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DIREITO

CONSTITUCIONAL
Fernando Lima -
@prof.fernando.lima
Sumário de
Aula
CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE –
ASPECTOS GERAIS
(DOUTRINA e JURISPRUDÊNCIA)
Plano de Aulas – Controle de
Constitucionalidade

. 3 subdivisões sobre Controle de


Constitucionalidade: 1º) Aspectos Gerais; 2º)
Controle Difuso de Constitucionalidade; 3º)
Controle Concentrado de
Constitucionalidade.

. As aulas seguirão uma sequência lógica.


Iremos numerar cada tópico lecionado, para
facilitar as anotações pelas alunas e pelos
alunos.

. Nos “Aspectos Gerais” sobre o controle de


constitucionalidade, os tópicos de aula irão
do número 1 ao 6. Assim:
Controle de Constitucionalidade – Aspectos
Gerais

1. Linhas gerais
1.1. Conceito
1.2. Pressupostos necessários para o controle de
constitucionalidade
1.3. Antecedentes históricos do controle de
constitucionalidade no mundo
1.3.1. Ação pública (ou grafe paranomon)
1.3.2. Caso Marbury vs. Madison (1803)
1.4. Evolução histórica do controle de
constitucionalidade no Brasil
1.4.1. Constituição de 1824
1.4.2. Constituição de 1891
1.4.3. Constituição de 1934
1.4.4. Constituição de 1937
1.4.5. Constituição de 1946
1.4.6. Constituição de 1967 e a EC n. 1/69
2. Inconstitucionalidade – nulidade do ato
normativo

3. Constitucionalidade superveniente
3.1. Inconstitucionalidade superveniente

4. Novidades no controle de constitucionalidade

5. Espécies de inconstitucionalidade
5.1. Vícios de inconstitucionalidade por ação

6. Controle de constitucionalidade –
classificações
6.1. Quanto ao momento de exercício (controle
prévio ou preventivo e controle posterior ou
repressivo)
6.1.1. Controle Prévio ou Preventivo
6.1.2. Controle Posterior ou Repressivo
6.2. Controle de constitucionalidade quanto ao
órgão exercente (controle político, jurisdicional
e híbrido)
7. Tópicos especiais relacionados ao Controle de
Constitucionalidade

7.1. Controle jurisdicional de constitucionalidade


sobre os fatos legislativos e as prognoses
legislativas

7.2. Estado de coisas inconstitucional

7.3. Inconstitucionalidade circunstancial

7.4. Derrotabilidade das normas jurídicas

7.5. Inconstitucionalidade progressiva ou lei


“ainda constitucional” ou declaração de
constitucionalidade de norma em trânsito para a
inconstitucionalidade

7.6. Inconstitucionalidade chapada


. Percebam que a Subdivisão 1
(Controle de Constitucionalidade –
Aspectos Gerais) apresenta 6 tópicos.
A numeração dos tópicos das
Subdivisões 2 (Controle Difuso de
Constitucionalidade) e 3 (Controle
Concentrado de Constitucionalidade)
seguirá na sequência da numeração
dos tópicos da Subdivisão 1. Assim, o
primeiro tópico da Subdivisão 2 será
o tópico de nº 7.
Método de estudo, para memorizar a
disciplina de Direito Constitucional (“A
Matéria na Palma da Mão”) – Passo a
passo:

** Como tornar prazeroso o estudo? Aquilo


que estudamos tem que fazer sentido em
nossas vidas e na vida de outras pessoas.

. Quando estudamos Direito Constitucional,


devemos saber que da Constituição não
extraímos apenas normas frias.

. A Constituição é um oceano de valores,


valores que sempre descansam no leito das
normas jurídicas.
. Valores, já dizia o mestre Miguel Reale,
implicam sempre uma tomada de posição
perante a vida. Valor é, por isso, um
elemento vetorial, já que aponta sempre
para um sentido, uma direção, um fim.

. Quando estudamos o Direito


Constitucional, devemos perceber qual esse
fim, qual essa direção, qual esse sentido.

. Esse sentido, essa direção, esse fim muitas


vezes confunde-se com o fim que desejamos
para as nossas vidas e para a vida das
demais pessoas.
. Precisamos sair dos trilhos que uma leitura
fria da letra da lei e da letra da Constituição
nos impõe.

Em Direito Constitucional, “Quem anda nos


trilhos é trem de ferro. Sou água que corre
entre as pedras” (Manoel de Barros).

. Essa é a grande magia do Direito


Constitucional. Sair dos trilhos que uma
leitura fria da Constituição provoca, para
sentir a água que desce entre as pedras da
norma constitucional.
. Assim o fez o STF quando, ao
reconhecer a união homoafetiva, invocou
o direito fundamental implícito à busca
da felicidade!

. Assim o fez o STF, ao ler na CF o


direito à licença à gestante, estendeu
esse direito à licença adotante.

. Assim faremos nós no estudo prazeroso


do Direito Constitucional, rumo à deseja
aprovação!
*** Quando compreendemos o sentido da vida,
despertamos a nossa força interior, as nossas
p o t e n c i a l i d a d e s : “ A nossa força interior nos dá o poder
para um mergulho profundo na alma, aflorando nossas
potencialidades. Esse mergulho é que nos inspira para a
beleza da criatividade – a criatividade que se manifesta no
cuidar de uma criança, no estudar, no trabalhar, no escrever
um livro, no ler um texto e nele se deliciar, no amar a
humanidade, no preocupar-se com o País, no brincar, no
aguar um casamento até que ele se torne adulto e frutifique”
– Prof. Fernando Lima – Livro “Direitos Humanos e
Sentimento em pequenas frases”.
1º) Reservar um caderno de anotações de
aulas (ou fichário) apenas para o Direito
Constitucional. Um caderno com muitas
folhas. Para quem preferir, abrir uma
pasta no word, nomeando-a de “Direito
Constitucional”. Dentro da pasta, criar
arquivos. Cada arquivo corresponderá às
matérias do Direito Constitucional. Ex.:
1º Arquivo: Controle de
Constitucionalidade; 2º Arquivo: Direitos
e Garantias Constitucionais; 3º Arquivo:
Processo Legislativo.
* As anotações no caderno, no fichário (ou no
computador) representarão aquilo que a
professora ou o professor disser em aula.

2º) Logo depois de assistir à aula e fazer as


anotações, é preciso ler e reler aquilo que foi
anotado. Logo em seguida, o (a) aluno (a) vai ler
o material que o professor ou a professora
deixou à disposição. O mais importante, porém, é
ler a anotação de aula. O material de aula é só
um complemento.

3º) Feita essa leitura das anotações (e de


eventuais materiais que haja), o aluno já parte,
direto, para a leitura da doutrina. Há várias
obras no mercado que são muito boas.
Recomendo duas (basta ler uma só, não perder
tempo lendo duas doutrinas): 1ª) LENZA, Pedro.
Direito Constitucional. Editora Saraiva; 2ª)
MARTINS, Flávio. Direito Constitucional. Saraiva.
** Antes de começar a ler a doutrina, ler as
anotações de aula. Isso facilita demais antes de
ler a doutrina. Fazendo assim, a leitura da
doutrina fica bem fácil.

4ª) Grifar as partes mais importantes do livro. Às


vezes, o professor (a) apresenta uma informação
que não se encontra na doutrina. O aluno (a),
então, anotará na doutrina apenas essa
informação relevante que o professor passou na
aula ou no material de apoio.

5ª) Fazer revisões constantes daquilo que o


aluno grifou no livro. Essas revisões devem
compreender, também, as anotações que o aluno
fez no livro. Não é preciso voltar ao caderno nem
ao material de apoio. Lá na doutrina estarão
todas as informações de que o aluno precisa para
ser aprovado – tanto as anotações de aula quanto
as anotações do material de apoio.
** Importante: o aluno não precisa levar para a
doutrina todas as anotações da aula e todas as
informações do material de apoio. Basta, apenas,
anotar as novas informações que não constam no
próprio livro adotado.

6º) Ler constantemente os Informativos do STF e


do STJ e as inovações legislativas. Reservar uma
parte do caderno para anotar essas novidades.
Você poderá criar um grande tópico assim:
“Novidades de Direito Constitucional”. Aí, cada
novidade apresentada merecerá um tópico.
Exemplo:
1º) Direito ao esquecimento é incompatível com
a CF/88 – STF, Plenário, RE 1.010.606, Relatora
Ministra Carmen Lúcia, j. em 11.2.2021.
* O aluno deverá ler os pontos principais do
julgamento (pelo menos a ementa) ou da
alteração legislativa. Essas informações serão
resumidas no tópico específico relacionado à
novidade.
7º) Assim que o (a) aluno (a) resumir o
assunto novo, esse assunto deverá ser
anotado no tema correspondente da
doutrina. Ex.: o STF, em fevereiro de
2021, entendeu que o direito ao
esquecimento é incompatível com a
CF/88. A Corte decidiu que o direito ao
esquecimento não é um direito
fundamental. O aluno, então, na parte do
livro que trata dos direitos
fundamentais, anotará essa novidade
(ex.: “STF entendeu, em fevereiro de
2021, que o direito ao esquecimento é
incompatível com a CF/88”). Nessa
anotação no livro o aluno reporta ao
tópico específico das novidades anotadas
no caderno.
* Quando o aluno for revisar, no livro
de Direito Constitucional, o tema
“Direitos e Garantias Fundamentais”,
ele, aluno, lembrará que o tema
“Direito ao Esquecimento” foi,
recentemente, julgado pelo STF. O
aluno, então, passará os olhos no
resuminho desse julgado – lá na parte
do caderno (ou do computador) que o
aluno reservou para anotar e resumir
as novidades legislativas e da
jurisprudência.
8º) É preciso resolver questões. No site
“Qconcursos”, é possível cadastrar-se e resolver,
gratuitamente, até 10 questões por dia.
* Criar arquivos no word só sobre questões de
concurso que o aluno resolveu. Cada arquivo
pode ser reservado para uma matéria (ex.: um
arquivo para controle de constitucionalidade).
Logo que resolver a questão sobre controle de
constitucionalidade, essa questão deverá ser
inserida no arquivo.
* Convém que essas questões sejam resolvidas
quando o aluno estiver estudando a matéria
específica (ex.: controle de constitucionalidade).

9º) Depois de todo esse processo, toda a matéria


estudada fica facilmente à disposição do aluno.
Basta, então, o aluno revisar constantemente o
livro adotado, lendo aquilo que foi grifado e
aquilo que o aluno anotou no livro.
10) Assim que o aluno for revisar a matéria
específica (ex.: controle de constitucionalidade),
ele revisa, também, as questões resolvidas sobre
a matéria. As questões de concurso costumam
repetir muito. Tanto quanto resolvê-las, revisá-
las constantemente é importante para conseguir
a aprovação.

11) Em suma, o aluno vai revisar: a) o livro


adotado: b) as questões já resolvidas. Fazendo
assim, o candidato dominará a matéria e,
também, as grandes novidades da disciplina.

12) Não se esquecer de ler, também, a “lei seca”,


quando for estudando as matérias. Com a
resolução de questões, o aluno vai percebendo
qual matéria exige mais lei seca, qual matéria
mais doutrina, qual matéria mais jurisprudência.
Ler também as súmulas do STF e do STJ.
13) Eu denomino esse método de “A matéria na
palma da mão”. Isso porque, depois de adotar,
passo a passo, aquilo que expliquei aqui, a
matéria inteira (incluindo as novidades sobre o
tema) fica à disposição fácil do candidato.
Quanto mais revisão ele fizer, mais ele fixará o
assunto – e mais rápidas vão se tornando as
revisões.

* Repetir as revisões, portanto, é


importantíssimo para memorizar a matéria e
arrebentar na prova!!!

* A maior dificuldade que eu vejo em passar no


concurso: Organização, método de estudo.
Organizando os estudos, a aprovação fica bem
mais fácil!
Há feridas na nossa alma e há pessoas

que não acreditam no nosso valor. São,


respectivamente, os sabotadores
internos e externos. Para criarmos algo
valioso, aos primeiros cumpre-nos
dedicar um longo programa de
autoconhecimento; aos segundos, é mais
fácil, basta nos afastar” – Prof. Fernando
Lima, Livro “ Direitos Humanos e
Sentimentos em pequenas frases”.
CONTROLE DE
C O N S T I T UC I O N A L I D A D E –
Aspectos Gerais
1.Linhas gerais

1.1. Conceito

. É a análise da compatibilidade das leis


e atos normativos com a Constituição.
1.2. Pressupostos necessários para o
controle de constitucionalidade

. Sem esses pressupostos, não se pode


falar em controle de constitucionalidade.
São eles:

1º) Existência de uma Constituição


rígida: Constituição rígida é aquela cuja
alteração depende de um procedimento
mais rigoroso do que o procedimento
para a alteração das normas que não
estão na Constituição.
2º) Atribuição a um órgão específico
para verificar a compatibilidade das leis
e demais atos normativos com a
Constituição.

. No Brasil, desde a primeira


Constituição republicana (1891), adotou-
se o modelo segundo o qual cabe ao
Poder Judiciário apreciar a
constitucionalidade das leis, por meio do
controle difuso (via incidental).
3º) Princípio da supremacia da
Constituição: a Constituição está no
ponto mais alto do ordenamento jurídico
interno. Por isso, ela, Constituição,
funciona como fundamento de validade
para os demais atos normativos.

. Isso significa o seguinte: ato normativo


que desobedeça à Constituição é
inválido, é nulo. Esse ato normativo se
afasta do seu pressuposto de validade,
isto é, da própria Constituição.
. Nos países em que não há a supremacia da
Constituição, não existe controle de
constitucionalidade.

. Nesses países, a Constituição é flexível e


se altera nos mesmos moldes que os demais
atos normativos.

. Não há, portanto, hierarquia ou supremacia


da Constituição. Por consequência, não há
controle de constitucionalidade.
. Quando, na Idade Moderna, surgiu o
Parlamento, não havia o princípio da
supremacia da Constituição. Vigorava,
aí, o princípio da supremacia do
Parlamento.

. Onde há o princípio da supremacia do


Parlamento, em geral todos os atos
normativos desfrutam da mesma
hierarquia. Não há a supremacia da
Constituição. É o próprio Parlamento,
portanto, que dá a última palavra,
revogando, por exemplo, se o caso, atos
normativos anteriores.
. Em vez de o Poder Judiciário declarar a
nulidade de um ato normativo contrário à
Constituição, é o Parlamento que retira do
ordenamento jurídico o ato normativo
questionado. E o faz, simplesmente,
revogando o referido ato normativo.

. Logo, a supremacia é do Parlamento, que


sabe qual ato normativo deve sobreviver e
qual ato normativo deve ser revogado.

. Na década de 1950, porém, em grande


parte dos países, esse sistema foi
substituído pelo princípio da supremacia da
Constituição. Isso se deu em grande parte
dos países, com exceção do Reino Unido e da
Holanda.
. Princípio da supremacia da Constituição:
rigidez formal ou material? Rigidez formal.
Só se fala em princípio da supremacia da
Constituição, se houver um procedimento
mais rígido de alteração da Constituição –
em comparação com a alteração de outros
atos normativos.

