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Olá, pessoal! Tudo bem com vocês? Eu sou Bruno Pinheiro, professor de Direito
Constitucional de vocês.
Nesse primeiro momento, eu quero discutir com vocês uma bibliografia básica. Vou
também traçar um roteirinho de estudos para vocês com os principais pontos. Em cada ponto
eu vou destacar a ênfase que você deve dar, se jurisprudência, se leitura da legislação, isso em
relação a cada ponto da matéria para vocês. Também vou sortear para vocês meu livro. Esta é a
edição antiga, mas eu vou sortear para vocês. Então, enquanto eu explico, eu peço a vocês que
anotem em um pedaço de papel o nome de vocês e passem para a frente, por favor, enquanto
a gente vai ver a bibliografia e o roteiro de estudos.
Olha não precisa colocar o nome em um papel muito grande não. Também não
muito pequeno, senão nem vai ser sorteado.
Bom, bibliografia.
BIBLIOGRAFIA
parte para o pressuposto que você já conhece em Direito Constitucional. Para quem estuda
Constitucional, excelente. Mas para quem não está tão familiarizado assim, dá uma lida e vê se
você gosta, porque senão você compra e não vai ler com prazer. Dá uma olhada primeiro, dá
uma lida. Gostou, compra, porque é um excelente livro. Não gostou? A gente vai dar outras
opções.
Então, segunda opção é um livro estruturado de forma mais fácil para você ter
acesso às informações. É o Dirley da Cunha. Um bom livro, a leitura é de fácil acesso, bem
tranquilo, traz as informações necessárias, aprofunda em determinados pontos.
A quarta é o Pedro Lenza. Esse é bem mais objetivo, mas não é resumo não, já
estruturado de forma mais fácil para você pegar e acessar a informação. Ele não se preocupa
em discutir os temas, então não vai discutir os temas com você. Ele vai apresentar os temas
para você, diferente do Gilmar Mendes que discute os temas, diverge apresenta controvérsia,
apresenta posições novas. Ele vai apresentar temas, as lições, então não é um livro de muita
discussão. É um livro que apresenta o direito Constitucional para você.
Bom, esses são os livros base para você ler. Ao longo do curso, dependendo do
tópico, dependendo da matéria, se necessário eu vou indicar para vocês livros
complementares. Controle de constitucionalidade sempre é bom ter um livro complementar,
remédios constitucionais, algum livro específico também é tema importante, mas a gente vai
falando ao longo do curso. O livro base é essencialmente esse.
Tudo bem em relação a bibliografia? Algum livro específico que alguém tem e
alguém quer saber, não?
ROTEIRO DE ESTUDOS
Aqui no Rio de Janeiro, quando Emerson era da banca, ele exigia muito isso, a
Patrícia tem uma ligação ainda com o Emerson, então ela também gosta muito dessa parte de
hermenêutica. E nos outros concursos hermenêutica vem sempre sendo perguntada, os mais
exigentes. Hoje, é um tema muito importante em Direito Constitucional.
A turma de vocês tem uma carga horária um pouquinho menor que as turmas
semanais. Então o ritmo é fundamental. Não se assustem com um ritmo um pouquinho mais
rápido. Se teve dúvida é só perguntar porque, a gente explica. Mas o ritmo tem de ser um
pouquinho mais rápido porque temos uma limitação de aulas, então quanto mais o nosso ritmo
for lento menos matéria a gente fala. A gente sempre vai procurar também aprofundar os
assuntos. Prova do Ministério Público não é prova de decoreba, então a gente tem que
aprofundar os assuntos.
Eu vou mostrar para vocês hoje a necessidade disso, desse aprofundamento. E não
só você repetir o que vem sendo dito. Tem que ter um pensamento crítico, mesmo para
responder errado. Mesmo para responder errado! Então você tem de saber que muitas vezes
você tem que responder errado, porque a banca assim quer. Mas você vai saber que está
respondendo errado. Vai passar, mas vai saber qual é o mais correto.
Outro detalhe que eu tenho visto aqui, é importantíssimo que você venha com a
Constituição. Que você acompanhe com a Constituição. Eu sei que muitos acompanham pelo
celular, não tem problema. Agora, com a Constituição em mãos você faz remissão, você faz
marcações, e isso é importantíssimo para o estudo de vocês. E sem olhar a Constituição, tem
muita coisa que você perde. Eu vou tentar mostrar agora a importância de vocês usarem a
Constituição. Pode perguntar, óbvio, não tem problema nenhum. Afinal de contas é aula! O
professor que não gosta de perguntas não deve ser professor. O que não pode é dentro da aula
você ficar respondendo coisas que não tenha relação com o tema. Mas se você quiser, depois
da aula a gente fala. Tenho as redes sociais, Instagram, Twitter e Facebook. Essencialmente, eu
uso mais o Instagram. Facebook quase não uso; Twitter uso mais para ficar xingando os outros
(risos) e o Instagram que a gente usa para ficar colocando decisões, jurisprudência, etc. e tal.
Então é sempre legal vocês seguirem, eu coloco lá decisões judiciais, coloco questões de
concurso. Se você tiver alguma dúvida, normalmente, por lá é muito mais fácil de você falar
comigo: “Ah, eu vou manda e-mail para a AMPERJ”, mandar e-mail para mim. Manda lá, manda
um direct lá no Instagram que a gente consegue falar e, se der para tirar a dúvida, a gente tira
ali.
Eu queria mostrar para vocês agora, duas questões importantes que eu destaquei:
primeiro a importância da Constituição, e segundo, a atenção que a gente deve ter a situações
que muitas vezes o STF fala, a doutrina também fala, mas não estão corretas. Então eu vou
mostrar essas duas questões para vocês, para a gente entrar no tema propriamente dito.
Constituição Federal
II – do Presidente da República;
Bom, então está dizendo no §2º que a PEC será discutida e votada em dois turnos.
Vejam só, chegou uma questão ao STF para saber se era possível que esses dois turnos se
dessem no mesmo dia ou com pequeno intervalo de tempo. A Constituição exige dois turnos,
não é isso? Esses dois turnos podem se dar no mesmo dia ou com pequeno intervalo de
tempo? Essa questão foi analisada pelo STF. O Ministro Ricardo Lewandowski deu uma
interpretação que ele chamou de sistemática comparativa com o art. 29 da Constituição.
Constituição Federal
Art. 29. O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos,
com o interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos
membros da Câmara Municipal, que a promulgará atendidos os
princípios estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do
respectivo Estado e os seguintes preceitos: (...)
Está ótimo! Dois turnos, com intervalo mínimo de dez dias. O que disse o Ministro
Ricardo Lewandowski? Quando a Constituição quer estabelecer intervalo mínimo de tempo,
entre os turnos de votação, ela o faz expressamente, como ela fez lá no art. 29. Quando ela não
faz isso expressamente, cabe ao legislador definir, portanto uma questão interna corporis. Se o
legislador entender que é adequado o mesmo dia, ele pode fazer. Então vejam que ele fez uma
análise comparativa entre os dois dispositivos constitucionais. Mas veja só, será que essa
comparação é realmente adequada em relação aos dois dispositivos constitucionais? Se você
for lá na Constituição, a Constituição exige dois turnos de que? Leia lá de novo.
Aluno: Só votação.
Isso tem importância? Tem. Quando a Constituição exige dois turnos não só de
votação, mas de discussão também, ela está exigindo que você tenha um espaço suficiente
para reflexão. Porque não basta só votação, tem que ter uma nova deliberação. E aí a gente vai
chegar à interpretação teleológica, que a gente vai falar mais adiante. Se a Constituição exige
dois turnos de deliberação, o que ela quer garantir é espaço para discussão, não é isso?
Vamos imaginar o seguinte: vamos imaginar que você tenha brigado com seu
namorado, com seu marido, enfim, você já deve ter brigado alguma vez na vida. Se não brigou,
você é um abençoado! Melhor ainda. Mas imagine que você já tenha brigado alguma vez na
vida. E talvez você já tenha tido uma briga mais acalorada com seu namorado, com seu marido.
