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Marcelo Novelino
Direito Constitucional
Aula 1
ROTEIRO DE AULA
Tema: Constitucionalismo
1) Teoria da constituição:
1.1) Constitucionalismo (histórico da evolução do Direito Constitucional);
1.2) Poder Constituinte (espécies, limites, titularidade, natureza, entre outros);
1.3) Constituição (histórico das constituições brasileiras e classificações);
1.4) Hermenêutica constitucional (dogmáticas alemã e estadunidense);
1.5) Normas constitucionais;
1.6) Controle de constitucionalidade (teoria e direito constitucional positivo);
1.7) Teoria dos direitos fundamentais (temas relacionados aos direitos fundamentais no tocante à base teórica –
Os direitos fundamentais em espécie serão estudados no Curso Intensivo II).
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II. MATERIAL DE ESTUDO
O professor destaca que, para os alunos estudarem de forma correta, eles precisam se atentar para o fato de que as aulas
e os livros (doutrinas) não se excluem, mas se complementam. Os concursos mais complexos exigem a leitura de
doutrinas, assim sendo, o aluno não deve se contentar apenas com as aulas.
Aula: (Objetivos)
1) Selecionar a informação – Diante da quantidade de informações disponíveis na atualidade, é necessário selecioná-las.
➢ O professor destaca que Norberto Bobbio dizia o seguinte: “Quando se quer chegar mais rapidamente à meta, os
meios são dois: ou encurtar a estrada ou aumentar o passo."
• Cada um possui o seu próprio ritmo de estudo e, portanto, o “apressar dos passos” é individual.
• “Encurtar a estrada” é função dos professores do curso, já que todos trabalham para que os alunos não
percam tempo com informações irrelevantes.
2) Organizar temas e ideias – Muitas vezes, é muito difícil entender e/ou fixar alguns temas constantes nos livros. Assim,
na aula, as ideias são organizadas e exemplificadas, de modo a auxiliar os alunos. Entretanto, o aluno deve tomar cuidado
com aulas gratuitas disponibilizadas na rede mundial de computadores, pois algumas delas expõem o Direito de maneira
muito simplificada e até equivocada.
3) Destacar as informações mais relevantes – Esse objetivo tem a intenção de evitar que o aluno perca tempo em sua
trajetória de aprovação.
Livros:
1) Aprofundar nos temas – Em uma prova dissertativa, o conhecimento trazido pelos livros é insuperável, pois é ele que
possibilita o desenvolvimento de um raciocínio jurídico pelo aluno.
2) Desenvolver o raciocínio jurídico – O livro faz o aluno refletir e desenvolver um raciocínio que será necessário para uma
prova prática.
➢ NOVELINO, Marcelo – Curso de Direito Constitucional. Ed. Juspodivm. 16ª edição (2021).
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2) Livro – O ideal é que o aluno conjugue a aula e a leitura de livros.
✓ Obs.: Existem estudos indicando que a fixação mais eficaz ocorre quando a pessoa faz uma revisão entre 24h a
48h depois de ter estudado determinado tema. Assim sendo, o ideal é que o aluno revise as matérias estudadas,
lendo o respectivo capítulo do livro, no período de até 48h.
3) Leitura do texto constitucional – A leitura do texto constitucional é imprescindível e deve ser realizada pelo aluno tanto
para a atividade jurídica quanto para a aprovação em concursos públicos.
4) Informativos - A leitura dos informativos do STF é extremamente importante para que o aluno se mantenha atualizado.
✓ Os informativos são semanais e devem ser acompanhados pelos alunos.
✓ O professor sugere que o aluno tenha um cronograma que facilite o estudo de cada um desses materiais.
5) Exercícios – Segundo as pesquisas científicas, a realização de exercícios é um dos métodos mais eficientes de
memorização.
✓ Obs.: Outra forma eficiente para a memorização é o estudo intercalado das disciplinas.
✓ É importante lembrar que o G7 Jurídico oferece, semanalmente, simulados relativos aos temas abordados.
III. DÚVIDAS
- Fórum.
✓ No site do G7 Jurídico, há um fórum em que os alunos interagem e podem tirar dúvidas.
