprando. A Borges que vendeu o azeite é fornecedora e o azeite é o produto. Sujeito
ativo, sujeito passivo, objeto, relação de consumo. Beleza, e assim vai se desenvolvendo.

Imagine que você comprou uma panela de pressão. Você é o consumidor. A


Rochedo que lhe vendeu a panela é a fornecedora. E panela é um produto. Tem relação de
consumo? Tem! É o consumidor standard, corrente finalista, bonito. Aí eu convidei meus
amigos, porque que eu ia fazer uma feijoada no domingo. Eu fui cozinhando, e aí, meu amigo
do lado toma caipirinha, não sei o quê, experimenta. É aquela pobreza de domingo. E aí, de
repente, a panela de pressão por uma falha na panela explode e fere meu amigo. Meu amigo
não comprou a panela. Quem comprou fui eu! Se eu fosse processar a Rochedo, eu processaria
pelo artigo 2º, porque eu sou consumidor standard. Mas ele foi uma vítima do evento. De que
evento? Do meu evento de consumo. O Código de Defesa do Consumidor abraçou terceiros
que são alvos de um ato ilícito, quer dizer, o artigo 186 (Código Civil):

Artigo 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda
que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Bom, peraí, se eu fui omisso no momento em que não fiz a manutenção


adequada naquele equipamento que eu estava vendendo e alguém sofreu um dano, eu tive
conduta, o cara teve dano, teve nexo de causalidade, teve um ato ilícito. O artigo 927 (Código
Civil) diz:

Artigo 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187),
causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou
quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano
implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

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Todo aquele que comete ato ilícito, que pratica ato ilícito, fica obrigado a
reparar o dano. Esquece esse tratamento jurídico da esfera civil e vem para o Código de Defesa
do Consumidor. Se eu comprei a panela e um terceiro sofreu um dano, ele foi vítima de um ato
ilícito. Ah, mas ao invés de eu invocar o Código Civil com essa estrutura jurídica que você criou
para mim, eu posso invocar o Código de Defesa do Consumidor? Pode. Por quê? Porque ele é
consumidor por equiparação. A única coisa que você vai fazer é mudar o artigo.

Aluna: Professor, eu não entendi porque seria ato ilícito. Se a compra, o evento é lícito, você
comprar?”

Professor: Isso! A relação com o consumidor standard é um ato ilícito. Beleza? Isso aqui que ela
colocou é interessante. Veja, a responsabilidade da pessoa que faz a compra e venda é uma
responsabilidade contratual. Essa responsabilidade que atinge terceiros que não participaram
no contrato, e é desse cara que eu estou falando, essa compra e venda ficou pra trás. Eu estou
usando a panela, e a panela explodiu por uma falha da panela que causou uma lesão em um
terceiro. Beleza? Se a panela tinha uma falha, na hora da linha de montagem daquela panela,
não sei por que o motivo houve uma omissão. E um terceiro não sofreu um dano? Sofreu.
Então, não foi da minha compra e venda que teve o ato ilícito, essa relação estava legal. Em
relação à vítima, não estava bacana porque teve o ato ilícito em que ela explodiu e aí causou
um dano, teve nexo de causalidade entre a explosão e o dano, ato ilícito do artigo 176,
entendeu?

Por que foi legal o que ela falou? Porque o consumidor por equiparação ele
se vincula em função de um ato ilícito. O consumidor standard se vincula em função de um
contrato. E aí foi o que eu escrevi há pouco tempo, na verdade o CDC quando cria essas duas
figuras, ele positiva as fontes das obrigações. Como assim positiva? Está na lei, tem um artigo.
Como assim as fontes das obrigações? Quando vocês estudaram Direito das Obrigações, o
professor de Direito das Obrigações falou assim “Quais são as fontes das obrigações? Como é
que uma pessoa se vincula a outra pessoa obrigacionalmente?” Aí o cara fala assim “Contrato é
a primeira fonte das obrigações.” Olha o consumidor standard se vinculando pela primeira
fonte da obrigação, só que sendo positivando isso com o artigo 2º.

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Ah, e qual é a segunda fonte de obrigação? Ato ilícito. Olha, o consumidor por
equiparação foi vítima de um ato ilícito, embora não tenha contrato, mas merece a aplicação
do CDC. Ah Renato, mas onde é que está esse dispositivo que positivou essa relação? No artigo
17. Mas no melhor estilo polishop de ser, “não é só isso”. Nós temos o consumidor por
equiparação no artigo 29. Escrevam lá:

Artigo 29. Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte,


equiparam-se aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas nele previstas.

Outro dia, eu estava dando essa aula em Porto Alegre, e aí fui ditar isso aqui,
os alunos ficaram me olhando assim. Os caras falam bonito e a gente fala feio. O carioca é
assim né? Aí, olha só, se quem fez essa porra, não era um carioca. Eu vou ditar. Vocês vão
colocar ai. Se colocar no lugar do cara lá no sul escutando o carioca na sala dele dentro do
campo na Arena do Grêmio. Imagina isso! Escrevam lá: “São terceiros expostos, as práticas
comerciais.” Isso não é coisa de carioca? Só carioca tem uma pronúncia dessas.

Renato, como assim terceiros expostos a essas práticas comerciais? Eh, eu


estou em casa assistindo televisão naquele esquema de domingo. Não tem aula na AMPERJ.
Você acorda de manhã, põe o despertador para tocar e acorda. Já viu que passa esporte no
domingo? Para quê? Para alguém se exercitar que não é você. Ai está ali deitado e, de repente,
do nada aparece assim: “O Renato pirou, televisão de R$ 4.999,00 somente por R$ 1.999,00!
Somente esse final de semana ou enquanto durarem nossos estoques.”

Nesse momento mágico, você virou consumidor. Olha que coisa louca? Se
você absorver uma oferta, você se torna consumidor. Olha como é diferente dos outros dois. O
consumidor standard fez um contrato, fez uma compra e venda, absorveu, queria aquilo. O
consumidor por equiparação não comprou nada, mas sofreu um dano que foi a panela de
pressão explodiu. O consumidor por equiparação do artigo 29 foi exposta a uma oferta. Gente,
antes de vocês estarem aqui, vocês foram expostos a algum tipo de oferta? Se vocês têm
Instagram, se vocês têm celular, se vocês têm um coisa nova que inventaram, um email. Nunca
se fez tanta publicidade, tanta técnica comercial a fim de angariar renda.
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Ah Renato, é assim mesmo é? É. E qual foi a inovação do CDC? O CDC disse o


seguinte: eu vi, não comprei, não sofri dano, mas eu tenho direito de entrar com uma ação de
obrigação de fazer para pedir o cumprimento forçado daquilo. E é diferente? É. Eu entrei em
uma loja e comprei uma geladeira, consumidor standard. Essa geladeira explodiu feriu minha
sogra. Oh glória! Minha sogra é consumidora? Sim. Consumidora standard ou por equiparação?
Equiparação do artigo 17. Eu recebi um e-mail, já sou consumidor por equiparação do artigo 29,
podendo pedir o cumprimento forçado daquela oferta. Gente, só antes que alguém levante o
braço, e aquele negócio de quer pagar quanto? Não entrei ainda no direito. No direito, eu vou
entrar já, já. O que eu estou dizendo agora, ainda é o vínculo jurídico para o estabelecimento
de uma relação jurídica de consumo. Já, já eu falo se “quer pagar quanto?” Aí o cara entra
“quero uma Mercedes e quero pagar 1 real”. Isso é justo? Gerar o enriquecimento de uma
parte em detrimento, em prol do empobrecimento do outro? Claro que não, mas vamos lá.
Renato, quero saber se realmente eu aprendi esse negócio. Vou fazer um teste aqui na sala,
agora:

Imaginem que eu comprei um relógio da empresa X. Deixa-me ficar rico! É da


Rolex. eu sou consumidor, sim ou não?

Alunos: Sim.

Professor: Sim. Standard ou por equiparação?

Alunos: Standard.

Professor: A Rolex é fornecedora?

Alunos: Sim.

Professor: Olha como é legal! Eu ainda não expliquei. Olha como isso ficou mais fácil. Todo
mundo, consumidor? Sim. Standard ou por equiparação? Standard. Legal. E fornecedor gente?
Foi aí que deu essa rateada. Deixa-me adiantar. Claro que o Rolex é um fornecedor. Claro que o
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relógio é um produto. Mas vejam como já ficou mais fácil de resolver o caso do consumidor. Eu
poderia até melhorar e falar assim: “Ah, quando eu comprar um relógio da Rolex, eu sou
consumidor? Standard ou por equiparação?” Aí todo mundo “Standard.” Qual o artigo do
consumidor standard, gente? 2º. Qual a corrente preponderante? Maximalista ou finalista?
Qual a não utilizada, maximalista ou finalista? Maximalista. Qual é a excepcionalmente
utilizada, maximalista ou finalista? Finalista Mitigada. Isso aí. Ah Renato, entendi. Eu vou repetir
esse mesmo padrão no final da aula, até o dia de hoje. Por que eu já explico isso? Porque é a
chance de eu ir embora. Você chega ali e fala “eu paguei para ver isso? Pode ir lá”. Esse é o
padrão que eu vou repetir até o final. Tá bom? Renato, consumidor por equiparação, artigo 17
e 29. O que falta estudar agora? A figura do fornecedor. Vamos do sujeito ativo para o sujeito
passivo da relação. Estudei o sujeito ativo. vamos para o sujeito passivo, o Fornecedor. O
fornecedor, gente, está no artigo 3º.

Aluno: Vi um caso, e isso me lembra um caso em que anunciaram o carro a 1 real. Ai eles
foram lá tiraram o anúncio, mas o consumidor já tinha comprado o carro, aí depois ele entrou
com uma ação. A Juíza não deu porque falou que flagrantemente foi um erro.

Professor: Eh, imagina né, cara? Cara sai lá, Mercedes AMG, não sei o que a 1 real. Aí o cara
chega com uma nota de 5 e me dá uma preta, uma prata, uma branca e pode ficar com a azul
para o senhor.

-“Muito obrigado!

- E a outra?”

-“vamos queimar!”

- “Porra não dá! Não é razoável. Isso aí começou com esse negócio do “quer pagar
quanto”. Começou com uma televisão. Era aquele desgraçado das Casas Bahia “quer pagar
quanto?” Aí, o cara entrou, um advogado lá de Recife disse: “quero pagar 1 real”. Aí levou em
primeira instância, eu entendi porque que o juiz julgou daquela forma. Às vezes o juiz de
primeiro plano, eles julgam o procedente pelo chamado caráter político pedagógico da pena.
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Está julgando assim. Ele mudou, de “quer pagar quanto?”, aí virou assim “quer pagar como?”
Mudou, adequou a publicidade. Aí, o mesmo advogado disse: “quero pagar em 500 de 1 real”.
Aí mandaram o cara embora. Ele ficou uns dez anos sumido, voltou agora, mas vê se ele fala
“quer pagar quanto?”, “quer pagar como?” Ele só vem mostrando lá os produtos, entende?
Claro que em segunda instância vai ser improcedente este pedido. Mas em primeira instância,
às vezes, é normal que isso acontece.

3. FORNECEDOR

Tá legal, Renato, fornecedor. Vamos dar uma olhada na lei. Na hora que eu
falo: pega a lei pra você sacudir um pouquinho, fazer uma coisa diferente aqui. A lei vai dizer
que:

Artigo 3. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública


ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação
de serviços.

Você fica olhando assim e pensando: quem é que não está ai? Então, qual é a
definição do Renato Porto? Escrevam lá:

“Fornecedor é todo aquele que possui a intenção de obter lucro através da


utilização de um produto ou de um serviço.”

A única observação que eu tenho para fazer para vocês aqui gente, é que,
realmente é amplo para caramba. Pessoa física, jurídica, pública, privada, nacional, estrangeira,
caraca! Ai, o Renato diz que é todo aquele que... Decidiu ganhar dinheiro com produto ou
serviço? Sim. O que poderia gerar dúvida na vida de vocês? A pessoa física. Quando é que uma
pessoa física poderia se valer do CDC? E por que isso poderia gerar uma dúvida? Imagina que

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eu vendi meu carro para você. Esse carro apresentou um problema. Você pode demandar
contra mim, já que aquele carro tinha um problema? É claro que sim, mas isso é um problema
civil, e nós temos a lei dos civis que se chama Código Civil. Se eu vendi o meu apartamento para
você e dei aquela maquiada no apartamento, coloquei o durepox na área, na tampa da
descarga. Ficou bonito. Você entrou.. Dois anos depois, o apartamento que o pessoal chama de
vício redibitório. Você pode demandar contra mim? Sim. Pelo CDC? Não, pelo Código Civil, pela
lei dos civis.

Renato, o que magicamente acontece para você deixar de demandar pelo


Código Civil e passar a demandar pelo Código de Defesa e Proteção do Consumidor? Uma
palavrinha linda que se chama “habitualidade.” Escrevam assim:

Observação: Para que uma pessoa física seja demandada pelo CDC,
necessário é que a mesma desenvolva a sua atividade com habitualidade.

Vez ou outra, durante as aulas, quando eu estiver dentro tópico que eu ache
muito importante e que pode virar questão de prova, como esse caso, que, de repente, fulano
comprou o carro de beltrano, você fala assim: “em todo o lugar do mundo, menos no CDC”.
Mas, de repente, pode ser justamente pela habitualidade. Quando tiver essas pegadinhas
assim, eu vou me valer de algumas técnicas de memória emocional. Tipo, quer ver? Já vi aqui.
Eu comecei a olhar a rapaziada e já vi que tem muita gente conhecida aqui. Geralmente,
quando eu falo que uma pessoa física pode demandar pelo CDC, eu uso exemplos. E tem um
exemplo que eu já usei aqui. Alguém se lembra de algum exemplo que eu já usei aqui? Um
exemplo para ilustrar quando é que uma pessoa física pode ser demandada pelo CDC? Alguém
lembra? Sim? Medo do bullying? Entendi. Deixa-me mostrar o seguinte: para mim, o melhor
exemplo que eu já tive de pessoa física sendo demandada pelo CDC saiu de uma sala de aula.
Cheguei para dar aula e toda noite eu dou aula. Sou advogado. Trabalho em um escritório
durante o dia e de noite dou aula. Essa é minha vida. E finais de semana, tipo aqui assim... Você
sabe que em toda sala de aula tem um comércio péssimo. Tem um mercadinho péssimo. Você
tem alguém que vende lá uma Natura, vende um bolinho de pote no corredor, na pasta sempre
tem aquele bombonzinho, aquele pessoal lá do Belém que traz um cupuaçu. Aí, entrei em uma
sala para dar aula e estava uma zona lá no final. Geralmente, o fundão ali é um negócio, né? Aí
tá bom, aquela confusão e mais de 20 mulheres. Você sabe que nada é capaz de calar 20
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mulheres que estão conversando enfaticamente e passando o carrinho da sobremesa.. Eu


estava em um churrasco ali outro dia, umas 30 mulheres conversando. Passou o carrinho da
sobremesa…. só é interrompido pelas palavras, uma olhando para outra e dizendo: “você
divide?”…. Homem é meio Neandertal. Eu fui comer com a minha mulher e com a irmã dela. Aí,
“vamos dividir um pudim?” Aí, dividiram. Aí, uma colher para cada uma e quando terminar
“bora pedir mais um?” Porra, porque que você não me pediu um? Quer dividir o remorso,
entendeu? Até ai tudo certo. Aí tá bom, você divide. Nada atrapalha. Está conversando lá no
fundo. Eu cheguei para ela, na menina aqui da frente né?

- “Vem cá, o que está acontecendo lá atrás?”

Aí tinha uma mais sem gracinha, e fica vermelha né?

- “ O que foi?”

-“É que a fulana está vendendo ‘umas’ coisas.”

Ai eu falei: “A fulana está vendendo ‘umas’ coisas?”

Olha que verbo bonito! “umas coisas” deve ser uma frase. É uma palavra só,
“umascoisas”.

-“Peraí, está vendendo ou está dando? Porque pela confusão que está, parece
doce de Cosme e Damião.”

Aí, ela falou assim: “É que não é qualquer coisa não.”

Ai, eu brinquei: “é lícito? Pelo menos.”

Lembrei-me da minha avó que falava: “é tóxico?”


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Ai está bom. Ela falou: “É que ela está vendendo calcinha.”

Aí eu falei assim: “Mas, qual problema de não ser qualquer coisa? Calcinha
não é problema.”

-“Não professor, mas é calcinha comestível.”

Vocês vão ver quando eu voltar do intervalo, eu já tenho esse jeito meio
esquisito aqui. Aí eu fico ali…

- “Vem cá fulana, vamos para aula aqui. Já vendeu tudo ai?”

-“Já professor, só falta uma.”

Aí eu falei: “Mas como é que é o negócio aí, da calcinha comestível?”

Ela falou: “ eu não sabia desse negócio”

- “Ah, tem vários sabores.”

-“Quais são os sabores?”

Aí ela falou para mim: “Olha, tem framboesa, tem morango, acerola e kiwi.”

Há umas frutas que quanto você fala não dá uma trava? Porra, em uma
calcinha comestível, acerola? kiwi? Kiwi parece até que você mordeu alumínio, fica um negócio
lá no fundo, não é muito legal.

-“É mesmo é? sobrou a de kiwi? Corta uma à francesa e coloca para o povo ai
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experimentar.”

E pronto, foi essa a história, acabou. Legal. Essa aula foi na sexta-feira. Na
segunda-feira, vocês que são do direito e tiveram aula de Penal... Quando a “porrada” canta em
casa, qual é o nome que se dá? Vias de fato. Chegaram às vias de fato. Vias de fato na sala de
aula no melhor estilo da que tinha comprado e falando para quem tinha vendido. “Vou dar na
tua cara, sua…”. Se eu já tinha gostado da fofoca de sexta, você imagina a de segunda. Fiquei,
só que a briga veio para mim. Isso sempre acontece.