Nada de violência física, mas talvez você já tenha tido uma briga mais acalorada. Normalmente
aquelas que começam à noite, depois que você chega do trabalho. Começa a discutir, discutir,
ela fala os argumentos dela, eu falo os meus argumentos. Ela repete os argumentos dela, e eu
repito os meus. Aí a gente vai para uma terceira rodada. Repete novamente os dela, e eu os
meus. A gente vai para a quarta rodada. Ela repete, só que com um tom de voz mais alto. Eu
repito, com um tom de voz mais alto. Os argumentos, em algum momento, não se renovam
mais, não é isso? Porque você não tem espaço de reflexão. É até bom nessa hora que tenha
algum que seja mais racional e diga: vamos parar aqui e amanhã a gente conversa. O que é que
essa pessoa quer garantir? Ela pode estar querendo se livrar do outro simplesmente, e dormir
porque está cansada; ou ela quer garantir espaço para reflexão.
Constituição Federal
Constituição Federal
Aí nós temos o regime de urgência. Então, nós temos a Medida Provisória, e nós
temos o regime de urgência. Nos dois casos, nós temos o prazo de 45 dias. Então, tem o prazo
de 45 dias em relação à Medida Provisória e temos o prazo de 45 dias em relação ao regime de
urgência. Esse prazo de 45 dias é um prazo comum para as duas Casas Legislativas ou é um
prazo independente para cada Casa do Congresso Nacional?
É o que? Quarenta e cinco para cada Casa. Nos dois casos? Então qual a diferença?
Nenhum dos dois casos é o Congresso. Os dois casos são separados. Os dois casos
(Medida Provisória analisada pela Câmara e pelo Senado e regime de urgência também) são
separados. Só que lá diz 45 dias. O que eu quero saber é: 45 para cada Casa ou 45 no total?
Professor: E lá no outro é o que? Qual a palavra que você falou? E no outro está
escrito o que?
Aluno: Subsequentemente.
Então se eu falo – e você não está lendo, se você não marca – você vai
simplesmente lembrar 45 dias do regime de urgência e 45 dias para Medida Provisória. Você
não vai olhar a Constituição. Se você for à Constituição lá no art. 62, § 6.º, vai dizer lá: “prazo
subsequentemente e no art. 64, § 2.º é “sucessivamente”. Então grifem o “sucessivamente”,
faça remissão ao art. 62, § 6.º, e coloque lá “diferente”. Então, “sucessivamente” quer dizer
que os prazos são independentes: 45 para cada casa. Já “subsequentemente”, 45 para as duas
Casas. Prazo total, portanto.
Então prazo de 45 dias para a Medida Provisória é prazo para as duas Casas,
abrange as duas Casas. Aqui para cada Casa Legislativa.
Feitas essas duas observações quanto à leitura da Constituição, agora vou fazer uma
outra com relação à importância de você entender o sistema mesmo que seja para você
responder errado. Vocês já ouviram falar em abstrativização ou objetivação. O que é
abstrativização, sem nenhuma questão técnica. O que seria abstrativização no controle de
constitucionalidade? O que é que seria?
Então vejam só, ela disse que abstrativização é o ampliar dos efeitos da decisão
proferida em um caso concreto para aproximar os efeitos da decisão daquela proferida em
abstrato.
Constituição Federal
Ótimo. Isso eu só aplico, veja só, para processos que tenham efeito inter partes. Se
o processo é objetivo, o efeito já é erga omnes. Então eu só aplico o art. 52, X para declaração
de inconstitucionalidade de processo subjetivo. Recentemente o caso do amianto. Anotem,
inclusive, o Informativo n.º 886. Daqui a pouco, quem tiver acesso à internet, se puder chegar
à decisão seria bom porque ajuda a gente também.
inconstitucionalidade.
Reputou que a lei atacada não possui conteúdo normativo que leve ao
afastamento da norma geral consubstanciada na Lei n.º 9.055/1995. A
lei federal é norma geral editada pela União no exercício da limitada
competência de conformação normativa conferida pelo art. 24, § 1.º, da
Constituição da República.
No ponto, asseverou que os artigos 3.º, 4.º e 5.º da Lei n.º 3.579/2001,
que proíbem a utilização, a pulverização (spray) e a venda a granel de
qualquer tipo de asbestos contemplam enunciados normativos em tudo
congruentes com o art. 1.º, I, II e III da Lei n.º 9.055/1995. Por sua vez, os
artigos 2.º e 6.º do diploma estadual impugnado, que vedam no
território do Rio de Janeiro, a extração, a fabricação e a comercialização
de produtos que contenham asbesto de qualquer tipo, traduzem o
devido exercício, pelo legislador fluminense, da competência
concorrente suplementar, a teor do art. 24, V, VI, e XII e § 2.º da
Constituição da República.
Para a ministra Rosa Weber, a Lei n.º 9.055/1995, como norma geral
que é, adota uma postura teleológica, frente à exploração econômica do
amianto, e reconhece seus riscos e a necessidade de controle. Define as
condições mínimas a serem observadas para que a exploração do
asbesto da variedade crisotila seja tolerada como lícita. A simples
tolerância não vincula a atividade legislativa de Estados e Municípios. De
modo algum ostenta eficácia preemptiva de atividade legislativa
estadual que, no exercício legítimo da competência concorrente, venha a
impor controles mais rígidos ou proibitivos. Portanto, a Lei n.º
9.055/1995 e a Lei n.º 3.579/2001 estão orientadas na mesma direção,
tendo a legislação complementar, no caso, apenas avançado onde o
legislador federal preferiu se conter. Ao impor um nível de proteção
mínima a ser observado em todos os Estados da Federação, a Lei n.º
9.055/1995 não pode ser interpretada como obstáculo à maximização
dessa proteção, conforme escolha dos Estados, individualmente
considerados. A proibição progressiva encartada na legislação estadual
em apreço está alinhada à diretriz norteadora e à teleologia do regime
previsto na Lei n. 9.055/1995.
(2) CPC: “Art. 535 (...) § 5.º Para efeito do disposto no inciso III do caput
deste artigo, considera-se também inexigível a obrigação
reconhecida em título executivo judicial fundado em lei ou ato
normativo considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal
Federal como incompatível com a Constituição Federal, em controle
de constitucionalidade concentrado ou difuso”.
Constituição Federal
Constituição Federal
Ótimo. O estado só exerce competência legislativa plena se não houver Lei Federal.
No nosso exemplo já existe Lei Federal, não existe? Ótimo. Parágrafo segundo, por favor.
Constituição Federal
Então os estados podem havendo Lei Federal legislar apenas sobre normas
específicas, não é isso? Então, se eu já tenho Lei Federal, o Estado só pode legislar sobre
normas específicas. Vamos imaginar que o estado, posteriormente, vamos colocar uma data
aqui: 2000. O Estado em 2002 edita uma lei estadual no Rio de Janeiro relativa a normas gerais
em relação àquela mesma matéria legislada pela União. Poderia fazer isso?
Resposta do professor: Não. Não poderia, portanto essa lei é inconstitucional por
usurpar a competência da União. Mas eu tenho que declarar, não tenho? Então é proposta uma
ADI e o pedido é para declarar inconstitucional o que?
Professor: declara inconstitucional a lei estadual por violar o art. 24, § 1.º, que diz
que a competência é da União. Esse é o pedido na ação.
Vamos imaginar que você seja um Ministro do STF. Você recebe a ação, e você olha
a ação...
Resposta do professor: Não ele não pode. A declaração que vai retroagir. São coisas
diferentes. Ele não pode. Se ele pudesse não era inconstitucional. Eu não posso matar, mas eu
mato. São coisas diferentes. Ele não pode fazer, mas ele fez. Agora, se ele fez eu tenho de
alguma forma que desfazer o que ele fez. Aí eu tenho a ADI. A ADI para que? Para você eliminar
do ordenamento jurídico a lei estadual. Porque ele não podia fazer o que fez. Ele não podia
regular normas gerais. Por que? Porque eu já tenho a Lei Federal. Ele só poderia editar normas
gerais se não tivesse Lei Federal.
Então você é um Ministro do STF. Você vai receber essa ação. Quando você recebe
essa ação, você vai olhar primeiro a lei estadual, não vai? Ela é o objeto da ação. Você vai olhar
a lei estadual para ver se ela trata de normas gerais. Aí você tem que olhar se existe Lei Federal,
porque se não existir Lei Federal, o estado poderia fazer. Então você vai olhar a Lei Federal.