CONSTITUCIONALISMO
O constitucionalismo descreve a evolução histórica do Direito Constitucional ao longo do tempo. Tal evolução auxilia a
compreensão do momento presente.
✓ Obs.: O professor ressalta que, durante a abordagem desse tema, vários aspectos serão mencionados de forma
superficial, pois eles serão trabalhados detalhadamente no decorrer deste curso.
1. Definição:
O Constitucionalismo tem dois sentidos: amplo e restrito.
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O que organiza o Estado é a constituição, seja ela escrita ou não escrita. Assim, todo o Estado possui uma constituição e,
dessa forma, esse sentido não é muito utilizado na doutrina.
✓ Não existe Estado sem Constituição, pois é ela quem cria/institui o Estado.
✓ A maioria da doutrina, quando fala em constitucionalismo, faz referência ao constitucionalismo em sentido
estrito.
✓ A história do constitucionalismo “não é senão a busca pelo homem político das limitações do poder absoluto
exercido pelos detentores do poder, assim como o esforço de estabelecer uma justificação espiritual, moral ou
ética da autoridade, em vez da submissão cega à facilidade da autoridade existente.” (Karl Loewenstein).
2) Evolução histórica
Compreende 3 etapas:
Obs.: No fim do século XVIII, surgem as revoluções liberais, que dão origem às primeiras constituições escritas, pois, até
então, as constituições eram todas consuetudinárias.
✓ No fim do século XVIII, com o surgimento das constituições escritas, surge o constitucionalismo moderno.
A partir das as revoluções liberais, são criadas as primeiras constituições escritas. Até então, as constituições eram
baseadas apenas nos costumes.
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O Constitucionalismo Moderno vai do século XVIII até o fim da Segunda Guerra Mundial.
2.3) Constitucionalismo contemporâneo (fim da 2ª Guerra Mundial em diante): alguns autores denominam essa fase de
“neoconstitucionalismo”.
No Estado hebreu, os dogmas religiosos serviam como limites aos súditos e ao poder político do soberano.
2.1.2) Grécia
Durante dois séculos, a Grécia foi um Estado político plenamente constitucional.
A Grécia adotou a mais avançada forma de governo, qual seja, a democracia constitucional.
2.1.3) Roma
A experiência grega foi, posteriormente, reproduzida em Roma.
2.1.4) Inglaterra: Magna Charta (1215); Petition of Rights (1628); Habeas Corpus Act (1679); Bill of Rights (1689), Act of
Settlement (1701).
Na Inglaterra, embora não existisse uma constituição escrita, vários documentos foram feitos ao longo do tempo e,
posteriormente, foram incorporados à constituição inglesa:
a) Magna Charta (1215): outorgada pelo rei João Sem-Terra, como fruto de um acordo entre o rei e os súditos;
b) Petition of Rights (1628): firmado entre o parlamento e o rei Carlos I;
c) Habeas Corpus Act (1679);
d) Bill of Rights (1689); e
e) Act of Settlement (1701).
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✓ Todos esses documentos fazem parte da Constituição Inglesa, a qual é formada por costumes, por precedentes
judiciais e por documentos escritos.
✓ Recentemente, no ano 2000, um novo documento escrito foi incorporado à Constituição Inglesa: Human Rights
Act.
O professor destaca que alguns livros (Exemplo: livro de Canotilho) nem mencionam o constitucionalismo antigo. Isso
ocorre porque apenas no constitucionalismo moderno surgiram as primeiras constituições escritas.
O constitucionalismo moderno surge no final do século XVIII, com as revoluções liberais, e vai até a Segunda Guerra
Mundial.
É importante destacar que nesse período houve o surgimento das primeiras constituições escritas, rígidas e dotadas de
supremacia.
- Constituições liberais:
O professor explica que as revoluções liberais tinham como principal mote a liberdade dos indivíduos. Isso ocorreu porque
a França e os EUA (dentre outros países) viviam sob a égide de um poder absoluto e autoritário. Diante disso, a ideia das
revoluções liberais era que o Estado interviesse o mínimo possível nas liberdades individuais. Nessa toada, a liberdade
dos indivíduos era assegurada por meio da não intervenção estatal, daí vem o nome de revoluções liberais.
