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INTENSIVO I

Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 1

ROTEIRO DE AULA

Tema: Constitucionalismo

PROGRAMA DA DISCIPLINA – INTENSIVO I

1) Teoria da constituição:
1.1) Constitucionalismo (histórico da evolução do Direito Constitucional);
1.2) Poder Constituinte (espécies, limites, titularidade, natureza, entre outros);
1.3) Constituição (histórico das constituições brasileiras e classificações);
1.4) Hermenêutica constitucional (dogmáticas alemã e estadunidense);
1.5) Normas constitucionais;
1.6) Controle de constitucionalidade (teoria e direito constitucional positivo);
1.7) Teoria dos direitos fundamentais (temas relacionados aos direitos fundamentais no tocante à base teórica –
Os direitos fundamentais em espécie serão estudados no Curso Intensivo II).

PROGRAMA DA DISCIPLINA – INTENSIVO II

2) Direito constitucional positivo:


2.1) Direitos fundamentais em espécie;
2.2) Organização do Estado;
2.3) Organização dos poderes;
2.4) Medidas excepcionais (estado de defesa e estado de sítio).

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II. MATERIAL DE ESTUDO

O professor destaca que, para os alunos estudarem de forma correta, eles precisam se atentar para o fato de que as aulas
e os livros (doutrinas) não se excluem, mas se complementam. Os concursos mais complexos exigem a leitura de
doutrinas, assim sendo, o aluno não deve se contentar apenas com as aulas.

Aula: (Objetivos)
1) Selecionar a informação – Diante da quantidade de informações disponíveis na atualidade, é necessário selecioná-las.
➢ O professor destaca que Norberto Bobbio dizia o seguinte: “Quando se quer chegar mais rapidamente à meta, os
meios são dois: ou encurtar a estrada ou aumentar o passo."
• Cada um possui o seu próprio ritmo de estudo e, portanto, o “apressar dos passos” é individual.
• “Encurtar a estrada” é função dos professores do curso, já que todos trabalham para que os alunos não
percam tempo com informações irrelevantes.

2) Organizar temas e ideias – Muitas vezes, é muito difícil entender e/ou fixar alguns temas constantes nos livros. Assim,
na aula, as ideias são organizadas e exemplificadas, de modo a auxiliar os alunos. Entretanto, o aluno deve tomar cuidado
com aulas gratuitas disponibilizadas na rede mundial de computadores, pois algumas delas expõem o Direito de maneira
muito simplificada e até equivocada.

3) Destacar as informações mais relevantes – Esse objetivo tem a intenção de evitar que o aluno perca tempo em sua
trajetória de aprovação.

Livros:
1) Aprofundar nos temas – Em uma prova dissertativa, o conhecimento trazido pelos livros é insuperável, pois é ele que
possibilita o desenvolvimento de um raciocínio jurídico pelo aluno.

2) Desenvolver o raciocínio jurídico – O livro faz o aluno refletir e desenvolver um raciocínio que será necessário para uma
prova prática.

Em suma: aulas e livros são complementares (não se excluem).

➢ NOVELINO, Marcelo – Curso de Direito Constitucional. Ed. Juspodivm. 16ª edição (2021).

Material a ser utilizado na preparação:


1) Anotações de aula – As anotações das aulas não são transcrições literais. Elas trazem o conteúdo essencial para que o
aluno possa revisar a matéria estudada.

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2) Livro – O ideal é que o aluno conjugue a aula e a leitura de livros.
✓ Obs.: Existem estudos indicando que a fixação mais eficaz ocorre quando a pessoa faz uma revisão entre 24h a
48h depois de ter estudado determinado tema. Assim sendo, o ideal é que o aluno revise as matérias estudadas,
lendo o respectivo capítulo do livro, no período de até 48h.
3) Leitura do texto constitucional – A leitura do texto constitucional é imprescindível e deve ser realizada pelo aluno tanto
para a atividade jurídica quanto para a aprovação em concursos públicos.
4) Informativos - A leitura dos informativos do STF é extremamente importante para que o aluno se mantenha atualizado.
✓ Os informativos são semanais e devem ser acompanhados pelos alunos.
✓ O professor sugere que o aluno tenha um cronograma que facilite o estudo de cada um desses materiais.
5) Exercícios – Segundo as pesquisas científicas, a realização de exercícios é um dos métodos mais eficientes de
memorização.
✓ Obs.: Outra forma eficiente para a memorização é o estudo intercalado das disciplinas.
✓ É importante lembrar que o G7 Jurídico oferece, semanalmente, simulados relativos aos temas abordados.

