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TURMA REGULAR - CURSO AMPERJ


AULA 01 – DIREITO AMBIENTAL
DATA DA AULA: 13/07/2019
PROFESSOR LUIS OLIVEIRA

Bom dia! Nós teremos dois encontros para trabalhar o direito ambiental. No
encontro de hoje trataremos da doutrina, e no próximo encontro faremos exercícios.
Normalmente, na doutrina, eu trago a parte introdutória e a parte geral, e deixo os exercícios para
a parte especial. Nem sempre eu consigo terminar a parte geral na primeira aula. Então, eu dou
uma estendida na segunda aula, fecho a parte geral e a gente faz os exercícios na parte especial.

Para o Ministério Público, Defensoria Pública e Magistratura, a parte introdutória e


parte geral são as mais cobradas. A parte especial nem sempre chama muito atenção, porque na
parte especial a gente começa a estudar as leis específicas, as leis dos recursos naturais, recursos
hídricos, resíduos sólidos, flora e fauna, e isto foge do domínio dos profissionais que não atuam
nesta matéria. Mas a parte geral e introdutória são muito cobradas.

Quanto as indicações bibliográficas, eu vou indicar 4 grandes autores. Escolha


aquele que você achar mais adequado. Recomendo que vá até uma livraria para dar uma geral em
cada um deles e escolha aquele que lhe pareça melhor. São eles:

1. O primeiro deles é o nosso decano, Paulo Afonso Leny Machado – Direito


ambiental brasileiro, editora Malheiros;

2. Paulo Bessa Antunes – Direito ambiental, editora GEN. Era editora Atlas, mas a
Atlas foi adquirida pela GEN. Um detalhe é que o Paulo Bessa é integrante do Ministério Público
Federal, lotado no Rio de Janeiro e professor da UNIRIO. Em nível de concurso, ele tem uma forma
mais adequada para apresentar o tema;

3. Édis Milaré- Direito do Ambiente, editora RT;

Estes três, todos os demais livros que existem na praça, foram abertos para que os
demais livros fossem escritos. Essa que é a verdade. São os três pilares do direito ambiental
brasileiro. São três tijolos. O direito ambiental não para de crescer. Mas eu vivo falando, e
candidato de concurso já é grandinho, logo, não tem que ter medo de livro grande. Você não vai
ler igual a romance, uma folha atrás da outra, mas sim, você vai lendo conforme a sua necessidade
e conforme as dúvidas irão aparecendo. Então, não tem jeito, é melhor você comprar um livro de
ambiental cuspido, mastigado e digerido de uma folha e meia. Você ficará todo feliz, mas vai
aprender errado.

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4. O quarto é o livro de Direito Ambiental Constitucional, da editora Malheiros, do


autor Jose Afonso da Silva. O tamanho dele é praticamente metade dos livros anteriormente
citados e o índice é basicamente o mesmo. Então, esse é um livro um pouco menor.

5. O quinto livro é o de Frederico Amado, Direito Ambiental da editora Juspodivm.


Foi um dos últimos lançados, mas o tamanho já está quase no mesmo patamar dos demais.

Se você tem outro livro em casa, é melhor ficar com ele, porque o que importa é
gostar do autor e ter a frequência de estudá-lo. Eu penso que estes listados são os melhores do
mercado. Recomendo que procurem uma compilação da matéria. A legislação é muito importante
e temos várias editoras que vendem a compilação, mas eu vou usar a da Saraiva.

Posso lhe dizer que 90% das questões de ambiental (quer prova discursiva, quer
prova múltipla escolha) são respondidas pela legislação. Por esta razão, ter uma legislação e saber
usá-la (importante não levar somente a legislação recém-comprada para a prova. É melhor que se
leve a legislação já estudada e usada) talvez seja mais útil do que ter um livro de ambiental.
Porque não há a menor dúvida de que, até mesmo em prova discursiva, sabendo usar a legislação
será possível responder as questões com base nela. Nas provas do Ministério Público, desde o
último provão que foi múltipla escolha, ainda não caiu mais nenhuma questão de ambiental
praticamente. Elas vão acabar aparecendo, uma vez que já caiu inserida na matéria de civil e de
constitucional.

Aqui no Rio de Janeiro, a prova do MP em constitucional já perguntou se o Estado


tem competência para autorizar pesquisa em biossegurança. Adianto que a resposta é NÃO! A
competência é toda da esfera federal em relação ao trabalho com o famoso OGM (Organismo
geneticamente modificado e biossegurança).

Então, o direito ambiental não tem uma disciplina própria aqui no MPRJ e vai
acabar caindo inserido dentro de outra disciplina, como constitucional, administrativo,
responsabilidade civil. Quando o provão era de múltipla escolha - acho que foram duas ou três
provas nesse modelo -, em todos eles caíram questões de direto ambiental de forma própria e
específica. Fiquem atentos, pois ainda que não seja uma disciplina que vem caindo, ela pode
começar a cair a qualquer momento.

Peço a sua atenção também que o nosso atual presidente Jair Bolsonaro, porque ele
é um celeiro de questões de ambiental para concursos públicos, vez que ele dá “canelada” na
legislação ambiental, e isto, obviamente, vai chamar a atenção do examinador. Claro que não
estou aqui fazendo uma colocação política, mas sim uma colocação técnica para concursos.

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Estão lembrados que ele foi multado enquanto pescava em um local de preservação
em Angra dos Reis? E o que aconteceu depois? No final do governo Temer e depois dele ser eleito
anulou o processo e a prescrição começou a ocorrer novamente. No início do governo Bolsonaro a
multa prescreveu. Após assumir, o Presidente afastou do cargo de chefia o servidor do IBAMA que
aplicou a multa e agora ele tem buscado acabar com a unidade de conservação por meio de
decreto – o que é inviável. Ele quer fazer a “Cancun Carioca” e quer fazer por decreto. E ele tem
predileção por decreto. Não pode fazer por decreto. Isto é uma pergunta certa para prova: Como
se extingue uma unidade de conservação, porque o cara quer fazer via decreto de qualquer
maneira.

Assim, aconselho que vocês pautem os estudos pelo o que é exposto na mídia, isso
porque o examinador não estuda mais. Ele se baseia por aquilo que é veiculado na mídia, no
jornal. Essa é uma forma de contextualizar e estudar a matéria, porque se você estudou a matéria
hoje, você vai ter que lembrar da matéria daqui a um ano. Então, ler notícias e matérias de jornal é
uma forma de recordar o conteúdo estudado. Saliento que não se deve acreditar nas informações
jurídicas lá prestadas, devendo-se, portanto, recorrer à doutrina para saber se de fato as
informações escritas estão corretas.

Outra questão relevante é aquela sobre o Bolsonaro querer explorar recursos


minerais em terras indígenas. Pergunta-se: Pode? Seria possível a exploração de recursos minerais
em terras indígenas? Pode, desde que ele cumpra requisitos constitucionais previstos no art. 231,
§3º da CRFB/88. O §3º do art. 231 fala que deve haver autorização do Congresso Nacional, que a
comunidade indígena deve ser ouvida e, sendo a exploração autorizada, deve-se pagar royalties
para os índios.

§ 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os


potenciais energéticos, a pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras
indígenas só podem ser efetivados com autorização do Congresso Nacional,
ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada participação nos
resultados da lavra, na forma da lei.

Atenção: A oitiva da comunidade indígena se dará por meio de audiência pública.


Isto é certo de cair em uma prova, principalmente em constitucional, já que há previsão expressa.

Feito estes alertas, vamos começar a nossa matéria tratando da natureza jurídica do
meio ambiente.

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1. NATUREZA JURÍDICA DO MEIO AMBIENTE

Eu não vou trazer o conceito técnico de meio ambiente. Aliás, se você quiser, eu lhe
apresento o que eu reputo como a principal lei ambiental: Lei 6.938/81, que define a política
nacional do meio ambiente, a PNMA.

Você vai encontrar no artigo 3º, inciso I desta lei o conceito de meio ambiente. O
conceito trazido é um conceito natural, que busca preservar a vida e que aqueles da área jurídica
não possuem nada a acrescentar para além do que está escrito lá. Inclusive, toda lei ambiental
tem sempre um artigo de conceito, geralmente é o artigo segundo ou terceiro. E, lembre-se,
conceito resolve questão, múltipla escolha principalmente.

Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:


I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e
interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a
vida em todas as suas formas;

Para definir a natureza jurídica do meio ambiente, vamos utilizar a Constituição


Federal de 1988. Pela primeira vez, uma Constituição dedica um capítulo inteiro ao meio
ambiente, mesmo possuindo apenas um artigo.

O caput do art. 225 traz a seguinte disposição:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

“Uso comum do povo” – Está aqui a natureza jurídica do meio ambiente.


Então, o meio ambiente é um bem de uso comum do povo.

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Atenção, não há a palavra “público”, não está escrito que se trata de bem público
de uso comum. E todo mundo liga o meio ambiente a bem público, até porque em direito
administrativo a gente estuda a natureza jurídica dos bens, quais são os tipos de bens públicos:
uso comum, uso especial e dominical.

Quando se fala em bem de uso comum do povo, estar-se-á pensando em direito


público, em bem público. Aliás, em múltipla escolha, isto é uma pegadinha. Muitos candidatos
acham que se trata de bem público, mas o meio ambiente é de USO COMUM DO POVO, e isso
significa dizer que, conforme preconiza José Afonso da Silva, a natureza jurídica do meio ambiente
é um bem de interesse público. Vou acrescentar no mesmo contexto a nossa última lei ambiental,
o Código florestal brasileiro (Lei 12.651/12). O artigo 2º desta lei traz exatamente a mesma
disposição prevista no art. 1º do Código 4.771/65.

Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as demais


formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que revestem,
são bens de interesse comum a todos os habitantes do País, exercendo-se os
direitos de propriedade com as limitações que a legislação em geral e
especialmente esta Lei estabelecem.

Isto é o meio ambiente. O meio ambiente é um interesse difuso, pluri,


metaindividual, direito humano de terceira geração. Nada contra o termo “dimensões” e
“gestações”, mas prefiro utilizar o termo “gerações”. Essa é a ideia do direito humano no âmbito
do direito ambiental, se trata de uma matéria onde se tem um tema de interesse comum de todos
e que atinge a qualidade de vida, e por isto não é um bem público, mas sim de interesse Público. E,
atenção, se trata de erro grosseiro dizer que se trata de bem público. Vejam, continuando a leitura
do código florestal, você vai perceber que no final do dispositivo o código florestal busca proteger
as florestas.

Art. 2º As florestas existentes no território nacional e as


demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que
revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação
em geral e especialmente esta Lei estabelecem.

Comentário: você não perde a sua


propriedade, logo, não é bem público.

O Código Florestal protege as florestas por meio de limitações administrativas, e


sabemos que as limitações administrativas são instituídas pela Lei 12.651/2012, que cria
limitações administrativas na defesa das florestas. Agora, quando se cria uma limitação
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administrativa, esta é uma intervenção branda, meramente restritiva. Não há perda da


propriedade e, por esta razão, é um absurdo falar que o meio ambiente é um bem público. Isto
porque, ainda que um imóvel privado sofra uma restrição na defesa de florestas, ele continuará
sendo privado.

Assim, o meio ambiente NÃO é um bem público, mas sim de interesse público e
esta é a ideia no contexto do direito constitucional. Antigamente, o meio ambiente era dito como
bem público - por isso que o alerta é sempre importante - e um exemplo disto está no
denominado Código de Caça – Lei 5.197/67 (que proíbe a caça). O referido código dispõe em seu
art. 1º o seguinte:

Art. 1º. Os animais de quaisquer espécies, em qualquer


fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro,
constituindo a fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros
naturais são propriedades do Estado, sendo proibida a sua utilização,
perseguição, destruição, caça ou apanha.

Ao dispor que “são propriedades do Estado”, resta claro que até mesmo os animais
eram considerados bens públicos/ propriedade do Estado. Todos defendem que este artigo não
foi recepcionado pela Constituição, já que o meio ambiente não é um bem púbico, mas de
interesse público, um bem de interesse difuso, um direito humano de terceira geração.

CUIDADO: Considerando que se trata de um direito humano, é preciso lembrar que


os direitos humanos têm como característica serem:

1. Inalienáveis,
2. Irrenunciável, e;
3. Imprescritível.
Logo, sendo o meio ambiente um direito humano de terceira geração, por lógica,
ele seria também inalienável, irrenunciável e imprescritível. No entanto, eu peço cuidado com a
imprescritibilidade.

Veja, eu acabei de falar que a sanção do Bolsonaro prescreveu. Isso porque, em


relação ao dano ambiental, nós temos três responsabilidades, sendo duas delas prescritíveis e
uma imprescritível. Então, não está errado falar em imprescritibilidade do dano ambiental, mas é
preciso focar na existência dessas três formas de responsabilidade. Vamos ao texto constitucional
mais uma vez:

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Art. 225. § 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao


meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções
penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os
danos causados.

Ao utilizar a expressão “independentemente da obrigação de reparar os danos


causados”, o Legislador está tratando da responsabilidade civil, pois embora não mencione
expressamente o termo, ele traz todo o conteúdo desta forma de responsabilidade.