* Não basta, portanto, que haja uma


supremacia, em termos de conteúdo, da
Constituição em relação aos demais atos
normativos. É preciso que a Constituição
seja, formalmente, superior aos demais atos
normativos. Supremacia (rigidez) do
procedimento de alteração, portanto.
1.3. Antecedentes históricos do controle
de constitucionalidade no mundo

1.3.1. Ação pública (ou grafe paranomon)

.Criada por volta de 415 a.C., em Atenas


(Antiguidade):
. Era uma “ação contra leis”.
. Ação judicial contra projetos de lei ou
contra leis já elaboradas que violassem a lei
fundamental ou constituição da cidade.
. O fundamento dessa ação judicial era a violação, pela lei ou
projeto de lei, às leis fundamentais da politeia, à constituição
da cidade.
. A ação pública poderia voltar-se contra:
a) Projetos de lei, ou seja, propostas ainda
não votadas: nesse caso, suspendia-se a
votação que iria ocorrer na assembleia do
povo. A questão era submetida a um órgão
jurisdicional.
b) Leis ou outros atos normativos já votados
pela assembleia do povo.
. Procedência da ação pública, anulando-se o
projeto de lei ou a lei (ou outro ato
normativo) já votada – consequências:
1ª)Multa ao autor do projeto de lei ou da lei
já votada;
2ª) Perda dos direitos políticos: no caso de o autor da lei ou
do projeto de lei for condenado, por três vezes, em ação
pública (“ação contra leis” ou grafe paranomon).

1.3.2. Caso Marbury vs. Madison (1803)


. O controle de constitucionalidade é uma consequência da
Constituição norte-americana de 1787, embora não previsto
expressamente nesta última.
. Caso Marbury vs. Madison (1803): o Chief Justice John
Marshall declarou inválida, inconstitucional uma lei. Trata-se
da inauguração do controle de constitucionalidade – mais
especificamente, do controle difuso de constitucionalidade.
• Chief Justice: cargo equivalente ao que no Brasil
denominamos de Presidência do STF.
* Consagrou-se o princípio da supremacia formal da
Constituição sobre as demais leis ou atos normativos.
1.4 Evolução histórica do controle de
constitucionalidade no Brasil

1.4.1 Constituição de 1824

. Na Constituição Imperial de 1824, ainda não existia um


sistema de controle de constitucionalidade.

. Ainda prevalecia o dogma da soberania do Parlamento,


derivado do direito francês e, principalmente, do direito
inglês, Logo, descobrir o sentido verdadeiro das leis ou atos
normativos era tarefa do Parlamento, e não do Poder
Judiciário. Sem fiscalização da constitucionalidade das leis
pelo Poder Judiciário, não se pode falar em controle de
constitucionalidade.
. Não só a supremacia do Parlamento que impedia o
Judiciário de controlar a constitucionalidade das leis na
Constituição de 1824. Também o Poder Moderador.

. O Imperador era o titular do Poder Moderador, que resolvia


os conflitos entre os Poderes. Não era o Poder Judiciário que
dava a última palavra sobre esses conflitos e, por
consequência, sobre a Constituição.

. Motivos pelos quais não havia um controle judicial de


constitucionalidade das leis, na Constituição Imperial de
1824: a) Soberania do Parlamento; b) Poder Moderador; c)
influência do direito público europeu, que não admitia um
controle judicial de constitucionalidade das leis.
1.4.2. Constituição de 1891
. Inaugurou, no Brasil, o controle jurisdicional de constitucionalidade -
no caso, difuso: qualquer juiz ou tribunal pode exercer o controle de
constitucionalidade, no caso concreto, pela via de exceção ou defesa,
de forma incidental, prejudicial ao mérito.

. Influência do direito norte-americano. Modelo mantido até hoje, na


CF/88.

1.4.3. Constituição de 1934

. Manteve o sistema de controle difuso inaugurado pela Constituição


de 1891.
. 2 novidades quanto ao controle difuso:

a) Criou a cláusula de reserva de Plenário: apenas pela


maioria absoluta dos votos da totalidade dos membros é que
o Tribunal poderá declarar a inconstitucionalidade de lei ou
ato do Poder Público (art. 179).

b) Participação do Senado no controle difuso: se o Poder


Judiciário declarar a inconstitucionalidade de uma lei, pode o
Senado suspender a execução, no todo ou em parte, da lei.
Nesse caso, os efeitos da inconstitucionalidade, que se
restringiam ao caso concreto (inter partes), passam a valer
contra todos (erga omnes) (art. 91, IV).
. Novidade, quanto ao controle concentrado: primeira vez,
no Brasil, em que aparece uma ação de controle concentrado
– a ADI interventiva.
* O Procurador-Geral da República ajuíza a ADI perante o
STF, para assegurar a aplicação de alguns princípios
constitucionais (os sensíveis). Assim se resolve o conflito
federativo.

=> 3 novidades da C. de 1934 e que foram reproduzidas na


CF/88:
. No controle difuso: a) cláusula de reserva de plenário
(CF/88, art. 97); b) participação do Senado no controle difuso
de constitucionalidade (CF/88, art. 52, X).
. No controle concentrado: c) ADI interventiva (CF/88, art.
34, VII, e art. 36).
1.4.4. Constituição de 1937
. É denominada de “Polaca”, porque foi influenciada pela Constituição
ditatorial polonesa de 1935.

. Manteve: a) o controle difuso de constitucionalidade implantado


pela Constituição de 1891; b) a cláusula de reserva de plenário.

. Previu uma forte e retrógrada influência do Poder Executivo no


Poder Judiciário, quanto ao controle de constitucionalidade: se o
Poder Judiciário declarasse a inconstitucionalidade de uma lei, essa
decisão, a juízo do Presidente da República, poderia ser submetida ao
Parlamento. O Parlamento, então, por decisão de 2/3 dos membros
de cada Casa, poderia declarar sem efeito a declaração de
inconstitucionalidade, desde que confirmasse a validade da lei.
1.4.5. Constituição de 1946

. Fruto de um ambiente de redemocratização do Brasil,


diminuindo a hipertrofia do Poder Executivo.

. Manteve: a) o controle difuso de constitucionalidade; b) a


cláusula de reserva de plenário no controle difuso; c) a
suspensão, pelo Senado, de lei declarada inconstitucional no
controle difuso.

. Restabeleceu a ação direta de inconstitucionalidade


interventiva (ADI interventiva), que havia sido suprimida
pela Constituição de 1937 (“polaca”).
. Inovou, ao trazer, pela primeira vez, a ação de
inconstitucionalidade genérica (ADI genérica),
denominada, então, de “representação contra
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo (art.
101, I, k).
*** Essa modalidade de ação direta de
inconstitucionalidade, introduzida pela EC n. 16/1965,
era de competência originária do STF. Tinha como
características: a) visar à representação de
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, federal
ou estadual; b) propositura exclusiva pelo Procurador-
Geral da República.

. Inovou, ao prever o controle concentrado de


constitucionalidade em âmbito estadual.
. Inovou, ao prever o controle concentrado de
constitucionalidade em âmbito estadual: A
Constituição de 1946 trouxe uma inovação
importante: a possibilidade de os Estados criarem o
controle concentrado de constitucionalidade. É
importante destacar que essa inovação não esteva no
texto original da Constituição de 1946; foi fruto de
uma emenda constitucional a essa mesma
Constituição de 1946. Assim, a EC nº 16/1965 permitiu
que os Estados instituíssem o controle de
constitucionalidade das leis e atos normativos
municipais que conflitassem com a Constituição
Estadual. Quem tinha competência para julgar essa
ADI estadual era o Tribunal de Justiça do respectivo
Estado (Constituição de 1946, art. 124, inciso XIII).
Ano:.2020 Banca: IGECS Órgão: Câmara de Jandira - SP Prova: IGECS
- 2020 - Câmara de Jandira - SP - Procurador Jurídico
O controle concentrado de constitucionalidade, pelo Supremo
Tribunal Federal, foi instituído no Brasil via Emenda Constitucional, na
vigência da Constituição de:
Alternativas
A) 1.946.
B) 1.967.
C) 1.834.
D) 1.891.
ALTERNATIVA CORRETA: A.
1.4.6. Constituição de 1967 e a EC n. 1/69
. Mantiveram:
a) A ADI genérica ou representação de inconstitucionalidade de lei ou
ato normativo, criada pela EC nº 16/65 à Constituição de 1946 – essa
ação continuou sendo ajuizada exclusivamente pelo Procurador-Geral
da República.
b) Controle difuso de constitucionalidade.
c) Cláusula de reserva de Plenário no controle difuso;
d) Suspensão, pelo Senado Federal, de lei ou ato normativo
declarados inconstitucionais no controle difuso.

. Suprimiram: o controle concentrado de constitucionalidade no


âmbito dos Estados, inaugurado pela Constituição de 1946.

. Inovaram, ao preverem o controle de constitucionalidade de lei


municipal, em face da Constituição Estadual, com o objetivo de
promover a intervenção no Município.
1.4.7. Constituição de 1988

. Manteve o controle difuso, nos moldes já


previstos nas Constituições anteriores: a)
com a previsão da cláusula de reserva de
plenário (art. 97); b) com a possibilidade de
o Senado suspender, no todo ou em parte,
de lei declarada inconstitucional por decisão
definitiva do STF (art. 52, X).
. Quanto ao controle concentrado de
constitucionalidade:
a) Manteve-se a ADI interventiva (art. 34, VII);
b) Manteve-se a ADI genérica, ampliando em
nove o número de pessoas legitimadas a propor
a ação – antes, o legitimado era só o Procurador-
Geral da República.
c) Criou-se a ADI por omissão (art. 102, §3º).
Interessante que, no campo das omissões
legislativas, a CF/88 previu um novo instrumento
de controle difuso de constitucionalidade: o
mandado de injunção (art. 5º, LXXI).
d) os Estados poderão instituir a representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais
ou municipais em face da Constituição Estadual. Mas fica
vedada a legitimação para agir a um único órgão (art. 125,
§2º).

e) Facultou-se, pela primeira vez no Brasil, a criação da


arguição de descumprimento de preceito fundamental
(ADPF). Assim, “a arguição de descumprimento de preceito
fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada
pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei” (art. 102,
parágrafo único, depois renumerado como §1º pela EC n.
3/93).

f) Criou-se, pela primeira vez no nosso ordenamento jurídico,


a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) (criação
pela EC n. 3/93).
g) Ampliação dos legitimados da ADC, igualando as
legitimados da ADI. Essa ampliação se deu por meio
da EC n. 45/2004, denominada “Reforma do Poder
Judiciário”.

*** Interessante notar que a EC n. 45 previu,


expressamente, a possibilidade de efeito vinculante na
ADI. Antes, essa previsão constitucional expressa só
dizia respeito à ADC. De qualquer forma, o art. 28,
parágrafo único, da Lei nº 9.868/99 (e, também, a
jurisprudência do STF) já previa, expressamente, o
efeito vinculante na ADI. Agora, o efeito vinculante na
ADI conta, também, com previsão constitucional.
*** A CF/88 prevê um controle jurisdicional misto de
constitucionalidade. Isso porque há um controle
difuso, realizado por todos os juízes e tribunais, e um
controle concentrado, realizado, no âmbito federal,
pelo STF.

**** Esse controle jurisdicional misto de


constitucionalidade não transforma o Supremo
Tribunal Federal em uma Corte Constitucional. Isso
porque esta última pressupõe que todo o controle de
constitucionalidade (jurisdição constitucional) seja
realizado por um único órgão. No caso do Brasil, o
controle judicial de constitucionalidade se reparte
entre todos os órgãos jurisdicionais.
2. Inconstitucionalidade – nulidade do ato normativo

. Quando houver inconstitucionalidade,


ocorre a nulidade do ato normativo. Essa
afirmação gera algumas consequências:

1ª) O ato normativo nasce morto. Há um vício de


origem.

2ª) A decisão judicial sobre a


inconstitucionalidade tem natureza declaratória
(sistema norte-americano – Marshall), e não
constitutiva (sistema austríaco – Kelsen).
Declara-se uma situação que já existe (a
inconstitucionalidade). Não há a constituição de
uma nova situação.

3ª) A inconstitucionalidade atua no plano da


validade da norma, e não no plano da eficácia.
4ª) Em regra, a declaração de
inconstitucionalidade opera efeitos ex tunc,
isto é, efeitos retroativos. Isso porque atua,
no caso, o princípio da supremacia da
Constituição: um ato normativo
inconstitucional deve ser expurgado do
sistema, com o objetivo de se preservar a
Constituição.

5ª) No entanto, é possível que haja a


mitigação da nulidade quando houver a
inconstitucionalidade de um ato normativo.
Isso porque, a par do princípio da
supremacia da Constituição, é possível haver
razões de segurança jurídica, interesse
social, boa-fé, proteção da legítima
confiança. Esses motivos são expressões do
Estado Democrático de Direito (CF, art 1º,
caput).
•E x e m p l o : o STF declara a
inconstitucionalidade de uma lei que
instituiu um tributo bilionário. A
devolução dos valores já pagos poderá
causar prejuízo bilionário ao Estado,
comprometendo-lhe as finanças.

*** Nesse exemplo, se seguir a regra


geral, o STF irá declarar a
inconstitucionalidade com efeitos
retroativos (ex tunc). O Estado, então,
terá que devolver todos os valores já
recolhidos.
**** Para não causar prejuízo bilionário ao
Estado, o STF declara a
inconstitucionalidade ex nunc e fixa um
momento a partir do qual passará a produzir
efeitos a decisão. Ex: o STF reconhece a
inconstitucionalidade de uma lei que prevê a
cobrança de um determinado tributo. No
entanto, em vez de determinar a devolução
de todas as cobranças (efeitos ex tunc), o
STF determina que a devolução só ocorrerá
quanto aos tributos recolhidos a partir da
decisão que declarou a
inconstitucionalidade. Mitiga-se, com isso, a
nulidade decorrente da declaração de
inconstitucionalidade.
 REGRA: efeitos retroativos (“ex
tunc”) da declaração de
inconstitucionalidade:

. Lei (2000)
Retroação dos efeitos da declaração de
inconstitucionalidade, para o momento
da edição da lei.
(“Efeitos ex tunc”)

.Declaração de
Inconstitucionalidade
(2010)
 EXCEÇÃO: efeitos não retroativos
(“ex nunc”) da declaração de
inconstitucionalidade (mitigação da
nulidade ou modulação dos efeitos):

. Lei (2000)

.Declaração de Efeitos
Inconstitucio- não retroagem
nalidade (2010)
=> Mitigação da nulidade ou modulação
dos efeitos no controle concentrado:
1 º ) L e i n º 9 . 8 6 8 / 9 9 , a r t . 2 7 ( A D I e A D C ) : Art. 27. Ao
declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, e tendo em vista
razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse social,
poderá o Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus
membros, restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela
só tenha eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro
momento que venha a ser fixado.
2 º ) L e i n º 9 . 8 8 2 / 9 9 , a r t . 1 1 : Art. 11. Ao declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, no processo de arguição de
descumprimento de preceito fundamental, e tendo em vista razões de
segurança jurídica ou de excepcional interesse social, poderá o
Supremo Tribunal Federal, por maioria de dois terços de seus membros,
restringir os efeitos daquela declaração ou decidir que ela só tenha
eficácia a partir de seu trânsito em julgado ou de outro momento que
venha a ser fixado.
 Mitigação da nulidade ou modulação
dos efeitos no controle difuso: não há
previsão legal. No entanto, o STF vem
aplicando a mitigação da nulidade
também no controle difuso, por analogia
às disposições legais do controle
concentrado. O caso abaixo é bem
ilustrativo:

. O Ministério Público do Estado de São Paulo


ajuizou uma ação civil pública contra o
pequeno Município de Mira Estrela-SP. Esse
município contava com 2.651 habitantes e
com 11 vereadores. O STF reduziu o número
de vereadores dessa cidade de 11 para 9
vereadores (STF, Plenário, RE 197.917/SP,
Relator Ministro Maurício Corrêa, j. em
6.6.2002).
. É que, antes da EC n. 58/2009, o art. 29,
IV, a, da CF/88 estipulava que, para as
cidades com até 1 milhão de habitantes,
era possível haver de 9 a 21 vereadores.
Havia uma abertura muito grande,
assanhando a discricionariedade do
legislador na definição do número de
vereadores.