III. DÚVIDAS
- Fórum.
✓ No site do G7 Jurídico, há um fórum em que os alunos interagem e podem tirar dúvidas.

IV. REDES SOCIAIS


- Instagram: MarceloNovelino;
- Twitter: @Mnovelino;

CONSTITUCIONALISMO

O constitucionalismo descreve a evolução histórica do Direito Constitucional ao longo do tempo. Tal evolução auxilia a
compreensão do momento presente.

✓ Obs.: O professor ressalta que, durante a abordagem desse tema, vários aspectos serão mencionados de forma
superficial, pois eles serão trabalhados detalhadamente no decorrer deste curso.

1. Definição:
O Constitucionalismo tem dois sentidos: amplo e restrito.

1.1. Sentido amplo:

O constitucionalismo em sentido amplo está relacionado à existência de uma constituição no Estado.

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O que organiza o Estado é a constituição, seja ela escrita ou não escrita. Assim, todo o Estado possui uma constituição e,
dessa forma, esse sentido não é muito utilizado na doutrina.
✓ Não existe Estado sem Constituição, pois é ela quem cria/institui o Estado.
✓ A maioria da doutrina, quando fala em constitucionalismo, faz referência ao constitucionalismo em sentido
estrito.

1.2. Sentido estrito:

No sentido estrito, o constitucionalismo está ligado a duas ideias:


a) garantia de direitos fundamentais dos indivíduos em face do Estado; e
b) limitação de poder: é uma das ideias centrais do constitucionalismo, pois se contrapõe ao absolutismo.

✓ O constitucionalismo surge em contraposição ao absolutismo, tendo a função de limitar o poder absoluto do


soberano de modo a garantir os direitos fundamentais.

✓ A história do constitucionalismo “não é senão a busca pelo homem político das limitações do poder absoluto
exercido pelos detentores do poder, assim como o esforço de estabelecer uma justificação espiritual, moral ou
ética da autoridade, em vez da submissão cega à facilidade da autoridade existente.” (Karl Loewenstein).

2) Evolução histórica
Compreende 3 etapas:

2.1) Constitucionalismo antigo (Antiguidade => Século XVIII);

O Constitucionalismo Antigo abrange o período da Antiguidade até o fim do século XVIII.

Obs.: No fim do século XVIII, surgem as revoluções liberais, que dão origem às primeiras constituições escritas, pois, até
então, as constituições eram todas consuetudinárias.

✓ No fim do século XVIII, com o surgimento das constituições escritas, surge o constitucionalismo moderno.

2.2) Constitucionalismo moderno (Século XVIII => 2ª Guerra Mundial);

A partir das as revoluções liberais, são criadas as primeiras constituições escritas. Até então, as constituições eram
baseadas apenas nos costumes.

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O Constitucionalismo Moderno vai do século XVIII até o fim da Segunda Guerra Mundial.

2.3) Constitucionalismo contemporâneo (fim da 2ª Guerra Mundial em diante): alguns autores denominam essa fase de
“neoconstitucionalismo”.

2.1) Constitucionalismo antigo


Esse período é caracterizado pela ausência de constituições escritas. As constituições desse período eram baseadas nos
costumes e a maioria delas não limitava o poder do soberano. Entretanto, neste período, houve algumas experiências
consideradas constitucionais e isso ocorre porque estava presente nelas a ideia de limitação do poder para a garantia de
direitos.

2.1.1) Estado hebreu


A primeira experiência constitucional de que se tem notícia foi a do Estado hebreu, o qual era um Estado teocrático (com
forte influência da religião).

No Estado hebreu, os dogmas religiosos serviam como limites aos súditos e ao poder político do soberano.

2.1.2) Grécia
Durante dois séculos, a Grécia foi um Estado político plenamente constitucional.
A Grécia adotou a mais avançada forma de governo, qual seja, a democracia constitucional.

2.1.3) Roma
A experiência grega foi, posteriormente, reproduzida em Roma.

✓ Os conceitos de “principado” e de “res publica” surgiram em Roma.

2.1.4) Inglaterra: Magna Charta (1215); Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights (1689), Act of
Settlement (1701).