-“Professor, o senhor ai que é do ‘negócio do consumidor’.”

Eu falei: “Diga!”

Doido pra saber né?

- “o que foi?”

Olha a história dela. A garota comprou a calcinha na sexta-feira e ela


contava:

-“Professor, fui usar com meu noivo no sábado. Fui lá à Barra da Tijuca. Tem
uma rua que chama rua dos motéis. O senhor sabe qual é?”

Aí eu: “Não.”

Para dar papo, segue.

Aí ela: “Na rua dos motéis, lá no final. No começo, quer dizer, tem um
restaurante japonês chamado Manekineko. Já ouviu falar?”

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Falei: “Já.”

- “O que eu fiz? Fui lá e pedi uma garrafinha de saquê.”

Já foi com a calcinha vestida.

- “Tomei o saquê, entendeu professor?”

Falei: “Ehhh?”

-“Tomei uma garrafinha de saquê e fui ali para o motel.”

- “Ótimo, com o noivo está bom.”

Falei: “E aí?”

-“E aí professor, na hora que meu noivo foi degustar, bateu uma inflamação
na glote do cara, uma reação alérgica. O cara começou a…”

Eu vi que era verdade quando ela começou:

- ”Professor, só deu tempo de tirar o chantilly dos olhos.”

Quer dizer, o cara exagerou, deve ter comprado aquela lata, ficou igual a um
bolo do Mundial, jogou umas frutas cristalizadas, ficou ótimo.

-“Só deu tempo de tirar o chantilly dos olhos e o SAMU não entrava no motel
porque o teto é baixinho.”

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Você já viu a altura do SAMU? Você já viu a entrada do motel? Sai um cara nu,
a mulher com chantilly nos olhos, e entra… Gente, e a pergunta que ela fazia para mim era o
seguinte:

- “Professor, eu posso demandar contra essa filha de uma égua pelo Código
de Proteção e Defesa ao Consumidor?”

Olhei nos olhos dela e falei: “Pode.”

Por quê? Por que ela faz isso com habitualidade. Nunca mais vocês esquecem
isso aqui. Tem que fazer uma brincadeira contextualizada. Entende? Você vai, de repente,
daqui há 5 anos: “Porra professor, lembrei.” Na hora da prova, eu quero que isso aconteça. Eu
acho que esse é um ponto sensível, a demonstração de uma pessoa física que pode ser
considerada como fornecedora e eu fiz isso que é para ativar a tal da memória, emocionar e
você lembrar no dia da prova. Está legal? Eu vou fazer mais isso até o final da aula, então se
quiser ir embora, ainda dá tempo. Entendeu? Eu vou fazer muito.

4. OBJETO

Então, Renato. Tem o consumidor que pode ser standard ou por equiparação.
Eu tenho o fornecedor que pode ser pessoa física ou pessoa jurídica. E o que está faltando? O
objeto. Vamos primeiro para produto. Produto está no artigo 3º também gente, mas no
parágrafo 1º. E o serviço, vai estar no artigo 3º, só que no parágrafo 2º. Anotem lá:

Artigo 3. § 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,


material ou imaterial.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.

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Renato, por que o legislador não escreveu “produto é tudo”? Porque o


legislador utilizou o chamado princípio de cláusulas abertas. Eu crio a norma de ordem
subjetiva pra dar a possibilidade de ela durar mais tempo. Imagine se eu falasse, por exemplo,
aposentadoria compulsória aos 70 anos. Fez 70 anos, eu não tem o que flexibilizar. Ali está
pontuando. Agora, se eu falo que o produto é um bem móvel ou imóvel, material ou imaterial,
a norma não fica para trás.

Renato, essa norma de quando é? É de 1990, 11 de setembro de 1990. Ela


entra em vigor em março de 1991. E se o legislador não tivesse feito isso (“o produto é
qualquer bem móvel ou imóvel, material ou imaterial”) se valendo desse tipo de formação de
uma regra de ordem subjetiva. Olha o que poderia acontecer. Nossa vida mudou muito de 1990
para cá, gente? Quando eu dou aula aqui no final de semana para o pessoal da faixa etária de
vocês ai, muitos dos presentes falam: “mudou demais. Por que professor?”, “Por que muita
gente não estava nem aqui no planeta ainda.” Não é? O que eu fazia em 1990? Mas muitos
estavam vivos. E aí, em 1990, quando surge o Código de Defesa do Consumidor tinha telefone
celular? Não. Telefone celular chega em 1992 com a Eco 92, que foi a avó da Rio+20, que já
virou avó. E aí, você ia ao Riocentro e levava um tijolão. Aliás, qualquer celular, que você levava
lá e aí habilitava a linha 982... Não tinha 9982. Foram os primeiros telefones. Pagava quem
ligava e pagava quem recebia. Eu não esqueço, mas já fiz um inventário e arrolava “1 telefone
celular Motorola, elite, a linha número tal..” Era bem… e quem tinha, atendia na frente de todo
mundo, que era para humilhar o povo. Era essa a perspectiva. No outro dia, o cara parou no
sinal para mim, porque não sei o que, aí eu falei assim:

- “poxa, não tenho dinheiro não”

-“aceito cartão.”

Com uma Moderninha pendurada no pescoço, linkada no celular que estava


no bolso. Cara, quem não tem celular hoje? A vida mudou. Quando a gente falava de telefone
nos anos 90, a gente está falando de telefone fixo. Será que a geladeira mudou de 1990 para
cá? Será que a televisão mudou? Ficou até pior né? Porque toda hora quebra. E antigamente
durava uma vida. Eram 8 homens para carregar uma televisão. Aí, você sabe se o tempo passou

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se já pagou multa por ter devolvido filme sem rebobinar.

Tá bom, Renato, a vida mudou e ai? É como se a lei estivesse falando assim:
“telefone”. E aí surgiu o telefone celular. Aí, eu: “a lei disse telefone. Não disse telefone celular.
Falou ar-condicionado. Não falou split. Falou geladeira, e não falou frost-free. Falou não sei o
que...”, sabe? Opa, Renato, entendi. Então, o legislador utilizou esse princípio de cláusulas em
aberto para essa lei durar mais tempo. Ok. Isso para produto. Renato, como é que eu faço para
diferenciar produto de serviço para eu nunca mais esquecer? Lá na aula de Direito das
Obrigações, o professor ensinou para vocês que nós temos uma obrigação que se chama
obrigação de dar. E tem uma outra obrigação que se chama obrigação de fazer. Na obrigação
de dar, eu envolvo a transferência de domínio. Por quê? Essa caneta era de uma pessoa e ela
deu essa caneta para outra pessoa. Ela tornou-se o dono, transferiu o domínio, virei o dono
disso aqui. Isso é obrigação de dar. E o que é obrigação de fazer? Alguém é remunerado e não
entrega nada, não transfere o domínio de nada. Ele pratica um ato. Como eu estou fazendo
aqui agora, eu estou sendo remunerado para praticar esse ato que é ensinar vocês. Vocês não
estão virando donos do meu conhecimento. Eu estou trocando meu conhecimento com vocês.

Legal. Renato traz isso para o Direito do Consumidor. Bom, quando vocês
remuneram a AMPERJ, vocês estão remunerando pela aquisição de um produto ou pela
prestação de um serviço? Prestação de serviço. Toda vez que você for obrigação de fazer, é
serviço. Toda vez que for obrigação de dar, é produto. Comprei uma televisão, produto.
Comprei uma geladeira, produto. Comprei um ar-condicionado, produto. Ah, tenho uma conta-
corrente no banco, serviço. Tenho um plano de saúde, serviço. Tá, estou aqui na minha aula,
serviço. Então, vamos fechar essa história aqui agora. Renato, o consumidor pode ser standard
ou por equiparação. O standard está no artigo 2º. O consumidor por equiparação está nos
artigos 17 e 29, na maioria das vezes. O fornecedor está no artigo 3º sempre. E o produto ou o
serviço vão estar sempre no artigo 3º, parágrafo 1º e parágrafo 2º. Até aqui está tranquilo?

Legal! Joguinho de forca: questão nº 1. O que é isso? (três letras). Renato, eu


vou achar o sujeito ativo, vou achar o sujeito passivo e vou achar o objeto. Só depois de achar
isso aqui é que eu continuo em uma questão de Direito do Consumidor. Porque se eu não
preencher isso aqui, estou no lugar errado. Entendeu? E ai não é para você responder pelo
Código de Defesa do Consumidor. Eu tenho uma panela de pressão da Rochedo. Eu sou
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consumidor, gente? Sim ou não? Sim. Mas, eu sou consumidor standard ou por equiparação?
Standard. Qual é o artigo do consumidor standard? 2º. Aí, eu venho aqui nessa casinha (do jogo
de forca) e escrevo “2º”. A Rochedo, que fez a panela de pressão, ela faz aquilo sempre para
ganhar dinheiro, sim ou não? Sim. Qual é o artigo do fornecedor? 3º.

- “ah, ele está me ensinando então a fundamentação jurídica”. Eu estou


entendendo.

E vem cá, uma panela é um produto ou um serviço? Produto. Então é


parágrafo 1º ou 2º? 1º. Você fazendo isso aqui gente, você pode continuar estudando o Código
de Defesa do Consumidor. A primeira pegadinha que os examinadores vão tentar fazer com
vocês, é levar vocês a erro aqui. Se vocês fizerem isso que eu estou falando, o erro acabou. E se
a panela de pressão explodiu e feriu minha sogra? Minha sogra é consumidora, sim ou não?
Sim. Standard ou por equiparação? Por equiparação. O artigo 17 ou 29? 17. O artigo 29 é se for
exposta a uma oferta. Se eu estivesse diante do caso dela, aqui seria artigo 17. A panela de
pressão, a Rochedo é fornecedora. E fornecedora de produto! A Defensoria Pública daqui do
Rio de Janeiro, em um de seus concursos, acho que foi no penúltimo concurso, cobrou a
seguinte questão:

Um ladrão foi até uma instituição financeira e abriu uma conta corrente em
nome de outra pessoa, com o CPF dela. Essa pessoa recebeu a cobrança e estava com o nome
negativado. Quando ela vai até o banco pra brigar, o banco fala:

-“Mas você é nossa cliente”.

E a pessoa dizia: “Não, eu nunca entrei aqui que não no dia de hoje. Eu sou
cliente do banco tal.”

-“Ah, então você está dizendo para mim que você não é consumidora?”,

-“Não.”
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-“Então, você não pode entrar com um processo pelo Código de Defesa do
Consumidor.”

O que ela podia dizer? “Eu não sou consumidora standard.” Mas ela é
consumidora por equiparação. É isso tá? Então, vocês já aprendem a fazer a fundamentação
jurídica preenchendo esse quadrinho aqui, gente. Poxa, explodiu não sei o que! Sujeito ativo?

Alunos: Consumidor por equiparação do artigo 17.

Fornecedor? Está sempre no artigo 3º. Ai, produto ou serviço? Obrigação de


dar ou de fazer? Bicicleta, produto. Geladeira, produto. Televisão, produto. Projetor, produto.
Câmera, produto. Essa placa, produto. Conta no banco… É só você fazer o seguinte: virei dono?
Virei! É produto. No banco você vira dono de alguma coisa? Não e ainda perde um, serviço.
Legal, já está aqui a relação de consumo. E se excepcionalmente cair na sua prova qual é a
corrente preponderante? Finalista ou maximalista?

Alunos: Finalista.

Qual a não utilizada: finalista ou maximalista?

Alunos: Maximalista.

Qual a excepcionalmente utilizada?

Alunos: Finalista mitigada.

Estou muito feliz com vocês. Vamos para segunda parte agora.

5. DIREITO BÁSICOS DOS CONSUMIDORES

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Agora eu vou começar a ensinar para vocês quais são os direitos dos
consumidores. Mas para eu ensinar cada direito, vocês tem que saber o seguinte. Quer ver?
Vou mostrar aqui. A gente a partir de agora vai estudar os direitos básicos dos consumidores.
Os direitos básicos vão estar no artigo 6º.

● No inciso I do artigo 6º fala de proteção, vida, segurança e saúde dos


consumidores;
● No inciso II fala de educação;
● No inciso III fala de informação;
● No inciso IV fala de três direitos: publicidade, práticas comerciais
abusivas e cláusulas abusivas;
● No inciso V fala de contratos;
● No inciso VI fala de danos;
● No inciso VII fala de acesso ao judiciário;
● No inciso VIII fala de inversão do ônus da prova;
● O inciso IX foi vetado;
● No inciso X fala dos serviços públicos em geral.

Artigo 6º São direitos básicos do consumidor:


I - a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos
provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;
II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a
igualdade nas contratações;
III - a informação adequada e clara sobre os diferentes
produtos e serviços, com especificação correta de quantidade,
características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os
riscos que apresentem;
IV - a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e
cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços;
V - a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam
prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos

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supervenientes que as tornem excessivamente onerosas;


VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e
morais, individuais, coletivos e difusos;
VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com
vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica,
administrativa e técnica aos necessitados;
VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a
inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;
IX - (Vetado);
X - a adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
geral.
Parágrafo único. A informação de que trata o inciso III do
caput deste artigo deve ser acessível à pessoa com deficiência,
observado o disposto em regulamento. (Incluído pela Lei nº 13.146, de
2015) (Vigência)

Então, o que você tem que fazer? Identificar a relação de consumo. Depois
que você identifica a relação de consumo, dá uma corrida no artigo 6º e tenta achar um direito.
Se você achar um direito, é porque o cara tem direitos e você está com a sua questão pronta.
Se você não encontrar o direito, é porque ele não tem os direitos. E aí, eu vou explicar para
vocês quais são as causas excludentes da responsabilidade civil. Vocês sabem que toda história
tem quantos lados, gente? No mínimo 3. A minha versão, a sua versão e a verdade. Não é
verdade? Então tá. Ai, chega outro dia, uma cliente lá no escritório falando:

-“Renato, eu tenho uma conta corrente no Itaú há mais de 20 anos, nunca


atrasei e sempre paguei em dia, fiz, acontecer, não sei lá o que…”

-“Ah, e aí?”

-“Aí, eu não paguei o boleto do mês passado e eles me negativaram. Você não
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sabe o que aconteceu essa semana?”

Eu falei: “O que?”

-“Eu fui fazer uma compra e não aceitaram a minha compra. Você não sabe a
vergonha que eu passei.”

Quando ela terminou de falar, eu, raciocinando, tecnicamente na minha


cabeça, estou pensando assim: relação de consumo tem. Se eu tenho uma conta corrente no
banco e sou uma consumidora standard, o banco é fornecedor de serviço, fechou. Agora, você
tem uma conta há 20 anos, sempre foi lindo, perfeito e ótimo. Aí, não pagou, e aí, negativaram.
Eu sou casado com você há 30 anos. Durante 30 anos, você me deu fidelidade. Essa semana,
você escorregou, caiu em tentação. Foi, mas voltou. E aí, deixou de ter....sabe? Então, se você
não fez o pagamento, embora exista a relação de consumo, você não tem direito básico. Aí,
você responde como? Você sai dizendo “olha, embora existente a relação de consumo, inexiste
o direito básico porque nós estamos diante...”

E aí, eu vou explicar na segunda etapa diante dessas causas excludentes da


responsabilidade civil. Culpa exclusiva do consumidor, nesse caso. Foi você que deu causa ao
evento. Teve uma aluna que comprou. Ela falou pra mim:

-“Professor, quando a coisa está braba para o meu lado, eu vou no doce de
leite.”

Eu falei: “É mesmo? E como é você faz?”

-“Compro uma lata de leite moça, coloco na panela de pressão e deixo lá não
sei quanto tempo. E aquilo é uma delícia.”

-“Mas, já vende pronto hoje em dia.”

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

-“É, mas o problema não é esse não.”

-“E qual é o problema?”

-“O problema é o seguinte, se em uma panela de pressão com 40 minutos faz


doce de leite. Eu falei que com 15 minutos no micro-ondas resolve.”

Aí, ela pegou a lata de leite moça, colocou no micro-ondas em 15 minutos…


Meus amados, o que aconteceu com o micro-ondas? Queimou. Existe relação de consumo,
gente? Existe. Mas existe direito? Não. Qual é a causa excludente de responsabilidade? Culpa
exclusiva da consumidora. Viajei para Friburgo com a minha mulher. Minha mulher falou assim:

-“coloca o secador de cabelo aí!”

Aí eu fui ligar e..., sabe qual é? Furacão. E o que foi? Era 220V. Eu liguei o
secador 110V e pronto. A outra foi. Caiu aquele tufinho de tão vermelho que ficou. Arregaçou
com o cabelo e ficou com cheirinho de queimado. Fui embora. O que é isso neste caso? Culpa
exclusiva de terceiros, que foi no meu caso (eu e minha mulher). O imbecil aqui que ligou sem
verificar minimamente isso.

Ah, Renato, tá bom. Olha ai, tem relação de consumo, mas não tem direito
básico. A conta vai ser essa. Agora, se eu assistia uma publicidade na televisão que dizia:

-“O Ricardo pirou, televisão de 3 mil reais por R$ 1.900,00.”

Não é R$ 190,00, mas sim, é R$ 1.900,00. Pode acontecer essa promoção


assim por R$ 1.900,00? Pode. Aí, fui até lá. Aí, o cara fala:

- “Não, não teve isso não. Mas, aproveitando que você está aqui, tem aquela
outra ali.”

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

-“Não, tu vai me vender”

“Não vai.”

Começa aquela pobreza. Primeira pergunta que eu faço: nessa hora da briga
você é consumidor, sim ou não? Standard ou por equiparação? Standard. Do artigo 17 ou 29?
29. Tá vendo? Exposto à oferta, olha como que na prática vai mudando.

Provavelmente a pessoa diria para você “Mas, você não consumiu nada.
Como é que vai se valer do CDC?”

Aí, é a hora da pobreza.

-“Não sou consumidor standard, mas sou consumidor por equiparação.”