Assim, o §3º reconhece que o poluidor pode ser punido civil, penal e
administrativamente, ou seja, prevê três sanções em relação ao dano ambiental. Afirmo que, o
crime ambiental e a infração administrativa são prescritíveis.

No direito penal, você até encontra alguns crimes imprescritíveis, mas são poucos,
tais como a tortura, o racismo e os crimes contra o Estado democrático. No entanto, não há crime
ambiental imprescritível. Mas, eu sei que há prescrição na esfera penal, embora eu não saiba
aprofundar muito esta temática porque foge muito da minha atuação no dia-a-dia. Recomendo
buscar junto ao Ricardo Martins ou a Claudia Barros que são dois ótimos professores de direito
penal especial, trabalham bem com a Lei 9.605 e vão saber explicar esta temática melhor do que
eu. Por outro lado, em matéria de infração administrativa já está mais no meu dia a dia, então vou
conseguir trabalha-la de forma mais aprofundada com vocês.

Temos hoje o Decreto 6.514/2008, que elenca as infrações e as sanções


administrativas e que dispõe em seu art. 21:

Art. 21. Prescreve em cinco anos a ação da administração


objetivando apurar a prática de infrações contra o meio ambiente, contada
da data da prática do ato, ou, no caso de infração permanente ou
continuada, do dia em que esta tiver cessado.

Este dispositivo foi aquele aplicado no caso da multa do Bolsonaro: Ele estava
multado, e no final do governo Temer houve a anulação do processo e, consequentemente, o
prazo prescricional começou a correr novamente, vez que a prescrição só fica interrompida
enquanto há a apuração. Assim, considerando que o prazo começou a correr novamente e que
não houve a instauração de outro procedimento dentro do prazo de cinco anos, ocorreu a
prescrição.

Desta forma, uma vez que se tem 5 anos para instaurar um processo para punição
do agente, não há como falar, inadvertidamente, que dano ambiental é imprescritível.
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Importante!! Muitos livros de direito ambiental afirmam que o dano ambiental é


imprescritível, sem fazer a ressalva de que a imprescritibilidade diz respeito tão somente à
responsabilidade civil, não se estendendo, portanto, as sanções administrativas e penais.

Outra prova de que é um absurdo afirmar que dano ambiental é imprescritível, é a


existência da súmula 467 do STJ:

S. 467: “Prescreve em cinco anos, contados do término do


processo administrativo, a pretensão da Administração Pública de promover
a execução da multa por infração ambiental.”

Com a leitura dessa súmula concluímos que:

1. Há prescrição para a instauração do processo e,


2. Após a instauração do processo e aplicação da sanção haverá prescrição para a
realização de cobrança da referida sanção. Lembrando que, sendo administrativa a principal
sanção a ser aplicada será a de multa.

Tome cuidado, pois o STJ tem várias súmulas que versam sobre direito ambiental,
inclusive, da súmula 613 em diante, existem vários entendimentos que dizem respeito a direito
ambiental.

Desta forma, o dano ao meio ambiente é imprescritível na reparação civil. Este


tema, inclusive, foi tratado em uma questão de direito civil na prova do MP. Assim, deve-se ter
muita atenção nas questões de direito civil, pois podem tratar sobre isso.

O examinador apresentou na prova um caso de dano ambiental/desmatamento


ocorrido há mais de 5 anos e, posteriormente, perguntava se o MP poderia requerer alguma coisa
diante da situação apresentada. A resposta é: Claro que pode. No caso apresentado, o MP pode
obrigar o indivíduo a replantar a floresta que ele desmatou indevidamente. Ainda que tenha
decorrido mais de 5 anos, há imprescritibilidade na responsabilidade civil, ou seja, na reparação da
área. Assim, não está errado afirmar que o meio ambiente é inalienável, irrenunciável e
imprescritível, no entanto, este último se dá apenas em relação à responsabilidade civil.

Aqui está a natureza jurídica do meio ambiente: trata-se de BEM DE INTERESSE


PÚBLICO, e não é bem público.

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A regra que o código florestal cria ao trazer, por exemplo, restrições no direito de
propriedade, não retiram a propriedade do imóvel de seu titular, mas impõem uma obrigação. Isso
porque, não se trata de uma desapropriação, e sim de é uma limitação administrativa.

E eu comentei isso na aula de administrativo, provavelmente na matéria sobre


limitações, mas gostaria de repetir as explicações sobre a Lei 12.651/2012 que cria limitações
administrativas na defesa das florestas.

2. LIMITAÇÕES ADMINISTRATIVAS

São várias as limitações existentes, mas chamo a atenção para a APP e ARL, e
destacaria em especial esta última, pois está em completa evidencia.

A ARL está em evidência porque o Senador pelo Rio de Janeiro, Flavio Bolsonaro,
apresentou um Projeto de Lei que visa acabar com a área de reserva legal, de modo a modificar o
Código Florestal e a pôr fim nesta limitação.

Então, é obvio que quem está antenado vai questionar o que é ARL e onde é
possível encontrá-la. ARL - área de reserva legal, se trata de uma limitação administrativa, criada
pelo código florestal para a defesa das florestas e é regulada pelos artigos 12 ao 24. A ARL pode
ser encontrada tão somente no imóvel rural. Todo imóvel rural sofre uma limitação administrativa
criada pelo código florestal, sendo obrigado a preservar determinado percentual de floresta em
seu imóvel.

Saindo da região da Amazônia, todo o restante brasileiro, inclusive o Rio de Janeiro,


deve possuir 20% de mata nativa. Isto é a ARL, é uma obrigação e limitação determinada por lei.

Um detalhe importante: esses 20% de ARL continuam sendo do proprietário, não há


perda de propriedade, porque meio ambiente não é considerado bem público. Assim, esses 20%
não irão integrar o patrimônio público. O interesse público é apenas no sentido de que você deixe
20% da mata nativa preservada naquela área que é de SUA propriedade. Desta forma,
considerando que a propriedade continua sendo do proprietário do imóvel, ninguém poderá
entrar na ARL sem autorização, restando tão somente fiscalizar se o proprietário mantem a ARL.

A APP - “área de preservação permanente -”, que sempre foi par da ARL, está
prevista dos artigos 4º ao 9º do código florestal e pode ser encontrada na zona urbana e na zona
rural.

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Esta informação era o suficiente para responder a questão de ambiental que caiu na
última prova de múltipla escolha do MP.

CUIDADO, pegadinha!! Alguns examinadores trazem questões afirmando que a ARL só é


encontrada em zona rural, no entanto, esta afirmativa está ERRADA.

Não se pode confundir imóvel rural com zona rural. É plenamente possível que
exista um imóvel rural em zona urbana, isso porque o imóvel rural no âmbito do direito agrário é
identificado através do princípio da destinação e não pelo princípio da localização. Assim, o que
interessa é a destinação do imóvel, se é agrícola, pecuária, extrativista, silvicultura ou de
piscicultura. Caso possua qualquer uma destas destinações, o imóvel será considerado rural, ainda
que se encontre no “coração” da cidade.

O mais comum é que os imóveis rurais sejam encontrados na zona rural, no


entanto, nada impede que se tenha um imóvel rural na zona urbana. A prova desta afirmativa é a
existência do Plano Diretor do Município do Rio de Janeiro - Lei complementar 111/2011, que
dispõe em seu art. 13:

Art. 13 A caracterização do território municipal como


integralmente urbano não exclui a existência de áreas destinadas a
atividades agrícolas ou o estabelecimento de restrições urbanísticas e
ambientais à ocupação de determinadas partes do território.

Assim, por força do que estabelece o artigo 13 do plano Diretor, o Município do Rio
de janeiro deve ser considerado integralmente urbano, não existindo, portanto, zona rural. No
entanto, é evidente que existem imóveis rurais no âmbito Município do Rio de Janeiro, mas para
ser caracterizado como tal se faz necessário que este imóvel tenha destinação agrícola.

Sistematizando as diferenças entre as limitações administrativas APP e a ARL:

APP - área de preservação permanente ARL - área de reserva legal


Arts. 4º ao 9º da lei 1265/2012 Arts. 12 ao 24 da lei 1265/2012

Encontrada na zona rural e urbana Encontrada no imóvel rural

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Ainda, à título de apresentação da matéria, saliento que, muito embora o código


Florestal traga um conceito de meio ambiente tratando dos aspectos naturais, de recursos
naturais, hídricos, flora e fauna, o direito ambiental cada vez mais tem se preocupado com outros
meios em que se pode encontrar vida. Deste modo, no direito ambiental atual temos o meio
ambiental sob o enfoque natural, artificial, cultural e do trabalho.

O meio ambiente artificial é o estudo do direito urbanístico, ou seja, é o meio


ambiente urbano. Se pegarmos um livro de direito ambiental para estudar o tema, veremos que o
autor abordará o estatuto da cidade - Lei 10.257/2001 - para explicar o meio ambiente sob o
enfoque citado.

O meio ambiente cultural, por sua vez, nada mais é do que tombamento. Em livros
de direito ambiental, o capítulo que trata de meio ambiente cultural abordará os aspectos do
Decreto Lei nº 25/1937 que regula o tombamento.

Por fim, o meio ambiente do trabalho é aquele onde você trabalha. Inclusive, vale a
leitura do art. 200, VIII, CRFB/88:

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras


atribuições, nos termos da lei:
VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele
compreendido o do trabalho.

O meu meio ambiente do trabalho, por exemplo, é a sala de aula, e a minha


preocupação é quanto à realização de limpeza do filtro do ar condicionado. Esta é a preocupação
que se deve ter no meio ambiente do trabalho.

Você já ouviu falar em CIPA? Ao lado da CIPA está o PPRA, que significa Plano de
prevenção de riscos ambientais. O PPRA irá fazer um Raio-X do quadro da empresa em que você
está trabalhando e irá elencar todos os riscos físicos e biológicos a que o trabalhador está sujeito.

Fiquem atentos a essas conceituações, porque elas chamam a atenção do


examinador.

Assim, encerramos a conceituação do direito ambiental. Vamos avançar e trazer o


tema de princípios.

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3. PRINCÍPIOS

Toda prova de múltipla escolha tem uma questão de princípios.

O provão do TJRJ, por exemplo, cuja banca é a VUNESP, traz umas 6 ou 7 questões
de ambiental e, dentre elas, sempre tem uma versando sobre princípios. E em direito ambiental o
que não falta são princípios.

Não vamos inventar princípios, utilizaremos o rol previsto no art. 6º da Lei


12.305/2010 - Lei de Resíduos Sólidos -, lei esta que determinou o fechamento dos lixões e a
construção de aterros sanitários.

Este rol do art. 6º possui 11 incisos - alguns trazendo mais de um princípio - no


entanto, embora seja um rol extenso não é considerado taxativo. Neste contexto, é importante
sabermos também que existem princípios previstos fora deste rol, mas ainda presentes no mesmo
diploma legal, o que é lamentável uma vez que poderia estar tudo sistematizado em um único
dispositivo.

Um dos princípios que não está previsto dentro do rol do art. 6º e que merece
destaque é o princípio da logística reversa, que aparece com frequência em matéria de
consumidor. Este princípio nada mais é do que o retorno do produto para o fabricante após o uso
do consumidor e encontra-se previsto no art. 33 da lei 12.305/2010. Um exemplo para explicar
este princípio: determinada pessoa compra uma geladeira nova e decide doar a geladeira velha
para alguém. No entanto, devido ao seu estado de conservação ninguém possui interesse em ficar
com ela. Diante do ocorrido, a pessoa entra em contato com o fabricante da geladeira e este
deverá realizar a coleta do bem na residência do consumidor.

Antigamente este princípio era chamado de princípio da destinação final, mas


atualmente a legislação o denomina de princípio da logística reversa.

Art. 33. São obrigados a estruturar e implementar sistemas de


logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo
consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e
de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes de:
I - agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como
outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso,
observadas as regras de gerenciamento de resíduos perigosos previstas em
lei ou regulamento, em normas estabelecidas pelos órgãos do Sisnama, do
SNVS e do Suasa, ou em normas técnicas;

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II - pilhas e baterias;
III - pneus;
IV - óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens;
V - lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de
luz mista;
VI - produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

# CUIDADO, pegadinha!!
- A linha branca, prevista no inciso VI, é novidade.
- Em provas de múltipla escolha o examinador costuma perguntar quem são os personagens
obrigados a buscar o produto (os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes) ou,
ainda, quais produtos são abarcados pelo princípio da logística reversa.
Fique atento! Quando o examinar questiona acerca dos personagens obrigados a buscar o
produto, é comum que se coloque o consumidor como um desses personagens. A alternativa que
afirmar que o consumidor é um personagem obrigado, por força do princípio da logística reversa,
a buscar o produto estará ERRADA!

Ademais, estes quatro personagens elencados no art. 33 vão fazer o chamado


“acordo setorial”. Por meio deste acordo cada um arcará com um determinado custo, de modo a
viabilizar a busca do produto após o uso do consumidor.

Voltando ao artigo 6º da Lei de resíduos sólidos, irei destacar três princípios nele
elencado, quais sejam:

(I) Princípio da prevenção – inciso I;

(II) Princípio da precaução – inciso I;

(III) Princípio do poluidor-pagador - inciso II

Estes princípios são os que mais interessam para nós.