** A atual redação da Constituição (com a redação dada


pela EC n. 58/2009) traçou limites mais rígidos.
. O Ministério Público do Estado de
São Paulo pretendia que se
declarasse a nulidade com efeitos
ex tunc, isto é, retroativos. Isso
poderia, por exemplo, desconstituir
os atos legislativos já praticados no
Município e as eleições já realizadas.
. O STF declarou, sim, a inconstitucionalidade da
previsão de 11 vereadores, reduzindo a composição
da Câmara para 9 vereadores. No entanto, por razões
de segurança jurídica, o STF entendeu que a decisão
só valeria para as próximas eleições.

.Houve, portanto, a modulação dos efeitos da decisão,


e essa modulação se deu no controle difuso de
constitucionalidade (no caso, no seio de uma ação
civil pública).

. Assim, ficaram preservadas: a) as eleições já


realizadas; b) as leis até então editadas com a
composição anterior da Câmara Municipal.
.. No controle concentrado de
constitucionalidade, há previsão
expressa acerca da modulação dos
efeitos da inconstitucionalidade. Essa
previsão expressa se refere:
a) à ADI e à ADC (Lei nº 9.868/99, art.
27);
b) à ADPF (Lei nº 9.882/99, art. 11).

. Em ambos os casos, referentes ao


controle concentrado de
constitucionalidade, a modulação dos
efeitos da inconstitucionalidade exige o
quorum de 2/3 dos Ministros do STF.
..É possível, conforme já vimos, embora
não haja previsão legal para tanto, que a
modulação de efeitos da
inconstitucionalidade seja, por analogia,
aplicada também ao controle difuso.

. Ex.: o Ministério Público ajuíza uma


ação civil pública, para reduzir o número
de vereadores instituído por lei
municipal. A causa chega ao STF, que
declara a inconstitucionalidade da lei. O
STF, porém, não anula as eleições já
realizadas. A Corte aplica os efeitos da
decisão apenas para as próximas
eleições. As leis municipais editadas até
então editadas são consideradas válidas.
.. Se, no controle concentrado de
constitucionalidade, a modulação dos
efeitos da decisão exige o quorum de 2/3
dos Ministros do STF, esse mesmo
quorum também é exigido na modulação
dos efeitos aplicada no controle difuso.

*** Não é possível, portanto, modular os


efeitos da decisão de
inconstitucionalidade, no controle
difuso, por meio de decisão da maioria
absoluta dos membros do STF. Exige-se,
no caso, a maioria de 2/3 dos membros
do STF.
..
Portanto, é possível extrair a seguinte
REGRA:

1ª) A modulação de efeitos da declaração


de inconstitucionalidade exige o quorum
de 2/3 dos (as) Ministros (as) do STF.

2ª) Essa regra se aplica:


a) Ao controle concentrado de
constitucionalidade, por expressa
disposição legal;
b) Ao controle difuso, por analogia às disposições
legais do controle concentrado.
.

** CUIDADO: Quando não houver


declaração de inconstitucionalidade
de ato normativo, o STF poderá, por
maioria absoluta, modular os efeitos
de decisão, com repercussão geral,
em julgamento de recursos
extraordinários repetitivos (STF,
Plenário, RE 638115 ED-ED/CE,
julgamento no dia 18.12.2019 –
Informativo nº 964, 16 a 19 de
dezembro de 2019).
.= >
Portanto, é possível, em um caso bem
excepcional, que a modulação de efeitos,
no controle difuso, observe o quorum da
maioria absoluta dos membros do STF.
Para tanto, é preciso que se observem os
seguintes requisitos:

a) A decisão do STF deve-se dar por meio


de repercussão geral, em recursos
extraordinários repetitivos;

b) Não pode ocorrer a declaração de


inconstitucionalidade de ato normativo.
** A rigor, essa situação não
.

seria caso de modulação de


efeitos na declaração de
inconstitucionalidade. Por um
motivo muito simples: não há
declaração de
inconstitucionalidade.
.= >Podemos, então, traçar o seguinte
cenário, no que se refere ao quorum
exigido para a modulação dos efeitos na
declaração de inconstitucionalidade:

REGRA: 2/3 dos (as) Ministros (as) do


STF. Essa é a regra tanto no controle
concentrado (por disposição legal
expressa), quanto no controle difuso
(por analogia às disposições legais
prevista no controle concentrado).
.E X C E Ç Ã O :
maioria absoluta dos (as)
Ministros (as) do STF. Essa possibilidade
depende dos seguintes requisitos: a) a
decisão do STF deve ser proferida num
caso concreto, e não no controle
concentrado de constitucionalidade; b) a
decisão deve ser proferida por meio de
repercussão geral em recursos
repetitivos; c) não pode haver
declaração de inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo.
.

Ano: 2021 Banca: IADES Órgão: Instituto Rio Branco Prova: IADES -
2021 - Instituto Rio Branco - Diplomata - Manhã
No que concerne aos aspectos relacionados ao conceito de Constituição,
ao controle de constitucionalidade, aos direitos fundamentais e às
normas orçamentárias e de finanças públicas, julgue (C ou E) o item a
seguir.
Segundo o entendimento do STF, exige-se quórum de maioria absoluta
dos membros do STF para modular os efeitos de decisão proferida em
julgamento de recurso extraordinário no caso em que tenha ocorrido
declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo.
Alternativas
Certo
Errado
A afirmação é INCORRETA.
3. Constitucionalidade superveniente

. Constitucionalidade superveniente: é o
fenômeno mediante o qual um ato normativo
nasce morto, inconstitucional, mas,
posteriormente, constitucionaliza-se, convalida-
se. O ato normativo nasce morto e, depois,
ressuscita, tornando-se constitucional.

Ato normativo

Inconstitucional Constitucional

=> REGRA: não existe constitucionalidade


superveniente. Isso porque o vício de
inconstitucionalidade não se convalida.
EXCEÇÕES: há duas situações, referentes os dois a
casos semelhantes, em que se admitiu que uma lei
inconstitucional se convalidasse. Em outras
palavras, nesses dois casos, adotou-se a teoria da
constitucionalidade superveniente. Uma dessas
exceções foi admitida pelo STF; a outra exceção
foi prevista na EC nº 57/2008:

a)Constitucionalidade superveniente admitida


pelo STF: a Lei Estadual nº 7.619/2000, do Estado
da Bahia, criou o Município de Luís Eduardo
Magalhães. Esse município resultou do
desmembramento de área do Município de
Barreiras.

. Para a criação, a incorporação, a fusão e o


desmembramento de Municípios, é preciso que se
cumpram os seguintes requisitos, nos termos do
que dispõe o art. 18, §4º, da CF/88:
1º) Edição de lei estadual;
2º) Obediência do período determinado por lei
complementar. Requisito não respeitado: não
havia lei complementar fixando período para a
criação do Município.
3º) Consulta prévia, mediante plebiscito, às
populações dos Municípios envolvidos. Requisito
não respeitado: houve consulta, apenas, à
população do Município que se formou (Luís
Eduardo Magalhães), e não ao Município parte de
cuja área fora desmembrada (Município de
Barreiras). Violação, portanto, ao regime
democrático.
4º)Antes do plebiscito, deve-se apresentar e
publicar os Estudos de Viabilidade Municipal. Em
outras palavras, referidos Estudos devem vir
antes do plebiscito. Requisito não respeitado: o
Estudo de Viabilidade Municipal ocorreu depois
do plebiscito.
** Não obstante o desmembramento do Município
de Barreiras e a criação do Município de Luís
Eduardo Magalhães não tenham desrespeitado o
art. 18, §4º, da CF/88, o STF convalidou essa
inconstitucionalidade.
*** Já fazia 6 anos que o Município de Luís
Eduardo Magalhães havia sido criado. Razões de
segurança jurídica exigiam que uma
inconstitucionalidade se convalidasse.
**** O STF, então, reconheceu a
inconstitucionalidade, mas assinalou o prazo de
24 meses para que os vícios de
inconstitucionalidade fossem corrigidos.
**** Em suma, apesar da inconstitucionalidade, a
criação e desmembramento dos municípios da
Bahia tornaram-se constitucionais, ao menos até
que, em 24 meses, os vícios de
inconstitucionalidade fossem corrigidos.
** Nota-se que o processo de criação e
desmembramento dos municípios foi feito por
uma lei estadual. Essa lei estadual nasceu viciada
(inconstitucional), mas tornou-se constitucional
por decisão do STF.
*** É um típico caso de constitucionalidade
superveniente: uma lei inconstitucional torna-se,
posteriormente, constitucional.
**** O STF reconheceu a inconstitucionalidade,
sem pronúncia de nulidade. Manteve-se a
vigência da lei estadual por mais 24 meses. É a
declaração de inconstitucionalidade com efeito
prospectivo ou para o futuro.

**** Confira-se: STF, Plenário, ADI 2.240, Relator


Ministro Eros Grau, julgamento no dia 18.5.2006.
b) Constitucionalidade superveniente admitida
por emenda constitucional: a EC nº 57/2008
convalidou as leis estaduais de criação,
desmembramento, fusão e incorporação dos
Municípios. Para tanto, era preciso que a lei
estadual tivesse sido publicada até o dia 31 de
dezembro de 2006.
** Assim, mesmo que as leis estaduais referidas
não tivessem seguido os requisitos exigidos pelo
art. 18, §4º, da CF/88, essas leis inconstitucionais
tornavam-se constitucionais (constitucionalidade
superveniente).
*** Eis o disposto no art. 1º da EC nº 57/2008:
“Art. 1º O Ato das Disposições Constitucionais Transitórias passa a
vigorar acrescido do seguinte art. 96:
“ ‘Art. 96. Ficam convalidados os atos de criação, fusão, incorporação e
desmembramento de Municípios, cuja lei tenha sido publicada até 31 de
dezembro de 2006, atendidos os requisitos estabelecidos na legislação
do respectivo Estado à época de sua criação’."
CONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE
REGRA: NÃO.

EXCEÇÕES

Decisão do STF – EC nº 57/2008, que


prazo de 24 meses validou leis estaduais
para corrigir a que criaram
inconstitucionalidade Municípios sem
na criação do observar o art. 18,
Município de Luís §4º, da CF/88.
Eduardo Magalhães
3.1. Inconstitucionalidade superveniente

 Inconstitucionalidade superveniente: é o fenômeno


mediante o qual uma lei nasce válida (=constitucional)
e, depois, torna-se inválida (=inconstitucional).

Ato normativo

Constitucional Inconstitucional
. Tomemos em consideração a CF/88. A
inconstitucionalidade superveniente não é aceita:

a) Para os atos normativos editados antes da CF/88.

b) Para os atos normativos editados após a CF/88.

** Em cada uma dessas situações, termos


fundamentos diversos para não admitir o fenômeno
da inconstitucionalidade superveniente.
*** Veremos que há exceções apenas
para a hipótese b, ou seja, situações
admitidas de inconstitucionalidade
superveniente.
A)Atos normativos editados antes da
CF/88

Segundo a teoria da
inconstitucionalidade, para aferir-se a
inconstitucionalidade de uma lei, é
preciso que essa lei seja editada após a
Constituição em vigor.
. Suponhamos uma lei editada antes da
CF/88. Essa lei era compatível com a
Constituição anterior, mas é
incompatível com a CF/88.

. Nesse caso, não se pode falar em


inconstitucionalidade superveninente.
No caso, o fenômeno é o da não
recepção ou da revogação da lei.
. Por isso se diz que a teoria da
inconstitucionalidade não admite o
fenômeno da inconstitucionalidade
superveniente. Uma lei que obedecia à
Constituição anterior, mas que não
obedece à Constituição atual, é uma lei
que não foi recepcionada pela
Constituição. Não se trata de uma
inconstitucionalidade superveniente.

. O problema da lei anterior


incompatível com a Constituição atual é
resolvido pelo direito intertemporal (“lei
posterior revoga lei anterior”), e não
pelo fenômeno da teoria da
inconstitucionalidade.
Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: TJ-PI Prova: FCC - 2015 - TJ-PI - Juiz Substituto
A teoria da inconstitucionalidade supõe, sempre e necessariamente, que a
legislação, sobre cuja constitucionalidade se questiona, seja posterior à
Constituição. Porque tudo estará em saber se o legislador ordinário agiu dentro de
sua esfera de competência ou fora dela, se era competente ou incompetente para
editar a lei que tenha editado (STF − ADI 2, Rel. Min. Paulo Brossard, DJ de
21/11/1997) Do trecho acima transcrito depreende-se a rejeição, por parte da
jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, da teoria da
A) repristinação.
B) inconstitucionalidade formal.
C) recepção.
D) desconstitucionalização.
E) inconstitucionalidade superveniente.
Resposta Correta: E.
B) Atos normativos editados após a
CF/88

. REGRA:

1ª) Nosso sistema não admite o


fenômeno da inconstitucionalidade
superveniente. Isso porque a
inconstitucionalidade sempre pressupõe
que um ato já nasça nulo, inválido,
inconstitucional. Não é possível que o
ato válido se torne inválido, que um ato
constitucional se torne inconstitucional.
2ª) Por isso, nosso sistema admite a
inconstitucionalidade originária, mas
não a inconstitucionalidade
superveniente.
. EXCEÇÕES: há dois casos em que
uma lei constitucional se torna
inconstitucional – duas hipóteses de
inconstitucionalidade superveniente
admitidas pelo nosso sistema:
1ª) Mutação constitucional: é a mudança
do sentido interpretativo, sem a
mudança do texto. Há um processo
informal de mudança da Constituição,
transformando o sentido que se dá à lei.
Esta última, antes tida como
constitucional, torna-se inconstitucional.
Essa mudança se dá não por alteração da
Constituição ou da lei, mas por simples
mudança na interpretação da
Constituição.
* EXEMPLO: Suponhamos uma lei que proíba
a união homoafetiva. Inicialmente,
entendeu-se que o art. 226, §3º, da CF/88 só
admitia como entidade familiar a união
entre homem e mulher.
. Porém, o art. 226, §3º, da CF/88
passou a ser lido a partir do princípio
da dignidade humana (CF, art. 1º, III)
e do objetivo da República Federativa
do Brasil de promover o bem de todos
e todas, sem preconceitos (CF, art.
3º, IV).

. Essa nova leitura da CF/88, então,


revela que a lei que proibia a união
homoafetiva tornou-se
inconstitucional.
. Em outras palavras, uma lei, que
era tida como constitucional,
tornou-se inconstitucional, por
simples mudança interpretativa,
sem alteração do texto
constitucional.

. Eis o fenômeno da
inconstitucionalidade
superveniente.
2ª) Mudança no substrato fático da
norma: a lei, antes constitucional, torna-
se inconstitucional, devido ao
surgimento de novos fatos.

**STF: havia uma lei que admitia o uso


controlado do amianto. Inicialmente,
estudos apontavam que o uso controlado
do amianto não faria tão mal à saúde.
Posteriormente, descobriu-se que
qualquer uso do amianto é danoso à
saúde. Novas descobertas (=novos fatos)
permitiram uma nova compreensão sobre
a constitucionalidade da lei do amianto.
***Se, antes, o STF entendia que a referida
lei era constitucional, os novos fatos
impuseram ao STF o reconhecimento da
inconstitucionalidade da citada lei (STF,
Plenário, ADI 3.937, Relator Ministro Dias
Toffoli, j. em 24.8.2007). Nota-se, aí, uma
hipótese de inconstitucionalidade
superveniente.