Você ainda pode meter assim: “Pega lá o CDC para eu te mostrar isso.”

Ai ela vai dizer assim: “Eu não sou obrigada a ter o CDC.”

-“É. Tu votou no Lula há um tempo atrás. Ele criou uma lei.”

É verdade, o Lula criou uma lei em que todo estabelecimento comercial tem
que ter um CDC à disposição do consumidor, sob uma multa de 1.780 UFIR.

Aí você vira pra ela e fala: “Olha, R$ 1.700,00.”

-“Ah, só um momento.”

Ela vai arrumar e quando ela vier...


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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

-“Olha aí, sou consumidor por equiparação do artigo 29.”

-“Ah, mas acabou.”

-“Acabou? Deixa-me ver a nota fiscal. Porque é de venda, não falou que
acabou? Acabou. Cadê a nota fiscal que prova a venda?”

-“Ah, não sou obrigada a mostrar.”

-“É sim.”

-“Não, não sou não.”

-“Então me dá uma bala.”

-“Por quê?”

-“Dê-me bala. Não vende bala?”

-“Ah, Casa & Vídeo. Comprei a bala, paguei.”

-“Ah, porque você comprou a bala?”

-“Porque agora eu tenho a nota fiscal que prova o número dela e o horário.
Então, eu vou entrar com uma ação de obrigação de fazer, porque eu sou o consumidor por
equiparação do artigo 29, para que o seu patrão me apresente todas as notas fiscais que foram
emitidas entre 10h da manhã e até 10h10minh. Se você me apresentar dentro dessas notas as
370 unidades que já foram vendidas, ótimo. Semana que vem eu volto e chego mais cedo. No
entanto, se isso aqui for mentira..”

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Aí você pode falar: “Você sabe a diferença da responsabilidade civil pra


penal?”

Ai, ela vai falar: “Não.”

-“Na cível, é o teu patrão que vai ter que cumprir forçosamente, porque eu
sou a consumidora por equiparação do artigo 29.”

Aí vai falar ela ou ele: “E a penal?”

- “E o bambu?”

- “A penal é sua, porque é quem pratica o ato.”

Renato, mas tem algum crime de consumo? Artigo 66 do Código, olhe lá.
Fazer afirmação falsa ou enganosa. Detenção de três meses ou multa.

Artigo 66. Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir


informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade,
quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia
de produtos ou serviços:
Pena - Detenção de três meses a um ano e multa.
§ 1º Incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.
§ 2º Se o crime é culposo;
Pena Detenção de um a seis meses ou multa.

O Código de Defesa do Consumidor, ele tem o aspecto do Direito Civil, o


direito material, ele tem o direito processual próprio, ele tem o aspecto criminal e tem um
aspecto administrativo. Por isso que existe, por exemplo, o PROCON. Por isso, o CDC é
considerado um microssistema próprio de defesa do consumidor. Ele tem regras próprias. Ele
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DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

consegue caminhar.

Ah, Renato, entendi. Então, vamos lá.

Renato, eu acho a relação de consumo e depois acho o direito básico. Depois


que você me explicar todos esses direitos básicos e alguém disser que isso aqui é mentira, é
crime? É. O Artigo 66 é fazer afirmação falsa ou enganosa. Algo que vai ao encontro com o que
eu estou trabalhando aqui com vocês. Então, eu vou explicar cada um desses direitos básicos
para que no final desse primeiro tempo você fale “humm, já posso sair dessa sala e arrumar um
problema.”

Tá bom, Renato, então vamos nessa! Primeiro, a proteção à vida, a saúde e a


segurança. Escrevam:

Produtos ou serviços não poderão proporcionar riscos à integridade dos


consumidores, salvo, aqueles normais e previsíveis. No entanto, quando normais e previsíveis,
o fornecedor terá o dever de informar dos perigos, desses riscos.

Lindo! O ideal é que vocês tenham esse quadro aqui, que pode ser tanto
assim como eu coloquei ou, se vocês quiserem colocar assim no caderno, porque é como se
fosse um esqueleto o que vai ser abordado. E abaixo disso, eu vou explicar o que é cada um
desses.

Produtos ou serviços não poderão proporcionar riscos. Risco é perigo. Risco é


possibilidade de dano. Então, se a lei diz que o produto não pode produzir sequer um risco, eu
inauguro aqui o que a gente chama de fase preventiva de Direito do Consumidor. Antes de o
produto causar dano, eu já estou dizendo “olha, se esse produto causar risco, tu já responde.” E
é por isso, talvez você entenda agora, porque que nós temos tantas chamadas para recall. Para
o que serve a chamada para o recall? O cara vendeu o produto e viu que tinha um risco.
“Atenção, senhores usuários do veículo tal, do ano tal até o ano tal, comparecer para troca da
peça tal.” Porque ele viu o perigo. Ah, legal Renato. Então, não pode ter sequer o risco? Não. Se
a lei tivesse dito assim “produtos ou serviços não poderão produzir danos”, aí iria ter que
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esperar a hora do dano para produzir uma indenização. E senhores, eu vou falar uma coisa para
vocês: hoje, eu peguei um vídeo e postei na internet. Ah, quem quiser me seguir, pode me
seguir. Eu estou em um Gol branco... A rede que eu mais frequento é o Instagram. Eu me
amarro no Instagram. Então é só escrever Renato Porto. Sou que nem uma entidade, joga lá
Renato Porto que eu apareço... E ai eu gravei um vídeo de hoje...me sigam por seguir tá! Não
preciso falar: “olha, eu vou dar um livro”. Todo dia, eu posto um vídeo diferente. Por quê?
Porque vocês vão ter a prova. E não é incomum que até lá a jurisprudência se adapte. Irão
surgir novos direitos. Eu ia falar que podia surgir só um, mas não, irão surgir vários direito até o
dia da prova. Então eu vou postando sempre e você vai me olhando ali e dizendo “ah, mudou.”
E se tu quiser saber um pouquinho mais, eu sempre coloco um vídeo explicando um pouquinho
melhor nessas redes sociais. Eu trabalho muito com rede social. Nesse vídeo de hoje que eu
postei, tem uma comunidade que eu acho que é “eu amo direito”, onde eles reproduziram, e
tem um tal de “direito news”, que eles também reproduziram o vídeo que eu postei falando
sobre a matemática jurídica, que é pra falar sobre isso.

Se a lei não tivesse dito risco, mas tivesse escrito dano, a Ford (agora eu vou
caguetar) vendeu um produto (uma picape), que quando abalroada pela traseira (no vídeo eu
não digo Ford, eu digo “uma famosa montadora”),o tanque de combustível se rompeu e duas
coisas poderiam acontecer: o carro explodia, ou então, a pessoa incendiava, porque estava ali
dentro e ia romper o tanque de combustível. Antes do primeiro acidente, a Ford identificou a
falha e falaram:

“Vamos chamar para o recall.”

Mas aí o departamento financeiro falou assim: “Peraí, vamos fazer conta


antes.”

-“Como assim fazer conta?”

Vamos estudar isso aqui. Em média, quantas picapes são abalroadas pela
traseira? Ah, é uma média de 10% de todas as picapes que a gente vende no mundo são
abalroadas pela traseira. Quantos abalroamentos são fortes ao ponto de atingir o tanque de
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combustível? Porque às vezes você só tem aquela batidinha. Ah, aí a gente está falando de 1%.
Bom, desses 1%, quantos por cento irão descobrir que morreram por causa disso?

-“Ah, tá de sacanagem, é 0,5%.”

Bom, desses 0,5% quantos vão acionar? 0,3%. Desses 0,3% quantos irão
ganhar, porque vai ter umas feras que vão ajuizar isso no JEC.

- “ é 0,2% “

Qual é a média de condenação? Gente, qual é a média de condenação que a


gente tem aqui no Brasil? Multiplica pelo número de pessoas que morreram, porque sai muito
mais barato deixar você morrer do que promover o reparo. Renato, isso é novidade? Não, isso
sempre foi feito. Vai ser feito e vai continuar sendo feito. Tinha uma linha de televisões agora
que estava com problema, aí os caras: Vamos trocar? Mesma coisa, mesma conta. Peraí, antes
de trocar, vamos pensar! Quantas televisões vão quebrar? Das mil, desse lote de mil? 100.
Poxa, coisa pra caramba. Vamos trocar. Não, não, deixa. Por quê? Porque das 100, quantos vão
entrar com o processo? 10. Desses processos o que faz? Contrata o Renato e manda-o oferecer
lá uma televisão nova e 500 reais de dano moral. Na boa, você está na audiência, chega o
advogado bonitinho e diz assim. Não que eu seja no caso arrumadinho não, até porque eu não
vou. O cara chega lá e fala assim: “Olha, eu lhe dou uma TV nova e mil reais de compensação
pelo imenso transtorno que você teve.” O que o conciliador fala para você, gente? “Aceita.”
Deixa-me ajudar, pega essa “merda” correndo, até porque se for lá pra dentro tudo pode
acontecer. Olha, o judiciário trabalhando contra o consumidor e a favor dos maus
fornecedores. E aí, quando eu venho sustentando, dizendo para todo mundo que no meu modo
de ver (e aí, não é para colocar na prova não!), você deveria adotar a teoria do desestímulo.

O que é a teoria do desestímulo? Enquanto a gente continuar condenando em


500 reais, 200 reais, você está estimulando que os fornecedores continuem praticando esse
ato. Quando você tiver uma indenização emblemática, você vai matar esse mal pela raiz. E eu
ainda sou obrigado a escutar: “Mas e a indústria do dano moral…” Existe uma indústria? Óbvio
que existe, mas porque existe matéria-prima. Se os fornecedores não colocassem o atendente
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Eduardo da OI para falar comigo, não ia existir uma indústria, existiria uma fabriqueta de
bricolagem de fundo de quintal. Então, toda vez que você estiver advogando para alguém e o
cara falar “vai fomentar a indústria do dano moral”, você diz: “sua culpa.” Esse argumento é um
tiro no seu pé. É tão imbecil quanto alguém que fala assim: “se estuprou é porque você viu
também o tamanho do vestido…” Cala a ‘porra’ da tua boca! O estupro nada justifica, assim
como isso também nada justifica. Entende? E infelizmente, as sentenças diminuem para
diminuir o trabalho, para desestimular que o consumidor entre com o processo. Se você
condenassem bem, você ia matar o mal pela raiz. O fornecedor não ia errar mais. Entende?

Aluna: Falando sobre o acordo, né? Porque eu já fui a uma audiência que a
própria juíza leiga falou pra mim: “ Dra., é melhor a senhora aceitar o acordo porque a sentença
não vai chegar a isso.”

Professor: Aí, deu ruim né? Não dá! Bom, é porque eu sou advogado, e eu
vivo muito isso, entendeu? Eu não tenho no final do mês certinho! Então, é uma guerra e eu
estou na luta então. Vocês vão ter aula com meu sócio aí. Ele está dando aula e vocês vão ver
também. Tá na luta, na guerra. Ali é brabo. Aquele ali é brabo.

Olha aqui gente, proteção à vida. Então, produtos ou serviços não colocando
em risco a segurança. E olha porque você ver isso às vezes acontecendo, porque acaba valendo
a pena. Aí vem a vírgula, “salvo aqueles normais e previsíveis” que vocês escreveram aí. Por
que? Podem existir produtos perigosos? Óbvio que sim! Até porque se você vender uma faca
que não corte, você vai processar o fabricante dizendo “olha, essa faca não corta”. Tu compra
uma tesoura que não corta? Não, existem produtos perigosos. Existem serviços perigosos. Você
não tem mais o que fazer na vida, você resolve fazer corrida de aventura. Fazer 272 km na
neve. Eu vou subir o Everest, eu vou fazer...Parabéns, legal, mas não vai depois responsabilizar
o organizador do evento. Por que? Porque aquilo é perigoso. Você é cardíaco e vai saltar de
paraquedas. Aí é que vem a questão de prova. Claro que existem produtos e serviços perigosos,
mas quando você estiver diante de produtos ou serviços perigosos, qual será a obrigação do
fornecedor, gente? Informação. É perigoso? É. Então, avisa do perigo. Antes que alguém daqui
dessa sala, levante o braço, e diga “professor, eu preciso avisar que se você for cardíaco, não é
adequado que salte de paraquedas?” Falei: sim. Por quê? Você vai me perguntar. Você tem que
acreditar naquilo que sua mãe falou para você. Você não é todo mundo. E por que você não é
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todo mundo? Gente, na boa, me amarro em dar aula aqui pelo o seguinte: quantos alunos
tinham na faculdade no dia que vocês entraram? Quantos alunos tinham na sala.. Uau, 80, mil.
Quantas testemunhas concluíram junto com vocês? Ah, se tu é da UFRJ, ou da UERJ, que são
universidades que são públicas, normalmente, a taxa de evasão é menor porque você não tem
a mensalidade. Mas quem veio de uma escola particular, sabe que você começa com 80 alunos
e, às vezes, termina com 16, 20. Dos 20, quantos passaram na OAB? Deixa eu dizer a estatística
da OAB: 92% de reprovação. Das 3 testemunhas, quantas estão tentando adquirir
conhecimento, como vocês, em uma das maiores escolas jurídicas do Brasil? Só vocês. Então,
acredite, você não é todo mundo. Percebem, você não pode passar nesse concurso e aplicar a
norma sob a sua ótica. Você tem que aplicar a norma segundo a ótica da média. E a média não
chega nem perto do teu raciocínio. Então aquilo que para você seria óbvio - claro que se eu sou
cardíaco, eu não vou saltar de paraquedas - isso não pode servir para média. E quem é a
média? Quem vai saltar vai ser Caio, Mévio e Tício, porra. Então, tem que avisar.

Os produtos ou serviços não poderão produzir riscos, salvo aqueles normais e


previsíveis. No entanto, nos casos normais e previsíveis, o fornecedor terá o dever de informar.
O que cai na minha prova? Cirurgia de próstata. É isso que é o maior número de demandas. O
cara vai e faz a cirurgia de próstata, e a boa técnica médica não evoluiu ao ponto de fazer uma
cirurgia 100% segura. Por quê? Ainda que a cirurgia seja um sucesso, a pessoa pode ficar com
incontinência urinária ou com impotência. Aí o cara vai, faz a cirurgia perigosa e fica impotente
e processa. Há processo ‘pra cacete’ no tribunal falando disso. Você vai falar para mim assim:
“e aí?” Eu já vi vários depoimentos de neguinho falando “porra, eu preferia ter morrido.” Sério,
“eu preferia ter morrido, porque que não me avisou?” Era isso, então é por isso. Eu não sei
quem já fez uma cirurgia, que quando você vai fazer uma cirurgia, porque qualquer intervenção
cirúrgica, por si só, é um ato perigoso. A intervenção cirúrgica ela é perigosa por sua essência. O
que eles dão? Um termo de Informação, termo de ciência para você saber quais são os perigos
daquilo ali. Para o cara virar e dizer: “não quero.” Não estou fazendo juízo de valor e dizendo se
é certo ou errado. Eu estou dizendo sob o ponto de vista jurídico. O cara tem que ser avisado,
porque para você pode ser óbvio, mas para ele não. E o promotor, ele tem que trabalhar para a
média e não para a sua média. Assim como o juiz, assim como o defensor, e assim vai... Legal?
Então, tá bom. Esse foi o inciso I: proteção à vida, saúde e segurança.

Educação: inciso II:

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Artigo 6º São direitos básicos do consumidor:


II - a educação e divulgação sobre o consumo adequado
dos produtos e serviços, asseguradas a liberdade de escolha e a
igualdade nas contratações;

Os consumidores deverão ser adequadamente informados, para com isso,


exercerem sua liberdade de escolha.

Consumidor educado tem liberdade. No meu modo de ver, a Constituição


Federal tinha que ter um artigo que dissesse: “todo cidadão brasileiro tem o sagrado direito de
se fuder.” Tinha que estar escrito isso. Por que? Não, na boa, desde que você seja informado.
Qual é o grande problema da educação para o consumo, gente? Nós somos mal informados e
fazemos péssimas escolhas. Se eu fosse bem informado, se eu soubesse que um energético tem
a quantidade de cafeína que é o equivalente a 50 cafezinhos e que quando eu misturo com o
álcool, eu potencializo os efeitos sem contar o corante caramelo e sem contar a taurina. Tudo
que termina com “ina” não é bom. Sem contar as “inas” todas que tem. Está sabendo disso?
Estou. Vai lá garoto, não tem problema. Agora eu dizer que “vai te dar asas”, como se você
pudesse mais do que poderia se não utilizasse aquele produto, “vai te dar asas” mesmo, porque
você vai morrer. Então, tem que avisar dos riscos, e se você estiver ciente dos riscos, desculpe,
não é para vedar a venda do produto não. Quando a gente fala dos energéticos, fica muito
simples. Mas vamos logo lá, vai ser o dia que eu vou acabar com a vida de vocês. Olha aqui,
vocês vão jogar na internet e vão colocar assim: “organização mundial da saúde (OMS) - lista
dos dez piores alimentos para consumo humano”, os dez piores. O ser humano não pode
consumir, e se consumir, vai morrer. Você sabe qual é o alimento mais lesivo, o pior da história,
o ser humano não conseguiu fazer nada pior do que aquilo e vendem para vocês, vendem para
mim e eu consumo de vez em quando? O pior de todos. Quem abriu a internet me diz:
“refrigerante zero”. É nessa hora que você fala: “porra, por isso é que eu estou fora do zero.”
Segundo pior alimento? Refrigerante normal. Eu não posso vender esse negócio que lhe mata.
Eu não posso lhe vender isso dizendo que é para fazer em família. Você está entendendo? É
uma educação equivocada. Então, eu tenho viajado muito para educar as pessoas. Isso que eu
acabei de fazer com vocês, essa brincadeira aqui, é educação. Você fala “caralho professor,
sabia dessa porra não”. Aí, vai e conta para outro. Aí, vê um vídeo e espalha, e o negócio vai. E
você tem o direito de dizer o seguinte: não quero mais o refrigerante ou não. Fica ai com o que
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o Renato falou. E por que eu falo só dos dois, gente? Porque quem já foi bisbilhotar aí e viu que
se eu falo demais, de tudo, desses 10 alimentos, você começa a criar desculpa. Se eu falar que
salgadinho de milho, sorvete de máquina, todos os embutidos..., Renato, o que é embutido?
Presunto, copa, salaminho etc. Se eu for falando ai, daqui a pouco, você está falando: “mais aí
né? Qual o sentido de permanecer vivo?” Entende? A gente arruma essa desculpa. Vou ficar
sem comer meu salaminho, beber minha cerveja. Aliás, é melhor beber cerveja do que
refrigerante. Ótimo, mas saiba disso. Legal, isso é educação.