Quando você olha a Lei Federal, vamos imaginar que essa Lei Federal tenha sido aprovada na
Câmara com a redação “a”. E foi ao Senado e o Senado alterou com a redação “b”. Mandou ao
Presidente da República que sancionou e promulgou e publicou a lei. Essa lei tem um vício, não
tem? Inconstitucionalidade formal. Não estou nem querendo discutir a matéria para ficar mais
fácil a gente entender. Então tem um vício formal. Até aqui estão acompanhando o vício
formal? Se tem um vício formal, ela é inconstitucional. Se ela é inconstitucional, ela é nula de
pleno direito. Como se nunca tivesse existido. Se ela nunca existiu, o Estado poderia ter editado
normas gerais.
Por que é que o efeito é erga omnes? Porque eu estou falando de ADI, e o processo
é objetivo. O processo é objetivo e quando o processo é objetivo não tem partes, ou melhor,
não tem réu. Não tem partes contrapostas, não é isso? Se eu não tenho partes, o efeito não
pode ser inter partes. Por óbvio, não é? Nesse caso, houve abstrativização aqui? Alguém acha
que houve? Tem aplicação nessa situação do art. 52? O STF diz que sim. E a doutrina toda diz
que sim, e está passando dizendo que o STF admitiu a abstrativização no controle – olha o
perigo – difuso incidental. Veja o voto aí, quem tiver na internet, é o informativo n.º 886. No
controle difuso incidental! Aqui o controle foi incidental, não foi? Mas difuso? Concentrado!
Concreto? Abstrato! Olha só! O problema é que a gente confunde controle incidental com
controle difuso. O problema é que a gente confunde controle principal com controle
concentrado. O problema é que a gente confunde controle de (?? inaudível) em processo
objetivo com controle de (?? Inaudível) em processo subjetivo. A gente não consegue analisar o
sistema como um todo, e isso é absolutamente problemático, porque você vai ter erros. Aqui
não pode ter abstrativização, porque já é abstrato. Aqui não se pode falar em objetivação,
porque o processo já é objetivo. Logo o efeito não tem como ser inter partes se eu não tenho
parte no processo. Então o efeito é erga omnes, por óbvio. Você tem aí? Você pode pegar para
a gente? Acho que é o primeiro desse informativo. Acho que tem até um parágrafo em que ele
fala do art. 52, inc. X. Você vai ver logo. Pode ler para a gente, por favor?
Em ADI? Obvio que não! Eu vou tentar mostrar para vocês outras situações para
vocês interpretarem sistematicamente.
Admite-se controle incidental em ação civil pública? Sim, dizem o STF e a doutrina,
desde que a questão incidental não se confunda com a questão principal. Por quê? Porque se a
questão incidental na ação civil pública se confunde com a questão principal, a questão
incidental na ação civil pública vai ter efeito erga omnes e aí vai usurpar a competência do STF.
Peraí! Toda a doutrina afirma que o controle incidental em ação civil pública vai ter
efeito erga omnes, não é isso? Controle incidental em ADI vai ter efeito inter partes? Absurdo
do absurdo. Aí a pessoa vem e diz: “ah, mas o controle difuso ou o controle incidental é a
mesma coisa”. Não. Não é! Difuso diz respeito à competência de quem exerce o controle para
analisar aquela respectiva ação. Por exemplo, uma representação interventiva, quem é que tem
competência para analisar? O STF. Então a representação interventiva é uma ação de controle
concentrado. O que se pede em uma representação interventiva? Uma intervenção. Então na
ação interventiva, eu tenho uma ação de controle concentrado em que o controle é exercido
incidentalmente. E na ação interventiva o processo é objetivo ou subjetivo , embora tenha uma
certa divergência? Subjetivo. Então a ação interventiva tem controle concentrado; uma ação de
controle concentrado, processo subjetivo e incidental. E incidental. Não confundamos controle
incidental, controle concentrado e controle principal, portanto.
E vou mais longe, alguns autores falam “não, mas o controle incidental difuso veio
dos Estados Unidos e é assim, só é exercido em concreto”.
No caso Roe versus Wade – lembram este caso aqui? Alguém já ouviu falar nesse
caso? Roe versus Wade, era um caso sobre aborto. Qual era a situação aqui para a gente
entender? Em 1969, no final do ano de 1969, a Roe (esse é até o pseudônimo dela. Ela
escondeu o nome) ficou grávida. Ela era uma menina pobre, de minoria negra, cheia de
dificuldades, já tinha três filhos com 21 ou 22 anos de idade. Já tinha três filhos. A mãe era
drogada, o pai ela nem sabia quem era, e ela não queria ter o quarto – ou não queria ter o
terceiro. Queria abortar. Só que não tinha dinheiro, e aborto clandestino é caro. Ela não tinha
dinheiro. O que é que ela fez? Entrou na Justiça pedindo que fosse autorizado o aborto. Então
ela entra na Justiça pedindo para autorizar o aborto.
Você acha que é fácil ter uma decisão liminar em 1970! Se hoje é difícil, imagine em
1970 autorizando um aborto nessa hipótese? Difícil. E lá menos ainda. Logo, não foi obtida essa
decisão judicial, não foi obtida essa autorização na primeira instancia; não foi obtida na
segunda instancia. A criança esperou? Nasceu. A criança nasceu antes da ação ter sido julgada
ainda no mérito, antes de ter transitado em julgado. Teria que ser declarada a perda do objeto.
Mas as advogadas do caso eram vinculadas, ligadas a organizações que defendiam o aborto,
etc. e tal. Continuaram com o processo, e levaram a questão até a Suprema Corte.
Vou além, “professor, mas essa decisão vai ter efeito erga omnes”? Por óbvio. Se eu
não tenho partes, por óbvio. Se eu falo em efeito erga omnes para impedir o controle na ação
civil pública incidental, por óbvio que aqui o efeito vai ser igualmente erga omnes.
Por isso, que eu digo que tem muito constitucionalista que faz trabalho de
WhatsApp, que só pode ser de Twitter, que é de rede social. Porque eu vi alguns e é uma coisa
assustadora isso que eu estou falando. Ele é Professor da matéria. Não falo nomes porque não
interessa. Falaram que “O STF está fazendo o que não fez, o que não pode fazer”. Não pode?
Na ADC n.º 1 o STF fez isso. Controle incidental dentro da ADC n.º1. Na número UM!
E o que é que se discutiu incidentalmente nessa ADC? A ADC foi proposta pedindo
que uma norma fosse considerada constitucional. Essa era a n. º 1, a primeira proposta para
declarar constitucional uma norma. Foi levantada uma questão de ordem que seria
inconstitucional a lei que criou a ADC. Então, veja, o STF teve que enfrentar essa questão
primeiro. Você está dizendo para eu declarar, ótimo. Mas e a lei que criou essa ação
constitucional ou inconstitucional? Tem que analisar isso antes de julgar a questão principal. O
que fez o STF? Incidentalmente na ADC, analisou a constitucionalidade da lei que criou a ADC. E
declarou constitucional. E aí julgou o que? O pedido, declarando a norma constitucional ou
inconstitucional e foi controle incidental em ADC. E se foi controle incidental em ADC, o efeito
ali foi erga omnes e não inter partes. Porque partes não existem. Pelo menos não existem
partes contrapostas, não é? Você pode até falar em parte autora, mas não existem partes
contrapostas. Como falar em efeito inter partes?
E aí tem um colega com quem eu estava debatendo, outro dia, que diz: “ah, mas
aqui nessa ADI se limita ao caso concreto”. Que caso concreto? Eu tenho uma questão abstrata
a ser discutida incidentalmente e uma questão abstrata a ser discutida pela ADI principal. Mas
lide, conflito de interesse? Não tem. Tem? Não tem!
Então o STF diz lá, na decisão e o colega leu e diz “na interpretação do art. 52, inc.
X”. Abstrativização. Sabemos que não é! Eu acho que é melhor assim. Eu simplesmente dizer a
vocês que não houve abstrativização, está lá na decisão.
Abstrativização, por exemplo, eu tenho por via legal no recurso extraordinário. Por
via legal. Você entra com o seu recurso extraordinário. Quando você entra com o recurso
extraordinário, você tem um caso concreto, que é o que você quer. Eu tenho uma questão
constitucional que serve de base para decidir o seu caso concreto. Eu entro com o recurso
extraordinário.