*** Diferença entre mutação constitucional e


mudança no substrato fático da norma: na
primeira, muda-se a interpretação, em razão
da evolução da sociedade; na segunda,
muda-se a interpretação devido à mudança
dos fatos que embasavam a norma. Na
mutação constitucional, há evolução social;
na mudança no substrato fático da norma,
há mudança dos fatos que embasavam a
norma.
4. Novidades da CF/88 no controle de
constitucionalidade

1ª) Ampliação do rol de legitimados para a


propositura de ADI no âmbito federal (CF,
art. 103, inciso I a IX).
*Antes da CF/88: só o Procurador-Geral da
República poderia propor ADI.

2ª) Controle de constitucionalidade sobre as


omissões legislativas:
a)No controle concentrado: previsão da Ação
Direta de Inconstitucionalidade por Omissão
(ADO) (CF/88, art. 103, §2º).
b) No controle difuso (incidental): Mandado
de Injunção (MI) (CF/88, art. 5º, inciso
LXXI).
3ª) Podem os Estados instituir a representação de
inconstitucionalidade de leis ou atos normativos
estaduais ou municipais em face da Constituição
Estadual. Fica, porém, vedada a legitimação para
agir a um único órgão (CF/88, art. 125, §2º).

4ª) Facultou-se a criação da Ação de


Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF)
(CF, art. 102, parágrafo único, transformado, o
parágrafo único, em §1º, pela EC nº 3/93).

5ª) Criação, pela EC nº 3/93, da Ação Declaratória


de Constitucionalidade (ADC): cabe ao STF
processar e julgar, originariamente, a ADC (CF/88,
art. 102, inciso I, a).
6ª) Reforma do Poder Judiciário (EC nº
45/2004):

a)Ampliou o rol de legitimados ativos para a


propositura da ADC.
**A legitimidade ativa da ADC tornou-se
idêntica à da ADI.

b) Estabeleceu os efeitos vinculantes à


decisão proferida em ADI.
**A CF/88 já previa os efeitos vinculantes
para a ADC, mas não o previa para a ADI. A
EC nº 45/2004, portanto, estendeu os efeitos
vinculantes também para a ADI.
*** Quanto à ADI, contudo, antes mesmo da
EC nº 45/2004, a jurisprudência do STF e o
art. 28, parágrafo único, da Lei nº 9.868/99
já admitiam o efeito vinculante.
5. Espécies de inconstitucionalidade

Espécies de inconstitucionalidade

Inconstitucionalidade Inconstitucionalidade
por ação por omissão
INCONSTITUCIONALIDADE POR AÇÃO
Inconstitucionalidade formal Inconstitucionalidade Inconstitucionalida-
ou nomodinâmica material ou de conteúdo ou de por vício de
substancial ou decoro parlamentar
nomoestática

a) Inconstitucionalidade
formal orgânica.

b) Inconstitucionalidade
formal propriamente dita: b1)
vício formal subjetivo; b2)
vício formal objetivo.

c) Institucionalidade formal
por violação a pressupostos
objetivos do ato normativo.
5.1. Vícios de inconstitucionalidade por
ação

1ª) Inconstitucionalidade formal ou


nomodinâmica: é aquela inconstitucionalidade
que diz respeito à forma do ato. Subdivide-se
em:

a)Inconstitucionalidade formal orgânica: é


aquela inconstitucionalidade que diz respeito
à competência legislativa para a elaboração do
ato normativo. Exemplos (STF):
. Lei municipal não pode tratar de uso de cinto
de segurança. Trânsito e transporte são
matérias de competência legislativa privativa
da União (CF/88, art. 22, inciso XI).

. Lei estadual não pode determinar a cobertura


universal de doenças pelos serviços de
assistência médico-hospitalar regidos por
contratos de natureza privada. Isso porque é
de competência privativa da União legislar
sobre direito civil, direito comercial e política
de seguros (CF/88, art. 22, I e VII).
Ano: 2021 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de Jundiaí -
SP Prova: VUNESP - 2021 - Prefeitura de Jundiaí - SP - Procurador do
Município
É um exemplo de inconstitucionalidade formal orgânica:
A lei apresentada por parlamentar que trata de matéria de iniciativa
privativa do Chefe do Executivo.
B lei que trata de matéria de Lei Complementar que foi votada e aprovada
por quórum de maioria simples.
C lei municipal que cria órgão de fiscalização de contas no âmbito do
Município.
D lei municipal que disciplina matéria de competência do Estado ou da
União.
E medida provisória que trata de matéria de cunho penal.

ALTERNATIVA CORRETA: D.
b) Inconstitucionalidade formal propriamente dita:
é um vício que ocorre no devido processo
legislativo. Subdivide-se em:

b1) Vício formal subjetivo: a inconstitucionalidade


incide sobre a iniciativa de lei. Assim, uma matéria
de iniciativa legislativa privativa do Presidente da
República é proposta por um Deputado Federal.
Ex.: lei que modifica ou fixa o efetivo das Forças
Armadas (CF/88, art. 61, §1º, inciso I).

b2) Vício formal objetivo: a inconstitucionalidade


incide sobre as demais fases do processo
legislativo que não a fase de iniciativa. Ex.: uma
lei ordinária é editada para tratar de normas
gerais de tributação, quando se sabe que essa
matéria cabe à lei complementar (CF/88, art. 146,
inciso III, alínea b).
c) Inconstitucionalidade formal por violação a
pressupostos objetivos do ato normativo: a
inconstitucionalidade incide sobre um requisito
objetivo do ato normativo. Ex.: uma medida
provisória é editada sem o requisito objetivo da
relevância e urgência (CF/88, art. 62).
2ª) Inconstitucionalidade material (ou de
conteúdo, ou substancial ou doutrinária ou
nomoestática): a inconstitucionalidade diz respeito
à matéria veiculada pelo ato normativo. Exemplos:
. Uma lei fixa a remuneração dos servidores em
valores acima do subsídio de Ministro do STF
(CF/88, art. 37 inciso XI).
. Uma lei restringe o acesso ao concurso público,
com base no sexo ou na idade. Essa lei viola o
princípio da isonomia e da não discriminação
(CF/88, art. 5º, caput; art. 3º, IV).
3ª) Inconstitucionalidade por vício de decoro
parlamentar: é o fenômeno mediante o qual uma
lei é aprovada pelos parlamentares sem a
observância dos preceitos de decência, moralidade
e dignidade que devem governar a função
parlamentar. Ex.: imagine que o Presidente, com o
objetivo de aprovar um projeto legislativo,
suborne os parlamentares. A lei daí resultante é
inconstitucional por vício de decoro parlamentar.
Isso porque, nos termos do art. 55, §1º, da CF/88,
“é incompatível com o decoro parlamentar, além
dos casos definidos no regimento interno, o abuso
das prerrogativas asseguradas a membro do
Congresso Nacional ou a percepção de vantagens
indevidas”.
. Segundo decidiu o STF na Ação Penal nº 470, houve a
compra de votos de parlamentares, com o objetivo de se
aprovar a Reforma da Previdência (ECs nº 41/2003 e
47/2005).

. Diante disso, foram ajuizadas as ADIs nº 4.887, 4.888 e


4.889. O argumento básico foi o de que houve vício na
formação da vontade no procedimento legislativo, ou
vício de decoro parlamentar. Esse vício viola os
princípios democrático e do devido processo legislativo.

. Alguns Ministros (Edson Fachin, Roberto Barroso e


Rosa Weber) admitiriam a possibilidade de reconhecer o
vício de decoro legislativo.

. Porém, as ADIs foram julgadas improcedentes, porque


o número de 7 parlamentares condenados na Ação Penal
nº 470 não era suficiente para macular todo o processo
legislativo de aprovação das ECs nº 41/2003 e 47/2005
(Reforma da Previdência).
6. Controle de constitucionalidade –
classificações

6.1. Quanto ao momento de exercício (controle


prévio ou preventivo e controle posterior ou
repressivo)

 O controle de constitucionalidade, quanto ao


momento em que é exercido, pode ser:

a)Controle Prévio ou Preventivo: é o controle de


constitucionalidade exercido durante o processo
legislativo de formação do ato normativo. Em
outras palavras, o controle prévio ou preventivo
atinge o projeto de lei, e não a lei já pronta e
acabada. Pode ser realizado pelo Poder
Legislativo, pelo Poder Executivo e pelo Poder
Judiciário.
b)Controle Posterior ou Repressivo: é o
controle de constitucionalidade exercido
sobre a lei ou ato normativo já prontos e
acabados. Em regra, é feito pelo Poder
Judiciário. Porém, em casos excepcionais,
pode ser feito, também, pelo Poder
Legislativo e pelo Poder Executivo.
6.1.1. Controle Prévio ou Preventivo

 Controle Prévio ou Preventivo de


constitucionalidade: é o exercido sobre o
projeto de lei ou de ato normativo,
durante o processo legislativo. Pode ser
realizado:

a)Pelo Poder Legislativo: nas Comissões de


Constituição e Justiça (CCJs), o Poder
Legislativo realiza o controle prévio de
constitucionalidade incidente sobre o
projeto de lei. Questões importantes:
1ª) Há projetos de atos normativos não
sujeitos ao parecer das CCJs? Sim. São eles:
projetos de medida provisória, de
resoluções dos Tribunais e de decretos.

2ª) Se o parecer da CCJ for pela


inconstitucionalidade do projeto de lei,
esse parecer impede o prosseguimento do
projeto? Sim. Nesse caso, o projeto é
rejeitado e arquivado definitivamente, por
despacho do Presidente do Senado
(Regimento Interno do Senado Federal, art.
101, §1º). Por isso se diz que o parecer
pela inconstitucionalidade é terminativo.
** É possível que o projeto prossiga, ainda que o
parecer da CCJ do Senado seja pela
inconstitucionalidade. Para tanto, é preciso que
haja recurso de, ao menos, 1/10 dos Senadores,
nos termos do que dispõe o art. 101, §1º, do
Regimento Interno do Senado Federal.

b)Pelo Poder Executivo: há dois vetos que o


Presidente da República poderá emitir nos projetos
de lei: 1º) Veto Político: é a rejeição ao projeto de
lei, pelo Presidente da República, por razões de
interesse público; 2º) Veto jurídico: é a rejeição,
pelo Presidente da República, do projeto de lei,
por razões de inconstitucionalidade.
** O veto jurídico, e não o veto político,
representa o exercício do controle prévio ou
preventivo de constitucionalidade pelo Presidente
da República.
**O Poder Legislativo poderá derrubar o veto
do Presidente da República. Para isso, é
preciso que se cumpram os seguintes
requisitos, nos termos do que dispõe o art. 66,
§4º, da CF/88: a) que a derrubada do veto seja
exercida dentro de 30 dias em que ele, veto,
for recebido pelo Poder Legislativo; b) que a
análise sobre o veto se dê em sessão conjunta
da Câmara e do Senado; c) maioria absoluta
dos Deputados e dos Senadores.

*** A análise do veto é feita em sessão aberta


(voto ostensivo). A EC nº 76/2013 aboliu a
sessão secreta para a derrubada do veto.
9ª) Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito
Federal Prova: FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal -
Inspetor de Polícia Legislativa
O veto oposto pelo chefe do Executivo a projeto de lei
A) será político quando versar sobre a juridicidade do projeto.
B) pode ser uma forma de controle prévio de constitucionalidade, a
depender de seu teor.
C) é admitido quando tratar-se de veto tácito, e importa na devolução do
projeto ao Poder Legislativo.
D) poderá incidir sobre trechos ou palavras de artigos ou parágrafos.
E) devolve a matéria vetada ao Legislativo, que poderá rejeitar o veto pelo
voto da maioria absoluta dos Deputados e Senadores, em escrutínio
secreto.
Resposta correta: B.
c) Pelo Poder Judiciário: é o controle
prévio de constitucionalidade que permite
ao Parlamentar participar de um processo
legislativo hígido, isto é, que esteja de
acordo com a Constituição. Aspectos
importantes:

1º) Trata-se de um controle exercido sobre


projeto de emenda constitucional (PEC) ou
projeto de lei.
2º) Concretiza-se pela impetração de
mandado de segurança pelo parlamentar.
Este último tem o direito subjetivo de
participar de um processo legislativo
hígido (devido processo legislativo).

** Terceiro não pode impetrar mandado de


segurança nesse caso. Caso contrário,
teríamos um controle preventivo abstrato
de constitucionalidade – instituto
inexistente no nosso sistema (STF, MS
21.642/DF, entre outros). Abstrato, porque
concentrado no STF e sem vínculo a um
caso concreto.
3º) Se houver a perda do mandato
parlamentar, o mandado de segurança será
extinto sem julgamento de mérito. Isso porque
desaparece a legitimidade ad causam do
impetrante (STF).

4º) Como se viu, o parlamentar pode impetrar


mandado de segurança, com o objetivo de
participar de um processo legislativo que
observe a Constituição. Se o Poder Legislativo,
durante o processo de tramitação legislativa,
negar ao Parlamentar um direito extraído do
devido processo constitucional legislativo, é
possível, então, a impetração de mandado de
segurança pelo parlamentar.
**Suponhamos, por outro lado, que o
Presidente da Câmara dos Deputados
interprete uma norma do Regimento Interno
da Câmara. O parlamentar não poderá insurgir-
se contra a interpretação regimental feita pelo
Presidente da Câmara, não cabendo, no caso,
a impetração de mandado de segurança. Trata-
se de norma interna corporis, cuja
interpretação cabe ao Poder Legislativo. O
Poder Judiciário não pode interferir nessa
interpretação, sob pena de ofensa ao princípio
da separação de poderes.
**** É preciso, porém, atentar-se para as chamadas
normas constitucionais interpostas. Normas
constitucionais interpostas são aquelas normas às
quais a Constituição faz referência (Gustavo
Zagregelsky). Suponhamos que o Presidente da
Câmara dos Deputados negue, durante a tramitação
de um projeto de lei, um direito de um
parlamentar. O Presidente da Câmara, para fazê-lo,
invoca um dispositivo do Regimento Interno da
Câmara dos Deputados (RICD). Esse dispositivo do
RICD, porém, não é um dispositivo qualquer,
porque foi fruto de uma referência feita pela
Constituição. Em outras palavras, a Constituição
fez referência um dispositivo do Regimento
Interno da Câmara dos Deputados. Esse dispositivo
do RICD é chamado de norma constitucional
interposta, porque fruto de menção feita pela
Constituição.
=> O STF, no mandado de segurança impetrado
pelo parlamentar, não poderá analisar
interpretação, feita pelo Poder Legislativo, a
normas regimentais. A única exceção que se
poderia conceber diz respeito às chamadas normas
constitucionais interpostas. No entanto, essa
possibilidade ainda não foi enfrentada pelo
Plenário do STF.

*Questão de concurso público: “Normas


constitucionais interpostas seriam aquelas
disposições normativas às quais as normas
constitucionais fazem expressa referência
vinculando atos e procedimentos legislativos,
apresentando uma força normativa diferenciada
por derivar diretamente da referência
constitucional”. Essa afirmação, que está correta,
apareceu na seguinte prova: TRT 23ª Região, Banca
TRF 23R (MT), Juiz do Trabalho, 2011.
***** Nesse caso, a interpretação feita pelo
Presidente da CD, embora diga respeito ao
regimento interno, atinge a Constituição.
Assim, nesse caso, seria possível ao Poder
Judiciário, no mandado de segurança
impetrado pelo Parlamentar, analisar a
interpretação feita pelo Presidente da CD no
dispositivo do regimento interno.