Na Inglaterra, embora não existisse uma constituição escrita, vários documentos foram feitos ao longo do tempo e,
posteriormente, foram incorporados à constituição inglesa:
a) Magna Charta (1215): outorgada pelo rei João Sem-Terra, como fruto de um acordo entre o rei e os súditos;
b) Petition of Rights (1628): firmado entre o parlamento e o rei Carlos I;
c) Habeas Corpus Act (1679);
d) Bill of Rights (1689); e
e) Act of Settlement (1701).

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✓ Todos esses documentos fazem parte da Constituição Inglesa, a qual é formada por costumes, por precedentes
judiciais e por documentos escritos.
✓ Recentemente, no ano 2000, um novo documento escrito foi incorporado à Constituição Inglesa: Human Rights
Act.

2.2) Constitucionalismo moderno

O professor destaca que alguns livros (Exemplo: livro de Canotilho) nem mencionam o constitucionalismo antigo. Isso
ocorre porque apenas no constitucionalismo moderno surgiram as primeiras constituições escritas.

O constitucionalismo moderno surge no final do século XVIII, com as revoluções liberais, e vai até a Segunda Guerra
Mundial.
É importante destacar que nesse período houve o surgimento das primeiras constituições escritas, rígidas e dotadas de
supremacia.

2.2.1) Primeira fase

- Constituições liberais:
O professor explica que as revoluções liberais tinham como principal mote a liberdade dos indivíduos. Isso ocorreu porque
a França e os EUA (dentre outros países) viviam sob a égide de um poder absoluto e autoritário. Diante disso, a ideia das
revoluções liberais era que o Estado interviesse o mínimo possível nas liberdades individuais. Nessa toada, a liberdade
dos indivíduos era assegurada por meio da não intervenção estatal, daí vem o nome de revoluções liberais.

✓ As revoluções liberais pregavam, sobretudo, uma proteção à liberdade e à propriedade contra a ingerência do
Estado.

Nessa fase, é importante destacar a experiência estadunidense e a experiência francesa.

a) Experiência estadunidense:
É importante lembrar que a tradição norte-americana trouxe duas ideias centrais: supremacia da constituição e garantia
jurisdicional.
✓ É na constituição que se encontra a delimitação do poder e, por esse motivo, ela é suprema, pois ela estabelece
as regras do jogo político. Assim sendo, ela deve estar acima dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
✓ A garantia jurisdicional da constituição advém da maior neutralidade do Poder Judiciário em comparação aos
demais poderes.

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Contribuições da Constituição Estadunidense

1) Primeira constituição escrita, rígida e dotada de supremacia.

✓ A primeira constituição escrita é de 1787.

Observações:
• Rigidez é a maior dificuldade no processo de modificação das normas.
• Supremacia se refere ao fato de a constituição estar acima das demais normas do ordenamento jurídico.

2) Controle de constitucionalidade
A primeira consequência da supremacia da constituição é a necessidade de criar mecanismos de controle de forma que a
supremacia seja assegurada.

Nos EUA, surgiu o controle de constitucionalidade.


✓ Em 1803, este controle surgiu para assegurar a supremacia da constituição, com a decisão proferida pelo juiz John
Marshall sobre o caso Marbury versus Madison.
✓ Nessa decisão, surgiram as bases teóricas do controle de constitucionalidade.
✓ Até hoje, nos EUA, não há previsão legal nem constitucional para o controle de constitucionalidade. Trata-se de
criação jurisprudencial.
✓ O controle de constitucionalidade que surgiu no direito norte-americano é o chamado “controle difuso”, que é
aquele que é aberto a todo o Poder judiciário, ou seja, qualquer juiz ou tribunal pode exercê-lo.

3) Sistema presidencialista de governo


O sistema presidencialista surgiu, nos EUA, como uma forma de suprir a ausência do monarca. Assim, a figura do
“Presidente da República” é criada em substituição à figura do monarca.

4) Forma federativa de Estado


A forma federativa de Estado não foi criada nos EUA, mas foi neste Estado que ela ganhou projeção mundial.

b) Experiência francesa:

Obs.: O professor destaca que, apesar de a constituição francesa ter trazido contribuições importantes, a contribuição
norte-americana foi bem mais relevante.
✓ Na França, até 2010, havia a ideia de supremacia do Parlamento (e não da constituição). Além disso, não havia
controle de constitucionalidade repressivo na França, o qual apenas surgiu em março de 2010.

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A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) já trazia as ideias centrais do constitucionalismo:
limitação do poder e garantia dos direitos.