O princípio do protetor-recebedor que também está previsto no inciso II é o que eu


chamava de “bolsa floresta” e que atualmente o Governo chama de “bolsa carbono”. O projeto
para o pagamento desta bolsa existe e está no Ministério do Meio Ambiente, mas nunca foi
destinada dotação orçamentária para tal, logo, não está em prática. Seria a hipótese do pequeno
agricultor que, através de um cartão da Caixa econômica, receberia um valor à título de bolsa
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carbono para ficar vendo a floresta crescer, isso porque o pequeno agricultor desmata a floresta
somente para plantação de alimentos para comer e sobreviver. Assim, em suma, pagaria- se uma
bolsa para que este agricultor deixe de plantar.

Atenção! Antes de trabalharmos estes três princípios é importante tomarmos


cuidado com o seguinte: Como o direito ambiental também é um direito humano, vocês podem
buscar outros princípios na própria Constituição. Por exemplo, o princípio da dignidade da pessoa
humana é ligado ao Direito Ambiental; outro princípio que aparece bem é o princípio do
desenvolvimento sustentável.

E o que é o desenvolvimento sustentável? É a forma de o País gerar um


desenvolvimento limpo. O famoso protocolo de Quioto inventou a expressão “MDL” – Mecanismo
de desenvolvimento limpo, que é o mecanismo por meio do qual os Países desenvolvidos pagam
para os Países em desenvolvimento não causarem a mesma “lambança” que os desenvolvidos
causaram. Esta é a ideia do desenvolvimento sustentável, com três pernas clássicas:

(i) desenvolvimento econômico,


(ii) desenvolvimento social;
(iii) uso racional dos recursos ambientais.

Se um dia você precisar lembrar disso, o artigo 186 da CRFB/88 conceitua a função
social da propriedade rural e é exatamente o mesmo conceito. A função social da propriedade
rural é aquela que gera desenvolvimento econômico, desenvolvimento social por meio do uso
racional dos recursos ambientais. Então, eu posso afirmar que o conceito de função social da
propriedade rural é o mesmo que o princípio do desenvolvimento sustentável.

Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade


rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência
estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
I - aproveitamento racional e adequado;
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e
preservação do meio ambiente;
III - observância das disposições que regulam as relações de
trabalho;
IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e
dos trabalhadores.

À título de curiosidade, dizem que a expressão “desenvolvimento sustentável”


surgiu pela primeira vez no mundo em meados do ano de 1988, quando a ONU encomendou o
estudo intitulado “o mundo que nós queremos”, mais conhecido como relatório Brandeler (nome
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da primeira ministra da Noruega que conduziu o referido estudo). O referido estudo revelou que a
situação não estava boa e, por esta razão, agendaram a Convenção RIO 92, local onde nasceu o
Princípio 15 – princípio da precaução.

Penso que o maior e mais importante princípio de direito ambiental é o da


prevenção. Todos sabemos que recuperar o dano ambiental, se possível, é algo demorado e caro.
Assim, é preciso que se faça de tudo para que o dano não aconteça, o que significa realizar a
prevenção. E como eu faço essa prevenção? Ligando este princípio à matéria mais importante do
direito ambiental, qual seja, o licenciamento ambiental. E como faço para evitar o dano?
Tornando o licenciamento daquela atividade potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental algo complexo, fazendo-se uma série de exigências na tentativa de evitar a
ocorrência do dano ou, no mínimo, mitiga-lo. Desta forma, o princípio da prevenção é o maior
princípio do direito ambiental, pois ele se espelha na maior matéria, que é o licenciamento
ambiental.

Atividades que venham a ter um potencial de dano elevado terão que passar pelo
crivo de um licenciamento ambiental rígido, não sendo possível a realização de um licenciamento
com tramitação tranquila e célere. Isto porque, o princípio da prevenção pede esse tipo de
tratamento para atividades causadoras de potencial dano ambiental.

E qual seria a diferença entre prevenção e precaução? Esta é uma distinção


complexa, mas o princípio da Precaução é destinado às atividades novas, para o avanço
tecnológico. Ou seja, a precaução é voltada para atividades as quais eu ainda não sei os impactos
que podem ser causados e esta é a justificativa para a maior rigidez. O princípio 15 da RIO 92 fala,
em suma, que havendo incerteza científica, não haverá liberação de nada até que se tenha
comprove que a atividade não irá gerar risco ambiental, risco ao agricultor ou ao consumidor.

O STJ já ligou a precaução ao in dubio pro natura, ou seja, na dúvida, não libera.

O Princípio da prevenção, por outro lado, é destinado a atividades já conhecidas e


que se conhece ser a atividade uma potencial geradora de lesão ambiental sabendo se, inclusive, o
que é necessário para conceder o licenciamento.

A precaução está relacionada ao avanço tecnológico, biotecnologia onde não se


sabe sequer o que requisitar para conceder o licenciamento ambiental. O empreendedor deve
provar que a atividade não gerará risco a agricultura, ao consumidor e ao meio ambiente.
Enquanto não houver comprovação, não haverá liberação de licenciamento, por força do in dubio
pro natura. Por isto, podemos pegar a Lei 11.105/2005 - Lei de biossegurança (que já foi tema de
uma questão de constitucional da prova do MPRJ) e verificar que seu art. 1º estabelece o seguinte:

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Art. 1º Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos


de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o
transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento,
a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente e o
descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus
derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de
biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal
e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do
meio ambiente.

Atenção! O examinador geralmente fala em “OGM” na prova e sequer coloca o que


significa. Lembre-se, OGM significa organismo geneticamente modificado.

Não sei se vocês estão lembrados, com relação àqueles fatos que eu sempre falo
para vocês contextualizarem, é importante relembrar que a primeira briga da Ministra Marina
Silva com o até então Presidente Lula foi devido a esta Lei e ao princípio da precaução. Na época,
uma soja transgênica entrou no Brasil através de contrabando pelo Paraguai e foi plantada no
Paraná. Depois de feita a colheita, descobriram que a soja era transgênica e, por esta razão, a
Ministra queria que queimasse toda a soja coletada, com base no princípio da precaução. Mas o
Presidente defendia o contrário, buscando atender o programa Fome Zero criado à época, assim
ele assinou Medida provisória liberando a soja transgênica.

Princípio do poluidor pagador - Ninguém quer chegar neste estágio, pois significa
que os princípios da prevenção e da precaução não funcionaram. Alguns até brincam com o
princípio dizendo “poluo, mas pago”. Então, já que é para fazer graça e prefiro dizer “poluo e não
pago”, isso porque dificilmente alguém paga multa ambiental neste País. O IBAMA recolhe apenas
2% das multas aplicadas, mas esta situação não se restringe só ao IBAMA, uma vez que toda
entidade autárquica com poder punitivo não consegue arrecadar.

Por isso a febre nacional entre as entidades autárquicas que aplicam multa é a
realização do Termo de Ajustamento de Conduta- TAC, pois é muito mais eficiente.
Ao mudar o ramo do direito, muda-se também o nome do instituto realizado: No direito
ambiental, a moda é a realização do chamado “PRA”- Programa de Regularização Ambiental; No
CADE ocorre o chamado TCC- Termo de compromisso de cessão, que nada mais é do que o termo
de ajustamento de conduta previsto na lei de ação civil pública.

E qual a grande vantagem? Interrompe a prática infrativa, retoma a situação


anterior, atende aos interesses públicos e, embora abra mão do pagamento da multa, consegue a
solução de forma mais célere. Realizar um termo de conduta é melhor do que aplicar uma multa
que nunca será paga, pois para conseguir pleitear pelo pagamento um Procurador Autárquico
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deveria ser movimentado para ingressar com uma ação em juízo buscando fazer valer a decisão –
ainda que seja a multa considerada um título executivo extrajudicial. O fato é que demorará
bastante tempo e no momento da cobrança a empresa pode decretar falência, o que fará com que
a Autarquia deixe de arrecadar qualquer valor.

 TEORIA APLICÁVEL AO DANO AMBIENTAL

A grande questão é: qual teoria eu vou aplicar ao dano ambiental? O poluidor vai
responder com base em que teoria? Vejamos o que dispõe o art. 14, §1º da Lei 6.938/81, que
institui a política nacional do meio ambiente:

Art .14 - Sem prejuízo das penalidades definidas pela


legislação federal, estadual e municipal, o não cumprimento das medidas
necessárias à preservação ou correção dos inconvenientes e danos
causados pela degradação da qualidade ambiental sujeitará os
transgressores:
§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste
artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa,
a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.

Então, resta evidente que, por meio da leitura do artigo, o dano ambiental é
abraçado pela teoria objetiva.

Importante! Se limite a responder apenas isso. Só responda além disso SE o


examinador perguntar, caso contrário, se limite a responder que a teoria adotada é a objetiva.

O examinador pode perguntar também qual a variação da teoria objetiva. Essa


resposta já é mais complicada. Eu sempre utilizo o quadro de Hely Lopes Meireles que diz que a
teoria objetiva se trata de um gênero, do qual temos 3 espécies (Hoje temos muitas outras
variações):

(i) teoria do risco;


(ii) teoria do risco integral, e;
(iii) teoria da falta de serviço, que eu e a maioria da doutrina chamamos de teoria
subjetiva.

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Então, qual seria a variação da teoria objetiva? Dando uma resposta bem lógica e
com base em reiteradas decisões do STJ, eu diria ao examinador que a teoria do risco integral.
Ainda que esteja errado - e na minha opinião está errado mesmo - você estará errando com base
no entendimento do STJ. Este posicionamento do STJ se iniciou no boletim informativo nº 507 de
2012 e vem sendo mantido até hoje.

Segundo Celso Antônio Bandeira de Melo, teríamos uma outra variação chamada de
teoria do risco suscitado. Para saber mais sobre esta teoria é recomendável que se leia a doutrina
de Celso Antônio Bandeira de Melo. A teoria do risco suscitado também é conhecida como teoria
do risco criado ou teoria do risco produzido.

Saliento que, o capítulo mais importante do livro do Celso Antônio é o que trata
sobre responsabilidade do Estado, por isso aconselho a vocês que irão fazer um concurso de alto
padrão a ler este capitulo.

A decisão do Superior Tribunal de Justiça acaba enrolando o conceito desta teoria.


Isto porque, o Ministro Luís Henrique Salomão, ao prolatar seu voto, utiliza a expressão “risco
integral”, mas traz a explica da teoria do risco suscitado. Assim, tenham muito atenção a isto, na
realidade, não tem motivo para sequer tratar do risco suscitado. Não vale a pena citar o risco
suscitado nestes casos, pois ele é pouco citado e, por vezes, o examinador sequer ouviu falar.

Em suma, em uma prova eu diria que (i) ao dano ambiental aplica-se a teoria
objetiva; (ii) enquanto na variação aplica-se o risco integral, conforme reiteradas decisões do STJ.

Quais seriam as igualdades e diferenças entre o risco suscitado e o risco integral?

Em relação às igualdades, ambas as teorias não aceitam excludentes de


responsabilidade.

O mais complicado de sustentar, inclusive na doutrina escrita, é o seguinte:

Na teoria do risco integral despreza-se o nexo de causalidade e não há excludentes


de responsabilidade e por isso é considerada uma aberração. Já no risco suscitado há nexo de
causalidade – que é produzir/criar o problema – então, por exemplo, quando o empreendedor
inaugura uma fábrica causadora de significativa degradação ambiental, ele estará
criando/suscitando o dano. Vamos supor que a atividade realizada pela fábrica obriga que esta
tenha tanques de armazenamento de resíduos e que em um dia de fortes chuvas um raio tenha
caído exatamente em um destes tanques provocando o vazamento dos resíduos químicos
diretamente em uma Baía, de forma a afetar espécies marinhas e a população que utiliza a pesca
para sobrevivência. Nesta situação hipotética, o empreendedor vai ser responsabilizado pelo dano
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e será obrigado a promover a limpeza da baía, bem como a realizar pagamentos à título de
indenização àquela população atingida, independentemente de o dano ter sido causado por um
raio.

Hely Lopes Meireles defende que não existe risco integral no direito administrativo
brasileiro. E, se existisse, o Estado seria segurador universal, uma vez que qualquer fato que
acontecesse diante da ausência de excludente e de nexo, seria de responsabilidade do Estado.
O exemplo que o Gasparini traz é o caso de uma família que decide pedir indenização ao
Município devido a morte de um familiar que optou por pular de uma janela. Segundo a família, a
indenização seria devida vez que a causa da morte foi o choque do corpo do indivíduo com o
logradouro público pertencente ao Município.

Por estas razões, existem as variações e surgiu a teoria do risco suscitado como
forma de enxergar o nexo.

Eu já vi a banca CESPE/UNB na prova de múltipla escolha da Magistratura Federal


em que uma alternativa trazia “risco integral” e na outra “risco criado”, considerar como gabarito
correto a alternativa que tratava do risco criado, indo de encontro com o que estabelece o STJ. O
gabarito obviamente não estava correto, mas foi o entendimento adotado pela banca.

Voltando ao art. 14, §1º da Lei 6938/81 que fala da teoria objetiva (gênero),
gostaria de destacar e estudar uma expressão existente neste dispositivo.