Por exemplo, vamos imaginar que você tenha lá uma lei que criou um tributo. A lei
criou o tributo e você está pagando. Aí você vai na aula de Direito Tributário e o professor fala:
“ih, essa lei é inconstitucional”. Você pagou cinco anos, o que é que você vai fazer? Ação de
repetição de indébito. Vai entrar com uma ação pedindo que seja devolvido o que você pagou
indevidamente. Esse é o pedido, a questão principal nessa ação. Incidentalmente, você vai
pedir para ser declarada inconstitucional aquela lei. O juiz declara a lei constitucional e julga
seu pedido improcedente. Você ficou satisfeito? Não. Você vai recorrer, não é isso? Vai apelar e
sua apelação vai ao Órgão Fracionário, Câmara ou Turma do Tribunal. A Turma ou Câmara do
Tribunal se entenderem que é constitucional, declara a constitucionalidade e julga a questão
principal. Se entender que é inconstitucional, pode declarar a inconstitucionalidade? Não! Será
reserva de Plenário. Remete ao Pleno ou Órgão Especial. Remete todo o processo ou só a
questão constitucional? Vejam, se ele remete só a questão constitucional, a questão
constitucional aqui já está sendo objetivizada. Quando ele decide a questão constitucional
devolve para julgar agora o que? O pedido.
Veja só, o que o Tribunal decidiu aqui, ele decidiu a partir do processo subjetivo.
Mas aqui ele decidiu subjetivamente ou objetivamente? Objetivamente. Tanto é que esta
decisão aqui vai servir para você, para você e para você... Esta daqui, para você. Então vejam, a
partir de um processo subjetivo, controle incidental e difuso – aqui é difuso, aqui é subjetivo,
aqui é incidental, aqui é em concreto. A lei abstrativizou. Objetivou os efeitos da decisão. Aqui
eu tenho objetivação. É objetivação por força legal. Deu para você ver como o sistema é muito
mais complexo do que parece? Então muito cuidado com isso. A gente vai voltar a isso. A gente
vai tratar de controle de constitucionalidade, mas eu acho que já serve para você primeiro você
saber que tem que tomar cuidado com a jurisprudência. Segundo, para saber que você tem que
tomar cuidado com as aulas, eventualmente. Principalmente essas de internet em que o cara
vai, fala alguma coisa e não é. Você muitas vezes vai ter de responder errado, mas sabendo que
está respondendo errado. Deu para entender aqui a questão? A gente vai voltar a isso depois.
Resposta do professor: Não, aquilo não era ordem de aula, mas sim é o roteiro de
estudo.
1. PODER CONSTITUINTE
Decorrente
PODER
CONSTITUINTE
1.1.1. Introdução.
A) INGLESA:
B) FRANCESA:
c) AMERICANA:
Vistos as três matrizes quanto ao Poder Constituinte, agora vamos ver a natureza do
Poder Constituinte originário.
Para essa segunda corrente, o Poder Constituinte tem natureza política, é uma
manifestação das forças políticas que não necessariamente corresponda aos interesses da
sociedade. É uma teoria baseada em Karl Schmitt. Mesmo que não corresponda aos interesses
da sociedade, mas sim da vontade de uma força, de um poder político.
A QUARTA CORRENTE entende que é uma visão culturalista. É o Poder que tem por
base a cultura essencialmente ocidental. Então, não seria uma manifestação de toda e qualquer
sociedade, mas sim de determinadas culturas, especificamente as culturas ocidentais, portanto.
Bom, no Brasil qual tem prevalecido? A doutrina é bem equilibrada entre poder de
fato e poder político. No Brasil prevalece o poder de fato OU o poder político, portanto. Quanto
a Natureza jurídica há dúvidas? Vamos para titularidade. Essa parte é mais rápida, mas se tiver
dúvidas é só falar.
PRIMEIRO MOMENTO:
SEGUNDO MOMENTO:
sofredor, mas, “falaí, Nação Alvinegra” (risos)! Vocês talvez falem “ Nação Rubro-Negra”!
Então, você pode fazer parte da Nação Rubro-Negra sendo você americano, sendo você
alemão, mas vocês têm um vínculo em comum.
Veja que a nação está muito ligada a essa ideia de fazer parte da mesma cultura, da
mesma tradição ainda. Logo, ela exclui quem não faz parte daquela cultura, quem não faz parte
daquela tradição. É mais democrática do que a visão anterior, mas ainda não é o ideal.
TERCEIRO MOMENTO:
É uma visão chamada de visão moderna que prevalece a ideia de democracia. Logo,
a titularidade do Poder Constituinte é atribuída a quem? Ao povo. Ao povo, que indica conjunto
de nacionais de um determinado Estado. É, inclusive, o modelo adotado no Brasil e, hoje, na
maioria dos países democráticos do mundo. Se nós formos ao parágrafo único do art. 1.º da
Constituição nós vamos conseguir ver isso. Vamos lá. Parágrafo único do art. 1.º, por favor.
Constituição Federal
Agora, vamos ver uma visão nova, contemporânea, que já vem sendo perguntada
nas provas mais exigentes: o quarto momento.
QUANTO MOMENTO:
Então, ele defende que essa visão seja superada. E quando você fala em povo, você
ainda fala em conjunto nacionais de um país, não é isso? Mas o Poder Constituinte, veja só, ele
não é (ou não deveria ser) titularizado ao menos contemporaneamente apenas pelos nacionais
de um determinado Estado, mas sim por todos aqueles mesmo de nacionalidades distintas, que
livre e conscientemente desejam se submeter a uma mesma Constituição ou a uma mesma
ordem jurídica constitucional. Mesmo que não tenham a mesma nacionalidade, mesmo que
não tenham a mesma cultura, mesmo que não tenham a mesma história. Mas eles querem
livre e conscientemente viver sob uma mesma Constituição.
Aluno: inaudível.
Então, o Poder Constituinte não deveria ser titularizado (ao menos não
contemporaneamente) apenas pelo conjunto de nacionais de um país, mas sim por todas as
pessoas que voluntariamente e conscientemente decidem se submeter a um mesmo
ordenamento jurídico constitucional.
Resposta do professor: Vou mais longe, a Lei de Imigração fala que garante até o
apátrida! A Lei de Imigração garante até o apátrida, não só os estrangeiros residentes. O
estrangeiro não residente, por exemplo, na Brasil não tem direito à propriedade? Turista que
chega aqui não tem direito à propriedade? Se você disser que não, eu vou mudar de emprego,
e vou bater ponto no aeroporto que eu consigo ganhar muito mais. Vai chegar um avião de fora
e eu falo:
E eu falo:
Constituição Federal
I – independência nacional;
IV – não-intervenção.
VI – defesa da paz;
O art. 4.º diz respeito aos princípios aplicáveis às relações internacionais. Inciso IV
do art. 4.º, por favor. Parágrafo único do artigo 4º, desculpe. Paragrafo único.
Constituição Federal
Se a gente fala isso, o Daciolo tem até... (risos). E o pior é que eu ouvi essas coisas e
ouço até hoje! Está na Constituição. Só falta dizer que a Constituição é comunista e colocar uma
foice e um machado. Pode ler para a gente de novo, por favor? Isso é Poder Constituinte
originário, hein!
Constituição Federal
Cultural! Política, social, econômica, cultural. Então seria exatamente a ideia que
hoje é muito mais avançada, mas muito mais avançada na Europa, por exemplo. Então, veja
que essa nova visão não limita o Poder Constituinte originário ou a titularidade do Poder
Constituinte originário ao conjunto de nacionais no Estado, mas sim alcança todas as pessoas
que decidem voluntariamente e de forma livre se submeter ao mesmo ordenamento jurídico
constitucional. E isso você contemplar até mesmo o apátrida, porque nos dias de hoje é muito
fácil a gente ver sem qualquer preconceito refugiados políticos, olha só! Ele não tem voz? Ele
não participa? Sim! Ou ele é um sujeito que fica fora do sistema jurídico?