E por que eu tive que fazer essa brincadeira? Para mostrar o seguinte, que ela
acontece antes da informação. Olha para mim, não escreve não. A informação, eu fui comprar,
e aí, eu sei a quantidade de calorias, o sódio, a rotulagem. A informação é referente à
rotulagem. As informações gerais relativas aos produtos e serviços. Eu sou educado para fazer
escolhas. Depois que eu faço a escolha, eu quero esse produto, aí eu vou saber o que é que
tem. Se tem corante ou se não tem, se tem glúten ou se não tem.

O que é que pode cair na minha prova, gente? Vamos lá. Eu jurei que eu iria
falar de jurisprudência. A todo instante, eu estou trazendo jurisprudência sem vocês
perceberem. Agora não, vou falar que caiu isso. Acho que foi há 2 anos atrás, num dos
informativos de 2017, uma associação entrou com uma demanda contra a indústria do ramo
alimentício para que produtos que contenham glúten venham informando que aquilo é
prejudicial para portadores de doença celíaca. Então vale uma observação no que diz respeito à
informação. Os produtos que contém glúten devem informar dos perigos aos portadores de
doença celíaca. A única forma daquele que tem a doença celíaca sobreviver adequadamente é
sem glúten. Então, se o seu produto pode matar uma determinada faixa da sociedade, então
você tem que informar.

Tem uma segunda observação dentro desse mesmo julgado. Mais a frente, eu
vou mostrar para vocês que o Direito do Consumidor, ele pode se dá de forma individual ou de
forma coletiva. Vocês estão aqui não é à toa e o inciso I do artigo 81 diz que o MP é quem tem a
legitimidade para ajuizar ações coletivas. Além do MP, você tem o MP, os Estados, os
Municípios, o Distrito Federal, a União, os órgãos da administração pública, como o PROCON, e
as associações de defesa do consumidor que sejam constituídas há mais de 1 ano. Isso é uma
regra. Só que você tem uma regra da dispensa da pré-constituição de 1 ano, que é quando for
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situações de clamor público em que a vida estiver em risco ou algo do gênero. E ai, nesse
informativo, ele diz o que o fornecedor deve dizer para os doentes de doença celíaca que
contem o glúten. Só que nesse julgado dispensa-se a pré-constituição de 1 ano. Então, vale
como segunda observação.

OBSERVAÇÃO:

No caso de uma demanda coletiva será dispensada a pré-constituição de 1


ano por parte das associações.

Então, eu não preciso esperar 1 ano para eu poder constituir a associação


para poder promover essa demanda caso algum fornecedor esteja praticando isso.

Então, eu tenho proteção à vida, eu tenho educação (que acontece antes), eu


tenho informação (calorias, glúten, corante caramelo, corante amarelo, e assim vai).

Chegamos à publicidade.

Publicidade: O inciso IV, ele fala de publicidade, de práticas abusivas e de


cláusulas contratuais abusivas.

Artigo 6 - IV - a proteção contra a publicidade enganosa


e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra
práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos
e serviços;

Primeiro, vamos falar de publicidade. É muito importante que nunca mais em


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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Direito do Consumidor, vocês repitam a palavra “propaganda”. Propaganda visa propagação de


uma mensagem. Não necessariamente a propaganda produz renda, produz lucro. Quando eu
faço a propaganda do que fazer para evitar a dengue, eu estou propagando aquela mensagem,
e não necessariamente, no primeiro plano, eu quero ganhar dinheiro com aquilo. Já a
publicidade não. A publicidade visa lucro. Se você assistir a publicidade do novo veículo da
Honda, o que a Honda quer não é informar ninguém. Ela quer vender aquilo. Então, em Direito
do Consumidor, o que engana o consumidor não é a propaganda. Eu não estou dizendo que a
propaganda não engana, até porque a gente tem a propaganda política. Mas eu estou falando
do Direito do Consumidor. Então, em publicidade é que eu vou estar trabalhando. Propaganda
visa propagação de uma mensagem, enquanto, a publicidade visa lucro. A publicidade pode ser
lícita. E os publicitários brasileiros são agraciados com os maiores títulos do mundo, porque os
brasileiros conseguem fazer grandes campanhas com pouco dinheiro. O que é que é o “passa lá
no Posto Ipiranga?” Porra, o cara sentado: “passa no posto Ipiranga”. O que é que gasta? Porra
nenhuma. O cara está lá sentado, faz o set de filmagem “passa no posto Ipiranga.” Eu não
preciso contratar um Cristiano Ronaldo, um Neymar, para fazer uma campanha jogando bola,
não sei o que, sabe? Como a Heineken faz. Os grandes anúncios do mundo, no meu modo de
ver hoje são a Heineken que faz. Então, imagina o quanto se gasta? Os brasileiros não: “compre
batom, compre batom, seu filho merece batom.” Sabe qual o nome disso? Neuromarketing.
Uma criança até os 7 anos, mais de 90% dos comandos são no imperativo: “vai comer, vai
tomar banho, faça isso, faça aquilo.” Você quando cresce, repete os hábitos da infância. Então,
quando você escuta “compre batom, compre batom, seu filho merece batom”, de repente, isso
está entrando na sua cabeça e está no imperativo. Foi proibida a publicidade no imperativo por
causa disso. Existe hoje a publicidade no imperativo sem o verbo. Qual é? Jequiti. Porra, aquilo
é uma flechada. Você está assistindo e aí vem assim “Jequiti”. Eu fiz um teste para mostrar isso,
gente. Eu fui ali na Carioca. Está filmado isso. Eu vou colocar na internet agora e vai ser ótimo
para provar isso. Eu coloquei ali na saída da Carioca um totem com uma placa assim: “Atenção
senhores, a partir desse trecho, por favor, andar de costas.” Gente, nego de terno e gravata e
tudo. Aí, quando o primeiro vira é efeito manada. É o neurônio espelho. Caraca, todo mundo.
Por que o que o ‘nego’ está fazendo isso? Eu só coloquei uma placa “a partir desse trecho,
andar de costas”. ‘Nego’ não discute. Ainda mais o povo da manhã. Eu vou colocar agora na
saída da barca, porque para mim a manada bacana é a da barca, entendeu. Abre aquele
negócio... Porque ‘porra’, você saiu de manhã..., é metrô e barca, você ainda não ligou, você
está no automático. Escovou os dentes, comeu um negócio, entrou no metrô, viu o Whatsapp e
você ainda não chegou no trabalho. Ali é o capeta.
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Tá bom Renato. Publicidade, os caras estão sabendo disso. Então, a


publicidade, beleza, ela pode ser ilícita. O problema..., aí, vamos lá para as três espécies de
publicidade ilícita:

1) Primeira espécie é a publicidade enganosa.

O aluno fez uma pergunta para mim. Ele pensou, pensou, aí olhou para mim e
disse assim: “professor, publicidade enganosa é aquela que engana?”

Aí, eu olhos nos olhos dele e falei: “Exatamente isso. Nossa que sutileza”.
Gente, alguém aqui nessa sala já se enganou com alguma pessoa? Os seres humanos se
enganam com seres humanos e se enganam com bens de consumo. O que é você se enganar
com uma pessoa? É você imaginar que aquela pessoa teria uma determinada postura e ela não
teve. Você se enganou com aquela pessoa. Você esperava que ela fosse ficar do seu lado e não
ficou. Pensou que ela ia comprar barulho e não comprou. Você tinha imaginado a expectativa
que você tem. Você tem expectativas por pessoas e por bens de consumo. Quando você
compra uma televisão, qual a expectativa que você tem? Que aquela televisão vai propagar as
imagens que você imagina que ela propagaria. Ah, quando eu compro um relógio, qual a
expectativa que eu tenho? Para marcar as horas, se ele não marca as horas, eu me decepcionei
com aquele bem de consumo. Sim. Se essa decepção vier pela via da publicidade, aí eu estou
falando de uma publicidade enganosa. Publicidade enganosa é aquela que engana? É. Por quê?
Porque ela me induz ao erro. Ela faz o consumidor crer que o produto tem uma determinada
funcionalidade que o produto não tem.

Então, publicidade enganosa é aquele que contém no seu teor, uma


mensagem falsa. E essa mensagem falsa, ela pode ocorrer de forma total ou parcial. Ela pode
ser muito enganosa e pode ser pouco enganosa. Ela pode lhe enganar um pouquinho só, tipo
aqueles “ab shaper”. Você vai tomar 15 minutos de choque e vai ficar igual ao Vitor Belfort.
Não vai. Feiticeira? Não. Porra, se você fizer uma baixa ingesta calórica, fizer exercício físico
com regularidade e complementar com a eletroestimulação pode ser legal. Agora, dizer que
você vai ficar fortão, você não vai. Tem uma ‘porra’ de umas academias agora que você vai para
tomar choque, já viu? Uma colega (uma amiga) disse: “nossa, estou ótima. Estou toda doida”.

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Aí, falei: “o que é que foi?” Aí, colocou eletrodo, colocou os negócios aqui. Vai morrer do
coração. Nada vai substituir. Não dá.

Publicidade enganosa lhe induz ao erro. A publicidade pode ser abusiva.

2) Publicidade abusiva (segunda espécie) é aquela capaz de levar o


consumidor a se comportar de forma prejudicial a sua integridade. Exemplo é a do tabaco, a do
álcool, a publicidade para criança, a publicidade para idoso.

Vocês já viram os drones agora do plano de saúde? Você paga mais 100 reais
e tem direito ao drone. A ambulância quando sai no resgate, você paga ao plano que dá direito
a ambulância, e quando a ambulância parte para o resgate, no teto da ambulância , você cola
um drone e esse drone tem um desfibrilador. O drone chega à frente da sua casa, porque não
pega trânsito. Chega lá, aí tem uma câmera. Aí, você abre, depois fecha e fica como se fosse
uma maletinha, e tem um microfone em que o socorrista vai lhe orientando como é que você
vai dar os primeiros socorros. Cara, eu que não sou cardíaco e não tenho problema ainda não
cheguei em uma idade mais avançada, eu estou cagando para esse drone, até porque eu
conheço a empregada que eu tenho lá em casa. O dia que eu passar mal, vai está a Nair para
me socorrer, para escutar o que o socorrista está falando. Nair foi essa semana e dei 20 reais, e
falei: “Nair, compra o jornal O DIA e O GLOBO.” É um comando difícil? Não. Pois é, ela veio com
2 jornais O GLOBO. Aí não tinha jornal O DIA, ela trouxe 2 jornais GLOBO. Ai, eu falei: “Nair, o
que eu vou fazer com 2 jornais GLOBO?”

Ela falou: “Ler.”

Eu: “Obrigado, eu sei. Mas assim..”

Ela: “O senhor sempre falou que é melhor errar por ação do que por omissão”

Eu: “Especificamente nessa hipótese não.”

Imagina dá um negócio de 5 mil volts na mão dela, ela me mata de susto só de


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olhar aquela mulher. E mais, vai um drone com um desfibrilador e aquilo deve ser uns ‘30
contos’. Passa ali na Maré, e ‘nego’ vai ficar “pega o drone, tira o drone” ou alguma ‘porra’
dessa assim.

Então, Renato. Mas se eu tenho qualquer tipo de problema, eu não penso


duas vezes em pagar por esse tipo de serviço. Depois eu mostro a publicidade para vocês. Cara,
não tem como você assistir a publicidade e... Se um dia você tiver qualquer dúvida, você fala
assim: “cara, eu quero esse negócio para mim.” Você compra sem pensar. Esse que é o lance. A
publicidade abusiva tem esse estilo. Não é só lhe vender um produto é lhe vender a qualquer
custo.

E eu tenho a enganosa por omissão.

3) Publicidade enganosa por omissão é aquela que deixa de informar sobre


dado essencial relativo às características de um produto ou de um serviço.

O melhor exemplo, no meu modo de ver, é da TV 4K, porque a gente não tem
a tecnologia 4K no Brasil. Você paga mais caro pela TV e se você ligar a TV no cabo da NET,
não tem 4K na Sky, não tem 4K na sua antena. Aí, mesmo, você tentou aquela do Bombril,
mas não deu não. A TV 4k não vai.

Vamos para o nosso intervalo e a gente volta com muito mais.

PARTE 2 DO ÁUDIO

Eu parei falando de publicidade, né? E que a publicidade é diferente de


propaganda. E que a publicidade pode ser enganosa e abusiva. Enganosa por omissão, por
exemplo, a TV 4K. Alguém aqui mora num apartamento sol da tarde? Que delícia. Essa é uma
informação crucial se você vai adquirir um imóvel na planta, será que aonde o sol nasce ou
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aonde o sol se põe essa informação não é relevante? É claro que sim. Isso vai influenciar
diretamente na valorização ou na desvalorização do seu imóvel. É também uma publicidade
enganosa por omissão. Tranquilo, gente? Tá bom.

6. PRÁTICAS ABUSIVAS

Isso aqui está lá no artigo 39 do CDC. Peguem lá o artigo 39. Eu vou falar só
algumas, né? Práticas comerciais abusivas, e aí o artigo 39 vai dizer:

artigo 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços,


dentre outras práticas abusivas: (Redação dada pela Lei nº 8.884, de
11.6.1994)
I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa,
a limites quantitativos;
II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na
exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de
conformidade com os usos e costumes;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação


prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor,


tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para
impingir-lhe seus produtos ou serviços;

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente


excessiva;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento


e autorização expressa do consumidor, ressalvadas as decorrentes de
práticas anteriores entre as partes;

VII - repassar informação depreciativa, referente a ato


praticado pelo consumidor no exercício de seus direitos;

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VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou


serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos oficiais
competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas ou outra entidade credenciada pelo
Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial
(Conmetro);

I X - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua


obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
critério;

IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,


diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados em leis
especiais; (Redação dada pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

X - (Vetado).

X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços.


(Incluído pela Lei nº 8.884, de 11.6.1994)

XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de


22.10.1999, transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº
9.870, de 23.11.1999

XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua


obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu exclusivo
critério. (Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou


contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de
23.11.1999)

XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou


de serviços de um número maior de consumidores que o fixado pela
autoridade administrativa como máximo. (Incluído pela Lei nº 13.425,
de 2017)

Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos


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remetidos ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso


III, equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.

Toda vez, processualmente falando, que vocês escutarem esse termo “dentre
outras”, ele tá dizendo que esse rol que está ai embaixo é um rol meramente exemplificativo.
Por que a lei? Porque a lei é principiológica. Vou falar um pouquinho dos princípios do Direito
do Consumidor aqui pra vocês.

Aonde não aplica-se a lei, aplicam-se os princípios. Esse rol tem que ser
exemplificativo porque se ferir um dos princípios, embora não descritos ali, nenhum dos
direitos descritos se cria o princípio.

artigo 39. I - condicionar o fornecimento de produto ou de


serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem
justa causa, a limites quantitativos;

O que vocês irão escrever ai como primeira prática abusiva? Venda casada.
Renato, me dá um exemplo de venda casada. Você paga 100 reais de entrada e não sei quanto
de consumação mínima. Já ouviram falar da consumação mínima? Então, venda casada. O STJ
falou até nesse ano do seguro da obra, que você é obrigado a pagar o seguro da obra. Também
seria uma venda casada.

Você comprou o imóvel, aí você paga a prestação e é obrigado a pagar o


seguro. O que pode acontecer gente se você não pagar o seguro? Que diz pra você que se
morrer quita?

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Ai você diz: “Olha, fui informado, mas não quero fazer esse seguro.”

- “Tudo bem, mas se você morrer não vai quitar.” Pronto, um abraço.

Aluno: Ah, mas a Caixa Econômica condiciona a aprovação a esse seguro. Ah,
você não quer, não tem.

Professor: Como é o nome disso?

Aluno: Venda Casada.

Professor: E porque eu faço isso com todo mundo? Lembra do caso da Ford?
Entende? É diferente venda casada de imposição de limites quantitativos, que é o que a lei vai
dizer aí. No inciso I vai falar no primeiro direito: “condicionar o fornecimento de produto ou de
serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço.” Aí, você anotou venda casada. “bem
como, sem justa causa, a imposição de limites quantitativos.” É o segundo direito, a imposição
de limites quantitativos. O que é isso? Só pode levar dois quilos de açúcar da promoção. Você é
obrigado a levar não sei quantos não sei o que. Isso é imposição de limite.

Renato, mais um direito. O inciso II vai falar do que mesmo?

artigo 39. II - recusar atendimento às demandas dos


consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e,
ainda, de conformidade com os usos e costumes;

Negar atendimento na exata medida do estoque. Não é isso? É. Então, qual


seria o terceiro direito mais presente no inciso II: “negar a demanda dos consumidores na exata
medida dos seus estoques.”

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Ah, agora eu entendi por que no caso que você deu no primeiro tempo, você
pediu uma nota fiscal e pediu para mostrar quais eram os produtos e quantas vendas tinham
sido feitas. Porque na publicidade estava assim: “40 peças no estoque”. Então eles tinham que
me apresentar quarenta notas fiscais. Porque se eles não fizessem isso, eles estariam
mentindo, não estariam? Sim. Eles cometeram o crime do artigo 66, que é fazer uma afirmação
enganosa. Entende. Toda vez que a lei disser uma coisa e o cara está indo contra aquilo que
está no texto da lei, é crime do artigo 66.