§ 1º - Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste


artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a
indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros,
afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados
terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por
danos causados ao meio ambiente.

Logo no início irei destacar, embora não seja a mais importante, a expressão “é o
poluidor”. Quem é o poluidor? O art. 3º, IV da Lei 6938/81 conceitua quem é o poluidor:

IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou


privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de
degradação ambiental;

Interessante destacar que a Lei 6938 é do ano de 1981. A teoria objetiva nesta
época ainda estava engatinhando e a Lei ambiental já estava mandando aplica-la à pessoa física.
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Hoje, com o código civil de 2002, ninguém se preocupa com isso, mas na época de edição da lei
ambiental era considerado revolucionário.

 POLUIDOR DIRETO E POLUIDOR INDIRETO OU CORRESPONSÁVEL

Ademais, o dispositivo ainda prevê que o poluidor pode ser direto ou indireto.
Atualmente, o poluidor indireto é chamado de corresponsável ambiental e isso tem caído
bastante em prova.

O Código florestal brasileiro requenta um poluidor indireto e corresponsável, o que


chama ainda mais atenção. Então, se temos o poluidor direto que, certamente, é o
empreendedor, quem será o poluidor indireto? Eu vou começar com o caso mais tradicional de
todos, tão tradicional que a própria Lei 6938/81 trabalha. O art. 12 diz:

Art 12 - As entidades e órgãos de financiamento e incentivos


governamentais condicionarão a aprovação de projetos habilitados a esses
benefícios ao licenciamento, na forma desta Lei, e ao cumprimento das
normas, dos critérios e dos padrões expedidos pelo CONAMA.

Exemplos: BNDES, Banco do Brasil, CEF,


FINEP...

Se as entidades e órgãos de financiamento não tomarem as precauções dispostas


no art. 12 serão consideradas poluidoras indiretas/corresponsáveis. Exemplo: O indivíduo requer
financiamento junto ao BNDES para construir uma fábrica de celulose, atividade extremamente
poluidora. Para a liberação do crédito, o BNDES deverá exigir adequação ambiental e deverá
liberar a verba de acordo com o andamento do licenciamento. Isto porque se este indivíduo
financiado causar um dano ambiental, o BNDES, caso não tenha tomado todas as precauções
devidas, poderá ser considerado poluidor indireto.

O poluidor direito responderá pela teoria objetiva, porque o art. 14, §1º dispõe
expressamente que “o poluidor responde”. Mas, o poluidor indireto responde pela teoria objetiva,
na variação teoria do risco integral, pois ele possui uma excludente, qual seja, provar que exigiu
adequação do financiado.

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Um exemplo mais recente pode ser criado a partir da Lei de Biossegurança. Fazer
pesquisa com organismo geneticamente modificado tem um custo extremamente alto, então as
instituições cientificas procuram instituições financeiras para pedir financiamento. Nestes casos, a
própria lei de biossegurança, em seu art. 2º, §4º trata expressamente da corresponsabilidade:

Art. 2º As atividades e projetos que envolvam OGM e seus


derivados, relacionados ao ensino com manipulação de organismos vivos, à
pesquisa científica, ao desenvolvimento tecnológico e à produção industrial
ficam restritos ao âmbito de entidades de direito público ou privado, que
serão responsáveis pela obediência aos preceitos desta Lei e de sua
regulamentação, bem como pelas eventuais conseqüências ou efeitos
advindos de seu descumprimento.
§ 4º As organizações públicas e privadas, nacionais,
estrangeiras ou internacionais, financiadoras ou patrocinadoras de
atividades ou de projetos referidos no caput deste artigo devem exigir a
apresentação de Certificado de Qualidade em Biossegurança, emitido pela
CTNBio, sob pena de se tornarem co-responsáveis pelos eventuais efeitos
decorrentes do descumprimento desta Lei ou de sua regulamentação.

Assim, se a instituição financiadora não exigir a apresentação de Certificado de


Qualidade em Biossegurança poderá ser responsável indireta ou corresponsável (termo mais
atual). Interessantíssimo que nesta mesma lei ainda temos o art. 20 tratando sobre
responsabilidade solidária. Vejamos:

Art. 20. Sem prejuízo da aplicação das penas previstas nesta


Lei, os responsáveis pelos danos ao meio ambiente e a terceiros
responderão, solidariamente, por sua indenização ou reparação integral,
independentemente da existência de culpa.

Assim, esta lei reconhece a figura do poluidor direto, do poluidor indireto e ainda
fala em solidariedade.

O fato é que, estando a instituição científica de um lado e a instituição financeira de


outro, é lógico que é preferível se buscar a reparação junto à instituição financeira. Assim, se a
instituição financeira tiver provas de que exigiu o certificado de qualidade, estará caracterizada a
excludente de responsabilidade. Aqui, aplica-se a teoria do risco integral porque se trata de
poluidor indireto, mas ele tem o direito de se defender evitando essa responsabilização.

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Na prova do BNDES já caiu isso em todas as fases: na múltipla escolha, na discursiva


e na redação. Essa temática é o básico na atuação do BNDES e a apresentação de uma forma de
excluir a responsabilidade é essencial.

Assim, esta é a forma de explicar ao examinador a corresponsabilidade das


instituições financeiras que dão crédito sem exigir adequação ambiental.

Agora, veremos a corresponsabilidade do Código Florestal que tem requentado o


tema. Atenção! Essa temática já existia, por esta razão não há como falar que isto é uma novidade
DO código florestal. Podemos sim falar que se trata de uma novidade NO código florestal, pois
antigamente ele nada dizia à respeito, mas há muito tempo a jurisprudência já reconhece a
corresponsabilidade do adquirente de imóvel rural com passivo ambiental.

O adquirente de imóvel rural com passivo ambiental assume a obrigação de


recuperar o dano, por força do que dispõe o art.7º, §§1º e 2º da Lei 12651:

Art. 7º A vegetação situada em Área de Preservação


Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou
ocupante a qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado.
§ 1º Tendo ocorrido supressão de vegetação situada em Área
de Preservação Permanente, o proprietário da área, possuidor ou ocupante
a qualquer título é obrigado a promover a recomposição da vegetação,
ressalvados os usos autorizados previstos nesta Lei.
§ 2º A obrigação prevista no § 1º tem natureza real e é
transmitida ao sucessor no caso de transferência de domínio ou posse do
imóvel rural.

Pela literalidade do §2º resta evidente que se trata de uma obrigação propter rem,
ou seja, havendo a aquisição do imóvel há a obrigação de recuperar toda a área indevidamente
desmatada, não importando quem desmatou ou quando aconteceu, vez que a reparação do dano
ambiental é imprescritível.

Veja, o novo titular não vai assumir a multa eventualmente aplicada àquele que
desmatou, pois não há corresponsabilidade em matéria administrativa ou penal, por força do art.
5º, inc. XLV da CF que determina que “nenhuma pena passará da pessoa do condenado”. A
corresponsabilidade, igualmente como ocorre na imprescritibilidade, só ocorre na reparação civil.
Não há, portanto, como assumir a multa do antigo dono do imóvel.

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Sendo a obrigação propter rem, não há porque discutir qual é a teoria aplicável ou
quem será o responsável pela reparação civil.

Adentraremos na terceira e última corresponsabilidade citada, que é aquela a da


própria Administração Pública.

Quando o governo é omisso ao exigir do empreendedor as exigências legais,


quando ele falha no licenciamento – seja por dissidia ou de forma proposital com vistas a obter
vantagens-, quando ele deixa de exigir o que a lei manda, a Administração será considerada
corresponsável.

Lembre-se que há pouco tempo vimos um empresário abraçando um Governador


do Rio de Janeiro e lhe dando 16 milhões em troca da obtenção de vantagens durante a realização
de construções no Porto do Rio de Janeiro que estava com diversos problemas ambientais.

Se o empreendedor, neste caso citado, causar algum dano ambiental o Estado irá
responder. E, da mesma forma como ocorre nos casos de instituição científica x instituição
financeira, entre o empreendedor e o Estado é obviamente preferível que se busque a reparação
através do Estado, vez que este possui uma arrecadação tributária altíssima.

ATENÇÃO!! A jurisprudência exige que o Estado entre com ação regressiva contra o
empreendedor, senão a população estará pagando duas vezes. Isto porque, primeiramente estará
arcando com o dano ambiental e, posteriormente, com o valor referente a reparação do dano
causado pelo empreendedor. Então, se o Estado agiu erroneamente na concessão do
licenciamento ele será corresponsável, mas deverá obrigatoriamente ingressar com uma ação
regressiva contra o poluidor direto visando o ressarcimento dos recursos públicos ali utilizados.

Para fechar o tema de Princípios, vamos trabalhar com o princípio do usuário


pagador, que não está previsto no rol da Lei de resíduos sólidos, mas é extremamente importante.

Veja, NÃO é POLUIDOR PAGADOR ou PROTETOR RECEBEDOR, é USUÁRIO-


PAGADOR. Isto é, ele utiliza recurso natural de forma lícita para a obtenção de lucro. Assim, tendo
usado recurso natural para ganhar dinheiro, o usuário deverá pagar por isto. O maior exemplo
disto é o domínio hídrico, vez que a água é utilizada em vários processos produtivos.

O caso nº 01 do Brasil ocorreu aqui no Rio de Janeiro, na CSN em Volta Redonda. A


CSN capta água do rio Paraíba do Sul para esfriar suas caldeiras e fornos e, posteriormente, após
irem para o tanque e retornarem à temperatura normal, é devolvida para o rio. Muito embora a
CSN utilize como alegação o fato de devolver ao rio uma água em estado mais limpo do que
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aquela coletada, houve a utilização de um recurso natural para a obtenção de lucro, logo, o
pagamento pela utilização do recurso é devida. Isto é a caracterização do usuário pagador.

Interessante sabermos que existe um comitê chamado de “Comitê de Bacia


Hidrográfica” que define o plano de manejo da bacia, os valores devidos, entre outras questões.
Logo, isso tudo já é uma grande realidade no País e caracteriza o princípio do usuário pagador.

Enfim, o que não falta em direito ambiental são princípios. A existência de alguns
não é tão compreensível, como ocorre, por exemplo, com o princípio da ubiquidade. Este princípio
estabelece que o meio ambiente deve estar presente em todas as políticas de governo. (Exemplo:
educação ambiental). Em suma, para ele a questão ambiental deve ser trazida para todas as áreas
e políticas de governo.

Vimos os principais princípios, então vamos avançar para uma matéria bastante
cobrada, qual seja, competências.

4. COMPETÊNCIAS

Vamos falar neste tópico sobre: competência normativa - quem pode legislar sobre
direito ambiental; competência administrativa, que será dividia em duas partes, (i) preventiva e
(ii) repressiva (muita atenção aqui pois, por vezes, aparece em prova como poder de polícia
ambiental) e; competência jurisdicional, que traz consigo a competência do Ministério público e
da polícia.

A competência jurisdicional é extremamente importante para vocês. Se acontece


um crime ambiental, é a polícia civil ou federal que vai realizar o inquérito? A competência para
oferecer a denúncia será do MP estadual ou federal? Quem vai receber a denúncia será a justiça
estadual ou federal?
Assim, essa questão sobre competência chama muita atenção do examinador. Trata-se de um
tópico da parte introdutória que se destaca.

4.1. Competência Normativa

Quem pode legislar sobre direito ambiental? A resposta está no art. 24 da CF.

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Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal


legislar concorrentemente sobre:
VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza,
defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e
controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico,
turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico
e paisagístico;

A competência é concorrente. E, muito embora não fale do município é importante


adicionarmos este ente como competente, com base no que dispõe o art. 30, I, CF:

Art. 30. Compete aos Municípios:


I - legislar sobre assuntos de interesse local;

O problema é que podemos ter esforços duplicados provocando conflitos de


normas ou, ainda, uma omissão generalizada dos entes. Este é o tipo de problema que chama a
atenção do examinador. Assim, tenha atenção na hora de resolver esta questão.

Em um conflito de normas qual prevalece? Se você perguntar para alguém da área


técnica, a pessoa vai responder que será a norma mais restritiva. Mas na área jurídica esta não é a
resposta adequada, embora seja defendida em alguns livros.

Vou lhe dizer que, ao comentar o tema, Paulo Bessa Antunes explica que defendia
a aplicação da norma mais restritiva, mas que posteriormente veio a percebeu que se trata de
uma forma equivocada. Isto porque, quando trabalhamos com o artigo 24 a forma de resolver o
problema envolvendo conflito de normas é através do §1º.

§ 1º No âmbito da legislação concorrente, a competência da


União limitar-se-á a estabelecer normas gerais.

Assim, o que deve prevalecer são as normas gerais.

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Indo mais além, o dispositivo não diz se deve prevalecer à norma geral mais
restritiva, apenas se limita a dizer que as normas gerais devem prevalecer. Desta forma, não
importa se a norma geral é mais restritiva ou não, ela deverá prevalecer por ser regra
constitucional.

O problema é que, em regra, com as normas gerais não é possível se ter precisão.
Por isso, a União abusa do seu poder de criar normas gerais, pois ninguém sabe estabelecer o que
são normas gerais.