Mas veja que é engraçado, porque muitas vezes, a gente vê isso e a gente não
percebe. Quem gosta de filme de ficção talvez já tenha visto “Star Trek”(“Jornada nas
Estrelas”). Em Jornada nas Estrelas, qual é o país que tem lá? Qual é o país de Jornada nas
Estrelas? Quem é que é fã da série? Não é “guerra” não, é Jornada. É a Federação, não é? E
nessa Federação, você só tem nacionais de único Estado? Tem até de outros planetas, não é? É
essa a ideia. É exatamente essa a ideia.
prestes a sair para votar e o amigo fala assim: “você quer um chá”? inglês adora chá. E ele
falou: “Claro, quero chá”. Aí o cara traz o chá para ele e pergunta “você quer que eu deixe o
sachê no chá ou quer que eu tire o saquinho de dentro do chá”? Pergunta paradoxal. Eu fiquei
em dúvida. Por que é que eu fiquei com dúvida? Porque se eu deixo o saquinho dentro do chá,
ao longo do tempo o saquinho vai se enfraquecendo, não vai? Vai perdendo a própria forma do
saquinho, mas o chá fica mais forte como um todo, não fica? Agora, se eu tirar o saquinho de
dentro do chá, o chá vai continuar chá, não vai? Vai, embora mais fraco. E o saquinho? Foi para
o lixo. É o “brexit”. É uma piada que eu, pelo menos, achei genial. O que a gente precisou de
300 livros para explicar, ele explicou com uma piada! É o poder de síntese. Vamos ao
patriotismo?
Características do Patriotismo:
Fica fácil a gente ver no Brasil (um país grande como o Brasil), que nós temos
dentro do Brasil múltiplas culturas, não temos? Então, no Brasil fica até mais fácil ver. Na
Europa não, não é? Paisinhos menores, a cultura é muito arraigada naquelas sociedades,
porque é um país menor. Agora aqui no Brasil a gente tem um panorama completamente
diferente, dentro de um mesmo país, portanto, a gente tem que respeitar o multiculturalismo.
Então, a primeira característica é multiculturalismo.
Não significa que você que concordar, mas sim respeitar o diferente.
5) Reinterpretação da própria ideia de soberania. Não seria mais visto como algo
absoluto, mas como algo compartilhado.
a) Soberano;
b) Permanente;
c) Extraordinário;
d) Inicial;
e) Incondicional , e
f) Ilimitado.
Aqui nas aulas, você vai escrever demais, hein! E se você realmente escrever e fizer
um bom caderno, vamos dizer que você pode estudar só pelo caderno não, tá? Mas, você vai
estudar quase só pelo caderno, que já vai ser o suficiente. E o caderno vai ter muito mais coisas
que eventualmente você não vai ter nos livros. Você não vai encontrar em um só livro o que a
gente fala na aula. Então se você tiver um bom caderno vai ser fundamental para você estudar.
portuguesa. Então, além ter muita matéria, as palavras são as mais extensas. Eu até digo que
tem sempre um constitucionalista desde pequenininho. E vocês talvez tenham sido e nem se
lembram mais, porque na escola a gente falava a palavra mais extensa da língua portuguesa.
Qual era?
Aluno: Inconstitucionalissimamente.
Aluno: Desconstitucionalização.
A) Soberano:
1) Soberania externa
2) soberania interna.
A soberania externa diz respeito às relações entre Estados soberanos. Eu não quero
saber como esse poder funciona no âmbito interno do respectivo Estado, mas na sua relação
com outros Estados igualmente soberanos, portanto.
Então, veja que no aspecto externo não há supremacia jurídica entre Estados
igualmente soberanos. Os Estados Unidos, juridicamente, é superior ao Brasil? Não. Claro que
militarmente, economicamente, até mesmo culturalmente, mas juridicamente não. Então
juridicamente é uma relação de igualdade. Então, a soberania sob o aspecto externo não indica
supremacia, mas sim indica relação de igualdade, relação de independência e
autodeterminação dos povos.
B) PERMANENTE:
Significa dizer que o Poder Constituinte originário não desaparece, não se esvai
com a edição da Constituição.
C) EXTRAORDINÁRIOS:
Aluna: é!
Aluna: não é!
Aluno: inaudível.
Constituição Federal
Constituição Federal
Ótimo! Inclusive, nós fizemos essa escolha, não fizemos? E mantivemos o que já
tinha sido estabelecido na própria Constituição. Nesse caso, se diz que houve uma petrificação,
não houve? Se houve petrificação, é porque o poder reformador não pode alterar. Ninguém
pode criar cláusula pétrea a não ser o Poder Constituinte originário, portanto. Veja que aí foi
manifestação constituinte originaria após a edição da Constituição. Deu para entender?
Situação extraordinária.
Agora vai ser um pouquinho mais exigente, e a gente vai demorar um pouquinho
mais, porque requer um pouco mais de atenção. Naquelas que foram mais fáceis, a gente vai
um pouquinho mais rápido, mas agora vai exigir um pouco mais.
D) INICIAL:
D.1. Introdução:
Professor: E depois?
Professor: Ótimo!
INTERVALO.
PARTE 02 DO ÁUDIO:
Então agora, dentro da característica inicial do PCO, nós vamos analisar três pontos.
No ponto um, nós queremos saber é editada uma nova Constituição. Nós
queremos saber se ela tem primeiro efeito imediato. E segundo, se ela tem efeito retroativo.
Nós queremos saber primeiro se a Constituição uma vez editada tem eficácia imediata (efeito
imediato) como primeira questão. E ponto dois, se ela tem efeito retroativo.
A vacatio constitucional (como nós dissemos, tem que ser expressa) pode ser total
ou parcial. Como o próprio nome já indica, a vacatio total abrange toda a Constituição. Então,
toda a Constituição é submetida a um período de vacatio. A vacatio total abrange toda a
Constituição (todos os dispositivos da Constituição). Consequentemente, a vacatio parcial
alcança apenas parte da Constituição (alguns dispositivos constitucionais).
É bom porque a gente erra aqui na primeira aula. Houve sim vacatio constitucional
parcial. Leiam o art. 34 da ADCT, por favor.
Constituição Federal
Constituição Federal
Agora o que a gente vai saber é se a Constituição se aplica apenas ao futuro ou ela
se aplica a fatos passados.
Teorias:
eu vou explicar cada uma delas e depois dizer qual é a adotada. A gente vai estudar
se editada a nova Constituição, ela se aplica só a fatos futuros ou se aplica a fatos passados?
Retroage ou não retroage?
1) TEORIA DA IRRETROATIVIDADE.
Para essa teoria, a Constituição tem efeito ex nunc. Ela não se aplica a fatos
passados, logo não retroage, portanto. Vejam que isso é um pouco problemático. Vamos
imaginar que você tivesse, por exemplo, antes da edição da Constituição o reconhecimento do
direito da escravidão. Você é proprietário de uma pessoa. Aí vem a Constituição e ela acaba
com a escravidão. Se ela não retroagir, ela não vai alcançar esse fato passado. A pessoa vai
continuar sendo seu escravo, portanto. Então vejam que essa teoria ela pode gerar também
algumas situações indesejáveis, mesmo porque quando eu edito uma nova Constituição, eu
quero romper com o passado. Eu não quero manter um passado que eu não desejo mais.
Então, vejam que ela, de alguma forma, pode trazer consequências prejudiciais ao que se
pretende no presente se você garantir tudo o que conquistou no passado, portanto.
Para essa teoria (da retroatividade máxima), a Constituição teria efeito ex tunc,
(efeito retroativo), alcançando não apenas fatos futuros, mas também fatos passados.
Então veja, se uma traz problemas por não alcançar o passado, essa também traz
muitos problemas por alcançar tudo do passado. Ela não respeita a segurança jurídica,
portanto. As duas são problemáticas.
Também retroage, alcançando fatos passados vencidos, desde que não executados.
Então nós dois obtivemos aqui a mesma indenização com base na referida teoria.
Ela entrou com processo de execução. Ela foi mais diligente, foi rápida e entrou com processo
de execução e recebeu. Eu fiquei esperando, esperando e tal, e entra em vigor uma nova
Constituição e vou executar aquela sentença... Eu vou ter que executar de acordo com o que foi
estabelecido na nova Constituição. Então, eu não vou alcançar o dela porque venceu , mas já foi
executado, mas vai alcançar o meu porque, embora, vencido, ele não foi ainda executado. É até
muito parecida, mas é um pouco menos intensa.
Por isso é que seria uma retroatividade inautêntica, porque ela não está
eliminando o que passou. Ela está alcançando o que passou mas que só vai vencer no futuro.
Então, é retroatividade inautêntica.