“DUDHC/1789, art. 16: “Toda sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separação
dos poderes, não possui Constituição.”

Uma constituição deve limitar o poder e assegurar direitos. Do contrário, ela será constituição em sentido amplo (constitui
o Estado), mas não será legítima/propriamente dita.

Contribuições da Constituição Francesa

1) Constituição prolixa:
O primeiro grande destaque a ser mencionado aqui é o fato de a Constituição Francesa ser prolixa, algo que não era
comum na época.
✓ A constituição norte-americana, ao contrário, é bastante sintética, pois apenas estabelece os princípios gerais das
matérias tipicamente constitucionais (direitos fundamentais, organização do Estado e organização dos Poderes).
✓ As constituições francesas, por sua vez, sempre foram prolixas/analíticas/regulamentares. Neste caso, a
constituição esmiúça determinados assuntos.
Obs.: A segunda constituição francesa (1793) possuía mais de 490 dispositivos.

2) Distinção entre Poder Constituinte Originário e Derivado (Emmanuel Joseph Sieyès):

✓ Poder Constituinte Originário é aquele que cria uma nova constituição.


✓ Poder Constituinte Derivado é aquele que modifica a constituição.

O principal teórico do Poder Constituinte é o abade Emmanuel Joseph Sieyès.

A Teoria do Poder Constituinte fazia uma distinção entre o Primeiro Estado (nobreza), o Segundo Estado (clero) e o
Terceiro Estado (povo).
✓ O abade Emmanuel Joseph Sieyès possui uma obra intitulada “O que é o Terceiro Estado?”, em que ele afirma
que o verdadeiro titular do Poder Constituinte Originário é a nação, embora esse poder, muitas vezes, seja
usurpado por uma minoria.

Estado de Direito (Estado liberal)


Durante o Constitucionalismo moderno, houve a consagração de um modelo específico de Estado, chamado de Estado de
Direito ou Estado Liberal de Direito, o qual tem como precedente a ideia de império da lei.

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Na Idade Média, já existia o rule of law na Inglaterra. Na Prússia, no século XVIII, havia o Rechtsstaat (Estado de Direito).
Entretanto, foi na França, com o État Légal, que houve a primeira institucionalização coerente do Estado de Direito.

✓ Atenção: O Estado de Direito consagrado na França não se confunde com o Estado constitucional consagrado
hodiernamente. O État du Droit corresponde ao Verfassungsstaat - Estado Constitucional (Alemanha).

Características do Estado Liberal de Direito:


1) Abstencionista:
O Estado que não intervém nas relações econômicas, sociais e laborais.
O Estado, portanto, não intervém na esfera de liberdade do indivíduo, limitando-se à defesa da ordem e da segurança
pública. O domínio econômico e o domínio social ficam restritos à esfera dos particulares.

2) Direitos fundamentais = direitos da burguesia:


Os direitos fundamentais consagrados na constituição da época correspondiam, basicamente, aos direitos da burguesia,
os quais eram relativos ao direito à vida, à igualdade (formal), à liberdade e à propriedade. Assim sendo, tais direitos eram
assegurados às classes inferiores apenas no aspecto formal, sem preocupação efetiva com o aspecto material.

3) Limitação do soberano:
A limitação do Estado se estende, inclusive, ao soberano.
✓ Com o Estado de Direito, não há ninguém que não esteja submetido às normas jurídicas.

4) Princípio da legalidade:
O princípio da legalidade é um marco do Estado de Direito, pois ele simboliza a ideia de “império da lei”.

✓ A Administração Pública passa a ser compreendida como atividade submetida à lei.

Gerações de Direitos Fundamentais

As gerações (dimensões) de direitos fundamentais surgiram a partir de uma palestra ministrada por Karel Vasak. Naquela
ocasião, ele resolveu associar o lema da Revolução Francesa (“Liberdade, igualdade, fraternidade”) com as gerações de
direitos fundamentais (1ª a 3ª gerações).
Posteriormente, Norberto Bobbio deu projeção a essa classificação na obra “A Era dos Direitos”.

No Brasil, o professor Paulo Bonavides trata desse tema e acrescenta novas gerações às anteriores, além de alterar
classificações dadas por Karel Vasak (Exemplo: o direito à paz era, inicialmente, de 3ª geração. Entretanto, Paulo
Bonavides a inseriu como direito de 5ª geração/dimensão).