Importante! Não confunda! No contexto das decisões do Supremo que versam


sobre amianto, não há nada que tenha mudado o entendimento de que as normas gerais devem
prevalecer, independentemente de serem as mais restritas ou não. Aparentemente houve, mas
fazendo a leitura integral da decisão é possível verificar que não houve.

Explicando o caso: Temos uma lei federal (L.9055/95) que permite que Brasil ainda
utilize uma variação do amianto. Nesse contexto, os estados começaram a proibir integralmente o
uso do amianto, tendo sido o estado de São Paulo um dos primeiros a editar norma neste sentido.
Neste diapasão, uma indústria que fazia a utilização desta variação de amianto tentou requerer
licenciamento para atuar no estado de São Paulo, tendo sido tal licenciamento negado, pois São
Paulo possui lei própria proibindo integralmente o uso da referida substância. Assim, a empresa
ingressou em juízo requerendo a aplicação da norma geral, na forma como estabelece a
Constituição e a Confederação Nacional das Indústrias impetrou uma ADI para solucionar a
questão. Chegando à Corte, esta decidiu pela prevalência da Lei de São Paulo, ou seja, da lei mais
restritiva. Informativo 509- ADI 3937/2008.

Neste caso, o STF entendeu que, por questões de saúde, a lei federal é
inconstitucional tendo sido esta, portanto, derrubada. Afirmou ainda que, a lei geral no Brasil
sobre amianto é a Convenção 162 da OIT. Esta convenção já foi internalizada pelo Brasil e proíbe a
utilização do amianto e de qualquer variação. Então, veja bem, a lei de São Paulo está no mesmo
sentido da norma geral, logo não prevaleceu a mais restritiva.

Nas palavras do Ministro Joaquim Barbosa “quem tem tintas de generalidade é a


convenção da OIT 162.” Deste modo, a Lei 9055 não deve ser considerada válida, sendo a
legislação de São Paulo constitucional.

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Exceção:
Ademais, para dizer que não foi dito, aprendi com Paulo Bessa Antunes que existe
uma norma geral que manda aplicar a norma mais restritiva. Ou seja, existe um momento/um
caso em que a norma restritiva vai prevalecer por força de determinação de lei federal. É a
hipótese de gerenciamento costeiro, prevista pelo art. 5º da Lei 7661/88.

Desta forma, tenham cuidado porque muitos livros afirmam que a norma mais
restritiva prevalece sem fazer qualquer tipo de restrição, mas este entendimento é equivocado.

É possível aceitar que norma especifica estadual ou municipal seja mais restritiva
quando a norma geral permite. Por exemplo, voltando a falar sobre APP, o art. 4º, I do Código
Florestal, traz a conhecida APP das margens dos rios/ das matas ciliares, que veda o
desmatamento para não ter o assoreamento dos rios e etc.

Art. 4º Considera-se Área de Preservação Permanente, em


zonas rurais ou urbanas, para os efeitos desta Lei:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural, desde
a borda da calha do leito regular, em largura mínima de:
I - as faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene
e intermitente, excluídos os efêmeros, desde a borda da calha do leito
regular, em largura mínima de: (Incluído pela Lei nº 12.727, de 2012).
a) 30 (trinta) metros, para os cursos d’água de menos de 10
(dez) metros de largura;
b) 50 (cinquenta) metros, para os cursos d’água que tenham
de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura;
c) 100 (cem) metros, para os cursos d’água que tenham de 50
(cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura;
d) 200 (duzentos) metros, para os cursos d’água que tenham
de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura;
e) 500 (quinhentos) metros, para os cursos d’água que
tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros;

A norma geral elenca a largura mínima, logo, o Município que, visando defender os
interesses locais, quiser aumentar essa largura está liberado, pois a lei está o deixando livre para
isso. O mínimo é aquele estabelecido pela norma geral e consequentemente não poderá haver
mais diminuição, mas aumentar é permitido.

Há uma variação de 30 m à 500m de largura dessa faixa marginal, vai depender da


largura do rio. Assim, quanto maior a largura do rio maior a faixa marginal. Aqui no nosso Estado,
em regra, os rios com 10 m de largura têm 30 m para cada margem. Se houver desmatamento na
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APP o responsável será obrigado a reparar o dano. Em alguns lugares a fiscalização é muito rígida,
como por exemplo, em visconde de Mauá.

Então tenham bastante atenção a isso.

Para fechar a competência normativa faço um alerta: para confundir o candidato, o


examinador tenta trabalhar com hipóteses de competência concorrente trazendo temas previstos
nos incisos do art.22 da CF que trata da competência PRIVATIVA da União. Por exemplo, legislar
sobre águas e sobre jazidas é de competência privativa da União:

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:


IV – águas
XII - jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia;

Assim, o examinador traz o contexto da competência concorrente e, como quem


não quer nada, fala sobre a licença para mineração. Pela literalidade do art. 22, não há no que se
falar em competência concorrente, neste caso a competência será privativa da União.
Outro exemplo é o inciso XIV que trata das populações indígenas, inclusive é o
preferido do examinador.

Informação importantíssima para o Rio de Janeiro: O Petróleo é considerado jazida mineral.

Não me deixaria surpreso se encontrarmos na lei orgânica do município de Angra


dos Reis disposição proibindo atividades nucleares no município, pois o que mais tem é isso. Da
mesma forma, existe legislação que proíbe o trânsito de rejeitos nucleares dentro do município,
no entanto, estas legislações não possuem qualquer validade uma vez que a competência para
legislar sobre tal matéria é privativa da União.

Por esta razão, o examinador tenta confundir o candidato com as competências


privativas da União. Tenham especial cuidado com essas quatro figuras: águas, mineração,
população indígena e atividades nucleares, pois elas estão no art. 22 como competência
PRIVATIVA da União.

No sábado passado eu cheguei a mencionar aqui sobre a emenda 100, não


comentei? Sobre direito financeiro, orçamento impositivo e de emenda de banca. Então, fiquem
atentos porque saiu a centésima emenda constitucional. Se formos contar com as emendas de
revisão passaremos de cem.

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A emenda 100 cria o orçamento impositivo de emenda de bancada. Já existia no


Brasil o orçamento impositivo de emenda parlamentar, mas essa semana que passou eu estudei a
emenda e me surpreendia.

Depois verifiquem o §10º do art. 165, lá acontece uma reformulação estrutural do


direito financeiro como um todo, pois me dá a entender que todo o orçamento agora é impositivo.
Não sei se vocês já fizeram este estudo em relação as leis orçamentarias, mas eu costumo falar
que a natureza jurídica da lei orçamentária é de lei formal, ordinária e temporária.

Entendo ser uma lei formal, pois não tem densidade normativa, não gera direito
subjetivo para ninguém, o fato de estar previsto lá não significa dizer que será gasto.

A leitura do §10º do art. 65, dá a entender que existe a obrigação de cumprir


integralmente o orçamento, ou seja, o orçamento passa a ser impositivo, seja lá de onde venha a
proposta- se é do próprio governo, se é de emenda parlamentar ou se é de bancada.

Quer dizer, além de ser uma mudança significativa, me chamou mais atenção ainda,
as palavras ditas pelo Deputado Rodrigo Mais. Durante a aprovação da reforma da previdência o
Deputado criticou o governo dizendo que “se não fosse pelo Parlamento essa reforma não sairia e
que era bom que o governo “abrisse o olho”, pois o orçamento agora é todo impositivo”.

Talvez seja melhor esperar os grandes autores se manifestarem sobre o tema, mas,
sinceramente, acho válido que vocês leiam com atenção para ver se possuem a mesma impressão
que eu a respeito de todo o orçamento ser impositivo.

DETALHE IMPORTANTE: Sendo impositivo, o dinheiro vai ter que ser liberado. O
artigo ainda fala que o governo vai ter que se esforçar para cumprir. Claro que, por questões de
contingenciamento e técnicas vão impedir e continuaram impedindo, mas não é mais vontade do
governo executar o orçamento, como até então era. Então fiquem atentos à essa questão bem
emblemática.

Vamos voltar às competências ambientais.

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4.2 Competência Administrativa

Vamos para o art. 23 da CRFB/88. Aqui não há necessidade de utilizar o art. 30 para
definir a competência dos Municípios, pois o próprio art. 23 já o faz.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios:
III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor
histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais
notáveis e os sítios arqueológicos; (meio ambiente cultural)
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em
qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;

Todos os entes da federação poderão ter ações administrativas em relação ao meio


ambiente. Como dito anteriormente, vamos dividir em preventiva e repressiva.

(I) PREVENTIVA:

Na preventiva, a grande questão é quem é competente para dar o licenciamento


ambiental. A resposta para este questionamento pode ser encontrada na legislação ambiental.
Atualmente, nós temos a LC 140/2011 que regula as ações administrativa resolvendo o problema.
No entanto, até a edição desta lei, que só ocorreu em 2011, houve muita confusão porque a
CF/1988 dispõe que a competência para conceder o licenciamento é comum.

E o que ocorreu até o nascimento da LC 140/2011? A CF/88, em seu art. 23, trouxe
essa competência comum, mas a edição de uma lei complementar para organizar essa distribuição
de competência não ocorreu logo, assim como pede o parágrafo único do art. 23.

Diante da omissão, o CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente editou a


resolução 237/97, que é até hoje o principal ato administrativo sobre licenciamento ambiental. No
art. 4º desta resolução estão previstas as atribuições da União, no art.5º as atribuições dos
estados e no art. 6º as atribuições dos municípios. Ou seja, a resolução fez o que a lei
complementar deveria ter feito.

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Art. 4º - Compete ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e


dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, órgão executor do SISNAMA, o
licenciamento ambiental, a que se refere o artigo 10 da Lei nº 6.938, de 31
de agosto de 1981, de empreendimentos e atividades com significativo
impacto ambiental de âmbito nacional ou regional, a saber:
I - localizadas ou desenvolvidas conjuntamente no Brasil e em
país limítrofe; no mar territorial; na plataforma continental; na zona
econômica exclusiva; em terras indígenas ou em unidades de conservação
do domínio da União.
II - localizadas ou desenvolvidas em dois ou mais Estados;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites
territoriais do País ou de um ou mais Estados;
IV - destinados a pesquisar, lavrar, produzir, beneficiar,
transportar, armazenar e dispor material radioativo, em qualquer estágio,
ou que utilizem energia nuclear em qualquer de suas formas e aplicações,
mediante parecer da Comissão Nacional de Energia Nuclear - CNEN;
V- bases ou empreendimentos militares, quando couber,
observada a legislação específica.
§ 1º - O IBAMA fará o licenciamento de que trata este artigo
após considerar o exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos
Estados e Municípios em que se localizar a atividade ou
empreendimento, bem como, quando couber, o parecer dos demais órgãos
competentes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
envolvidos no procedimento de licenciamento.
§ 2º - O IBAMA, ressalvada sua competência supletiva, poderá
delegar aos Estados o licenciamento de atividade com significativo impacto
ambiental de âmbito regional, uniformizando, quando possível, as
exigências.
Art. 5º - Compete ao órgão ambiental estadual ou do Distrito
Federal o licenciamento ambiental dos empreendimentos e atividades:
I - localizados ou desenvolvidos em mais de um Município ou
em unidades de conservação de domínio estadual ou do Distrito Federal;
II - localizados ou desenvolvidos nas florestas e demais formas
de vegetação natural de preservação permanente relacionadas no artigo 2º
da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, e em todas as que assim forem
consideradas por normas federais, estaduais ou municipais;
III - cujos impactos ambientais diretos ultrapassem os limites
territoriais de um ou mais Municípios;
IV – delegados pela União aos Estados ou ao Distrito Federal,
por instrumento legal ou convênio.
Parágrafo único. O órgão ambiental estadual ou do Distrito
Federal fará o licenciamento de que trata este artigo após considerar o
exame técnico procedido pelos órgãos ambientais dos Municípios em que se
localizar a atividade ou empreendimento, bem como, quando
couber, oparecer dos demais órgãos competentes da União, dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, envolvidos no procedimento de
licenciamento.

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Art. 6º - Compete ao órgão ambiental municipal, ouvidos os


órgãos competentes da União, dos Estados e do Distrito Federal, quando
couber, o licenciamento ambiental de empreendimentos eatividades de
impacto ambiental local e daquelas que lhe forem delegadas pelo Estado
por instrumento legal ou convênio.

Quando o CONAMA editou a referida resolução, ninguém se impressionou com as


disposições dos arts. 4 e 5, isto porque a Lei 6938/81 em seu art. 10, devidamente alterado pela lei
complementar 140, já tratava de competências para licenciamento.

Na época, o art. 10 da referida lei dizia quais as competências pertenciam aos


estados, assim, o art. 5 da resolução 237 que elenca as atribuições do estado, apareceu apenas
regulamentando a lei.

O mesmo ocorreu com as disposições trazidas por um dos parágrafos do artigo 10,
hoje revogado, que determinava que “assuntos de interesse nacional são de competência da
União”, logo, o art. 4 da resolução que trata da competência da União também surgiu
regulamentando a Lei 6938/81.

Ocorre que a Lei 6938/81 não tratou das competências dos municípios, até porque,
a autonomia municipal só adveio no ano de 1988, ou seja, até 1988 o município sequer tinha
autonomia.