✓ As revoluções liberais pregavam, sobretudo, uma proteção à liberdade e à propriedade contra a ingerência do
Estado.
a) Experiência estadunidense:
É importante lembrar que a tradição norte-americana trouxe duas ideias centrais: supremacia da constituição e garantia
jurisdicional.
✓ É na constituição que se encontra a delimitação do poder e, por esse motivo, ela é suprema, pois ela estabelece
as regras do jogo político. Assim sendo, ela deve estar acima dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.
✓ A garantia jurisdicional da constituição advém da maior neutralidade do Poder Judiciário em comparação aos
demais poderes.
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Contribuições da Constituição Estadunidense
Observações:
• Rigidez é a maior dificuldade no processo de modificação das normas.
• Supremacia se refere ao fato de a constituição estar acima das demais normas do ordenamento jurídico.
2) Controle de constitucionalidade
A primeira consequência da supremacia da constituição é a necessidade de criar mecanismos de controle de forma que a
supremacia seja assegurada.
b) Experiência francesa:
Obs.: O professor destaca que, apesar de a constituição francesa ter trazido contribuições importantes, a contribuição
norte-americana foi bem mais relevante.
✓ Na França, até 2010, havia a ideia de supremacia do Parlamento (e não da constituição). Além disso, não havia
controle de constitucionalidade repressivo na França, o qual apenas surgiu em março de 2010.
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A Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) já trazia as ideias centrais do constitucionalismo:
limitação do poder e garantia dos direitos.
“DUDHC/1789, art. 16: “Toda sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separação
dos poderes, não possui Constituição.”
Uma constituição deve limitar o poder e assegurar direitos. Do contrário, ela será constituição em sentido amplo (constitui
o Estado), mas não será legítima/propriamente dita.
1) Constituição prolixa:
O primeiro grande destaque a ser mencionado aqui é o fato de a Constituição Francesa ser prolixa, algo que não era
comum na época.
✓ A constituição norte-americana, ao contrário, é bastante sintética, pois apenas estabelece os princípios gerais das
matérias tipicamente constitucionais (direitos fundamentais, organização do Estado e organização dos Poderes).
✓ As constituições francesas, por sua vez, sempre foram prolixas/analíticas/regulamentares. Neste caso, a
constituição esmiúça determinados assuntos.
Obs.: A segunda constituição francesa (1793) possuía mais de 490 dispositivos.
A Teoria do Poder Constituinte fazia uma distinção entre o Primeiro Estado (nobreza), o Segundo Estado (clero) e o
Terceiro Estado (povo).
✓ O abade Emmanuel Joseph Sieyès possui uma obra intitulada “O que é o Terceiro Estado?”, em que ele afirma
que o verdadeiro titular do Poder Constituinte Originário é a nação, embora esse poder, muitas vezes, seja
usurpado por uma minoria.
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Na Idade Média, já existia o rule of law na Inglaterra. Na Prússia, no século XVIII, havia o Rechtsstaat (Estado de Direito).
Entretanto, foi na França, com o État Légal, que houve a primeira institucionalização coerente do Estado de Direito.
✓ Atenção: O Estado de Direito consagrado na França não se confunde com o Estado constitucional consagrado
hodiernamente. O État du Droit corresponde ao Verfassungsstaat - Estado Constitucional (Alemanha).
3) Limitação do soberano:
A limitação do Estado se estende, inclusive, ao soberano.
✓ Com o Estado de Direito, não há ninguém que não esteja submetido às normas jurídicas.
4) Princípio da legalidade:
O princípio da legalidade é um marco do Estado de Direito, pois ele simboliza a ideia de “império da lei”.
As gerações (dimensões) de direitos fundamentais surgiram a partir de uma palestra ministrada por Karel Vasak. Naquela
ocasião, ele resolveu associar o lema da Revolução Francesa (“Liberdade, igualdade, fraternidade”) com as gerações de
direitos fundamentais (1ª a 3ª gerações).
Posteriormente, Norberto Bobbio deu projeção a essa classificação na obra “A Era dos Direitos”.
No Brasil, o professor Paulo Bonavides trata desse tema e acrescenta novas gerações às anteriores, além de alterar
classificações dadas por Karel Vasak (Exemplo: o direito à paz era, inicialmente, de 3ª geração. Entretanto, Paulo
Bonavides a inseriu como direito de 5ª geração/dimensão).