Claro que a lei traz razoabilidade, não é gente? Por isso, que a lei diz ai:
“..salvo se justa causa..”. A lei traz o termo “justa causa” no inciso I. No inciso I, ele fala lá:
“..salvo se por justa causa, a imposição de limites quantitativos.” Não está ali? Por quê? Para
não chegar o cara e fazer assim: pega lá o iogurte, bebe metade e diz “Ah, só quero pagar
metade.” É uma boa. E aquelas pobrezas também do Celso Russomano: “Doze rolos de papel
higiênico, mas eu só quero levar dois. Tem que abater.” Para! Vai levando desse jeito que daqui
a pouco o cara chega: “Ah, não pela necessidade, eu só quero meio metrinho.” Não dá! Então,
tem que ter razoabilidade. Medicamento, às vezes você tira um ou outro, você danifica os
outros. A ANS (Agência Nacional de Sáude) publica a lista. São dois mil e quatrocentos e poucos
medicamentos que podem ser fracionados. Você não é obrigado a levar a cartela inteira.
Quantos medicamentos vocês têm em casa, a farmacinha. Por que farmacinha? Por que só
precisou de três comprimidos e comprou 24. Guarda aquilo lá e, às vezes, fica ai tomando o
medicamento com validade de 1987. Você pode fracionar e isso acontece com anti-
inflamatório. A rapaziada do futebol vai jogar pelada no final de semana. Estuda e trabalha a
semana inteira. E sábado, hoje está aqui. Amanhã, vai lá e faz aqueles aquecimentos. Aquele
time campeão. Pronto, aí toma uma porrada, sai todo torto de lá e aí vai para o ortopedista. Eu
sei tudo o que o ortopedista fala: “Olha, vai tomar uma dose de attack. Depois de 12 em 12
horas passou, beleza?” Geralmente, com 3 ou 4 comprimidos já tá passando. Vai ficando mais
velho, 46, 47, enquanto está mais cedo é só 2 comprimidinhos. “Ah não, deu problema”. Aí,
tem que fazer fisioterapia, tem que fazer não sei o quê. Não é assim? Pois é, mas com 3 ou 4, 5
comprimidos está resolvido. Quantos vêm na caixa? E quanto é a caixa de anti-inflamatório?
Não seria mais interessante comprar só 4 comprimidos, 5 comprimidos? Então, você pode
fracionar sim.

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Primeiro, venda casada, imposição de limites quantitativos. Esse terceiro


direito da possibilidade de responder na medida dos seus estoques. Eu adoro o quarto direito
que é o Inciso III, que fala de vedado o envio de produto sem solicitação.

artigo 39. III - em enviar ou entregar ao consumidor, sem


solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

Isso é vedado. Por favor, mente do mal: Lex Luthor, coisa ruim, mulher gato,
presente na sala. Você não vai virar para mim e falar assim: “Ah, recebi o cartão de crédito e eu
li aqui no parágrafo único do artigo 39 que essa hipótese do inciso III que é ter recebido sem ter
solicitado equipara-se (e isso que é importante gente) a amostra grátis. Aí, a mente do mal fala
para mim: “Vou arregaçar no cartão e depois vou dizer amostra grátis”. Não é, não é. Você
desbloqueia e dá sua aquiesciência. No entanto, eu não tenho dúvidas em afirmar que você
pode simplesmente solicitar o não pagamento da anuidade. Se você fizer uma compra não é
justo que você remunere a sua compra. Agora se a lei diz que se você não solicitou , e você
recebeu, você ainda tem que pagar por isso? Você pode falar “Ou você cancela, ou não me
cobra anuidade”. Sabe o que eles irão falar para você? Que não vão cobrar. Pode ter certeza
disso. O cartão, ele recebe uma média de 3 a 5% dependendo do estabelecimento de cada
compra que você faz. Você tem até aquela briga - ah, isso pode cair na prova - aquela briga de
parou no posto de gasolina se você pagar com cartão é um preço e se pagar à vista é outro. Não
podia isso até o Michel Temer baixar uma medida provisória em que é autorizado isso. Você
pode ter preços diferentes em produtos e serviços pagos no cartão. Existe essa possibilidade. E
o cartão é remunerado. Agora você imagina, se o cara ganha em média, vamos lá, pode ser de 3
a 5%, coloca ai 4%. As compras que a gente faz hoje são aonde normalmente? No cartão. Então,
os caras conseguem ser detentores do faturamento bruto do comércio do mundo. Será que isso
é interessante? E será que vai ser a anuidade de 32 reais que ele não vai lhe cobrar e que vai
fazer questão? E mais, deve ter um departamento de oração nesses tipos de operadoras que
eles ficam assim: “Pai, tomara que esse homem atrase, porque se ele atrasar eu vou cobrar
14,99% de juros.” Não existe negócio no mundo melhor do que juros bancário para o banco.
Então você acha mesmo que vai ser a anuidade que ele vai brigar contigo? Não, fica ai bebê.
Gosto mais de você do que de mim. Então, olha aqui, Renato, então envio sem solicitação? O
Inciso IV:

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artigo 39. IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do


consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou
condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

Aí, você vai ver práticas comerciais para idosos e pra crianças. E assim vai. O
último inciso, o XIV fala da Lei Boate Kiss. Você pode ver que ele está lá e foi alterado e tem o
número de uma lei ao lado, não tem? Essa lei é chamada Lei Boate Kiss. Eu acredito que vai ter
uma questão falando desse XIV.

artigo 39. XIV - permitir o ingresso em estabelecimentos


comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores que o
fixado pela autoridade administrativa como máximo. (Incluído pela Lei
nº 13.425, de 2017)

Ele vai está dizendo uma lei, que salvo engano é de 2018. 2017? 2017. Por que
o estabelecimento comercial, a autoridade competente diz: “500 pessoas, 300 pessoas”. Se
você superar ao número presente na documentação competente da abertura do
estabelecimento, você está fazendo uma prática comercial abusiva. A única coisa é que, aí sim
tem que tomar cuidado na hora da aplicação dessa regra, é que é diferente você ter 500
pessoas naquele momento e 500 pessoas no fluxo. Eu advogo muito para casa noturna. Tem
uma grande casa noturna do Rio que cabe lá 6 mil pessoas, 7 mil pessoas. Grande pra caramba!
Aí, mostrou lá a movimentação de 15 mil. Quando eu vi lá aquele negócio com 15 mil pessoas,
eu falei: “Porra, como é que vocês colocaram isso? Artigo 39, inciso XIV da lei de 2017. Está aqui
isso tudo ai.” Ai, ele falou para mim assim: “Não, não. Em nenhum momento.” Aí, eles me
mostraram o fluxo. Você começa à dez horas da noite, abriu a casa, tem pouca gente. Aí, onze
horas vai entrando, vai entrando. Aí, meia-noite. Mas meia-noite começa a entrar outra gente e
vai entrando outro público. Então, nunca aquelas pessoas todas estavam no mesmo momento.
Aí, eles me mostraram com gráfico de entrada e saída, porque também tem que tomar
cuidado, senão nessa hora você vai dizer: “Olha, estiveram 15.000 pessoas ai.” Não, não, não,
mas foi assim, foi assado. Você não pode ter ao mesmo tempo o número que supere aquela
capacidade mínima. Então eu acredito em uma questão por ai.

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Eu não vou ficar trabalhando todas elas, até porque o rol é quase que
autoexplicativo. É só ler.

Aí, eu falei da publicidade, falei das práticas comerciais abusivas e vou falar
das cláusulas abusivas. Se você tiver um contrato, para onde você vai correr? Para o artigo 51

artigo 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços
que:

I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a responsabilidade do


fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e serviços ou
impliquem renúncia ou disposição de direitos. Nas relações de consumo
entre o fornecedor e o consumidor pessoa jurídica, a indenização
poderá ser limitada, em situações justificáveis;

II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já


paga, nos casos previstos neste código;

III - transfiram responsabilidades a terceiros;

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que


coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;

V - (Vetado);

VI - estabeleçam inversão do ônus da prova em prejuízo do


consumidor;

VII - determinem a utilização compulsória de arbitragem;

VIII - imponham representante para concluir ou realizar outro negócio


jurídico pelo consumidor;

IX - deixem ao fornecedor a opção de concluir ou não o contrato,


embora obrigando o consumidor;

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X - permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do


preço de maneira unilateral;

XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato unilateralmente,


sem que igual direito seja conferido ao consumidor;

XII - obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua


obrigação, sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor;

XIII - autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo


ou a qualidade do contrato, após sua celebração;

XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de normas ambientais;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao


consumidor;

XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por


benfeitorias necessárias.

§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que


pertence;

II - restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à


natureza do contrato, de tal modo a ameaçar seu objeto ou equilíbrio
contratual;

III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor,


considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das
partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

§ 2° A nulidade de uma cláusula contratual abusiva não invalida o


contrato, exceto quando de sua ausência, apesar dos esforços de
integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

§ 3° (Vetado).
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§ 4° É facultado a qualquer consumidor ou entidade que o represente


requerer ao Ministério Público que ajuíze a competente ação para ser
declarada a nulidade de cláusula contratual que contrarie o disposto
neste código ou de qualquer forma não assegure o justo equilíbrio entre
direitos e obrigações das partes.

E o artigo 51, para variar, tem um rol meramente exemplificativo. Deixa-me


ver se eu acerto. É 15 ou 16 incisos? São 16 incisos que trazem cláusulas que são nulas de pleno
direito. Olha o que o caput (a cabeça) do artigo 51 está dizendo (“são nulas de pleno direito as
cláusulas contratuais, dentre outras, que..”) Então. Caiu na prova uma questão de contrato que
tem uma cláusula que você não sabe se é abusiva ou não. Vai ao artigo 51. E o artigo 51 no
inciso I vai dizer assim que são nulas as cláusulas que:

artigo 51. I - impossibilitem, exonerem ou atenuem a


responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos
produtos e serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos.
Nas relações de consumo entre o fornecedor e o consumidor pessoa
jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações justificáveis;

Renato, me dá um exemplo disso. E a gente vai bater um longo papo agora de


jurisprudência. Um exemplo disso é o estacionamento em shopping centers, de
estabelecimentos comerciais em que você para e na hora que você retira está lá: “Não nos
responsabilizamos por objetos deixados no interior do veículo.” Você vê isso em academia,
você vê isso em vários lugares.

Renato, então vamos conversar.

A empresa, vamos lá agora para jurisprudência tá? São as cláusulas nulas de


pleno direito como tá no artigo 51. Agora vamos dar uma olhada na jurisprudência e ver o que
é que fala de estacionamento. Cuidado, eu preciso explicar.

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Renato, as empresas respondem por eventuais furtos ou roubos ocorridos


dentro do estacionamento? Vocês vão colocar que sim, aplica-se a Súmula 130 do STJ. Tudo
bem? Então, você está no supermercado e lhe assaltaram no supermercado, pode acionar o
supermercado? Pode.

Renato, porque você está fazendo tanto salseiro em cima disso. Porque no
ano passado, nós tivemos duas decisões contra o Mc Donald’s, e que no começo do ano não
responsabilizou o Mc Donald’s e no final do ano responsabilizou o Mc Donald’s. O que gerou
muita gente falando, “ué, mas acabou a súmula 130? Como é que fica? como é que não fica?”
Bom, então eu tenho que explicar a jurisprudência para todo mundo não se dar mal na prova.
Vem comigo!

A súmula 130 está mantida. Assalto em estacionamento de estabelecimento


comercial produz responsabilidade civil. Agora vamos analisar individualmente os dois julgados
do Mc Donald’s para se cair na prova, você saber o que acontece em um caso e o que acontece
no outro, porque são casos distintos. A gente olha e diz “Mc Donald’s responde.” Aí vem a
matéria e diz “Mc Donald’s não responde.” Então, são casos completamente diferentes. Então,
primeiro vamos para hipótese de isentar a responsabilidade civil do Mc Donald’s. Quer dizer,
vamos trabalhar com a hipótese de que o Mc Donald’s não responde, que foi o primeiro
julgado. No julgado do começo do ano passado, o STJ equiparou o estacionamento do Mc
Donald’s ao estacionamento do comércio de rua. Renato, o que é isso, o comércio de rua?

Vamos supor que você foi à padaria. Tem uma padaria lá na esquina. Você
parou o seu carro aqui, fechou o carro e foi na padaria. Fez a compra na padaria e depois veio
andando pela calçada, pela rua, e quando vai entrar no carro te assaltam. Dá pra
responsabilizar a padaria? Não, porque é comércio de rua. Eu parei o meu carro e fui andando
para farmácia. Comprei. Fui ao banco. Comprei. Vou responsabilizar por uma coisa que
aconteceu aqui? Não. Tudo bem?

Então, equiparou ao comércio de rua. Por quê? O STJ disse que nesse
estacionamento, deste Mc Donald’s, não tinha uma transposição de cancela. E como é
necessária essa transposição de cancela para se estabelecer a relação jurídica de consumo em

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que produziria uma responsabilidade civil desse fornecedor. Então, para o STJ, para o
estacionamento estar respondendo, ele tem que passar por uma cancelinha e pegar o
papelzinho. Entendeu? Claro que eu acho isso um absurdo. Desculpa-me, mas quando eu entro
no Mc Donald’s, independente se eu peguei o papelzinho ou não, eu tenho uma sensação de
segurança. Tudo bem que é o parqueamento. Não parece com comércio de rua você parar com
seu carro no Mc Donald’s. Quando eu passo por debaixo dos arcos dourados, que é o nome da
pessoa jurídica, eu tenho a sensação de segurança. Quando eu entro no Mc Donald’s, eu tenho
uma expectativa criada em relação aquele consumo. Eu sei que vou ser rapidamente atendido,
que vou comer, que irão me colocar num lugar com ar-condicionado bem gelado para eu não
ficar mais que 15 minutos. Eu sei de tudo. O segundo andar do Mc Donald’s é feito para você
não ficar porque é gelado. O banheiro é em cima justamente para não vir tanta gente e pegar
pela rua. Enfim, eu tenho uma série de expectativas. Mas não foi isso que o STJ entendeu. Ele
entendeu que para poder ter essa responsabilidade tinha que ter essa chamada transposição
de cancela. A gente não tá aqui para fazer juízo de valor. Se fosse um mestrado ou uma pós-
graduação a gente brincava disso. Como não, é só para colocar na prova o que tem que colocar.

Renato, mas você disse para mim que no final do ano teve um julgado que
responsabilizou o Mc Donald’s. Então, peraí. Se cair na minha prova, como é que foi o caso
(para não ter errada) do começo do ano que isentou? Um cara parou a moto no
estacionamento, foi lá dentro e pegou a comida. Quando ele voltou, está entrando na moto,
roubaram ele, a moto foi embora. Disse que não responde, porque se equipara ao comércio de
rua.

No final do ano, outro assalto no Mc Donald’s. Mas sabe onde é que foi? No
drive-thru. O cara estava pagando. Pagou e foi pegar o alimento. Na hora que ele pagou e foi
pegar o alimento, o cara foi e levou comida, levou carteira, levou tudo. Nesse caso, é
considerado um caso fortuito interno e não externo, como este do estacionamento. Então, na
sua prova se cair que o assalto foi no estacionamento, você fala foge. Ah, o assalto foi dentro
do drive-thru na hora que estava fazendo o pagamento. Ai, gera responsabilidade. Tudo bem?

Aluno: Conheço um mercado que ele terceiriza o estacionamento. Isso faz


alguma diferença?

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Professor: Não, nenhuma. Porque, salvo engano o artigo 34. Acho que no
artigo 34. Dá uma olhadinha no artigo 34 gente:

artigo 34. O fornecedor do produto ou serviço é


solidariamente responsável pelos atos de seus prepostos ou
representantes autônomos.

Vai falar que o fornecedor responde pelos atos praticados por ele ou por seus
representantes. Então, se ele outorgou poderes para uma empresa guardar os veículos, ele
deve indenizar o consumidor e depois ele tem o direito de regresso contra essa empresa
terceirizada. Beleza? Então, uma cláusula que impossibilita, que exonera, que atenua a
responsabilidade, foge dessa.

Aconteceu agora um caso interessante. Não é nenhum julgado emblemático


do STJ, mas como é estranho e tem acontecido muito, de repente isso pode chegar lá em cima.
É a academia que fecha e esquece o cara lá dentro. Está acontecendo ‘pra cacete’. Aí, o que é
que rola? A academia fecha às dez horas da noite. Quem é que malha aqui e ficou até às dez
horas e já viu que rola aquela má vontade. Vai dando dez horas, os caras já vão, a música
diminui. Não tem isso? Pois é! Só que aí, tem gente que quando dá dez horas para de malhar e
vai até o banheiro. E tem gente que apaga a luz. Os caras apagam às vezes a luz da academia. Ai
aconteceu, com uma menina na Barra da Tijuca. Ela foi, deu umas 21h50minh mais ou menos,
ela foi tomar um banho. E aí, ela estava tomando banho e apagou a luz. Ela terminou, se
enxugou, botou a roupa e fecharam a academia. Não lembro o nome da academia. A garota
ficou presa! olha isso! Claro que vai gerar responsabilidade civil se você por acaso ficou preso
na academia. Aí, tem que ligar para um monte de gente, arrombar a porta, vai dar uma
confusão. E ‘nego’ doido para meter o pé.

Tá bom Renato, cláusulas abusivas. Toda vez que você tiver uma cláusula
abusiva, vai ao artigo 51.

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Aluno: Professor, você falou do estacionamento de rua. E por exemplo,


estacionamento de rua que tem parquímetro, que tem que pagar rotativo?

Professor: Bom, primeiro vamos pensar o seguinte. Às vezes você tem um


restaurante.