Estão lembrados como era a lei orgânica naquela época? O Estado editava uma lei
orgânica que era imposta para todos os Municípios. Então, uma vez que os municípios eram
completamente ignorados pela Lei 6938/81 surgiu um questionamento: Quando a resolução fala
que o Município tem competência, qual lei está regulamentando isso?

- Resolução é ato administrativo normativo e estes atos, até 1988, eram destinados
a fiel execução da lei.

Cabe aqui a indicação do que eu falei sobre os decretos do Bolsonaro, eles são para
fiel execução da lei. Não há decreto autônomo independente, não há resolução autônoma
independente e, por esta razão, houve muita discussão acerca da validade disso e da existência
(ou não) das atribuições dos Municípios em virtude do que dispunha a resolução do CONAMA.

Vale lembrar ainda que, o art. 23 determina que seja editada uma LEI
COMPLEMENTAR e não uma resolução, sendo assim, mesmo que a Lei complementar não surja,
não pode uma resolução legislar sobre o tema.
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No entanto, embora existam todos estes argumentos, a resolução foi muito bem
aceita. E por que isso aconteceu? Porque quando existia conflito entre os entes acerca de
questões sobre competência, o CONAMA, por meio desta resolução, usava como parâmetro a
área de influência direta do projeto. Guardem isso, pois é uma informação mágica.

A área de influência direta do projeto é um critério técnico. A resolução não usou


aquele critério de que o interesse nacional prevalece sobre o regional que, por sua vez, prevalece
sobre o interesse local. Este critério é muito problemático vez que pode ser interpretado da forma
como os interesses políticos entenderem pertinentes.

Assim, a área de influência direta do projeto é um termo bem técnico, onde, por
exemplo, o empreendedor que irá fazer uma atividade deverá chamar os técnicos e questionar a
amplitude/impacto ambiental da atividade a ser prestada. Este técnico poderá responder que a
atividade será de menor potencial lesivo e que vai se limitar ao território do município, assim
sendo, o licenciamento será requerido para o Município.

Por outro lado, se o projeto tiver uma dimensão mediana e extrapolar o território
do Município, o licenciamento deverá ser requerido ao Estado. Por fim, se o projeto for de grande
dimensão e extrapolar o território do estado de forma a invadir território estrangeiro, o pedido de
licenciamento será feito ao IBAMA, ou seja, à União.

OBSERVAÇÃO:

É claro que poderá ocorrer uma discussão entre os técnicos no momento de verificação da
dimensão do impacto ambiental a ser causado, mas acredito que não vá ser uma grande
discussão, sendo possível chegar a um consenso rapidamente já que ambos possuem a mesma
formação.

Assim, pela razão mencionada, a Resolução foi bem aceita.

E digo mais: além de realizar a distribuição de competências e definir a área de


influência direta do projeto como critério para solução de conflitos, a Resolução estabeleceu, em
seu art. 7º, que o licenciamento será feito em apenas um nível de competência, conforme a
distribuição feita anteriormente. Esta disposição traz segurança jurídica.

Art. 7º - Os empreendimentos e atividades serão licenciados


em um único nível de competência, conforme estabelecido nos artigos
anteriores.

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Outro artigo que merece ser comentado e que irei adaptar às disposições da LC 140
é o art. 20. Como o CONAMA, orgão extremamente técnico, atribui competências para os
Municípios, mas alguns destes, até hoje têm, não possuem estrutura para dar licenciamento
ambiental à edição do art. 20 foi necessária.

Art. 20 - Os entes federados, para exercerem suas


competências licenciatórias, deverão ter implementados os Conselhos de
Meio Ambiente, com caráter deliberativo e participação social e, ainda,
possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais legalmente
habilitados.

Em suma, no art. 20 da Resolução 237 o CONAMA determina que os entes da


federação que receberam as atribuições previstas só exerceram sua competência se tiverem (i)
Conselho de meio ambiente e (II) profissionais técnicos aptos a dar o licenciamento. Se o
Município não tem estrutura para dar o licenciamento, esta atribuição passa a ser do Estado.
Deste modo, o art. 20 passa a exigir dois requisitos para que o município exerça sua competência
conforme a distribuição prevista na resolução.

Eu posso afirmar que 90% da legislação ambiental brasileira um dia já foi uma
resolução. Em regra, uma mera resolução nasce em deliberações do conselho nacional do meio
ambientes e, diante da grande importância que aquele tema possui, o Governo decide que uma
resolução/ato administrativo é pouco para tratar da questão, devendo, portanto, se tornar uma
lei. Assim, o Governo copia integralmente a resolução e manda para o Parlamento como um
projeto de lei. Foi exatamente isso que aconteceu com a LC 140/2011.

E é desta forma que o Governo dá legalidade a um ato administrativo


normativo/resolução. É evidente que existem leis ambientais que nascem do zero, mas a grande
maioria já foi resolução um dia.

Muita atenção! A resolução só trata do licenciamento, mas a Lei complementar 140


não, vez que ela é mais ampla e organiza várias ações administrativas.

Vamos avançar e tratar da segunda competência administrativa:

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(II) REPRESSIVA:

É a competência para punir.

Esta competência nunca foi tratada por resolução, foi criada diretamente por lei
complementar.
Pergunta-se: Quem é competente para punir? O art. 17 da LC 140 traz a solução
para a questão, embora não me pareça a mais adequada. Vejamos:

Art. 17. Compete ao órgão responsável pelo licenciamento ou


autorização, conforme o caso, de um empreendimento ou atividade, lavrar
auto de infração ambiental e instaurar processo administrativo para a
apuração de infrações à legislação ambiental cometidas pelo
empreendimento ou atividade licenciada ou autorizada.

Em outras palavras, quem licencia também sanciona. Assim, decidida a


competência para licenciar, estará resolvida também a competência para sancionar.

Por força do art. 17 compete ao orgão responsável pelo licenciamento a aplicação


da sanção, mas, embora tenha sido este entendimento o adotado, não me parece o melhor
padrão. Um exemplo concreto disto foi o ocorrido em Mariana, o maior desastre ambiental. Quem
licenciou a barragem da Samarco foi o estado de Minas Gerais, mas quem aplicou a sanção foi o
IBAMA, embora essa lei complementar 140 já estivesse em vigor. Isso mostra que esta disposição
do art. 17 não é satisfatória e a explicação para isso está no § 3º do mesmo dispositivo:

o
§ 3 O disposto no caput deste artigo não impede o exercício
pelos entes federativos da atribuição comum de fiscalização da
conformidade de empreendimentos e atividades efetiva ou potencialmente
poluidores ou utilizadores de recursos naturais com a legislação ambiental
em vigor, prevalecendo o auto de infração ambiental lavrado por órgão que
detenha a atribuição de licenciamento ou autorização a que se refere
o caput.

Em suma, todo mundo pode fiscalizar, mas se o orgão responsável pelo


licenciamento não aplicar sanção, outro orgão pode aplicar. No entanto, se o responsável pelo
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licenciamento aplicar a sanção, esta sanção deverá prevalecer. Ou seja, ele privilegia que aquele
que licencia também sanciona, mas também não impede que os demais fiscalizem e apliquem a
sanção.

Então, no caso da Samarco, o IBAMA aplicou a sanção porque o dano chegou ao Rio
Doce, que é um rio federal. Por esta razão, o IBAMA assumiu todo o procedimento e o Estado de
Minas Gerais preferiu não se manifestar. Vejam, se o Estado de Minas Gerais quisesse aplicar a
sanção, ele poderia e, sendo assim, a sanção do IBAMA não teria qualquer validade, uma vez que
prevalece a sanção do ente licenciador.

Por estes motivos, seria mais interessante que se utiliza como critério a área de
influência do dano e não do projeto, porque alguns danos podem extrapolar a área do projeto,
como ocorreu no caso de Mariana.

OBSERVAÇÃO:

Para concurso público deve-se defender que quem licencia, sanciona.

Com isso nós fechamos a competência administrativa, tanto a preventiva quanto a


repressiva. Vamos avançar e trazer a competência jurisdicional, que traz também a competência
do Ministério Público e da Polícia.

4.3 COMPETÊNCIA JURISDICIONAL

O parâmetro para esta competência é um só: Será de competência da polícia


federal a apuração de crime ambiental, do MPF a apresentação da denúncia e da Justiça Federal o
recebimento da ação se o dano ocorrer em um BEM DA UNIÃO. Não há outro parâmetro, é apenas
isso!

Se um dano proveniente de um crime ambiental não atingir um bem da união, a


polícia civil realizará o inquérito, o Ministério Público estadual apresentará a denúncia e a Justiça
Estadual será responsável pela ação.

Por isso, mesmo que a sua prova seja para o Ministério Público estadual, você
precisa conhecer o art. 20 da CF que dispõe quais são os bens da União. Se a prova proibir
consulta à legislação, recomendo que você decore, pelo menos, o inciso III do art. 20, já que é o
inciso preferido do examinador.

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Imagine que ocorreu um dano ambiental em uma tríplice fronteira, por exemplo, RJ
x SP x MG, por meio de uma única conduta e nenhuma das áreas afetadas é da União. Quem é o
competente nesta situação? Qual MP Estadual vai apresentar a denúncia? Qual polícia civil vai
instaurar o inquérito? Inicialmente, lembre-se que não pode ir para a justiça federal, pois não há
bem da União envolvido. Nesta situação, as três polícias vão agir e os três MPs também, no
entanto, o MP que apresentar a denúncia primeiro tornará o juízo prevento. Não há problema se
os Estados se reunirem para criar uma equipe de trabalho e firmarem um acordo, mas se isso não
acontecer os três vão atuar. O STF é repleto de jurisprudência neste sentido.

Com isso nós fechamos as competências. Para encerrar essa parte introdutória e
começarmos a falar do licenciamento, gostaria de chamar a atenção de vocês para o SISNAMA-
sistema nacional do meio ambiente. Esse sistema é útil, pois, através dele vocês conheceram a
estrutura administrativa governamental para atuação no meio ambiente, art. 6 da lei 6938/81.

Art 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do


Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações
instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da
qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, assim estruturado:
I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de
assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e
nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos
ambientais;
II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do
Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e
propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para
o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua
competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente
ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida;
III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da
Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar,
supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as
diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente;
IV - órgãos executores: o Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA e o Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade - Instituto Chico Mendes, com a
finalidade de executar e fazer executar a política e as diretrizes
governamentais fixadas para o meio ambiente, de acordo com as
respectivas competências;
V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais
responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e
fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental;
VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais,
responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas
respectivas jurisdições;
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PROFESSOR LUIS OLIVEIRA

O legislador teve a excelente ideia de criar um sistema nacional, de modo a reunir


todos os orgão federais, estaduais e municipais que atuam no meio ambiente para trocar
experiências, evitar esforços duplicados e etc, mas não deu certo porque não temos esta praxe de
federação, atuando em conjunto.

E mais, a lei elenca os órgãos federais e cita os estaduais e municipais sem elenca-
los, isso porque não teria como fazê-lo.

Alerta importante! Eu me preocupo aqui, MP Estadual, em trazer a estrutura do


Estado do Rio de Janeiro, mas para você guardar um paralelo vou trazer a estrutura da União.

A estrutura da União tem um detalhe importante: esta Lei é de 1981 e nesta época
não tínhamos o Ministério do Meio Ambiente, por isso a legislação menciona “Secretaria especial
de meio ambiente”. Ou seja, os órgãos elencados na lei são órgãos ultrapassados ou que tiveram
seus nomes alterados. Então, procure uma lei federal mais atual que elenque estes orgão e eu vou
te dizer uma coisa: embora o SISNAMA não tenha funcionado, a ideia era ótima. Assim, a cada lei
especifica nascem SISNAMAs específicos, como política nacional do meio ambiente e sistema
nacional do meio ambiente.
Desta forma, vamos criar, por exemplo, o sistema nacional de unidades de
conservação, vamos tentar reunir todos os órgãos federais, estaduais e municipais que atuam em
unidade de conservação, vez que é mais fácil do que reunir só aqueles que atuam em recursos
hídricos, ou em poluição sonora, poluição do ar, resíduos sólidos pois assim não deu certo.

A lei do SNUC - Lei 9985/200 para a nossa felicidade trouxe os órgãos federais que
integram o SISNAMA e, por coincidência, também está previsto no art. 6º.Desta forma, embora o
SISNAMA esteja previsto no art. 6 da Lei 6938/81 não aconselho a utilização deste dispositivo pois
está desatualizado, o mais indicado é o rol da Lei 9985.

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Âmbito da União:

Orgão Central: Ministério do Meio Ambiente


Orgão consultivo e
deliberativo: CONAMA

Orgão Executor: Na verdade, é uma autarquia. É o IBAMA e, posteriormente foi


criado o instituto Chico Mendes da Biodiversidade. Aliás, quem
criou o ICM Bio foi a Lei 9985 que tem como função a gestão das
unidades de conservação. A referida lei bifurcou o IBAMA,
criando outra autarquia e cedeu servidores para o ICM (por isso
ele nunca fez concurso).