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Obs.: O professor destaca que a ideia de gerações de direitos fundamentais é bastante criticada pela doutrina. Alguns
autores defendem que elas não possuem um rigor histórico, ou seja, elas não surgiram exatamente em determinadas
épocas. Exemplo disso é o direito à vida, que está presente em todas as gerações.
O professor ressalta que muitas pessoas preferem utilizar a expressão “dimensão” em vez de “geração”, pois esta
expressão dá a ideia de que uma geração substitui a outra, já a dimensão dá ideia de abrangência.
Outros afirmam ainda que a ideia de gerações fragmenta os direitos fundamentais.

Direitos Fundamentais de 1ª geração


• Valor: dentro do lema da Revolução Francesa, a 1ª geração está ligada à liberdade (religiosa, de pensamento, de
locomoção etc.). Esses direitos são chamados de direitos civis e políticos.
• Direitos:
o Direitos civis são relativos à defesa do indivíduo contra o arbítrio do Estado. São direitos de caráter
negativo, pois exigem uma abstenção do Estado (exemplos: direito à vida, à liberdade, à propriedade, à
igualdade formal).
o Direitos políticos são os direitos de participação do indivíduo na vida política do Estado.

2.2.2) Segunda fase

Com a Primeira Guerra Mundial, a crise econômica e social foi muito agravada. Diante disso, foi possível perceber a
impotência do liberalismo frente às demandas sociais da época. A partir disso, surge um novo modelo de constituição e
de Estado.

A segunda fase se caracteriza pela criação de constituições sociais.


As experiências que inauguraram o constitucionalismo social foram a constituição mexicana e a constituição de Weimar.

• Constituições sociais:
➢ Constituição mexicana/1917 – Foi a primeira constituição social.
➢ Constituição de Weimar/1919 – Trata-se de constituição alemã feita em Weimar.

As constituições sociais se caracterizam por criar um modelo de Estado que não é abstencionista, mas sim
intervencionista, ou seja, um Estado que participa ativamente das relações sociais como prestador de serviço, intervém
nas relações laborais (com estabelecimento de normas protetivas) e nas relações econômicas. Trata-se de um modelo de
constituição que cria o chamado Estado social.

Estado social

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Estado social é o resultado de uma transformação estrutural do Estado liberal. Ele busca superar a dicotomia entre a
igualdade política e a desigualdade social existente.

A principal diferença entre o Estado social e o Estado socialista é que aquele adere ao capitalismo e este não.
✓ Variados sistemas adotaram o Estado social, inclusive sistemas autoritários (exemplo: Alemanha nazista, Itália
fascista etc.). Isso, contudo, não significa que haja relação entre o estado social e o autoritarismo.

Características do Estado social:

1) Intervencionista: o Estado social abandona a postura abstencionista e intervém no âmbito social, econômico e laboral.
2) Papel decisivo na produção e distribuição de bens: o Estado participa do processo de produção e de distribuição de
bens.
3) Garantia de bem-estar social mínimo: o Estado social tenta garantir prestações essenciais para as pessoas que delas
necessitam.
No Brasil, um exemplo de medida que visa à garantia do bem-estar social é o benefício de prestação continuada da Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS), fornecido a pessoas idosas ou deficientes, que não tenham como se sustentar
nem possam ser sustentadas pelas respectivas famílias, quando a renda per capita é inferior a ¼ do salário-mínimo (nos
termos da lei) ou a ½ do salário-mínimo (valor atual).

Direitos Fundamentais de 2ª geração


Na segunda fase do constitucionalismo moderno, são consagrados novos direitos fundamentais nos textos
constitucionais.
• Valor: dentro do lema da Revolução Francesa, a 2ª geração está ligada ao valor “igualdade”. Não se trata de
igualdade formal, mas de igualdade material.
A igualdade material exige do Estado não apenas uma abstenção (não discriminar), mas exige uma atuação do
Estado no sentido de reduzir as desigualdades existentes.
• Direitos: os direitos de segunda geração são chamados direitos sociais, econômicos e culturais. Esses direitos são
prestacionais, ou seja, têm um caráter positivo, pois exigem uma atuação dos Poderes públicos (exemplo:
construção de escolas, fornecimento de merenda etc.). As prestações podem ser materiais e/ou jurídicas.
• Garantias institucionais: essas garantias são conferidas a determinadas instituições consideradas importantes
para a sociedade (exemplos: imprensa livre, funcionalismo público, família etc.).