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Obs.: O professor destaca que a ideia de gerações de direitos fundamentais é bastante criticada pela doutrina. Alguns
autores defendem que elas não possuem um rigor histórico, ou seja, elas não surgiram exatamente em determinadas
épocas. Exemplo disso é o direito à vida, que está presente em todas as gerações.
O professor ressalta que muitas pessoas preferem utilizar a expressão “dimensão” em vez de “geração”, pois esta
expressão dá a ideia de que uma geração substitui a outra, já a dimensão dá ideia de abrangência.
Outros afirmam ainda que a ideia de gerações fragmenta os direitos fundamentais.
Com a Primeira Guerra Mundial, a crise econômica e social foi muito agravada. Diante disso, foi possível perceber a
impotência do liberalismo frente às demandas sociais da época. A partir disso, surge um novo modelo de constituição e
de Estado.
• Constituições sociais:
➢ Constituição mexicana/1917 – Foi a primeira constituição social.
➢ Constituição de Weimar/1919 – Trata-se de constituição alemã feita em Weimar.
As constituições sociais se caracterizam por criar um modelo de Estado que não é abstencionista, mas sim
intervencionista, ou seja, um Estado que participa ativamente das relações sociais como prestador de serviço, intervém
nas relações laborais (com estabelecimento de normas protetivas) e nas relações econômicas. Trata-se de um modelo de
constituição que cria o chamado Estado social.
Estado social
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Estado social é o resultado de uma transformação estrutural do Estado liberal. Ele busca superar a dicotomia entre a
igualdade política e a desigualdade social existente.
A principal diferença entre o Estado social e o Estado socialista é que aquele adere ao capitalismo e este não.
✓ Variados sistemas adotaram o Estado social, inclusive sistemas autoritários (exemplo: Alemanha nazista, Itália
fascista etc.). Isso, contudo, não significa que haja relação entre o estado social e o autoritarismo.
1) Intervencionista: o Estado social abandona a postura abstencionista e intervém no âmbito social, econômico e laboral.
2) Papel decisivo na produção e distribuição de bens: o Estado participa do processo de produção e de distribuição de
bens.
3) Garantia de bem-estar social mínimo: o Estado social tenta garantir prestações essenciais para as pessoas que delas
necessitam.
No Brasil, um exemplo de medida que visa à garantia do bem-estar social é o benefício de prestação continuada da Lei
Orgânica de Assistência Social (LOAS), fornecido a pessoas idosas ou deficientes, que não tenham como se sustentar
nem possam ser sustentadas pelas respectivas famílias, quando a renda per capita é inferior a ¼ do salário-mínimo (nos
termos da lei) ou a ½ do salário-mínimo (valor atual).
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surge o constitucionalismo contemporâneo, o qual persiste até os dias atuais.
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✓ Alguns autores chamam essa fase de neoconstitucionalismo.
✓ Esse novo constitucionalismo é um amálgama da experiência estadunidense e da experiencia francesa. Assim, as
características que serão apontadas a seguir são comuns a esses dois ordenamentos jurídicos.
2.3.1) Características:
Após a Segunda Guerra Mundial, houve o reconhecimento definitivo de que a constituição é uma norma jurídica e deve
ser respeitada. Até então, as declarações de direitos contidas nas constituições eram vistas na Europa como documentos
essencialmente políticos, não sendo vinculantes (sobretudo para o legislador).
✓ O professor destaca que o legislador era visto, naquela época, como um amigo dos direitos fundamentais.
✓ Os direitos fundamentais não eram oponíveis ao Poder Legislativo. Nesse período, havia as chamadas “normas
programáticas, as quais veiculavam meros conselhos/exortações morais. Tais normas programáticas estavam
consagradas, sobretudo, entre os direitos fundamentais.
✓ Com o fim da Segunda Guerra Mundial, a ideia de que a constituição tem dispositivos desprovidos de
normatividade ficou completamente superada. Assim sendo, no constitucionalismo contemporâneo, as
declarações de direitos passaram a ser oponíveis a todos os poderes públicos, inclusive ao Poder Legislativo.
✓ Atualmente, entende-se que as constituições possuem normas-princípios e normas-regras, sendo que ambas são
espécies das normas jurídicas (são vinculantes).