Constituição Federal
A qualquer título! Coisa julgada, ato jurídico perfeito... não se admite. Então a
Constituição vai se aplicar a esses fatos passados de vencimento futuro. Então essa é a regra ,
que é a retroatividade mínima.
Mas tivemos sim exceção. Vamos ao art. 51 do mesmo ADCT, por favor. Em relação
a este artigo, é muito comum você encontrar na doutrina exemplo que seria de retroatividade
média ou máxima. Quando o autor diz isso é porque ele está com medo de assumir se é média
ou máxima. A gente vai tentar definir se é média ou máxima. Vamos prestar atenção nesse
artigo 51.
Mas eu vou te dizer algo importante, o ADCT é fundamental! E vou além, você tem
que ter o material, talvez essa não tenha (essas Constituições mais “vagabundinhas” não tem),
mas tem que ter a redação originária da Constituição e as Emendas Constitucionais inseridas no
texto constitucional. Então dá uma olhada se na sua legislação você tem a redação originária e
se você tem as emendas não inseridas no texto. Por quê? Porque muitas vezes você só vai
saber se determinada lei é constitucional ou inconstitucional se você for à Emenda
Constitucional. Não vai bastar a Constituição.
Vou dar um exemplo aqui rápido em relação a isso. Vamos imaginar o seguinte:
vamos imaginar... vamos ao art. 21, inc. XI da Constituição, só para mostrar a importância do
material de estudo para vocês.
Constituição Federal
Então, o serviço de telecomunicação vai ser regulado por lei, não é isso? Então vem
o Presidente da República e edita uma Medida Provisória regulando o art. 21, inc. XI da
Constituição. Podia ou não podia? Vamos ver o art. 62 da Constituição. Então veja, eu
(Presidente da República) editei uma Medida Provisória regulando os serviços de
telecomunicações. Vamos imaginar que tem relevância e urgência para saber se essa matéria
poderia ser regulada ou não? Vamos imaginar que tem relevância e urgência. Vamos ao § 1.º
do art. 62.
Constituição Federal
I – relativa a:
Essa minha Medida Provisória é sobre isso? Não. Então, até agora é
inconstitucional? Não! Dois:
Constituição Federal
§ 1.° (...)
Poder judiciário...
Constituição Federal
§ 1.° (...)
É sobre isso?
Constituição Federal
§ 1.° (...)
É sobre isso? Tem alguma inconstitucionalidade até aqui? Nenhuma! Tinha projeto
de lei no meu exemplo? Não! Então pelo que eu vi aqui (pelo que nós vimos), essa minha
Medida Provisória hipotética (entendendo que há relevância e urgência), é constitucional ou
inconstitucional? Constitucional!
Vamos lá: Emenda Constitucional n.º 8, art. 2.º. Se você não tiver a Emenda,
dançou. Se não tiver a Emenda dançou literalmente.
Constituição Federal
XII – (...)
E olha que interessante: se eu for propor uma ADI, eu vou propor uma ADI
impugnando a Medida Provisória. Vai ser o objeto. Qual o parâmetro? Alguma norma da
Constituição? Não! É o art. 2.º da Emenda Constitucional n.º 8.
Nós não estamos muito acostumados com isso. A gente acha que tudo que é
constitucional está dentro da Constituição. A gente acha que a emenda muda a Constituição. Já
o Direito americano é muito acostumado com isso. No Direito americano, veja só, as emendas
vão sendo acrescidas na Constituição, portanto lá você não vai mudar o artigo da constituição,
você vai acrescer. A gente também tem isso no Brasil. Normalmente, no Brasil, as emendas
alteram dispositivos da Constituição, mas não necessariamente. Nós temos emendas não
alteram nada na Constituição.
Vamos usar mais uma, se você puder pegar para a gente? Emenda 91, que trata
sobre mudança de partido. Essa emenda, eu chamo de emenda que não é emenda, porque não
mudou uma vírgula na Constituição. É uma que tem só dois artigos.
Constituição Federal
Ótimo! O que é que ela alterou da Constituição? Nada! Se a sua legislação que
vocês aí têm, tem as emendas, ótimo. Se não, vocês têm de mudar para uma que tenha as
emendas. E ler a lei e a redação originaria também é fundamental, porque nós temos situações
de transição. Então, é importante que você tenha também a redação originária da Constituição.
Vejam o material de vocês, porque é importante ter as emendas. Deu para ver no exemplo,
aqui?
Então vamos voltar agora... Onde a gente tinha parado? No art. 51 do ADCT.
Constituição Federal
dos Municípios.
Você comprou! Comprou uma terra pública nessas condições em 1963! E vai ser
revisto em 1988! Você comprou! Você pode até já ter vendido, ter passado a outro. Então aqui
eu tenho retroatividade o que? Máxima, olha só! Retroatividade máxima. Então é possível sim,
desde que haja previsão expressa na Constituição. Então a regra é a mínima, podendo haver
retroatividade média ou máxima, desde que haja previsão expressa.
O que nós queremos saber agora é se editada uma nova Constituição, o que é que
acontece com a Constituição anterior? Vou fazer com vocês a mesma coisa: eu vou dar as
teorias, a gente vai explicar cada uma delas e qual é a adotada no Brasil. Temos regras e temos
exceções.
1) TEORIA DA DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
Segundo essa teoria, a edição de uma nova Constituição revoga apenas as normas
da Constituição anterior que forem contrárias. Já as normas compatíveis permanecem no novo
sistema jurídico sofrendo um rebaixamento em seu status hierárquico. Elas deixam de ser
normas com status constitucional passando a integrar o ordenamento no nível
infraconstitucional.
Para lembrar, porque a gente está vivendo esse momento de militarismo, né? Era
general, passou a capitão. Deixou de ser General. Continua no Exército. Não foi expulso do
Exército, mas foi rebaixado. Era general e passou a capitão.
Conforme esta teoria, ao se editar uma nova Constituição revoga-se (ou revogam-
se) apenas as normas da Constituição anterior contrárias à nova Constituição.
3) TEORIA DA REVOGAÇÃO:
Qual a teoria adotada no Brasil? Temos regra, temos exceção ou não? A teoria
adotada no Brasil é a teoria da revogação. Nós tivemos alguma exceção,
desconstitucionalização, recepção, recepção material?
Aluno: recepção?
Aluno: CTN.
Aluno: inaudível.
Vamos dar uma olhada agora no art. 34 do ADCT. Quando a gente analisou a vacatio
era primeira parte, não era? Aqui é a parte final ou segunda parte:
Constituição Federal
“Mantido, até então, o da Constituição de 1967”. Mantido até então – até esse
período de cinco meses – o da Constituição de 1967. Então houve recepção material no Brasil?
Sim, no art. 34 do ADCT, parte final. Houve desconstitucionalização? Não, mas recepção
material sim. Então, vimos o que é efeito da nova Constituição em relação à Constituição
anterior.
Essa teoria foi defendida no STF pelo ex-ministro já falecido Paulo Brossard.
Para quem lembra – quem não lembra é o pessoal mais novo -, mas talvez tenha
visto, era o ministro do chapéu Panamá, era gaúcho e só andava de chapéu Panamá.
Se você lembra, não fala não, porque você entrega a idade. Para essa teoria, só
podemos falar em constitucionalidade ou inconstitucionalidade se houver contemporaneidade
entre os atos. Grife essa palavra que vai ser fundamental lá no controle de constitucionalidade.
As coisas não são estanques, elas estão interligadas. Então o que a gente está
falando hoje na primeira aula, você vai ver lá em controle.
Veja que você talvez tenha ouvido falar não só em Constitucional, mas também em
Direito Administrativo você talvez tenha ouvido falar em algo similar. Se a Administração
Pública edita um ato administrativo, ela poder revogar esse ato administrativo, não pode? Ela
vai ter de fazer o que? Editar um novo ato administrativo. Então veja que a revogação que você
vai ter aqui ela vai se dar em caso de mesmo status. Mas, por exemplo, um ato administrativo
encontra fundamento de validade em uma lei. Se essa lei é alterada torna o ato administrativo
anterior incompatível, o que é que acontece com ele? É revogado? A lei vai revogar o ato
administrativo? O que é que vai acontecer com ele? Caducidade! Olha só! Então veja que é
exatamente o raciocínio que você vai fazer aqui.