5º) Em resumo, o Parlamentar poderá impetrar


mandado de segurança, com o objetivo de
participar de um processo legislativo que
respeite a Constituição. Dessa afirmação,
podemos extrair as seguintes consequências:
a)O Poder Judiciário não poderá imiscuir-se
em questões políticas, isto é, não poderá
analisar a constitucionalidade do projeto de
lei discutido. Ex.: no aludido mandado de
segurança, o STF não poderá, por exemplo,
dizer que a matéria em discussão é
inconstitucional. Esse debate compete ao
Poder Legislativo, durante a fase de
tramitação do projeto de lei. Entendimento em
sentido contrário violaria o princípio da
separação de poderes: é o Parlamento o palco
para a discussão sobre o projeto de lei.
* Por isso, o STF não pode fazer controle
preventivo material de constitucionalidade
sobre o projeto de lei ou a proposta de
emenda constitucional.
b) Em outras palavras, o Poder Judiciário, em
controle preventivo, no caso de mandado de
segurança impetrado por Parlamentar, não
poderá reconhecer a inconstitucionalidade da
matéria veiculada no projeto de lei ou em
proposta de emenda constitucional (PEC)
(inconstitucionalidade preventiva material ou
substancial do projeto de lei). Isso porque o
mérito do projeto de lei ou da PEC tem que ser
debatido no Parlamento, não é tema de
discussão para o Poder Judiciário. Caso
contrário, o Judiciário estará entrando em
matéria que é do Parlamento, violando o
princípio da separação de poderes.
. Além disso, só se pode dizer que a matéria
do projeto de lei ou da PEC violou a CF após o
projeto de lei ou a PEC serem aprovados pelo
Parlamento. Antes disso, o Parlamento não
estará praticando nenhuma
inconstitucionalidade. Por isso, não cabe
mandado de segurança, no controle preventivo
de constitucionalidade, quando o Parlamentar
busca o STF para averiguar se o projeto de lei
ou a PEC viole alguma matéria prevista na
CF/88.

. Isso foi muito bem expresso no brilhante


voto do Ministro MOREIRA ALVES (confira:
STF, Plenário, Mandado de Segurança nº
20257-2, Relator para o acórdão, Ministro
Moreira Alves, j. em 8.10.1980).
. A propósito, escreveu o Ministro MOREIRA
ALVES: “A inconstitucionalidade, nesse caso,
não será quanto ao processo da lei ou da
emenda, mas, ao contrário, será da própria lei
ou da própria emenda, razão por que só
poderá ser atacada depois da existência de
uma ou de outra”.

c) Isso significa que o Poder Judiciário, no


controle preventivo, não poderá suspender a
tramitação de um projeto de lei ou de uma
PEC, sob o argumento de que o projeto de lei
ou a PEC viola normas substanciais da
Constituição.
d) Há, portanto, que se atentar para o
seguinte:
d1) Se, na discussão e votação do projeto de
lei ou da PEC, o (a) Presidente (a) da Câmara
dos Deputados violar prerrogativa
constitucional do Parlamentar, o STF poderá
deferir o mandado de segurança. Esse
deferimento serve, apenas, para que o
Parlamentar tenha o direito de ver
asseguradas as prerrogativas parlamentares de
participar de um devido processo parlamentar
que respeita a CF/88.
d2) Mas, ínsito: o descumprimento que enseja
o mandado de segurança, nesse caso, é ao
devido processo constitucional parlamentar,
isto é, a uma espécie bem específica de
inconstitucionalidade formal, de
inconstitucionalidade procedimental.
d3) A inconstitucionalidade, no caso, não é
substancial, não é material, não diz respeito
ao conteúdo do projeto de lei ou da PEC, é,
apenas, procedimental (devido processo
constitucional parlamentar).
d4) De qualquer forma, nesse caso, o STF vai
deferir o MS apenas para que se respeite o
devido processo legal parlamentar. O STF não
poderá suspender a tramitação do processo
legislativo, para não impedir as discussões que
encontram como palco o Parlamento.
e) Porém, quando estivermos diante de uma
proposta de emenda constitucional (PEC) ou de
um projeto de lei que viole, flagrantemente,
cláusula pétrea da Constituição, aí, sim, no
mandado de segurança impetrado por
Parlamentar no controle de
constitucionalidade preventivo, poderá o STF
suspender e, mesmo, paralisar,
definitivamente, a tramitação dessa PEC ou
desse projeto de lei.

f) Isso porque, nessa última situação, em que a


PEC viola flagrantemente cláusula pétrea da
CF/88, a CF/88 confere um tratamento
específico a essa PEC.
g) Assim, nos termos do art. 60, §4º, da CF/88,
não será nem mesmo objeto de deliberação
parlamentar a proposta de emenda
constitucional que seja tendente a abolir as
cláusulas pétreas.

h) Assim, quando uma proposta de emenda


constitucional (ou um projeto de lei) seja
tendente a abolir cláusula pétrea, essa PEC (ou
esse projeto de lei) poderá ser suspensa ou,
mesmo, definitivamente paralisada, em
mandado de segurança proposto por
parlamentar no STF, em controle preventivo de
constitucionalidade.
i) Quando, portanto, a PEC (ou o projeto de
lei) viola cláusula pétrea, há uma regra
procedimental expressa na CF/88: essa PEC
não poderá ser objeto, nem mesmo, de
deliberação, isto é, de discussão e votação no
Parlamento (CF/88, art. 60, §4º).

j) Indiretamente, parece-me que o STF, nesse


caso, exerce um controle preventivo de
constitucionalidade sobre uma matéria, e não
sobre um procedimento constitucional.

l)Sobre matéria, porque o Parlamentar alega,


no mandado de segurança, violação a uma
daquelas matérias que constituem cláusula
pétrea.
m) Sabemos que as matérias que constituem
uma cláusula pétrea são as seguintes, segundo
o a r t . 6 0 , § 4 º , i n c i s o s I a I V , d a C F / 8 8 : I - a forma
federativa de Estado; II - o voto direto, secreto, universal e
periódico; III - a separação dos Poderes; IV - os direitos e
garantias individuais.

n) Porém, o controle preventivo exercido pelo STF, nesse


caso, diz, na verdade, respeito a um procedimento fixado na
CF/88, e não a uma regra material constitucional.

o) Isso porque, em havendo ofensa a uma cláusula pétrea, a


proposta de emenda constitucional não poderá ser nem
mesmo objeto de deliberação (discussão e votação), de
tramitação. O STF está, portanto, analisando uma regra
procedimental, uma regra de tramitação da PEC ou do projeto
de lei, e não, diretamente, a matéria contida nessa PEC ou
nesse PL.
p) Por isso, nesta hipótese bem específica, por
força de uma regra expressa na CF/88, poderá
o STF suspender ou, mesmo, paralisar a
tramitação de uma emenda constitucional. O
assunto não será nem mesmo objeto de
discussão e votação (deliberação) pelo
Parlamento.

q) No caso, a atuação do STF se dá, também,


no âmbito do processo legislativo
constitucional. Isso porque a PEC violadora de
cláusula pétrea não poderá ser objeto de
deliberação parlamentar.

r) Eis, portanto, uma modalidade bem


específica de controle de constitucionalidade
formal ou procedimental exercido pelo STF.
s) Trata-se de uma hipótese de controle
preventivo de constitucionalidade formal ou
procedimental exercido pelo STF. Não se pode
dizer que se trata de uma hipótese de controle
preventivo de constitucionalidade material ou
substancial.

t) Isso porque a atuação do STF se dá sobre o


processo legislativo constitucional, isto é,
sobre o procedimento de tramitação de uma
PEC ou de um projeto de lei. O STF suspende e,
até mesmo, paralisa qualquer discussão e
votação sobre a PEC (ou projeto de lei) que
viole, flagrantemente, cláusula pétrea da
Constituição.
=> Vejamos o que escreveu o Ministro
MOREIRA ALVES: “Aqui, a
inconstitucionalidade diz respeito ao próprio
andamento do processo legislativo, e isso
porque a Constituição não quer – em face da
gravidade dessas deliberações, se consumadas
– que sequer se chegue à deliberação,
proibindo-a taxativamente. A
inconstitucionalidade já existe antes de o
projeto ou de a proposta se transformar em lei
ou em emenda constitucional, porque o
próprio processamento já desrespeita,
frontalmente, a Constituição” (confira: STF,
Plenário, Mandado de Segurança nº 20257-2,
Relator para o acórdão, Ministro Moreira
Alves, j. em 8.10.1980).
6º) Podemos, a partir de agora, fazer uma
seguinte esquematização, no que se refere ao
controle preventivo de constitucionalidade
exercido pelo STF, quando o Parlamentar
impetra mandado de segurança durante a
tramitação de projeto de lei ou de emenda
constitucional.

7º) O STF pode deferir o mandado de


segurança e assegurar que o Parlamentar
participe de um processo legislativo que
respeite as normas constitucionais.
a) Nesse caso, o STF não decide que o projeto
de lei viola a CF/88.
b) O STF apenas determina que uma prerrogativa
constitucional parlamentar, exercida durante a tramitação
legislativa, está sendo violada – e que essa violação precisa
cessar.
c) Como o STF analisa apenas o devido processo
constitucional parlamentar, no particular aspecto das
prerrogativas parlamentares, temos, aí, um controle sobre o
procedimento legislativo. Logo, o controle de
constitucionalidade é formal, procedimental.
d) Assim, quando o STF julga um mandado de segurança
proposto por um parlamentar com o objetivo de assegurar a
este último a participação num processo legislativo que
observe a CF/88, temos, aí, um controle preventivo formal ou
procedimental de constitucionalidade exercido pelo STF.
e) Como há, apenas, um controle preventivo sobre a
observância das prerrogativas parlamentares previstas na
CF/88, o STF não poderá suspender a tramitação do projeto
de lei. A discussão e a votação do projeto de lei devem ser
realizadas no palco próprio – o Parlamento. A ingerência do
STF poderá implicar ofensa ao princípio da separação de
poderes.
8º) Vimos que o STF não pode verificar se o projeto de lei é
compatível com a CF/88. Porém, ainda no controle
preventivo, isto é, no mandado de segurança proposto por
Parlamentar, poderá o STF entender que uma proposta de
emenda constitucional (PEC) ou de projeto de lei viole
flagrantemente uma das cláusulas pétreas da CF/88.
a) Isso porque, nesse caso, há uma regra constitucional
expressa: a PEC que seja tendente a violar uma cláusula pétrea
não poderá nem mesmo ser objeto de deliberação, isto é, de
discussão e votação pelo Parlamento (CF/88, art. 60, §4º).
b) Aqui também o controle preventivo exercido pelo STF é
formal ou procedimental. Isso porque o STF manda observar
uma regra constitucional que diz respeito à tramitação de
uma PEC. Ou seja, temos, aí, um controle preventivo formal
ou procedimental de constitucionalidade exercido pelo STF.
c) Neste caso, como há regra constitucional que impede até
mesmo a deliberação da PEC, é possível que o STF suspenda
ou paralise a tramitação de projeto de emenda constitucional
que seja tendente a violar cláusula pétrea.
Controle Preventivo de Constitucionalidade exercido
pelo STF, em mandado de segurança impetrado por
Parlamentar
Controle preventivo Controle preventivo Controle preventivo
material de formal ou formal ou
constitucionalidade procedimental de procedimental de
sobre projeto de lei – constitucionalidade – constitucionalidade –
assegurar que os sobre PEC que viole
parlamentares flagrantemente
participem de um cláusula pétrea da
processo legislativo CF/88.
que respeite a CF/88.
NÃO SIM SIM

. STF não pode . Mas o STF não pode . STF pode suspender
decidir que o projeto suspender ou ou paralisar a
de lei contraria paralisar a tramitação tramitação da PEC ou
matérias previstas na do projeto de lei. de projeto de lei.
CF.
=> Observem, agora, o item B, da questão seguinte. A
primeira parte da afirmativa está incorreta; mas correta está a
segunda parte. Vejamos:

1º) Na primeira parte, a afirmativa B diz que Proposta de


Emenda Constitucional (PEC) pode, excepcionalmente,
suscitar controle preventivo material de constitucionalidade.

2º) Na segunda parte, a afirmativa diz que a PEC por ter a


tramitação suspensa por meio de mandado de segurança
impetrado por parlamentar, se a proposta for manifestamente
ofensiva à cláusula pétrea.
=> Quanto à primeira parte, a PEC pode, excepcionalmente,
suscitar controle preventivo formal ou procedimental de
constitucionalidade. E não controle preventivo material de
constitucionalidade.

=> Isso porque o STF, nesse caso, exerce um controle sobre o


processo de tramitação da PEC (ou, mesmo, de um projeto de
lei). É um controle de constitucionalidade sobre o processo
legislativo. Daí controle preventivo formal ou procedimental
de constitucionalidade.
Quanto à segunda parte, quando a PEC (e, também, um
projeto de lei), violar flagrantemente uma cláusula pétrea da
Constituição, é possível que o STF, em mandado de segurança
impetrado por parlamentar, suspenda ou paralise a
tramitação da PEC. Por isso, a segunda parte da questão está
correta.

 Vejamos a questão:
Ano: 2021 Banca: Unesc Órgão: PGM - Criciúma - SC Prova: Unesc - 2021 -
PGM - Criciúma - SC - Procurador do Município
“Por processo legislativo entende-se o conjunto de atos (iniciativa,
emenda, votação, sanção, veto) realizados pelos órgãos legislativos
visando a formação das leis constitucionais, complementares e ordinárias,
resoluções e decretos legislativos” (In: SILVA, José Afonso da. Curso de
Direito Constitucional Positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 2014, p. 528.
Grifos originais).
No que se refere ao processo legislativo e sua conformação no sistema
jurídico brasileiro, assinale a alternativa correta:

A) Constituição de 1988 atribui à Câmara dos Deputados a função de Casa iniciadora,


de modo que a discussão e votação dos projetos de lei deve ter início nessa Casa.

B)Proposta de Emenda à Constituição pode excepcionalmente suscitar


controle preventivo material de constitucionalidade e ter sua tramitação
suspensa por meio de mandado de segurança impetrado por parlamentar,
se a proposta for manifestamente ofensiva à clausula pétrea.
C)Se o Presidente da República considerar o projeto, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou
parcialmente, no prazo de quinze dias úteis, contados da data do
recebimento, e comunicará, dentro de quarenta e oito horas, ao
Presidente da Câmara de Deputados os motivos do veto.

D)O sistema brasileiro admite controle repressivo de constitucionalidade


pelo Poder Legislativo no caso das Medidas Provisórias e das Leis
Delegadas.

E)Se o Chefe do Executivo opuser veto a dispositivo de lei, com o qual


outros dispositivos não vetados expressamente tenham conexão ou
dependência, também a esses alcançará o veto, que será implícito ou
tácito, em função de sua conexão.

ALTERNATIVA CORRETA: D.
6.1.2. Controle Posterior ou Repressivo

 Controle de constitucionalidade posterior


ou repressivo: é o controle de
constitucionalidade exercido sobre a lei já
pronta, já acabada. Difere do controle prévio
ou preventivo, que atua sobre projeto de lei,
ou seja, sobre ato normativo cujo processo
legislativo ainda não se encerrou.

 Regra: o controle de constitucionalidade


posterior ou repressivo é realizado, em regra,
pelo Poder Judiciário. Em situações
excepcionais, é possível que o controle
posterior ou repressivo seja feito pelo Poder
Legislativo e pelo Poder Executivo:
 Controle de constitucionalidade
posterior ou repressivo feito pelo:

A)Poder Judiciário: é a regra no nosso sistema.