2.3) Constitucionalismo contemporâneo

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge o constitucionalismo contemporâneo, o qual persiste até os dias atuais.

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✓ Alguns autores chamam essa fase de neoconstitucionalismo.
✓ Esse novo constitucionalismo é um amálgama da experiência estadunidense e da experiencia francesa. Assim, as
características que serão apontadas a seguir são comuns a esses dois ordenamentos jurídicos.

2.3.1) Características:

a) Força normativa da constituição:

Após a Segunda Guerra Mundial, houve o reconhecimento definitivo de que a constituição é uma norma jurídica e deve
ser respeitada. Até então, as declarações de direitos contidas nas constituições eram vistas na Europa como documentos
essencialmente políticos, não sendo vinculantes (sobretudo para o legislador).

✓ O professor destaca que o legislador era visto, naquela época, como um amigo dos direitos fundamentais.
✓ Os direitos fundamentais não eram oponíveis ao Poder Legislativo. Nesse período, havia as chamadas “normas
programáticas, as quais veiculavam meros conselhos/exortações morais. Tais normas programáticas estavam
consagradas, sobretudo, entre os direitos fundamentais.
✓ Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia de que a constituição tem dispositivos desprovidos de
normatividade ficou completamente superada. Assim sendo, no constitucionalismo contemporâneo, as
declarações de direitos passaram a ser oponíveis a todos os poderes públicos, inclusive ao Poder Legislativo.
✓ Atualmente, entende-se que as constituições possuem normas-princípios e normas-regras, sendo que ambas são
espécies das normas jurídicas (são vinculantes).
✓ Obs.: Na CF/1988, a única parte que não possui normas jurídicas é o preâmbulo. Prevalece o entendimento de
que o preâmbulo não tem caráter normativo, ou seja, não é norma e apenas auxilia na interpretação
constitucional.

b) Rematerialização dos textos constitucionais:

É uma característica das constituições modernas o fato de serem extensas, analíticas e regulamentares.
✓ Os textos constitucionais não se restringem aos princípios gerais. Isso ocorre porque a maioria das constituições
modernas foram criadas após um período de autoritarismo, assim, a intenção foi tentar proteger os direitos de
maneira mais abrangente.
✓ Exemplo: a CF/1988 possui vários dispositivos que consagram questões não constitucionais. Um exemplo disso é
que ela, até bem pouco tempo, estabelecia os juros máximos de 12% ao ano. Outro exemplo se refere ao fato de
haver um dispositivo que preceitua que o Colégio Pedro II será mantido na órbita federal.
✓ O professor destaca que a tendência é que as próximas constituições, se se manter o período de normalidade
democrática, sejam mais sucintas do que as atuais, pois a prolixidade acaba engessando a política. Exemplo:

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dentre as mais de 100 emendas feitas à CF/1988, grande parte delas não trata de questões propriamente
constitucionais.

c) Fortalecimento do Poder Judiciário:

O Poder Judiciário passou a ter um grande protagonismo a partir das constituições contemporâneas, principalmente em
razão do reconhecimento da força normativa da constituição.

A ideia de garantia jurisdicional da constituição é advinda do direito norte-americano, pois, quando a constituição tem a
sua força normativa reconhecida, ela precisa de um mecanismo de controle e isso é feito pelo Poder Judiciário.
✓ O Poder Judiciário acaba sendo fortalecido porque ele, muitas vezes, confere à constituição o sentido que ele
julga ser o mais conveniente, sobrepondo-se aos demais Poderes, originando o chamado “protagonismo judicial”,
o qual, segundo o professor, não é algo desejável.
✓ A partir disso, surge a chamada “judicialização das relações políticas e sociais”.
✓ A judicialização das relações políticas e sociais refere-se ao fato de que questões, anteriormente restritas ao
âmbito político e social, hoje são levadas ao Poder Judiciário. Isso decorre, em parte, pela ampliação da
legitimidade ativa nas ações de controle de constitucionalidade e, em parte, pelo maior acesso ao Poder Judiciário
e pela gratuidade da justiça.

d) Dignidade da pessoa humana => Centralidade da Constituição e dos direitos fundamentais:

A Centralidade da Constituição e dos direitos fundamentais está relacionada à importância que a dignidade da pessoa
humana passou a ter nos ordenamentos jurídicos contemporâneos.

✓ A dignidade da pessoa humana é considerada por parte da doutrina como o núcleo axiológico das constituições.