Aluno: Não, do próprio município. Por exemplo, uma empresa contratada


pelo município.

Professor: -Aí, nesse caso, o problema vai ser o seguinte: não tem relação de
consumo. Porque do outro lado você não tem o fornecedor, você tem o município.

Aluno: Mas não tem uma empresa?

Professor: Eu sei. Mas os julgados entendem que não se aplica o CDC. E aí,
nesse caso é violência urbana, não sei o que. Eles não responderiam. Sou completamente
contra, porque é o seguinte, então não cobra. Mas, concordo contigo. Eu estou fechadinho.

Cláusulas abusivas, contratos. Gente, olha só, é só bater. Não tem essa. Teve
um contrato, uma cláusula abusiva ou alguma coisa assim, é só pegar o direito básico. Uma
coisa aqui nós precisamos olhar que é a inversão do ônus da prova. Essa eu preciso explicar
com requinte de crueldade. Por quê? O que é a inversão do ônus da prova? A gente estudou
pela base de que o ônus da prova cabe a quem alega. Eu adoro falar isso do antigo artigo 333
do Código de Processo Civil. Hoje em dia, a gente tem a figura da teoria da carga dinâmica e
tudo mais. No entanto, o que é inverter o ônus da prova no Direito do Consumidor? Só quem é
que pode ser autor numa demanda de consumo, gente? O Código é de defesa de quem? Do
consumidor. Então, só quem pode ser autor tendo como base o CDC é o consumidor. Então,
quando eu falo de inversão do ônus da prova em favor do autor, eu estou falando do
consumidor. Ah, legal, e o que é inverter? Inverter o ônus da prova é o repasse do encargo da
produção de prova para o fornecedor. Se alguém me perguntar por quê? Porque a prova às
vezes é diabólica.

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Renato, a prova é diabólica? É! Prove que o airbag não abriu por culpa do
airbag. Prove que o dinheiro não saiu do caixa eletrônico, mas debitou da sua conta. Prove, a
porra da maquininha que pega um bichinho que engoliu a ficha. Prove que a máquina da Coca-
Cola, que você apertou e não caiu a Coca-Cola. Você vira meio neandertal por causa de R$2,00
e quer quebrar aquilo. Não é que outro dia fizeram um TED de R$4,00 para minha conta! Como
é que pode? As coisas estão evoluídas!

Renato, é fácil fazer essa prova? Prove que você foi vítima de agressividade
passiva. Para mim é a pior agressividade que tem. As mulheres entendem aqui. É aquilo que a
sogra faz com vocês. “Ai, essas crianças estão magras.” Ela não vai direto para o embate. “Essas
panelas não tão lá brilhando”. Tá legal! Prova que a pessoa virou para você. O que é
agressividade passiva? A rapaziada que é meio neandertal não entende essa porra. A
mulherada entende. Quer ver?

Gente, olha isso aqu! Loja de pobre, como é que é? Tipo Marisa, Loja
Americanas, Mercadão de Madureira, confusão, um empurrando o outro, delícia, calor, toca
funk e pagode. Legal. Ai, você vai naquele shopping que você só vai por ir, tipo Village. Village é
muito legal! Ai, tem lugar que você não chega muito perto da vitrine. Se tiver uma vendedora
na porta então, aí que você não vai mesmo. Você fica ali. Por quê? Porque eles instalam
“pobrômetros” ali na entrada. O que é o “pobrômetro”? É o preço escrito a lápis, pequenininho
na vitrine. Porque ali eles já identificam. Você é vendedor e você está lá dentro. Aí, chega o
pobre. O pobre é míope, né?

Quando chega à vitrine, o que a vendedora faz? Ela lhe aborda: “Oi, bom dia.
Tudo bem?”. A vendedora dessa loja flutua. Parece que está de patins. Aí, o que é que ela faz?
“Posso dar uma ajudinha?”

E aí, o que você faz? “Só estou dando uma olhadinha.” Isso é agressividade
passiva. O fornecedor estuda isso para fazer. Porque se você coloca o pé dentro da loja, troca a
vez. Você que já trabalhou em loja, tem esse negócio. É a vez. A pessoa lhe aborda na rua e já
lhe coloca para correr. Agora, olha a agressividade passiva. Quando você diz assim: “Só estou
dando uma olhadinha”, ela diz para você: “Parcelamos em até 12x no cartão.” O que a pessoa

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está dizendo para você? Você é pobre. Você não tem dinheiro para ter essa roupa, mas eu
parcelo. Rapaziada faça tudo, mas nunca desafie uma mulher. Aquela loja, não do Village
porque ali não vai dar mesmo. Agora se for uma mais ou menos. Aquela loja vira o centro
neural da vida daquele ser humano. Você passa e eu escrevi assim, eu digo que “Toda vontade
quando é muito estimulada se torna um desejo. E todo desejo quando é muito estimulado se
torna uma necessidade.” Então, você tinha vontade de ver aquela bolsa, de adquirir aquela
bolsa. Quando você foi desafiada em “parcelamos em 12x no cartão”, toda vez que você vai
naquele shopping, você vai nutrindo e a vontade vai virando um desejo. Daqui a pouco, você
não consegue mais viver se não tiver aquele sapato. Ai, num dia você chega em casa se
perdoando. O que você diz: “Eu mereço. Eu me dei um presente.” Não é isso? Cada um tem um
hábito de consumo em que você chega até aquele momento. Isso é agressividade passiva. O
cara fez uma técnica de neuromarketing que levou você ao momento do consumo. Rapaziada
tem um outro jeito de envolver e a mulherada tem outro jeito de envolver. Tudo tem uma
técnica muito adequada.

Renato, então como é que eu provo isso? Ah, com a inversão do ônus da
prova? É, porque a prova é diabólica. Como é que se dá a inversão do ônus? Vem pra mim
porque vocês têm que ficar espertos. A inversão tem duas espécies:

a) ope judicis;
b) e pode ser ope legis.

A) OPE JUDICIS

Vamos começar com a ope judicis. Ope quer dizer “por força”. Então ope
judicis é aquela que se dá “por força do direito”. É aquela que se dá por força do direito. Como
assim por força do direito? Ela vai está no artigo 6, inciso VIII, que é essa que a gente vai
estudar agora. E olha o que ele vai dizer:

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artigo 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com
a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a
critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele
hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Olha toda a análise jurídica que tem que ser feita para o juiz inverter ou não. A
lei vai dizer o seguinte: “quando há critério do juiz, a alegação for verossímil ou o consumidor
for hipossuficiente...”. Então quando é que o juiz inverte? Quando a alegação for verossímil ou
quando o juiz verificar que o consumidor é hipossuficiente. Deixa-me explicar: a alegação foi
verossímil ou o consumidor for hipossuficiente.

Renato, o que é uma alegação verossímil? É aquela que parece ser verdadeira,
que parece ser verídica. Renato, o que é uma argumentação que parece ser verdadeira em
direito do consumidor? Vamos supor que o consumidor entra com um processo e pede a
inversão do ônus da prova para que ele possa demonstrar que não está conseguindo consertar
a tv da OI, ou a tv da NET, ou PONTO EXTRA, ou qualquer coisa de tecnologia digital em casa.
Ele está dizendo que já ligou mais de dez vezes, que já marcaram de ir à casa dele e, inclusive,
na primeira vez, eles falaram “Vamos ai no dia 28.”E ele perguntou :“Que horas?” Eles
responderam: “No horário comercial.” E ele disse: “Mas, de manhã ou de tarde?” Eles
respondem: “No horário comercial.” E aí, ele mentiu no trabalho e disse que estava passando
mal e ficou lá. E ai, chegou lá e não foi ninguém. E ai, ele ligou para OI, ligou para NET, para
CLARO. E ela falou: “ Não, o pessoal foi. Ele teve ai e não tinha ninguém.” “Mas como, estou
aqui o dia inteiro. Ah não, não foi ninguém.” “Então, temos que abrir um chamado. Em 48
horas lhe damos uma resposta.” Depois de 48 horas, ninguém liga. Ai, ele entra em contato e
explica tudo o que aconteceu. E a pessoa fala que não tem nada na ficha e que vai marcar um
dia para poder ir lá no dia 7. E aí, que horas que vai? No horário comercial. E esta merda
acontece umas 3 vezes. E se entrar com o processo, eu vou ganhar um mero aborrecimento do
cotidiano. Entende? Não é assim.

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Renato, porque você mostrou essa dinâmica para mim? Para mostrar o
seguinte: se alguém entrar com um processo e pedir a inversão do ônus da prova para poder
demonstrar que não está conseguindo cancelar o serviço ou fazer alguma coisa, o juiz vai se
colocar no lugar do consumidor e vai falar: “Isso parece verdadeiro. Isso deve ter acontecido
até comigo.” Entende? São técnicas ordinárias de experiência comum. São aquelas em que
qualquer um do povo, não dotado de qualquer expertise, consegue dizer se aquilo é verdadeiro
ou falso. Você não precisa nomear um perito para dizer que as pessoas passam por isso. E é o
que a lei diz: “a facilitação da defesa dos interesses do consumidor com a inversão do ônus da
prova, quando a critério do juiz, a alegação for verossímil ou o consumidor hipossuficiente,
segundo regras gerais de experiência.” Então, ele se coloca no lugar para dizer se aquilo parece
verdadeiro ou se o consumidor é hipossuficiente.

Renato, o que é um consumidor hipossuficiente? Anote aí:

É aquele que encontra dificuldade no momento da comprovação do seu


direito.

Gente, hipossuficiência guarda relação com produção de prova. Prove que o


airbag não abriu. É fácil fazer essa demonstração? Que deveria ter aberto, que não deveria ter
aberto, quais foram os critérios técnicos que levaram a não abrir ou a abrir repentinamente? O
STJ, ano passado falou que a abertura repentina gera dano moral. Claro, imagina o susto. Você
está dirigindo e abre o airbag. Claro, dano moral, um susto desgraçado. Isso se você não
morrer, porque aquilo dá um soco. E o ar é quente ainda. Para poder expandir mais. O ar tem
que ser quente. As pessoas quando batem, às vezes, ficam com o rosto todo vermelho. O
consumidor tem que fazer uma alegação que parece ser verdadeira ou o consumidor tem que
ser hipossuficiente para inversão rolar. Pergunta que eu vou fazer para turma, porque isso é
questão de prova. O juiz poderá ou deverá inverter o ônus da prova, gente? Vamos resolver
isso agora para poder resolver. Eu vou perguntar: “Doutor, você me ajuda? Qual o seu nome
mesmo?”

Aluno: Carlos.

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Professor: - Carlos, me diga uma mulher que você fala assim: “Pô, parabéns!”

Aluno: Minha namorada!

Professor: Ai, vale nada, bandido. Tá bom. Como é o nome da sua namorada?

Aluno: Marcela.

Professor: Marcela. Doutora me ajuda também? Diga-me um homem que


você fala “ Parabéns, papai!”

Aluna: Meu pai.

Professor: Seu pai?! Como é o nome dele?

Aluna: Ricardo.

Professor: Ricardo e Marcela. Beleza! O que acontece gente? Quando eu


pergunto...E me diga uma mulher que você acha bonita?

Aluna: Pode ser famosa? Grazi Mazassafera.

Professor: Mazassafera? Massa né! E me diga um homem que você acha


bonito? Deu uma coçada na barba…

Aluno: Quando o cara tem uma pinta, ele fala mesmo.

Professor: Rodrigo Lombardi. Não dá uma vontade de bater naquele


desgraçado? Meu vizinho! “Oh, desgraçado!” Porra, falei. Minha mulher paga um pau
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desgraçado para esse cara. Quando ele aparece na televisão, não sei o que. É ele e um
português. E ai me chama...Isso está lá! Pode ver na minha rede social.

Eu fui na Ana Maria Braga tomar café da manhã. Aí, minha mulher ficou me
enchendo o saco com essa porra. Até ai, estava bom. Aí, era ele e a tal da Ana Furtado. Era o
café da manhã. Ai, estava sentado lá e eles chegam e vai servir o café e eu disse: “Olha, deixa
eu lhe falar uma coisa. Quando eu saí de casa hoje, minha mulher falou que você ia estar aqui e
que você era muito bonito. E você é muito bonito. E pior, você é bonito. Ele falou: “Por quê?”
“Porque além de bonito, você é simpático.” Aí, o cara quebrou, não sei o que. Esse desgraça
desse Rodrigo Lombardi, o cara é bonito também. Aí, ela fica pagando maior pau, e a gente fica
puto com isso. Homem não gosta dessa merda. Ai, tá bom. Eu estou vindo da praia e quem é
que está de sunga? E esse cara de camisa “Vou Ali”. E quem vai atravessar a rua? O desgraçado.
Eu vou só atravessando a rua e mirando com ódio e com nojo da cara dele. E onde é que ele
entra? Entra no meu prédio. Eu entro no elevador, ele entra no elevador. Eu aperto o 14 e ele
aperta o 20. Ou seja, ele mora na cobertura. E ai, ele começa a puxar assunto, ou seja, ele é
bacana. Cheguei em casa, eu falei assim: “A partir de hoje está proibida de andar de elevador.”
E ai, ela falou assim: “Por quê?” “Porque o Rodrigo Lombardi mora na cobertura. Ele é mais
bonito que eu. Ele é mais gente boa do que eu e tem mais dinheiro do que eu, ou seja, acabei
de concluir que ele é melhor do que eu. O mínimo que você pode fazer é dar para esse homem.
Eu não quero você sozinha.”

Por que eu estava brincando com vocês aqui para voltar para aula? O que
acontece que quando eu pergunto a beleza de alguém, a beleza pressupõe vários elementos
intrínsecos a cada pessoa. O que é bonito para um, pode não ser mais bonito para outro.
Simples assim. É o que Lenio Streck fala “o touro é belo para se chove lá fora”. Se você falar “ O
touro é belo?”, ilustrando por exemplo, aquele touro de Wall Street, tem gente que vai dizer
que sim ou que não, porque são pré-concepções que levam a análise. Se eu perguntar “Está
chovendo lá fora?” Eu vou abrir a cortina ou a persiana e vou falar “Tá” ou “Não tá”. É uma
análise denotativa. É um critério objetivo. Se o legislador trouxe a palavra “critério”, critério é
algo objetivo ou subjetivo, gente? Assim como a beleza, é algo subjetivo. Então, a inversão do
ônus da prova do artigo 6º do inciso VIII, ela parte de uma premissa subjetiva. E seu eu tenho o
meu critério, ele tem e ela tem o dela, o juiz deverá inverter o ônus, gente? Poderá. O juiz

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poderá inverter o ônus da prova quando? Quando a alegação parecer ser verdadeira ou quando
o consumidor for hipossuficiente. Ok? Essa inversão ope judicis se dá por força do direito.

B) OPES LEGIS

Agora tem uma inversão que se dá por força da lei, aqui não tem quero-
quero. Aqui está escrito. O quê? Artigo 38, quando fala de publicidade:

artigo 38. O ônus da prova da veracidade e correção da


informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

O que o legislador está dizendo: se eu estiver diante de uma campanha


publicitária e alguém for enganado em função dessa campanha publicitária, é um dever do
fornecedor trazer a campanha para o juiz analisar e dizer se aquilo é verdadeiro ou não, se
aquilo ali era enganoso ou não.

Renato, dê-me um exemplo clássico que aconteceu aqui e que isso aqui era
invocado toda hora. Uma livraria jurídica, lá de Porto Alegre que resolveu fazer uma grande
promoção no dia do jogo Brasil x Alemanha. A cada gol sofrido pelo Brasil, 10% de desconto nos
nossos livros. E ai, saiu pedido, e ‘nego’: “Não! Mas fiz. Não fiz.” Amigo, nesse caso o ônus da
veracidade da publicidade é de quem patrocina. Já está invertido o ônus da prova por força da
lei. Aqui o juiz não poderá. Aqui já está invertido. Tá legal? Se cair uma questão de publicidade,
você já sabe que está invertido o ônus da prova. Essa é a inversão ope legis.

Renato, o que eu posso fazer a partir de agora? Eu vou ensinar para vocês,
como é que vocês vão dar uma resposta de prova. Como é que vocês vão dissertar sobre esse
conhecimento. Esse conhecimento está dividido em duas etapas.

Etapa 1 - Relação de Consumo.


Etapa 2 - Direitos Básicos.

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Vamos juntar esses dois aqui. E como é que a gente junta esses dois?
Contando até 6. Ai, é a hora que você fala:“Porra, não dá pra acreditar no que ele está falando
e ele vai vir com palhaçada.” Acho que 95 a 97% dos concursos públicos até então cobraram,
quando a gente fala de relação de consumo a figura do consumidor standard. Eu ensinei para
vocês o consumidor por equiparação? Pode cair e se cair vocês estão preparados. Mas se eu
tivesse que apostar, o consumidor que cai é o cara que compra televisão, o cara que compra
geladeira. Não é o que a panela de pressão explodiu e feriu a sogra. Normalmente, é o
consumidor standard.