É o Poder Judiciário que, segundo a
Constituição Federal, realiza o controle
posterior ou repressivo de
constitucionalidade.
. Esse controle repressivo ou posterior pelo
Poder Judiciário pode ser feito de duas
maneiras:

1ª) Controle difuso: é o realizado por


todos (as) os integrantes do Poder
Judiciário (juízes e juízas, tribunais), no
caso concreto;

2ª) Controle concentrado: é o realizado por


um órgão específico, em abstrato, e não
julgando um caso concreto. Quem, em
geral, faz o controle concentrado é o STF e
os Tribunais de Justiça, nas ações de
controle concentrado, como as ADIs.
**Não podemos esquecer que o Poder
Judiciário, em um caso bem excepcional,
realiza o controle prévio ou preventivo de
constitucionalidade: quando o parlamentar
impetra, no STF, mandado de segurança, para
que seja assegurada a participação do
parlamentar em um processo legislativo que
observe a Constituição.

b) Pelo Poder Legislativo: é possível que o


Poder Legislativo realize o controle posterior
ou repressivo de constitucionalidade, nas
seguintes hipóteses:
1ª) Compete, exclusivamente, ao Congresso
Nacional sustar os atos do Poder Executivo
que exorbitem do poder regulamentar (CF/88,
art. 49, inciso V). Algumas ponderações:

. É de competência privativa do Presidente da


República expedir regulamentos ou decretos
para a fiel execução da lei (CF/88, art. 84,
inciso IV).

. Pode ocorrer de o Poder executivo, por meio


de decreto presidencial, exorbitar dos limites
traçados pela lei.
. Nesse caso, o Congresso Nacional, por meio
de decreto legislativo, susta (=suspender) o
ato do Poder Executivo que exorbitou dos
limites traçados pela lei.

. Estamos analisando o controle posterior ou


repressivo de constitucionalidade. No entanto,
no caso, o Presidente exorbita os limites da
lei. Tecnicamente, o correto é dizer que houve
um controle de legalidade, e não um controle
de constitucionalidade. De qualquer forma,
muitos admitem essa hipótese como
modalidade de controle repressivo ou
posterior de constitucionalidade exercido pelo
Poder Legislativo.
2ª) Compete, exclusivamente, ao Congresso
Nacional sustar os atos normativos do
Poder Executivo que exorbitem dos limites
de delegação legislativa. Algumas
ponderações:

. É de competência do Presidente da
República a elaboração de leis delegadas
(CF, art. 68, caput).

. Editar leis é função típica do Poder


Legislativo. Por isso, o Poder Executivo só
poderá editar lei delegada se receber essa
delegação do Congresso Nacional (CF, art.
68, caput).
. A delegação feita ao Presidente da
República, para a elaboração de lei delegada,
materializa-se mediante resolução do
Congresso Nacional (CF, art. 68, §2º).

. Essa resolução estabelecerá o conteúdo e os


termos do exercício da delegação legislativa
(CF , art. 68, §2º).

. É possível que o Presidente da República


extrapole os limites fixados pelo Congresso
Nacional na resolução do Congresso Nacional.
Nesse caso, o Congresso Nacional edita um
decreto legislativo. É esse decreto legislativo
que sustará a lei delegada que exorbitou dos
limites da delegação legislativa.
. Nota-se que os limites da delegação legislativa
traduzem matéria constitucional. Isso porque o
Poder Executivo acaba recebendo parcela da
função constitucional de legislar.

. Quando o Presidente da República exorbita dos


limites dessa delegação legislativa, ele está
desrespeitando a Constituição.

. Na medida em que o Congresso Nacional, por


meio de decreto legislativo, susta a lei delegada,
ele, Congresso Nacional, está realizando um
controle posterior ou repressivo de
constitucionalidade. Posterior, porque feito após a
elaboração da lei delegada.
3ª) Compete ao Congresso Nacional
rejeitar, por inconstitucionalidade, a
medida provisória. Algumas ponderações:

. É de competência do Presidente da
República a edição de medida provisória,
nos casos de relevância e urgência (CF, art.
62, caput).

. A medida provisória tem força de lei (CF,


art. 62, caput).
. Logo depois de editada pelo Presidente
da República, a medida provisória deve
ser, de imediato, submetida ao Congresso
Nacional (CF, art. 62, caput). Quando
recebe a medida provisória editada pelo
Presidente da República, o Congresso
Nacional verifica se esse ato normativo
obedece à Constituição.

. Nota-se que o controle de


constitucionalidade, no caso, é posterior
ou repressivo. Isso porque incide sobre
medida provisória já editada – pronta e
acabada.
c) Pelo Poder Executivo: o princípio da
supremacia da Constituição vincula todos
os Poderes, incluindo o Poder Executivo.

. Em razão disso, cabe ao Poder Executivo


realizar o controle posterior ou repressivo
de constitucional, ao menos quando o ato
normativo seja flagrantemente
inconstitucional.
. Antes da CF/88, o controle concentrado de
constitucionalidade foi inaugurado pela EC nº
16/65 à Constituição de 1946.

.No entanto, só o Procurador Geral da República


poderia deflagrar o processo de controle
concentrado, mediante o ajuizamento de ADI.

.Como o Presidente da República não podia acionar


o STF para que este afastasse os efeitos da lei
inconstitucional, o STF entendia que o Presidente
da República poderia deixar de obedecer a uma lei
inconstitucional.

.Em outras palavras, admitia-se um controle


posterior ou repressivo de constitucionalidade
pelo Presidente da República.
. Antes da CF/88, portanto, houve caso em que
o chefe do Poder Executivo baixou um decreto,
para que os subordinados não cumprissem uma
lei inconstitucional. O STF entendeu que esse
decreto do Poder Executivo respeitava a
Constituição (STF, Plenário, Rp 980/SP,
Relator Ministro Moreira Alves, j. 21.11.1979).

. Em outra ocasião, o STF entendeu que o


Poder Executivo não era obrigado a cumprir
leis que ele, Poder Executivo, considerasse
inconstitucionais (STF, Recurso de MS 13.950,
Relator Amaral Santos, j. 10.10.1968).
. E após a CF/88, continua sendo possível o
controle posterior ou repressivo de
constitucionalidade pelo Chefe do Poder
Executivo?

. Sim. Isso porque todos os Poderes –


incluindo o Poder Executivo – continuam
obrigados a respeitar a Constituição. Quem diz
isso é o princípio da supremacia da
Constituição. O fato de, hoje, o Presidente da
República e o Governador do Estado estarem
autorizados a ajuizar ADI não retira dessas
autoridades o dever de cumprir a Constituição.
Esse parece ser o entendimento do STF e do
STJ.
 STF: de maneira mais tímida, o STF tem
admitido, após a CF/88, que, pelo menos, o Chefe
do Poder Executivo determine, aos órgãos
subordinados, a não aplicação administrativa de
leis ou atos normativos inconstitucionais: “O
controle de constitucionalidade da lei ou dos atos
normativos é da competência exclusiva do Poder
Judiciário. Os Poderes Executivo e Legislativo, por
sua chefia – e isso mesmo tem sido questionado
com o alargamento da legitimação ativa na ação
direta de inconstitucionalidade -, podem tão só
determinar aos seus órgãos subordinados que
deixem de aplicar administrativamente as leis ou
atos com força de lei que considerem
inconstitucionais” (STF, ADI 221-MC/DF, Relator
Ministro Moreira Alves, DJ de 22.10.1993).
 STJ: foi claro em admitir o
controle posterior ou repressivo
pelo Poder Executivo. Isso porque
o S T J e n t e nd e u q u e o Po d er
Executivo tem o dever de negar
e x e c uç ã o a a t o n o r m a t i v o q u e ,
aos olhos do Executivo, pareça
i n c o n s t i t u c i o n a l ( ST J , 1 ª T u r m a ,
Resp 23121/GO, Relator Ministro
Humberto Gomes de Barros, j. em
6.10.1993).
 Órgãos administrativos de controle exercem
controle de constitucionalidade (Tribunal de
Contas da União, CNJ e CNMP)?: NÃO. O tema
comporta algumas explicações:

1ª) A Súmula nº 347 do STF leva-nos a crer que o


Tribunal de Contas da União (TCU) realiza controle
de constitucionalidade: “O Tribunal de Contas, no
exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do Poder
Público”.

2ª) Contudo, prevalece, atualmente, no STF que os


órgãos administrativos de controle (TCU, CNJ,
CNMP) não exercem controle de
constitucionalidade. Isso porque esses órgãos não
realizam função jurisdicional.
3ª) Pergunta-se: suponhamos que o
Tribunal de um determinado Estado
contrate servidores, sem a realização de
concurso público. Essa contratação (ato
administrativo) se baseia em uma lei
inconstitucional, que dispensou a
realização de concurso público. O Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) poderá
suspender essa contratação? Fazendo isso,
o CNJ não estaria declarando a
inconstitucionalidade da lei na qual se
baseou o ato administrativo de
contratação?
4ª) Em primeiro lugar, está na competência
do CNJ suspender o ato administrativo
(contratação) que se baseou em uma lei
inconstitucional. Isso, porém, não é
controle de constitucionalidade.

5ª) É preciso esclarecer a diferença entre


declaração de inconstitucionalidade de lei
e a não aplicação de um ato administrativo
baseado em lei inconstitucional. No
primeiro caso, há controle de
constitucionalidade. No segundo caso,
porém, há, apenas o exercício de uma
atividade de controle administrativo.
6ª)Os órgãos de controle administrativo
podem, portanto, determinar a não
aplicação de atos administrativos
fundados em leis inconstitucionais. Isso
faz parte da atividade administrativa
desses órgãos. Eles não podem, apenas,
declarar a inconstitucionalidade da lei
na qual se baseou o ato administrativo
objeto de controle administrativo.
7ª) Em termos mais visíveis, ao fazer o
controle administrativo citado, os órgãos de
controle não invalidam a lei. A lei
inconstitucional continua produzindo outros
efeitos. O que fazem os órgãos de controle,
apenas, é a não aplicação dos efeitos da lei
para tão somente aquele caso objeto de
controle administrativo. Se o órgão de
controle fizesse controle de
constitucionalidade – pelo menos o controle
de constitucionalidade concentrado – a lei
deixaria de ser aplicada ao caso objeto de
análise e, também, a outros casos. Não é o que
ocorre.
8ª)Caso concreto ocorrido no Tribunal de Justiça
do Estado da Paraíba: o TJPA editou um ato
administrativo, nomeando 100 assistentes, sem a
realização de concurso público. Esse ato
administrativo baseou-se em lei estadual
inconstitucional, já que violadora da regra de
investidura por concurso público (CF/88, art. 37,
II). O CNJ afastou a validade do ato administrativo
de contratação, o qual se baseava na lei
inconstitucional. Segundo o STF, não houve
declaração de inconstitucionalidade, pelo CNJ, de
lei estadual ou do ato administrativo de
contratação. O que fez o CNJ foi determinar que o
TJPA suspendesse o ato administrativo de
contratação baseado em lei inconstitucional (STF,
Plenário, Pet 4.656, Relatora Ministra Carmen
Lúcia, julgamento no dia 4.12.2017).
**CUIDADO: Em regra, os órgãos de controle
administrativo (TCs, CNJ, CNMP) não podem
realizar controle de constitucionalidade. Isso
porque esses órgãos realizam função
administrativa, e não função judicial. Só
órgãos com funções judiciais realizam controle
de constitucionalidade (juízes e juízas,
tribunais).

. Porém, quando a inconstitucionalidade já foi


reconhecida pacificamente no Supremo
Tribunal Federal, os órgãos administrativos
poderão efetuar o controle de
constitucionalidade. Nesse caso, o órgão de
controle administrativo poderá admitir a
inconstitucionalidade já reconhecida
pacificamente pelo STF:
. Nesse sentido: “(...)2. No caso, a deliberação
do CNJ se pautou essencialmente na
ilegalidade do ato do Tribunal local (por
dissonância entre os 60 dias de férias e o
Estatuto dos Servidores do Estado de Minas
Gerais). Quanto à fundamentação adicional de
inconstitucionalidade, o Supremo tem
admitido sua utilização pelo Conselho quando
a matéria já se encontra pacificada na Corte,
como é o caso das férias coletivas (...)” (STF,
2ª Turma, MS 26739/DF, Relator Ministro DIAS
TOFFOLI, julgamento em 1/3/2016).
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE (MOMENTO)
CONTROLE POSTERIOR OU
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – QUANTO AO
CONTROLE PRÉVIO OU PREVENTIVO REPRESSIVO
MOMENTO
PODER LEGISLATIVO PODER JUDICIÁRIO
(CCJs) (regra)
controle difuso e controle concentrado

PODER EXECUTIVO PODER LEGISLATIVO


(Veto Jurídico) (exceção)
Competência exclusiva do Congresso Nacional
– sustar os atos do Poder Executivo que
exorbitem: a) do poder regulamentar; b) dos
limites da delegação legislativa ; c) rejeitar
Medida Provisória inconstitucional
PODER JUDICIÁRIO PODER EXECUTIVO
(Parlamentares – processo legislativo hígido – (exceção)
controle difuso) Sobre leis inconstitucionais
ÓRGÃOS ADMINISTRATIVOS (TCs, CNJ,
CNMP)
(Não)
6.2. Controle de constitucionalidade quanto ao
órgão exercente (controle político,
jurisdicional e híbrido)

 O controle de constitucionalidade se subdivide


em:

a) Controle político: é o controle de


constitucionalidade exercido por órgão distinto
dos 3 Poderes. Isso acontece, por exemplo, na
França, cuja Constituição de 1958 estabeleceu que
o Conselho Constitucional é composto de 9
Conselheiros, escolhidos pelo Presidente da
República e pelo Parlamento. Os ex-Presidentes da
República participam como membros natos nesse
Conselho Constitucional Francês.
* Há quem sustente – como é o caso de José Afonso da
Silva – que o controle de constitucionalidade político é
aquele exercido por um órgão de natureza política. Esse
órgão pode ser, inclusive, o Poder Legislativo ou o
Poder Executivo.
** Se adotarmos essa conceituação, pode-se dizer que,
excepcionalmente, é possível o controle de
constitucionalidade político – embora controle prévio
ou preventivo, e não controle posterior ou repressivo.
Em dois casos: a) quando o Presidente da República veta
projeto de lei, com base na inconstitucionalidade; b)
quando o Poder Legislativo, por meio da Comissão de
Constituição e Justiça, rejeita projeto de lei tido como
inconstitucional.
*** Ainda considerando que o controle político é aquele
exercido por qualquer órgão político, é possível
conceber o controle político repressivo ou posterior de
constitucionalidade no Brasil. Esse controle é feito pelo
Poder Legislativo e pelo Poder Executivo e tem por
objeto lei pronta e já acabada. Veremos isso ainda neste
tópico.
b) Controle jurisdicional: é o controle de
constitucionalidade feito pelo Poder Judiciário. É
a regra no Brasil.
. No Brasil, o controle jurisdicional de
constitucionalidade é misto, podendo, portanto,
ser: 1) concentrado: é o realizado por um único
órgão. Ex.: STF e TJs, nos controles abstratos,
como é o caso das ADIs; 2) difuso: é o realizado
por qualquer juiz ou tribunal.
•O controle jurisdicional difuso de
constitucionalidade pode ser feito por qualquer
juíza ou juiz e por qualquer tribunal. Mesmo um
magistrado em estágio probatório, ou uma juíza
titular de uma Vara do Juizado Especial poderão
realizar referido controle.
*** No Brasil, a regra é a do controle
jurisdicional de constitucionalidade repressivo
ou posterior, isto é, sobre lei já acabada.
Excepcionalmente, admite-se o controle
jurisdicional prévio ou preventivo: mandado
de segurança impetrado por parlamentar, com
objetivo de participar de processo legislativo
que respeite a Constituição.