✓ Obs.: Na CF/1988, a única parte que não possui normas jurídicas é o preâmbulo. Prevalece o entendimento de
que o preâmbulo não tem caráter normativo, ou seja, não é norma e apenas auxilia na interpretação
constitucional.
É uma característica das constituições modernas o fato de serem extensas, analíticas e regulamentares.
✓ Os textos constitucionais não se restringem aos princípios gerais. Isso ocorre porque a maioria das constituições
modernas foram criadas após um período de autoritarismo, assim, a intenção foi tentar proteger os direitos de
maneira mais abrangente.
✓ Exemplo: a CF/1988 possui vários dispositivos que consagram questões não constitucionais. Um exemplo disso é
que ela, até bem pouco tempo, estabelecia os juros máximos de 12% ao ano. Outro exemplo se refere ao fato de
haver um dispositivo que preceitua que o Colégio Pedro II será mantido na órbita federal.
✓ O professor destaca que a tendência é que as próximas constituições, se se manter o período de normalidade
democrática, sejam mais sucintas do que as atuais, pois a prolixidade acaba engessando a política. Exemplo:
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dentre as mais de 100 emendas feitas à CF/1988, grande parte delas não trata de questões propriamente
constitucionais.
O Poder Judiciário passou a ter um grande protagonismo a partir das constituições contemporâneas, principalmente em
razão do reconhecimento da força normativa da constituição.
A ideia de garantia jurisdicional da constituição é advinda do direito norte-americano, pois, quando a constituição tem a
sua força normativa reconhecida, ela precisa de um mecanismo de controle e isso é feito pelo Poder Judiciário.
✓ O Poder Judiciário acaba sendo fortalecido porque ele, muitas vezes, confere à constituição o sentido que ele
julga ser o mais conveniente, sobrepondo-se aos demais Poderes, originando o chamado “protagonismo judicial”,
o qual, segundo o professor, não é algo desejável.
✓ A partir disso, surge a chamada “judicialização das relações políticas e sociais”.
✓ A judicialização das relações políticas e sociais refere-se ao fato de que questões, anteriormente restritas ao
âmbito político e social, hoje são levadas ao Poder Judiciário. Isso decorre, em parte, pela ampliação da
legitimidade ativa nas ações de controle de constitucionalidade e, em parte, pelo maior acesso ao Poder Judiciário
e pela gratuidade da justiça.
A Centralidade da Constituição e dos direitos fundamentais está relacionada à importância que a dignidade da pessoa
humana passou a ter nos ordenamentos jurídicos contemporâneos.
✓ A dignidade da pessoa humana é considerada por parte da doutrina como o núcleo axiológico das constituições.
As atrocidades praticadas durante a Segunda Guerra Mundial levaram à percepção de que era necessário que as
Constituições consagrassem, com o seu núcleo, a dignidade da pessoa humana. Constituições anteriores à Segunda
Guerra Mundial dificilmente consagravam a dignidade da pessoa humana.
✓ A Constituição alemã de 1949, em seu art. 1º, preceituava que a dignidade da pessoa humana é inviolável.
✓ O professor ressalta que, na época do nazismo, a Alemanha tinha as leis mais avançadas do mundo sobre
experimentos com seres humanos. Nesta época, os seres humanos eram classificados em seres de 1º e de 2º
grau. Assim, ciganos, homossexuais, judeus (entre outros) eram considerados de 2º grau e as leis alemãs não se
aplicavam a eles. Dessa forma, eles eram submetidos a experiências horríveis.
✓ A dignidade da pessoa humana surge para afastar qualquer tipo de hierarquização entre indivíduos, os quais
devem ser tratados sempre como fins em si mesmos, e nunca como meios para que outros fins sejam atingidos
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– sobretudo fins do Estado. A dignidade da pessoa humana passou a ser o núcleo axiológico das constituições.
Juntamente com a dignidade da pessoa humana, surge também a ideia de centralidade da constituição e dos direitos
fundamentais.
O professor Paulo Bonavides tem uma frase que sintetiza a evolução da sociedade: “ontem, os códigos; hoje, as
constituições”.
✓ Na época do Direito Romano, os códigos eram os principais instrumentos legislativos. No Direito Contemporâneo,
as constituições ocupam o cume do ordenamento jurídico.