Ele junta as duas. Ele diz que, tecnicamente, não seria uma situação de revogação
propriamente, pois são normas de hierarquia distinta. Mas não se trata também da noção
clássica de inconstitucionalidade, pois não há contemporaneidade entre os atos. Então, não
seria propriamente revogação, pois os atos são de hierarquias diversas.
Porque quando eu falo que lei revoga lei; ato administrativo revoga ato
administrativo porque são atos de hierarquias diversas.
Então, tecnicamente não é uma situação própria de revogação, mas também não é
a situação clássica de inconstitucionalidade que exige contemporaneidade entre os atos. Então,
o que nós teríamos seria um misto, seria a revogação por inconstitucionalidade.
Você acha que essa distinção é mera frescura doutrinária ou tem algum efeito
prático? Processual, por exemplo. Será que é mera frescura doutrinária? Como a gente fala,
“ah, isso é coisa de doutrinador, frescura doutrinária, vai dar exatamente na mesma”. Não vai
dar na mesma não. Veja o art. 97 da Constituição.
Vamos imaginar que você tenha essa lei de 80 que estabeleça um tributo. Você vem
pagando esse tributo desde 1980. Entra em vigor a nova Constituição e você continua pagando.
Afinal de contas, presume-se que foi recepcionado, não é isso? Você continua pagando,
portanto. Aí eventualmente você entra lá com uma ação na Justiça e você acha que essa lei
anterior não é mais compatível com o novo sistema constitucional. Você vai pedir para que seja
devolvido o que você recebeu indevidamente a partir da entrada em vigor da nova
Constituição. Você vai lá em primeira instância propõe a sua ação e o juiz nega o seu pedido.
Julga improcedente. Você ficou satisfeito? Não! Você vai apelar. Sua apelação vai ao Órgão
Pleno, ao Órgão Especial ou ao Órgão Fracionário? Vai ao Órgão Fracionário. Pergunto: o Órgão
Fracionário poderá se manifestar dizendo que essa lei não foi recepcionada ou foi declarada
inconstitucional? Dá na mesma, não dá, tem diferença ou não? Vamos lá no art. 97?
Constituição Federal
Constituição Federal
Então tem lá uma ADI, por exemplo, eu tenho uma lei de 95 que revogou a lei de
80. Até aqui nada de mais. Propõe uma ADI atacando essa lei de 95 por violar o art. X da
Constituição de 88. Posso, não posso? Aqui eu estou pedindo para declarar constitucional ou
inconstitucional. Aí ela declara inconstitucional nula de pleno direito. Como se nunca tivesse
existido. Eliminando todos os efeitos produzidos pela lei, inclusive, o efeito revogador.
Consequentemente, essa lei vai voltar, o chamado efeito repristinatório. Só que essa lei pode
ser igualmente incompatível, não pode? Então, o STF na ADI vai analisar agora a lei de 80. Se
disser que é incompatível, vai declarar não recepcionada ou revogada. Em que ação? Na ADI.
Então veja que é possível em ADI também se analisar norma anterior ao próprio
parâmetro.
Só que não é suficiente ainda. Nós sabemos agora qual a teoria adotada no Brasil:
Nós temos de analisar qual espécie de vício impede a recepção ou gera a revogação
do ato. Eu tinha falado um pouquinho antes em vício material ou vício formal. Então a gente
tem de analisa qual vício que impede ou não a recepção do ato.
Então o ato anterior pode ser incompatível (não falamos mais em inconstitucional)
com a nova Constituição materialmente ou formalmente. A gente vai ver agora esses dois vícios
que impedem a recepção ou se não impedem a recepção.
TIPOS DE VÍCIOS:
1) VÍCIO MATERIAL
Então, por exemplo, vamos imaginar que essa lei de 80 regule a sua categoria de
servidor público. Diz lá que vocês, dessa categoria de servidores, recebem dois salários
mínimos. Essa é a sua remuneração. Vamos agora ver se essa lei anterior é compatível ou não
com a nova Constituição. Artigo 7.º da Constituição, inc. IV. Esse é um dos artigos, dos
dispositivos mais bonitos da Constituição.
Constituição Federal
O salário mínimo tem que atender “às suas necessidades e às de sua família”! Vai
ter que garantir você e a família. Com moradia sua e da família; alimentação sua e da família;
educação sua e da família; saúde – pagar lá o Golden Cross, o Amil; lazer – suas férias em
Orlando, sua e da família; vestuário – sua bolsa Gucci, sua e da família; higiene, transporte e
previdência social. Agora o que importa na parte final: “sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim”. Vamos complementar isso aí: Súmula Vinculante n.º 6.
Então veja, não pode se vincular o salário mínimo a nenhuma remuneração, não é
isso? Inclusive, complementado por Súmula Vinculante. Então veja só, essa norma é compatível
materialmente ou incompatível com a nova Constituição? Incompatível, não é isso? vamos
admitir que essa norma tenha continuado a ser aplicada até 1990. Em 90 é proposta uma ADPF
pedindo para que essa norma seja declarada não recepcionada ou revogada – lembrando que
você recebeu até aqui, hein! Você está recebendo. O STF declara essa norma em 1990 revogada
ou não recepcionada. Se você diz que ela não é recepcionada a partir da entrada em vigor da
Constituição, o que você recebeu nesse período o que é que vai acontecer? Vai ter que
devolver. Você acha justo? Não. Então o que vai fazer o Tribunal? modular! Vai modular e vai
dizer:” vou manter essa lei materialmente compatível até 90! Daqui para frente não.”
Mas eu vou além, veja só! Se ele mantém até 90 e daqui para frente não, você
continua trabalhando, não continua? Daqui para frente você vai receber com base em que? O
administrador vai pagar o que quiser para você? Não! Ele tem de buscar uma lei, não tem? A lei
foi tida como revogada ou não recepcionada. Ele vai ter que buscar alguma outra norma. Ele vai
buscar o art. 7.º, inc. IV. Logo, ele vai te pagar o salário mínimo. Mas você ganhava dois salários.
Parece justo? Não! Vamos olhar o art. 7.º inc. VI. Também é uma garantia constitucional
Constituição Federal
Então é um direito a irredutibilidade dos vencimentos, não é? Vocês vejam que essa
situação aqui ela vai acarretar uma situação de redução dos vencimentos. Então o que é que
pode fazer o Tribunal? Modular e manter, vejam só, essa lei até que seja editada nova lei. Então
veja que ele pode fixar um termo ou uma condição. Então muita atenção porque isso vai voltar
lá em controle. Normalmente, a gente fala que a modulação fixa um termo, não é isso? Mas ela
pode fixar uma condição. Não é só termo, mas uma condição. Qual a condição aqui? A edição
de nova lei. Ou poderia até mesmo o Tribunal fazer o que? Aqui em 1990 ele vê o valor do
salário mínimo. O salário mínimo em 1990 estava 100 reais. Dois, ele converte em 200 reais. É
chamada decisão aditiva, nesse caso. Aí ele está mudando o que era dois salários para 200
reais. Daqui para frente – veja só – aumentando o salário mínimo ele desvincula do salário,
passou a ter um valor real, e não um valor nominal.
Então o vício material impede a recepção? Sim, salvo se houver modulação pelo
Tribunal a exemplo do que ocorre com a declaração de inconstitucionalidade.
2) VÍCIO FORMAL
Não estão ficando muito assustados com minha aula não (risos)?
O vício formal não diz respeito ao conteúdo do ato, mas sim à forma do ato ou
procedimento para sua edição.
Nós vimos que o vício material impede a recepção. O vício formal impede a
recepção ou não? A gente deu até exemplo, aqui, de vício formal, ele impede a recepção ou
não? Tem regra, qual a exceção? Tem exceção? Você já está ali com o pé atrás: “o professor
está querendo me derrubar, já foi procurar a exceção para garantir”.
E aí, tem exceção ou não tem? Sim. Então muito cuidado, porque a tendência é a
gente dizer que o vício formal não impede a recepção. A gente vai lembrar lá do Código
Tributário, Código Penal. O Código Penal foi editado como Decreto, mas recepcionado como lei.
A gente fala Lei de Contravenção Penal, não fala? Mas é um Decreto. Ele foi recepcionado com
a forma exigida pela nova Constituição.
Então, o vício formal normalmente, ou seja, em regra não impede a recepção. Mas,
como eu disse, a gente tem que aprofundar.