c) Controle híbrido: é aquele em que, para


algumas normas, aplica-se o controle político,
e, para outras normas, o controle
jurisdicional. Não existe no Brasil.
B r a s i l – sistema de controle de
constitucionalidade, quanto ao órgão
exercente:

1ª) O Brasil adota, em regra, o sistema de


controle jurisdicional de constitucionalidade.
Em geral, o controle jurisdicional de
constitucionalidade atua sobre lei já pronta,
acabada (controle posterior ou repressivo).
Porém, admite-se, excepcionalmente, o
controle jurisdicional prévio de
constitucionalidade: quando o parlamentar
impetra, no STF, mandado de segurança, com o
objetivo de participar de um processo
legislativo que respeite a Constituição.
2ª) Por exceção, o Brasil adota o sistema de
controle político de constitucionalidade. Isso
ocorre, se admitirmos que o controle político é
aquele controle de constitucionalidade exercido
por qualquer órgão político, incluindo o Poder
Legislativo e o Poder Executivo. Seguindo essa
conceituação, pode-se afirmar que,
excepcionalmente, o Brasil admite o controle
político, nas seguintes situações:

a)Controle político de constitucionalidade prévio


ou preventivo: a1) exercido pelo Poder Executivo,
ao vetar projeto de lei tido por inconstitucional;
a2) exercido pelo Poder Legislativo, nas Comissões
de Constituição e Justiça.
b) Controle político de constitucionalidade
posterior ou repressivo:
b1) exercido exclusivamente pelo Congresso
Nacional, em 3 situações: b1.1) quando susta os
atos do Poder Executivo que exorbitem do poder
regulamentar; b1.2) quando susta os atos
normativos do Poder Executivo que exorbitem dos
limites da delegação legislativa; b1.3) quando
rejeita, por inconstitucionalidade, uma medida
provisória.
b2) exercido pelo Poder Executivo, quando deixa
de cumprir uma lei inconstitucional.
** Importante: para quem sustenta que o controle
de constitucionalidade político é o exercido por
órgão político distinto dos Poderes do Estado,
pode-se dizer que o Brasil não adota o controle
político de constitucionalidade.
*** Já, para quem sustenta que o controle
de constitucionalidade político é o
exercido por órgão político ainda que
componente dos Poderes do Estado, é
possível conceber o controle político de
constitucionalidade no Brasil. O controle,
nesse caso, é feito, embora de forma
excepcional, pelo Legislativo e pelo
Executivo, conforme já vimos.
Controle de constitucionalidade quanto ao órgão exercente
(Brasil)
Controle jurisdicional Controle político Controle
(REGRA) (EXCEÇÃO) híbrido
1º) Prévio ou preventivo: 1º) Prévio ou preventivo: (NÃO)
mandado de segurança a) Poder Executivo: veto jurídico;
impetrado, por parlamentar, b) Poder Legislativo: CCJs.
no STF, para a participação em
um processo legislativo que 2º) Posterior ou repressivo: é o
respeite a Constituição. realizado pelo Congresso Nacional,
quando:
2º) Posterior ou repressivo: é a)Susta ato do Poder Executivo que
considerado misto, porque exorbite do poder regulamentar;
realizado por dois meios: b)Susta ato do Poder Executivo que
a)Controle difuso: todos (as) exorbite dos limites da delegação
os (as) juízes (as) e tribunais; legislativa;
b)Controle concentrado: c)Rejeita medida provisória
concentra-se em só órgão (em inconstitucional.
geral, TJs e STF).
7. Tópicos especiais relacionados ao
Controle de Constitucionalidade

7.1. Controle jurisdicional de


constitucionalidade sobre os fatos
legislativos e as prognoses legislativas

. Dada a importância que o controle de


constitucionalidade exerce para os direitos
fundamentais, não basta ao Poder Judiciário
proceder a um simples exame de compatibilidade
entre os atos normativos e a Constituição.

. Para verificar se uma lei é compatível com a


Constituição, é preciso, muitas vezes, aprofundar-
se sobre dados da realidade.
. “Não podemos que deixar que a frieza
dos textos da lei apague a humanidade dos
nossos corações” (Fernando Antônio de
Lima, “Direitos Humanos e Sentimentos em
Pequenas Frases”, livro ainda não
publicado).

. “A ciência, como parte do mundo, não


pode ser um mundo à parte” (Fernando
Antônio de Lima, “Direitos Humanos e
Sentimentos em Pequenas Frases”, livro
ainda não publicado).
. Por isso, modernamente, entende-se que não
basta aplicarmos ao Direito o raciocínio dedutivo
(método lógico-jurídico): não basta observar a lei
como premissa maior, apanhar abstratamente o
fato (premissa menor) e aplicar a conclusão legal.

. Fazendo a conexão entre Controle de


Constitucionalidade e Hermenêutica
Constitucional, temos, por exemplo, o método
tópico de interpretação constitucional: em vez de
partirmos da lei abstrata, devemos partir do
problema situado na realidade. A partir dos dados
do problema e da realidade, construímos,
argumentativamente, o raciocínio jurídico-
constitucional, a partir de certos padrões baseados
na justiça, recolhida do ordenamento jurídico.
. Partimos, portanto, do problema, recolhendo
os dados fáticos e sociais do problema. A
partir daí, verificamos a moldura jurídica, ou
seja, o ordenamento jurídico propriamente
dito e verificamos como o ordenamento
jurídico se aplica ao referido problema.

. No método dedutivo-lógico, do positivismo


jurídico, o raciocínio é inverso: o intérprete
parte da lei geral, abstrata, adapta a lei geral
abstrata ao problema e extrai, daí, a
conclusão. A lei sufoca o problema!
. Notem que, para o positivismo jurídico, a
Constituição é apenas um sistema de normas
jurídicas que estão no ápice, no ponto mais
alto do ordenamento jurídico.

. Por isso, norma é, apenas, a lei ou a


Constituição positivada pelo Estado. Fatos
históricos, sociais, o problema em si, tudo isso
é ignorado pela Ciência do Direito.

. Basta, ao positivismo jurídico, em termos de


controle de constitucionalidade, olhar para a
Constituição e ver se a lei se adapta à
Constituição. Nem é preciso mergulhar-se nas
peculiaridades do problema concreto, nem na
realidade.
. O método tópico dá um grande passo para
superar o positivismo. Esse método inovador
permite que o intérprete parta do problema,
do caso concreto, com toda a riqueza que
possa existir nesse caso concreto. A partir daí,
o intérprete extrai as disposições da lei e da
Constituição que são aplicáveis.

. Basta, ao positivismo jurídico, em termos de


controle de constitucionalidade, olhar para a
Constituição e ver se a lei se adapta à
Constituição. Nem é preciso mergulhar-se nas
peculiaridades do problema concreto, nem na
realidade.
. Outro método de interpretação
constitucional, que também não menospreza a
realidade social, é o método normativo-
estruturante.

. Segundo o método normativo estruturante,


há uma relação indissociável entre o texto e a
realidade, entre aquilo que está escrito no
texto normativo e os fatos que o texto
normativo procura regular.

. Assim, o intérprete, além de interpretar o


texto normativo, concretiza a norma
constitucional.
. Portanto, a interpretação de texto normativo
é, também, concretização da norma
constitucional.

. Portanto, para o método normativo-


estruturante, é preciso levar em conta:

a) Programa normativo: o intérprete leva em


conta os elementos presentes no texto
normativo.

b) Domínio normativo: a interpretação deve


levar em conta os elementos recolhidos da
realidade.
. O idealizador do método normativo-
estruturante é Friedrich Müller.

. Segundo esse jurista alemão, o texto


normativo é, apenas, a ponta do iceberg. Isso
porque a norma não é apenas o texto
normativo, mas, também, um pedaço da
realidade social.

. O método normativo-estruturante é
concretista. Isso porque a norma não se
confunde com texto normativo. Norma é uma
união, uma junção entre o texto e a realidade.
O intérprete deve, por isso, levar em conta os
dados da realidade, para concretizar o texto
normativo na realidade.
. Confira-se: CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de
Direito Constitucional. Salvador: JusPodivm,
2008.

. Portanto, a norma é o conjunto formado pelo


texto normativo e pela realidade social.

. Quando, então, falamos em controle de


constitucionalidade, não podemos, apenas,
confrontar a lei e a Constituição. É preciso
observar os dados extraídos da realidade.
. Portanto, a norma é o conjunto formado pelo
texto normativo e pela realidade social.

. Essa afirmação é importantíssima para


compreendermos o tema “Controle de
Constitucionalidade sobre os Fatos
Legislativos e as Prognoses Legislativas”.

. É muito comum que o legislador leve em


conta dados da realidade ao aprovar uma lei.
Ex.: a lei estabelece que fica liberado o uso do
amianto no Brasil, porque o amianto não faz
mal à saúde humana. Pode o Poder Judiciário
julgar inconstitucional essa lei, baseando-se
em dados científicos que revelam o extremo
malefício desse produto à saúde?
. Surge, então, a seguinte pergunta: o Poder
Judiciário pode controlar a
constitucionalidade dos fatos legislativos e
das prognoses legislativas adotados pelo
Legislador na tomada de decisão, isto é, na
aprovação de uma lei?

. Às vezes, fatos legislativos e prognoses


legislativos, escolhidos pelo legislador
ordinário, descumprem a Constituição. O Poder
Judiciário pode julgar a inconstitucionalidade
de uma lei que utilizou falsos fatos
legislativos, falsas prognoses legislativas?
. Vamos aclarar os institutos:

a)Fatos legislativos: são dados fáticos que o


legislador leva em conta para a edição de uma
lei.

. Pode ocorrer de o Poder Legislativo levar em


conta, de forma incorreta, alguns fatos, que
motivaram a aprovação de uma lei. Se esse
erro implicar violação a normas
constitucionais, o Poder Judiciário poderá
efetuar o controle de constitucionalidade da
lei respectiva.
. Suponhamos que uma lei permita que as
pessoas usem determinado medicamento para
o tratamento da Covid-19. A ciência, porém,
demonstra que esse medicamento, além de não
ter eficácia nesse tratamento, provoca danos à
saúde dos usuários.

. O STF, então, declara a inconstitucionalidade


dessa lei, por desrespeito ao direito
fundamental à saúde.

. O Poder Judiciário, nesse caso, descartou os


dados fáticos erroneamente adotados pelo
Poder Legislador e, por consequência,
declarou a inconstitucionalidade da lei.
. Nota-se que, para declarar a
inconstitucionalidade, o Poder Judiciário
buscou subsídios na realidade, na ciência,
desconsiderando os fatos que o Poder
Legislativo levou em conta para a aprovação
de uma lei.

. A aferição dos fatos legislativos pelo Poder


Judiciário, portanto, configura parte
fundamental do controle de
constitucionalidade (MENDES, Gilmar Ferreira;
BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Constitucional, pág. 1259. 16ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2021).
. ) Prognoses legislativas: o legislador faz uma
b
previsão, a qual motiva a aprovação da lei. Se
essa previsão for incorreta e violar normas
constitucionais, o Poder Judiciário poderá
desconsiderar a previsão e declarar
inconstitucional a lei respectiva. Exemplos:

1º) Tribunal Constitucional Alemão: Lei do


Estado da Baviera condicionou a instalação de
novas farmácias a uma aprovação especial pela
autoridade administrativa
. Prognose legislativa: a lei previa que a
instalação indiscriminada de novas farmácias
poderia implicar a venda indiscriminada de
medicamentos. Isso prejudicaria a saúde da
população. Daí que a instalação de novas
farmácias passaria a depender de uma especial
. O Tribunal Constitucional observou que, em
outros países com semelhante padrão de
civilização ao da Alemanha, a liberdade de
instalação de farmácias não produziu ameaça à
saúde.

. Houve, então, um erro de prognóstico, de


previsão legislativa, que violou o direito
fundamental à liberdade de exercício
profissional estabelecida na Lei Fundamental
alemã.
. º) STF: Estatuto do Desarmamento (Lei nº
2
10.826/2003) aumento da idade de 21 para 25
anos para adquirir arma de fogo:

. A prognose legislativa foi baseada em


estatísticas apresentadas pelo próprio
Congresso Nacional. Segundo essas
estatísticas, a violência por meio de armas de
fogo atinge, principalmente, homens com até
24 anos de idade.

. Logo, a política de desarmamento baseou-se


em prognose legislativa correta.

. Por isso, o STF entendeu que, no ponto, o


Estatuto do Desarmamento não viola a
Constituição.
. Referido julgamento do STF se deu na ADI
3.112, Relator Ministro RICARDO
LEWANDOWSKI.
7.2 Estado de coisas inconstitucional

 Estado de coisas inconstitucional: é uma violação


massiva e persistente de direitos fundamentais,
decorrente de falhas estruturais e falência de políticas
públicas sobre um determinado assunto (STF, ADPF 347,
Relator Ministro Marco Aurélio, j. em 9.9.2015). O STF
entendeu que o sistema penitenciário nacional
caracteriza-se como um estado de coisas
inconstitucional.

. Diante disso, o STF determinou o seguinte: a) a


liberação das verbas do Fundo Penitenciário Nacional;
b) a obrigação de todos os juízes e tribunais a
realizarem, em até 90 dias, audiências de custódia, para
viabilizar o comparecimento do preso perante a
autoridade judiciária no prazo máximo de 24 horas
contado do momento da prisão (art. 9.3 do Pacto dos
Direitos Civis e Políticos e art. 7.5 da Convenção
Interamericana de Direitos Humanos).
7.3. Inconstitucionalidade circunstancial

=> Inconstitucionalidade circunstancial: a lei


ou o ato normativo são constitucionais para a
maioria das situações, mas inconstitucionais
para situações específicas.

. Exemplo: segundo o STF (ADI 223), as leis


que proíbem liminares e tutelas antecipadas
contra a Fazenda Pública são:
a) Regra: constitucionais (maioria das
situações). Ex.: liminar para promover o
reenquadramento de servidor público. A
proibição legal dessa liminar não viola a
Constituição.
a)Exceção: inconstitucionais, em situações
específicas. Ex.: as leis que proíbem a
concessão de liminares são, em regra,
constitucionais. Porém, se aplicadas em
situações excepcionais, graves, essas leis são
inconstitucionais. Ex.: proibição legal para o
caso em que a pessoa precisa de que o Poder
Público custeie uma cirurgia de urgência ou
um medicamento importante para a saúde.

* Assim, as leis que proíbem a concessão de


liminares contra o Poder Público são
constitucionais. Contudo, para situações
específicas, essas leis são inconstitucionais,
isto é, não podem proibir a concessão de
liminares contra o Poder Público.
7.4. Derrotabilidade das normas jurídicas

. Derrotabilidade (“defeasibility”) das normas


jurídicas: é o fenômeno mediante o qual uma
norma legal, perfeitamente válida, deixa de
ser aplicada em uma situação bem concreta.

. Cláusula de exceção ou tipo “a menos que”:


nenhuma norma consegue alcançar todos os
fatos da vida. Por isso, toda norma possui uma
cláusula de exceção ou um tipo chamado “a
menos que”. Isso significa que,
excepcionalmente, a norma não será aplicada
para aquela situação não prevista
exaustivamente pela norma.
. Por isso se diz derrotabilidade da norma:
situações em que a norma não é aplicada, isto
é, casos nos quais a norma sai derrotada ou
superada.

. A norma continua válida, aplicável à maioria


dos casos. Apenas em situações bem
excepcionais é que a norma não se aplica.