Atenção: dispositivo e norma não se confundem! Dispositivo é aquilo que está escrito no texto. A norma, por sua vez, é
o resultado da interpretação.
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Entretanto, com o tempo, foi possível perceber que os direitos fundamentais devem ser oponíveis não só ao Estado,
mas também aos particulares, aplicando-se às relações privadas.
✓ A eficácia horizontal dos direitos fundamentais se refere à relação entre particulares.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, surgiu o Estado Democrático de Direito, o qual sintetiza as conquistas dos
modelos anteriores (liberal e social) e, ao mesmo tempo, tenta superar as suas deficiências.
Esse modelo é democrático de direito porque busca fazer uma conexão entre o Estado de direito e a democracia.
✓ O princípio da soberania popular é uma das vigas mestras desse modelo de Estado.
Alguns autores preferem denominar esse modelo de Estado Constitucional Democrático, pois isso denota uma mudança
de paradigma, de modo a substituir a ideia de “império da lei” pela ideia de “força normativa da constituição”.
✓ Uma das grandes preocupações atuais é impor, na prática, a efetividade de determinado direito (respeito e
cumprimento).
✓ Há também uma preocupação com o conteúdo desses direitos, os quais deixaram de ter uma dimensão formal
e passaram a ter uma dimensão material. Exemplo: a igualdade formal passou a ser uma igualdade material.
✓ Admitir esse tipo de controle, muitas vezes, faz com que a vontade do Poder Judiciário se sobreponha, inclusive,
à vontade do legislador. Exemplo: jurisprudência sobre a possibilidade (ou não) de prisão após a decisão em 2ª
instância.
O controle de conteúdo das leis, hodiernamente, é usual e é feito com frequência pelo Poder Judiciário – o que também
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ocorre em relação às omissões inconstitucionais (e não apenas às ações).
3) Democracia substancial:
A democracia substancial é o respeito aos direitos fundamentais de todos, inclusive, o direito das minorias.
• Valor: o valor aqui consagrado é o da fraternidade ou solidariedade. Neste caso, já não há um consenso sobre os
direitos dessa geração.
• Direitos: na visão do professor Paulo Bonavides, os direitos de 3ª geração são os direitos ao desenvolvimento, ao
meio ambiente, de autodeterminação dos povos, sobre o patrimônio comum da humanidade e de comunicação.
Obs.1: Karel Vasak incluía nesse rol o direito à paz. O professor Paulo Bonavides também colocava o direito à paz
nesse rol, entretanto, há alguns anos, ele alterou o entendimento e, atualmente, ele o classifica como direito
fundamental de 5ª geração.
Obs.2: o rol de direitos descrito acima é exemplificativo.
• Outros - a doutrina cita outros direitos de terceira geração, entre eles: consumidor, crianças e idosos.
Obs.: é muito importante não confundir os fundamentos, os objetivos e os princípios que regem o Brasil nas relações
internacionais. Assim, é necessário ler os artigos de 1º a 4º da Constituição Federal.
CF, art. 1º: “A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I - a soberania;
II - a cidadania;
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III - a dignidade da pessoa humana;
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V - o pluralismo político.
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos
termos desta Constituição.”
CF, art. 2º: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.”
CF, art. 4º: “A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:
I - independência nacional;
II - prevalência dos direitos humanos;
III - autodeterminação dos povos;
IV - não-intervenção;
V - igualdade entre os Estados;
VI - defesa da paz;
VII - solução pacífica dos conflitos;
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo;
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
X - concessão de asilo político.
Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da
América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.”
✓ Boaventura de Souza Santos possui uma frase interessante: “Temos o direito de ser iguais quando a nossa
diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza.”
Exemplo: tentar impor a cultura do homem branco ao índio o descaracteriza. De outro lado, manter a diferença
econômica ou social entre as pessoas as torna inferiores.
✓ Dalai Lama dizia que o problema dos dias atuais não é a falta de solidariedade nas relações, mas a falta de
tolerância de uns para com os outros.
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• Outros - parte da doutrina aponta como direitos à quarta geração os seguintes: direitos relacionados à
biotecnologia e à bioengenharia; identificação genética do indivíduo.
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