OBSERVAÇÃO:
Então, por exemplo, na vigência da Constituição de 1967, diz lá: a matéria “x” deve
ser regulada por lei de iniciativa do Presidente da República. Então, vem o Presidente da
República lá na ordem Constitucional anterior, e apresenta um projeto de lei. Até aqui não tem
vício nenhum. Ele é legitimado, não é? O projeto de lei é transformado em lei, portanto uma lei
de 80. Editada a nova Constituição ela diz que agora é uma matéria que era de iniciativa do
Presidente da República agora é de iniciativa dos deputados. Então, veja que agora quem pode
deflagrar o processo legislativo é o Presidente? Não, os deputados. Antes era o Presidente,
agora os deputados. Essa lei anterior pode ser recepcionada ou não? Pode! Por quê? Porque o
vício é de iniciativa e a iniciativa é analisada no momento de que? No momento em que o
projeto é apresentado. Logo, a mudança do legitimado só se aplica daqui para frente. Portanto,
não impede a recepção. Então, esse primeiro vício não impede a recepção.
O vício formal subjetivo não impede a recepção. Mudanças nessa lei é que agora
vão depender do novo legitimado. Mas não impede que essa lei seja recepcionada.
Eu costumo dizer que essa situação – se você lembrar do que eu estou falando aqui
também não diga não, senão você vai entregar a sua idade – eu estou lembrando aqui do
desenho dos Jacksons. Alguém já ouviu falar, aí? O que é que é esse desenho dos Jacksons? Era
uma família futurista em que era tudo automatizado. Tinha até coleira que passeava sozinha
com o cachorro. E o George Jackson (o pai da família) era um cara meio preguiçoso, bonachão
etc e tal, ele tinha uma dificuldade tremenda de acordar de manhã para ir trabalhar. Então, o
Jackson dormia no trabalho e tal. E eles tinham algo que eu adorava que era um alarme. O
alarme tocava, o Jackson desligava o alarme. Então o alarme vinha e jogava um copo d’água no
Jackson. Aí, Jackson virava e continuava dormindo. Aí o alarme vinha do teto (um gancho) e
agarrava o Jackson dormindo. Levantava ele dormindo, e colocava em uma esteira. Ele em pé,
dormindo na esteira e a esteira passava por um túnel e ele saía do túnel arrumado para ir para
o trabalho. Ou seja, entrou de pijama e saía de terno e gravata para o trabalho. Mas continua
sendo, na essência, George Jackson. Então eu só mudei aqui o que? A roupa. Entrou com o
pijama e saiu de terno. Mas a essência continua sendo a mesma. Então, essa situação que a
gente tem aqui é o armário do George Jackson: você entra com uma roupa e sai com outra, mas
não muda a essência. A essência continua sendo a mesma.
Pode ocorrer ainda vício procedimental quando for alterado o procedimento para
edição do mesmo ato. Agora eu não mudo o ato, eu mudo só o procedimento, mas trata-se do
mesmo ato.
Então, por exemplo, a Constituição anterior diz que cabe a Resolução regular
determinada matéria. E fala lá que a resolução deverá ser aprovada por maioria absoluta.
Editada uma Resolução e aprovada por maioria absoluta, antes da Constituição. Aí diz a
Constituição que essa matéria continua sendo regulada por Resolução. Mas agora ela exige
quórum de dois terços. Eu não mudei o ato, mas mudei o procedimento em relação ao mesmo
ato. Esse vício formal em que eu mudei apenas o procedimento impede a recepção ou não?
Não. E não por quê? Porque o procedimento é para edição do ato. Então, é analisado no
momento em que foi editado. Por óbvio, o novo procedimento se aplica daqui para frente.
Então, esse vício também não impede a recepção.
Em algumas situações, a Constituição exige antes que se edite o respectivo ato que
se cumpram determinados pressupostos. O não cumprimento desses pressupostos gera
invalidade do ato.
Veja que eu não falei anterior ainda não. Eu estou só explicando o vício.
Por exemplo, Medida Provisória editada sem que haja relevância e urgência.
Relevância e urgência não são pressupostos para se editar MP? São pressupostos para se editar
MP.
Constituição Federal
Ótimo, lei estadual. No meu exemplo, antes era lei estadual e agora continua lei
estadual. Sem problema algum. Continue.
Constituição Federal
Então olha só, para eu criar município hoje, o ato exigido é lei estadual, mas antes
da lei estadual ser editada eu tenho que preencher determinados pressupostos. Eu tenho que
fazer estudo de viabilidade, tenho que fazer plebiscito. Se eu não faço isso hoje e apenas edito
a lei, a lei será inconstitucional por violar os pressupostos exigidos para sua edição. Esse vício
impede a recepção de ato anterior? Se não, por quê?
O mesmo raciocínio dos outros: são pressupostos para edição do ato. São
pressupostos que serão examinados no momento em que o ato for editado. Então esse vício
não impede a recepção. Esse também não impede a recepção.
O pessoal deve estar falando: “professor, falei! Não impede a recepção. Vício formal
não impede a recepção”. Eu não acabei ainda.
Então, por exemplo, se o estado cria uma lei de trânsito, ela é constitucional ou
inconstitucional? Inconstitucional, porque trânsito é competência da União. Esse é o vício de
competência.
Pode ser da União para os estados, da União para os municípios, dos Estados para
os municípios. De cima para baixo.
Matéria que até então era de competência técnica da União, passa à competência
dos Estados. Veja que nós estamos, no momento, querendo desfederalizar algumas matérias e
até federalizar outras. Está em discussão federalizar alguns impostos, desfederalizar outros
impostos. Isso acontece!
De baixo para cima. Pode ser do município para o Estado, do município para a
União. De baixo para cima.
Então veja que no primeiro caso, nós tínhamos lá uma única lei. No segundo caso,
nos temos 26 ou 27 incluindo o DF. Uma lei do Rio, uma lei de São Paulo, uma lei de Minas
Gerais. Nos dois casos que eu vou mostrar aqui, o vício é de conteúdo ou o vício é de forma? De
forma. Eu não estou dizendo que o conteúdo é incompatível. Estou dizendo que quem editou
tinha competência e agora não mais tem competência para tanto. Esse vício formal orgânico
impede a recepção ou não?
No primeiro caso, eu tenho uma única lei, não tenho? De caráter nacional. Agora
cada Estado tem de ter a sua própria legislação. Esse vício não impede a recepção por força da
continuidade do ordenamento jurídico. Então recepciona essa lei anterior que continua a ser
aplicada a todos os Estados até que cada Estado edite sua própria lei. Então, vai recepcionar e,
se o Rio de Janeiro edita sua própria lei, ela não se aplica mais ao Rio de Janeiro, mas continua
aplicável aos demais. Então esse primeiro não impede.
Constituição Federal
Constituição Federal
O que é que mudou agora? Olha como era a redação original: organização
administrativa e judiciária do Ministério Público, da Defensoria Pública da União e dos
territórios. Isso cabia a quem? Ao Congresso Nacional. Então a organização judiciária não cabe
ao legislador local, cabe ao Congresso Nacional. Organização judiciária do Ministério Público e
da Defensoria Pública do DF. Então quem regulava a Defensoria Pública do DF? A União. E
agora, tem isso lá? Não mais. Agora quem regula a Defensoria Pública do DF é o DF. Então a
matéria foi desfederalizada pela Emenda Constitucional 69. Houve desfederalização. A EC 69 é
exemplo de desfederalização. Em Tributário, inclusive, você tem federalização,
desfederalização. Agora fique esperto tanto para a federalização quanto para a
desfederalização.
Então, vimos inicial. Agora, antes de fechar, vamos ver a característica do PCO
incondicionado. Então, já vimos soberano, vimos permanente, vimos extraordinário, e agora
incondicionado.
E) INCONDICIONADO
Vejam que nós temos Constituições dogmáticas, que são Constituições editadas em
um momento específico através da Assembleia Constituinte. Temos Constituições históricas,
não temos? Temos Constituições que dependem ou de plebiscito ou de referendo, não temos?
Então nós temos procedimentos distintos para a edição de uma Constituição. Então, não há um
O resto a gente deixa para a próxima aula, que a gente vai exigir um pouquinho
mais.
Pessoal, um abraço! Espero não ter assustado, mas ter motivado! Um abraço para
vocês, até a próxima.