. A teoria da derrotabilidade das normas


jurídicas apresenta-se de várias maneiras:

a) Quando se deixa de aplicar uma norma


jurídica a uma situação concreta, sem se
cogitar do fenômeno da inconstitucionalidade.
b) Quando a norma é válida, constitucional,
para a maioria das situações, mas inválida,
inconstitucional, no caso de situações
específicas. Aí temos o fenômeno, já
analisado, da inconstitucionalidade
circunstancial.

. Autor da teoria da derrotabilidade das


normas jurídicas: Herbert Hart, artigo “The
Ascription of Responsability and Rights”
(1948).
=> Derrotabilidade da norma jurídica –
precedente do SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA – Estupro de vulnerável:
PENAL E PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO
RECURSO ESPECIAL. 1. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. RESP
REPETITIVO 1.480.881/PI E SÚMULA 593/STJ.
PARTICULARIDADES DO CASO CONCRETO. NECESSIDADE
DE DISTINÇÃO. 2. ART. 217-A DO CP. SIMPLES
PRESUNÇÃO DE IMPOSSIBILIDADE DE CONSENTIR.
CRITÉRIO MERAMENTE ETÁRIO. RESPONSABILIDADE
PENAL SUBJETIVA. NECESSIDADE DE COMPATIBILIZAÇÃO.
3. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE MATERIAL. INEXISTÊNCIA DE
RELEVÂNCIA SOCIAL. FORMAÇÃO DE NÚCLEO FAMILIAR
COM FILHO. HIPÓTESE DE DISTINGUISING. 4.
CONDENAÇÃO QUE REVELA SUBVERSÃO DO DIREITO
PENAL. COLISÃO DIRETA COM O PRINCÍPIO DA
DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. PREVALÊNCIA DO
JUSTO. 5. DERROTABILIDADE DA NORMA. POSSIBILIDADE
EXCEPCIONAL E PONTUAL. PRECEDENTES DO STF.
6. AUSÊNCIA DE ADEQUAÇÃO E NECESSIDADE.
INCIDÊNCIA DA NORMA QUE SE REVELA MAIS GRAVOSA.
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE AUSENTES. 7.
PRETENSÃO ACUSATÓRIA CONTRÁRIA AOS ANSEIOS DA
VÍTIMA. VITIMIZAÇÃO SECUNDÁRIA. DESESTRUTURAÇÃO
DE ENTIDADE FAMILIAR. OFENSA MAIOR À DIGNIDADE
DA VÍTIMA. 8. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS.
NECESSIDADE DE PONDERAÇÃO. INTERVENÇÃO NA NOVA
UNIDADE FAMILIAR. SITUAÇÃO MUITO MAIS
PREJUDICIAL QUE A CONDUTA EM SI. 9. EXISTÊNCIA DE
UNIÃO ESTÁVEL COM FILHO. ABSOLUTA PROTEÇÃO DA
FAMÍLIA E DO MENOR. ABSOLVIÇÃO PENAL QUE SE
IMPÕE. ATIPICIDADE MATERIAL RECONHECIDA. 10.
AGRAVO REGIMENTAL A QUE SE NEGA PROVIMENTO.
1. A hipótese trazida nos presentes autos apresenta
particularidades que impedem a simples subsunção da
conduta narrada ao tipo penal incriminador, motivo
pelo qual não incide igualmente a orientação firmada
pelo Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do
Recurso Especial Repetitivo n. 1.480.881/PI e no
enunciado sumular n. 593/STJ.
2. Atualmente, o estupro de vulnerável não traz em sua
descrição qualquer tipo de ameaça ou violência, ainda
que presumida, mas apenas a presunção de que o menor
de 14 anos não tem capacidade para consentir com o ato
sexual. Assim, para tipificar o delito em tela, basta ser
menor de 14 anos. Diante do referido contexto legal, se
faz imperativo, sob pena de violação da
responsabilidade penal subjetiva, analisar detidamente
as particularidades do caso concreto, pela perspectiva
não apenas do autor mas também da vítima.
3. Um exame acurado das nuances do caso concreto
revela que a conduta imputada, embora formalmente
típica, não constitui infração penal, haja vista a
ausência de relevância social e de efetiva vulneração ao
bem jurídico tutelado. De fato, trata-se de dois jovens
namorados, cujo relacionamento foi aprovado pelos pais
da vítima, sobrevindo um filho e a efetiva constituição
de núcleo familiar. Verifica-se, portanto,
particularidades que impedem o julgamento uniforme no
caso concreto, sendo necessário proceder ao
distinguishing ou distinção.
4. A condenação de um jovem de 20 anos, que não
oferece nenhum risco à sociedade, ao cumprimento de
uma pena de 14 anos de reclusão, revela uma completa
subversão do direito penal, em afronta aos princípios
fundamentais mais basilares, em rota de colisão direta
com o princípio da dignidade humana. Dessa forma,
estando a aplicação literal da lei na contramão da
justiça, imperativa a prevalência do que é justo,
utilizando-se as outras técnicas e formas legítimas de
interpretação (hermenêutica constitucional).
5. O Supremo Tribunal Federal, por mais de uma vez, já
deixou de aplicar um tipo penal ao caso concreto, nos
denominados hard cases, se valendo da teoria da
derrotabilidade do enunciado normativo, a qual trata da
possibilidade de se afastar a aplicação de uma norma,
de forma excepcional e pontual, em hipóteses de
relevância do caso concreto (HC 124.306/RJ, Rel. Min.
Roberto Barroso, julgado em 9/8/2016, DJe 16/3/2017).
6. Ademais, a incidência da norma penal, na presente
hipótese, não se revela adequada nem necessária, além
de não ser justa, porquanto sua incidência trará
violação muito mais gravosa de direitos que a conduta
que se busca apenar. Dessa forma, a aplicação da norma
penal na situação dos autos não ultrapassa nenhum dos
crivos dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade.
7. Destaco, ainda, conforme recentemente firmado pela
Quinta Turma, que não se mostra coerente impor à
vítima uma vitimização secundária pelo aparato estatal
sancionador, ao deixar de considerar "seus anseios e
sua dignidade enquanto pessoa humana". A manutenção
da pena privativa de liberdade do recorrente, em
processo no qual a pretensão do órgão acusador se
revela contrária aos anseios da própria vítima, acabaria
por deixar a jovem e o filho de ambos desamparados
não apenas materialmente mas também emocionalmente,
desestruturando entidade familiar constitucionalmente
protegida.
(REsp 1524494/RN e AREsp 1555030/GO, Rel. Min.
Ribeiro Dantas, julgado em 18/5/2021, DJe 21/5/2021).
8. Se por um lado a CF consagra a proteção da criança e
do adolescente quanto à sua dignidade e respeito (art.
227), não fez diferente quando também estabeleceu que
a família é a base da sociedade, e que deve ter a
proteção do Estado, reconhecendo a união estável como
entidade familiar (art. 226, § 3°). Antes, ainda
proclamou a dignidade da pessoa humana como um dos
fundamentos do Estado Democrático de Direito (1º, III)
e o caminho da sociedade livre, justa e fraterna como
objetivo central da República (preâmbulo e art. 3º, III).
Assim, proclamar uma censura penal no cenário fático
esquadrejado nestes autos é intervir, inadvertidamente,
na nova unidade familiar de forma muito mais
prejudicial do que se pensa sobre a relevância do
relacionamento e da relação sexual prematura entre
vítima e recorrente.
9. Há outros aspectos, na situação em foco, que afastam
a ocorrência da objetividade jurídica do art. 217-A do
CP. Refiro-me não só à continuidade da união estável
mas também ao nascimento do filho do casal. E a partir
disso, um novo bem jurídico também merece atenção:
a absoluta proteção da criança e do adolescente (no
7.5. Inconstitucionalidade progressiva ou
lei ainda constitucional ou declaração de
constitucionalidade de norma em trânsito
para a inconstitucionalidade

. Conceito: é o fenômeno mediante o qual um


ato normativo é, momentaneamente, declarado
constitucional, porém caminhando para a
inconstitucionalidade, a qual será reconhecida
quando surgirem novas circunstâncias fáticas.

. Assim, no momento atual, o ato normativo é


constitucional. Porém, circunstâncias futuras,
que poderão surgir, tornarão inconstitucional
o ato normativo.
. Inconstitucionalidade progressiva, porque
gradativamente o ato normativo, que hoje é
constitucional, vai-se tornando
inconstitucional.

. Declaração de constitucionalidade de norma


em trânsito para a inconstitucionalidade,
porque: a) há uma declaração de
constitucionalidade do ato normativo; b)
porém, esse ato normativo, declarado
constitucional, está “transitando”, está
“caminhando” para a inconstitucionalidade.
=> 2 situações de inconstitucionalidade
progressiva:

a) Prazo em dobro no processo penal em favor


da Defensoria Pública: A Defensoria Pública
conta com prazo processual em dobro, nos
termos do que dispõe o art. 5º, §5º, da Lei nº
1.060/1950. No processo civil, esse prazo
diferenciado não sofre questionamento,
porque essa prerrogativa é prevista também
para o Ministério Público e para a Fazenda
Pública.

. O problema surge no processo penal: o


Ministério Público não conta com prazo em
prazo. Logo, o prazo em dobro para os
Defensores Públicos quebraria a isonomia.
. Assim, a previsão legal de prazo em dobro
para a Defensoria Pública, no processo penal,
viola o princípio da isonomia. Isso porque o
Ministério Público não conta com essa mesma
prerrogativa processual no processo penal.

. Porém, a Defensoria Pública, no processo


penal, não conta com a mesma organização
que o Ministério Público. Há muitas Comarcas,
pelo Brasil, em que não temos, ainda,
Defensoria Pública instalada.
. Daí que, enquanto a Defensoria Pública, nos
Estados, não alcançar a mesma organização do
Ministério Público, o dispositivo legal que
prevê o prazo em dobro para a Defensoria é
constitucional.

. Porém, quando a Defensoria Pública alcançar,


nos Estados, o mesmo nível de organização do
Ministério Público, o dispositivo legal que
prevê o prazo em dobro será, no processo
penal, considerado inconstitucional.

. Portanto, dispositivo legal que prevê o prazo


em dobro para a Defensoria é, no processo
penal, constitucional, mas em trânsito para a
inconstitucionalidade.
. Portanto, dispositivo legal que prevê o prazo
em dobro para a Defensoria é, no processo
penal, constitucional, mas em trânsito para a
inconstitucionalidade (inconstitucionalidade
progressiva).
. A propósito, “não é de ser reconhecida a
inconstitucionalidade do §5º do art. 1º da Lei
n. 1.060, de 05.02.1950, acrescentado pela Lei
n. 7.871, de 08.11.1989, no ponto em que
confere prazo em dobro, para recurso, às
Defensorias Públicas, ao menos até que sua
organização, nos Estados, alcance o nível de
organização do respectivo Ministério Público,
que é a parte adversa, como órgão de
acusação, no processo penal da ação penal
pública (...)” (STF, HC 70.514, julgado em
23.3.1994).
b) Ação civil “ex delicto” ajuizado pelo
Ministério Público, em favor de vítima pobre:
ação civil “ex delicto” é a ação ajuizada na
esfera cível, para obter a reparação econômica
decorrente de um dano (moral ou material)
reconhecido na esfera penal.

. Nos termos do art. 68 do Código de Processo


Penal, “quando o titular do direito à reparação
for pobre (art. 32, §§1º e 2º), a execução de
sentença (art. 93) ou a ação civil (art. 64) será
promovida, a seu requerimento, pelo
Ministério Público”.

. Portanto, o Ministério Público pode ajuizar


ação civil “ex delicto” em favor de pessoa
pobre.
. Porém, essa função de promover ação civil
“ex delicto” em favor das vítimas pobres não
cabe, na atual ordem constitucional, ao
Ministério Público, mas, sim, à Defensoria
Pública. Pelos seguintes motivos:

a)Cabe à Defensoria Pública promover a defesa


das pessoas necessitadas (CF/88, art. 134,
caput).

b)O Ministério Público poderá exercer outras


funções, desde que essas funções sejam
compatíveis com a finalidade dessa instituição
(CF/88, art. 129, inciso IX).
. Não obstante a Defensoria Pública tenha
como função a defesa das pessoas
necessitadas, o dispositivo legal (art. 68 do
CPP) ainda se encontra recepcionado pela
CF/88. Isso porque, após a promulgação da
CF/88, a Defensoria Pública ainda não foi
instalada efetivamente, pelos seguintes
motivos:

a)Apenas após a Reforma do Judiciário (EC nº


45/2004) a Defensoria Pública Estadual passou
a contar com autonomia funcional e
administrativa.
b) A Defensoria Pública do DF só passou a ter
autonomia após a EC n. 69/2012, porque,
antes, esse ramo da Defensoria era organizado
e mantido pelo União.

c) A Defensoria Pública da União passou a ter


autonomia apenas após a EC n. 74/2013,
conforme se vê do atual art. 134, §3º, da
CF/88.

d) Apenas com a EC n. 80/2014 é que se fixou


prazo para a instalação efetiva da Defensoria
Pública, conforme se pode observar do atual
art. 98 do ADCT.
. Devido à não instalação efetiva da Defensoria
Pública, o dispositivo legal que autoriza o
Ministério Público a ajuizar “ação civil ex
delicto” em favor de pessoas pobres foi
recepcionado pela CF/88.

. Portanto, o art. 68 do CPP é um dispositivo


legal recepcionado pela CF/88, mas em
trânsito para a não recepção (não-recepção
progressiva).

* A hipótese não é de inconstitucionalidade


progressiva. Isso porque só se fala em
inconstitucionalidade, quando o ato normativo
questionado for posterior à CF/88. O CPP é
anterior à CF/88.
. Interessante notar que, nesse julgamento, o
STF explicou que a jurisdição constitucional
ortodoxa só admite uma solução radical: ou a
constitucionalidade plena ou a declaração de
inconstitucionalidade com eficácia “ex tunc”
(retroativa).

. Porém, entendeu o STF, é preciso


compreender que uma ordem constitucional
não se concretiza da noite pro dia. Por isso, é
preciso, em determinadas hipóteses, que
existam outras alternativas, além das duas já
apontadas (constitucionalidade plena/
declaração de inconstitucionalidade com
eficácia “ex tunc”).
. De qualquer forma, o STF entendeu que o art.
68 do CPP é um dispositivo legal
constitucional, mas em trânsito para a
inconstitucionalidade (inconstitucionalidade
progressiva). Tanto é verdade que, ao aludir
ao referido dispositivo legal, o STF falou em
processo de inconstitucionalização das leis
(STF, 1ª Turma, RE 147.776/SP, Relator
Ministro Sepúlveda Pertence).

. Assim, enquanto não instalada


adequadamente a Defensoria Pública, o
Ministério Público poderá promover “ação
civil ex delicto em favor de pessoas pobres.
. Assim, é possível considerar situações nas
quais um dispositivo legal possa ser tido, no
atual momento, como constitucional. No
entanto, o surgimento de novas circunstâncias
pode vir a transformar referido dispositivo
legal em um dispositivo inconstitucional.

. Se decretássemos a constitucionalidade pura


e simples, novas circunstâncias não
conduziriam a uma futura
inconstitucionalidade do dispositivo.

. Se decretássemos a inconstitucionalidade
pura e simples, pessoas pobres, sem ainda uma
assistência plena da Defensoria Pública, não
conseguiriam a reparação econômica
decorrente da infração penal.
7.6. Inconstitucionalidade “chapada”,
“enlouquecida”, “desvairada”

. Conceito: é a inconstitucionalidade evidente,


manifesta, clara, flagrante, em que não há
dúvida alguma sobre o vício (formal ou
material) de inconstitucionalidade.

. Essa expressão sempre aparece nos julgados


do Supremo Tribunal Federal.
Bons Estudos!

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