As atrocidades praticadas durante a Segunda Guerra Mundial levaram à percepção de que era necessário que as
Constituições consagrassem, com o seu núcleo, a dignidade da pessoa humana. Constituições anteriores à Segunda
Guerra Mundial dificilmente consagravam a dignidade da pessoa humana.

✓ A Constituição alemã de 1949, em seu art. 1º, preceituava que a dignidade da pessoa humana é inviolável.
✓ O professor ressalta que, na época do nazismo, a Alemanha tinha as leis mais avançadas do mundo sobre
experimentos com seres humanos. Nesta época, os seres humanos eram classificados em seres de 1º e de 2º
grau. Assim, ciganos, homossexuais, judeus (entre outros) eram considerados de 2º grau e as leis alemãs não se
aplicavam a eles. Dessa forma, eles eram submetidos a experiências horríveis.
✓ A dignidade da pessoa humana surge para afastar qualquer tipo de hierarquização entre indivíduos, os quais
devem ser tratados sempre como fins em si mesmos, e nunca como meios para que outros fins sejam atingidos

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– sobretudo fins do Estado. A dignidade da pessoa humana passou a ser o núcleo axiológico das constituições.

Juntamente com a dignidade da pessoa humana, surge também a ideia de centralidade da constituição e dos direitos
fundamentais.

O professor Paulo Bonavides tem uma frase que sintetiza a evolução da sociedade: “ontem, os códigos; hoje, as
constituições”.
✓ Na época do Direito Romano, os códigos eram os principais instrumentos legislativos. No Direito Contemporâneo,
as constituições ocupam o cume do ordenamento jurídico.

A centralidade da constituição e dos demais direitos fundamentais dá origem ao fenômeno da Constitucionalização do


Direito.

✓ A constitucionalização do direito é um reflexo da centralidade da constituição dentro do ordenamento jurídico.

✓ A ideia de constitucionalização do direito surge no direito alemão com a constituição 1949.

A constitucionalização do direito possui três aspectos fundamentais:

a) Consagração constitucional de normas de outros ramos do direito nas constituições:


Essa talvez seja a face mais evidente da Constituição Federal de 1988. O texto constitucional não tem apenas as matérias
clássicas do Direito Constitucional, mas também normas sobre Direito Administrativo, Direito Tributário, Direito
Previdenciário etc. Assim, outros ramos do direito encontram seus princípios básicos na Constituição.

b) Interpretação das leis conforme a Constituição (“filtragem constitucional”):


A interpretação das leis infraconstitucionais deve ser feita sempre à luz da Constituição, pois esta é o fundamento de
validade das leis.
✓ Através da filtragem constitucional, faz-se uma interpretação das leis conforme a Constituição, extraindo-se do
dispositivo o seu melhor significado.

Atenção: dispositivo e norma não se confundem! Dispositivo é aquilo que está escrito no texto. A norma, por sua vez, é
o resultado da interpretação.

c) Eficácia horizontal dos direitos fundamentais:


Quando os direitos fundamentais surgiram nas constituições, os direitos fundamentais eram oponíveis apenas ao
Estado, pois o objetivo era proteger o indivíduo contra o arbítrio do Estado.
Como a relação Estado/indivíduo é vertical (relação de subordinação), a aplicação dos direitos fundamentais a essas
relações foi denominada de eficácia vertical dos direitos fundamentais.

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Entretanto, com o tempo, foi possível perceber que os direitos fundamentais devem ser oponíveis não só ao Estado,
mas também aos particulares, aplicando-se às relações privadas.
✓ A eficácia horizontal dos direitos fundamentais se refere à relação entre particulares.

Estado Democrático de Direito (Estado Constitucional Democrático)

Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu o Estado Democrático de Direito, o qual sintetiza as conquistas dos
modelos anteriores (liberal e social) e, ao mesmo tempo, tenta superar as suas deficiências.

Esse modelo é democrático de direito porque busca fazer uma conexão entre o Estado de direito e a democracia.
✓ O princípio da soberania popular é uma das vigas mestras desse modelo de Estado.

Alguns autores preferem denominar esse modelo de Estado Constitucional Democrático, pois isso denota uma mudança
de paradigma, de modo a substituir a ideia de “império da lei” pela ideia de “força normativa da constituição”.