Adaptando para o estado do Rio de Janeiro:

Secretaria Estadual do Ambiente- SEA. Muitos estados têm


Orgão Central: SEMA – secretaria estadual do meio ambiente

Orgão consultivo e CONEMA – conselho estadual de meio ambiente, criado no


deliberativo: governo Sergio Cabral (mais comum nos estados) e CECA -
comissão estadual de controle ambiental, que existe desde a
década de 70.

Orgão Executor: Também será uma autarquia. INEA- instituto estadual do


ambiente, criado no governo do Sérgio Cabral.

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Adaptando para o Município do Rio de Janeiro:

Era a SECONSERMA – secretaria de conservação e meio


Orgão Central: ambiente. Mas ela foi dividida e criou-se a SMAC- secretaria de
meio ambiente da cidade e secretaria de conservação

Orgão consultivo e
deliberativo: CONSEMAC- conselho de meio ambiente da cidade

Orgão Executor: Não há. Certamente o orgão consultor dará o licenciamento,


quando necessário

Vamos falar agora sobre a parte geral que é sobre licenciamento ambiental.

4. LICENCIAMENTO AMBIENTAL

O processo de licenciamento ambiental é extremamente importante, analisar a


sequência do licenciamento, prazos e etc.

O licenciamento ambiental não é um ato administrativo, e sim um processo


administrativo. Por esta razão, é um processo mais demorado que uma licença urbanística ou uma
licença comum do direito administrativo, por exemplo. O licenciamento ambiental é abraçado
pelo princípio da prevenção onde se faz necessária uma série de exigências, então esta licença é
um procedimento intercalado por estudos ambientais, os famosos EIA e RIMA. Logicamente,
acaba sendo mais complicado pela falta de motivação, incentivo e estrutura, mas o problema não
está na lei e sim nos seus executores.

Vamos iniciar os estudos sobre processo administrativo de licenciamento


ambiental.

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Cuidado, Casca de Banana!

Licenciamento significa processo e licença significa ato. Cuidado com isso em provas de múltipla
escolha, vez que o candidato pode se confundir achando que é a mesma coisa, mas não é. Em
provas discursivas talvez o examinador aceite como se fossem a mesma, mas em uma prova
objetiva pode significar o gabarito errado.

Licenciamento ambiental é um processo administrativo regulado pela resolução


237/97 do CONAMA. O art. 8 apresenta a famosa divisão entre LP- licença previa, LI licença
instalação e LO- licença operação. Estas licenças são atos, ou seja, são três atos formando o
processo de licenciamento. E isto está logo no art. 1º da resolução:

Art. 1º - Para efeito desta Resolução são adotadas as seguintes


definições:
I - Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo
pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação,
ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de
recursos ambientais , consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou
daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental,
considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas
aplicáveis ao caso.
II - Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão
ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de
controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa
física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos
ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetiva ou
potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam
causar degradação ambiental.

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de


controle, expedirá as seguintes licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do
planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e
concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos
básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua
implementação;

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II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do


empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes
dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de
controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo
determinante;
III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da
atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento
do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle
ambiental e condicionantes determinados para a operação.

As LP (Licença prévia), LI (licença instalação) e LO (licença operação) encontram-se


explicadas e conceituadas no art. 8, mas eu gostaria de chamar a sua atenção pois, em 2008, em
âmbito federal o IBAMA criou a Instrução normativa nº 184 que deve ser somada a resolução do
CONAMA.

Pode parecer estranho mencionar aqui uma IN, mas ela está presente na
compilação legislativa e não estaria presente na compilação se fosse desnecessária.

Podemos elencar a importância desta instrução: (i) ela facilita o entendimento


sobre o que é necessário cumprir para avançar nas fases do licenciamento. Esta informação não
está clara na resolução, vez que, por exemplo, ela não esclarece em que momento eu devo pedir o
EIA e RIMA. Lendo a IN você verá que para conseguir a licença prévia é preciso apresentar os

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estudos ambientais; (ii) criou mais uma fase do licenciamento, o TR- termo de referência, onde
será dito ao empreendedor sobre a necessidade de apresentação do EIA e o RIMA.

A IN é extremamente importante, mas a resolução continua sendo a principal


legislação.

Duas informações importantes antes de começar: o que está sendo estudado aqui é
algo complexo, pois é destinada a atividade potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental. Para estas atividades é necessário respeitar essas quatro fases e
apresentar os estudos ambientais completos, EIA e RIMA. O que significa dizer que, o que estamos
vendo aqui nem sempre acontecerá, tudo vai depender da potencialidade do dano da atividade.

Isso nos permite dizer que pode ocorrer a flexibilização dessa sequência, ou seja, ter
menos fases, permitir o pedido de menos estudos ou até mesmo estudos mais simples, então isso
é importante para mostrar ao examinador maturidade, pois há quem pense que qualquer licença
exige EIA e RIMA.

Conforme Paulo Bessa defende em seu livro, não há como estudar direito ambiental
sem saber direito administrativo, o que é verdade pois, aqui trabalhamos com processo
administrativo e em caso de omissão legislativa usaremos a lei 9794/99- lei geral de processo
administrativo.

Vamos provar com base nesta mesma resolução que eu posso flexibilizar essa
sequência e esses estudos. São informações importantes que você irá subsidiar na própria
resolução 237.

Iniciaremos o estudo do licenciamento com o art. 12, caput e §1º:

Art. 12 - O órgão ambiental competente definirá, se


necessário, procedimentos específicos para as licenças ambientais,
observadas a natureza, características e peculiaridades da atividade ou
empreendimento e, ainda, a compatibilização do processo de licenciamento
com as etapas de planejamento, implantação e operação.

Este dispositivo já dá a entender que poderá ocorrer uma flexibilização.

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§ 1º - Poderão ser estabelecidos procedimentos simplificados


para as atividades e empreendimentos de pequeno potencial de impacto
ambiental, que deverão ser aprovados pelos respectivos Conselhos de Meio
Ambiente.

Em suma, poderei ter procedimentos simplificados se a atividade for de menor


potencial ofensivo. Vou te dar como exemplo uma lei que está em alta, que é a Lei 11284/2006 -
lei de concessão florestal/ desestatização de florestas, art. 18, §6º:

Art. 18. A licença prévia para uso sustentável da unidade de


manejo será requerida pelo órgão gestor, mediante a apresentação de
relatório ambiental preliminar ao órgão ambiental competente integrante
do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA.
§ 6º O processo de licenciamento ambiental para uso
sustentável da unidade de manejo compreende a licença prévia e a licença
de operação, não se lhe aplicando a exigência de licença de instalação.

Vejam, pela lei de concessão florestal é possível que se autorize uma empresa a
ingressar em uma floresta pública para realizar a extração, de forma sustentável, de um recurso
natural. Este recurso será levado para a própria indústria, onde será beneficiado, valor será
agregado e, posteriormente será vendido e gerara lucro. Isto caracteriza a concessão florestal.
Assim, a empresa na concessão florestal não vai instalar indústria no meio da floresta, a
exploração é sustentável, causando o menor dano possível não sendo necessário, portanto, de
licença instalação.

A lei de concessão florestal evidentemente flexibilizou o procedimento, excluindo


expressamente a licença instalação, assim, não terei as quatros fases.

Agora vamos provar que o EIA e o RIMA também podem ser substituídos. Isto está
previsto no art. 3º, parágrafo único da resolução 237:

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Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e


atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de
significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente
(EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de
audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.

Em suma, se a atividade for efetiva ou potencialmente causadora de significativa


degradação do meio ambiente, o estudo ambiental necessário será o EIA e RIMA.

Parágrafo único. O órgão ambiental competente, verificando


que a atividade ou empreendimento não é potencialmente causador de
significativa degradação do meio ambiente, definirá os estudos ambientais
pertinentes ao respectivo processo de licenciamento.

Ou seja, podem ser requeridos outros estudos - diversos do EIA e RIMA- para as
atividades que não sejam potencialmente causadoras de significativa degradação. Exemplo destes
estudos podem ser encontrados no art. 1º, III da mesma resolução.

III - Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos


relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação,
operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado
como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório
ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental
preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação
de área degradada e análise preliminar de risco.

Este rol é exemplificativo. Inclusive, existe um estudo chamado RAS- relatório


ambiental simplificado que está em alta e que não está neste rol.

Ainda neste contexto, o que é uma atividade de maior potencial ofensivo? Existe rol
previsto em alguma legislação? Existem duas figuras aos quais é preciso chamar a atenção: a
primeira é a resolução 237, que possui o anexo I elencando as atividades e empreendimentos
sujeitos ao licenciamento ambiental. No entanto, como este rol é frágil, já que não diz se a
atividade é de maior ou menor potencial ofensivo, se necessita do EIA ou RIMA e etc, é preciso
lembrar da existência da Resolução nº 01/86 do CONAMA, que explica o que é o EIA e o RIMA.
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Logo, é essencial somarmos as resoluções 01/86 e 237, uma vez que uma vai falar do
procedimento e outra dos estudos.
O art. 2 da resolução nº 01/86 elenca em que casos o EIA e RIMA são obrigatórios, vejamos:

Art. 2o Dependerá de elaboração de estudo de impacto


ambiental e respectivo relatório de impacto ambiental - RIMA, a serem
submetidos à aprovação do órgão estadual competente, e da Secretaria
Especial do Meio Ambiente - SEMA157 em caráter supletivo, o
licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente, tais como:
I - Estradas de rodagem com duas ou mais faixas de
rolamento;
II - Ferrovias;
III - Portos e terminais de minério, petróleo e produtos
químicos;
IV - Aeroportos, conforme definidos pelo inciso 1, artigo 48,
do Decreto-Lei nº 32, de 18 de setembro de 1966;
V - Oleodutos, gasodutos, minerodutos, troncos coletores e
emissários de esgotos
sanitários;
VI - Linhas de transmissão de energia elétrica, acima de
230KV;
VII - Obras hidráulicas para exploração de recursos hídricos,
tais como: barragem para fins hidrelétricos, acima de 10MW, de
saneamento ou de irrigação, abertura de canais para navegação, drenagem
e irrigação, retificação de cursos d’água, abertura de barras e embocaduras,
transposição de bacias, diques;
VIII - Extração de combustível fóssil (petróleo , xisto, carvão);
IX - Extração de minério, inclusive os da classe II, definidas no
Código de Mineração;
X - Aterros sanitários, processamento e destino final de
resíduos tóxicos ou perigosos;
Xl - Usinas de geração de eletricidade, qualquer que seja a
fonte de energia primária, acima de 10MW;
XII - Complexo e unidades industriais e agro-industriais
(petroquímicos, siderúrgicos, cloro químicos, destilarias de álcool, hulha,
extração e cultivo de recursos hídricos
hidróbios);
XIII - Distritos industriais e zonas estritamente industriais - ZEI;
XIV - Exploração econômica de madeira ou de lenha, em áreas
acima de 100 hectares ou menores, quando atingir áreas significativas em
termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental;
XV - Projetos urbanísticos, acima de 100 ha ou em áreas
consideradas de relevante interesse ambiental a critério da SEMA e dos
órgãos municipais e estaduais competentes estaduais ou municipais;
XVI - Qualquer atividade que utilizar carvão vegetal, derivados
ou produtos similares, em quantidade superior a dez toneladas por dia.

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XVII - Projetos Agropecuários que contemplem áreas acima de


1.000 ha. ou menores, neste caso, quando se tratar de áreas significativas
em termos percentuais ou de importância do ponto de vista ambiental,
inclusive nas áreas de proteção ambiental.
XVIII - Empreendimentos potencialmente lesivos ao
patrimônio espeleológico nacional.

Feita essas colocações, vamos avançar.

 TR- Termo de Referência

Um empreendedor quer fazer uma atividade potencialmente causadora de


significativa degradação do meio ambiente e a primeira pergunta que se faz é: em que ente ele
deve ir? Neste caso, será utilizado o critério já estudado, ou seja, conforme o estudo realizado
pelo técnico quanto ao grau de degradação (baixo, médio ou grande) o empreendedor deverá
procurar o Município se o grau for baixo, o Estado se o grau for médio e a União se o grande for
grande. Nesta mesma oportunidade, o técnico fornecerá uma proposta de termo de referência,
onde estará elencado todos os estudos os quais o referido técnico entende ser necessário para
que empreendedor obtenha o licenciamento.

A Instrução normativa 184, em seu art. 8º dispõe:

Art. 8º Instaurado o processo, o empreendedor deverá


providenciar o envio pelo Serviços on line - Serviços - Licenciamento
Ambiental de proposta de Termo de Referência - TR para elaboração do
Estudo Ambiental, com base no Termo de Referência Padrão da tipologia
específica do empreendimento, disponibilizado no site do
Ibama/Licenciamento.

Após ser apresentada, o orgão tem 60 dias para estudar a proposta de TR, art. 11 e
12:

Art. 11 O prazo de elaboração de TR é de 60 dias corridos a


partir da instauração do processo;
Art. 12 o Ibama providenciará o envio ao empreendedor do
TR definitivo, o qual terá validade de 2 (dois) anos, e será disponibilizado no
site do Ibama/Licenciamento.
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Atenção: Não é o empreendedor que vai decidir a sequência a ser seguida ou qual o
estudo ele vai apresentar, é o orgão ambiental responsável que, após receber a proposta de TR,
vai decidir se a referida proposta, bem como os estudos lá elencados, estão corretos ou não.