Eu queria que vocês pegassem o caderno de vocês e me mostrassem em que


a artigo da lei está o consumidor standard? 2º. E em que artigo está o fornecedor? 3º. Em que
artigo está o produto e o serviço? No parágrafo 1º e 2º do artigo 3º. Como é que se acha uma
relação de consumo normalmente? Nos artigos 2º e 3º. Porque aqui vai estar a relação de
consumo. Você vai achar o consumidor no 2º, o fornecedor no 3º e o produto e serviço nos
parágrafos. Fechou a conta. Aí, eu falei que você tinha que achar a relação de consumo, você
tinha que achar os direitos dos consumidores. Os direitos básicos dos consumidores estão
aonde? No artigo 6º. Ai, você vem aqui e acha o direito básico do consumidor. Isso é o mais
importante. Achar a relação de consumo é achar o direito básico. Ai, você deve estar por dentro
assim “Mas, por que contar até 6?” Porque sobrou o artigo 1º, o 4º e o 5º, não é isso? Só que
agora eu vou ensinar a encantar o examinador. O examinador vai corrigir sua prova de má
vontade. Porra, tem que ver mil provas, aí vem aquele seu garrancho nervoso. Eu vou ter que
fazer quase que uma prova mediúnica para interpretar o que você quis dizer ali. Tá bom, com
aquela psicografia que você colocou ali. E aí, o cara vai estar de má vontade. Então, quanto
mais bonitinho tiver assim, mais organizado estiver o seu ponto de vista...Vocês já pararam
para notar que você está escrevendo para o outro. Quando vocês escrevem não é pra você.
Então, você tem que ter o compromisso de compreensão com aquilo que você está falando. O
problema é que, às vezes, a gente sabe e sai traduzindo o que já passou pela cabeça, mas não
constrói o raciocínio para quem está lendo. Então, o que o examinador está esperando? Que
você fale da relação de consumo e do direito. É isso que está passando na cabeça dele. Então,
se você começar a sua questão falando da relação de consumo e do direito, ele vai falar: “Esse
cara acertou.” Por que se estiver diante de uma cláusula abusiva e você entrou com o artigo 6º
inciso II, errou. Se você está com o problema da proteção à vida, panela de pressão explodiu e o
cara está falando de serviço público, o cara fala: “Errou.” É a hora que você olha para a sua
prova... Já viu quando o professor faz umas bolinhas assim em alguns artigos? Ele vai aos
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artigos se ele sabe que é o inciso I e você colocou o inciso X, ele bota errado. Simples assim.
Então o que você faz, traz a relação de consumo e o direito básico. Agora vamos abrir o
coração do homem. Vamos abrir o coração da mulher. Como? Todo examinador gosta do
atributo constitucional. Todo mundo gosta de ver. “Ah, porque a Constituição e tal...” A
Constituição do CDC está no artigo 1º. O artigo 1º do CDC vai trazer os atributos de ordem
constitucional, que é o artigo 5º, inciso XXXII e o artigo 170, inciso V da Constituição Federal.
Então, se você trouxer o artigo 1º, você sempre vai estar trazendo a Constituição. Como é que
eu organizaria? Eu traria a relação de consumo, o direito básico e a Constituição, como que um
suporte disso aí. Agora, vamos melhorar. O artigo 4º e o 5º, eles falam dos princípios. Os
princípios gerais do Direito do Consumidor. O princípio da vulnerabilidade, informação, boa fé
objetiva. Se você trouxer as relações de consumo, os direitos básicos, a Constituição Federal e
os princípios, desculpa, não tem como o cara não dar o ponto para você. Isso abre o coração do
cara. Então, pera lá, e é técnico. Como é que eu faço.

Vai começar uma resposta de Direito do Consumidor, escreve logo “1, 2, 3, 4,


5, 6..” e depois vem, olha o atributo Constitucional, olha a relação de consumo, olha o princípio
ferido e olha o direito. Fica muito mais simples.

Renato, uma vez feito isso, como é que eu coloco no papel. Primeira coisa que
você vai fazer é o seguinte, gente. Vamos fazer aqui uma petição inicial de Direito do
Consumidor. Partindo da base da petição inicial, você faz qualquer outra coisa. Veja o seguinte,
imagina que eu tenho um plano de saúde da Unimed. Unimed não está cobrindo e eu vou
morrer. Legal? Porque eu tenho que fazer uma cirurgia e ela não está autorizando minha
cirurgia. Vamos entrar com esse processo. Como é que faz a inicial? Juízo do quinto dos
infernos. Note que o examinador traz tudo, tudo na questão, só não traz o direito. Como assim
traz tudo na questão? Renato tinha um plano de saúde da Unimed. Quem é o autor? Renato.
Ai, você qualifica o Renato. Quem é o réu? Unimed. Aí, você qualifica a Unimed. Como é que a
petição vai se dividir em linhas gerais? Fatos, direito e pedido. Ok.

Renato, os fatos têm no problema? Tem. Por que lá vem relatando: “Renato
tinha um plano de saúde e na hora que mais precisou iria morrer.”

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

O pedido tem no problema? Tem. Porque lá está dizendo: “Renato quer ser
internado.” E aí pode ou não pode? A única coisa que não tem é o direito. Não tinha, porque
agora você escreve “1, 2, 3, 4, 5 e 6.” Eu sei que nessa petição inicial esquisita que eu fiz aqui,
tem os tarados pelo nome da ação que devem estar assim “Que merda, né?. Qual o nome da
ação? É espiritual esse negócio?” Mas está bom, o plano de saúde, gente.

Detalhe, o nome de ação é uma coisa que a gente só pode dar depois que vem
o pedido. Como assim Renato? “Eu quero ser internado!” “Ah, a briga é com o plano de
saúde?” “É”. O Renato quando me explicou falou que a prestação de serviço é uma obrigação
de dar ou de fazer. “Ah, você quer ser internado, meu filho?” Então, coloca lá “Pedido A: seja
internado.” Olha o nome da ação “Ação de Obrigação de Fazer”. Aí, no problema ele diz: “ Mas
eu não quero ser só internado não, Renato. Você desculpe, mas quase morri”. É aquele ‘caô’,
né? “Eu não quero nada. Só quero ser internado.” Aí eu fico sério. “Ah é, então vamos pedir só
isso, que só quer ser internado.” E fico quieto.. “Não, mais assim, minha sobrinha, que estuda
Direito, ela falou que tem que entrar com....” “Ah, você quer um dinheirinho?” “Quero.” Aí ,
você escreve lá “Pedido A: seja internado, Pedido B: eu quero um dinheirinho.” Aí, você
aumenta o nome da ação: Ação de Obrigação de Fazer combinada com Perdas e Dano. Se não
quiser isso para agora, eu não estarei aqui na próxima aula. Tem alguma coisa que a gente pode
fazer para abreviar esse processo?” “Ah tá, você quer isso agora?” Então, vamos ter que alterar
o nome da ação. “Ação de Obrigação de Fazer combinada com Perdas e Danos e Pedido de
Tutela.”

Renato, porque que faz isso? Gente, se a gente faz uma inicial, é a mesma
estrutura para você fazer um parecer para o Ministério Público, você dá uma sentença, redigir
uma inicial. Imagina a resposta discursiva de vocês, entendeu? Se você olhar qualquer sentença
hoje de Direito do Consumidor, o juiz começa assim: “Estamos diante de uma relação de
consumo e o direito é tal.” Na sentença, ele fala: “Se com Savigny...” Savigny nunca viu a porra
do CDC, mas é bom trazer as entidades. Traz umas entidades dessas que cai bem. “Se com
Savigny, a Constituição, os princípios, julgo improcedente o pedido.” Legal, gente? Mas não é
só isso. Então, como é que vai responder? 1, 2, 3, 4, 5 e 6. Legal.

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Renato, dá mais uma dica matadora para eu seguir com minha vida. É o
seguinte, não tem livro, não tem ninguém que explica desse jeito e eu ouvi uma coisa e um
aluno até falou assim:

-“Professor, que mal lhe pergunte, mas quer dizer que não tem livro nenhum?
Ninguém nunca falou sobre isso? Só o senhor?”

-“É.”

-“Mas, não lhe ocorreu assim de repente que isso está errado? Não é a toa
que ninguém vende picolé no Alaska, né? Não é à toa.”

-“Não”. Porque eu fui perguntando a esses caras todos do Direito e eles “Boa
Renato, boa Renato.” Tive que escrever rapidinho isso, porque senão ‘nego’ vai furar olho. O
que eu aprendi com o tempo gente, olha só, o artigo 6º é como se fosse um índice de toda a
defesa do consumidor. Como se fosse um sumário da defesa do consumidor. Como assim? Eu
queria que vocês acompanhassem com o Código do Consumidor em mãos. Por que quando
chega lá no artigo 6º e vocês olharam agora, é razoável isso que o Renato está falando. Mas aí
tinha muita gente falando assim: “Renato, ótimo. 1, 2, 3, 4, 5, 6..., resolve?” Eu falo: “Resolve.”
“Então, que eu mal lhe pergunte, por que os homens perderam tempo fazendo mais 119
artigos? Por que não fizeram só esses 6?” “Ah, é verdade.” Toda vez que alguém falava de vida,
saúde, segurança, falava assim “Acabou aqui no artigo 6º, Renato? Será que tem um artiguinho
lá na frente que fala sobre isso não?” Dá uma olhadinha na lei, gente. Depois do artigo 6º,
assim coladinho, quase que por osmose, quais são os artigos que falam sobre vida, saúde e
segurança?

Artigo 8° Os produtos e serviços colocados no mercado de


consumo não acarretarão riscos à saúde ou segurança dos
consumidores, exceto os considerados normais e previsíveis em
decorrência de sua natureza e fruição, obrigando-se os fornecedores,
em qualquer hipótese, a dar as informações necessárias e adequadas a
seu respeito.
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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Parágrafo único. Em se tratando de produto industrial,


ao fabricante cabe prestar as informações a que se refere este artigo,
através de impressos apropriados que devam acompanhar o produto.
§ 1º Em se tratando de produto industrial, ao fabricante
cabe prestar as informações a que se refere este artigo, através de
impressos apropriados que devam acompanhar o produto. (Redação
dada pela Lei nº 13.486, de 2017)
§ 2º O fornecedor deverá higienizar os equipamentos e
utensílios utilizados no fornecimento de produtos ou serviços, ou
colocados à disposição do consumidor, e informar, de maneira ostensiva
e adequada, quando for o caso, sobre o risco de contaminação.
(Incluído pela Lei nº 13.486, de 2017)
Artigo 9° O fornecedor de produtos e serviços
potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá
informar, de maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua
nocividade ou periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras
medidas cabíveis em cada caso concreto.
Artigo 10. O fornecedor não poderá colocar no mercado de
consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto
grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança.
§ 1° O fornecedor de produtos e serviços que,
posteriormente à sua introdução no mercado de consumo, tiver
conhecimento da periculosidade que apresentem, deverá comunicar o
fato imediatamente às autoridades competentes e aos consumidores,
mediante anúncios publicitários.
§ 2° Os anúncios publicitários a que se refere o parágrafo
anterior serão veiculados na imprensa, rádio e televisão, às expensas do
fornecedor do produto ou serviço.
§ 3° Sempre que tiverem conhecimento de periculosidade
de produtos ou serviços à saúde ou segurança dos consumidores, a
União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios deverão informá-
los a respeito.

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
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Obrigado. Colega viu, que vocês têm os artigos 8, 9 e 10. Panela de pressão
explodiu, artigos 8, 9 e 10. Carro soltou a roda e eu capotei, artigos 8, 9 e 10. Médico errou,
artigos 8, 9 e 10. Então, tudo que deu ruim para o cara é 8, 9 e 10? É.

Fala-me uma coisa aí Renato, será que isso acontece com os outros artigos da
lei? E eu fui conferir. Publicidade, dá uma olhadinha nos artigos 36, 37 e 38.

Artigo 36. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que


o consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.

Parágrafo único. O fornecedor, na publicidade de seus


produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos
legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que dão
sustentação à mensagem.

Artigo 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou


comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou,
por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em
erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade,
quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados
sobre produtos e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória


de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a
superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da
criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua
saúde ou segurança.

§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa


por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do
produto ou serviço.

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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
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§ 4° (Vetado).

Artigo 38. O ônus da prova da veracidade e correção da


informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.

Lá em cima do artigo 36, está dizendo alguma coisa? Da Publicidade, não está
escrito isso? Pois é, isso foi se repetindo em toda a defesa do consumidor. Então, o que eu
passei a fazer? 1, 2, 3, 4, 5, 6. Eu chegava no artigo 6º, e olhava qual direito básico era ferido.
Quando eu encontrava o direito básico, eu ia nessa remissão. Gente, é matadora essa dica. E eu
vou dar o código Da Vinci para vocês. Educação e Informação, ambos irão remeter vocês aos
artigos 30 ao 35. Publicidade está nos artigos 36, 37 e 38. Prática comercial está no artigo 39.
Cláusula abusiva está no artigo 51. Contratos estão nos artigos 46 até o 54. Danos estão nos
artigos 12 até o 17. Acesso ao judiciário está no artigo 5º. Inversão do ônus da prova está no
artigo 38. Serviço público está no artigo 22.

Eu, se eu fosse vocês, pegava aquele código, que você usou na faculdade,
comentado, rabiscado, colado. Escreveria de lápis, do lado de cada inciso, porque de repente
você não pode usar no dia do concurso. É só para pegar essa dinâmica do 1, 2, 3, 4, 5, 6 e acha
o direito.

Então, aquilo que eu fiz para vocês, daquela petição inicial que eu só coloquei
1, 2, 3, 4, 5, 6, não é a Unimed que não estava tratando. Aí, eu ia olhar, está colocando em risco
minha vida? Ai, eu ia trazer, estudar o 8, 9 e 10 e observar qual seria o mais adequado. Ah, tem
alguma coisa pedindo Educação e Informação? Não. Publicidade? Não. Práticas Abusivas? Não.
Cláusula Contratual? Não. Opa! Se tiver alguma cláusula que não está permitindo, Cláusula
Abusiva. Ah, Renato, contratos? Pode trazer. Ah, Renato, uma pessoa sofre dano se não fizer
cirurgia? Sofre. Traz o artigo 6. Ah, Renato, posso pedir a inversão do ônus da prova? Pode.

Olha como é que vai ficando mais robusta. E existem situações, como esse
caso, que é uma viagem pela defesa do consumidor. Quanto mais artigos você tiver de verdade,
mais você vai mostrar para o magistrado. Mas você vai mostrar para o examinador, o que
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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
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aquele fornecedor está fazendo com o consumidor, né? Agora que vocês têm noção da base do
Direito do Consumidor, da relação de consumo, do direito básico do consumidor, o que é que
eu vou fazer a partir desse minuto? Eu vou ensinar para vocês como é que vocês colocam em
prática esse direito. Já vou combinar uma coisa com essa turma. Nós temos dois encontros.
Esses encontros eles são divididos da seguinte forma: primeiro encontro é a parte teórica. O
segundo encontro será de exercícios. Só que percebam, o Direito do Consumidor, para o
concurso de vocês, ele é muito importante, muito importante. Então, o que eu farei? Eu olhei
ali no relógio e falta meia hora para acabar com a aula. Então o que eu vou fazer nessa meia
hora que está faltando, eu vou ensinar uma parte dessa matéria. Quando a gente voltar para
próxima aula, o primeiro tempo eu fecho a parte doutrinária, e no segundo tempo, eu venho
para os exercícios, e a gente vem amarrando isso. Eu não podia em meia hora. Eu ia cuspir
matérias para vocês porque não vai adiantar de nada. Então eu vou fazer isso. E venho para a
próxima aula fechando a disciplina e venho resolvendo os exercícios que eu resolveria da
mesma forma. Tudo bem? Legal? Então está bom.

Renato, vi e achei bonito e bacana! Vamos com tudo meu garoto. Então
vamos lá! Vamos para parte prática do Direito do Consumidor.

Vamos nessa? Então, vamos embora. Eu estava doido aqui porque eu estou
ficando bom nesse negócio do Telegram, o primo do Whatsapp. O primo bacana do Whatsapp,
porque ele dá a possibilidade desse negócio de formar grupo, mas um grupo que só você fala. É
uma delícia, entende? Ai, o que eu fiz para a galera do concurso? Eu disse: adiciona-me aqui no
Telegram, porque aí o que eu faço? Saiu a decisão, eu jogo ali. Aí falo: Oh, olha, é isso aí que vai
cair.

Aluna: O Whatsapp também tem.

Professor: Eu sei, mas o Whatsapp...

Aluna: Só não sei como faz. Mas lá no trabalho, a chefe fez e só ela fala.

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Professor: Eu sei, mas o problema é que o Whatsapp, essa que é a diferença,


só pode 250 pessoas. Entendeu? O Telegram é ilimitado. Então, você pode botar várias pessoas.
Porque senão, eu teria que fazer vários grupinhos de 250. Isso ia dar um trabalho do cacete.
Mas, legal. Tem até o Whatsapp Business agora. Quem quiser esse Telegram, eu acabei de
postar no Instagram nos stories (as historinhas) que é só arrastar o dedo para cima. Adorei!
Você dá um sobe na tela aqui que você já vai cair na lista de inscritos. Eu comecei ali agora e já
tem quase uma galera. Eu fiz agora ali no intervalo. Brinquei com o Bruno ali. Eu vim para cá,
joguei e já tem uma galera de inscritos. Porque aí, saiu a decisão, eu jogo. Saiu o informativo,
eu jogo. E assim cirúrgico. Não é para ficar falando de política e essas maluquices.

Vamos para parte prática. Gente, o que seria o universo ideal em uma relação
de consumo? Simples assim, comprei um produto e ele durar. Ele vai durar até o dia que não
fosse durar mais. Mas a vida, às vezes, é assim. Quem foi que inventou a lâmpada?

Aluna: Thomas Edison.