Características do Estado Democrático de Direito:

1) Direitos fundamentais - efetividade/conteúdo:


Há a preocupação com a efetividade dos direitos fundamentais, e não apenas com a consagração formal desses direitos
na constituição. Hoje, a preocupação não é apenas com o aspecto formal, mas também com o aspecto material.

✓ Uma das grandes preocupações atuais é impor, na prática, a efetividade de determinado direito (respeito e
cumprimento).
✓ Há também uma preocupação com o conteúdo desses direitos, os quais deixaram de ter uma dimensão formal
e passaram a ter uma dimensão material. Exemplo: a igualdade formal passou a ser uma igualdade material.

2) Limitação do Poder Legislativo:


O professor destaca que essa limitação se restringia, basicamente, ao aspecto formal. Kelsen, ao defender o controle de
concentrado de constitucionalidade, admitia que o controle fosse feito sob o aspecto formal. Atualmente, a limitação
do Poder Legislativo abrange o aspecto material, ou seja, a lei pode ser declarada inconstitucional porque, por exemplo,
viola o conteúdo de um direito fundamental consagrado na constituição.

✓ Admitir esse tipo de controle, muitas vezes, faz com que a vontade do Poder Judiciário se sobreponha, inclusive,
à vontade do legislador. Exemplo: jurisprudência sobre a possibilidade (ou não) de prisão após a decisão em 2ª
instância.

O controle de conteúdo das leis, hodiernamente, é usual e é feito com frequência pelo Poder Judiciário – o que também

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ocorre em relação às omissões inconstitucionais (e não apenas às ações).

3) Democracia substancial:
A democracia substancial é o respeito aos direitos fundamentais de todos, inclusive, o direito das minorias.

Direitos fundamentais de 3ª geração


Os direitos de 3ª geração, segundo Karel Vasak, estariam relacionados à fraternidade. Outros doutrinadores trataram
dessa geração relacionando-a com a fraternidade e/ou solidariedade.

• Valor: o valor aqui consagrado é o da fraternidade ou solidariedade. Neste caso, já não há um consenso sobre os
direitos dessa geração.
• Direitos: na visão do professor Paulo Bonavides, os direitos de 3ª geração são os direitos ao desenvolvimento, ao
meio ambiente, de autodeterminação dos povos, sobre o patrimônio comum da humanidade e de comunicação.
Obs.1: Karel Vasak incluía nesse rol o direito à paz. O professor Paulo Bonavides também colocava o direito à paz
nesse rol, entretanto, há alguns anos, ele alterou o entendimento e, atualmente, ele o classifica como direito
fundamental de 5ª geração.
Obs.2: o rol de direitos descrito acima é exemplificativo.
• Outros - a doutrina cita outros direitos de terceira geração, entre eles: consumidor, crianças e idosos.

Direitos fundamentais de 4ª geração


• Paulo Bonavides: democracia, informação e pluralismo.
Segundo este autor, a democracia, a informação e o pluralismo fazem parte da 4ª geração.
✓ A democracia citada por Paulo Bonavides se refere à democracia direta, ou seja, diz respeito aos instrumentos de
participação direta (o referendo, o plebiscito e a iniciativa popular).
✓ A informação compreende o direito a informar, a ser informado e a se informar.
✓ Por fim, o pluralismo está consagrado na CF/88 como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Embora a Constituição Federal utilize a expressão “pluralismo político”, o termo pluralismo é muito mais
abrangente, alcançando o respeito à diversidade e às diferenças de modo geral.

Obs.: é muito importante não confundir os fundamentos, os objetivos e os princípios que regem o Brasil nas relações
internacionais. Assim, é necessário ler os artigos de 1º a 4º da Constituição Federal.

CF, art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;

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III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.”

CF, art. 2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”

CF, art. 3º: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:


I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II - garantir o desenvolvimento nacional;
III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;
IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação.”

CF, art. 4º: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”

✓ Boaventura de Souza Santos possui uma frase interessante: “Temos o direito de ser iguais quando a nossa
diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza.”
Exemplo: tentar impor a cultura do homem branco ao índio o descaracteriza. De outro lado, manter a diferença
econômica ou social entre as pessoas as torna inferiores.

✓ Dalai Lama dizia que o problema dos dias atuais não é a falta de solidariedade nas relações, mas a falta de
tolerância de uns para com os outros.

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• Outros - parte da doutrina aponta como direitos à quarta geração os seguintes: direitos relacionados à
biotecnologia e à bioengenharia; identificação genética do indivíduo.

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