LEMBRETE: O EMPREENDEDOR APENAS PROPÕE.

 LICENÇA INSTALAÇÃO

Para obter a licença de instalação, a IN estabelece as regras a serem seguidas no


art. 27:

Art. 27 A concessão da Licença de Instalação - LI é subsidiada


pelo Projeto Básico Ambiental - PBA, Plano de Compensação Ambiental e
quando couber o PRAD e Inventário Florestal para emissão de autorização
de supressão de vegetação

Para conseguir a licença instalação o dispositivo exige: o projeto básico ambiental, o


plano de compensação ambiental (PCA) e, se couber, o PRAD (plano de recuperação de área
degradada) e inventário florestal. Os dois primeiros são obrigatórios, diferentemente do que
ocorre com os dois últimos.

E o que é o plano de compensação ambiental- PCA? Uma vez que se trata de uma
atividade potencialmente causadora de significativo dano ambiental, já se faz necessária uma
compensação da parte do empreendedor, consubstanciada na destinação de um percentual do
projeto para ajudar uma unidade de conservação. Quem criou o PCA foi o art. 36 da lei do SNUC-
lei 9985 de 2002.

Art. 36. Nos casos de licenciamento ambiental de


empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado
pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a
apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo
de Proteção Integral, de acordo com o disposto neste artigo e no
regulamento desta Lei.

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Neste momento, o processo administrativo para e sobe para uma câmara de


compensação. Nesta câmara, primeiramente, questiona-se: Será criada uma nova unidade de
conservação ou usará uma já existente? Em regra, adota-se uma já existente. Posteriormente,
pergunta-se: qual seria o custo para isso? Aqui surge a problemática, não há consenso no
quantum devido.

Muita atenção, pois há uma ADI cujo objeto é a disposição trazida pelo §1º da Lei
9985.

§ 1o O montante de recursos a ser destinado pelo


empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a meio por cento
dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o
percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau
de impacto ambiental causado pelo empreendimento.

A ADIN nº 3.378-6, de 2008 declarou inconstitucional a expressão ”não pode ser


inferior a meio por cento”. Assim, não há mais limite mínimo.

Assim, não havendo um dispositivo que determine o valor devido, o processo de


licenciamento fica parado até que se entre um acordo sobre o percentual devido à título de
compensação.

 LICENÇA OPERAÇÃO

Passada a fase da licença instalação, para que a empresa possa iniciar as suas
atividades é necessário a concessão da licença operação, para isto é necessário observar o art. 32
da IN 184:

Art. 32 Para subsidiar a concessão da Licença de Operação -


LO, o empreendedor deverá elaborar os seguintes documentos técnicos:
Relatório Final de Implantação dos Programas Ambientais;
Relatório Final das Atividades de Supressão de Vegetação,
quando couber; e
No caso de licenciamento de Usinas Hidrelétricas e Pequenas
Centrais Hidrelétricas o Plano de Uso do Entorno do reservatório – PACUERA
§ 1º O requerimento de LO deverá ser gerado pelo
empreendedor utilizando o Serviços on line - Serviços - Licenciamento
Ambiental Federal após o envio dos relatórios. § 2º O requerimento de LO
deverá ser publicado pelo empreendedor conforme Resolução CONAMA No
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- 006/86, e cópia da publicação enviada ao Ibama/DILIC pelo Serviços on line


- Serviços - Licenciamento Ambiental Federal

O que acontece aqui, na realidade, é uma auditoria para verificar se o


empreendedor realmente construiu tudo o que foi prometido. Se não estiver dentro do que foi
prometido, a licença não será concedida. A LO é como se fosse o HABITE-SE do direito urbanístico.

Uma questão muito importante e uma das mais conhecidas quando tratamos de
licenciamento em direito ambiental é acerca da do prazo de validade. O Termo de Referência tem
o prazo de 2 anos (art.12 da IN), a LP até 5 anos, a LI até 6 anos e a LO de 4 até 10 anos- art. 18 da
resolução 237.

A validade da LO é o que causa mais polêmica devido ao prazo máximo


estabelecido, vez que decorridos os 10 anos o empreendedor terá que realizar todo o processo de
licenciamento novamente, mas isto prestigia o princípio da prevenção.

No entanto, surge a discussão se isto realmente seria uma licença, porque em


direito administrativo a licença é um ato declaratório, vinculado e permanente e, se a chamada LO
não é permanente, deverá ser considerado um alvará de autorização (ato discricionário,
constitutivo e precário). Essa questão foi levantada pelo Paulo Leny.

Afinal, é licença ou alvará de autorização? Trata-se de licença, isto porque não


estamos em direito administrativo e sim no direito ambiental que possui princípios próprios e que
necessita de regras diferentes. Assim, prevalece a tese que é uma licença com as peculiaridades do
ramo do direto ambiental.

Ademais, é completamente equivocado dizer que “ESTÁ licença”, porque se foi


concedida uma licença de 8 anos, por exemplo, não significa que não poderá haver intervenção na
atividade durante este período. Se esta empresa não estiver em acordo com a legislação vigente,
poderá haver intervenção sim.

Neste contexto, vamos ler o art. 19 da resolução 237:

Art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão


motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle
e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:
I - Violação ou inadequação de quaisquer condicionantes ou
normas legais.

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II - Omissão ou falsa descrição de informações relevantes que


subsidiaram a expedição da licença.
III - superveniência de graves riscos ambientais e de saúde.

Assim, não se pode falar que “está licença” e sim que “É licença” com
peculiaridades, quais sejam, prazo de validade e que possibilidade de ser suspensa a qualquer
hora desde que venha gerar riscos.

Um exemplo concreto foi o caso da construção de um shopping em São Paulo


realizada em um terreno onde se localizava um lixão. Os cálculos não foram feitos corretamente e
o peso da construção do shopping comprimiu o lixão que existia naquele terreno de tal forma que
o gás metano correu risco de explodir. Por esta razão a SABESP suspendeu a licença de operação
do shopping.

Observação: Aconselho a utilizar os termos trazidos pelo dispositivo, ou seja, suspensão e


cancelamento, não há necessidade de utilizar anulação e revogação.

Outra polêmica é quanto a possível discricionariedade da licença operação.

Antes de o direito ambiental tomar grandes proporções, nós tivemos uma prova da
AGU (1997), feita pela banca CESPE, onde caíram umas 10 questões de ambiental. Lembro que
antes da prova eu tratei de 9 das 10 questões em sala de aula. Essa questão que eu não tratei foi
exatamente sobre isso. A assertiva falava “a licença ambiental é um ato discricionário”. Até hoje os
livros de ambiental não sabem dizer se esta afirmativa está certa ou não, no entanto, o gabarito
da banca dizia que a afirmativa estava certa, ou seja, considerava o a licença ambiental como um
ato discricionário.

Eu também entendo que é um ato discricionário, mas saliento que é preciso


lembrar da discricionariedade técnica das agências reguladoras, pois é esta a discricionariedade
estabelecida aqui. Ou seja, não se trata da discricionariedade da conveniência/oportunidade, e
sim a discricionariedade técnica, onde se pode negar a licença, suspender ou estabelecer o prazo
de validade, desde que seja de forma justificada.

art. 19 – O órgão ambiental competente, mediante decisão


motivada, poderá modificar os condicionantes e as medidas de controle
e adequação, suspender ou cancelar uma licença expedida, quando ocorrer:

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Assim, existe forte discussão quanto a natureza jurídica da licença ambiental, se ela
realmente é licença ou se é autorização. Prevalece a tese de que é uma licença com características
próprias, de um ramo próprio do direito, que tem seus princípios próprios.

Inclusive, é um ato discricionário técnico com lapso temporal de duração. Findado o


prazo da licença, se faz necessário que a empresa peça a renovação. Enquanto esta renovação e as
exigências para tal não vêm, as atividades da empresa não param - o que é grande fonte de
corrupção. Quando estourou a barragem da Samarco em Mariana, a licença estava ultrapassada
há cinco anos, estava há cinco anos esperando os órgãos ambientais fazerem as exigências de
renovação.

Agora falaremos um pouco do EIA e RIMA

 ESTUDOS AMBIENTAIS: EIA e RIMA

Qual a diferença entre eles? Esta é uma pergunta basilar, pois estes estudos são
frequentemente mencionados conjuntamente.

Quanto ao conteúdo, não há diferença, vez que ambos apreciam a mesma obra,
mesma atividade, vão relatar o impacto a ser causado. A diferença principal está na forma, porque
voltando ao art. 225, caput da CF veremos que:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de
vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo
e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Ou seja, tanto o poder público quanto a coletividade devem agir, fiscalizar e


proteger o meio ambiente. Logo, em uma atividade potencialmente causadora de significativa
degradação ambiental, esses dois sujeitos devem ser avisados.

Desta forma, o EIA é um termo técnico a ser encaminhado para um técnico, ou seja,
é destinado ao poder público. Já para a coletividade, a informação é prestada por meio do RIMA,
que é basicamente um resumo do que dispõe o EIA. Vejamos o que determina a Resolução 01/86
do CONAMA, art. 9º parágrafo único:

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Parágrafo único. O RIMA deve ser apresentado de forma


objetiva e adequada a sua compreensão. As informações devem ser
traduzidas em linguagem acessível, ilustradas por mapas, cartas, quadros,
gráficos e demais técnicas de comunicação visual, de modo que se possam
entender as vantagens e desvantagens do projeto, bem como todas as
consequências ambientais de sua implementação.

Assim, em uma audiência pública deve-se levar o RIMA, pois as informações


contidas no EIA não serão entendidas pela população.

Pergunta-se: Aprovado o EIA e o RIMA, eu sou obrigado a fazer audiência pública?


Arrisco a dizer que não, porque não há artigo neste sentido. Pelo contrário, o art. 225, §1º, IV da
CF dispõe o seguinte:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao


Poder Público:
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou
atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;

O inciso fala em “dar publicidade”. A audiência pública é uma forma de dar


publicidade, mas não é a única, temos, por exemplo, a consulta pública.

E qual seria a diferença entre elas? Os art. 31 e 32 da lei de processo administrativo


dispõe acerca dessa diferença. Em suma, a consulta pública é por escrito e a audiência pública se
dá por meio de debate presencial e geralmente na câmara municipal.

Outro exemplo é a recente Lei geral das agências reguladoras – lei 13848/2019. Esta
lei obriga as agências reguladoras a promoverem uma consulta pública quando forem realizar uma
regulamentação e faculta a realização de audiência.

Voltando à resolução 01, veremos que o art. 11, §2º fala expressamente em
audiência pública:

§ 2o Ao determinar a execução do estudo de impacto


ambiental e apresentação do RIMA, o órgão estadual competente ou a
SEMA ou, quando couber o Município, determinará o prazo para
recebimento dos comentários a serem feitos pelos órgãos públicos e demais
interessados e, sempre que julgar necessário, promoverá a realização de
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audiência pública para informação sobre o projeto e seus impactos


ambientais e discussão do RIMA.

Ou seja, ele pode julgar NÃO ser necessário a realização de audiência pública.

Veja agora o art. 3º da resolução 237/97:

Art. 3º- A licença ambiental para empreendimentos e


atividades consideradas efetiva ou potencialmente causadoras de
significativa degradação do meio dependerá de prévio estudo de impacto
ambiental e respectivo relatório de impacto sobre o meio ambiente
(EIA/RIMA), ao qual dar-se-á publicidade, garantida a realização de
audiências públicas, quando couber, de acordo com a regulamentação.

Isso significa que não é obrigatória.

A obrigatoriedade existente diz respeito a publicidade e não a realização de


audiência pública. Assim, a publicidade poderá se dar por meio de consulta pública, por fixação de
aviso da prefeitura, publicando no diário oficial.

Para finalizar, é importante que vocês saibam que existe uma resolução do
CONAMA que se destina apenas para audiências públicas, é a resolução 9/87.

Cuidado, Casca de banana!

A resolução 9/87, em seu art. 2, aumenta os personagens que podem pedir


audiência publica.

Art. 2º - Sempre que julgar necessário, ou quando for solicitado pôr entidade
civil, pelo Ministério Público, ou por 50 (cinqüenta) ou mais cidadãos, o Órgão do Meio Ambiente
promoverá a realização de Audiência Pública.

Até esta resolução só poderia requisitar a realização de audiência pública o orgão


licenciador. A partir da Resolução 9, o Ministério Público, ONG com atuação na área ambiental e
grupo com 50 ou mais cidadãos passaram a ser legitimados. Assim, apenas neste momento a
audiência pública se torna obrigatório, ou seja, tendo sido requerida por um desses quatro
legitimados será obrigatória a realização.
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O §2º ainda dispõe que o licenciamento será anulado se não for realizada a audiência pública:

§ 2º - No caso de haver solicitação de audiência pública e na hipótese do


Órgão Estadual não realizá-la, a licença não terá validade.

Esta resolução está em revisão pelo CONAMA então, em breve, é provável que surja
outra resolução versando sobre o tema.

FIM DA AULA 01 DIREITO AMBIENTAL

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