Professor: Graças a Deus uma aluna aqui que é direita. Sabia que lâmpada
está acesa até hoje? Entrem na internet e joguem lá: lâmpada de Edison. A lâmpada ainda está
acesa. Quando Edison terminou, a GE abriu e falou: “Não, isso daí está ruim. Aí, não dá não! Se
fizer uma lâmpada e essa porra durar duzentos anos, quem é que vai comprar mais lâmpada?
Como é que eu vou ficar aberto?” Foi a primeira técnica de obsolescência programada. O que é
uma técnica de obsolescência programada? Eu torno o seu produto obsoleto para você
comprar mais comigo. Gente, não é razoável que o tempo passe...agora sim, a tecnologia
quando ela evolui, cada vez que você gasta menos espaço. Como é que era um computador nos
anos 80, como é que era o computador nos anos 90 e como é o seu celular hoje. Mas,
engraçado que os aplicativos eles ficam maiores, consumindo mais memória, para que? Para
você ter que trocar o seu aparelho. Ah, meu aparelho é de 8 GB, depois tem que ser de 16GB,
depois de 32 GB. Tem muita gente que tem 128 GB e que já está com pouco. Você tem 256 GB,
agora já tem 512 GB, e aquele negócio vai. Porra, era para ir diminuindo, sobretudo com os
critérios de nuvem. Com nuvem, era só ligar e acabou, e não tinha que gastar memória
nenhuma. Mas isso é uma técnica de obsolescência programada. Eu troquei um aparelho e
agora o conector do fone tem que ter um adaptador que encaixa num plug e que faz não sei o
que e que não carrega ao mesmo tempo. Porra, como é que pode? Pode, isso é uma técnica de
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DATA DA AULA: 03/05/2019
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obsolescência programada. O ideal era comprar esse celular e ele durar um bom tempo, mas
não. Eles inventam uma forma desse produto quebrar antes. Vocês lembram quanto tempo as
televisões duravam gente? Tem televisão que ia visitar a família. Porque a televisão, hoje em
dia, você compra, paga caro e às vezes com dois anos, três anos aparece uma faixa preta, uma
faixa branca do lado, ou então um fenômeno paranormal e do nada parou. Não é assim? Pois é,
ou seja, os bens de consumo eles apresentam falhas e para cada falha eu vou ter um
tratamento jurídico próprio. Nós temos duas grandes falhas que vão dividir nossa matéria para
na prática a gente comece a trabalhar isso de uma forma diferente. Qual o primeiro nome que
a gente dá para falha de um produto? Vício. O produto está viciado.

Renato, e qual é a segunda falha? A segunda falha é mais grave. Ela é


denominada de fato. A minha televisão parou de funcionar. Isso é um vício. Vício é uma
frustração de expectativa. Qual a expectativa que eu tenho em relação ao meu relógio? Que
ele marque as horas. Se ele não marcar as horas, aquele relógio está viciado. Qual a expectativa
que eu tenho em relação ao ar-condicionado? Que ele refrigere o ambiente. Se ele não
refrigerar o ambiente, eu vou dizer que aquele ar-condicionado está viciado. Olha essa que eu
vi na televisão outro dia: Qual a expectativa que você tem em relação a uma Land Rover? Que o
Mar Vermelho, você vai passar por ele com a Land Rover. Aí na chuva, passa uma Fiat Uno,
depois vem o cara da Land Rover: “ih, caraca! “ Claro que o problema ali está entre o pedal e o
volante, mas a gente pode dizer que é um vício. Ok? Então frustração de expectativa o nome
disso é vício. Agora vem o outro tipo de vício. Esse é mais grave. Vício mais sangue - quando o
produto causa dano paro consumidor. Qual a finalidade do ventilador? Ventilar o ambiente. Se
a hélice solta e arregaça com a cabeça do consumidor, o nome disso é fato. O fato é sinônimo
de dano. Se esse ar-condicionado exala gases tóxicos..., falta pouco pela barulhada que ele
tá...se ele exala gases tóxicos e intoxicam todos os presentes, isso não é um vício. Isso é um
fato, dano. Se eu comprei uma panela de pressão e ela não está dando aquela pressão toda
direito é vício. Se ela explodiu é fato. Se eu comprei a televisão e ela está com a imagem
embaçada é vício. Se ela é daquelas 3D...teve agora há pouco tempo atrás, o desenho
Pokémon, em que as crianças que tinham o quadro de epilepsia tiveram quase um ataque.
Tinha um raio que tinha um Pikachu daqueles que queria matar o mundo, muitos flashes,
aquilo atuou no neurológico e as crianças em casa algumas até morreram. É, isso é fato.
Comprei um Activia, e a promoção é “Comeu e você tem as atividades intestinais reguladas.” E
você comeu e não teve as atividades intestinais reguladas. Isso é um vício ou um fato? Vício. Já
vi que vocês levam isso a sério. Eu já entendi. Então, deixa eu melhorar então. Aquele bacilo
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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
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está com o capeta. O dan regularis chegou da micareta indo para uma rave. Você abriu aquilo,
botou na boca e desceu bonito. Chegou destruindo. Ficou fraco, ficou que nem em rei no final
de semana, no trono, no Floratil, Gatorade. Vício ou fato? Fato. Quem dizer que isso é vício, não
tem dó do “fiofó” dos outros. É Fato do produto.

Então anote, vício é frustração de expectativa, enquanto, fato é produção de


dano. Legal? O que a lei vai falar? Para o vício, eu vou dar um tratamento jurídico. Para o fato,
eu dou outro. Então, se você sabe contar até 6, mas não sabe a diferença de vício para fato,
você perde o prazo para entrar com o processo e você entra contra a pessoa errada. Então, o
que eu vou fazer nessa aula de hoje? é explicar até o final e explicar tudo sobre o vício. O que a
gente faz no começo da próxima aula? A gente fala tudo sobre fato. Fechado isso, aí, nós vamos
para os exercícios. Tudo bem? Eu não ia conseguir resolver em 18 minutos tudo sobre vício e
fato.

7. VÍCIO DO PRODUTO

O tratamento do vício vai do artigo 18 até o artigo 21. É a hora das lendas
urbanas que serão quebradas. Primeira coisa gente, quando eu estou diante de um produto
viciado, adota-se o princípio da solidariedade.

Pelo princípio da solidariedade, todos os integrantes da cadeia de consumo


poderão ser responsabilizados de maneira individual por eventuais danos produzidos aos
consumidores.

Ah, então o Renato falou que a caneta comprou do chinês, que vendeu pra
Pilot, que vendeu pra Kalunga, que chegou para o Renato. Como é que é o nome disso? Cadeia
de consumo. Todos esses fornecedores responderão solidariamente na hipótese de vício.
Então, seu eu comprei a televisão da GE na Ricardo Eletro, o dia que a televisão apresentou um
vício, eu posso acionar quem? A GE ou a Ricardo Eletro.

Ah Renato, posso acionar ambas? Tecnicamente até pode, mas eu não faria
isso nunca. Por quê? Tem a celeridade, você pode escolher um, aí você demanda contra todo
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mundo para duplicar prazo processual, triplicar prazo processual? Para. Trazer mais um cara
para dizer que o que você está dizendo é mentira. Eu até acho razoável você trazer mais de um
réu quando você tem uma demanda que envolva uma grana maior e que as partes não tenham
às vezes capacidade para você pegar um penhorinha online daqui, uma penhora dali, uma
desconsideração da personalidade jurídica, aí, vai fazendo alguma coisa. Agora porra, você está
acionando a Motorola e o quiosque que lhe vendeu. Para que você vai trazer o homem do
quiosque? Ah, mas foi ele que não sei o que. Foi o que o Dr. lá falou. Mas se o cara do quiosque
xingou você, ele é representante da Motorola? É. Artigo 34, logo, você responde pelo ato
praticado pelo seu representante. E olha como é até mais difícil, já que você não trouxe o
quiosque para a Motorola provar isso. Então, pelo amor de Deus, para com esse negócio de na
dúvida demandar contra todo mundo. Eu disse para vocês que o vício é completamente do fato
e quando a gente estuda fato, o comerciante tem ilegitimidade passiva para figurar numa
demanda de Direito do Consumidor. Ah, como é que é? É. A televisão explodiu, demanda
contra todo mundo? Vai demandar contra o comerciante? Vai perder e depois vai pagar
sucumbência para o cara porque você na dúvida demanda contra todo mundo.

Ah Renato, mas o que pode acontecer? Vamos lá. Celular Samsung S7 que
estava explodindo? Ai, voce está falando no celular. Ele explodiu e arregaçou com seu tímpano.
Legal. Vício ou fato, gente? Fato. Vamos aqui a demanda. Quanto você pediria pelo seu
tímpano?

Aluna: 100 mil reais.

Professor: 100 mil?

Aluna: 200 mil.

Professor: Uns 200 mil. 250. Beleza. Já chegou? Já pensou? Chegou o


advogado, aí chegou o cliente “Bom, explodiu meu tímpano. Doutor, quanto eu peço?” Tem
que dizer teu preço. O valor tem que ser líquido, não é isso? Quanto é que você pediria?

Aluna: Depende.
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DATA DA AULA: 03/05/2019
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Professor: Depende do que? Ah entendi, se a mulher é casada, tímpano de


casado vale mais. Fala ai...chegou aquela hora que todo mundo fala assim “ah caralho, ele vai
me perguntar.”

Aluno: 200.

Professor: Uns duzentinho. 250. Fala ai Dra.

Aluna: Eu pediria sei lá, uns 20. É isso gente.

Professor: Gente, para casar. Não adianta o que eu vou falar não. Gente, eu
vou pedir aqui em média...parece até que eu falaria pouco. 1 milhão, 500 mil…A combinação é
essa. Tribunal de Justiça do Rio, o que é um timpaninho? Tem dois. O que é ficar surdinho de
um lado, gente? Bom para ouvir funk. Gente, é isso aí. Aí o que é que vai acontecer? Você pediu
1 milhão. Vamos entrar no JEC? Eu espero que entre. Entrou na vara cível. Tudo bem. Pedido
procedente. Ah não, vai conseguir gratuidade de justiça? Se tivesse que colocar numa regra de
bens necessários, o que é um celular top de linha? Aí, quer dizer, você tem para comprar o
Iphone 10, 512GB, mas não vai pagar a taxa judiciária? Legal. Aí, na dúvida você entrou com a
ação contra a Samsung e contra a Ricardo Eletro, que lhe vendeu o telefone. E eu vou ensinar
na próxima aula que o comerciante, a Ricardo Eletro, não responde pelo fato do produto. Ai
você entrou com a ação de 1 milhão, pedido procedente contra a Samsung, 20 mil, e você vai
tomar na sucumbência de 10% do valor da causa. O que você ganha além da surdez? Perde 80
mil. O que é que você vai contar em casa para as crianças? Para enquanto dá, de na dúvida
demandar contra todo mundo. Se eu estiver diante de um vício, eu posso ir contra o
comerciante e contra o fabricante, mas eu iria contra um. Se eu estiver diante de um fato,
esqueça o comerciante. Mas isso é matéria para aula que vem.

Tudo bem, Renato, então o princípio da solidariedade é a possibilidade do


consumidor escolher um e demandar contra ele. Isso, Renato! Mais o que? Maior lenda urbana
do mundo. Comprei uma televisão, levei para casa, fui ligar pela primeira vez, ela quebrou. Eu
posso voltar na loja e pedir a troca da televisão? Sim ou não? Não. O fornecedor tem o prazo de
30 dias para sanar o vício.
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DATA DA AULA: 03/05/2019
PROFESSOR RENATO PORTO

Renato, peraí, comprei um negócio novo. Quebrou. Eu sou obrigado a ficar


com o produto ali consertado? É. Posso brigar? Pode. Posso gritar? Pode. Vai adiantar? Não. O
fornecedor pode olhar nos seus olhos e falar assim: “Tá triste, fica triste não. Leva para
assistência técnica.” Caraca, Renato! É assim? É. Fornecedor tem 30 dias. Pelo amor de Deus,
anotem com letras garrafais o que eu vou falar para vocês. Decisão desse ano do STJ.

O produto apresentou vício, o que tem que fazer? Levar para assistência
técnica. Por causa do princípio da solidariedade, esse ano o STJ entendeu que se você pode
levar para assistência técnica ou para o comerciante ou para o fabricante. São eles que têm que
se entender para resolver o problema. Então, se você tiver um produto quebrado, não precisa
ficar no livrinho procurando assistência técnica não. Você pode voltar na loja que lhe vendeu e
falar: está aqui. “Ah, tem que ir para assistência técnica!” “Isso é problema seu.” Bonito desse
jeito. Por que aconteceu isso? Porque era muito comum de você não ter o número de
assistências técnicas espalhadas pelo país semelhante ao número de lojas. Então, o cara lá de
Friburgo quebrou o não sei o que e só tem autorizada aqui no Rio. Quem é que desce com
aquela geladeira? O que você faz? Leva lá na loja e fala: está aqui. “Quem desce?” “Sei lá
amigo, não sei. Vai ser difícil, hein.” “E como é que eu faço?” “ Não, precisa não.” Aí, encosta
aquela Kombi, desce aqueles dois homens, bota ali na recepção. “Muito obrigado ai.” “Mas,
onde é que vai ficar isso?” Bate a fotinho, deixou e foi embora. Acabou. Você documentou,
agora é com ele mesmo. Então, você pode levar no fabricante, pode levar no comerciante,
pode levar na loja ou na assistência técnica, por causa do princípio da solidariedade. É julgado
de 2019.

Aluna: Você pode levar no fabricante?

Professor: Pode levar no fabricante.

Aluno: Chegar à sede da Samsung?

Professor: Chegar na Brastemp e falar: “Senhor Brastemp, bom dia. Aqui está
a geladeira” É isso aí. É desse jeito. Aí, se não for sanado nos 30 dias, você como consequência,
aí pode pedir a troca. Caraca, Renato, então o direito de troca é só para quando o fornecedor
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AULA 01 – DIREITO DO CONSUMIDOR
DATA DA AULA: 03/05/2019
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não consertar em 30 dias? É. Aí é a hora que o povo fica puto. “Como é que é? Peraí, então
você está dizendo que não existe direito de troca?” “Estou.” Inexiste o direito de troca para
produto bom. Seria uma insegurança jurídica muito grande, eu vender um carro para você na
sexta-feira, você usa no final de semana e segunda-feira você vai e diz não. Não dá. Então, não
existe direito de troca. Direito de troca é o seguinte: quebrou. Produto bom não obriga a trocar.
Quebrou, é vício, logo , tem 30 dias para consertar. Se não consertou, aí troca.

Aí o aluno essa hora, revolta e fala: “Professor, desculpa aí, mas eu casei há
pouco tempo atrás. Eu tive aqueles amigos pobres de espírito, e eu ganhei 12 forninhos de
esquentar pão, 15 sanduicheiras, que era o mais barato que tinha na Ponto Frio, na Tele-Rio. Aí,
deu ruim.” Eu tenho uma teoria que aqueles forninhos com aquela bandejinha, aquilo não
presta. Aquilo nem para botar pão presta, porque você bota manteiga fica duro o pão por fora,
por dentro fica melado, o miolo amassa junto com a manteiga, e vira uma canoa de gordura e
quando você morde. Eu não sei se vocês têm a boca com o problema que nem eu, mas escorre
aquilo, e fica uma boca de manteiga. Aquilo não presta para nada. Para mim aquilo fica até
sendo dado de casamento em casamento. Eu ganhei 7. Eu fui num casamento de outro
compadre meu, o que eu fiz? Opa! Aquilo fica rodando, né? Legal.

Deixa-me falar, o comércio normalmente troca, mas não é uma obrigação. É


uma benevolência. Então, é muito importante, que se você for numa empresa e quiser adquirir
um produto que pode querer trocar, você entenda a política de troca. Se você pode ver que se
você for comprar moda íntima dá direito de troca gente? Não. Comprou calcinha, usou no final
de semana e segunda-feira “Ah, eu vim trocar.” Não dá. Todo mundo já sabe que na moda
íntima não tem. E por quê? Porque eles já falam. Isso é notório. Então, o fornecedor não tem
obrigação. Então vale a pena você saber se eles trocam ou não. Alguns fornecedores falam que
você tem 3 dias para trocar, você tem 5 dias. Aí, chegou a hora : “Demorei 7 dias, professor. Eu
já ouvi falar num negócio de direito de arrependimento.” Beleza, direito de arrependimento é
um direito que pode ser conferido para as aquisições feitas fora do estabelecimento comercial.
Compra pela internet, pela televisão, pelo telefone. A compra à distância, você pode se
arrepender em 7 dias de quando você recebe o produto. Por que na compra à distância, eu
posso me arrepender e a compra presencial eu não posso me arrepender? Por que a compra à
distância pode ser mais simples de me enrolar. É uma possibilidade de ambiência do
consumidor com o ambiente de consumo. Você já viu que só de tocar em uma roupa você sabe

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se aquilo ali presta ou não? À distância não dá para você ter essa integração. Então na compra à
distância você pode se arrepender. São 7 dias de quando você recebe e o produto não precisa
estar viciado. O produto pode estar bom. Pode dizer: “oh, não quero mais”. Se o produto
apresentar vício, você tem 30 dias para sanar. E se não sanar em 30 dias, aí, você pede a troca
ou a devolução do seu dinheiro ou o abatimento do preço. Então, o fornecedor tem 30 dias
para consertar. E não consertando, aí, vem a troca, aí, vem a devolução e aí, vem o abatimento.

Professor, e se o moço falar que “Nós não devolvemos dinheiro. Nós damos
um voucher para você comprar outro produto aqui da loja?” Aí você tem que falar com o cara
“Não, eu quero meu dinheiro.” Ai ele vai falar: “Mas essas são as regras da nossa empresa.” O
que você vai contra-argumentar? “Você está coberto de razão, porque se você não respeitar as
regras da empresa, você será demitido. Eu tenho que respeitar a lei, e o Código de Defesa do
Consumidor diz que eu posso pedir o meu dinheiro de volta ou a troca.” E o direito não é seu.
Pode falar assim: “Isso é um direito potestativo. É o Direito do Consumidor gerando em você
um estado de sujeição. ”Oh, que coisa linda! Nessa hora, quando você falar isso, ele vai falar:
“Não, peraí, só um momento. Oh, aquela mulher lá deve ser da justiça. Está falando que vai
processar...” Aí vocês têm que saber disso quando chegar e: “Ah, vou quebrar um galho.”Na
hora que você ouvir isso, é para gritar: “Como é que é?” “É para quebrar um galho.” “Peraí,
você não vai quebrar um galho não. Não tenta me fazer sentir mal porque eu estou exigindo
meu direito. O errado é você. Eu vou ligar para polícia. Sabe a diferença da responsabilidade
civil para penal? Não? E o bambu?

Gente, foi bom estar com vocês. Como é bom dar aula nessa turma.

FIM

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